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1 - INTRODUÇÃO

No final do ano de 2019 a Organização Mundial da Saúde (OMS), foi notificada sobre
o surgimento de uma nova cepa de coronavírus, na cidade de Wuhan, na China, ainda não
identificada em seres humanos. Em março de 2020 a OMS classificou o surto como
pandemia e a partir de então o mundo não foi mais o mesmo.
Mesmo sendo uma questão de saúde pública, a pandemia agravou crises econômicas,
políticas e sociais. O mundo literalmente parou, empresas e comércios tiveram que fechar, foi
necessário que as pessoas fizessem isolamento social. Ainda com medidas do governo para
tentar controlar o desemprego, muita gente foi demitida.
Em meio a uma crise mundial, onde a taxa de desemprego cresceu drasticamente, uma
parte da sociedade foi obrigada a aderir à “Economia dos Bicos”1 - ou Gig Economy, como é
constantemente chamada. A expressão é utilizada para dar nome a trabalhadores
independentes, freelancers, que normalmente trabalham em plataformas digitais. Segundo a
socióloga Ludmila Abílio, a “Gig Economy é uma realidade no mercado de trabalho
brasileiro, marcado pela alta rotatividade, pela informalidade e pelos trabalhadores
temporários”2.
Dentro dessa nova onda de trabalho informal e plataformas digitais, surge outro
fenômeno chamado Uberização3. O termo tem origem na forma de organização da
multinacional norte-americana Uber, e vem sendo muito utilizado para se referir ao novo
formato de trabalho da Economia de Compartilhamento. Para muitos estudiosos, a
Uberização é a nova forma de exploração de trabalho.

1.1 - Problema
A Uberização é baseada em uma suposta autonomia para definir a jornada de trabalho
e outros elementos referentes à prestação do serviço. As plataformas como a Uber, Ifood,

1
Para E. Tammy Kim apud Aaron Benanav, essa expressão “está sendo usada para substituir trabalhadores
qualificados por menos qualificados, ou continuando um processo que está acontecendo em todo o mundo de
’empregos disfarçados’, em que você traz contratados independentes para substituir funcionários ”. Cf: KIM,
E. Tammy. A economia de “bico” está chegando ao seu trabalho. 17 de janeiro de 2021. Disponível em:
<http://abet-trabalho.org.br/a-economia-de-bico-esta-chegando-ao-seu-trabalho/> Acesso em: 19 de outubro de
2021.
2
ABÍLIO, L. C. Uberização: do empreendedorismo para o autogerenciamento subordinado. Psicoperspectivas:
individuo y sociedade. Vol. 18, nº 3, nov/2019, p. 10.
3
“Uberização é um processo de transformação do trabalho, pelo qual os trabalhadores fazem uso de bens
privados — como um carro — para oferecer serviços por meio de uma plataforma digital. Também chamada de
economia de compartilhamento, essa modalidade de trabalho é pautada pelo trabalho por demanda”. Cf:
UBERIZAÇÃO. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2021. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Uberiza%C3%A7%C3%A3o&oldid=62077569>. Acesso em: 19 de
outbro. 2021.
Rappi e muitas outras que estão no mercado, sempre enfocam a ideia de “seja seu próprio
chefe” para captar colaboradores. A flexibilidade de horário é um dos pontos mais abordados,
mas nada é tão simples como as plataformas dão a entender.
Para obter o montante necessário para quitar os gastos com as viagens e obter uma
quantia líquida mínima para sobreviver, é necessário trabalhar muito além da jornada de
trabalho prevista em lei, muitos motoristas chegam a trabalhar 12 horas diárias ou até mais.
Deparamos aí com a precarização do trabalho. Por não ter uma relação empregatícia
formalizada, os profissionais ficam sem poder exercer direitos básicos, como ganhos por
horas extras e por periculosidade, e principalmente questões previdenciárias.
No contexto da pandemia essas questões são ainda mais complicadas, uma vez que os
trabalhadores estavam diretamente expostos e corriam o risco de contrair o vírus. Sem contar
que nesse período, houve grandes altas no combustível, dificultando ainda mais o trabalho,
uma vez que todos os gastos ficam a cargo do prestador de serviço e ele não tem um controle
direto sobre os valores dos serviços ofertados.
Por se tratar de um emprego teoricamente autônomo, as empresas que motoristas e
motoboys se vinculam, se esquivam de qualquer vínculo jurídico. Essas plataformas não
arcam com nenhum custo em relação aos equipamentos de trabalho, como o carro, a moto,
combustível e celular, tudo fica a cargo do interessado em estar executando aquela atividade.

1.2 - Objetivos
A pesquisa tem como objetivo analisar o impacto da pandemia nos fenômenos Gig
Economy e Uberização. Além disso, buscará analisar a precarização do trabalho nesse setor,
a exploração dos serviços prestados por meio de plataformas digitais e como esses
trabalhadores são desprovidos de direitos fundamentais pelo fato de as Plataformas se
recusaram a admitirem um vínculo trabalhista claramente existente.

1.3 Justificativa
O estudo se justifica na atual relação que as plataformas de Delivery e de Motorista de
Aplicativo tem com seus chamados “parceiros”. Tratar sobre esse tema é de extrema
importância uma vez que com o avanço tecnológico a sociedade empregadora está de certa
forma ignorando a existência do Direito do Trabalho.
Para muitos, a Consolidação das Leis do Trabalho é associada apenas ao sistema
fabril, em que a realidade produtiva era muito diferente. No entanto, mesmo havendo uma
importante mudança nessa área, e em um contexto pós pandêmico essa mudança será ainda
mais evidente, a estrutura das relações trabalhistas não sofreu grandes alterações. De um lado
temos quem tem o capital para investir e do outro temos aqueles que só possuem a força de
trabalho para ser usurpada pela atividade econômica.

2 - REFERENCIAL TEÓRICO
Não é novidade que o mundo esteja mudando, e mudando de uma forma muito
acelerada. Para a professora da UnB, Renata Queiroz Dutra, “[...] o mundo do trabalho está
igualmente passando por transformações, notadamente por novas formas de exploração do
trabalho, tais como a denominada uberização”4 . As expressões “empreendedorismo”5 e
“trabalho autônomo” enchem os olhos de muitas pessoas, principalmente daquelas que estão
nas estatísticas da taxa de desemprego.
Mesmo com inúmeros discursos para tentar preservar o trabalho dos brasileiros
durante a Pandemia da COVID-19, a taxa de desemprego chegou em 14,7% segundo dados
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Em pouco mais de um ano,
aumentou em 1,6 milhão o número de desempregados no país.
Nas palavras de Morais, a pandemia do Covid-19 serve como catalisador ao momento
social, político e econômico em que vivemos. [...] por conta da fragilidade das relações de
trabalho previamente existentes, os efeitos da pandemia têm repercussões sociais e
econômicas ainda mais intensas6. Para fugir do desemprego, muitos trabalhadores colocam-se
à disposição de Plataformas Digitais. Sobre as plataformas digitais, Moraes as conceituam
como:
[...] aquelas que conectam uma empresa, não necessariamente
digital, a trabalhadores terceirizados. Nesse caso, a empresa contrata a
plataforma e a plataforma contrata o prestador de serviço, que realizará o
trabalho (projeto) sem mesmo conhecer a empresa para a qual o serviço será
feito. 7

DUTRA, Queiroz Renata. Aceleração Social, Uberização e Pandemia: Quem precisa de Direito do Trabalho?
07 de agosto de 2020. Disponível : <https://repositorio.unb.br/handle/10482/39545>Acesso em: 13 de outubro
de 2021.
5
“A ideologia do empreendedorismo, ao longo das últimas quatro décadas, tem sido utilizada para justificar a
instabilidade da sociedade capitalista e, até mesmo, para exaltar as forças do capital assentadas na meritocracia e
no individualismo, independentemente de instituições, de organizações e, principalmente, do Estado”. Cf:
MORAES, Rodrigo B. S. Precarização, uberização do trabalho e proteção social em tempos de pandemia.
31 de outubro de 2020. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/nausocial/article/view/38607>
Acesso em: 19 de outubro de 2021
6
MORAES, Rodrigo B. S. Precarização, uberização do trabalho e proteção social em tempos de pandemia.
31 de outubro de 2020. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/nausocial/article/view/38607>
Acesso em: 19 de outubro de 2021.
7
MORAES, Rodrigo B. S. Precarização, uberização do trabalho e proteção social em tempos de pandemia.
31 de outubro de 2020. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/nausocial/article/view/38607>
Acesso em: 19 de outubro de 2021
Trabalhar a hora que quiser é o sonho da maioria das pessoas, e é esse sonho que as
plataformas de Carros de Aplicativo e de Entregas exploram na hora de captar seus
colaboradores, dão a ilusão de flexibilidade, de autonomia. Teodoro, D’Afonseca e Antonieta
afirmam que:
[...] não se pode conceber autonomia quando o próprio trabalhador
não pode dispor de algo crucial: o valor da sua hora de trabalho. A Uber
monopoliza o mercado de transporte de passageiros às expensas de
trabalhadores que não podem impor o valor que desejarem ao seu trabalho8.

Na prática, esse novo tipo de trabalho é muito diferente do que os aplicativos


demonstram. Não há nada que garanta uma mínima segurança aos chamados “parceiros”
dessas empresas. Segundo Dutra, “o pensamento hegemônico neoliberal tem insistido que é
necessária maior flexibilidade nas relações trabalhistas, com regras menos protetivas e
abertura para negociação privada entre as partes da relação laboral”9.
A grande questão é que essa flexibilização nas relações trabalhistas pode acarretar
uma séria precarização. Em relação a isso André, Silva e Nascimento afirmam que:
Tais empresas impõem condições de trabalhos com alto grau de
incerteza e insegurança (intensificado pela pandemia), ausência de proteção
legal, falta de transparência nas informações e decisões tomadas em relação
aos trabalhadores, inexistência de indenizações trabalhistas e
previdenciárias, organização do trabalho feita por algoritmos e inculcação
do discurso empreendedor. 10
Essas plataformas se denominam como apenas um meio de ligação entre prestadores e
tomadores de serviço, driblando qualquer tipo de vínculo jurídico, principalmente trabalhista.
Para Abílio, a Uberização é um “novo estágio da exploração do trabalho, que traz
mudanças qualitativas ao estatuto do trabalhador, à configuração das empresas, assim como
às formas de controle, gerenciamento e expropriação do trabalho”11.

3 – PROCEDIMENTO S METODOLÓGICOS

8
TEODORO, Maria Cecília Máximo et al. Disrupção, economia compartilhada e o fenômeno Uber. 24 de
abril de 2017. Disponível em: <http://periodicos.pucminas.br/index.php/Direito/article/view/14661> Acesso em
22 de outubro de 2021.
9
DUTRA, Queiroz Renata. Aceleração Social, Uberização e Pandemia: Quem precisa de Direito do Trabalho?
07 de agosto de 2020. Disponível : <https://repositorio.unb.br/handle/10482/39545>Acesso em: 13 de outubro
de 2021.
10
ANDRÉ, Robson Gomes et al. 'Precário não é, mas eu acho que é escravo': Análise do Trabalho dos
Motoristas da Uber sob o Enfoque da Precarização. 2019. Disponível em:
<http://www.periodicosibepes.org.br/index.php/recadm/article/view/2544/1043> Acesso em 19 de outubro de
2021.
ABÍLIO, L. C. Uberização: do empreendedorismo para o autogerenciamento subordinado.
11

Psicoperspectivas: individuo y sociedade. Vol. 18, nº 3, nov/2019, p. 10.


O estudo será elaborado com base em levantamento de pesquisa bibliográfica de
referências teóricas. Far-se-á coleta de dados em sites eletrônicos, livros e artigos científicos.
Além de pesquisa bibliográfica, será utilizada pesquisa de campo que possibilitará observar a
real situação das pessoas que integram esse setor e os motivos que os fizeram entrar nesse
mercado, os pontos positivos e negativos da uberização do trabalho e quais são suas
perspectivas futuras pós pandemia.
O método utilizado para a pesquisa de campo será qualitativo, pois o foco está no
caráter subjetivo das respostas analisadas. Todos os dados serão submetidos a análise
interpretativa, e as conclusões serão expostas apresentando um resumo dos pontos mais
importantes.

4 – CRONOGRAMA

5- REFERÊNCIAS
ABÍLIO, L. C. Uberização: do empreendedorismo para o autogerenciamento
subordinado. Psicoperspectivas: individuo y sociedade. Vol. 18, nº 3, nov/2019, p. 10.
ANDRÉ, Robson Gomes et al. 'Precário não é, mas eu acho que é escravo': Análise
do Trabalho dos Motoristas da Uber sob o Enfoque da Precarização. 2019. Disponível em:
<http://www.periodicosibepes.org.br/index.php/recadm/article/view/2544/1043> Acesso em
19 de outubro de 2021.
DUTRA, Queiroz Renata. Aceleração Social, Uberização e Pandemia: Quem precisa
de Direito do Trabalho? 07 de agosto de 2020. Disponível :
<https://repositorio.unb.br/handle/10482/39545>Acesso em: 13 de outubro de 2021.
KIM, E. Tammy. A economia de “bico” está chegando ao seu trabalho. 17 de
janeiro de 2021. Disponível em:
<http://abet-trabalho.org.br/a-economia-de-bico-esta-chegando-ao-seu-trabalho/> Acesso em:
19 de outubro de 2021.
TEODORO, Maria Cecília Máximo et al. Disrupção, economia compartilhada e o
fenômeno Uber. 24 de abril de 2017. Disponível em:
<http://periodicos.pucminas.br/index.php/Direito/article/view/14661> Acesso em 22 de
outubro de 2021.
UBERIZAÇÃO. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia
Foundation, 2021. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Uberiza%C3%A7%C3%A3o&oldid=62077569>
. Acesso em: 19 set. 2021.
https://www.band.uol.com.br/band-vale/noticias/pandemia-faz-crescer-o-numero-de-
motoristas-que-exercem-atividades-remuneradas-16359327

https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/08/31/desemprego-fica-em-141percent-no-2o-tri
mestre-diz-ibge.ghtml

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