1 Special

Edition

Produzido em parceria com:

Futuro do
OS CAMINHOS DOS
PAGAMENTOS EM
MEIO À REVOLUÇÃO

dinheiro
DIGITAL
DO SAL AO
PHYGITAL: QUAL
É O FUTURO
DO DINHEIRO?
A transformação dos meios de pagamento
e as futuras funções do dinheiro.
Por Gabriel Menezes
Os meios de pagamento passaram por inúmeras
transformações durante a história da humanidade
e, agora, com a evolução das tecnologias digitais,
novas possibilidades e promessas sobre o tema não
param de surgir. Mas quais as inovações vieram
para ficar e qual será o papel do dinheiro em
espécie nisso tudo (com o perdão do trocadilho)?
Especialistas no assunto fizeram as suas análises
para a Revista MIT Technology Review Brasil,
destacando oportunidades e barreiras pelo
caminho. Mostramos, ainda, como a TecBan, que
administra a maior rede independente de caixas
eletrônicos do mundo - com soluções que integram
o físico e o digital - está lidando com todo esse
processo evolutivo.
O economista e professor da Universidade Federal
Fluminense (UFF) Ivando de Faria explica que,
mesmo diante de tantas novidades, a função do
dinheiro continua sendo a mesma de sempre e que
isso não há como mudar. Ele é o instrumento de
troca, a unidade de medida (capaz de comparar
o valor de mercadorias diferentes) e a reserva
de valor. O sistema financeiro, por sua vez, é o
mecanismo, a máquina em funcionamento e as
ideias em desenvolvimento.
E neste sentido, as fintechs e empresas de
tecnologia, como a TecBan, surgem com novas
3 Do sal ao phygital: qual é o futuro do dinheiro?

ambiente em constante e acelerada mudança,

“MESMO DIANTE DE
devemos avaliar que as transformações ocorridas
até o momento podem ser apenas indicadoras
do que está por vir. “As fintechs não só estão

TANTAS NOVIDADES, A desafiando os padrões estabelecidos, como estão

sendo capazes de descobrir novos mercados e

FUNÇÃO DO DINHEIRO
trazer à tona novos modelos de negócios”.

CONTINUA SENDO A
De todas essas mudanças, ele aponta que as
que têm maior impacto disruptivo são aquelas
utilizadas como base para os seus processos

MESMA DE SEMPRE e criação. Por exemplo, a forma de lidar com

a informação, que antes tinha um acesso

E QUE ISSO NÃO HÁ

restrito a poucos; a especialização em nichos
do mercado, principalmente os com maior
população desassistida; e a orientação voltada

COMO MUDAR. ELE É para a experiência que será proporcionada ao

cliente, ou seja, colocando a maneira como o seu

O INSTRUMENTO DE
serviço é visto como norteador de suas ações.

TROCA, A UNIDADE DE
Na visão do economista, o papel inovador das
fintechs é de grande valor para as economias
em geral, já que promovem acesso e crédito aos

MEDIDA E A RESERVA excluídos. Ele avalia que elas podem ter um bom
caminho a percorrer na concepção dos bancos

DE VALOR”
digitais, gerando acesso ao sistema financeiro
com custos menores. Mesmo assim, é difícil
prever como será o futuro do segmento em meio
à competição com os grandes bancos.

possibilidades que unem o digital e o físico. De

E ao mesmo tempo que surgem com novas
acordo com a definição do Banco Central do
possibilidades e serviços, as fintechs também
Brasil, a
​ s fintechs são empresas que introduzem
lidam com clientes cada vez mais exigentes.
inovações nos mercados financeiros por meio
Gerente-executiva de atendimento ao cliente na
do uso intenso de tecnologia, com potencial
TecBan, Alexandra Muniz da Rocha, afirma que
para criar novos modelos de negócios. Atuam
a cada dia que passa, eles exigem mais qualidade
por meio de plataformas online e oferecem
nos produtos e serviços oferecidos pelas empresas.
serviços digitais inovadores relacionados ao
“Na TecBan, vivenciamos esse comportamento
setor. No Brasil, há várias categorias deste
na prática, quando os consumidores entram em
tipo de instituição: de crédito, de pagamento,
contato com nossos canais de atendimento. Com
gestão financeira, empréstimo, investimento,
as fintechs e bancos digitais não foi diferente.
financiamento, seguro, negociação de dívidas,
Os clientes buscam qualidade e agilidade na
câmbio e multisserviços.
solução. Estão corretos e acreditamos que essa
forma de relacionamento, de oferecer o que
Ivando comenta que elas estão, cada vez mais,
eles precisam e esperam, fortalece a confiança
presentes no universo financeiro. Contudo, num
4 Do sal ao phygital: qual é o futuro do dinheiro?
e mantém o que construímos até o momento.
Conseguimos tratá-los de forma única, com
acolhimento e entendimento da situação, para
resolver da melhor forma para o cliente. E a
receptividade que recebemos é o que confirma
que estamos no caminho certo.”
Rede compartilhada é fundamental
para dar capilaridade ao segmento
Em meio ao cenário prolífero das fintechs, a
economia compartilhada se torna cada vez mais
fundamental para possibilitar que as instituições
ganhem capilaridade e cheguem de fato aos seus
clientes. Ao contrário dos bancos tradicionais,
essas fintechs não possuem agências físicas
espalhadas pelas cidades.
A TecBan vem sendo uma parceira estratégica
neste sentido. A empresa foi criada há 40 anos
já com a sua rede compartilhada. No início,
para bancos médios e, ao longo dos anos, para
qualquer tamanho e tipo de instituição. Hoje, uma
de suas soluções é o HubDigital TecBan, criado
para acelerar a entrada de novas instituições
de pagamento, fintechs e bancos sociais
no Banco24Horas.
Gerente de Plataformas Digitais da TecBan,
Luiz Fernando Lopes explica que as instituições
participantes têm uma redução de custos
com investimentos em desenvolvimento e
infraestrutura de tecnologia, uma vez que
distribuidores agem como facilitadores e são
responsáveis pela integração tecnológica e
podem, opcionalmente, fazer a gestão do dinheiro
que estará disponível nos caixas eletrônicos, em
nome da fintech. “Além disso, ao entrar no nosso
HubDigital, os clientes, agora, podem fazer
transações financeiras em mais de 24 mil caixas
eletrônicos do Banco24Horas, como o Saque
Digital com QR Code ou via token”, acrescenta.
Nos dois primeiros anos de atividade (até outubro
de 2021), a plataforma registrou mais de 18,5
milhões de transações, das quais 4,6 milhões
foram saques que movimentaram mais de R$
5,5 bilhões. As demais operações – cerca de três
em cada quatro – vieram por meio dos demais
serviços disponibilizados no Banco24Horas, o
que mostra que os clientes destas instituições
procuram no caixa eletrônico outros serviços
além do acesso ao dinheiro em espécie.
Neste período, o HubDigital incluiu 41 instituições
no ecossistema do Banco24Horas, entre elas
Crefisa, Somapay, BS2, Digimais, Claro Pay,
Neon e XP, que são referências em seus segmentos
de atuação. Ao comparar o segundo ano de
operação com o primeiro, o total de transações
aumentou mais de 288%, cerca de 10,3 milhões
de operações.
Outra solução da empresa é o ATMManager, que
contempla serviços necessários para monitorar,
operacionalizar e gerenciar por completo a rede de
autoatendimento e os serviços complementares
dos bancos.
Segundo Vitor Chiavelli, Diretor de
Desenvolvimento Negócios e de Relacionamento
da TecBan, a proposta é permitir que terceirizem
parcial ou totalmente sua operação de gestão de
caixas eletrônicos e toda a cadeia de serviços
relacionada: monitoração, gerenciamento,
otimização do ciclo do dinheiro, atendimento
remoto, manutenção, assistência técnica,
segurança física e lógica e outros serviços
complementares. Isso para instituições
financeiras de diferentes portes - sejam elas
bancos privados, públicos ou cooperativas.
“O setor financeiro é um dos que mais têm
passado por mudanças e melhorias nos últimos
anos. Grande parte desse contexto se deve à
busca contínua por mais eficiência, diminuição
de custos, melhora na qualidade dos serviços e
maior foco no relacionamento com seus clientes.
Uma saída possível para alcançar esses resultados
é focar esforços em alguns serviços, terceirizando
outras atividades para parceiros”, explica.
5 Do sal ao phygital: qual é o futuro do dinheiro?
Ele salienta que um grande diferencial do
ATMManager é o fato de ele ser completamente
customizável, isto é, os clientes podem contratar
a expertise da TecBan de forma completa ou
modular, tudo dependendo de suas necessidades
específicas de negócio e capacidade de
investimento. Isso pode gerar uma economia de
até 20% ao ano para as instituições financeiras. São
recursos que podem ser utilizados de outra forma.
“E, mais do que isso, o produto permite que as
empresas tenham um ganho de escala e eficiência
realizando investimentos muito menores do
que o que seria necessário se decidissem
comprar os caixas eletrônicos ou mantê-los por
conta própria”.
No Brasil, um dos formatos que têm ganhado
força, enfatiza Chiavelli, é o de atendimento
compartilhado, disponibilizado em espaços
aos quais clientes de diferentes instituições
financeiras têm acesso, como, por exemplo, o
Espaço Banco24Horas. Há pouco tempo, ainda,
a TecBan iniciou um novo formato de parceria
no qual caixas eletrônicos do Banco24Horas
foram instalados em duas agências bancárias
de parceiros. O formato está se expandindo,
inclusive para atender fintechs, bancos digitais
e qualquer outro parceiro interessado. “O
compartilhamento de infraestrutura com foco
em eficiência é uma das premissas de nosso
modelo de negócios. Com a expansão dos Espaços
Banco24Horas e os novos formatos de parceria,
potencializamos a importância dos espaços físicos
de atendimento, além de aumentarmos a nossa
capilaridade de atendimento, o que favorece as
instituições financeiras e os brasileiros de modo
geral”, conclui.
As possibilidades do Open finance
O Open Banking é outra novidade recente que
vem movimentando o segmento. Trata-se de
um mecanismo de compartilhamento de dados
e informações de usuários entre diferentes
instituições financeiras e seguradoras. Começou
a ser implementado no Brasil em fevereiro de
2021 e, de acordo com o Banco Central, tem como
principais objetivos trazer inovação ao sistema
financeiro, promover a concorrência e melhorar
a oferta de produtos e serviços financeiros para
o consumidor.
Head de Novas Plataformas da TecBan, Tiago Aguiar
afirma que a novidade ampliou as possibilidades
de negócios e criação de experiências em vários
aspectos, estimulando os marketplaces e, dessa
forma, aumentando a presença das instituições
financeiras no mercado digital. Com isso, os
custos são reduzidos, contribuindo ainda mais
para o surgimento de mais inovação dos negócios
nos próximos anos. Outro ponto é a amplitude
de segurança nas transações, que favorece o
crescimento dos negócios e melhora a experiência
do consumidor como um todo.
Ele destaca que, com 40 anos de mercado, a
TecBan é pioneira no debate do Open Banking.
A empresa foi a primeira plataforma 100% em
operação do Brasil pronta para atuar e acelerar
a adoção do Open Banking pelas instituições
participantes. Entre os diferenciais, estão a
oferta de compliance regulatório totalmente
atualizado com as exigências técnicas, consumo
simplificado de dados e serviços, tratamento de
dados e serviços de gestão financeira para pessoas
físicas e jurídicas, que permitem a diversificação
de produtos e serviços, conexão simplificada com
novos parceiros, os mais avançados padrões de
segurança, suporte 24 horas todos os dias, além
de crescimento acima do mercado. Tudo isso, com
o apoio técnico de um time com mais de sete anos
atuando com Open Finance, no mundo.
Outra mudança recente neste sentido é o Open
Insurance, ou Sistema de Seguros Aberto,
que é a possibilidade de consumidores de
produtos e serviços de seguros, previdência
complementar aberta e capitalização permitirem
o compartilhamento de suas informações entre
diferentes instituições.
6 Do sal ao phygital: qual é o futuro do dinheiro?
O superintendente de Novas Plataformas da
TecBan diz que, da mesma forma que o mercado
bancário, a novidade é uma plataforma, e como
tal, tem o potencial de reconfigurar negócios e
players. Ele permite o compartilhamento de dados
dos clientes (com consentimento), de forma ágil
e segura entre instituições, inclusive permitindo
conexão com a plataforma banking. “O maior
desafio que vemos é a maturidade digital desse
mercado, no país, bem como a visão de que essa
pode ser uma grande oportunidade de novos
negócios e não unicamente uma ameaça, para
esse setor tão desafiador, que é o de seguros.
Mesmo sendo um nicho com grandes desafios
e particularidades, o Open Insurance promete
mudar as relações entre seguradoras e clientes,
tornando o segmento ainda mais aberto e
eficiente”, pondera.
Ele esclarece que a ideia é que as seguradoras
utilizem as informações obtidas, nos conformes e
normas da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais
(LGPD), para ofertar produtos e serviços de uma
maneira mais personalizada e democrática.
E assim desenvolver jornadas e experiências
mais confortáveis para os consumidores, e um
produto personalizado.
Essas possibilidades potencializarão o mercado
financeiro ao fazer a economia se movimentar
ainda mais, de forma mais acessível para todos.
“O acesso à informação fortalece o usuário final
e lhe dá confiança para fazer escolhas corretas,
tanto na cessão de seus dados aos prestadores de
serviço bem-intencionados, quanto na tomada
correta de decisões financeiras. Todo o mercado
tem a responsabilidade de ensinar os usuários,
com linguagem acessível, mas, principalmente
com a oferta de produtos e serviços de qualidade,
que realmente tragam valor a esse consumidor”,
conclui Aguiar.
Desafios legais e de segurança
A advogada Mariana Chaimovich diz que ao
mesmo tempo em que as inovações no sistema
financeiro trazem facilidades, elas também criam
desafios de segurança e legislação. Ela explica que
o Direito sempre busca seguir os avanços, mas
que muitas vezes eles caminham rápido demais
e não há como prever as possibilidades criadas.
Mariana é legal advisor no Instituto de Estudos
Estratégicos de Tecnologia e Ciclo de Numerário
(ITCN), uma associação sem fins lucrativos
voltada para o desenvolvimento de estudos
relacionados a inovações tecnológicas na área
de gestão de Ciclo de Numerário (manuseio e a
utilização em larga escala de cédulas e moedas). O
tema compreende tanto o caminho que o dinheiro
em espécie percorre desde a emissão até a sua
chegada às mãos da população quanto a interação
de meios de pagamento tradicionais com novos
meios de pagamento digitais.
Nos últimos dois anos, o ITCN vem expandindo a
sua agenda de pesquisas para atingir um público
mais amplo e mostrar que falar sobre dinheiro é
uma questão que interessa a sociedade como um
todo: “Nós somos um instituto que claramente
tem um viés específico pela discussão de temas
voltados ao dinheiro em espécie, mas nas nossas
pesquisas tentamos demonstrar com dados
empíricos o que está acontecendo e as discussões
a respeito de outros meios de pagamentos. O
objetivo é ver se faz sentido no Brasil ou não”,
comenta a advogada.
Ela destaca que o Instituto tem a visão de
que os novos meios de pagamento surgem
7 Do sal ao phygital: qual é o futuro do dinheiro?
para conviver em harmonia com as cédulas
tradicionais: “O Brasil é um país que ainda
usa muito dinheiro em espécie. O número de
pessoas que investem em criptomoedas, por
exemplo, é muito pequeno quando comparado
à população em geral. Em contraposição a isso,
temos uma situação econômica de crise em que
milhões de pessoas passam fome ou estão em
insegurança alimentar”.
Circulação de dinheiro
A circulação de dinheiro em espécie atingiu
patamares históricos elevados durante a pandemia
do coronavírus. Entre os países desenvolvidos,
ela vinha se mantendo de forma regular desde
2015, com um crescimento a partir do início da
crise sanitária. A exceção é o Reino Unido, que
apresentou queda neste período. Já os países em
desenvolvimento apresentam um comportamento
mais heterogêneo neste sentido, com exceção à
China, que vem apresentando uma redução no
numerário e possui alto nível de digitalização de
“A CIRCULAÇÃO DE
DINHEIRO EM ESPÉCIE
ATINGIU PATAMARES
HISTÓRICOS ELEVADOS
DURANTE A PANDEMIA
DO CORONAVÍRUS.”
pagamentos. De uma forma geral, a pandemia foi
um marco importante na expansão monetária e
o cenário para os próximos anos é incerto.
No Brasil, o volume de dinheiro em circulação
passou de R$ 279 bilhões em abril de 2020 para
R$ 366 bilhões em dezembro do mesmo ano.
Em abril, esse montante reduziu para R$ 320
bilhões, mas ainda acima do observado antes da
crise sanitária.
Mariana Chaimovich, do ITCN, explica que o
motivo foi o aumento significativo de emissão
no começo da pandemia, por conta do Auxílio
Emergencial. Foi atípico, já que em situações de
crise acontece um fenômeno em que as pessoas
passam a guardar o dinheiro físico, por não saber
o que vem pela frente e se continuarão tendo
acesso aos bancos para saques.
Neste sentido, o ITCN busca garantir que as
cédulas continuem sendo um meio de pagamento
de aceitação ampla. Recentemente, por exemplo,
o instituto ingressou na Justiça com uma Ação
Civil Pública (ACP) exigindo que o Governo
de São Paulo, a Cia. do Metropolitano de São
Paulo (Metrô) e a CPTM (Companhia Paulista de
Trens Metropolitanos) reabram imediatamente
bilheterias que foram fechadas em algumas
estações. Nestes locais, elas foram substituídas
por totens de acesso digital e pelo bilhete
digital TOP.
Na ação, o Instituto pede que tais entes se
abstenham de adotar medidas que venham a
impedir, restringir ou dificultar o uso do dinheiro
em espécie como meio de pagamento acessível
a todos nos transportes públicos coletivos do
Estado de São Paulo.
Segurança e transporte de valores
O transporte e armazenamento do dinheiro
físico pelo país é um desafio contínuo não só
para o setor financeiro. Por meio da TBForte
Segurança e Transporte de Valores, são oferecidas
soluções completas e personalizadas em logística,
8 Do sal ao phygital: qual é o futuro do dinheiro?
custódia, processamento de numerário e cofres
inteligentes para instituições financeiras e para
o varejo. Atualmente, atende cerca de 4,5 mil
pontos, com 600 carros-fortes e leves na frota e
5 mil colaboradores, com 32 bases operacionais
distribuídas estrategicamente em 16 estados.
Gabriel Damasceno, Superintendente da TBForte,
conta que a estratégia da empresa é desenvolver
produtos customizados, específicos para cada
nicho, e oferecer o que o cliente precisa para o seu
negócio. O foco é sempre na inovação, utilizando,
por exemplo, a automação nos produtos e
processos gerando mais segurança, eficiência
e produtividade, objetivando diminuição de
custos em toda a sua cadeia produtiva.
A tecnologia também é um elemento essencial
em todo o processo. “Nossas operações são todas
rastreadas em tempo real e nossos processos
de segurança sempre revisados, o que reduz
significativamente as ações criminosas dentro
de nosso segmento.”
“Temos acompanhado todas as medidas
protetivas desenvolvidas no país e fora dele,
buscando alternativas, que venham propiciar
cada vez mais segurança a todos os envolvidos
em nossas operações. Além de capacitar nossas
equipes ao manuseio dessas rotinas, e quanto aos
processos de segurança necessário no dia a dia”,
complementa Damasceno.
Regulação determinará o futuro
das cripto
Ao pensar sobre o futuro do dinheiro, num mundo
cada vez mais digital, as criptomoedas são, sem
dúvida, uma grande aposta. Para Roberto Kanter,
economista e professor de MBAs da Fundação
Getúlio Vargas (FGV), no entanto, tudo dependerá
da regulação. “É muito provável que, uma vez
reguladas, as criptomoedas passarão a ser aceitas
como meio de pagamento por muitas empresas
e órgãos. Enquanto isso não acontecer, ela vai
permanecer como algo marginal, com uma
adesão de poucas pessoas investindo em grandes
volumes. Um nicho apenas para investidores com
estômago forte”.
Nos Estados Unidos há um movimento intenso
neste sentido, de acordo com o economista.
Tanto o presidente Joe Biden, quanto o Federal
Reserve e a SEC (U.S. Securities and Exchange
Commission, que equivale a Comissão de
Valores Mobiliários no Brasil) estão estudando
a regulação do ambiente das criptomoedas. “O
Brasil precisa participar dessa discussão com
os grandes países. Temos que sentar à mesa e
ter voz”, frisa.
A tecnologia do blockchain vem sendo usada,
ainda, como base das finanças decentralizadas
(DeFi), sistemas de pagamentos e transações,
como empréstimos, que dispensam a necessidade
de intermediários. Por meio de contratos
inteligentes, elaborados na forma de código
computacional programado e autoexecutável
automaticamente, esses acordos são feitos de
pessoa para pessoa. “A ideia filosófica é bem
bacana. Você recebe mais pelo seu dinheiro e paga
menos pelo que pega emprestado. Só que, como
tudo que é novo e não tem regulação, os riscos da
operação são muito altos. Eu diria que existe uma
perspectiva positiva a partir do momento em que
elas ganharem credibilidade e o mercado como um
todo criar condições para uma autorregularão”.
Na visão de Kanter, a tecnologia vem funcionando
como uma aliada na integração de pessoas ao
sistema financeiro no Brasil. “Com as fintechs e
serviços como os cartões pré-pagos, o número de
9 Do sal ao phygital: qual é o futuro do dinheiro?

desbancarizados no Brasil já caiu drasticamente.
Além disso, algumas empresas, por exemplo,
já oferecem crédito pré-aprovado por meio
de seus aplicativos. Por meio desse modelo de
transformação digital, o consumidor sem uma
conta no banco poderá se inserir cada vez mais”.
Uma revolução em curso
Especialista em temas como Mercado Financeiro
e de Capitais, o advogado Eduardo Dotta afirma
que as novas tecnologias estão interferindo
diretamente no curso do sistema financeiro. Para
ele, há uma revolução em curso, mas é preciso
ter cautela. O mercado das criptomoedas, por
exemplo, ainda tem questões muito nebulosas.
“Há uma crise na função das criptomoedas como
reservas de valor. É tudo muito especulativo
e a formação de preços fica incerta. Não vejo
uma ação coordenada de um estabilizador de
preços. As criptomoedas vão passar por uma
fase de amadurecimento. Não há uma visão de
curto e médio prazo do que vai acontecer com
em ofertas públicas. “Não vejo possibilidades dos
criptoativos substituírem as moedas tradicionais
em curto e médio prazo. Acho que eles vão
crescer como um meio de troca. Ainda há muito
o que se discutir sobre o tema e é preciso ter um
trabalho educacional mesmo. Temos visto muitos
aproveitadores utilizando essa ferramenta em
esquemas criminosos de pirâmides financeiras,
por exemplo”.
Professor livre-docente da Universidade Federal
de São Paulo (Unifesp) e sócio do Instituto
Locomotiva, o neurocientista e futurista Álvaro
Machado Dias acha que os próximos dois ou três
anos serão pouco favoráveis às criptomoedas. O
que move este raciocínio não é a queda do Bitcoin
ou as evidências de que as stablecoins podem
colapsar, a despeito de terem sido desenhadas
para manterem suas cotações atreladas a
reservas fiduciárias. O verdadeiro ponto é que
os governos das economias médias e grandes

NÃO VEJO
esses ativos”, avalia Dotta, que é professor
do Insper Direito.

Ele acrescenta, no entanto, que quanto maior

POSSIBILIDADES
DOS CRIPTOATIVOS
a base de usuários do sistema, mais confiável e
menos volátil ele se tornará. Um paralelo neste
sentido pode ser percebido, exemplo, em mercados
de ações mais maduros, como o americano. Outro
ponto importante será a regularização desta SUBSTITUÍREM
AS MOEDAS
modalidade. No Brasil, o Marco Cripto, projeto
de lei que prevê a regulamentação dos negócios

TRADICIONAIS EM
com criptoativos no Brasil, está no congresso e
deve ser votado após a eleições. “Qualquer ativo

CURTO E MÉDIO
precisa de uma base jurídica e de uma atuação
regulatória do Banco Central para ter um caráter
mais oficial. Assim, ele ganha credibilidade e dá
mais segurança aos usuários”.
PRAZO. ACHO QUE ELES
VÃO CRESCER COMO
O especialista destaca que os avanços tecnológicos
trarão cada vez mais agilidade e desburocratização

UM MEIO DE TROCA.
aos negócios. A tokenização, por exemplo, já
é utilizada pelo mercado financeiro para a
negociação de títulos que antes eram colocados
10 Do sal ao phygital: qual é o futuro do dinheiro?
estão respondendo aquilo que percebem como
riscos institucional e tributário com medidas
regulatórias mais fortes e projetos de moedas
digitais de banco central (CBDCs). Assim, é
esperado que haja uma fase relativamente
longa de tensões regulatórias até que o mercado
se acomode.
Na visão dele, as chances de as criptomoedas
caírem em desuso é praticamente nula, enquanto
as chances de bolhas beiram 100%. Uma razão
para isso, ele aponta, é o fato de que este é um
mercado absurdamente concentrado. Menos
de 10% das carteiras possuem mais de 90% de
todo o valor em cripto do mundo. Estes grandes
investidores ou “baleias” manipulam o mercado,
usando mecanismos simples de oferta e demanda.
“Outra razão é a ausência de banco central,
cujo papel principal é, justamente, manter a
estabilidade da moeda, usando a taxa de juros
e outras ferramentas macroeconômicas. Como
esta razão é incontornável, não espere que as
criptomoedas tenham um dia a estabilidade das
moedas nacionais”.
O especialista avalia que a oscilação de valor
das criptomoedas faz com que o uso atual mais
viável para as mesmas seja o especulativo. Para
ele, o exemplo de El Salvador demonstra que
é impossível implementar políticas de adoção
plena na atualidade. No dia 7 de setembro de
2021, o país adotou o bitcoin como moeda
nacional. Na época, a criptomoeda era cotada a
uma média de US$ 46 mil dólares, mas de lá para
cá o seu valor sofreu diversas quedas. No início
de agosto, por exemplo, a sua cotação era de
US$ 23 mil dólares. Com isso, uma grande crise
econômica local se instalou, com possibilidades de
desdobramentos políticos.
Por outro lado, aponta o sócio do Instituto
Locomotiva, a unidade lógica que subjaz às
criptomoedas, que é o token de blockchain,
tem um papel muito importante a exercer na
democratização dos direitos proprietários. Por
exemplo, ao invés de uma empresa ser dividida
em cem cotas ordinais e cem preferenciais,
ela pode ser fragmentada em cem mil tokens,
aumentando a capilaridade proprietária. “Este
tipo de tokenização tem um sentido prático
claro e construtivo, mas esbarra em barreiras
regulatórias criadas para proteger os investidores
menos experientes, as quais se justificam em
função da imaturidade do mercado. Podemos
dizer que a grande barreira é educacional”.
O desafio da conectividade
No Brasil, os avanços tecnológicos digitais
muitas vezes esbarram na falta de conectividade,
principalmente nas zonas rurais e pequenas
cidades. Nestes locais, o acesso à internet
geralmente fica restrito a residências e
estabelecimentos comerciais e, mesmo assim,
com performances insuficientes. A chegada do 5G
representa uma grande esperança neste sentido.
Superintendente de Infraestrutura, TI e Telecom
da TecBan, Sidney Santos explica que uma vez
que essas localidades passem a ser atendidas
por comunicação móvel, será possível levar
de forma ampla e rápida serviços da empresa,
como saque no comércio, saque digital, recarga
de celulares, além de ampliar a rede de caixas
eletrônicos do Banco24Horas e oferecer links
de comunicação com capacidade adequada aos
estabelecimentos comerciais.
Há dez anos, a TecBan oferece, ainda, soluções de
conectividade para o varejo e o mercado financeiro
por meio da operadora de telecom TBNet e,
segundo o superintendente, as oportunidades
de negócio aumentarão com a expansão da
cobertura 4G e a chegada do 5G. A ampliação da
malha de redes móveis implicará diretamente no
crescimento do mercado potencial do principal
produto da empresa, o LinkBooster TBNet, que
oferece conectividade para estabelecimentos
comerciais a partir da solução dual chip 4G.
“Estamos em contato com alguns fornecedores
11 Do sal ao phygital: qual é o futuro do dinheiro?
e realizando alguns testes com modens 5G para,
em breve, iniciar a oferta para nossos clientes
atuais e para potenciais interessados”.
O LinkBooster, da TBNet, ele explica, funciona
como uma grande solução para conectividade
principalmente por conta dos seus diferenciais.
Além da altíssima qualidade da rede, que atinge
disponibilidade média de 99,8%, o serviço
possui uma rápida velocidade de implementação.
Enquanto uma operadora tradicional leva até
60 dias para entregar um novo circuito de
conectividade, o LinkBooster TBNet pode ser
instalado de um dia para o outro, sem a necessidade
de passagem de cabos ou serviços de alvenaria,
tornando-se também uma solução sustentável
para o meio ambiente. Ele é sempre ativado com
os chips das duas melhores operadoras móveis
da localidade, em formato totalmente agnóstico,
por meio de uma ferramenta de benchmark
desenvolvida em conjunto com uma startup
parceira da TBNet.
Santos ressalta que outras funcionalidades e
soluções da empresa também estão sendo
projetadas para o operar com o 5G. No ano
passado, por exemplo, a TecBan lançou o primeiro
caixa eletrônico 5G da América Latina e explorou
nele algumas aplicações, como o SmartSecurity
TBNet, que oferece o monitoramento do ambiente
por imagens de Circuito Fechado de Televisão
(CFTV), o Wi-Fi Hub TBNet, que provê acesso à
internet de alta velocidade via portal de clientes,
e chamada de vídeo diretamente com a central de
atendimento, caso a pessoa precise solucionar
alguma dúvida ou problema.
Atualmente, a TBNet está presente em 18
estados e no Distrito Federal, atendendo a
mais de 14 mil pontos comerciais. São mais
de 12 mil Banco24Horas funcionando por meio
do LinkBooster.
Possibilidades, risco e a jornada
do cliente
Com os avanços tecnológicos no mundo
financeiro, Álvaro aponta que a tendência para
a jornada dos clientes, já hegemônica há alguns
anos, é o uso de sistemas de recomendação
baseados em deep learning (sistema que busca,
por meio de algoritmos, ensinar as máquinas a
agirem e interpretarem dados de uma maneira
mais natural). Com isso, a consequência foi a
naturalização da experiência individualizada.
Para ele, é preciso agora dar o próximo passo.
Um caminho é o da criação de ambiente virtuais,
com cenários inspirados em games e dinâmicas
voltadas ao engajamento, ou seja, realidade virtual
(VR); ou, ainda mais, experiências de mundo real
com sobreposições digitais relevantes, ou seja,
realidade aumentada (AR). “Sem dúvida, os
metaversos baseados em VR e AR irão redefinir
as jornadas do consumidor. A questão apenas é
que isso ainda está a uns quatro ou cinco anos de
distância. Por enquanto, temos que nos contentar
com uma espécie de limbo, sob a hegemonia
dos algoritmos inventados na primeira década
do século”.
Dias vê, ainda, a chegada do 5G como essencial para
estender o direito fundamental da conectividade
para mais pessoas no Brasil, mas afirma ser
incorreto assumir que a conectividade é o pivô
do desenvolvimento de soluções integradas
para o varejo e mercado financeiro neste
momento. Os verdadeiros pontos sensíveis,
frisa, são interoperabilidade (varejo) e educação
(mercado financeiro).
O especialista ainda vê o risco dos desbancarizados
e os desconectados ficarem ainda mais à margem
do sistema financeiro. Uma pesquisa publicada no
ano passado pelo Instituto Locomotiva mostrou
que 34 milhões de brasileiros têm acesso precário
ao sistema bancário – o equivalente a 21% da
12 Do sal ao phygital: qual é o futuro do dinheiro?
população que movimenta aproximadamente R$
347 bilhões ao ano. São 16,3 milhões de pessoas
desbancarizadas, ou seja, que não possuem
conta em banco; e outras 17,7 milhões sub-
bancarizadas, que utilizam pouco ou não têm
acesso aos produtos e serviços disponíveis no
mercado. “O risco é real e tende a se agravar
com os projetos de CBDC (Moeda Digital do
Banco Central). Acessos biométricos representam
a solução fácil para reduzir a exclusão ao
sistema financeiro, mas seu escopo é limitado.
É fundamental garantir que toda a população
possa comprar ao menos um smartphone e
manter um plano de internet, por meio de
políticas públicas concernentes”, avalia.
Lições e apontamentos para os meios
de pagamento
O caso do bitcoin em El Salvador não foi a única
ação drástica de um país relacionada ao seu sistema
financeiro nos últimos anos. No dia 8 de novembro
de 2016, a Índia chocou o mundo ao anunciar de
surpresa que iria cancelar a maior parte das suas
cédulas em circulação, num processo chamado
desmonetização. A medida, que tinha o objetivo
de combater a corrupção, tirou o valor das notas
de 500 e 1000 rúpias, que representavam quase
90% das cédulas. “No final, a maioria das notas
foram devolvidas ao banco central, o que sugere
que o objetivo original não foi alcançado. Uma vez
que a política de desmonetização foi lançada sem
aviso prévio, houve escassez de fornecimento de
notas e a indústria do numerário teve de suportar
custos substanciais relacionados com a troca
de notas. Outros países pensarão duas vezes
antes de tentarem um exercício semelhante”,
afirma Dominic Hirsch.
Ele é diretor administrativo do Retail Banking
Research (RBR), empresa sediada em Londres
de consultoria e pesquisa estratégica para
organizações nas áreas de tecnologia bancária
e de varejo, cartões e pagamentos. Na visão dele,
o futuro do dinheiro será diferente em cada lugar.
Como regra geral, no entanto, o dinheiro em
espécie e os caixas eletrônicos poderão coexistir
perfeitamente com os pagamentos eletrônicos.
No entanto, haverá sempre um segmento da
população que opera apenas com cédulas ou
13

as utilizam presencialmente. Sendo assim, os
caixas eletrônicos precisarão continuar existindo.
Na Europa, alguns países já criaram regras
determinando a presença de caixas eletrônicos
em determinados locais”.
técnicas, já que ainda não há uma maneira
prática de usar criptomoedas como meio de
troca. É lento e desajeitado, e o processo de
criação de novas moedas (através da chamada
prova de trabalho) é terrivelmente caro.

Dominic avalia que nos países menos

desenvolvidos o quadro é um pouco mais
complicado: se por um lado população bancária
está crescendo, o que significa mais pessoas com
possibilidade de usar caixas eletrônicos, os meios
de pagamentos digitais também avançam. “No
geral, o número de caixas eletrônicos em todo
o mundo atingiu o pico”.

Para Julian Birkinshaw, especialista em inovação,

empreendedorismo e renovação em grandes
corporações, a tecnologia vem permitindo
grandes avanços cotidianos, principalmente na
maneira como vivemos as nossas vidas online,
nas redes sociais e assim por diante, mas também
na viabilização de todo tipo de negócio. “A pizza
da Domino’s, por exemplo, foi transformada
por meio da tecnologia. Os carros agora são
produtos eletrônicos com rodas. Mas, o ponto
básico é que a sociedade superestima o impacto
de curto prazo das novas tecnologias emergentes
e subestima o impacto de longo prazo. É preciso
observar e investir nessas tecnologias com uma
perspectiva de muito longo prazo”.

Neste sentido, ao falar sobre o mundo financeiro

e mais especificamente as criptomoedas, ele
vê uma empolgação e um hype muito à frente
da capacidade da tecnologia de realmente
funcionar corretamente, o que leva a grandes
oscilações no preço desses ativos. “Você precisa
separar a tecnologia subjacente (blockchain) das
criptomoedas, como bitcoin. Para o blockchain, o
potencial de longo prazo é enorme, pois permite
a “democratização” do compartilhamento de
informações sem controle central. Mas mesmo
com blockchain, os benefícios de curto prazo das
criptomoedas são incertos.

Ele salienta que as primeiras barreiras são

14

O ESG
COMO NORTE
DOS NEGÓCIOS
A importância das práticas ambientais,
sociais e de governança dentro das empresas.
15 O ESG como norte dos negócios

Além dos avanços tecnológicos, demandas exemplo, em um ano conseguimos incluir 80%
coletivas que interessam a toda a sociedade da população que agora tem acesso a mais de
se tornam cada vez mais importantes dentro 150 instituições financeiras, que se adequam a
de empresas dos mais variados setores, sua necessidade com diversos produtos. Temos
inclusive o financeiro. Neste sentido, o ESG um papel essencial no desenvolvimento do
(Environmental, Social e Governance) ganha ecossistema financeiro do país, atingindo
destaca continuamente. Ele se refere às práticas positivamente o Brasil de cada um”.
ambientais, sociais e de governança de uma
organização, que se tornam fundamentais, por A TecBan iniciou em 2021 o seu Programa
exemplo, para que ela esteja apta a receber ESG, com o apoio da consultoria internacional
investimentos de determinados grupos PricewaterhouseCoopers (PwC). Ao longo do
ou governos. ano, foi feito um diagnóstico envolvendo a
alta liderança e alguns projetos se destacaram.
Superintendente de Pessoas e Sustentabilidade No pilar Ambiental, por exemplo, a TecBan já
da TecBan, Marina Bertollucci diz que a empresa reciclou mais de 1,8 mil toneladas de materiais
se dedica a questões que envolvem o tema desde dos seus caixas eletrônicos. O percentual de
o início de sua história. Ela destaca as soluções reciclagem foi de 95% nos últimos três anos. Os
que integram o físico e o digital para tornar o materiais são sucatas de ferro, plásticos diversos,
ecossistema econômico do país mais eficiente e placas de circuito impresso e fios isolados. Desde
ampliar a inclusão financeira das pessoas. 2019, 391 caixas eletrônicos passaram
Nos últimos 10 anos, foram investidos Desde 2019, pelo processo de reciclagem, totalizando
mais de R$ 4 bilhões em produtos e 391 caixas 1,8 mil toneladas de materiais reciclados.
serviços que impactam todas as classes eletrônicos Desde 2019 até maio deste ano, já foram
passaram pelo
sociais e perfis de público, por todo processo de investidos mais de R$ 229 mil no descarte
o Brasil. “Visionária, a TecBan foi a reciclagem, sustentável dos materiais provenientes dos
totalizando 1,8
primeira empresa brasileira a colocar caixas eletrônicos.
mil toneladas
a sua plataforma de Open Finance de materiais
em produção, iniciando a integração reciclados. No pilar Social, a TecBan mantém o
com o Open Insurance em 2022. Por seu core business pautado na inclusão
isso, promovemos a capacidade das financeira da população brasileira e ao
instituições financeiras para expansão do acesso desenvolvimento sustentável do país. Além
aos serviços bancários, em diversas regiões do disso, possui uma agenda ativa de patrocínios
país”, comenta. incentivados e não incentivados. “Ainda
quando observamos a cultura de trabalho na
Além disso, a empresa é líder mundial em TecBan, desde a contratação até a jornada dos
rede independente de caixas eletrônicos. O colaboradores, implementamos todas as práticas
Banco24Horas, o principal negócio, leva acesso que fazem conexão a uma rotina saudável, com
ao dinheiro e aos serviços financeiros nas regiões desenvolvimento pessoal e, mais importante,
mais remotas de todo o Brasil, seja por meio com dignidade em sua execução”, afirma Marina.
do caixa eletrônico ou outras soluções móveis
disponíveis no portfólio. São mais de 2,1 bilhões Já no pilar Governança, a empresa possui
de transações ao ano em seus mais de 24 mil uma estrutura robusta de segurança de dados,
caixas eletrônicos distribuídos mil cidades do servindo de referência para o mercado nacional
país. A marca movimenta 5% do PIB e leva e internacional, que monitora os riscos seguindo
desenvolvimento econômico para 152 milhões a metodologia “Três Linhas de Defesa” e tem
de brasileiros que têm acesso a mais de 90 uma cultura fast forward: cenário propício para
serviços de 150 instituições. “No Amazonas, por contemplar ações da agenda ESG.
16
17
DESAFIO DAS
SOLUÇÕES
O problema de criar a solução sem antes
definir as demandas e as dores dos usuários.
Por Luiz Stefani, CMO e COO da TecBan
Constantemente, observamos o surgimento de
muitas tecnologias e produtos. É consenso que as
soluções sejam criadas para resolver problemas,
até por uma questão semântica, certo? Talvez
nem tanto. A relação entre causa e consequência
tem se perdido com certa frequência nesse
contexto, prejudicando o consumidor. Explico.
Todo o mercado enfrenta transformações
estruturais que incluem desde o perfil demográfico
da população até a revolução tecnológica e digital,
que redesenha modelos de negócios e incorpora
novos players.
Construído em parceria com:
É natural que uma solução idealizada para
um problema se adapte e incorpore outras
conveniências. Mas, vejo que tem se tornado
cada vez mais comum companhias criarem
produtos ou serviços e apenas depois procurarem
formas de estimular a demanda. É como aquela
obra “Seis personagens à procura de um autor”,
do italiano Luigi Pirandello: criações tentando
convencer seu autor que merecem existir. O
dramaturgo nos convida a esquecer o truísmo
de que uma personagem não existe sem um
autor – convite que aceitamos de bom grado.
E é aí que o paralelo entre ficção e vida real acaba.
Ao criar primeiro a solução e depois procurar o
problema, o convite para que o público participe
do processo nunca é feito. O consumidor sai do
centro e fica às margens da equação.
Afinal, ter o cliente no centro é justamente
pensar nas dores sob a ótica do outro e não da
empresa. Em outras palavras, ouvir o outro lado
da transação para que uma lacuna seja identificada
e valor real seja criado para ambas as partes. O
papel das companhias está em monetizar e criar
18 Desafio das soluções

eficiência a partir da solução de um problema que áreas residenciais de classes C, D e E.

é latente e existe.
Em um cenário em que a educação, o trabalho, o
Um exemplo muito simples e prático é a quantidade lazer e o convívio social tiveram que se adaptar
de pessoas sem acesso à internet. No Brasil, ao mundo virtual, este acesso passou a ser um
33,9 milhões de pessoas estão completamente direito fundamental para superar desigualdades
desconectadas, segundo uma pesquisa recente nas próximas gerações.
do Instituto Locomotiva. Isto significa que 20%
da população está offline. Ao mesmo tempo, enquanto caminha a discussão
sobre a implementação do 5G, existem milhares
A transformação acelerada pela pandemia de soluções para que estas pessoas usem mais
digitalizou muitas formas de contatos com o mundo digital.
serviços e diversos processos que impactam o
dia a dia - como o acesso a serviços públicos, Enquanto se quer digitalizar estas pessoas,
por exemplo, mas a era completamente digital também há o desafio de garantir conectividade
não é para todos, seja por preferência e alfabetizar digitalmente para que
Afinal, ter
ou por dificuldade de acesso. possam extrair a melhor experiência
o cliente
no centro é das tecnologias.
A Pesquisa Nacional por Amostra de justamente Abordar inclusão digital é essencial
pensar nas dores
Domicílios Contínua - Tecnologia da quando se fala de idosos, inclusive.
sob a ótica do
Informação e Comunicação 2019, a outro e não da De acordo com o IBGE, passam de
Pnad TIC, divulgada pelo Instituto empresa. Em 30 milhões a quantidade de pessoas
outras palavras,
Brasileiro de Geografia e Estatística ouvir o com mais 60 anos no Brasil, número
(IBGE), mostra entre os motivos pelos outro lado superior ao de crianças com até 9 anos
quais mais de 12 milhões de famílias da transação de idade.
para que uma
entraram na pandemia sem acesso à lacuna seja
Internet em casa está falta de interesse identificada Sem juízo de valor sobre os problemas,
e valor real
(32,9%), valor do serviço (26,2%) e o mas em algumas situações a solução
seja criado para
fato de nenhum morador saber usar a ambas as partes está no meio e não no fim. É por isso que
internet (25,7%). é vital que as organizações entendam
a essência de seus clientes, jornada
No quesito falta de interesse, o relatório anual e necessidades, para partir com soluções que
de tendências da experiência do cliente realizado resolvem problemas reais. Afinal, precisamos
pela empresa Zendesk complementa: 65% dos de autores de boas histórias, porque só assim
usuários preferem transações online, mas as nascem bons personagens e não o contrário.
interações pessoais continuam importantes - a Conectividade, inclusão financeira e educação
empatia por parte do atendimento é essencial para o uso das ferramentas digitais são uma
para 49% dos entrevistados. questão social. Aliar inovação com inclusão será
o diferencial para os negócios do futuro.
O período pandêmico aprofundou ainda mais as
desigualdades sociais e evidenciou o tamanho Enfim, o mundo segue precisando de muitas
do desafio da inclusão digital e financeira. E soluções para os problemas que temos na
aqui, vale dizer, que inclusão financeira não é atualidade, principalmente os que acelerem
bancarização. É fazer o dinheiro chegar até as a conexão entre o físico e o digital. Só não
pessoas, expandindo a capilaridade com um precisamos criar mais problemas a partir de
olhar para todas as classes sociais e perfis, soluções que só resolvem os dilemas de quem
promovendo o acesso aos serviços bancários em as idealizou.
19

TecBan conta com soluções tecnológicas para

Conversamos com o CEO da
TecBan sobre as novas
TR :
tecnologias digitais que
Q + A
estão transformando o
mercado financeiro.
promover a convergência entre o físico e digital
e para contribuir com a inclusão financeira de
diferentes públicos no sistema bancário brasileiro.
Rosenzvaig aborda ainda questões relacionadas
à segurança de dados e destaca quais são as
perspectivas e previsões de investimentos da
empresa para o futuro.

Por Natanael Damasceno MIT Technology Review Brasil – Como o setor

financeiro vai explorar a fronteira phygital?

O setor financeiro está sendo completamente

Jaques Rosenzvaig: Aqui na TecBan criamos
reconfigurado por meio de tecnologias como o 5G,
um ecossistema de infraestrutura, produtos e
a Internet das Coisas, o blockchain e o metaverso.
soluções que aceleram e fazem com que seja
Mais que nunca, os clientes estão em foco, pois
possível a experiência phygital. Com o nosso
é a partir deles que novos produtos e serviços
negócio, percebemos que o digital demanda a
hiper personalizados poderão ser oferecidos. E
integração da proposta de valor do meio físico.
para acompanhar essa evolução, as empresas
Um exemplo é como o caixa eletrônico tem se
têm apostado na “experiência phygital”,
transformado, nos últimos tempos, em “one stop
a convergência entre o mundo físico e o digital.
shop”, oferecendo aos consumidores opções de
soluções e serviços financeiros e não financeiros
Em entrevista à MIT Technology Review Brasil,
em um único canal. Mais do que isso, o caixa
Jaques Rosenzvaig, CEO da TecBan, falou sobre
eletrônico disponibiliza a materialização do
o assunto e analisou as principais oportunidades
ponto físico de contato e transação para fintechs,
que as novas tecnologias digitais têm oferecido
bancos digitais e operadores de transações
ao ecossistema financeiro brasileiro. Líder
digitais. Já são mais de 50 instituições digitais que
mundial em rede independente de ATM, a
ganharam capilaridade física nacional por meio
20 TR Q+A
do Banco24Horas. Recentemente, estruturamos
a rede física de autoatendimento do Agibank.
Também é importante reforçar que o caixa
eletrônico oferece escalabilidade para serviços
digitais, como recarga, gift card, entre outros.
As transformações no mercado financeiro são
constantes, por isso é essencial a preocupação
com segurança, usabilidade, escalabilidade
e multiconexões.
TR: Quais são as principais oportunidades que
o sistema bancário brasileiro vai buscar com a
chegada das novas tecnologias, como o 5G?
JR: As transformações no mercado financeiro
são constantes e atualmente estamos mudando
de fase para além da digitalização e dados,
trazendo à tona a preocupação com produtividade,
segurança, usabilidade e escalabilidade. Mais do
que a tecnologia 5G e as oportunidades de novos
negócios que ela deve trazer, o mercado está
voltado para a eficiência e compartilhamento
de valor. A inovação tem que agregar valor para
as pessoas.
Quando lançamos o primeiro ATM 5G, usamos a
tecnologia como meio para resolução de questões
na vida das pessoas. Além das maiores velocidades
de conexão, o que devemos ver com o avanço da
tecnologia é a melhoria na experiência do usuário
final, o aumento da performance e segurança dos
serviços disponibilizados. Existem possibilidades
de irradiação de sinais de Wi-Fi para lojas,
inclusive, para tornar possível a adoção do módulo
Internet das Coisas no dia a dia dos varejistas. O
compartilhamento do Wi-Fi, por meio do 5G, pode
ser muito positivo também para os usuários do
Banco24Horas, que não precisarão contar com
cotas de internet próprias para resolver seu dia
a dia diretamente no caixa ou seus arredores.
É essencial que os avanços do 5G sejam acessíveis
para o brasileiro em suas mais diversas
realidades. Por isso que aqui convertemos
tecnologia em entrega que dá valor de escala para
diferentes públicos.
TR: Quais os planos da TecBan com relação à
convergência entre o físico e o digital?
JR: A TecBan nasceu sob o conceito de economia
compartilhada, plataforma aberta e inclusiva
que permite que todos tenham acesso à nossa
capilaridade. Isso faz diferença, pois nossa
infraestrutura é aberta desde o início, o que
facilita a integração e conectividade com novas
tecnologias. Já temos mais de 50 fintechs
conectadas no Banco24Horas, por meio do
HubDigital, por exemplo. Já somamos mais de R$
7 bilhões movimentados a partir do Saque Digital,
no qual as pessoas conseguem sacar sem cartão
ou por QR Code. Temos uma plataforma de Open
Banking e acreditamos que o caixa eletrônico pode
materializar as conexões e o compartilhamento
de dados, incluindo pessoas não digitalizadas,
com segurança. Hoje, pessoas transformam
criptoativos em dinheiro na mão com o nosso
caixa eletrônico. Há muitas oportunidades e
a TecBan sempre investe para potencializar e
transformar inovação e tendência em soluções
de valor para todo o ecossistema econômico.
Acreditamos que a convergência físico e digital vai
permitir a convivência dos meios, multiplicando
possibilidades e agregando valor para a sociedade,
tendo como premissa a segurança e usabilidade
para o cliente.
TR.: Como trabalhar a segurança digital nesse
cenário atual?
JR.: Segurança é premissa de existência para
uma empresa de tecnologia e financeira.
Atuamos em quatro pilares estratégicos de
segurança: proteção, prevenção, resposta
a incidentes e colaboração. Incentivamos a
colaboração e o compartilharemos de melhores
práticas entre as empresas do segmento em
que atuamos.
Este é um pilar de muita atenção e investimento
na TecBan. Somos constantemente desafiados
em relação à segurança e a nossa resposta são
mais de 27 patentes. Desenvolvemos soluções de
segurança e cibersegurança a partir das nossas
21 TR Q+A

experiências gerindo a rede do Banco24Horas. as cartilhas de conscientização de proteção dos

Acredito que o sucesso da segurança lógica está dados, veiculados em imprensa nacional.
em ter o problema no centro, customizar solução
baseado nisso e promover atualizações constantes Em 2021, no diagnóstico de reputação realizado
ao mesmo passo em que a criminalidade evolui pela consultoria Reptrak, alcançamos nível
as abordagens. Um exemplo é o entintamento de considerado de excelência em relação à governança.
notas. Desenvolvemos este mecanismo, que hoje é Segundo a pesquisa, somos reconhecidos
uma determinação legal para as instituições, que pela forma correta e responsável na forma de
precisam ter dispositivos que invalidem notas fazer negócios, pela atuação transparente,
em caso de sinistro. pela ética e por contribuirmos positivamente
com o ecossistema econômico. Em nossa
TR: Como a TecBan tem atuado dentro da estrutura de governança, temos um Conselho de
perspectiva ESG? Administração, que define as diretrizes, aprova as
estratégias e os investimentos. Contamos também
JR: Por ter se originado como uma rede com um Comitê de Auditoria, que fornece uma
compartilhada com objetivo de gerar eficiência e avaliação objetiva e independente das atividades
inclusão, a TecBan tem os conceitos de ESG no DNA de negócios e de suporte às operações da empresa,
de todos os negócios. O Banco24Horas tem o papel analisando políticas, procedimentos, práticas,
fundamental de promover a inclusão financeira documentação, sistemas, métodos e gestão.
na sociedade. Não apenas é responsável por levar Também há um Grupo de Gestão de Riscos,
acesso ao dinheiro e aos serviços financeiros nas responsável por deliberar ações sobre riscos e
regiões mais remotas de todo o Brasil, por meio oportunidades das empresas do grupo.
do caixa eletrônico e de soluções móveis, mas
também de gerar eficiência para o sistema Além de governança, ao longo dos
financeiro e compartilhar isso dentro O Banco24Horas últimos anos, temos evoluído também
desse ecossistema. Desta forma, geramos tem o papel em termos de ética, aliando desempenho
fundamental
valor compartilhado ao possibilitar com de promover financeiro a gestão de riscos, segurança
que mais dinheiro circule pelos locais. a inclusão de dados e controles internos. Temos um
financeira na
nível de governança altamente exigente
sociedade
E, além disso, institucionalmente, temos e auditado. Mantemos atividades e
iniciativas que nascem de forma orgânica treinamentos sobre ética, conduta,
e natural, como a possibilidade da reciclagem compliance e aculturamento de satisfação
de numerário, que reduz a circulação de carros- para os colaboradores de todos os níveis
fortes e, consequentemente, a emissão de gases da TecBan.
poluentes. Também trabalhamos com descarte
sustentável, revitalização e manutenção para TR: Com as novas tecnologias, qual o futuro do
aumentar tempo de vida dos caixas eletrônicos, caixa eletrônico?
frota de carros elétricos na operação, reforçando
a inclusão entre nossos funcionários, neste JR: O caixa eletrônico está se transformando no
momento, por meio do lançamento de cartilha Brasil. É um ponto de relacionamento com o cliente
de diversidade, entre outras iniciativas. e um serviço bancário comunitário. É acesso para
serviços financeiros e não apenas ao dinheiro.
Relacionado ao G, da sigla, temos uma robusta Para fazer o serviço financeiro chegar na realidade
estrutura de segurança dos dados, servindo de cada um, precisamos obrigatoriamente ser
de benchmark para o mercado nacional e eficientes e acessíveis. Por isso, acreditamos
internacional, com projetos importantes como no poder do “E” e na coexistência dos meios
22
físicos e digitais, principalmente num país como
o Brasil. Enquanto temos um modelo que atende
as necessidades do dinheiro físico, também
temos conectividade e multiformatos que nos
dão propriedade para atuar no meio digital.
Acredito que o caixa eletrônico pode destacar
o Open Banking para os clientes com a nossa
conectividade e segurança. Isso vale para moedas
digitais e criptoativos. Há muita oportunidade
de sermos o catalisador e potencializador da
convergência entre físico e digital.
TR: Quais os serviços mais acessados hoje pelos
clientes e qual o perfil do público que utiliza as
soluções oferecidas pela TecBan?
JR: A TecBan se relaciona com vários públicos
e nossa capilaridade tem viabilizado a inclusão
financeira no Brasil. Temos soluções para o
consumidor final, como o Banco24Horas mais
de 24 mil caixas espalhados por mil cidades
disponíveis para mais de 152 milhões de
brasileiros, do público A ao E. Neles, temos saque
de dólar e euro e até caixas eletrônicos dentro
de comunidades.
Inclusive, hoje, 60% dos nossos caixas estão
instalados em regiões residenciais das classes
C, D e E. Além de comodidade, fazemos a
economia local se fortalecer. No último
O dinheiro
ano foram mais de R$ 369 bilhões de saques
no Banco24Horas.
E temos também varejistas como parte do
público que utiliza os serviços oferecidos
pela TecBan. O varejo também é um cliente
8,8%. Japão
importante para nós porque não apenas
fortalece nossa capilaridade, mas oferece
soluções de gestão eficiente do dinheiro
e conectividade. Temos como parceiros
instituições financeiras e não financeiras
no desenvolvimento de soluções customizadas de
acordo com a necessidade e estratégia de negócio
de cada um.
Ainda temos um ecossistema de soluções
TR Q+A
que vão desde gestão do ciclo de dinheiro,
conectividade, soluções de autoatendimento até
serviços logísticos e manutenção. Toda a cadeia
desenvolvida para suportar ao Banco24Horas
também atende ao mercado.
TR: Como fazer a inclusão financeira de brasileiros
residentes em localidades sem infraestrutura ou
em cidades distantes dos grandes centros? Quais
os principais desafios para atender quem está
fora das grandes metrópoles?
JR: Acredito que a inclusão financeira não
é bancarização, mas de fato fazer o dinheiro
chegar até as pessoas. E o Brasil exige um esforço
logístico grande para isso. Afinal, o dinheiro
em circulação representa apenas 5% do PIB. Na
China, por exemplo, é 8,8%. Japão é 22,9%, e
Estados Unidos é 9,7%. Para termos eficiência e
escalabilidade, criamos um modelo de negócio
acessível desenvolvido para atender o nível
de complexidade do Brasil. Oferecemos uma
economia superior a R$ 2 bilhões ao sistema
financeiro, o que acontece ano após ano, desde
2017. Com o Banco24Horas, estamos presentes
em todas as regiões. Em 2021, por exemplo, Norte
e Nordeste lideraram o aumento de instalação de
caixas eletrônicos, com crescimento de 6,7% e
3,9%, respectivamente.
em O Amazonas tem 18 municípios com
circulação acesso aos serviços financeiros por meio
representa das soluções do Banco24Horas – o que
apenas 5%
do PIB. Na representa a inclusão financeira de 77%
China, por dos habitantes do estado. A população
exemplo, é
local tem acesso a mais de 150 instituições
é 22,9%, e pode fazer diferentes transações, como
e Estados saque de dinheiro, depósitos, pagamentos,
Unidos é
9,7%
bloqueios e ativações de dispositivos
móveis, cadastros diversos, prova de vida,
recargas de TVs e celulares pré-pagos.
Além da capital Manaus, cidades da região
metropolitana também receberam caixas
eletrônicos ou outras soluções do Banco24Horas,
como Itacoatiara, Iranduba, Novo Airão, Presidente
23
Figueiredo, Manacapuru, Rio Preto da Eva, Coari,
Humaitá, Mauês, Parintins, Tabatinga, Tefé, São
Gabriel da Cachoeira, Benjamin Constant, Borba,
Lábrea e Manicoré.
TR: Diferentes segmentos da população podem
necessitar de abordagens distintas de inclusão
financeira, certo? E como a TecBan pode
contribuir com este processo?
JR: Temos um papel importante na vida e no
dia a dia do Brasil. Dinheiro em espécie permite
que uma pessoa tenha absoluto controle sobre o
valor que entra e sai, e escolher o que quer pagar,
conforme suas necessidades. É uma questão de
autonomia. Também entendo que o dinheiro é
hoje a melhor aplicação financeira da baixa renda.
Pagando à vista e com dinheiro dá para conseguir
5% de desconto, no mínimo, por exemplo.
Entendemos que o futuro é híbrido, com a
convivência harmônica entre os meios de
pagamento e alternativas que promovem inclusão
e empoderamento para os brasileiros. Esta é
a nossa grande contribuição para promover a
inclusão financeira.
TR.: Qual a perspectiva para os próximos anos?
JR: A nossa visão de futuro está embasada em três
caminhos: o primeiro é aumentar a eficiência e
acelerar a transformação dos canais físicos dos
bancos, com soluções alinhadas ao desafio de
branch transformation, múltiplos formatos do
Banco24Horas, indo além do saque (por exemplo:
Banco24Horas em agências, Soluções Móveis,
Espaços Banco24Horas, ATM Cashless e Saque
Digital), capilaridade e competitividade que o
Banco24Horas oferece para bancos médios e
pequenos, convergência físico e digital;
Além disso, queremos potencializar o ecossistema
digital a partir do uso da infraestrutura bancária
para outros setores, compartilhando a nossa
robustez, multiconexões e segurança. Por fim,
TR Q+A
materializar o Open Banking por meio do caixa
eletrônico e outras conexões, afinal somos
especialistas em tecnologia e compartilhamento
e podemos garantir a inclusão de pessoas
não digitalizadas.
TR: Qual é a previsão de investimentos da TecBan?
JR: Foram mais de R$ 4 bilhões de investimentos
na última década. Investimos mais de R$ 1
bilhão nos últimos dois anos de pandemia.
Neste ano, a previsão é de mais R$ 400 milhões
de investimento, em tecnologia, segurança
e, principalmente, para a aquisição de novos
caixas eletrônicos que aceitam depósitos. Até
o final deste ano teremos mais de 3.500 caixas
recicladores, o que deve ampliar o alcance da
solução +Varejo Banco24Horas, produto para
os comerciantes que querem reduzir custos
operacionais com a gestão do dinheiro em espécie.
Estes caixas permitem que os estabelecimentos
ou clientes de instituições financeiras parceiras
realizem depósitos em dinheiro, sem envelope.
Com isso, o recurso fica disponível para saque
pelo público, aumentando a eficiência da
circulação do dinheiro.
Ouça o episódio “Futuro do setor,
tendências e experiências internacionais”
do podcast Tudo Conectado TecBan.
24
METAVERSO: UMA
NOVA PALAVRA
PARA UMA
IDEIA ANTIGA
Para entender o que estamos (e deveríamos
estar) construindo, precisamos olhar para
além do metaverso retratado em Snow Crash.
Genevieve Bell é diretora da Escola de Cibernética da
Universidade Nacional Australiana em Canberra.
Passei boa parte da minha carreira, tanto
no Vale do Silício (EUA) quanto em outros
lugares, insistindo que todas as nossas
tecnologias têm histórias e até préhistórias; e
que, longe de serem claras e ordenadas, essas
histórias são de fato confusas, controversas e
complicadas, além de apresentarem narradores
e significados conflitantes.
O metaverso, que passou de um termo usado
apenas em um nicho específico para um nome
popular em menos de um ano, é um excelente
exemplo. Sua metamorfose começou em julho de
2021, quando o Facebook anunciou que dedicaria
a próxima década para dar vida ao metaverso.
Na apresentação do conceito feita pela empresa,
o metaverso era uma maravilha: um mundo
digital imersivo e rico combinando aspectos de
rede social, jogos online e realidade aumentada e
virtual. “A definição de qualidade do metaverso
estará atrelado a uma sensação de presença, como
se você pudesse sentir que está ali com outra
pessoa ou em outro lugar”, escreveu o fundador
26 Metaverso: uma nova palavra para uma ideia antiga
do Facebook, Mark Zuckerberg, imaginando a
criação de um mundo que “alcançasse um bilhão
de pessoas, hospedaria centenas de bilhões de
dólares de comércio digital e disponibilizasse
empregos de suporte para milhões de produtores
e desenvolvedores”. Em dezembro de 2021,
uma série de outras grandes empresas de
tecnologia americanas, incluindo Microsoft,
Intel e Qualcomm, publicaram seus próprios
planos de metaverso. E quando a Consumer
Electronics Show chegou em janeiro, todos
pareciam ter uma espécie de fragmento de
metaverso, não importa quão improvável ou
banal: coletes hápticos, incluindo um com
sistema de arcondicionado interno para simular
seu próprio clima localizado; transformações de
beleza para seu avatar; vans de entrega virtual
para sua casa virtual.
Tem havido muita discussão sobre o envolvimento
da Meta (antigo Facebook) e sua atual complicada
posição como uma plataforma de rede social
com considerável influência em nossas vidas
diárias. Também houve debates mais amplos
sobre a forma que o metaverso poderia ou
deveria assumir as experiências do usuário,
modelos de negócios, acesso e regulamentação
HÁ UMA SEDUÇÃO
FÁCIL NAS HISTÓRIAS
QUE DIVULGAM
UMA TECNOLOGIA
COMO SE ELA FOSSE
TOTALMENTE NOVA.
em termos de recursos técnicos, e, mais
silenciosamente, a que propósito serviria e quais
necessidades atenderia.
Essas são boas discussões. Mas seríamos
negligentes se não déssemos um passo atrás
para nos perguntar, não o que é o metaverso ou
quem será o responsável pela sua criação, mas
de onde ele vem, tanto no sentido literal quanto
nas ideias que ele incorpora. Quem inventou
isso, se foi mesmo inventado? E os mundos
anteriores construídos, imaginados, aumentados
ou virtuais? O que eles podem nos dizer sobre
como pôr em vigor o metaverso agora, sobre
seus perigos e possibilidades?
Há uma sedução fácil nas histórias que divulgam
uma tecnologia como se ela fosse totalmente
nova ou, pelo menos, não relacionada a histórias
longas e complicadas. Visto assim, o futuro é um
espaço de reinvenção e possibilidade, mais do
que algo intimamente ligado ao nosso presente e
ao nosso passado. Mas as histórias são mais do
que apenas pano de fundo. São espinhas dorsais,
plantas e mapas de territórios já percorridos.
Conhecer a história de uma tecnologia, ou as
ideias que ela representa, pode nos dar a chance
de fazer perguntas melhores, revelar possíveis
armadilhas e lições já aprendidas e abrir uma
janela para dentro da vida de quem as aprendeu
em primeiro lugar. O metaverso, que não é tão
novo quanto parece, não é exceção.
Então, de onde vem o metaverso? Uma resposta
comum, mais clara e bonita, é que vem do
romance de ficção científica Snow Crash, de Neal
Stephenson, de 1992, que descreve um mundo
virtual gerado por computador possibilitado por
software e uma rede mundial de fibra óptica.
Na Los Angeles do século 21 do livro, o mundo
é confuso, repleto de desigualdades sociais,
sexismo, racismo, comunidades fechadas,
vigilância, hipercapitalismo, megacorporações
febris e policiamento corrupto. Obviamente, por
extensão, o Metaverso do romance também é
27 Metaverso: uma nova palavra para uma ideia antiga
confuso. Também sofre com as desigualdades
sociais e o hipercapitalismo. Nem todo mundo
pode fazer parte dele. Aqueles que conseguem
tem a qualidade de sua experiência determinada
pelo seu equipamento e sua capacidade de pagar
por velocidade de internet, eletricidade e poder
de computação. Aqueles com recursos podem
ter representações digitais elaboradamente
personalizadas. Quem não consegue, deve se
contentar com simples esboços: os pacotes
“Brandy” e “Clint”. Talvez não nos surpreenda
que muitos que leram o livro o tenham visto não
apenas como uma história de ficção científica
inovadora, mas como uma crítica ao estágio
mais avançado do capitalismo e visões de uma
utopia tecnológica.
Nas três décadas que se passaram desde que
Snow Crash foi publicado, muitos dos pilares do
mundo virtual de Stephenson, como redes sociais
e inteligência artificial, se materializaram.
E o metaverso, semelhante a outras ideias
prenunciadas no folclore do cyberpunk, vem
persistentemente se infiltrando em conversas
maiores. Ele apareceu em filmes recentes, como
o Jogador Nº 1 e Free Guy: Assumindo o Controle. E
moldou grande parte do cenário digital em que
nos encontramos agora. No entanto, acho que
pode haver mais no metaverso do que apenas
Snow Crash e sua reaparição atual.
Na verdade, as conversas de hoje em torno do
metaverso me lembram muito as conversas que
tivemos quase 20 anos atrás sobre o Second Life,
que o Linden Lab de Philip Rosedale lançou em
2003. Rosedale é muito claro sobre as maneiras
pelas quais ele se inspirou no Snow Crash. Ele
também deixa claro, no entanto, que sua ida
ao festival Burning Man no final dos anos 1990
moldou para sempre seu pensamento sobre
mundos virtuais, seus habitantes e seu ethos. O
Second Life deveria ser “um mundo online 3D
criado e de propriedade de seus usuários”. Foi
um enorme sucesso, dominou as manchetes e
foi bastante popular entre as pessoas. Empresas
e marcas lutaram para se estabelecer neste
novo espaço; tivemos conferências e concertos
no Second Life, e até mesmo igrejas. No
início dos anos 2000, milhões de pessoas se
reuniram na plataforma e criaram vidas lá.
Antropólogos as estudaram; legisladores e
políticos as debateram. E as realidades de um
mundo virtual totalmente desenvolvido colidiram
rapidamente com entidades reguladoras e
formuladores de políticas. Preocupações foram
levantadas sobre moedas fiduciárias, lavagem de
dinheiro e prostituição.
No entanto, acho que há histórias ainda mais
antigas que poderiam completar nosso raciocínio.
Antes do Second Life. Antes da realidade virtual
e aumentada. Antes da web e da internet. Antes
de telefones celulares e computadores pessoais.
Antes da televisão, do rádio e do cinema. Antes
de tudo isso, havia um enorme edifício de ferro e
vidro no Hyde Park de Londres (Reino Unido). Era
o verão de 1851 e o futuro estava sendo exposto.
Lâmpadas de arco e prensas hidráulicas
(alimentadas por um motor a vapor oculto),
telegramas elétricos, um protótipo de máquina
de fax, pássaros mecânicos em árvores
artificiais, um submarino, armas, as primeiras
esculturas de dinossauros em tamanho real e
realistas, borracha vulcanizada de Goodyear,
daguerreótipos de Matthew Brady, até mesmo
os primeiros banheiros públicos com descarga da
Grã-Bretanha. Havia três andares de alcovas com
bandeirinhas vermelhas e placas proclamando
o país de origem de cada peça, espalhadas por
92.000 metros quadrados de vidro reluzente:
o Crystal Palace (ou, Palácio de Cristal), como
uma revista satírica o apelidou.
A Grande Exposição, (em inglês Great Exhibition of
the Works of Industry of all Nations), como o evento
extraordinário era formalmente conhecido, foi
uma ideia do príncipe Albert, o amado consorte da
rainha Vitória. Ele exibiu mais de 100.000 peças
de todo o mundo. A própria rainha compareceu
28 Metaverso: uma nova palavra para uma ideia antiga
ERA UM MUNDO INTEIRO
DEDICADO AO FUTURO:
UM MUNDO NO QUAL
QUASE QUALQUER
UM PODERIA SER
IMERSO, EDUCADO,
DESAFIADO, INSPIRADO,
ENTUSIASMADO OU
PROVOCADO.
ao local pelo menos 30 vezes. Em seu discurso
inaugural, a rainha deixou claro seu plano: “É
meu desejo promover entre as nações o cultivo de
todas as artes que promovem a paz e que, por sua
vez, contribuem para manter a paz no mundo”.
A era do império pode já estar em declínio, mas
a Grande Exposição foi sobre afirmação de poder
e uma visão da Grã-Bretanha para o futuro. E
que futuro moderno e industrializado seria,
mesmo que fossem necessárias colônias em todo
o mundo para que isso acontecesse.
Claro, Londres já era uma cidade cheia de
exposições e exibições, lugares onde o maravilhoso
e o estranho poderiam ser visitados. Charles
Babbage gostava do Museu Mecânico de Merlin,
com seus muitos autômatos. Outros preferiram
os dioramas da Terra Santa e de Paris (França).
A Grande Exposição foi diferente porque tinha
abundância de peças e o poder do império por
trás dela. Não foi apenas um espetáculo; era um
mundo inteiro dedicado ao futuro: um mundo
no qual quase qualquer um poderia ser imerso,
educado, desafiado, inspirado, entusiasmado ou
provocado. Não eram pequenos pedaços reunidos
em um único lugar, mas uma declaração grande,
imponente e inevitável.
Em sua época, a Grande Exposição teve muitos
críticos. Alguns se preocupavam com os velhos
olmos do Hyde Park que se encontravam contidos
na enorme estrutura. Outros se preocupavam
com a resistência à tração de todo aquele vidro.
Na imprensa, houve meses de ridicularização,
com um político descrevendo-a como “uma das
maiores farsas, fraudes e absurdos já conhecidos”.
No Parlamento, alguns questionaram os motivos
do príncipe Albert, mencionando seu status de
príncipe estrangeiro e sugerindo que a Grande
Exposição era apenas um exercício de publicidade
para encorajar e talvez mascarar o aumento
da imigração na GrãBretanha. Outros ainda
sugeriram que a Grande Exposição atrairia
batedores de carteira, prostitutas e espiões, e
pediram que 1.000 policiais extras estivessem
de plantão.
Como era de se esperar, os terríveis avisos
não passavam de exageros e, para um verão
ensolarado, pessoas de toda a Grã-Bretanha,
aproveitando a rede ferroviária em rápida
expansão, se aglomeraram na enorme casa de
vidro no parque. Os organizadores fixaram o
preço do ingresso em um xelim, o que o tornou
acessível às classes trabalhadoras britânicas.
“Ver o mundo por um xelim” era uma frase
comum naquele verão.
Um número surpreendente da comunidade
literária e científica da época visitou o Palácio
de Cristal, incluindo Charles Dickens, Charles
Dodgson (que se tornaria Lewis Carroll), Charles
Darwin, Karl Marx, Michael Faraday, Samuel Colt,
Charlotte Brontë, Charles Babbage e George Eliot.
Dickens odiava o Palácio: era apenas materialismo
desenfreado demais, e seu biógrafo mais recente
afirma que suas experiências lá moldaram todo o
29 Metaverso: uma nova palavra para uma ideia antiga
seu trabalho depois disso. Brontë, em contraste,
escreveu: “Parece que apenas a magia poderia
ter reunido essa grande quantidade riqueza de
todos os confins da terra, como se apenas mãos
sobrenaturais pudessem tê-la organizado dessa
maneira, com tanto brilho e contraste de cores e
maravilhoso poder de efeito”. Dodgson teve um
momento desses quando entrou no Palácio de
Cristal. Ele escreveu: “A impressão quando você
entra é de perplexidade. Parece uma espécie de
terra encantada”.
Mas, de repente, a Grande Exposição fechou
suas portas em 15 de outubro de 1851. Ao longo
de cinco meses e meio, estima-se que mais de
6 milhões de pessoas visitaram o Palácio de
Cristal (na época, a população total da Grã-
Bretanha era de apenas 24 milhões). Em sua
curta vida no Hyde Park, a Grande Exposição
também gerou um lucro notável de cerca de £
186.437 (mais de US$ 35 milhões hoje). Parte
disso foi para a compra de terras em South
Kensington para criar o atual distrito de museus
de Londres. Outra parte foi destinada a um
fundo educacional que ainda hoje oferece bolsas
para pesquisa científica. O Palácio de Cristal foi
desmontado no inverno de 1851 e transportado
para um novo local, onde continuaria a exibir
todo tipo de maravilhas até que um incêndio
catastrófico em 1936 o reduziu a um esqueleto
de ferro fumegante. E se alguém quiser, ainda
hoje pode visitar a Grande Exposição, por meio
de uma visita virtual no site do Royal Parks (ou
Parques Reais de Londres).
A Grande Exposição deu início a mais de um
século de feiras mundiais: espaços de espetáculo
e maravilhas que, por sua vez, moldariam o
mundo ao seu redor. Nos Estados Unidos, essas
iniciativas de criação de mundo incluíram a
Exposição Universal de 1893, também conhecida
como Feira Mundial de Chicago: uma cidade
inteira de mais de 200 estruturas brancas e
reluzentes construídas assim propositalmente,
apresentando tecnologias tão variadas quanto
uma cozinha totalmente elétrica com máquina de
lavar louça, uma incubadora de ovos elétrica, um
sismógrafo, o cinetoscópio de Thomas Edison,
holofotes, telegrafia em código Morse, geradores
de energia multifásicos, esteiras rolantes e a
primeira roda gigante do mundo. Mais de um
quarto dos americanos compareceria à Feira
Mundial em menos de seis meses.
Se a Grande Exposição celebrou o poder do vapor,
essa White City (ou, em português Cidade Branca),
como era conhecida, tinha a ver com eletricidade.
Era também uma paisagem marcada, apoiada
e depois fortemente promovida agressivamente
pela indústria americana, com nomes que logo
se tornariam familiares como General Electric,
Western Electric e Westinghouse apresentando
suas tecnologias e suas visões para o futuro:
democracia e capitalismo americano. Conversas
complicadas sobre igualdade de gênero e raça, e
mitificação do excepcionalismo e individualismo
americanos, estavam em toda parte. Havia,
por exemplo, um edifício dedicado à vida e
aos tempos das mulheres americanas, mas
não aos afro-americanos, um ponto defendido
ferozmente por Ida B. Wells e Frederick
Douglass, que viram uma oportunidade para
celebrar as conquistas afroamericanas desde a
Proclamação de Emancipação.
A Cidade Branca também inaugurou um novo
tipo de espetáculo. No Midway Plaisance, em
um trecho de um quilômetro e meio à beira do
local da exposição, as pessoas podiam ser vistas
em dioramas vivos, misturadas a atividades
paralelas, brinquedos, prêmios e barracas de
comida. Era uma mistura violenta e excitante de
orientalismo, exclusão, apropriação e celebração.
E era de longe o destino mais popular da Cidade
Branca, gerando um lucro significativo, US$
4 milhões em 1893, ou bem mais de US$ 100
milhões hoje.
A Midway, por sua vez, inspiraria a criação
de Coney Island em Nova York e, por fim,
30 Metaverso: uma nova palavra para uma ideia antiga

a Disneylândia da Califórnia, uma marca novas ideias e ideologias. A Grande Exposição

totalmente diferente de mundo imaginado. A
influência desses tipos de eventos em nossa
imaginação não deve ser subestimada. Assim
como há uma conexão direta entre Midway e
Coney Island e a Disneylândia, há uma conexão
entre a Cidade Branca e a Feira Mundial de Nova
York de 1939 e o Consumer Electronics Show.
Também podemos traçar uma linha entre a
Grande Exposição e o metaverso de hoje. Como o
mundo virtual que os promotores do metaverso
prometem, a Grande Exposição foi um mundo
dentro do mundo, cheio dos esplendores de
sua época e promessas sobre o futuro. Mas,
ao mesmo tempo em que abriu novos espaços
de possibilidade (e lucro) também ampliou e
reproduziu as estruturas de poder existentes
por meio de suas escolhas de exposições e
expositores, sua dependência da Royal Society
para curadoria e seu constante apagamento da
realidade colonial. Tudo isso ajudou a garantir
que o futuro parecesse notavelmente britânico.
A exposição aproveitou o poder do vapor e da
telegrafia para atrair visitantes a um espaço
de novas experiências, ao mesmo tempo que
mascarava o impacto de tal poder tecnológico;
motores e tubos estavam escondidos no subsolo
fora da vista de todos. Foi um truque deliberado.
Se Brontë via magia (não poder, xenofobia e
nacionalismo) era isso que ela deveria ver.
gerou ansiedade e admiração, e alternadamente
assombrou e moldou uma geração de pensadores
e realizadores. Gosto de me perguntar quem
será o autor de A Casa Soturna ou Alice no País
das Maravilhas desse metaverso em resposta ao
que eles encontrarem lá.
A Grande Exposição e sua série de descendentes
falam da longa e complicada história humana
da construção do mundo. Explorar essas muitas
histórias e préhistórias pode ser indutor e
revelador. O metaverso nunca será um fim em
si mesmo. Pelo contrário, será muitas coisas:
um espaço de exploração, uma porta de entrada,
uma inspiração ou mesmo um refúgio. Seja o
que for, será sempre em diálogo com o mundo
que o construiu. Os arquitetos do metaverso
precisarão estar atentos ao mundo além do virtual.
E no século 21, isso certamente significará mais
do que se preocupar com os olmos antigos e a
resistência à tração do vidro. Significará pensar
profundamente sobre nosso potencial e nossas
limitações como criadores de novos mundos.

Acho que nosso histórico com proto-metaversos

deve nos deixar mais céticos sobre quaisquer
reivindicações pelo poder emancipatório da
tecnologia e das plataformas tecnológicas. Afinal,
cada um deles encontrou e reproduziu vários
tipos de desigualdades sociais, mesmo quando
se esforçou para não o fazer, e muitos criaram
problemas que seus projetistas não previam.
No entanto, essas histórias também devem nos
deixar atentos às possibilidades de invenções e
inovações maravilhosas e inesperadas, e deve nos
lembrar que não haverá uma experiência singular
do metaverso. Significará coisas diferentes
para pessoas diferentes e poderá dar origem a
31
EM LOUVOR
AO DINHEIRO
Os pagamentos digitais são mais
convenientes, mas intensificam a
desigualdade. É hora de reconsiderar o
uso do dinheiro em papel?
Lana Swartz é professora assistente de estudos de mídia
na Universidade da Virgínia, Estados Unidos.
“Não aceitamos pagamentos em dinheiro”,
proclama uma placa na porta de vidro reluzente
do café que frequento. A placa precede a lista
brilhante de medidas contra a Covid-19 colada
ao lado, mas ambas juntas representam uma
declaração de eficiência e pagamento sem contato:
a promessa de vivenciar espaço público, interação
social e troca entre fornecedor e consumidor com
o máximo de conforto e higiene. No entanto,
além de eliminar os riscos de contato, esse
café sem dinheiro pode estar criando outras
barreiras e reproduzindo desigualdades sociais
muito mais graves.
Para indivíduos e comunidades, tecnologias
transacionais (carteiras digitais, pagamentos
móveis e similares) podem aumentar sua
autonomia na tomada de decisões, sua
flexibilidade e resiliência em tempos de crise
e sua capacidade de combater a vitimização,
exploração e indignidade. A confiança nessas
tecnologias constrói a capacidade de planejamento
e construção de longo prazo (de riquezas,
33 Em louvor ao dinheiro
infraestrutura e das bases da prosperidade
para as gerações futuras) bem como nos dotam
de capacidade para inovação e risco. Claro, o
inverso também é verdadeiro: versões malignas
dessas ferramentas podem privar comunidades
e indivíduos de suas capacidades de intervirem
no mundo.
O DINHEIRO É A
MELHOR FERRAMENTA
TRANSACIONAL PARA
AUMENTAR A AUTONOMIA
COMUNITÁRIA E
INDIVIDUAL QUE
INVENTAMOS ATÉ
HOJE. OFERECE MUITAS
POSSIBILIDADES QUE SÃO
DIFÍCEIS DE REPLICAR.
O dinheiro é a melhor ferramenta transacional
para aumentar a autonomia comunitária e
individual que inventamos até hoje. Oferece
muitas possibilidades que são difíceis de replicar.
O dinheiro não precisa da assinatura de outra
pessoa para ser gasto. Não especifica onde você
pode gastá-lo, ou em quê. É anônimo: ninguém
precisa saber quem você é para gastá-lo. Ele não
gera dados sobre sua transação para terceiros.
Pode-se realizar transações sem taxas para o
pagador ou o beneficiário. Você sabe o quanto
você tem em mãos: ele não pode acabar congelado
em sua conta por capricho de um processador de
pagamento de terceiros pouco transparente, ou
revertido de volta por um golpista ou consumido
por taxas até que você caia no cheque especial
sem perceber. Ele não depende de várias camadas
de infraestrutura frágil de hardware e software
para operar no ponto de venda.
O que aconteceria se o dinheiro
desaparecesse?
Há algumas lições da história que valem a pena ser
observadas. O dinheiro, definido como um meio
monetário universal, público e impresso, é uma
conquista tecnológica e política relativamente
nova. Historicamente, o dinheiro tem sido, na
maioria dos casos, privado e plural. Nos Estados
Unidos, a moeda emitida pelo estado não foi
totalmente consolidada até depois da Guerra
Civil. Anteriormente, moedas estrangeiras,
notas de banco privado e títulos produzidos por
ferrovias, seguros, empresas e outros negócios
privados circulavam junto a moeda emitida pelo
Tesouro dos EUA.
Essa cacofonia monetária significava que os
gastos diários exigiam considerável habilidade
nas ruas. As notas poderiam ter vindo de um
banco falido ou fictício ou podem ter sido uma
cópia falsificada de uma nota de um banco real
em funcionamento. Enquanto que notas aceitas
sem questionamentos em uma cidade podem ter
sido obtidas por um valor menor em outras. A
vida diária envolvia navegar em um ambiente
complexo e confuso de meios monetários.
A situação caótica também criou comunidades
transacionais altamente estratificadas. Enquanto
os ricos usavam notas emitidas por bancos
estáveis e resgatáveis por cartas de crédito e
barras de ouro, os pobres eram mais propensos
34 Em louvor ao dinheiro
a usar “moedas menores” de bronze ou cobre de
baixo valor ou notas bancárias obsoletas.
O futuro dos métodos de pagamento pode se
parecer com o passado. Um consultor de negócios
me disse uma vez que “no futuro, dinheiro
será considerado quase como uma palavra
proibida, algo que pessoas boas não usam”. Na
realidade, é provável que haja pouco dinheiro no
futuro, mas continuará a existir e aqueles que só
podem pagar com dinheiro farão transações em
condições desiguais.
É PROVÁVEL QUE HAJA
POUCO DINHEIRO
NO FUTURO, MAS
CONTINUARÁ A EXISTIR
E AQUELES QUE SÓ
PODEM PAGAR COM
DINHEIRO FARÃO
TRANSAÇÕES EM
CONDIÇÕES DESIGUAIS.
Hoje, o dinheiro é uma tecnologia de impressão
universal, uma forma de mídia de massa. Mas
tem grandes falhas. O dinheiro pode ser perdido,
destruído, roubado. E o que é mais importante:
não pode ser gasto online e, portanto, não
se move na velocidade do resto de nossas
vidas comunicativas.
Ainda não sabemos como serão os métodos
de pagamento de amanhã ou alcance de suas
comunidades transacionais. Mas podemos
continuar trabalhando para evitar que o que já
está acontecendo com as redes sociais de hoje
aconteça com o dinheiro: que ele seja privatizado
e enraizado em modelos de negócios orientados
por dados.
Na comunidade de criptomoedas, muitas vezes
encontramos variações da frase “Se o dinheiro
fosse inventado hoje, seria ilegal”. O ponto aqui
é que o dinheiro é barato, difícil de censurar e
de monitorar. Em um momento em que quase
toda a nossa comunicação, transacional ou não, é
canalizada por meio de plataformas monopolistas
e controladoras que cobram aluguel na forma
de taxas, dados ou ambos, é difícil refutar essa
linha de pensamento.
Ao mesmo tempo, precisamos garantir que as
novas formas de dinheiro sejam confiáveis e
de valor estável, algo que se mostrou difícil
para as criptomoedas alcançarem. Apesar de
todas as suas possibilidades únicas como meio
transacional, o dinheiro, e quaisquer que sejam
seus herdeiros digitais, deve ter um valor estável
para funcionar bem.
Então, enquanto pago meu café cortado, olho para
aquela placa de “não aceitamos pagamentos em
dinheiro” com olhos de pesquisadora. As apostas
são altas. Somos capacitados ou desautorizados
pelas ferramentas transacionais às quais temos
acesso. À medida que imaginamos dinheiro
para a era da internet, a grande questão é como
projetar meios de pagamento que beneficiem a
todos. Precisamos de algo que faça bem todas
as coisas que o dinheiro faz, mas também todas
as coisas que o dinheiro não faz.
35
36

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