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Murilo C. S. Oliveira1
RESUMO: O modelo empresarial das plataformas digitais tem assumido o protagonismo e, por consequência, os
trabalhadores desses ecossistemas se ampliam, ganham corpo e visibilidade, enfrentam problemas graves em razão
tratamento que recebem como “parceiros” sem direitos trabalhistas. A questão jurídica enfrentada neste texto é o
exame se os trabalhadores em plataformas digitais de trabalho, em particular no caso daqueles que fazem transporte
individual de passageiros ou entregas, são empregados ou não. A resposta ao problema proposta envolve a análise dos
diversos e antagônicos argumentos utilizados em decisões judiciais brasileiras que qualificam o trabalho nessas
plataformas de transporte/entregas como autônomos ou como dependentes ou subordinados. Da crítica dos julgados
examinados, é possível extrair algumas notas sobre os indícios fáticos-jurídicos nos julgados que subsidiam a
caracterização de autonomia ou dependência/subordinação. A metodologia empregada é a análise doutrinária e
jurisprudencial, numa perspectiva sociojurídica-crítica que problematiza a realidade social e a forma jurídica-
normativa. A conclusão sinaliza para a ocorrência de dependência econômica e também de subordinação jurídica nas
plataformas examinadas.
ABSTRACT: The business model of digital platforms has taken the lead and, as a consequence, the workers in these
ecosystems are expanding, gaining body and visibility, facing serious problems due to the treatment they receive as
"partners" without labor rights. The legal issue faced in this text is the examination of whether workers on digital work
platforms, particularly in the case of those who make individual passenger transport or deliveries, are employees or
not. The answer to the proposed problem involves the analysis of the various and antagonistic arguments used in
Brazilian judicial decisions that qualify the work on these transport/delivery platforms as self-employed or as
dependent or subordinated. From the criticism of the judgements examined, it is possible to extract some notes on the
factual-legal indications in the judgements which subsidise the characterisation of autonomy or
dependence/subordination. The methodology employed is the doctrinaire and jurisprudential analysis, in a socio-
juridical-critical perspective which problematizes the social reality and the legal-normative form. The conclusion
points to the occurrence of economic dependence and also of legal subordination in the platforms examined.
KEY-WORDS: Digital labor platforms. Labour Protection. Legal Subordination. Economic dependence.
1 Introdução
O modelo empresarial das plataformas digitais – também denominado de economia digital,
consolida-se como o vetor paradigmático e expoente de toda economia, sobretudo com a
2
BLOOMBERG. Meta deixa ranking das dez maiores empresas em valor de mercado. 2022. Disponível em:
https://www.bloomberglinea.com.br/2022/02/18/meta-deixa-ranking-das-dez-maiores-empresas-em-valor-de-
mercado/. Acesso em: 27 jun. 2022.
3
Blog do projeto de pesquisa disponível em https://assalariadosdigitais.blogspot.com/
167
4
MANZANO, Marcelo; KREIN, André. Dimensões do Trabalho em Plataformas no Brasil. In Machado, Sidnei, et
al. O trabalho controlado por plataformas digitais: dimensões, perfis e direitos. Clínica Direito do Trabalho
(Universidade Federal do Paraná), 2022, pags. 32-126.
5
DE STEFANO, Valerio. The rise of the "just-in-time workforce": on-demand work, crowdwork and labour protection
in the "gig-economy". International Labor Office, Inclusive Labour Markets, Labour Relations and Working
Conditions Branch, Conditions of work and employment series, n. 71, Geneva, 2016. Disponível em:
http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---ed_protect/---protrav/---
travail/documents/publication/wcms_443267.pdf . Acesso em: 18 mar. 2022.
6
Idem.
168
3.1 Pessoalidade
Embora haja alguma argumentação de que inexiste pessoalidade no trabalho em
plataformas, especialmente como fundamento de defesas em processos trabalhistas, não há muitas
dúvidas de que o labor em plataformas como a Uber ou a Ifood é de caráter personalíssimo. Isto
porque os termos de uso destas empresas-plataformas são taxativos em exigir, inclusive sob pena
de punição, um cadastro pessoal com login e senha intransferível. Isto é, o próprio layout da
plataforma coloca a pessoalidade como elemento obrigatório, caracterizando que a relação se dá
intuitu personae. Aliás, algumas plataformas chegam a exigir a foto ou mesmo uma “selfie” como
mais um elemento fático cabal de pessoalidade.
169
3.2 Onerosidade
Como se sabe a onerosidade exige que o ajuste da prestação de fazer seja estipulado a título
oneroso, havendo contraprestação pecuniária devida ao trabalhador pelo serviço prestado. Em
verdade, o critério da onerosidade procura retirar das relações de emprego aquelas situações nas
quais o motivo da prestação dos serviços do trabalhador não é a percepção de salário, mas sim um
motivo altruístico, assistencial ou religioso.
Como o trabalho não é prestado a título gratuito nas plataformas de transporte individual e
entregas, a onerosidade é latente, inclusive havendo manifesto – e até abusivo – dirigismo
econômico pelas plataformas híbridas que fixam e alteram, sem justificativa e a qualquer tempo,
os preços das viagens/entregas.
3.3 Não-Eventualidade
A não-eventualidade pressupõe que a prestação de serviços não poderá ser eventual ou
esporádica. Em face da imprecisão do conceito delimitado pela negativa, diversas teorias
apresentam-se na definição da eventualidade, como a teoria da descontinuidade, a teoria do evento,
a teoria dos fins do empreendimento e a teoria da fixação jurídica. Sem adentrar nesses pormenores
teóricos, a situação da não-eventualidade é realmente um ponto controvertido no trabalho em
plataformas digitais, visto que há possibilidade, em tese, de ocorrência de prestação serviços muito
ocasionais ou esporádicos.
No entanto, a maioria das pesquisas etnográficas sobre trabalhadores em plataformas
atestam que estes são sujeitos com labor habitual e frequente, inclusive com jornadas superiores a
oito horas e labor em seis dias por semana7. Ainda conforme essas pesquisas, mesmo aqueles
trabalhadores plataformizados que laboram de modo mesmo frequente, isto é, dois a três por
semana, alcançam a duração semanal superior a vinte e cinco horas de trabalho, o que já
configuraria o labor frequente ainda que de modo intermitente. Daí que nos casos concretos dos
processos judiciais examinados, a não-eventualidade sempre esteve presente concretamente diante
do registro, na plataforma, de quantidades de viagens como cinco mil viagens.
7
ABÍLIO, L. C. et al. Condições de trabalho de entregadores via plataforma digital durante a Covid-19. Revista
Jurídica Trabalho e Desenvolvimento Humano, Campinas, Edição Especial – Dossiê Covid-19, p. 1-21, jun. 2020.
Disponível em: <http://revistatdh.org/index.php/Revista-TDH/article/view/74/37>. Acesso em: 30 mai.2022.
170
Logístico” (OL).
No Tribunal Superior do Trabalho - TST, as três primeiras decisões publicadas
caracterizaram (ou mantiveram decisões das instâncias inferiores) a ideia de trabalho autônomo e
livre no caso da Uber, sendo que somente em 2022, foi proferido o primeiro Acórdão considerando
que havia trabalho subordinado.
A segunda decisão sobre o tema no TST foi no processo n. 1000123-89.2017.5.02.0038. O
exame daqueles autos nos mostra que a sentença acolheu a improcedência com base na falta de
pessoalidade (outros motoristas no mesmo veículo cadastrado) e de subordinação (liberdade de
horários e de ativação, falta de ordens), concluindo pela existência de trabalho autônomo. O
Acórdão do TRT reconheceu o vínculo, afirmando também um dirigismo econômico da
plataforma, uma vez que “Se se tratasse de mera ferramenta eletrônica, por certo as demandadas
não sugeririam o preço do serviço de transporte”, além negada a qualificação da Uber como
economia compartilhada em razão do objetivo lucrativo da empresa. No TST, foi sumarizado na
ementa a ideia de “auto-determinação” no seguinte trecho:
[...] Com efeito, o reclamante admite expressamente a possibilidade de ficar "off line",
sem delimitação de tempo, circunstância que indica a ausência completa e voluntária da
prestação dos serviços em exame, que só ocorre em ambiente virtual. Tal fato traduz, na
prática, a ampla flexibilidade do autor em determinar sua rotina, seus horários de trabalho,
locais que deseja atuar e quantidade de clientes que pretende atender por dia. Tal auto-
determinação é incompatível com o reconhecimento da relação de emprego, que tem
como pressuposto básico a subordinação, elemento no qual se funda a distinção com o
trabalho autônomo. Não bastasse a confissão do reclamante quanto à autonomia para o
desempenho de suas atividades, é fato incontroverso nos autos que o reclamante aderiu
aos serviços de intermediação digital prestados pela reclamada, utilizando-se de aplicativo
que oferece interface entre motoristas previamente cadastrados e usuários dos serviços.8
8
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Vínculo de emprego. Motorista. Uber. Ausência de subordinação. nº RR -
1000123-89.2017.5.02.0038. Relator: Ministro Breno Medeiros. Brasília: DEJT, 07 fev. 2020. p. 1-25.
171
Dos diversos casos examinados referentes a Uber, extrai-se que um dos Acórdão mais
fundamentados foi o do TRT Paraibano que na sua ementa sintetizou a noção de “controle por
programação”:
9
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Vínculo de emprego. Motorista. Uber. Subordinação algorítmica. nº RR:
1003530220175010066. Relator: Mauricio Godinho Delgado. Brasília: Data de Julgamento: 06/04/2022, 3ª Turma,
Data de Publicação: 11/04/2022
10
PARAÍBA. Tribunal Regional do Trabalho da 13ª Região. Acórdão em Recurso Ordinário. Processo nº 0000699-
64.2019.5.13.0025. Relator: Desembargador Thiago Andrade. João Pessoa: 2020.
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trabalhadores. Neste sentido, tem-se o seguinte julgado do TST que manteve a decisão Regional:
AGRAVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA
INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI N.º 13.467/2017. EMPRESA IFOOD NÃO
ATUOU COMO TOMADORA DE SERVIÇOS. CONFIGURADO CONTRATO DE
NATUREZA CIVIL ENTRE AS RÉS. ÚNICA TOMADORA DOS SERVIÇOS DO
AUTOR É A PRÓPRIA EMPREGADORA. REEXAME DE FATOS E PROVAS. 1.
Confirma-se a decisão monocrática que negou seguimento ao agravo de instrumento em
recurso de revista ao assentar que a empresa IFOOD não atuou como tomadora de serviços
e, portanto, não possui responsabilidade subsidiária. 2. A Corte Regional, com base no
conjunto fático-probatório dos autos, consignou que se extrai do estatuto social da ré
(IFOOD) não a prestação de serviços de entrega, mas sim, apenas o agenciamento e
intermediação mercantil de restaurantes e estabelecimentos similares, mediante
veiculação de propagandas e fornecimento de equipamentos voltados à integração de
sistemas e transmissão de dados. Asseverou que a empresa IFOOD não foi destinatária
ou beneficiária direta da mão de obra do autor e, portanto, não atuou como tomadora de
serviços. Assim, concluiu que a relação entre os réus é de natureza civil e que a
responsabilidade exclusiva é do restaurante, usuário da plataforma, e único tomador de
fato dos serviços do trabalhador. Incidência da Súmula nº 126 do TST. Agravo a que se
nega provimento" (Ag-AIRR-1000801-16.2018.5.02.0056, 1ª Turma, Relator Ministro
Amaury Rodrigues Pinto Junior, DEJT 27/06/2022).
Contrariamente, outras decisões examinando o plano fático provado nos autos identificam
que aquela plataforma, além da função comunicativa, estabelece vigilância, avaliação punição e
precificação do trabalho dos entregadores, o que significa flagrante trabalho “sob dependência”. É
a este o caso do julgado do TRT de Alagoas:
11
ALAGOAS. Tribunal Regional do Trabalho da 19ª Região. Recurso Ordinário nº 00000168-24.2020.5.19.0009,
Relator: PEDRO INÁCIO DA SILVA, Data de Publicação: 16/06/2021.
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de dependência econômica12.
A par disto, o termo “dependente” deve ser compreendido menos como um adjetivo
(subordinado e assujeitado) e mais como aquele que predica ação “depender”. O empregado é
dependente porque sua força de trabalho não se realiza sozinha, pois pertence estruturalmente à
empresa, fazendo parte desta e, como consequência possível, podendo ser subordinado. Qualificar
a dependência como econômica significa explicitar a natureza capitalista da venda da força de
trabalho e seu consequente Direito Capitalista do Trabalho, que na fuga conveniente do
extrajurídico termina esquecendo as suas imbricações econômicas.
No caso das plataformas digitais, o método de precificar o trabalho alheio é uma renovação
do antigo expediente do “salário por peça”, agora com contornos altamente tecnológicos13. No
assalariamento por peça, uma série de despesas para o labor são atribuídas ao trabalhador, como
exatamente ocorre com os custos de aquisição e manutenção dos instrumentos de trabalho (veículo,
telefone, acesso à internet, impostos, entre outros). Não há uma fiscalização do tempo de trabalho,
porque o pagamento é fixado pela efetiva produtividade, o que confere uma aparente de liberdade
de horários e estímulos a sobrejornadas para se alcançar maiores ganhos.
A precificação das plataformas é, então, o método de gestão do trabalho que causa a
dependência econômica. A questão do preço imposto pelas plataformas de trabalho é forte
evidência de que a plataforma não é apenas uma intermediadora para entre motorista/entregador e
o cliente tomador dos serviços, até porque o preço estabelecido é sobre calculado pelo trabalho
oferecido e não sobre o serviço tecnológico de aproximação de grupos, como as empresas
intermediárias cobram. Se fosse meramente intermediadora, não poderia nunca impor preços pelo
serviço feito por outros, pois quem media não estabelece o valor do trabalho alheio. Como as
plataformas de trabalho estabelecem os padrões remuneratórios, elas exercem direção econômica
da atividade sob o trabalhador, sujeitando-lhe a uma dependência igualmente econômica.
No polo oposto, numa autonomia, notadamente de caráter econômico, caberia ao
trabalhador independente estabelecer, como manifestação da sua autonomia e titularidade sobre
sua força de trabalho, o valor do seu trabalho. Tal qual um empresário que fixa os valores dos seus
produtos ou serviços, o verdadeiro trabalhador autônomo tem como atributo a capacidade de fixar
o valor dos seus serviços, exceto no caso em que o próprio Estado, via medidas normativas, impõe
uma tarifa pública para o serviço como ocorre no táxi. O preço fixado pela plataforma é
manifestação clara de assalariamento, ou seja, trabalho sob dependência.
Daí conclui-se que há, no plano fático e na estrutura organizacional tecnológica desta
atividade econômica, uma dependência total do trabalhador em relação aos sistemas de plataforma,
12
OLIVEIRA, Murilo. Relação de emprego, dependência econômica e subordinação jurídica: revistando os conceitos.
2. ed. Curitiba: Juruá, 2019.
13
OLIVEIRA, Murilo Carvalho Sampaio. Plataformas digitais e regulação trabalhista: precificação e controle do
trabalhador neste novo modelo empresarial. Revista da Faculdade de Direito da UFG, v. 45, n. 3, 2021.
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no qual o trabalho somente se realiza naqueles padrões. E dada a expansão e monopólio das
plataformas, a dependência no sentido de “fazer parte” é indiscutível, pois não há outro meio de
trabalhar nesta atividade.
Esse indício da precificação tem figurado como argumento secundário nas decisões que
reconhecem o liame empregatício. Por exemplo, a decisão da 34ª Vara do Trabalho de Belo
Horizonte no processo nº 0011098-61.2019.5.03.011314 se vale, além de outros argumentos, de
uma dimensão de dependência econômica ao questionar a divisão do resultado econômico do
trabalho na Uber. Indica que auferir 20 a 25% da renda bruta e impor ao trabalhador a quase que
totalidade das despesas para a operação do negócio, a plataforma estaria, em verdade, assalariando
e explorando o labor alheio. Enfim, quando se discute os resultados financeiros líquidos para cada
um dos contratantes na plataforma da Uber, percebe-se que a cota resultante da plataforma é
superior a cota resultante do motorista.
Sobre o tema convém citar a tese n. 13 aprovada no XX Congresso Nacional dos
Magistrados da Justiça do Trabalho – CONAMAT de 2022:
14
MINAS GERAIS. 34ª Vara do Trabalho de Belo Horizonte. Sentença no processo nº 0011098-61.2019.5.03.0113.
Belo Horizonte, 2017.
175
5 Conclusões
Do exame das diversas decisões trabalhistas nacionais, constata-se a principal divergência
nas argumentações cinge-se ao conceito de subordinação jurídica. Ressalta-se que estas notas
conclusivas se referem particularmente as duas plataformas examinadas nos julgados, não gerando
a inferência de que todas as plataformas digitais de trabalho subordinam os trabalhadores, o que
deve ser sempre examinado concretamente e, logicamente em caso de processo judicial, de acordo
com as provas produzidas.
Em termos gerais, as decisões que negam o vínculo empregatício adotam uma concepção
(restrita) de subordinação como trabalho com jornada fiscalizada e sob vigília presencial de um
gerente/encarregado, de modo que a possibilidade de definir os dias e horários de trabalho não
coincidiria com esta “subordinação forte”.
No entanto, esta versão de subordinação hierárquica e presencial – cuja ilustração seria
aquela das cenas do trabalho fabril do filme “Tempos Modernos” de Chaplin – não é, desde 1943,
aquela adotada pela CLT, a qual preferiu um conceito mais aberto ao constar que empregado é
aquele que labora “sob dependência”, o qual não é necessariamente com jornada controlada e sob
ordens, vide, exemplificativamente, as situações de trabalho externo ou em domicílio. Fugindo
dessa estreita versão de subordinação, as decisões que reconheceram o vínculo empregatício
adotaram concepções amplas e até inovadoras para definir o estado de “dependência”, seja pela
ideia de subordinação estrutural, subordinação algorítmica, controle por programação, entre outras.
Nessas decisões, o argumento da dependência econômica consectário da falta de autonomia da
fixação do preço de trabalho também é utilizado como fundamento secundário.
Fora do campo da semântica da noção de subordinação jurídica, defende-se que, quando a
plataforma digital de trabalho decidir precificar o labor de seus trabalhadores, há escolha do
modelo empresarial de assalariamento via salário por peça ou tarefa. Quando a plataforma
estabelece os padrões remuneratórios, ela exerce direção econômica da atividade sob o trabalhador,
sujeitando-lhe a uma dependência igualmente econômica. No polo oposto, numa autonomia,
notadamente de caráter econômico, caberia ao trabalhador independente estabelecer, como
manifestação da sua autonomia e titularidade sobre sua força de trabalho, o valor do seu labor.
15
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS MAGISTRADOS DA JUSTIÇA DO TRABALHO (ANAMATRA) (ed.). Tese
n. 13. 2022. Disponível em: https://www.anamatra.org.br/conamat/20-edicao. Acesso em: 01 jul. 2022.
176
Por derradeiro, o debate sobre o vínculo empregatício nas plataformas digitais retoma as
antigas polêmicas conceituais sobre a subordinação jurídica, inclusive reabilita a ideia de
dependência econômica. Daí que a procura pelos trejeitos antigos da subordinação fordista mostra-
se ineficaz e naturalizadora da desproteção do trabalho digitalmente assalariado e controlado.
REFERÊNCIAS
ABÍLIO, L. C. et al. Condições de trabalho de entregadores via plataforma digital durante a Covid-
19. Revista Jurídica Trabalho e Desenvolvimento Humano, Campinas, Edição Especial – Dossiê Covid-19,
p. 1-21, jun. 2020. Disponível em: <http://revistatdh.org/index.php/Revista-TDH/article/view/74/37>.
Acesso em: 30 mai.2022.
BLOOMBERG. Meta deixa ranking das dez maiores empresas em valor de mercado. 2022. Disponível
em: https://www.bloomberglinea.com.br/2022/02/18/meta-deixa-ranking-das-dez-maiores-empresas-em-
valor-de-mercado/. Acesso em: 27 jun. 2022.
DE STEFANO, Valerio. The rise of the "just-in-time workforce": on-demand work, crowdwork and
labour protection in the "gig-economy". International Labor Office, Inclusive Labour Markets,
Labour Relations and Working Conditions Branch, Conditions of work and employment series, n. 71,
Geneva, 2016. Disponível em: http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---ed_protect/---protrav/---
travail/documents/publication/wcms_443267.pdf . Acesso em: 18 mar. 2022.
MATO GROSSO. Tribunal Regional do Trabalho da 23ª Região. Recurso Ordinário 0000415-
88.2020.5.23.0107. MT, Relator: TARCISIO REGIS VALENTE, Gabinete da Presidência, Data de
Publicação: 12/02/2020
MINAS GERAIS. 34ª Vara do Trabalho de Belo Horizonte. Sentença no processo nº 0011098-
61.2019.5.03.0113. Belo Horizonte, 2017.
OLIVEIRA, Murilo Carvalho Sampaio; CARELLI, Rodrigo de Lacerda; GRILLO, Sayonara. Conceito e
crítica das plataformas digitais de trabalho. Revista Direito e Práxis, v. 11, n. 4, p. 2609-2634, dez. 2020.
http://dx.doi.org/10.1590/2179-8966/2020/50080. Disponível em: https://www.e-
publicacoes.uerj.br/index.php/revistaceaju/article/view/50080. Acesso em: 10 set. 2022.
PARAÍBA. Tribunal Regional do Trabalho da 13ª Região. Acórdão em Recurso Ordinário. Processo nº
0000699-64.2019.5.13.0025. Relator: Desembargador Thiago Andrade. João Pessoa: 2020.