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Cooperativismo

de Plataforma
O DO CURSO
APRESENTAÇÃ
A economia digital deu origem a um novo modelo de empresa que Como usar este e-book
quebra padrões com os quais estávamos acostumados. Essas
empresas têm uma nova forma de produzir e se relacionar com todas Este material acompanha a mesma estrutura e sequência de conteúdos do curso online
as partes interessadas, de clientes a fornecedores. Cooperativismo de Plataforma, do InovaCoop. Ele serve como um resumo das aulas, mas
também procura expandir o conhecimento com novas informações, materiais e links de apoio.
Elas são tão inovadoras e eficientes, que provocaram profundas
mudanças nos setores em que entraram. Estamos falando das Assim como o curso online, ele está estruturado em três módulos.
plataformas. No primeiro módulo – Capitalismo de Plataforma – vamos apresentar as transformações
do capitalismo, a economia de plataforma e seus efeitos, bem como explorar a estratégia
Neste curso, elas ganharão bastante destaque simplesmente porque de plataforma e sua possibilidade de incorporação pelas Cooperativas.
para entender a economia digital, precisamos entender as plataformas. No segundo módulo – Cooperativismo de Plataforma – vamos apresentar seus conceitos,
classificações, seus fatores restritivos e impulsionadores, além de estratégias para a sua
Após compreender a fundo as plataformas, estaremos prontos para dar implementação.
o passo seguinte e falar das Cooperativas de Plataforma. Afinal, elas No terceiro módulo, vamos apresentar casos de Cooperativas de Plataforma, seus
surgiram a partir de uma visão crítica sobre os impactos negativos desafios e oportunidades.
causados pelas grandes plataformas, especialmente no que diz
respeito às condições de trabalho nestas empresas. Esperamos que você saia ao final de nossa jornada de aprendizado preparado para, juntos,
construirmos o Cooperativismo de Plataforma no Brasil!

Boa leitura!

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sobre o professor

Meu nome é Mário De Conto, sou Doutor em Direito e


atuo como Advogado, Professor e Pesquisador
interessado em temas relacionados à Inovação no
Cooperativismo.

Sou Diretor Geral da ESCOOP, Gerente Jurídico do


Sistema OCERGS-SESCOOP/RS e integro o Gruto de
Trabalho de Inovação do Sistema OCB.

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Módulo 1

Capitalismo de Plataforma

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Parte 1
DO MODELO TRADICIONAL
AO DE PLATAFORMA

Economia compartilhada, nova revolução industrial ou até mesmo


economia da vigilância. Provavelmente você já se deparou com
algum destes termos, certo?

Todos eles têm relação com o modelo de plataforma, que ganhou


notoriedade principalmente após a crise financeira de 2008, e é
bastante diferente do modelo tradicional de negócios.

Em síntese, uma plataforma é um negócio que conecta produtores e


consumidores externos e permite interações de criação de valor
entre eles. Ela fornece uma infraestrutura participativa para essas
interações e define as condições de governança para elas.

Essas plataformas estão criando uma série de novos negócios,


impactando a forma de estruturação de empresas e revolucionando
setores tradicionais.

Para entender melhor a ruptura que essas empresas representam,


vamos compará-las ao modelo tradicional de empresa. Vejamos:

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MODELO TRADICIONAL PRINCIPAIS TIPOS DE PLATAFORMAS
A produção de produtos e serviços se dá a partir de uma cadeia de
valor linear, também chamada de produção em linha ou em pipeline. Bem, mas alguém pode dizer que essa lógica de plataformas não é tão
Ou seja: no modelo tradicional, uma empresa projeta um produto ou recente assim. Afinal, se entendermos as plataformas como
serviço, o produto então é fabricado e depois é colocado à venda - ou infraestruturas que permitem a interações entre dois ou mais grupos,
um sistema é implementado para vender o serviço. Nesse modelo, os várias iniciativas podem ser consideradas plataformas: operadores de
melhores resultados são garantidos pelo controle total da cadeia. cartão de crédito, shoppings e jornais. Afinal, todos eles, cada qual a seu
modo, facilitam a interação entre consumidores e produtores.

A grande diferença das Plataformas Digitais é que elas podem realizar


PRODUTOR CONSUMIDOR essa aproximação com usuários do mundo todo e de forma extremamente
rápida, com pouco atrito na transação. Para entender os principais tipos
de plataformas, podemos usar a classificação de Nick Srnicek, que as
classifica em:
MODELO DE PLATAFORMA
Nesse modelo não existe a lógica linear. Nele, diferentes tipos de Plataformas de Publicidade, como Google e Facebook
usuários - produtores, consumidores e pessoas que podem
desempenhar ambas as funções – interagem entre si com os recursos Plataformas em Nuvem, como AWS e Salesforce
da plataforma. Nesse processo, trocam, consomem e, às vezes, cocriam
algo de valor. Essa forma de produção, diferente da anterior que era Plataformas Industriais, em que se enquadram GE e Siemens
linear, segue uma lógica matricial. A mudança na dinâmica dos usuários
de uma plataforma é tão marcante, permitindo em muitos casos que Plataformas de Produto, citando como exemplos Rolls Royce e Spotify
consumidores se tornem produtores facilmente, que Jeremy Rifkin
afirma que as plataformas deram origem à classe dos prossumidores. Plataformas Enxutas (Lean platforms), onde podemos citar como
exemplos Uber e Airbnb

PRODUTOR CONSUMIDOR

PLATAFORMA
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ATRATIVIDADE AOS USUÁRIOS
Dada a importância da comunidade de usuários para a plataforma, é
fundamental que elas tenham atratividade. Para isso, podem se utilizar de
Parte 2
várias estratégias, com destaque para a curadoria e incentivos de adesão à
plataforma. Trataremos do tema em detalhes mais adiante.
OS DADOS E O EFEITO DE REDE
Das características, certamente a que merece mais atenção é a relacionada aos
NAS PLATAFORMAS
“efeitos de rede''. Os autores Parker, Marshall e Sangeet classificam os efeitos
de rede em positivos e negativos e também destacam um recurso fundamental
Agora vamos conhecer mais a fundo as características das relacionado a ele: a curadoria. Vamos entender melhor cada um deles:
plataformas e como elas operam. Nick Srnicek destaca três
importantes características para elas funcionarem: EFEITOS DE REDE POSITIVOS
São a capacidade de uma plataforma grande e bem gerenciada produzir valor
INFRAESTRUTURA BÁSICA significativo para cada usuário. Um exemplo de efeito positivo está na lógica
É ela quem garante as condições para que as interações aconteçam das redes sociais. Seu benefício é criar interações com um grande número de
entre os usuários. Essa infraestrutura garante o pareamento eficiente pessoas, motivo pelo qual sua atratividade está diretamente relacionada ao
entre os prossumidores, com segurança e agilidade. número de usuários. Quanto mais usuários, mais valiosa é a plataforma.

EFEITO DE REDE EFEITOS DE REDE NEGATIVOS


É o valor gerado pela comunidade da plataforma para cada usuário. Referem-se à possibilidade de o crescimento do número de usuários de uma
Quanto mais numerosos os usuários que usam uma plataforma, plataforma mal gerenciada reduzir o valor produzido para a rede. Por
mais valiosa ela se torna para todos os outros. Quanto mais exemplo: numa plataforma de serviços, um grande número de prestadores
interação, mais dados são gerados e melhor se torna o pareamento e pode desestimular o crescimento da rede por conta do aumento da
curadoria da plataforma. Essas interações são as maiores geradoras concorrência dentro da plataforma.
de valor das plataformas, pois incentivam o efeito de rede.
MAIS USUÁRIOS CURADORIA
É para garantir um efeito de rede positivo, e minimizar os negativos, que as
MELHORES plataformas contam com outro recurso importante: a curadoria. Podemos
MAIS
SERVIÇOS, EFEITO DE REDE defini-la como o processo pelo qual uma plataforma filtra, controla e limita o
PREÇOS MOTORISTAS
MAIS BAIXOS
acesso dos usuários à plataforma, as atividades das quais participam e as
conexões que formam com outros usuários. Podemos chamar isso de
MELHOR COBERTURA
modelo de Governança da Plataforma.
GEOGRÁFICA
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A IMPORTÂNCIA DOS DADOS

O uso dos dados é uma questão central no modelo de plataforma. A


análise dos dados gerados pela sua operação ajuda a entender a
dinâmica do mercado, a prever tendências, antecipar acontecimentos e
parear as transações de forma eficiente e com pouco atrito.

Isso tudo, se bem tratado a partir de ferramentas de análise de dados, se


transforma em vantagem competitiva para a organização, que pode
tomar decisões baseadas em informações.

Por esse motivo, Srnicek considera as plataformas verdadeiros aparelhos


extrativos de dados. Esses dados podem ser extraídos de processos
naturais (condições climáticas, ciclos de cultivo), de processos de
produção (linhas de montagem), e de outras empresas e usuários
(rastreamento da web, dados de uso, etc.).

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Parte 3 CRIAÇÃO DE EFEITO DE REDE
Quando a plataforma consegue alavancar a participação de usuários
chegamos aos efeitos de rede. As plataformas se beneficiam de efeitos de
COMO AS PLATAFORMAS GEREM SUA REDE rede nos dois lados, um fenômeno pelo qual um maior volume de produtores
usando a plataforma torna mais atraente para os consumidores a
participação. E esses consumidores, por sua vez, atraem mais produtores.

Você já se perguntou como esse modelo de plataforma pode ser


CUSTOS DE HOSPEDAGEM MÚLTIPLA
adotado pelas Cooperativas? Se o ponto inicial de uma plataforma é
Os custos de hospedagem múltipla estão relacionados à participação dos
permitir interações e a criação de valor entre seus usuários, é
usuários em mais de uma plataforma do mesmo segmento. Na prática,
fundamental entender como ela atrai, retém e facilita interações dos
quanto mais altos os custos de hospedagem múltipla, menor a probabilidade
usuários.
de os usuários participarem de várias plataformas. Uma plataforma como o
Uber tem custos de hospedagem múltipla muito baixos. Afinal, motoristas e
São três os principais recursos para isso: a criação de incentivos e
passageiros podem alternar facilmente os aplicativos, passando do Uber para
subsídios; a criação de efeitos de rede e os custos de hospedagem
o Lyft ou vice-versa. Uma das maneiras de aumentar os custos de
múltipla. Vamos entender cada um deles:
hospedagem múltipla é utilizar os sistemas de reputação. Os usuários que
investiram na construção de uma reputação em uma plataforma hesitam em
CRIAÇÃO DE INCENTIVOS E SUBSÍDIOS
mudar para outra plataforma sem a capacidade de transferir tal reputação.
Parker, Marshall e Sangeet enfatizam que as plataformas recém criadas
apresentam o desafio de crescer sua comunidade de usuários e
FATORES PARA O DESENVOLVIMENTO DE PLATAFORMAS
enfrentam o famoso dilema do ovo e da galinha. Por exemplo, uma
No Projeto de Pesquisa que desenvolvemos sobre Cooperativismo de
plataforma de intermediação de trabalho será atrativa para clientes no
Plataforma, identificamos alguns fatores importantes de desenvolvimento de
momento em que ela tiver cadastrado um número significativo de
Plataformas a partir dos Efeitos de Rede. São eles:
prestadores de serviços. E o inverso também é verdadeiro.
Financiamento: a criação de subsídios iniciais exige que a Plataforma
Frente a este desafio de crescer a rede, geralmente a plataforma escolherá
tenha formas de financiamento para arcar com tais subsídios.
um dos lados como prioridade para atrair usuários, criando incentivos para
Estrutura Multistakeholder: a plataforma se estabelece como
isso. Uma estratégia pode ser subsidiar a participação inicial.
intermediária entre, pelo menos, duas classes de usuários.
Governança: uma plataforma bem sucedida é a que estabelece regras e
as comunica de maneira ágil aos usuários..

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Parte 4

ESTUDO DE CASO - ALIBABA Uma característica marcante do varejista chinês é que ele não compra nem
mantém estoque - e também não tem logística própria. É uma estratégia
E MAGAZINE LUIZA diferente da Amazon e Magazine Luiza, por exemplo, que além do estoque e
logística de parceiros, também têm suas estruturas próprias.

O Alibaba, portanto, é o intermediador de uma rede de diversas empresas do


ecossistema de negócios varejista, incluindo até mesmo plataformas de
Agora que já entendemos as principais características das plataformas, entretenimento.
chegou a hora de estudarmos como algumas delas operam. Vamos
começar falando de duas gigantes do varejo: a chinesa Alibaba e a Vale destacar que a plataforma foi fundada na China em 1999. À época, o país
brasileira Magazine Luiza. não contava com uma infraestrutura de varejo presencial madura e
desenvolvida como a dos Estados Unidos, por exemplo. Por isso, como explica
As duas apostaram na criação de complexos ecossistemas, interligando Zeng, a plataforma nasceu praticamente sobre uma folha em branco, sem
todas as pontas da cadeia varejista para a construção de redes precisar se adaptar ou promover a transição do varejo físico para o digital.
inteligentes de negócios. Vamos entender melhor.
MAGAZINE LUIZA: TRANSIÇÃO DO PRESENCIAL PARA O DIGITAL
ALIBABA: COORDENAÇÃO ONLINE EM TODAS AS PONTAS
A brasileira Magazine Luiza tem uma estrutura e histórico diferentes do Alibaba.
O presidente do conselho acadêmico do Grupo Alibaba, Ming Zeng, Ela começou sua história há mais de 60 anos como uma varejista tradicional.
resume a estratégia do varejista da seguinte forma: "O Alibaba é o que
se obtém quando todas as funções associadas ao varejo são Hoje ela passa por uma transição rápida para o modelo de plataforma, mas
coordenadas on-line numa rede ampla alimentada por dados de mantendo algumas características de uma varejista convencional. Por
vendedores, anunciantes, prestadores de serviços, empresas de logística exemplo, ela tem mais de 1.200 lojas físicas no Brasil todo; conta com sua
e fabricantes". própria empresa de logística e parte dos seus estoques são próprios.

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Por outro lado, tem investido pesado em tecnologia para criar uma rede de O EFEITO DE REDE DOS ECOSSISTEMAS DE NEGÓCIOS
negócios que interligue todas as pontas da cadeia por meio da tecnologia.
Vejamos alguns exemplos: Os dois varejistas, tanto Magalu, como Alibaba, têm no efeito de rede um
Cerca de 60% dos investimentos da Magazine Luiza são em importante gerador de valor. Ele permite que pessoas ou empresas
tecnologia e apenas 12% em novas lojas. cooperem on-line para resolver problemas empresariais com muito mais
A Magalu, muito além do marketplace que todos conhecem, cresceu eficácia e eficiência do que qualquer participante conseguiria por meio de
seu ecossistema de negócios por meio de aquisições. Isso inclui até uma integração vertical, em um modelo de cadeia linear.
um site de notícias de tecnologia e software de anúncios na internet.
Tudo isso para atender todas as pontas do varejo. Um estudo da consultoria Mckinsey estima que estes ecossistemas de
negócios integrados podem chegar a 30% de participação na economia
mundial até 2025. Para se ter ideia, hoje eles representam entre 1 e 2% da
economia.

Note como um vendedor, ao criar uma loja virtual nestas plataformas,


automaticamente se conecta com todos os elos deste ecossistema para
realizar negócios, desde a publicidade e aquisição de cliente, até a entrega
do produto.

Este é um exemplo de um efeito de rede positivo dessas plataformas, onde


novos participantes geram valor para toda a rede.

Um efeito de rede negativo que esse crescimento matricial pode causar é a


entrada de vendedores pouco qualificados. Isso pode comprometer prazos,
atendimento e reputação da plataforma.
Fonte: Apresentação de Relações com Investidores da Magazine Luiza
Por outro lado, com o volume de dados crescente de transações, os sistemas
de ranking e o trabalho de curadoria da plataforma tendem a ficar cada vez
mais apurados.

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Partes 5 e 6 O crescimento da rede da startup gera um efeito positivo ao dar mais
opções de atendimento aos pacientes e gerar mais consultas aos médicos.
PLATAFORMAS ENXUTAS Para os planos de saúde, a Docway reduz a ida de pacientes ao pronto-
socorro sem necessidade, reduzindo custos.

Depois de analisarmos complexos ecossistemas de negócios digitais, Um dos desafios da plataforma para ter um crescimento seguro da rede é
vamos agora estudar plataformas com atuação mais enxuta, dos mais ajustar a sua curadoria para um serviço complexo e subjetivo como o
diversos setores. atendimento médico. A empresa optou por não ter um sistema de
pontuação dos prestadores de serviços, algo que é típico nas plataformas
Você poderá notar, analisando os casos práticos, a versatilidade do enxutas.
modelo de negócio de plataforma. Elas são adaptáveis a quase todo
setor de atividade em que informações como flutuação de preços, TRIIDER
relação oferta-demanda e necessidades de clientes são um componente A plataforma brasileira Triider faz a intermediação de serviços domésticos
importante. Ou seja, quase todo setor da economia. como limpeza, consertos e reparos em geral, conectando proprietários de
imóveis a prestadores de serviços.
As plataformas listadas a seguir são todas de empresas mercantis.
(Mais à frente, falaremos especificamente das cooperativas de Ela conta ainda com um serviço para imobiliárias, no qual intermedia
plataforma). reparos nos imóveis considerando as demandas de três tipos de usuários:
imobiliárias, inquilinos e proprietários.
DOCWAY
Essa startup brasileira conecta médicos a pacientes com casos de baixa O serviço funciona da seguinte forma. O inquilino de uma imobiliária
complexidade. Por meio de um aplicativo, os pacientes podem fazer parceira da Triider pode solicitar um reparo no imóvel. Este reparo, então,
atendimento remoto ou receber o médico em casa. Dessa forma, a precisa ser aprovado pelo proprietário.
Docway evita a lotação de hospitais com atendimentos simples, que não
precisam da estrutura de um pronto socorro. A plataforma da Triider pode ser integrada ao site das imobiliárias ou a
solicitação ser feita diretamente no site da Triider, por meio de uma
A Docway cresce a sua rede principalmente por meio da parceria com validação. Essa estratégia garante um crescimento mais rápido da rede da
planos de saúde, que têm todo o interesse em dar um tratamento rápido startup, visto que as parcerias com as imobiliárias aumentam rapidamente a
e menos custoso aos casos de saúde de baixa complexidade. carteira de imóveis atendidos.

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E isso é interessante também para os prestadores de serviço, que terão FARMERS BUSINESS NETWORK
mais chamados via plataforma.
A plataforma norte-americana ajuda agricultores a reduzirem custos de
Um efeito de rede negativo comum em plataformas de pequenos produção e a maximizar o retorno no plantio de sementes. A empresa faz
serviços como a Triider é a possível redução excessiva da remuneração isso a partir de captação e análise dos dados de diversos sensores de
dos prestadores de serviço, caindo, assim, a qualidade do serviço monitoramento dos próprios agricultores, associados à aprendizagem de
prestado. máquina (machine learning).

LENDING CLUB Para prestar o serviço, a empresa cobra uma assinatura dos agricultores
A plataforma é um dos maiores marketplaces de crédito dos Estados que, por sua vez, precisam subir os dados na plataforma para serem
Unidos e foi uma das primeiras na modalidade crédito peer to peer, ou analisados.
seja, aquele feito diretamente de pessoa para pessoa, ou de pessoa para
empresa. As informações são tratadas de forma agregada para estudos, por exemplo,
de desempenho do solo e das sementes. Assim, a plataforma garante
Desta forma, a Lending Club faz o papel típico de uma plataforma, informações confiáveis e isentas aos agricultores.
orquestrando e garantindo segurança nas interações da rede.
Quanto mais participantes da rede enviando dados à plataforma, maior será
Após um crescimento rápido, a empresa teve sérios problemas de a precisão das análises e também a cobertura da plataforma em relação a
governança e compliance em 2016, por conta de alterações indevidas tipos de solo e sementes estudadas, por exemplo.
nos empréstimos de clientes.
CARGO X
Desde então, vem se reestruturando, inclusive a sua governança, e Essa plataforma atua no setor de transporte de cargas conectando três
expandindo a atuação para retomar o crescimento. pontas do mercado: transportadores, embarcadores e caminhoneiros
autônomos.
Hoje a Lending Club é um marketplace de crédito com atuação
diversificada. Pessoas e empresas se conectam, via Lending Club, a O foco da Cargo X é fazer o pareamento entre caminhoneiros com veículos
diversas empresas de crédito, dos mais variados perfis e portes. vazios, geralmente retornando de alguma entrega, com empresas que
precisam de frete. Em um modelo semelhante ao Uber, ela analisa distância,
localização e ponto de entrega, e procura fazer o melhor pareamento
possível entre transportador e embarcador.
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O efeito de rede positivo da Cargo X é muito semelhante ao do Uber. Ou
seja, quanto mais usuários na plataforma, maior a área de cobertura, a
precisão do pareamento e as alternativas de frete. Assim, os custos são
reduzidos e a produtividade da plataforma aumenta.

Desde sua fundação, em 2016, a Cargo X cresceu rapidamente e hoje


tem valor de mercado próximo de 1 bilhão de dólares. Esse valor é
justificado, em grande parte, pelo tamanho da sua rede, que conta com
mais de 250 mil caminhoneiros cadastrados.

SHARE NOW
Essa plataforma de aluguel de veículos tem atuação em 16 cidades e oito
países da Europa. A empresa aluga veículos por hora que podem ser retirados
e entregues em qualquer via pública que tenha estacionamento permitido.

O usuário não precisa abastecer, nem se preocupar com limpeza do


carro ou seguro, pois tudo está incluso na tarifa.

Os veículos da plataforma são administrados pela própria Share Now.


Quanto mais usuários a empresa tiver, maior será sua cobertura
geográfica e facilidade da rede em conseguir um veículo. Há um risco,
no entanto, de a rede crescer mais rapidamente do que a capacidade da
Share Now de aumentar sua frota.

É importante notar que, no caso desta plataforma, a oferta do serviço de


aluguel de carro é feita pela própria empresa, e não por produtores externos.

Se fizermos o exercício de transpor esse modelo para o cooperativismo,


a Share Now poderia, por exemplo, ser uma cooperativa de consumo
onde os usuários compartilham o uso dos veículos.

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TIBBER
A Tibber é uma empresa europeia de smart energy que ajuda consumidores No próximo módulo, vamos conhecer as Cooperativas de Plataforma e como
residenciais de energia a economizarem na conta de luz. elas unem os princípios do cooperativismo, com a lógica de funcionamento de
uma plataforma.
Ela conta com um aplicativo que monitora o consumo nas residências,
identificando horários de pico e oportunidades de redução no consumo.
A Tibber também possui um bot que busca tarifas mais baratas de energia e
faz a compra pelo consumidor, sem cobrar nenhuma taxa adicional.

A plataforma é remunerada pelos usuários, que pagam uma taxa mensal INDICAÇÕES DE LEITURA
para usar o aplicativo. É importante notar que nos países europeus onde a
Tibber atua, como Suécia e Noruega, os consumidores residenciais têm
liberdade para escolher de qual fonte geradora irão comprar sua energia.
Plataforma: A Revolução da Estratégia. Autores: Geoffrey G. Parker (Autor),
Marshall W. van Alstyne (Autor), Sangeet Paul Choudary. Editora HSM Books, 2019.
Com o crescimento da rede de consumidores residenciais, a tendência é a
Tibber conseguir melhores condições de preços para seus clientes ao fazer Platform Capitalism. Autor: Nick Srnicek. Polity Press, 2016
essa intermediação da compra de energia.
Alibaba Estratégia de Sucesso. Autor: Ming Zeng. M.Books, 2019.

PONTOS EM COMUM DAS PLATAFORMAS ESTUDADAS Como as empresas criam valor a partir de ecossistemas digitais. Consultoria
Viram como as plataformas podem se adequar a diferentes setores e ter McKinsey
características bastante diversas entre si? No entanto, note como todas têm
três características básicas em comum:

O papel de intermediadora de interações entre os participantes da sua


rede
O uso de dados para realizar o pareamento eficientes das transações
E o ganho de valor com efeitos de rede positivos.

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Módulo 2

Cooperativismo
de Plataforma

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Parte 1

O SURGIMENTO DO
COOPERATIVISMO DE PLATAFORMA

No módulo anterior vimos que uma das grandes inovações das plataformas
foi criar uma infraestrutura eficiente de pareamento das transações entre os
participantes da rede.

Por outro lado, muitas dessas plataformas têm modelos de negócio


extrativistas, que promovem a concentração de renda e precarização do
trabalho. E foi da percepção de que esse modelo não estava distribuindo a
riqueza adequadamente que surgiu uma alternativa a ele: o cooperativismo de
plataforma.

O termo ganhou força a partir de 2016, com a publicação do livro de mesmo


nome pelo professor e pesquisador Trebor Scholz, da universidade americana
The New School.

Logo em sua introdução, Scholz deixa clara sua visão crítica das grandes
plataformas. Ele diz o seguinte: "O cooperativismo de plataforma é construído
na ressignificação de conceitos como inovação e eficiência, tendo em vista o
benefício de todos, e não a sucção de lucros para poucos".

A proposta do cooperativismo de plataforma, portanto, é unir o modelo de


negócio de plataforma, com a governança e princípios de uma cooperativa.
Na prática, isto significa criar plataformas de propriedade dos usuários: de
todos eles, ou de parte deles.

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VAMOS CONHECER OS 10 PRINCÍPIOS PROPOSTOS
Significa também decisões democráticas sobre seus rumos, como por
POR TREBOR SCHOLZ:
exemplo como será o uso dos dados, a remuneração dos participantes
e a distribuição das sobras.
Propriedade coletiva: plataformas cooperativas podem resgatar a ideia inicial
de que a internet é pública e mudar o modo como pessoas comuns pensam
O livro de Scholz é considerado um marco porque sintetizou princípios e
sobre suas relações na internet.
deu nome a um movimento que começou a ganhar corpo
principalmente após a crise financeira de 2008. À época, havia uma
Pagamentos decentes e seguridade de renda: assegurar que as plataformas
expectativa de que a economia do compartilhamento desse origem a
não precifiquem o trabalho abaixo do que seria razoável, mesmo com pessoas
uma economia mais sustentável e com melhor distribuição da riqueza.
se sujeitando às remunerações baixíssimas.

Com a crise, uma visão crítica sobre essa nova economia digital ganhou
Transparência e portabilidade de dados: é preciso haver transparência no modo
força. É neste contexto que surge o cooperativismo de plataforma.
como os dados são coletados, analisados, estudados e para quem eles são
vendidos.
PRINCÍPIOS DO COOPERATIVISMO DE PLATAFORMA
Em seu livro, Trebor Scholz propõe 10 princípios para as cooperativas
Apreciação e reconhecimento: deve existir uma boa atmosfera de trabalho,
de plataforma. Note como parte deles são inspirados nos já conhecidos
fazendo com que trabalhadores sejam reconhecidos e apreciados.
7 princípios do cooperativismo moderno.

Trabalho codeterminado: desde o primeiro dia e durante o uso, é necessário


Por outro lado, outra parte trata de problemas bastante atuais, surgidos
envolver as pessoas com as quais se busca popular a plataforma.
com a economia digital, como a questão da propriedade dos dados e o
direito de se desconectar.
Uma moldura jurídica protetora: plataformas cooperativas demandam ajuda
jurídica por serem consideradas incomuns. A ajuda é também necessária
quando se trata de defender cooperativas contra ações legais adversas.

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Proteções trabalhistas portáveis e benefícios: direitos sociais do
trabalho não são inerentes à relação de emprego tradicional.
Assim, todos os trabalhadores devem ter acessos a condições
seguras e adequadas de trabalho e proteções sociais.

Proteção contra comportamento arbitrário: não cometer erros


conhecidos como uma disciplina arbitrária, como desligar
parceiros sem qualquer explicação e por qualquer motivo ou até
sem motivo.

Rejeição de vigilância excessiva do ambiente de trabalho: não


utilizar sistemas de avaliação vigilância constantes e excessivas,
violando a dignidade do trabalhador.

O direito de se desconectar: os trabalhadores precisam do direito


de se desconectar. O trabalho digital decente deve ter fronteiras
claras e as plataformas cooperativas precisam deixar um tempo
para relaxamento, aprendizado e outras atividades.

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Parte 2
Um outro exemplo de cooperativa com atuação local é a Coopcycle, uma
O ESTADO ATUAL DO federação de cooperativas de entregas por bicicleta. A federação reúne
COOPERATIVISMO DE PLATAFORMA mais de 60 cooperativas que se utilizam da plataforma da Coopcycle para
intermediar seus serviços.
A principal instituição de apoio às cooperativas de plataforma no mundo é o
Consórcio de Cooperativismo de Plataforma, um hub liderado pelo professor
COOPERATIVAS DE PLATAFORMA DE ATUAÇÃO BASEADA NA WEB
e pesquisador Trebor Scholz, o próprio autor do livro que é considerado um
Essas cooperativas, de origem digital, permitem associados do mundo todo
marco do surgimento do movimento.
e seus serviços são prestados de forma remota. É o caso da cooperativa de
artistas Stocksy, um banco de imagens e vídeos que tem cooperados do
O consórcio já mapeou mais de 500 iniciativas de cooperativismo de
mundo todo. Na Stocksy, a associação, assembleias e todos os outros
plataforma em 33 países de todo o mundo. É importante destacar, no entanto,
processos para atuar na cooperativa são totalmente online.
que este número inclui iniciativas de todo tipo e em diferentes estágios. Ou
seja, nem todas são de cooperativas de plataforma puras, por assim dizer.
RECONHECIMENTO INTERNACIONAL
Cada vez mais o cooperativismo de plataforma vem ganhando notoriedade
Ao analisar as cooperativas do ponto de vista da abrangência de atuação,
institucional no mundo todo.
podemos dividi-las em dois grupos: as de atuação baseada na internet e as de
atuação local. Vamos entender cada uma delas:
Um estudo recente da Organização Internacional do Trabalho sobre
modelos de negócio e boas práticas dos trabalhadores na economia digital
COOPERATIVAS DE PLATAFORMA DE ATUAÇÃO LOCAL
deu destaque especial às cooperativas de plataforma.
As de atuação local geralmente são cooperativas no modelo tradicional, mas que
se utilizam de uma plataforma comum para a intermediação de seus serviços.
O estudo diz o seguinte: “O cooperativismo de plataforma está emergindo
como uma alternativa empresarial de economia social e solidária ao modelo
Um exemplo é a cooperativa de plataforma Up&Go, que reúne diversas
de plataforma dominante”.
cooperativas de faxineiras em uma única plataforma, prestando serviços
locais de limpeza.
Entre os modelos de cooperativa de plataforma destacados pela OIT, estão
as cooperativas de dados. O estudo também destaca diversos outros
Nestes casos é comum que a plataforma não seja de propriedade da cooperativa,
modelos de cooperativas de plataforma criadas por trabalhadores para
e sim de uma outra entidade, mas que é gerida e governada pelas participantes.
intermediar serviços ou até mesmo intermediar sua relação com as grandes
No caso da Up&Go, a operação e manutenção da plataforma é realizada por uma
plataformas mercantis.
Organização Não Governamental chamada Center for Family Life.
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Parte 3

Descobertas do Projeto de Pesquisa


sobre Cooperativas de Plataforma

Agora que falamos sobre os princípios do Cooperativismo de Plataforma e


sobre o status do movimento em nível mundial, vamos falar de alguns
achados do nosso Projeto de Pesquisa, ao analisar cooperativas de
plataforma de diversos países.

Primeiramente, identificamos algumas Cooperativas em países como Itália,


Finlândia, Canadá e Estados Unidos e analisamos seus Estatutos Sociais.
Identificamos quatro pontos interessantes que se relacionam ao
desenvolvimento das Cooperativas de Plataforma. Vejamos:

GOVERNANÇA DIGITAL
Geralmente as Cooperativas de Plataforma possuem mecanismos de
associação, de realização de reuniões e assembleias gerais de maneira
digital. Some-se a isso alguns instrumentos de democracia assíncrona, como
fóruns de discussão, realização de enquetes etc. No Brasil essa possibilidade
está prevista em lei, já que a Lei Geral de Cooperativas foi alterada em 2020
permitindo a realização de reuniões e assembleias de forma semipresencial e
digital.

COOPERATIVAS MULTISTAKEHOLDER
Percebemos que diversas cooperativas analisadas possuem diferentes
classes de associados, o que torna a cooperativa mais representativa e ao
mesmo tempo torna sua governança mais complexa.

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É o exemplo da Cooperativa Fairbnb, que tem em seu quadro social os Os três fatores listados acima são os grandes desafios para o
ofertantes de imóveis para locação, além dos consumidores e outras desenvolvimento do Cooperativismo de Plataforma. Para saber mais e
pessoas da comunidade. Nesse caso, o vínculo entre os associados é o entender o panorama atual do movimento no mundo, confira também as
interesse pelo turismo sustentável. Assim, embora a legislação brasileira aulas em que conversamos com Trebor Scholz e Nathan Schneider tratando
permita a constituição de uma cooperativa nesses moldes, é importante desses desafios e de estratégias para superá-los.
pensar em instrumentos de governança aptos a reduzir conflitos de
interesse.

CAPITALIZAÇÃO DE COOPERATIVAS
As Cooperativas necessitam de algum aporte que, quando não é
realizado pelos próprios associados, deve contar com financiamento de INDICAÇÕES DE LEITURA
terceiros. Nesse ponto, em alguns países, é possível a admissão de
sócios investidores em Cooperativas, o que não é o caso do Brasil. Esse
ponto - a forma de financiamento das Cooperativas de Plataforma - foi
Cooperativismo da Plataforma. Trebor Scholz. Editora Elefante, 2017.
recentemente apontado pela Organização Internacional do Trabalho
como um ponto crucial, trazendo a necessidade de estruturação de um Cooperativismo de Plataforma: desafios e oportunidades. E-book do InovaCoop.
ecossistema para o suporte ao surgimento das cooperativas.

ESCALA
As plataformas corporativas geralmente estabelecem uma estratégia de
rápido crescimento, que exige a criação de incentivos para atração de
usuários. A criação desses incentivos exige uma grande capitalização
dessas plataformas. As Cooperativas estudadas, por sua vez, adotam uma
estratégia de nicho de mercado, em detrimento de um crescimento
exponencial do número de associados. Nesse ponto, percebemos que a
estratégia das Cooperativas de Plataforma se apresenta diferente das
plataformas corporativas.

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Módulo 3

Cooperativas de Plataforma
no Brasil e no Mundo

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Parte 1
O efeito de rede positivo ocorre na medida em que, ao ser aceito, o
Stocksy associado passa a fazer parte de uma reconhecida rede de artistas, que
passaram por uma curadoria rígida da cooperativa.
Neste terceiro e último módulo vamos trazer algumas iniciativas no Brasil
e no mundo de Cooperativas de Plataforma, começando por uma das mais Ao se posicionar como uma plataforma premium, a Stocksy consegue
famosas e pioneiras: a cooperativa canadense Stocksy. Ela foi fundada em cobrar valores cerca de 30% acima do mercado. Essa seletividade, por outro
2012, antes mesmo do termo Cooperativismo de Plataforma ter se lado, torna o acervo da cooperativa menor que o de suas concorrentes.
popularizado.
Do ponto de vista da remuneração, quem é aceito na rígida curadoria da
A Stocksy é um banco de imagens e vídeos de propriedade dos artistas. Stocksy é recompensado por isso. A plataforma paga aos artistas entre 50 e
Ou seja: os fotógrafos e videomakers, que são cooperados, colocam seu 75% dos royalties das fotos e vídeos vendidos no site, valores bem mais
acervo à venda na plataforma da Stocksy. altos do que as taxas de 15 a 45% de concorrentes.

Para sua criação, a cooperativa demandou financiamento de Além disso, como em toda cooperativa, os associados têm direito às sobras
aproximadamente um milhão de dólares. O aporte foi feito por dois ao final do exercício. No caso da Stocksy, ela distribui 90% das sobras.
cofundadores na forma de empréstimo, com três anos de prazo de
pagamento. A COOPERATIVA POSSUI TRÊS CLASSES DE USUÁRIOS:
A primeira, a classe A, é formada pelos conselheiros e os cinco membros
A sede da Stocksy fica em Alberta, no Canadá, mas ela aceita cooperados fundadores. Essa classe distribui 5% do total das sobras igualmente
do mundo todo. E a associação e participação nas assembleias são 100% entre os membros e tem cinco assentos no conselho gestor.
digitais. Na prática, isso significa que qualquer pessoa pode se associar à
cooperativa. Mas para isso, ela precisa submeter suas produções de vídeo A classe B é composta pelos funcionários da cooperativa, que dividem
ou fotos para análise da curadoria e, claro, ser aceita. em partes iguais 5% do total das sobras e têm duas cadeiras no
conselho. A Stocksy conta com cerca de 50 funcionários atualmente.
A curadoria é seletiva para aceitação de novos membros. Do total de
pedidos, só 4% a 5% são aprovados. A seletividade tem um motivo. A Já a classe C é composta pelos artistas da Stocksy. Eles têm direito a
Stocksy se posiciona como uma plataforma premium, de alto valor 90% dos resultados, que são divididos de forma proporcional às vendas
agregado. de cada um. Esta classe tem dois assentos no conselho.

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Parte 2
Up&Go

Agora vamos conhecer a cooperativa de plataforma de serviços de


limpeza Up&Go, com sede em Nova York, nos Estados Unidos.

Fundada em 2017, a plataforma permite o agendamento de limpeza


residencial e empresarial de forma simples e rápida. As faxineiras que
prestam os serviços são associadas de três cooperativas de limpeza que
compartilham a propriedade da plataforma.

Desta forma, os custos de manutenção da plataforma, como desenvolvimento


Nenhuma das classes recolhe contribuição anual. E para a associação, os tecnológico e marketing, são rateados entre as cooperativas.
cooperados pagam apenas 1 dólar pela quota-parte.
A responsabilidade pela manutenção e operação da plataforma é do
Em 2012, ano de sua fundação, a Stocksy contava com cinco funcionários Center For Family Life, uma ONG que trabalha com famílias em situação
e 220 artistas. Hoje são mais de 1.100 artistas, número que só não é maior de vulnerabilidade na região do Brooklin, em Nova Iorque. É ela a
porque a cooperativa controla a quantidade de associados. idealizadora da plataforma tecnológica.

Desde sua fundação, a Stocksy teve um crescimento consistente e A tomada de decisões, no entanto, é compartilhada com as cooperativas
manteve sua política de pagar royalties acima do mercado para seus de limpeza integrantes da Up&Go. Questões estratégicas como a
artistas. O processo de tomada de decisão na Stocksy é muito expansão dos negócios, a entrada de novas cooperativas na plataforma e
interessante, pois contempla mecanismos de democracia síncrona e o valor dos serviços são todos decididos em assembleia.
assíncrona.

Veja aqui mais detalhes do caso prático da Stocksy.

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Parte 3

Cooperativas de entrega

Nesta aula vamos falar sobre os aplicativos de entrega, um dos modelos


mais conhecidos de plataforma. Eles cresceram rapidamente nos
últimos anos e se tornaram uma fonte de renda para muitos
Essa gestão e propriedade compartilhadas da Up&Go garantem que os
trabalhadores, além de terem mudado os hábitos de consumo de muitas
interesses das associadas sejam atendidos. Para se ter ideia, a
plataforma repassa 95% do valor dos serviços às faxineiras - percentual pessoas.
bem superior à média do mercado, que é de aproximadamente 50%. Já os
outros 5% dos serviços são destinados à manutenção da plataforma. Por outro lado, estes aplicativos enfrentam uma série de
questionamentos sobre as condições de trabalho de seus entregadores.
Quando o Center for Family Life criou a plataforma, seu objetivo era ter Entre as principais críticas estão a cobrança de taxa excessiva, ausência
um negócio escalável, que permitisse aumentar seu impacto na de direitos trabalhistas e segurança no trabalho, além de pouca
comunidade de forma rápida. transparência na relação entre entregadores e a plataforma.

Com a Up&Go ela atingiu este objetivo e a meta agora é aumentar o Foi como uma alternativa a este modelo que surgiram as cooperativas
número de cooperados e cooperativas associadas. Desta forma, ela de plataforma de entregadores. A ideia é que os próprios trabalhadores
conseguirá produzir um efeito em rede positivo e fazer frente às grandes das plataformas participem de sua gestão de forma democrática, além
agências e aplicativos concorrentes. de terem direito às sobras (lucros) da operação.

Veja aqui mais detalhes do caso prático da Up&Go. É o caso, por exemplo, da cooperativa de plataforma Mensakas. Ela foi
criada em 2018 por 30 entregadores de Barcelona que estavam
insatisfeitos com as condições de trabalho em outros aplicativos.

A Mensakas hoje tem seu próprio aplicativo e um modelo de entrega por


meio de bicicletas de carga. A estratégia é focar principalmente na
entrega de alimentos e outros produtos das redes de economia
solidária, priorizando comerciantes e produtores locais.

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Os entregadores são os próprios cooperados da Mensakas, o que
garante melhores condições de trabalho. Afinal, são eles próprios que
decidem sobre seus benefícios.

Hoje já existem dezenas de cooperativas de entregadores semelhantes


à Mensakas em cidades do mundo todo, principalmente na Europa. Há,
inclusive, uma federação dessas cooperativas chamada CoopCycle.

Ela permite que as cooperativas se ajudem mutuamente, troquem


experiências e, principalmente, dividam os custos de desenvolvimento
da tecnologia. Há uma preocupação da CoopCycle de que os códigos
abertos desenvolvidos por elas não sejam utilizados para empresas que
tenham o lucro como objetivo principal.

A solução encontrada pela cooperativa para contornar esta questão foi


desenvolver o seu software sob um novo tipo de licença, chamada
Coopyleft. Para que outras empresas usem seu código aberto, elas
precisam atender a dois requisitos. Primeiro: ser uma cooperativa.
Segundo: ser aderente à definição de ator econômico social da União
Europeia.

Desta forma, a Coopcycle garante que apenas empresas que


compartilham dos mesmos valores que ela tenham acesso aos códigos.
Veja aqui mais detalhes do caso prático da CoopCycle.

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Parte 4
As cooperativas de dados

Não há como falar de plataformas sem tratar da importância dos dados.


Afinal, é por meio deles que as plataformas conseguem cumprir sua
função de orquestradoras de interações.

Imagine, por exemplo, os dados necessários para uma simples viagem por
meio de um aplicativo de motoristas. Serão necessários: locais de origem
e destino; localização do motorista; dados de pagamento e recebimento;
além das informações pessoais do motorista e passageiro.

Na prática, a Midata tem um aplicativo que em uma ponta armazena os


Viu como os dados são fundamentais para as empresas da economia
dados de seus associados e, na outra, permite que empresas se conectem a
digital? Para as cooperativas de plataforma, isso também é uma verdade.
ele para acessar estas informações.
Para ilustrar, vamos conhecer duas cooperativas fortemente baseadas em
dados.
Os associados têm total controle sobre o compartilhamento de seus dados:
eles são notificados sobre novas pesquisas e serviços, e podem escolher
MIDATA
participar ou não. Mesmo após o compartilhamento, o cooperado pode
Fundada em 2015, com sede na Suíça, a Midata remunera seus
escolher revogar o acesso a qualquer momento e também escolher quais
associados pelo compartilhamento de dados pessoais de saúde, seja para
informações compartilhar.
pesquisa ou fornecimento de serviços de terceiros.

A cooperativa atua na Suíça, mas tem planos de expansão para outros


Por exemplo, os cooperados da Midata compartilharam seus dados de
países. O objetivo de longo prazo é criar um ecossistema de inovação aberta
recuperação de cirurgia bariátrica para uma hospital que pesquisava o
com oferta de serviços de terceiros baseada em dados, com transparência e
tema. Em um outro caso, pessoas com esclerose múltipla testaram um
remunerando seus associados pelas informações.
tratamento que usava um aplicativo para avaliar remotamente o estado
dos pacientes. Tudo isso ocorreu com a intermediação da plataforma da
Veja aqui mais informações sobre a Midata.
Midata.

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DRIVER’S SEAT
Parte 5
Essa cooperativa pode ser resumida como um aplicativo para motoristas
de aplicativo. Na Driver’s Seat, os cooperados usam o app da cooperativa Iniciativas brasileiras
enquanto realizam suas corridas para outros aplicativos, como o Uber, por
exemplo.

Então, o app da Drivers Seat atua de duas formas: No Brasil já temos as primeiras iniciativas de cooperativismo de
plataforma. Muitas delas foram lideradas por cooperativas maduras
Primeiro, ele fornece dados contextualizados para auxiliar o motorista que viram, no modelo, uma forma de gerar valor para os cooperados,
em seu trabalho. Por exemplo, ele calcula quilômetros rodados e incentivar uma economia mais solidária e valorizar negócios locais.
quilometragem remunerada, além de indicar melhores horários e locais
para buscar corridas. Isso também permite que os motoristas Estas iniciativas, apesar de não serem cooperativas de plataforma
verifiquem se os aplicativos estão calculando corretamente seus propriamente ditas, mostram um caminho em direção a negócios mais
quilômetros rodados. “plataformizados”. Vamos conhecer três iniciativas:

A segunda forma de atuação da Driver’s Seat é via fornecimento de SICREDI CONECTA


dados de mobilidade para órgãos públicos, consultorias ou entidades A iniciativa é um marketplace para gerar negócios entre os associados
de pesquisa. Basicamente ele agrupa os dados de mobilidade de todos de todo o Sistema Sicredi, especialmente os pequenos
os seus associados, o que pode trazer insights relevantes para estudos empreendedores. Por meio de um aplicativo, os associados podem
de mobilidade urbana. O faturamento com a venda destas informações anunciar seus produtos e serviços a toda a rede de cooperados do
é, então, revertido para os próprios motoristas. Sistema Sicredi. As transações podem ser pagas via aplicativo e o
dinheiro entra na conta Sicredi do vendedor.
Clique aqui para mais informações sobre a Driver’s Seat.
Os associados também podem combinar outras formas de pagamento
Notaram como nos dois casos práticos que estudamos, os dados, além de fora da plataforma. Eles podem, inclusive, marcar encontro presencial
serem fundamentais para o funcionamento da plataforma, eles são em uma das agências da Sicredi para efetivar a transação. Tanto
também a principal moeda de troca? Isso mostra porque fala-se tanto na associados pessoa física como jurídica podem participar desse
importância deles para a economia digital. marketplace da Sicredi. Clique aqui para mais informações.

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SICOOB COOPERA
O Sicoob também criou um marketplace para incentivar negócios entre
seus cooperados. O Sicoob Coopera é uma evolução do programa de
pontos da cooperativa. Isso porque, além dos recursos de um programa de
fidelidade convencional, o Sicoob Coopera permite que seus associados
Pessoa Jurídica criem suas próprias lojas virtuais na plataforma.
Desta forma, conseguem ofertar seus produtos e serviços a toda a rede de
cooperados dentro de um ambiente seguro criado pelo Sicoob. Clique aqui
para mais informações.

AILOS APROXIMA
O Sistema Ailos também criou uma plataforma para gerar negócios entre
seus cooperados, o Ailos Aproxima. O acesso se dá por aplicativo ou
website para cooperados pessoa jurídica do Sistema interessados em
anunciar seus produtos e serviços. O aplicativo funciona como uma vitrine
online gratuita para os cooperados da Ailos. Clique aqui para mais
informações.

COOPERATIVAS DE PLATAFORMA NACIONAIS


Além das iniciativas surgidas dentro de cooperativas maduras, também se
destacam cooperativas brasileiras que adotaram o modelo de plataforma
desde seu surgimento ou que fizeram uma guinada nos negócios para um
modelo de plataforma. A seguir, vamos conhecer algumas delas:

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CICLOS Além das iniciativas citadas, muitas outras cooperativas estão buscando
A Ciclos foi criada a partir de uma iniciativa do Sicoob Central Espírito formas de alavancar o efeito de rede em seu sistema cooperativo. Um
Santo. Ela é uma cooperativa de compras com o objetivo de adquirir exemplo é o Unimed Lab, um programa de inovação para conectar as
produtos e serviços para seus associados. O foco inicial são os serviços cooperativas do Sistema. O objetivo é identificar iniciativas que possam
de Telecom, Energia Limpa, Planos de Saúde e também a criação de um gerar valor a cooperados, colaboradores e beneficiários de todas as
marketplace. O plano é expandir a atuação para todo o Brasil e permitir a Unimeds do país. Para saber mais sobre o Unimed Labs clique aqui.
associação de qualquer interessado, sem a necessidade de ser cooperado
do Sistema Sicoob. Clique aqui para mais informações. Já a Unifop, uma cooperativa de trabalho de saúde, criou uma
plataforma de telessaúde por conta da pandemia. A iniciativa teve
PODD sucesso e a cooperativa já estuda sua expansão. Saiba mais aqui.
Lançado no final de 2020, o PODD é o aplicativo de transporte de
passageiros da cooperativa capixaba Coopertran. Nele, os motoristas são Para conhecer melhor estas e outras iniciativas de plataforma e
cooperados e, assim, têm a gestão e propriedade compartilhadas do inovação no cooperativismo, acesse o Radar da Inovação, do InovaCoop.
negócio.

No PODD, os associados pagam uma taxa de 15% sobre cada viagem para
cobrir os custos da cooperativa. Para se ter ideia, grandes aplicativos de
motoristas geralmente cobram valor bem superior, de 25% a 30% em INDICAÇÕES DE LEITURA
média.

INTERCOOPERAÇÃO E EFEITO DE REDE Ours to Hack and To Own. Autores: Trebor Scholz e Nathan Schneider. OR Books,
Ao promover a economia local, estimular negócios entre cooperados ou 2017.
criar plataformas para apoiar seus cooperados, as cooperativas
Radar da Inovação do InovaCoop
tradicionais colocam em prática ao menos dois princípios do
cooperativismo: a intercooperação e o interesse pela comunidade. Plataformas de Trabalho em Busca de Valor. Relatório da Organização
Internacional do Trabalho.

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E AGORA, COMO SEGUIR?

Por fim, não esqueça que todos que finalizarem os três módulos
Talvez você esteja se fazendo esta pergunta ao terminar este curso.
assíncronos do Curso Cooperativismo de Plataforma, podem se inscrever no
Sabemos que foram muitas informações e alternativas apresentadas,
módulo extra “Geração de Modelos de Negócios”.
algumas delas bastante diversas do cooperativismo convencional com
o qual estamos acostumados.
Este último módulo será realizado de forma síncrona e online. Nele, serão
abordadas as possibilidades de elaboração de modelo de negócios
O nosso conselho a você neste sentido é o seguinte: não pare de
considerando a natureza e os princípios das organizações cooperativas e as
estudar e conecte-se ao ecossistema de inovação, inclusive com o de
características dos negócios de plataforma. O professor também
cooperativas.
apresentará uma ferramenta de geração de modelo de negócios
customizada para proposição de cooperativas de plataforma.
Para ambos os casos, conte com o apoio do InovaCoop. No nosso site,
disponibilizamos cursos, guias práticos, ferramentas, manuais e
Para se inscrever no módulo “Geração de Modelos de Negócios”, clique aqui.
informações valiosas com atualização constante.

Contamos com você para juntos tornarmos o cooperativismo ainda mais


E para você se conectar com o ecossistema de inovação, realizamos
inovador!
lives, eventos e programas de conexão com startups.

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