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LOGÍSTICA PÚBLICA

AULA 2

Prof. John Jackson Buettgen


CONVERSA INICIAL
Nesta aula, vamos abordar a gestão da logística, que é a arte de decidir
o que fazer para conseguir os melhores resultados.

 Tema 1 – Gestão da Cadeia de Suprimentos (CS)


 Tema 2 – Os caminhos para a aquisição: a licitação
 Tema 3 – Princípios da licitação
 Tema 4 – Gestão da cadeia de valor e governança para resultados
 Tema 5 – O modelo dos 6Es do desempenho

Quando se fala em Administração Pública, rapidamente as pessoas


associam o estado como executor direto do desenvolvimento, da gestão e do
provimento das demandas das políticas públicas. E, de fato, era assim. Havia
uma modelo bastante tradicional, hierarquizado, verticalizado e rígido para a
gestão.
Mas os tempos mudaram, a Governança Pública é baseada em arranjos
múltiplos e complexos que envolvem o próprio estado, a iniciativa privada, o
terceiro setor, o mercado e outros entes, na busca pelo desenvolvimento, na
gestão das políticas públicas e no provimento das necessidades para
implementá-las.
Isso implica na necessidade de modelos de gestão aprimorada e flexíveis
que alterem o papel do estado de executar para maestro e direcionador
estratégico das competências dos demais atores do processo de
desenvolvimento do país, do estado ou do município.

TEMA 1 – GESTÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS (CS)1

Neste tema, vamos tratar dos objetivos de uma rede de suprimentos e


como ela é estruturada. Também não poderíamos deixar de falar da terceirização
de atividades, que cada vez mais tem espaço no Setor Público.

1.1 Os objetivos da Cadeia de Suprimentos (CS)

Gurgel e Francischini (2013) afirmam que os objetivos básicos de uma


Cadeia de Suprimentos podem ser expressos em algumas palavras-chave:

1Diversas terminologias são usadas para definir a mesma coisa: Cadeia de Suprimentos (CS),
Cadeia de Valor (CV) ou Supply Chain, por exemplo.
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parcerias, riscos, resultados, informações e diferença. Vamos entender o
significado de cada uma delas na ótica desses autores?

 Parceria nada mais é do que a compreensão da incapacidade de realizar


todas as atividades necessárias para resolver os problemas dos
clientes/cidadãos. Em função disso, a busca de parceiros que sejam mais
eficientes nessas atividades é fator de sucesso e está amparado na
competência técnica e na confiança que se tem nele.
 Riscos são parte inerente de qualquer atividade, portanto, um dos
requisitos do estabelecimento de parcerias é o compartilhamento de
riscos.
 Compartilhar os resultados da racionalização das atividades. Isso
acontece entre os membros da cadeia de suprimentos e com os
clientes/cidadãos.
 Obviamente informações de qualidade devem ser compartilhadas para
que os parceiros da CS tomem as decisões necessárias e adequadas
para as suas operações.
 Finalmente, gerar equilíbrio para evitar que algum elo da cadeia acumule
perdas e tenha uma diferença de capacidade e competência em relação
aos demais membros da cadeia de valor. Um bom resultado final depende
do equilíbrio entre os parceiros. Nada mais é do que o desenho de uma
rede que garanta que não haverá gargalos ao longo do processo e o
resultado final seja atingido.

Mas como assegurar que esses elementos estejam presentes nas


relações comerciais estabelecidas com os fornecedores do ente público? No
caso do poder público as variáveis necessárias sempre estão presentes na
legislação atinente a cada situação. Se não houver uma definição legal não se
faz. Simples assim.

1.2 Configuração da Cadeia de Suprimentos (CS)

Uma Cadeia de Suprimentos consiste em uma sucessão de negócios


interligados e integrados, que têm como objetivo entregar produtos/serviços que
supram uma determinada necessidade do ente público.

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Para que a CS funcione, alguns pontos devem ser definidos
conjuntamente, pelos menos com os atores diretamente envolvidos (Laurindo;
Teixeira, 2014). São eles:

1) relacionamento com os clientes;


2) serviço ao cliente;
3) demanda;
4) processamento de pedidos;
5) fluxo de produção e operações;
6) fornecedores; e
7) projeto e desenvolvimento de produtos e processos.

Com base no desenho da estrutura e do consenso sobre essas atividades


é possível definir quais o membros-chave da CS. Essa identificação depende de
algumas variáveis:

 Valor adicionado aos processos de negócio: quanto o fornecimento


contribui na agregação de valor do processo do ente comprador.
 Impacto do produto na composição dos custos da cadeia: o peso relativo
que o fornecimento tem nos custos.
 Impacto do produto nos custos do cliente/usuário/cidadão: quanto o
fornecimento impacta no preço que o cliente deverá pagar.
 Porte, posicionamento no mercado e poder de barganha: qual a força do
fornecedor em relação ao comprador.
 Impactos ambientais ou subprodutos que possam ocasionar custos
adicionais para o processamento.

1.3 Outsourcing ou terceirização?

Na montagem da CS, inevitavelmente duas palavrinhas vão aparecer:


terceirização e outsourcing. Apesar de, muitas vezes, serem utilizadas como
sinônimos, não o são. Portanto, cabe uma breve explicação.
Para Lins, Duda Junior e Cunha (2016), a terceirização é a prática de
transferir parte das atividades da organização para um fornecedor externo. Com
o desenvolvimento do método, especificidades surgiram, sendo uma delas o
outsourcing, que, em essência, é a mesma coisa, mas com outro espectro de
aplicação.

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Basicamente, a diferença entre eles está nas atividades que são
delegadas a terceiros. Enquanto a terceirização diz respeito a atividades mais
gerais, como limpeza, segurança e restaurante da empresa, entre outras, o
outsourcing tem como foco de atuação as áreas mais estratégicas, como
administrativa, financeira, contábil, tributária, recursos humanos, TI, sistemas de
informação e compras, entre diversas outras (Olher; Costa; Teixeira, 2015).
No setor público, o outsourcing normalmente está mais associado à
concessão pública. A Lei n. 8.987/1995, em seu art. nº 2, inciso II, define
concessão de serviço público como sendo:

II - concessão de serviço público: a delegação de sua prestação, feita


por poder concedente, mediante licitação, na modalidade de
concorrência, à pessoa jurídica ou consórcio de empresas que
demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco e
por prazo determinado. (Brasil, 1995)

A grande vantagem do processo de terceirização é que os recursos da


organização (tecnológicos, intelectuais, financeiros etc.) passam a se voltar
exclusivamente para o core business, aumentando produtividade e,
principalmente, sua competitividade no mercado (Olher; Costa; Teixeira, 2015).
No âmbito público, está se falando de redução de custos e aumento da eficiência,
tendo como resultado esperado a oferta de um melhor serviço ao cidadão.

Saiba mais

Complemente os seus estudos sobre o uso da terceirização no setor


público lendo o texto “O instituto da terceirização e seus impactos na
administração pública”. No texto, é feita uma análise que apresenta aspectos
jurídicos que embasam o uso da terceirização no setor, além de apresentar
vantagens e riscos inerentes ao seu uso (Freitas et al., 2017).

Mas como funciona a obtenção de recursos materiais e serviços para o


Poder Público? Esclareceremos isso no Tema 2.

TEMA 2 – OS CAMINHOS PARA A AQUISIÇÃO: A LICITAÇÃO

Muito se fala de licitação, mas é necessário compreender um pouco mais


a sua natureza. É o que tentaremos fazer de forma sucinta a seguir.

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2.1 Conceito e finalidade da licitação

Nas empresas estatais e autárquicas, como também no serviço público


em geral, diferentemente da iniciativa privada, as aquisições de qualquer
natureza obedecem à legislação. Obviamente a iniciativa privada não ignora a
legislação ou comete ilegalidades, mas no Poder Público ela é restritiva. Se não
houver legislação adequada, uma atividade normalmente não é realizada.
A Lei n. 8.666, de 21 de junho de 1993, dá o regramento geral para a
obtenção de recursos, contudo, ao longo do tempo o legislador percebeu as
especificidades de determinadas contratações, o que gerou legislação que
contemplasse adequadamente tais demandas.
Surgiram leis como a Lei n. 10.520 (17/07/2002), que detalha a aquisição
por pregão, a Lei n. 12.232 (29/04/2010), voltada para contratação de serviços
de publicidade, ou ainda a Lei n. 12.598 (21/03/2012), que tem como foco a área
de defesa.2
Em essência, a Lei n. 8.666/93 trata das licitações. Mas o que são
licitações?

Procedimento administrativo pelo qual uma pessoa governamental,


pretendendo alienar, adquirir ou locar bens, realizar obras ou serviços,
outorgar concessões, permissões de obra, serviço ou de uso exclusivo
de bem público, segundo condições por ela estipuladas
previamente, convoca interessados na apresentação de propostas, a
fim de selecionar a que se revele mais conveniente em função de
parâmetros antecipadamente estabelecidos e divulgados. (Amorim,
2018, p. 23 apud Mello, 2009, grifo nosso)

Fizemos dois grifos na definição para esclarecer dois pontos bastante


relevantes. Primeiro, um edital de licitação sempre será detalhado e específico,
de forma a não levar a intepretações dúbias que possam comprometer a
capacidade de competição daqueles que se julgarem aptos a participar do
processo. Isso se obtém definindo todas as condições previamente.
Segundo ponto importante, quase um paradigma, é a questão do
resultado. Uma licitação não busca necessariamente o menor preço. Isso é uma
“lenda urbana”. A ideia é buscar o melhor resultado, que pode ser uma
combinação de preço e técnica, ou mesmo só técnica. A regra deverá estar
estabelecida no edital, como define a legislação brasileira.

2 Para ter acesso à legislação, visite o site <http://www4.planalto.gov.br/legislacao/>.


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2.2 Objeto da licitação

Basicamente, há duas possibilidades de objeto, segundo a Lei n. 8.666/93


(Brasil, 1993):

1) Obra/serviço: é toda realização material a cargo da Administração


executada diretamente por seus órgãos ou indiretamente por seus
contratados e legados.
2) Compra: é toda a atividade prestada para a Administração Pública para
o atendimento de suas necessidades ou de seus administrados. O que
caracteriza o serviço e o distingue da obra é a predominância da atividade
sobre material empregado.

No caso de obra ou serviço, a mesma lei que define o objeto ofertado


pelos concorrentes deve seguir estritamente aquilo que estiver previsto em dois
documentos fundamentais:

 Projeto básico: é o conjunto de elementos que define a obra ou serviço,


ou o complexo de obras e serviços objeto da licitação e que possibilita a
estimativa de seu custo final e prazo de execução.
 Projeto executivo: é o conjunto de elementos necessários e suficientes
à execução correta da obra.

No caso das compras, na licitação a Administração deve especificar o


objeto a ser adquirido, indicando a qualidade e a quantidade a ser fornecida pelo
concorrente. A compra pode ser à vista ou parcelada, com entrega total ou
parcial, sempre amparada em contrato bilateral, com obrigações claras,
recíprocas e equivalentes.
A Lei n. 8.666/93 ainda determina que, além do objeto, a licitação de
apresentar a origem dos recursos financeiros que garantirão o pagamento
ao vencedor do certame. Esse cuidado do legislador visa assegurar que órgão
público não vá além de sua capacidade financeira, minimizando os riscos de
endividamento.
Mas quais são os tipos de licitação possíveis?

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2.3 Modalidades de licitação

A legislação brasileira (Brasil, 1993) prevê três tipos de licitação:


concorrência, tomada de preço e convite. Vamos entender as características de
cada uma delas.
Concorrência é própria para contratos de grande porte, com limites
sujeitos a revisões periódicas, em que se admite a participação de outros
interessados. Estes devem comprovar capacidade técnica e idoneidade.
A tomada de preços é a modalidade entre interessados, devidamente
cadastrados, ou que atendam às condições exigidas para o cadastramento até
o terceiro dia anterior à data fixada para recebimento das propostas.
Normalmente, mas não exclusivamente, é mais voltada ao suprimento das
atividades operacionais do ente público.
Finalmente, o convite é a modalidade mais simples, destinada a contratos
de pequeno valor. Consiste na solicitação escrita a pelo menos três interessados
cadastrados no ramo do objeto, para que apresentem suas propostas no prazo
mínimo de cinco dias úteis.
Importante perceber que existe um enquadramento de valor para essas
modalidades, conforme a Tabela 1:

Tabela 1 – Valores máximos por modalidade de licitação

Modalidade Obra/serviço Compra


Convite Até R$ 330.000,00 Até R$ 176.000,00
Tomada de preços Até R$ 3.300.000,00 Até R$ 1.430.000,00
Concorrência Acima de R$ 3.300.000,00 Acima de R$ 1.430.000,00
Fonte: Decreto n. 9.412, de 18 de junho de 2018.

Como você dever ter percebido, o legislador procurou estabelecer regras


que assegurem a legalidade e os princípios constitucionais. Há ainda uma
intencionalidade implícita que diz respeito a criar dificuldades para o
estabelecimento da corrupção, algo combatido em todos os níveis da
Administração Pública e clamado pela população.

TEMA 3 – PRINCÍPIOS DA LICITAÇÃO

A licitação tem uma missão importante:

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Saiba mais

Propiciar igualdade de oportunidades entre aqueles que desejam


contratar com a Administração Pública, nos padrões previamente definidos,
sempre como importante fator de eficiência e moralidade nos negócios
públicos. Vejam aqui a conexão com os princípios constitucionais.

As licitações, para que atinjam o seu intento, seguem alguns princípios


invioláveis e inegociáveis, segundo Amorim (2018), esses princípios são:

 Igualdade: estabelecido na CF 1988, descarta a discriminação entre seus


participantes, evitando cláusulas que excluam determinados candidatos
em favor de outros.
 Publicidade: princípio dominante em todas as etapas do processo
licitatório. Não pode existir licitação sigilosa.
 Probidade administrativa: entende-se por honestidade de proceder ou
a maneira criteriosa de cumprir todos os deveres que são atribuídos ou
cometidos por força de lei.
 Procedimento formal: significa que a licitação está vinculada às
prescrições legais que regem em todos os seus atos e frases. Não só a
lei, mas também o regulamento, as instruções complementares e o edital
pautam o procedimento da licitação.
 Sigilo na apresentação das propostas: princípio que busca preservar a
competitividade da licitação, impedindo que determinado candidato
conheça a proposta de seu concorrente, evitando a obtenção de
vantagens indevidas, afrontando o princípio da igualdade.
 Vinculação ao instrumento convocatório (edital): significa dizer que a
Administração e os licitantes ficam sempre adstritos aos termos do pedido
ou do permitido no edital.
 Julgamento objetivo: o julgamento deve se apoiar no confronto direto e
objetivo entre o que foi pedido no edital e o que foi ofertado pelos
proponentes. Deve levar em consideração o interesse do serviço público
e os fatores de qualidade, rendimento, eficiência, durabilidade, preço,
prazo e financiamento.
 Adjudicação compulsória ao vencedor: vencida a licitação, nasce para
o vencedor, o direito subjetivo à adjudicação, isto é, a atribuição de seu

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objeto a que foi classificado. A Administração não pode atribuir esse
direito a outrem, a não ser em caso de desistência do primeiro vencedor.

Ao seguir esses princípios, o Gestor Público assegura que a legalidade


do processo licitatório não será questionada e que o foco da licitação, que é obter
algo para o poder público, será alcançado.
A Lei. n. 8.666/1993 define que a finalidade precípua da licitação é obter
o seu objeto, ou seja, uma compra, uma alienação, uma locação, uma concessão
ou uma permissão, nas melhores condições para o Poder Público.

Saiba mais

O objeto deve ser clara e convenientemente definido no instrumento


convocatório (edital), sob pena de dificultar ou até mesmo impedir a execução
do consequente contrato.

Mas de nada serviria uma licitação se não houvesse por trás dela a
intencionalidade de obter alguma melhoria para o cidadão ou para o próprio ente
público. Portanto, vamos falar um pouco sobre resultados e como consegui-los.

TEMA 4 – GESTÃO DA CADEIA DE VALOR E GOVERNANÇA PARA


RESULTADOS

Governança para Resultados é uma expressão que tem ganhado


relevância no contexto da Administração Pública. Uma boa gestão não depende
apenas de esforço e intenção para obter bons resultados. É necessário domínio
de técnicas e de conhecimentos específicos.

Saiba mais

No setor público, bons resultados são aqueles que atendem demandas,


interesses e expectativas dos beneficiários, que podem ser dos cidadãos ou das
organizações. Importante ressaltar que, nesse caso, bons resultados devem
criar valor público.

Amorim (2018) alerta que esses resultados precisam que a ação


governamental seja realista, desafiadora e sustentável. Isso não é simples. É
necessário combinar arranjos para que essas ações possam ser implementadas
e isso envolve intrincadas combinações de políticas, programas, projetos e

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organizações. Não é difícil perceber a grande necessidade de controle por meio
de mecanismos de monitoramento e avaliação de resultados.

Saiba mais

Bons resultados têm maior chance de serem obtidos se houver um


rigoroso cumprimento daquilo que foi planejado. Dada a complexidade do
ambiente público, é muito fácil que isto não aconteça. É esse risco que exige
sofisticados mecanismos de controle.

Em 2009, o Governo Federal, por meio do Ministério do Planejamento,


emitiu o Guia referencial para medição de desempenho e manual para
construção de indicadores que nos ajudará a compreender essa questão da
modelagem como ferramenta de apoio à gestão. O documento mostra que o uso
de modelos de gestão para auxiliar o gestor público. Os modelos são recursos
analíticos que representam a realidade por meio de um conjunto de variáveis
mensuráveis por meio de indicadores (Brasil, 2009).
Como a realidade é um todo complexo, a escolha do conjunto de variáveis
é essencial para aproximar um determinado modelo dessa realidade. Isso
demonstra que um modelo sempre será limitado, mas a escolha das variáveis
reduzirá essa limitação. O segredo é excluir o que não é importante e incluir
o relevante.
Uma característica de um bom modelo é que ele tem em seu âmago
atributos essenciais que o tornam dinâmico, abrangente e multidimensional.
Surge assim a indicação do uso do “Modelo dos 6Es do Desempenho” para a
área de logística Pública.
Mas, antes, precisamos definir o que vem a ser “desempenho”. Segundo
o Brasil (2009) o desempenho pode ser compreendido como “esforços
empreendidos na direção de resultados a serem alcançados”. Em outras
palavras, nessa mesma obra, a Secretaria de Gestão afirma que desempenho é
“a atuação de um objeto (uma organização, projeto, processo, tarefa, etc.) para
se alcançar um resultado”.

TEMA 5 – O MODELO DOS 6ES DO DESEMPENHO

O modelo proposto em Brasil (2009) sugere seis categorias de


indicadores, relacionados às dimensões de esforço e resultado. Cada uma
dessas categorias está associada a algum elemento da cadeia de valor (CV).

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Esses elementos cobrem a atuação da Administração Pública da obtenção dos
recursos até a geração do impacto social pretendido. Cada um desses elementos
que compõem a CV contribui de alguma forma para o resultado. Veja a Figura 1
para compreender essas relações.
Observando a Figura 1, é facilmente perceptível a possibilidade de fazer
uma analogia com um processo de transformação, típico da indústria. Entram
recursos que são processados de forma a se transformarem em
produtos/serviços que devem gerar impacto na sociedade. Indicadores
estrategicamente escolhidos para cada um desses elementos podem e devem
levar a resultados cada vez melhores. É importante que os indicadores tenham
aplicabilidade.

Saiba mais

Construir uma matriz de indicadores e coletar os seus dados gera


desembolsos. Portanto, a análise dos indicadores deve disparar processos
decisórios que gerem resultados, caso contrário, são apenas um custo
desnecessário.

Figura 1 – Cadeia de valor, suas contribuições e os 6Es do desempenho

EFICIÊNCIA
Dimensões
EFICÁCIA EFETIVIDADE
de Resultado

AÇÕES
PRODUTOS
INSUMOS Ética, poder, cultura, IMPACTOS
E/OU SERVIÇOS
Inputs processos, atividades, Outcomes
outputs
organizações
 Quais são os  Quais são as ações,  Quais os produtos/  Quais mudanças os
recursos processos, projetos serviços gerados? produtos/serviços
necessários para executados?  Quantidade de trazem para os
gerar os produtos/  Tempo médio de produtos/serviços? beneficiários e a
serviços ciclo do processo?  Qualidade do sociedade?
estabelecidos?  Qual o custo do produto/serviço?
 Quantidade de processo?
recursos
necessária?
ECONOMICIDADE EXECUÇÃO
Dimensões
de Esforço
EXCELÊNCIA

Fonte: Baseado em Brasil, 2009.

Construir uma matriz de indicadores exige conhecimento profundo do


processo, sabendo o impacto que cada variável medida tem no resultado. Isso
já demonstra que não haverá uma receita pronta para indicadores. Cada
processo, produto ou organização é uma realidade distinta, com necessidades
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igualmente distintas. Sendo assim, vamos conhecer cada um desses “Es” do
desempenho, com base em Brasil (2009).

5.1 Dimensões de esforço

 Economicidade: está associado ao conceito de obter o máximo de


recursos, gastando o mínimo possível, mas sem abrir mão da quantidade
e qualidade exigida. Esses indicadores têm aplicação comum nas áreas
de suprimentos.
 Excelência: é a conformidade dos recursos aos critérios e padrões
estabelecidos como requisito pelo ente público. A presunção é de que a
qualidade dá melhores condições à execução, obtendo mais
economicidade. Podem ser encontrados no Instrumento de Avaliação da
Gestão Pública (IAGP)3;
 Execução: são indicadores usados para avaliar a adequação de
processos, projetos e planos de ação ao que foi estabelecido no
planejamento. Podem ser encontrados no monitoramento das ações de
PPA4, por exemplo.

5.2 Dimensões de resultado

 Eficiência: é a relação entre os recursos consumidos e os outputs


(produtos/serviços) gerados com eles. São o melhor uso possível dos
recursos disponibilizados para um determinado fim.
 Eficácia: é a quantidade e qualidade de outputs (produto/serviços)
entregues aos beneficiários do ente público. Se eficiência está associada
aos recursos consumidos, eficácia está associada ao resultado
produzido. Indicadores de eficácia podem ser definidos por meio da Carta
de Serviços do ente público.
 Efetividade: medem o impacto gerado pelos outputs (produtos/serviços)
no espaço/tempo (num determinado lugar, num determinado momento),

3 O Modelo de Excelência da Gestão Pública é a representação do sistema constituído de oito


partes integradas (Critérios) e interatuantes que orientam a adoção de práticas de excelência em
gestão com a finalidade de levar as organizações públicas brasileiras a padrões elevados de
desempenho e qualidade em gestão.
4 O Plano Plurianual (PPA) é um instrumento previsto no art. 165 da Constituição Federal,

destinado a organizar e viabilizar a ação pública, com vistas a cumprir os fundamentos e os


objetivos da República. Por meio dele, é declarado o conjunto das políticas públicas do governo
para um período de 4 (quatro) anos e os caminhos trilhados para viabilizar as metas previstas.
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tendo reflexo direto no grau de satisfação do público alvo e no valor
agregado produzido e percebido por esse mesmo público alvo.
Indicadores de efetividade podem ser encontrados na dimensão
estratégica do Plano Plurianual (PPA).

Saiba mais

Obviamente que a aplicação do modelo requer um maior aprofundamento,


que pode ser obtido com uma leitura minuciosa do Guia referencial para medição
de desempenho e manual para construção de indicadores, do Ministério do
Planejamento5.

NA PRÁTICA

Em 2017, decorridos 24 anos da publicação da Lei n. 8.666/1993, os


procedimentos relativos à fase de pesquisa de preço pouco evoluíram. O
Governo Federal não contava com uma ferramenta por meio da qual pudesse
balizar os preços. Isso inviabilizava a comparação dos preços pagos com os
praticados no mercado. A maioria dos gestores de compras contava com
pesquisas de preço enviadas diretamente ao mercado, o que gerava distorções
acentuadas e extrema morosidade.
Outra alternativa era convívio com o uso de ferramentas de software de
terceiros (na maioria das vezes, muito onerosas), com poucas garantias de real
funcionamento, que pouco agregavam ao processo de compras públicas.
Então, o Governo Federal, por meio do Ministério do Planejamento6, criou
o Painel de Preços, uma ferramenta livre e gratuita, para acesso à pesquisa de
mercado, análise e comparação de preços de referência para contratações
públicas.
Hoje, a ferramenta tem uma média de 6.100 acessos diários, facilitando
muito os processos de licitação e a diferença no desempenho dos processos é
brutal.

5 O guia pode ser baixado em


<http://www.gespublica.gov.br/sites/default/files/documentos/guia_indicadores_jun2010.pdf>.
6 Atualmente, a ferramenta está sob responsabilidade do Ministério da Economia.

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Saiba mais

Leva-se aproximadamente sete minutos para concluir uma pesquisa de


preços, o que antes da ferramenta era feito entre trinta e sessenta dias (você
não leu errado, dias viraram minutos).

A ferramenta foi criada com foco nos seguintes públicos: servidores e


agentes públicos que atuam na área de compras públicas; órgãos de controle
(TCU e CGU) e sociedade em geral. Em outras palavras, toda a sociedade pode
se beneficiar do uso da ferramenta.
O painel de preços está disponível desde 2017 no endereço
<http://paineldeprecos.planejamento.gov.br>, é de livre acesso e totalmente
gratuito. O sistema oferece duas áreas de análise de preço: uma para matérias
e outra para serviços. O que facilita consideravelmente a interface.
Uma ferramenta altamente inovadora, que permite realizar em minutos um
levantamento de preços em compras públicas, superando e aprimorando rotinas
inadequadas que se repetiam por mais de 20 anos.

Saiba mais

Case completo disponível em:


<http://repositorio.enap.gov.br/handle/1/4147>. Acesso em: 31 jan. 2020.

FINALIZANDO

Quando abordamos o Tema 1 desta aula, fizemos uma rápida análise dos
objetivos da CS, basicamente descritos pelas palavras parcerias, riscos,
resultados, informações e diferença. Para que esses objetivos sejam
alcançados, a CS precisa ser estruturada de modo a criar valor para todos. Um
dos caminhos é a terceirização. As PPP (Parcerias Público Privadas), as
terceirizações e o outsourcing mostram que o poder público tem entendido o
recado da sociedade: precisa ficar mais enxuto e buscar competências para a
execução das suas atividades.
O Tema 2 faz uma introdução aos processos licitatórios, numa clara
intenção de sintetizar a complexidade que envolve o assunto.
A licitação precisa estar amparada por características que assegurem a
sua legalidade e o cumprimento irrestrito dos princípios constitucionais, para isso
ela tem seus próprios princípios, analisados no Tema 3.

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No Tema 4, aborda-se a necessidade do uso de modelos de gestão
baseados no controle de variáveis importantes, cujo controle pode levar a
decisões positivamente impactantes para a geração de valor.
Finalmente, no Tema 5, apresentamos o modelo dos 6Es do desempenho
amplamente usado na gestão pública em função de sua simplicidade e
reconhecida aplicabilidade.

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REFERÊNCIAS

AMORIM, Victor Aguiar Jardim de. Licitações e contratos


administrativos: teoria e jurisprudência. 2. ed. Brasília: Senado Federal, 2018.
275 p. Oordenação de Edições Técnicas. Disponível em:
<https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/547165/licitacoes.pdf?seq
uence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 31 jan. 2020.

BRASIL. Lei n. 8666, de 21 de junho de 1993. Brasília: DOU, 21 jun. 1993.

_____. Ministério do Planejamento. Secretaria de Gestão. Guia referencial para


medição de desempenho e manual para construção de indicadores.
Brasília: MP, 2009. 113 p.

_____. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria de Logística


e Tecnologia da Informação. Relatório de Diretrizes aos Planos de Gestão de
Logística Sustentável. ICLEI – Governos Locais para a Sustentabilidade (Org.).
Brasília: MP, 2013.

ESCOLA Nacional de Administração Pública (ENAP). Painel de preços:


Inovação na estimativa de preços em compras públicas. 2017. Disponível em:
<http://repositorio.enap.gov.br/handle/1/4147>. Acesso em: 31 jan. 2020.

FREITAS, J. P. B. de et al. O instituto da terceirização e seus impactos na


administração pública. 2017. Disponível em:
<https://jus.com.br/artigos/62154/o-instituto-da-terceirizacao-e-seus-impactos-
na-administracao-publica>. Acesso em: 31 jan. 2020.

GURGEL, F. do A.; FRANCISCHINI, P. G. Administração de materiais e do


patrimônio. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2013.

LAURINDO, A. M.; TEIXEIRA, A. V. A logística na administração pública:


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LINS, M. I. A.; DUDA JUNIOR, J. da S.; CUNHA, M. X. C. da. Terceirização de


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17
2016, p. 9-12. Disponível em: <http://sbsi2016.ufsc.br/anais/Anais do III
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<http://dx.doi.org/10.15628/holos.2015.2692>. Acesso em: 31 jan. 2020.

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