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Informação tecnológica e
para negócios no Brasil:
introdução a uma
discussão conceitual
Celeste Aída Sirotheau Corrêa INTRODUÇÃO Neste contexto, Pinheiro (1991) afir-
Jannuzzi ma que existe um distanciamento en-
Katia Maria Lemos Montalli Os diversos termos – terceira revolu- tre os serviços de informação e o usuá-
ção industrial, revolução telemática, rio industrial, provavelmente ocasiona-
revolução microeletrônica – que estão do pelo equívoco de disponibilizar os
sendo utilizados para denominar o mesmos padrões de produtos e servi-
momento pelo qual vem passando a ços elaborados para profissionais da
economia mundial, embora encerrem área científica. Além disso, Aguiar
sérias divergências teóricas entre si, (1992) adverte que, no Brasil,
convergem na ênfase que conferem
à informação e ao conhecimento téc- “o conhecimento das necessidades
nico na consolidação das vantagens efetivas de informação dos usuários
competitivas de empresas e nações. é antes um pressuposto do que resul-
A informação deixou de ser apenas um tado de estudos com adequado em-
elemento fundamental na redução das basamento científico; os serviços ofe-
incertezas na tomada de decisões e recidos pecam freqüentemente por
vem se transformando em fator de falta de objetividade, a oferta é mal
produção e de sinergia empresarial. conhecida; a contribuição efetiva dos
A informação precisa, no momento técnicos especialistas na elaboração
oportuno, atua como fator crítico para de produtos e serviços é acanhada
o sucesso e a sobrevivência das em- etc”. (Aguiar, 1992:92)
presas nesta era de globalização eco-
nômica. A falta de processos estruturados de
coleta de informações sobre tendên-
No Brasil, curiosamente, ainda que cias e preferências dos consumidores,
não haja dúvidas quanto ao valor es- de alternativas tecnológicas para pro-
tratégico da informação e quanto à di- dução de bens de consumo, planeja-
versidade e volume de dados produ- mento de marketing aplicados aos pro-
Resumo zidos no ambiente macroeconômico- dutos e serviços informacionais, são
político-social-tecnológico, seu uso de exemplos que dificultam uma organi-
Discorre-se que, apesar do valor estratégico forma eficiente e eficaz não se encon- zação qualitativa da informação.
da informação, sua utilização de forma tra plenamente consolidado. As infor-
eficiente e eficaz não está plenamente mações produzidas e/ou disponibiliza- Montalli (1994) pondera que as infor-
consolidada no Brasil. Refere-se à falta de mações precisam estar corretamente
das no país, de extrema importância
consenso no uso de conceitos e
terminologias relacionados com a para o desenvolvimento econômico, organizadas para que a indústria na-
informação para indústria/empresas, não são utilizadas pela maior parte das cional possa capacitar-se para o nível
focalizando, principalmente, a informação micros, pequenas e médias empresas, de competição que ora se apresenta.
tecnológica e informação para negócios. Esta competitividade é entendida por
que compõem, segundo Reis (1994),
Apresentam-se termos e conceitos
referentes à indústria, tecnologia e negócios a chamada força social da economia. Coutinho & Ferraz (1995:18) como “a
recuperados na literatura. Trata-se de uma Travesso Neto (1994) afirma que as capacidade da empresa de formular e
contribuição para os estudos conceituais da grandes empresas, devido à sua es- implementar estratégias concorren-
área de informação tecnológica e para ciais, que lhe permitam conservar, de
trutura, são as que sempre conse-
negócios no Brasil.
guem acessar aquilo que precisam forma duradoura, uma posição susten-
saber, pois o pequeno empresário, tável no mercado”. Segundo os auto-
Palavras-chave
além de desconhecer o de que neces- res, esta competitividade pode ser
Informação referente à indústria/empresa; sita, não sabe nem mesmo onde pro- entendida como a produtividade das
Termos; Conceitos; Informação tecnológica; curar as informações que subsidiem empresas diante da política governa-
Informação para negócios. mental, comportamento da sociedade,
o direcionamento de suas atividades.
Informação tecnológica e para negócios no Brasil: introdução a uma discussão conceitual

recursos naturais e construídos etc. INFORMAÇÃO, TECNOLOGIA E processamento, produção e distribui-


que lhes garantam a permanência no NEGÓCIOS ção da informação. O autor menciona
mercado. ainda a ciência da informação, que se
A ausência, apontada por Cysne apresenta com múltiplas interpreta-
Sobre a forma de promover a capaci- (1996), de um consenso terminológi- ções que incluem informação da ciên-
dade das empresas, conforme refe- co é uma conseqüência das dificulda- cia, ciência da informação e bibliote-
rem-se os autores, destaca-se a afir- des em se categorizar o enorme volu- conomia, ciência da informação e
mação de Montalli (1994:165), que se me de informações geradas no dia-a- computação.
posiciona dizendo que “qualquer seg- dia, além da possibilidade de uma
mento do setor produtivo alcança os mesma informação atender a diferen- Assim, é neste contexto de associa-
níveis de qualidade requeridos pelo tes interesses. Apesar dos esforços, ção que tecnologia e negócios se
processo de competitividade, já esta- a grande diversidade de aplicações de apresentam junto com informação
belecidos no Brasil, se fundamentado conceitos e termos tem resultado em como um termo composto que identi-
em informações confiáveis, precisas significativo ruído comunicacional, in- fica, dentro de uma área maior de co-
e com valor agregado”. terferindo na fluidez necessária ao pro- nhecimento, um nicho de atuação im-
cesso. Mas, eliminar ruídos implica, portante e necessária para a compe-
O conhecimento da existência de in- antes de tudo, que os envolvidos es- titividade da indústria/empresa. A com-
formações que subsidiem o processo tejam falando “a mesma língua”, ou preensão conceitual dos termos infor-
de tomada de decisão, de quem a pro- seja, que termos e conceitos utiliza- mação tecnológica e informação para
duz, de sua disponibilização, da for- dos na comunicação sigam basica- negócios depende diretamente do en-
ma como utilizá-las, pode ser fator mente um padrão. tendimento conceitual que se tem so-
determinante para o posicionamento bre tecnologia e negócios.
do setor industrial no mercado. Mas, No processo de busca de um padrão
para isso, Aguiar (1991) ressalta que terminológico, conceituar informação Ciência, tecnologia e negócios são as
as decisões devem ser subsidiadas tem se apresentado como árdua tare- palavras de ordem no mundo atual,
por informações adequadas que con- fa para os estudiosos em geral. De que formam o tripé da competitivida-
tribuam para torná-las menos subjeti- acordo com Fernández-Molina (1994), de global. A compreensão do conteú-
va e, conseqüentemente, reduzindo as inúmeros conceitos têm sido propos- do representado em cada um dos ter-
incidências de riscos. tos na tentativa de distinguir a infor- mos é primordialmente importante
mação de outros conceitos similares para o entendimento das relações en-
Menou (1995) pondera que a ligação como dados, inteligência, mensagens, tre si, com outros termos e com o meio
entre informação e seus benefícios é entendimentos, signos e conhecimen- ao qual se aplicam.
fácil de ser traçada, quando conside- to. Ele também pondera que, apesar
ra-se que estão disponíveis e acessí- da diversidade de entendimentos, “é Ciência e tecnologia são termos que
veis. Mas, para essas informações possível se estabelecer uma clara dis- representam conceitos extremamen-
estarem disponíveis e acessíveis, con- tinção entre dados, informação e co- te próximos, que levam a perguntas
forme Montalli (1994), é necessário nhecimento: os dados são informação como qual surgiu primeiro: a ciência
que estejam corretamente organiza- potencial, que somente são percebi- ou a tecnologia? De acordo com
das. A organização implica dispor or- dos por um receptor se forem conver- Ziman (1978), a resposta depende do
denadamente as parte de um todo e, tidos em informação e esta passa a contexto enfocado, pois existem si-
neste caso, este todo se caracteriza converter-se em conhecimento no tuações em que a técnica precede a
pela informação como área de conhe- momento em que produz uma modifi- ciência; outras, em que uma nova tec-
cimento. cação na estrutura de conhecimento nologia nasce de uma série de desco-
do receptor”. (Fernández-Molina, bertas motivada pela curiosidade;
Assim, a discussão sobre a organiza- 1994:328) existem, também, situações em que
ção das informações, portadoras de a técnica se desenvolve próxima e pa-
conhecimento, que contribuem para o Kaye (1995) afirma que a percepção ralela com a ciência pura; e casos em
aumento da competitividade das em- da informação acontece de acordo que a prática e a teoria ficam isoladas
presas, leva-nos a refletir sobre outro com o objetivo ao qual se propõe. No por muito tempo, até um momento de
fato também muito significativo: termi- contexto de uso e organização da in- recombinação frutífera.
nologia adotada na área. No Brasil, a formação, Hayes (1993) ressalta que
falta de consenso sobre uma defini- o termo tem sido usado de forma as- Neste contexto, o conteúdo concei-
ção das tipologias adotadas, segundo sociada com outros termos, resultan- tual atribuído ao termo ciência está
Cysne (1996), tem se traduzido em do em variações semânticas significa- bem sedimentado dentro do universo
dificuldades de trabalhar a informação, tivas. Como exemplo cita a informa- terminológico. Roche (1980:225) con-
no ponto de vista socioeconômico, ção científica e tecnológica, cuja asso- sidera que o termo possui duas for-
como recurso estratégico. ciação aos termos científica e tecno- mas de entendimento, uma concreta,
lógica explicita o teor dos dados que que “denota a comunicação de pes-
envolve esta informação. Outro exem- quisadores científicos”, e outra abstra-
plo é a expressão sistema de informa- ta, que “designa o conjunto das idéias
ção, que focaliza os mecanismos de que resultam da investigação”. Por sua
Informação tecnológica e para negócios no Brasil: introdução a uma discussão conceitual

vez, Japiassu (1979:15) conceitua nharias e as tecnologias biológicas, Longo (1979), por sua vez, além dos
ciência como “o conjunto de aquisi- que denomina de tecnologia tradicio- fins para os quais a tecnologia se des-
ções intelectuais, de um lado, das ma- nal; e as que apenas partilham com a tina, refere-se também ao conheci-
temáticas, do outro, das disciplinas de ciência o seu método, como pesquisa mento implícito no termo, quando en-
investigação do dado natural e empí- operacional e a informática, que de- tende tecnologia como “o conjunto or-
rico, fazendo ou não uso das mate- nomina de tecnologias novas. denado de todos os conhecimentos –
máticas, mas tendendo mais ou me- científicos, empíricos ou intuitivos –
nos à matematização”. Portanto, a Longo (1979) afirma que as tecnolo- empregados na produção e comer-
partir destes exemplos, como em ou- gias são interdependentes, pois a cria- cialização de bens e serviços, não de-
tros existentes, é possível observar ção de novas tecnologias está direta- vendo ser confundida com as instru-
que palavras como investigação, mente relacionada às já existentes. ções elaboradas a partir de tais conhe-
idéias, intelecto e resultados estão Isto pode ser caracterizado quando o cimentos, e destinadas a operaciona-
normalmente explícitas ou implícitas autor considera que a criação e a uti- lizar a produção e comercialização”.
na conceituação de ciência. lização da tecnologia são obtidas por (Longo, 1979:18)
meio de um sistemático encadeamen-
A tecnologia, por sua vez, apresenta to de atividades de pesquisa, desen- Provavelmente, sua ressalva sobre
uma diversidade conceitual resultan- volvimento experimental e engenha- não confundir conhecimento emprega-
te do uso indiscriminado do termo, in- ria. Tal fato poderia ser interpretado do com operacionalização de seus
clusive confundindo-o com o conceito como uma combinação da tecnologia resultados passa pelo pressuposto de
de ciência. Tal situação vivenciada tradicional, engenharia, com tecnolo- não se confundir tecnologia (aplicação
hoje já era fato há quase duas déca- gias novas, métodos científicos. de um conjunto de conhecimentos)
das, quando Rosenblueth (1980) afir- com os produtos ou serviços que dela
mou que havia desconcertante varie- Uma outra questão conceitual a ser venham se originar e que são produ-
dade de modos de entender tecnolo- levantada é a relação que muitas ve- zidos e comercializados para justificar
gia, e exemplificava dizendo que: zes acontece de restringir o entendi- sua existência. Mas, neste contexto,
mento do termo tecnologia a máqui- o autor também ressalta o valor eco-
“O homem da rua confunde muitas nas e equipamentos. Embora, segun- nômico da tecnologia, passível de ser
vezes o receptor de televisão com a do Urdaneta (1992:117), tecnologia, comercializado.
tecnologia que levou à sua produção. etmologicamente, signifique ferramen-
Mais de um estudioso, especialmente tas e máquinas e sua operação. Esta Em geral, a comercialização, ou seja,
nos países de língua inglesa, inclui o teve seu conceito expandido para “in- a compra e venda de tecnologias, de
artesanato na tecnologia. Por exem- corporar o conhecimento implícito no acordo com Longo (1979), tem rece-
plo, o especialista na pré-história fala direcionamento de grupos humanos bido o inadequado termo de transfe-
às vezes da tecnologia da pedra poli- para a obtenção de fins produtivos rência de tecnologia. Esta transação
da. Em português e em outros idio- específicos”. tornou-se uma prática comum, na bus-
mas, porém, dispomos de duas pala- ca da competitividade, entre os paí-
vras, ‘técnica’ e ‘tecnologia’, e sabe- Barreto (1992:13) reforça este posicio- ses considerados em desenvolvimen-
mos distinguir bem os conceitos que namento, ao afirmar que tecnologia to (compra) e os países, geralmente,
designam. Habitualmente, entende-se não significa máquina ou processo de considerados desenvolvidos (venda).
por tecnologia a técnica que emprega produção, representado por plantas, Segundo o autor, este procedimento
conhecimento científico. Por exemplo, manuais, instruções e especificações, comercial com a tecnologia se carac-
distingue-se a técnica da costureira da mas que, na verdade, o termo simbo- terizou, por vezes, pela compra e ven-
tecnologia da indústria da confecção”. liza os conhecimentos que foram utili- da de projetos acabados e de instru-
(Rosenblueth, 1980:186) zados para gerar “a máquina, o pro- ções de uso para o comprador.
cesso, a planta industrial e que permi-
Então, a partir desta situação o autor tem sua absorção, adaptação, trans- Mas, este perfil vem se modificando,
propõe que: ferência e difusão”. pois, conforme Coutinho & Ferraz
(1995:50), atualmente, os padrões
“Um corpo de conhecimentos é uma A tecnologia é o uso do conhecimento mundiais de produção, difusão e co-
tecnologia se, e somente se, (i) é com- para fins aplicáveis. Isto é possível de mercialização de tecnologias, subja-
patível com a ciência contemporânea ser constatado no entendimento centes à competitividade industrial têm
e controlável pelo método científico, e apresentado no “Main Working sofrido mudanças significativas cen-
(ii) é empregado para controlar, trans- Document” da Unisist II (1979:35), tradas em processos e produtos, em
formar ou criar coisas ou processos, conferência intergovernamental pro- uma escala de tempo cada vez mais
naturais ou sociais”. (Rosenblueth, movida pela Unesco, quando conceituam reduzida. De acordo com os autores,
1980:186) tecnologia como “scientific, engineering, essas mudanças se caracterizam por
managerial and other knowledge terem “(a) diminuído o tempo entre
Neste contexto, o autor considera a necessary to produce the goods and grandes descontinuidades tecnológi-
tecnologia sob dois aspectos: as que service needed by society”. (Unisist cas, (b) reduzido o ciclo de vida de
possuem algo em comum com a ciên- II, 1979:35) novos produtos e (c) ampliado a di-
cia, à parte o método, como as enge- versidade de pequenas diferenciações
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de produtos”. De acordo com os auto- guagem. Por sua vez, esta fluidez está • Informação científica e técnica,
res, como aspecto positivo, tais mu- diretamente proporcional a uma uni- informação tecnológica e infor-
danças têm sido, ao mesmo tempo, formização terminológica, que depen- mação científica e tecnológica –
direcionadas para a diminuição de de do consenso de termos e concei- UNISIST II
custos ambientais por unidade de pro- tos praticados na área – neste caso,
duto industrial. da informação referente à indústria/ Informação científica e técnica ou in-
empresa. formação técnico-científica, como
Este novo paradigma de difusão tec- usualmente é traduzida, foi apresen-
nológica, segundo os autores, tem im- INFORMAÇÃO TECNOLÓGICA E tada conceitualmente na Unisist II
posto modificações à economia, INFORMAÇÃO PARA NEGÓCIOS (1979), conferência intergovernamen-
como, por exemplo, mudanças funda- tal promovida pela Unesco, como:
mentais nas estruturas organizacio- A literatura sobre terminologias ado-
nais das empresas. Em suas afirma- tadas na área de informação referen- “The symbolic elements used for
ções, destaca-se que a capacidade te à indústria/empresa é escassa e communicating scientific and
competitiva de uma indústria/empre- de difícil localização. Provavelmente, tecnhnical knowledge, irrespective of
sa tem relação direta com outros fato- como já exposto por outros autores e their nature (numerical, textual, iconic,
res, além do tecnológico, como a or- também por Aguiar (1991), isto ocorra, etc.), material carriers, form of
denação macroeconômica, as infra- porque, na área de informação, não se presentation, etc. It refers both to the
estruturas, o sistema político institu- dispõe de definições universalmente substance, or contents of documents
cional e as características socioeco- aceitas. Assim, apesar da utilização and to their physical existence; the
nômicas dos mercados nacionais. freqüente de termos como informação term is also used to designate both the
em ciência e tecnologia, informação message (substance and form) and its
O aumento significativo da influência científica e tecnológica, informação communication (act).
destes fatores nos negócios, de acor- industrial e tecnológica, informação
do com Kalseth (1996), remete o em- industrial, informação para indústria, A distiction is made when needed
preendimento a desafios como a ne- informação tecnológica e informação between the raw information (facts,
cessidade de orientação para o mer- para negócios, é possível observar a concepts, representations) and the
cado; realização de alianças estraté- falta de harmonização conceitual, ape- documents in which it is recorded”.
gicas e parcerias; decisões de quali- sar da similaridade entre alguns de- (Unisist II, 1979, anexo I, p.3)
dade, traduzindo-se em excelentes les.
oportunidades; conquista de novas Aguiar (1991) apresenta a tradução
áreas de ação de forma competitiva; Além disso, existe ainda a alusão de deste conceito, para a língua portu-
a adoção das regras de qualidade to- que determinado termo é parte de ou- guesa, referindo-o ao termo informa-
tal de seu produto/serviço do início tro, causando, por muitas vezes, a ção em ciência e tecnologia, e o faz
até às mãos do cliente; estar atento negligência no uso de alguns deles. da seguinte forma:
para a forte pressão na redução de Este é o caso, por exemplo, do termo
custos etc. informação para negócios, que con- “A informação em ciência e tecnolo-
forme Borges & Campello (1997), gia (ICT) é constituída de elementos
Neste cenário, para que se possa embora consolidado em outros países, simbólicos utilizados para comunicar
criar e preservar vantagens de um tem sido pouco utilizado no Brasil. Esta o conhecimento científico e técnico, in-
negócio, é imprescindível, segundo situação, conforme as autoras, prova- dependente de seu caráter (numéri-
Coutinho e Ferraz (1995:11), que se velmente decorra do fato de que du- co, textual, icônico, etc.), dos supor-
tenha prospectiva visão do contexto rante algum tempo, no país, o concei- tes materiais, da forma de apresenta-
ao qual está inserido. Porém, neste to aplicado à informação para negócios ção. Refere-se tanto à substância ou
contexto de desafios ou sob qualquer aparecia implícito no termo informa- conteúdo dos documentos quanto à
outro, para se ter esta visão, é neces- ção tecnológica. sua existência material. Também se
sário que se disponha de um sistema emprega este termo ICT para desig-
atualizado de informações que “insti- Assim, com a finalidade de apresen- nar tanto a mensagem (conteúdo e
guem indagações e inovações, emba- tar um quadro geral dos termos e con- forma) quanto sua comunicação
sem estudos e possibilitem compara- ceitos recuperados na literatura, opta- (ação). Quando necessário, distingue-
ções dos nossos resultados com os se por mostrá-los separadamente, se entre informação bruta (fatos, con-
dos nossos competidores”. com tecnologia, indústria e negócios ceitos, representações) e os docu-
definidas como palavras-chave no mentos em que se acha registrada”.
Sob o enfoque, é importante observar critério seletivo de busca. A composi- (Tradução de Aguiar, 1991:8).
que todas as afirmações se fundamen- ção textual mostra-se necessária para
tam em um processo que depende di- uma visão geral dos conceitos termi- Sobre este conceito, é possível cons-
retamente da comunicação entre os nológicos que embasam a discussão tatar que o conteúdo aludido ao termo
pares. A formação de um sistema se deste trabalho. Desta forma, procura- refere-se a toda e qualquer forma de
caracteriza pela inter-relação de suas se apresentar e comentar cada um de- comunicação de conhecimento cien-
partes, que, no caso da informação, les, no enfoque da proposta de cada tífico e técnico. Tal entendimento,
configura-se mediante a fluidez de lin- autor/documento recuperado. embora largamente adotado por insti-
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tuições científicas e governamentais, Sobre esta afirmação, duas questões Assim, selecionada como parte do lar-
é muito abrangente, tornando-o, se- podem ser levantadas em relação ao go contexto da informação industrial,
gundo Aguiar (1991), de pouca utili- seu entendimento sobre desenvolvi- a informação tecnológica é entendida
dade quando aplicado ao planejamen- mento tecnológico de instrumentais. por Matourt (1983) como “is anything
to de sistemas em ICT. Seriam estes relacionados a equipa- that gives acess to such knowledge
mentos ou a processos de aplicação most of which does not flow through
Por sua vez, a informação tecnológi- do conhecimento? Aguiar (1991:8) in- formalised data banks and systems,
ca é apresentada no Main Working terpreta a proposta do autor como and if it does to some extent, it does
Document, da Unisist II (1979:35), “todo tipo de informação que serve de not reach the end user in a palatable
como “is information pertaining to matéria-prima (raw material information) format”. (Matourt, 1983:34)
technology”. É importante destacar ou insumo para a geração de conhe-
que, no mesmo documento apresen- cimentos científicos e de tecnologias”. Os conceitos apresentados pelo au-
tado na Unisist II (1979), apresentam- tor, sem dúvida, são usuais dentro do
se, separadamente, os termos infor- Por sua vez, informação industrial e contexto de informações. Porém, em
mação científica e informação tecno- tecnológica é entendida como a infor- relação à objetividade necessária que
lógica, que esta última é a informação, mação que deve reger as unidades de informação,
exclusivamente, sobre tecnologia. dado o enorme volume de informa-
Conforme o teor do documento, a in- “definitely relates to industrial ções com o qual devem trabalhar, são
formação tecnológica refere-se, prin- development in the broader sense, in conceitos ainda abrangentes para
cipalmente, às informações sobre which the outcome of technological uma organização.
transferência e aquisição de tecnolo- development work, in the form of novel
gia como incremento ao desenvolvi- industrial technologies, is to represent • Informação para indústria e infor-
mento social e econômico. Dessa for- an input among others, the more mação industrial – Kjeld Klintoe
ma, justifica o uso do termo informa- desirable in developing countries, as
ção científica e tecnológica, também indigenous technological development Termos propostos por Kjeld Klintoe,
citado no mesmo documento, como centres are increasingly able to offer bastante citados na literatura, mas
genuine alternatives to imported nem sempre com o sentido original ao
“Scientific information and ‘proven’ technologies, but only again qual foi proposto. Portanto, torna-se
technological information are thus an input among others, where ‘proven’ necessário ressaltar que, conforme o
interdependent, and often carried by technologies long past the R&D stage autor, informação para a indústria “é
the same or similar media – books, are in the vast majority with their weight todo esforço intelectual para estimu-
periodicals, reports, etc. Also, they are of experience and know-how”. lar os administradores e técnicos de
used togheter in development- (Matourt, 1983:33) uma dada empresa, pública ou priva-
catalysing activities. Hence, the da, no sentido de aperfeiçoar suas
phrase ‘Scientific and Technological Como é possível observar, o autor, operações e inovar métodos, proces-
Information’ (STI)”. (Unisist II, 1979:35) neste conceito, procura nomear um sos, produtos e serviços, através da
conjunto de dados resultantes do de- conversão, em resultados práticos, de
Observa-se que, no contexto apresen- senvolvimento tecnológico, sem os toda a forma de conhecimentos, obti-
tado, o termo simboliza mais uma con- atrelar à pesquisa científica. Possivel- dos por qualquer meio”. (Klintoe apud
veniência de uso, do que uma funda- mente, este tipo de informação refe- Aguiar, 1991:8)
mentação conceitual. re-se ao aspecto da tecnologia, co-
mentada por Rosenblueth (1980), Por sua vez, tão referenciada como o
• Informação científica e tecnológi-
quando considera aquelas que ape- primeiro termo na literatura, e não
ca, informação industrial e tecno-
nas partilham o seu método com a menos importante, a informação in-
lógica e informação tecnológica –
ciência, como a pesquisa operacional. dustrial é entendida pelo autor como
Roch Tillette de Matourt.
aquela informação que “é definida
O termo informação científica e tec- Em seu texto, Matourt (1983) como o esforço de coletar, avaliar e
nológica (STI) é entendido por Matourt conceitua informação industrial como tornar disponíveis informações sobre
(1983) como toda informação que: aquela que “offers inputs to industrial o setor industrial e suas operações
planning, pre-investment technology produtivas, gerando dados técnico-
“Related to research and development, selection and acquisition, feasibility econômicos, informações sobre tec-
scientific research and technological studies etc. to industrial management, nologias utilizadas, a estrutura indus-
development, scientific research into engineering and marketing. Its trial, a produtividade setorial, estudo
natural laws and absolute, if revocable destination is anyone with a planning, de viabilidade, dados de investimento
truths, technological development of managerial or operational function in e retorno, implantação de indústrias,
instrumentalities, including industrial industry, whether in an advisory or transferência de tecnologia, dentre
technologies, of relative value to the decision-making capacity”. (Matourt, outros”. (Klintoe apud Aguiar, 1991:8)
needs of man under whatever different 1983:34)
sets of circumstances man may live”.
(Matourt, 1983:33)
Informação tecnológica e para negócios no Brasil: introdução a uma discussão conceitual

É interessante observar que o autor informação científica é todo conheci- Neste contexto, Aguiar destaca, como
tem a preocupação de relacionar os mento relacionado ou resultante de de grande relevância para o planeja-
conceitos com a produtividade indus- uma pesquisa científica, constituindo mento estratégico, a informação rela-
trial, um no ambiente interno da indús- um acréscimo ao entendimento uni- cionada com políticas governamen-
tria, e o outro, no contexto no qual está versal. tais, pois, devido à mutabilidade de tais
inserida. Aguiar (1991) pondera que o políticas, é necessário conhecer as
primeiro conceito (informação para Aguiar adota dois termos propostos informações contidas em planos,
indústria) apresenta-se abrangente, por Kjeld Klintoe: informação para a programas, diretrizes e políticas pro-
dificultando sua aplicação às unidades indústria e informação industrial, para venientes de órgãos governamentais,
de informação, mesmo as mais espe- conceituar as informações cuja refe- para apoiar processos decisórios nas
cializadas. Por sua vez, o segundo rência está relacionada diretamente empresas.
conceito (informação industrial) com- com a indústria. Assim, define a infor-
plementa o primeiro deslocando seu mação para indústria como “o conjun- Por sua vez, a informação industrial é
ponto de observação das informações to de conhecimentos de que a empre- entendida por Aguiar (1991), que usa
referentes à empresa para o contexto sa deve dispor a fim de: algumas palavras de Kjeld Klintoe
global ao qual está inserida. como “o conjunto de conhecimentos
a) facilitar a execução de operações que servem para “fornecer parâmetros
• Informação em ciência e tecno- correntes de natureza administrativa, para a comparação do desempenho
logia, informação para indústria, de produção e de controle; industrial em nível nacional e interna-
informação industrial e a informa- cional, subsidiando, assim, a formula-
ção tecnológica – Afrânio Carvalho b) possibilitar o acompanhamento da ção de políticas e a alocação de in-
Aguiar dinâmica de mercado, para detecção vestimentos públicos e privados, sen-
de oportunidades e ameaças; do usada para analisar as operações
Aguiar (1991) procura categorizar di- industriais segundo as metas defini-
versos tipos de informação que inter- c) permitir a implementação de estra- das para a evolução socioeconômica”.
ferem diretamente nos processos de tégias emergenciais para enfrentar Esta comparação pode ser feita
desenvolvimento científico, tecnológi- problemas conjunturais; exclusivamente entre setores indus-
co, industrial, econômico e social. Para triais entre si ou entre um parque in-
isto, propõe que os conceitos básicos d) subsidiar as atividades de planeja- dustrial regional/nacional com outro de
sejam definidos com base na função mento estratégico; abrangência equivalente. Para possi-
que devem cumprir. Assim, de acor- bilitar análises comparativas de tama-
do com sua proposta, o autor entende e) contribuir para o desenvolvimento nha complexidade e estabelecer polí-
que informação em ciência e tecnolo- tecnológico”. (Aguiar,1991:12) ticas, estratégias e diretrizes de cará-
gia é um termo “empregado para en- ter global para o desenvolvimento de
globar as informações que, além de Neste tipo de informação, quando se setores industriais, faz-se necessário
cumprirem as funções relacionadas refere às informações que suprem as dispor de informações que podem ser
como específicas da informação cien- atividades regulares da empresa, o reunidas em categorias cujas funções
tífica ou da informação tecnológica, autor considera tanto as informações específicas são:
servem ainda para cumprir e apoiar a de origem interna (manuais de servi-
atividade de planejamento e gestão ços, regulamentos, políticas funcionais a) analisar o estágio de desenvolvi-
em ciência e tecnologia: avaliar o re- da organização, estratégias, planeja- mento tecnológico de setores indus-
sultado do esforço aplicado em ativi- mento operacional e estratégico, etc.), triais, individualmente ou em conjun-
dades científicas e tecnológicas e sub- quanto as de origem externa (legisla- to;
sidiar a formulação de políticas, dire- ção trabalhista, fiscal e comercial). Em
trizes, planos e programas de desen- relação ao acompanhamento da dinâ- b) analisar a estrutura, dispersão e
volvimento científico e tecnológico”. mica de mercado, a empresa deve características dos setores industriais;
(Aguiar, 1991:12) acessar informações como oportuni-
dades comerciais, tendências quanti- c) acompanhar o desempenho indus-
Portanto, a informação em ciência e tativas e qualitativas, situações con- trial;
tecnologia é considerada pelo autor junturais, preços, empresas concor-
como aquela que cumpre não somen- rentes, fornecedores alternativos etc. d) identificar o perfil dos problemas
te as funções relacionadas com a in- E por fim, no que diz respeito ao posi- característicos dos setores indus-
formação científica ou tecnológica, cionamento da empresa na tomada de triais”. (Aguiar, 1991:13)
mas também apóia as atividades de decisões, são referenciadas as infor-
planejamento e gestão em ciência e mações que permitam aos dirigentes Este tipo de informação é caracteri-
tecnologia. Tais informações implicam industriais prever, na medida do pos- zada, pelo autor, como descritora do
caracterizar a oferta e a demanda na sível, crises que eventualmente pos- estado tecnológico de uma indústria
área e no estabelecimento de indica- sam surgir, minimizando, dessa forma, ou setor, representada, por exemplo,
dores de desenvolvimento científico e seus efeitos e subsidiar um planeja- por meio da percentagem da receita
tecnológico e estudos especiais. Nes- mento estratégico. bruta aplicada em atividades técnico-
te contexto, o autor considera que a científicas; da existência de um con-
Informação tecnológica e para negócios no Brasil: introdução a uma discussão conceitual

trole de qualidade; do grau de instru- mediante uma análise dos conceitos • Informação tecnológica e informa-
ção de seu quadro de pessoal; da ado- expostos, a enorme variedade de ti- ção para negócios – Katia Maria Le-
ção de programas sistemáticos para pos de informação. Tal fato requer, mos Montalli
a capacitação de pessoal; da capaci- conforme o autor, que cada unidade
dade de aperfeiçoamento e adaptação de informação faça uma segmentação Com a preocupação de situar, mais
de tecnologia para a produção etc. de mercado e defina claramente quais objetivamente, os dados utilizados na
as necessidades de seus usuários- área de informação para indústria/
A análise de estruturas de setores in- alvo. empresas, Montalli (1996) reapresen-
dustriais; seu capital; faixa de fatura- ta o termo informação tecnológica e
mento; número de funcionários; de- • Informação tecnológica – FID introduz o termo informação para ne-
sempenho industrial; e a identificação gócios, nos quais procura expor suas
do perfil de problemas típicos do se- Este conceito foi apresentado pelo competências.
tor industrial, como a aquisição de Comitê de Informação para a Indústria
matérias-primas, processo produtivo e da Federação Internacional de Dessa forma, informação tecnológica
comercialização, são tipos de informa- Documentação (FID), que, segundo é entendida pela autora como “aquela
ções que subsidiam formulação de Alvarez-Osorio (1984), refere-se à que trata da informação necessária,
políticas e alocação de investimentos informação tecnológica como utilizada e da informação gerada, nos
e, portanto, consideradas como infor- “knowledge – technical, economic, procedimentos de aquisição, inovação
mação industrial. Dentro deste enfo- marketing, managerial, social, etc. – e transferência de tecnologia, nos pro-
que, a informação industrial caracteri- wich by its application will further cedimentos da metrologia, certificação
za-se por trabalhar dados que subsi- progress in the form of improvement de qualidade e normalização e nos
diem o desempenho da empresa, en- and innovation”. (Alvarez-Osorio, processos de produção”. (Montalli &
quanto a informação para indústria 1984:14) Campello, 1997:322)
refere-se a dados que trabalham a in-
serção da empresa no mercado. Sobre este conceito, Aguiar (1991) Por sua vez, a informação para negó-
pondera sobre o fato de ele englobar cios, termo introduzido no Brasil pela
Por fim, Aguiar (1991) refere-se à in- todo tipo de informação que colabora autora, a exemplo do termo “business
formação tecnológica como “todo tipo para o desenvolvimento industrial. information” adotado na Inglaterra e
de conhecimento relacionado com o Segundo o autor, isto o torna extre- por outros países, é compreendida
modo de fazer um produto ou prestar mamente abrangente, tornando, prati- pela autora como “aquela que subsi-
um serviço, para colocá-lo no merca- camente, inviável que uma unidade de dia o processo decisório do gerencia-
do”. (Aguiar, 1991:11) informação, mesmo com o mais alto mento das empresas industriais, de
grau de excelência em informação tec- prestação de serviços e comerciais
Neste caso, a informação tecnológica nológica, consiga atender integralmen- nos seguintes aspectos: companhias,
é necessária como insumo para o de- te à sua função de prestar este tipo produtos, finanças, estatísticas, legis-
senvolvimento de pesquisas na área. de informação aos seus usuários-alvo. lação e mercado”. (Montalli & Campe-
Como forma de conhecimento do es- llo, 1997:321)
tado-da-arte (científicos) ou do esta- • Informação tecnológica – Lillian
do-da-técnica (tecnológicos), contribui Maria Araújo de Rezende Alvares É certo que, para a realização de um
para o desenvolvimento tecnológico negócio, os dois tipos de informação,
do setor produtivo e proporciona sub- Alvares (1997), por sua vez, concei- citados pela autora, são igualmente
sídios ao processo de gestão tecno- tua informação tecnológica como “todo necessários, interdependentes e de
lógica. Observa-se que o autor funda- tipo de conhecimento sobre tecnolo- difícil segmentação. Tanto que, no
menta seu entendimento sobre infor- gias de fabricação, de projeto e de Brasil, é comum a inserção de discus-
mação tecnológica no conceito de tec- gestão que favoreça a melhoria contí- sões de mercado, de natureza admi-
nologia apresentado por Longo (1979) nua da qualidade e a inovação no se- nistrativa e tecnológica dentro de um
e também no Main Working Document tor produtivo”. (Alvares, 1997:170) mesmo termo. Mas, em relação à es-
da Unisist II (1979), o que, provavel- pecialização das unidades de informa-
mente, determinou a extrema seme- Em sua proposta, a autora baseia-se ção, trabalhar o volume de dados re-
lhança conceitual entre os termos. em dois referenciais que apresenta ferentes aos dois assuntos é quase
como balizadores de seu conceito: os que inviável. Assim, Montalli (1996),
Aguiar (1991:14) ressalta que a cate- aspectos relativos à informação para ao propor uma definição para cada um
gorização proposta por ele tem “a pre- a inovação e os que tratam a informa- dos termos, visto que procura preci-
tensão de contribuir para a uniformi- ção para as tecnologias industriais sar seus conceitos, teve como preo-
zação de terminologias e para a pa- básicas. Observa-se que sua concei- cupação a especialização e qualida-
dronização conceitual necessárias ao tuação tem como foco os processos de dos serviços de informação. A au-
aperfeiçoamento das iniciativas reali- aplicados para o desenvolvimento do tora sugere, ainda, que informação
zadas no país no campo da informa- setor produtivo. para negócios e informação tecnoló-
ção em geral, bem como da informa- gica, juntas, comporiam o que deno-
ção científica e tecnológica em parti- mina de “informação para empresas”.
cular”. Portanto, é possível constatar,
Informação tecnológica e para negócios no Brasil: introdução a uma discussão conceitual

• “Business information” (Informa- • “Business information” (Informa- No que se refere à informação para
ção para negócios) – Malcolm Stacey ção para negócios) – K. D. C. Vernon negócios, no levantamento realizado
por esta pesquisa, constata-se que
O uso do termo “business information”, Vernon (1984) afirma que, quando se alguns conceitos propostos em outros
originariamente, aconteceu na In- refere ao termo, este é entendido países expressam características que
glaterra, sendo, posteriormente, ado- como published and readily available podem somar o entendimento ne-
tado por outros países. Dessa forma, information, often statistical data, cessário ao termo. O conceito apre-
muitos conceitos foram propostos ao about trade, commerce, manufacture sentado por Stacey e por Vernon
termo, como o de Stacey (1995) que and aspects of the environment rela- contextualiza todo o universo ao qual
o entende como “information about ted to these activities. (Vernon, este tipo de informação se refere, en-
business and industry – in two 1984:4) quanto o conceito proposto por Ken-
complementary respects. First, nington relata o uso ao qual se desti-
information about the organisations O autor refere-se, ainda, ao termo in- na. Neste enfoque, o conceito apre-
and individuals which go to make up formação gerencial como o relaciona- sentado por Montalli se destaca por
the economic life of the world: firms, do a dados financeiros ou operacio- reunir características apontadas em
public bodies, associations, trade nais requeridos por gerentes para to- cada um desses autores.
unions, voluntary organisations, mada de decisão.
enterprises in all fields of activity for A informação para negócios é um ter-
which people work. And secondly, the CONCLUSÃO mo que, em seu uso, no Brasil, obser-
economic setting in which they va-se ainda certa resistência por al-
operate: their markets and their Dessa forma, dentro de avaliação ge- guns segmentos da área de informa-
functions”. (Stacey, 1995:9) ral sobre os termos apresentados pe- ção, pois tem sofrido substituições por
los autores destacados neste artigo, outros termos, também válidos, mas
Portanto, o autor, em seu entendimen- observa-se que muitos conceitos têm com diferenças de função/aplicação.
to, atrela o termo às questões referen- sido propostos visando a facilitar o Mas é importante ressaltar que um
tes ao funcionamento da economia. entendimento e consolidação da área consenso terminológico não passa
Considera ainda, em seu texto, que de informação referentes à indústria/ pela aceitação ou rejeição a qualquer
temas como ciência, tecnologia, legis- empresas. Perante este quadro, é im- termo e conceito praticado na área, e,
lação e gestão são todos partes de portante ressaltar que, em uma eco- sim, pela fundamentação do contexto
serviços de informação para negócios nomia globalizada, não há sobrevivên- e propósito requerido pelo seu uso. A
e indústria. cia, se não houver competência no uso informação para negócios, sob este
da informação, e a falta de consenso aspecto, caracteriza-se como um ter-
• “Business information” (Informa- terminológico no Brasil é concreta e mo inteligível, tanto para os profissio-
ção para negócios) – Don Kennington dificulta este uso. nais da informação quanto para o
mercado que a utiliza.
Kennington (1990), por sua vez, Conceitos muito abrangentes, como o
conceitua business information como de informação tecnológica apresenta- Embora a adoção de uma terminolo-
“is that information required by a do da FID, ou como o apresentado no gia possa não simbolizar vantagens na
commercial firm which assists to carry documento da Unisist II, ou até mes- comunicação entre serviços de infor-
on its business”. (Kennington, 1990:1) mo o conceito proposto por Aguiar, mação e seus usuários, tal fato não se
apesar de bem fundamentados nos torna verdadeiro quando se trata de
O autor, neste contexto, procura ca- conceitos de tecnologia, concorrem qualidade na organização de acervos
tegorizar as necessidades inerentes a para um amplo campo de idéias que e recursos das unidades de informa-
pequenas empresas, aplicáveis às dificultam uma definição mais objeti- ção. Nesta discussão, o consenso ter-
grandes empresas, como: técnico- va do termo. minológico na área de informação re-
operacional (inovações, novas técni- ferente à indústria/empresa, que inclui
cas, processos, desenvolvimento de Assim, por ser a informação tecnoló- a informação tecnológica e para ne-
produto etc.); marketing-operacional gica um termo largamente aceito e gócios, justifica-se pela qualidade no
(toda informação relacionada à clien- usado no Brasil, principalmente para uso da informação como insumo para
tela, análise de mercado, concorrên- fins didáticos e de estudo, torna-se a competitividade brasileira e na con-
cia, vendas, propaganda etc.); restri- importante que seu conceito, como solidação das redes de informação,
ção-operacional (regulamentações e exposição de idéias, apresente-se fundamentadas na especialização.
legislação em geral); função-opera- mais preciso, talvez até na forma de
cional (fontes financeiras, administra- uma definição. Neste contexto, o con-
ção de recursos humanos etc.); fato- ceito apresentado por Montalli reúne
res macroambientais (política econô- as características necessárias para um
mica, situação social etc.) entendimento conciliatório das diferen-
ças semânticas entre o termo pratica-
do no Brasil e o praticado em outros
países, visando a maiores facilidades
na recuperação da informação.
Informação tecnológica e para negócios no Brasil: introdução a uma discussão conceitual

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