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Estratégias de Marketing para produtos de alta tecnologia.

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Tales Andreassi
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Marketing para produtos de Alta Tecnologia

ESTRA TÉGIAS DE
MARKE TING PARA
PRODU TOS DE ALTA
TEC NOLOGIA:
O CASO HEWLETT-PACKARD-COMPAQ DO BRASIL

1. APRESENTAÇÃO
tualmente o setor de (1999) e Parasuraman e Colby Nesse sentido, espera-se que o tra-

A
alta tecnologia vem (2001), muitas empresas do setor de balho possa gerar subsídios para a
ganhando uma im- tecnologia não tiveram sucesso por tomada de decisão por parte dos
portância estraté- utilizarem técnicas e estratégias de empreendedores do setor. Acredita-
gia, seja em função marketing provenientes de mercados se que a partir da formulação de
das cifras cada vez com características diferentes. adequadas estratégias mercado-
maiores que mo- lógicas possam ser criados novos
vimenta, seja paradigmas e empreendimentos de
em função da O objetivo deste trabalho é contri- sucesso. Muitas vezes, boas oportu-
alta possibili- buir para o entendimento do mer- nidades são desperdiçadas devido a
dade de expansão e conquista de cado de alta tecnologia e suas pe- posicionamentos estratégicos
novos mercados. Contudo, se este culiaridades, através do estudo de errôneos e a táticas mal elaboradas.
é um mercado que embute muitas caso de uma multinacional ameri-
oportunidades e lucratividade, tam- cana com destacada posição no
bém requer técnicas cada vez mais setor de alta tecnologia (Hewlett- Ressalta-se que não será objetivo do
adequadas e específicas, em função Packard-Compaq), tendo como va- trabalho o aprofundamento teórico
principalmente de seu ciclo de vida riáveis de análise as estratégias em- dos temas tratados, mas apenas
peculiar e dos comportamentos e pregadas, o comportamento de montar um quadro de referência
expectativas que gera em seus con- compra dos clientes e o ciclo de que facilite o entendimento do
sumidores. Segundo Mckenna vida dos produtos do setor. leitor.
36 REVISTA DA ESPM– S E T E M B R O / O U T U B R O D E 2003
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2. REVISÃO TEÓRICA Além de atributos óbvios como quali-


dade e comprometimento, as empresas
2.1. O MERCADO que operam nesse mercado esperam
DE ALTA TECNOLOGIA obter parceiros capazes de oferecer uma
solução padronizada o bastante para
Para Mckenna (1999), “os critérios do oferecer economia de escala, mas que
consumidor para uma absoluta satis- ao mesmo tempo seja customizada,
fação com as organizações fornecedo- atendendo às reais necessidades da em-
ras, seja uma empresa ou um órgão pú- presa. Ou seja, desejam uma solução
blico, se tornaram a tal ponto rigoro- de alto valor custo-benefício, geradora
sos que parecem irreais se compara- de vantagem competitiva, de fácil ab-
dos aos padrões do passado” sorção pelos funcionários e de baixo
(MCKENNA, 1999, p. 34). Nesse con- impacto para o consumidor final, no que
texto podemos concluir que são as in- diz respeito à complexidade e operacio-
dústrias, em sua constante busca por nalização no uso. Encontrar esse ponto
competitividade, as grandes geradoras de equilíbrio é o desafio diário para pe-
de demanda por novas tecnologias. quenas empresas que buscam obter su-
cesso neste mercado, bem como para
grandes corporações já estabelecidas.

t Omuito
mercado de alta tecnologia está
atrelado à questão da inovação No mercado de alta tecnologia a custo-
tecnológica. Para Drucker (1987), “é mização ocorre em um amplo campo
uma distinção crucial. Em uma era de de ação que pode ir desde adaptar ma-
competição acirrada, inovar se tornou quinarias até a criação de um avançado
uma prioridade para empresas,
corporações e nações”. e complexo sistema de informações. A
diferenciação está em realizar tais tare-
fas de forma inovadora, operacionalizar
invenções tornado-as úteis do ponto de
vista socioeconômico para os clientes e
para a sociedade em geral.

Além disso, o mercado de alta tecnologia


está muito atrelado à questão da inova-
ção tecnológica, pois é esta exatamente
sua base. Para Drucker (1987), “é uma
distinção crucial. Em uma era de com-
petição acirrada, inovar se tornou uma
prioridade para empresas, corporações
e nações” (DRUCKER, 1987, p. 49).

Nos próximos tópicos serão abordadas


as formas como os clientes absorvem tais
inovações e como as estratégias podem
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ser empregadas para evitar que idéias que


despendam grande esforço e investimen-
to em pesquisa não se tornem fracassos. yw

S E T E M B R O / O U T U B R O D E 2003–REVISTA DA ESPM 37
Marketing para produtos de Alta Tecnologia

2.2. O CICLO DE VIDA DE v INOVADORES cos. Não se entusiasmam pela tecnologia como os ino-
vadores, e nem procuram obter benefícios de forma re-
ADOÇÃO DA TECNOLOGIA O primeiro segmento da curva de adoção é composto
volucionária, como os adeptos iniciais. Convencer es-
pelos consumidores denominados inovadores, os clien-
ses consumidores da pertinência e da necessidade da
tes de tudo que é realmente novo. São impulsionados
O ciclo de vida de adoção da tecnologia pelo prazer de ter e testar o que é considerado como a
mudança é um grande desafio, pois são pessoas que
apreciam a estabilidade de seu sistema, evitando a todo
é um modelo que demonstra como os última palavra em inovação. É normal que fabricantes
custo interferências. Quando finalmente resolvem mu-
indivíduos reagem às inovações, prin- forneçam gratuitamente seus novos produtos a este pú-
dar a tecnologia a seu dispor, buscam pelo fornecedor
blico, que desempenha um papel de extrema importân-
cipalmente as descontínuas. cia no processo de criação e adaptação de novas
que transmita maior confiabilidade. Este geralmente é
o líder de mercado, mesmo que seu produto não seja a
tecnologias e serviços, uma vez que se propõem a testá-
melhor inovação disponível.
los, mesmo durante a fase de desenvolvimento, apon-
De acordo com o modelo proposto
tando defeitos e sugerindo melhorias. Porém, poder que
por Moore (1991), as inovações este grupo detém é a capacidade de influenciar o res- v MAIORIA TARDIA
descontínuas são novos produtos e/ tante do mercado. Se desaprovam um novo produto, as A maioria tardia é composta por clientes pessimistas
ou serviços que requerem do usuário alternativas são desistir da idéia ou retrabalhar. quanto à possibilidade de se obter algum valor decor-
rente do investimento em novas tecnologias, e só o rea-
final e do mercado uma mudança sig-
lizam sob pressão de serem deixados para trás pelo res-
nificativa do seu comportamento, em v ADEPTOS INICIAIS tante do mercado. Ao mesmo tempo, esses clientes re-
Os adeptos iniciais são consumidores que arriscam
troca de mais e melhores benefícios. presentam para as inovações uma grande oportunidade
trocar um produto ou serviço estabelecido por algo
inexplorada de novos clientes e um grande desafio para
Em suma, trata-se de quebrar novo, com base na possibilidade de obter maior van-
os fornecedores que optam por servi-los, já que o segre-
paradigmas, como mudar de um car- tagem competitiva. É um grupo composto por pes-
do para se obter sucesso com este grupo é simplificar o
soas que buscam, de forma revolucionária, eficiên-
ro movido a gasolina para outro cujo produto, transformando-o em mercadorias funcionais.
cia e rapidez de resultados e correm riscos para tanto.
combustível é a eletricidade.
Nestes dois estágios iniciais do ciclo, encontramos
consumidores que possuem uma característica co-
v RETARDATÁRIOS
Já os retardatários constituem atualmente uma mi-
Nesse momento o cliente faz uma mum muito forte: querem ser os primeiros a usufruir
noria, pois combatem as inovações, não aceitando
análise dos riscos e benefícios ofere- a inovação, apesar das motivações pessoais diferen-
os novos paradigmas impostos pela evolução
tes. Assim, o inovador deseja explorar a tecnologia,
cidos pela novidade e, de acordo tecnológica. São críticos negativos e não são enca-
já o adepto inicial busca usufruir os benefícios antes
com seu grau de aptidão à mudan- do restante do mercado.
rados como clientes potenciais.
ça, podem ser classificados em cin- Os cinco estágios do ciclo, constituídos por seus dife-
co grupos, dos Inovadores até os Re- v MAIORIA INICIAL rentes clientes e perfis, devem ser trabalhados etapa
Entre os denominados de maioria inicial, encontram-se após etapa, fornecendo a base estratégica de mar-
tardatários. Entre esses dois extremos
os consumidores que formam o grosso do mercado. keting para que o novo produto se estabeleça no mer-
encontramos três grupos adicionais: Como observou Moore (1991), a principal característi- cado. O trabalho de estabelecimento de uma inova-
os adeptos iniciais, a maioria inicial ca desses consumidores é serem altamente pragmáti- ção deve seguir o fluxo da Figura 1.
e a maioria tardia.

OS ESTÁGIOS DO CICLO DE 2.3. ESTRATÉGIAS


MERCADOLÓGICAS PARA
PRODUTOS DE ALTA TECNOLOGIA AS DIFERENTES FASES DO
CICLO DE VIDA DE
SEMEAR OS NOVOS SATISFAZER OS OBTER RECEITA
PRODUTOS ENTRE ADEPTOS INICIAIS SERVINDO A MAIORIA
TORNAR OS PRODUTOS DEIXAR OS ADOÇÃO DA TECNOLOGIA
QUE EDUQUEM OS

OS INOVADORES PARA PARA QUE SIRVAM
DE REFERÊNCIA A
 INICIAL PARA
TORNAR-SE LÍDER
 PARA CONQUISTAR A 
CONFIÁVEIS E BARATOS RETARDATÁRIOS
COM SEUS PRÓPRIOS
MAIORIA TARDIA RECURSOS
ADEPTOS INICIAIS MAIORIA INICIAL DE MERCADO As variáveis do ciclo de vida de adoção


da tecnologia são intrínsecas à cadeia


de valores e devem ser exploradas de
forma diferente em cada uma das fases


MERCADO DE MASSA



do ciclo de vida. A seguir encontram-


l
m ESTRATÉGIAS
AGRESSIVAS
se descritas as variáveis importantes
MERCADO INICIAL PRODUTO COMPLETO l
m ESTRATÉGIAS
MODERADAS
MERCADO ESTÁVEL
para cada estágio do ciclo de vida e
FIGURA 1

l
m ESTRATÉGIAS
SUTIS
como trabalhá-las para criar oportuni-
Fonte: Adaptada pelos autores com base em MOORE e MCKEENA (1991).
dades e alcançar a diferenciação.

38 REVISTA DA ESPM– S E T E M B R O / O U T U B R O D E 2003


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ESTRATÉGIAS PARA MAIORIA


A) ESTRATÉ GIAS PARA
INOVADORES: MERCADO INICIAL C) INICIAL E MAIORIA TARDIA:
vESTRATÉGIA AGRESSIVA
Ao buscar uma estratégia agressiva, o fornecedor de
LEVANDO O PRODUTO COMPLETO tecnologia usa sua posição de líder para maximizar a
No mercado inicial é importante manter a liderança do AO MERCADO DE MASSA participação de mercado e níveis de preços privilegia-
produto. O meio social composto por consumidores inova- dos. Os pontos-chave a serem trabalhados na cadeia
dores e visionários deve ser incentivado a aceitar as mu- Para Moore (1999), é este o momento em que os de valores são a distribuição e o capital humano. É pre-
danças propostas. Tal processo transforma invenções, algo clientes percebem que não seguir o novo padrão ciso fazer com que o produto/serviço esteja em todos
totalmente novo e inusitado, em inovações. Outro fator im- pode resultar em perda de competitividade, uma vez os lugares do mercado, tornando fácil o acesso à solu-
portante nesta fase é a flexibilidade. Os consumidores deste que a inovação sai dos limites do nicho e se torna ção. Além disso, vendedores e executivos de primeira
estágio devem ter liberdade para adaptar e criar produtos um produto de massa. O mercado em geral adota a linha reforçam a posição de líder da empresa. Sua ex-
que atendam a suas necessidades específicas. A cadeia inovação como novo paradigma de infra-estrutura, celência operacional capacita a empresa a obter uma
de valor deve ser trabalhada no sentido de vender tecnica- padronizando-a e transformando-a quase numa porção cada vez mais desproporcional de vendas.
mente bem a idéia aos consumidores iniciais; possuir uma commodity.
equipe de pesquisa e desenvolvimento capaz de adaptar v ESTRATÉGIA MODERADA
o produto/serviço até sua customização transformando-o Essa fase é geralmente uma das mais conturba- As empresas que adotam uma estratégia moderada
em um produto padrão com um forte controle de custos. das, pois é difícil saber se uma resposta do mer- o fazem por não terem o capital necessário para in-
cado está sendo gerada por sua ação ou por uma vestir em Pesquisa e Desenvolvimento e Marketing.
Ao introduzir a inovação no mercado, a empresa aprende corrente de desenvolvimento comum. As alternati- Esses fornecedores de alta tecnologia não estão em
como racionalizar o potencial futuro de seus produtos e vas estratégicas são muitas, mas basicamente posição de competir por grandes participações de
acaba gerando o conhecimento estratégico necessário para podemos agrupá-las em três: estratégia agressi- mercado, focam seus esforços para aproveitar ao
o próximo desafio, competir com um produto completo. va, estratégia moderada e estratégia sutil. A se- máximo as oportunidades que surgem. Tal opera-
guir veremos cada uma delas e como os ção é muito rentável, sendo a tônica, a excelência
ESTRATÉGIAS PARA ADEPTOS
B) INICIAIS: COMPETINDO COM
posicionamentos das empresas mudam de acordo
com a estratégia adotada (veja o quadro ao lado).
operacional baseada em economias de custo. As
empresas de estratégia moderada apresentam-se
UM PRODUTO COMPLETO como alternativas competitivas, preenchendo os es-

Segundo Moore (1997), “produtos completos incluem D) EM


ESTRATÉGIAS PARA COMPETIR
UM MERCADO ESTÁVEL
paços que o líder não consegue ocupar.

tecnologia, serviços, suporte, documentação e o que mais Contudo, essas empresas conseguem a venda, mas não
seja necessário para implementar um sistema e resolver o Nessa fase do ciclo de vida, os volumes de vendas mantêm o cliente fiel, uma vez que não detêm o padrão
problema dos consumidores” (MOORE, 1997, p. 7). Nesta do supercrescimento se estabilizam num patamar in- do mercado. Conseguem alguma vantagem competiti-
fase do ciclo de adoção da tecnologia as empresas atuam ferior e os concorrentes devem deixar de focalizar a va ao realizar um bom trabalho nos canais de distribui-
em nichos de mercado, o que diminui seus custos de de- captura de novos clientes e aprofundar o comércio ção. A única alternativa para que essas empresas se
senvolvimento e os riscos de introdução do produto. com a base instalada existente. Tal fato não significa tornem líderes é regredir um pouco a estratégia e tentar
que não existam novos clientes para conquistar, po- obter algum sucesso em um nicho de mercado.
Agora que a empresa já possui um produto diferencia- rém ganha-se mais dinheiro, aprimorando-se e es-
do, ela deve torná-lo o mais completo possível. Desta tendendo a infra-estrutura implantada durante o mer- v ESTRATÉGIA SUTIL
forma, faz com que a base de clientes do nicho se reú- cado de massa. Uma estratégia sutil é a alternativa adotada por em-
na ao redor de sua solução, impedindo que outros presas que têm fortes investimentos em suas pró-
paradigmas tenham condições de competir. Aqui, a li- Segundo Moore (1999), as decisões estratégicas prias tecnologias, mas não possuem liderança de
derança do produto continua sendo importante. Mas o dessa fase do mercado devem atender basicamente mercado. Assim como em todos os mercados de
diferencial surgirá da intimidade que a empresa man- a dois grupos: o usuário final e o diretor financeiro, massa, elas competem pela distribuição desejando
tém com seus clientes, uma vez que outras soluções diminuindo custos e adicionando valor. ganhar acesso à demanda reprimida.
semelhantes não criam os vínculos apropriados para
atender às necessidades específicas do segmento. Confiabilidade, compatibilidade, facilidade de uso e O interessante para essas empresas é ter participa-
retorno de investimento são características impor- ção suficiente de mercado para se posicionarem como
Golberg (2002) e Gale (2001) citam a importância de uma tantes. O referencial torna-se a própria empresa; ela alternativa segura ao líder. Nesse contexto entende-
abordagem, junto aos consumidores , que leve em conta o deve mostrar como sua linha de produtos e serviços se por participação de mercado tecnologia própria e
retorno sobre os investimentos dos projetos. Um outro pro- evoluiu. Além disso, segundo Moore (1999), há na confiável, excelente distribuição e boa relação custo-
cesso chave nessa etapa do ciclo de vida é saber escolher a escolha uma forte carga de segurança emocional. benefício, fatores que deixam a comunidade de con-
concorrência. O fornecedor de alta tecnologia deve atuar sumidores pragmáticos (que domina o mercado de
em um nicho onde os clientes já estejam familiarizados com Na próxima fase do ciclo de vida do produto, as ven- massa) extremamente segura.
algum tipo de solução de alta tecnologia. Dessa forma, são das entram em declínio e as margens diminuem num
capazes de diferenciar as soluções oferecidas e selecionar ritmo maior. É a hora de descontinuar o produto/ser- São empresas cujas atuações não definem o padrão e
as que proporcionam o maior custo-benefiício. Escapam viço sem causar grandes atribulações ao mercado. A não desafiam a posição hierárquica do mercado. A ori-
dessa forma de uma dispendiosa campanha para educar o empresa deve passar por esse processo sem abrir entação mais adequada para as empresas que adotam
mercado e construir preços condizentes com o real valor brechas aos concorrentes e nem deixar os consumi- tal estratégia é serem agressivas sem exceder limites e
que está sendo oferecido. Portanto, o principal elemento que dores com a sensação de desamparo pelo sumiço do sem ameaçar o líder. Elas devem desenvolver tecnolo-
deve ser explorado na cadeia de valores nesta etapa é o produto. Trata-se de um trabalho gradual que segue gias de alto padrão, que as diferenciem de suas concor-
produto/serviço que está sendo oferecido, posicionando as mesmas regras básicas de outros mercados; por rentes que utilizam estratégias de mercado moderadas,
corretamente a inovação para deixar seus diferenciais e este motivo não será um tema explorado com pro- assim garantindo um fluxo de receita substancial na com-
benefícios claros aos clientes e barrar a concorrência. fundidade neste trabalho. petição pelos negócios excedentes do líder. yw

S E T E M B R O / O U T U B R O D E 2003–REVISTA DA ESPM 39
Marketing para produtos de Alta Tecnologia

3. METODOLOGIA 4. DESCRIÇÃO DO SERVIÇOS E SUPORTE


CASO HEWLETT-
Este trabalho foi desenvolvido utilizan- PACKARD-COMPAQ O mercado de serviços e suporte pode
do a metodologia do estudo de caso. ser dividido em dois segmentos:
Segundo Yin (1989), o estudo de caso HISTÓRICO
é um método bastante indicado em v Suporte a organizações de todos
situações nas quais o investigador tem A Hewlett-Packard foi a primeira em- os portes no gerenciamento de seus
pouco controle sobre os eventos que presa de alta tecnologia a surgir no Vale sistemas de informação, envolvendo
está pesquisando, ainda mais quan- do Silício , nos Estados Unidos da Amé- a manutenção dos programas de
do o caso tem um caráter revelador. rica, em 1939. Na sua configuração computador, equipamentos, estrutu-
atual, após a fusão em 2002 com a ra de transmissão de dados, bem
Para o estudo de caso, escolheu-se a Compaq, a HPQ – Hewlett-Packard- como a capacitação de pessoas atra-
empresa Hewlett-Packard-Compaq Compaq – é a segunda maior empresa vés de treinamentos;
(HPQ). Tal escolha deve-se ao importan- de alta tecnologia no mundo, atrás ape-
te papel exercido pela HPQ no merca- nas da IBM. v Consultorias para criação, im-
do de alta tecnologia, principalmente plantação e manutenção de sistemas
após a fusão com a Compaq em 2002. Atua nos mais diversos segmentos de alta disponibilidade.
tecnológicos, atendendo tanto a
Com base na revisão teórica efetuada, consumidores finais como a organiza- Neste estudo de caso, o foco estará
foram formuladas três questões de pes- ções dos mais diversos portes. Oferece nas estratégias utilizadas pela HPQ
quisa, as quais irão nortear o estudo equipamentos, sistemas de controle de para introduzir no mercado e apri-
de caso. São elas: informações e serviços de suporte re- morar os serviços aos clientes que ne-
conhecidos mundialmente por sua qua- cessitam de Sistemas de Alta Dispo-
lidade distribuídos em 4 diferentes uni- nibilidade. Para entender como a

1.1. EMMERCADOSDEALTA
Em mercados
TECNOLOGIA,OSde alta tecno-
FATORES RACIONAIS
dades de negócios. Atualmente empre-
ga 140.000 pessoas, e em 2002 sua re-
empresa utilizou elementos do seu
composto de marketing, durante o
logia, os fatores racionais
EEMOCIONAIS QUELEVAMe emo-
À
cionais que levam
COMPRA SÃOMAISà compra são
COMPLEXOS ceita foi de 72 bilhões de dólares. É líder ciclo de vida dos produtos, para
mais complexos
QUE EMOUTROS? que em outros? mundial no segmento de impressoras posicionar seus serviços no merca-
e possui forte participação nos merca- do, é preciso compreender melhor
2.2. NoNO MERCADO
mercado de DE ALT
alta A
tecno- dos de computadores de grande porte, os sistemas de alta disponibilidade.
TECNOLOGIA
logia ACONFIABILIDADE
a confiabilidade e o mar- E
OMARKETING DERELACIONAMENTO os chamados Mainframes, de sistemas
keting de relacionamento são
SÃO
muito MUITOIMPORTANTES?
importantes? de informação e de serviços e suporte. SISTEMAS DE ALTA
Seus principais concorrentes mundiais DISPONIBILIDADE
3.3.SEDO
ÉPOSSÍVEL,
É possível,
CICLO
ATRAVÉS
através DAANÁLI-
da análi- são a IBM e a Dell.
se do ciclo de DE VIDA
vida doDO PRODUTO,
produto, Tecnicamente um sistema de alta dis-
OFERECER
oferecer AOSCONSUMIDORES
aos consumidores pro-
O mercado de serviços e suporte de alta ponibilidade é aquele que, no caso de
PRODUTOS
dutos DEALTATECNOLOGIA
de alta tecnologia capazes
CAPAZES
de atender DEATENDER
melhor a suasMELHOR
neces- SUAS tecnologia responde atualmente por uma falhas, não incorre em perda de dados
NECESSIDADES
sidades EEXPECTATIVAS?
e expectativas? boa fatia do faturamento das empresas e tem funcionamento restaurado em
que atuam neste setor, além de ser um um período de tempo razoável. Os
dos que mais crescem. Nele, a HPQ sistemas de alta disponibilidade
A coleta de dados para este estudo ocupa posição de destaque, sendo líder visam operar os aplicativos de mis-
aconteceu em duas etapas. Na primei- e referencial em vários segmentos. No são crítica (esta engloba cada fun-
ra, de caráter mais exploratório, levan- decorrer do estudo de caso veremos as ção do organograma que, de cima
tou-se um amplo material impresso estratégias utilizadas para crescer neste para baixo e da esquerda para direi-
sobre a empresa. Na segunda etapa setor e como a empresa obteve maior ta, envolvem um nível crítico) das or-
foram realizadas entrevistas pessoais vantagem competitiva através da diversi- ganizações, minimizando os efeitos
com alguns executivos da HPQ. ficação dos serviços oferecidos. de eventuais paralisações. Sistemas de

40 REVISTA DA ESPM– S E T E M B R O / O U T U B R O D E 2003


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Arquivo

t OPRINCIPAIS
SETOR DE SERVIÇOS E SUPORTE DA HPQ MANTÉM NOS
MERCADOS MUNDIAIS UMA FORTE ESTRUTURA QUE
REALIZA SERVIÇOS DE DIVERSAS COMPLEXIDADES.
alta disponibilidade devem operar no
máximo de sua performance, o tempo
todo. Paralisações desse tipo de estru-
tura, bem como perdas de dados são
ocorrências altamente dispendiosas e de dos serviços oferecidos, gerando liza uma consultoria para a criação
devem ser minimizadas. duplicação de esforços e processos, de um sistema de telefonia e transmis-
além de custos maiores, funcionários são de dados. Ela praticamente usa sua
Os sistemas de alta disponibilidade se insatisfeitos, perda de produtividade estrutura como um jogo de peças para
caracterizam por serem abertos, ou seja, e margens de lucro menores. Era cla- oferecer serviços altamente custo-
englobam em suas estruturas diferentes ra a necessidade de mudanças, surgin- mizados, mas faz com base num pa-
aplicações e máquinas de diversos por- do a necessidade de endereçamento drão preexistente de operações, redu-
tes e funções. Além disso, são capazes de questões como o enxugamento da zindo sensivelmente seus custos.
de absorver uma crescente demanda de estrutura sem afetar a qualidade dos
negócios e são operacionais em tempo serviços oferecidos e a geração de Tais fatos trazem grandes vantagens
real, 24 horas por dia. tecnologia para ser líder e atender, tam- competitivas para a empresa, que
bém, ao mercado periférico. pode atuar tão bem no mercado ini-
A HPQ E SEU SISTEMA DE cial quanto o faz em um mercado de
ALTA DISPONIBILIDADE A reposta para tais questões foi a cria- massa. Essa configuração e as expe-
ção de um sistema de alta disponibili- riências adquiridas foram úteis, como
O setor de Serviços e Suporte da HPQ dade. A HPQ poderia então oferecer veremos a seguir, nos mercados ini-
mantém nos principais mercados ao mercado um serviço premium que ciais, nos mercados de massa e nos
mundiais uma forte estrutura que rea- englobasse todos os departamentos e mercados estáveis.
liza serviços de diversas complexida- serviços existentes em sua estrutura.
des, que podem ir desde reparo de Atualmente, os serviços de alta dispo- v MERCADOS INICIAIS
impressoras, treinamentos e ajuda a nibilidade são a espinha dorsal de onde
usuários de sistemas operacionais, saem todos os outros serviços, que, in- Neste mercado, onde os clientes são
chegando até a criação de intricadas dependentemente de sua complexida- inovadores e visionários, a HPQ pos-
e avançadas redes de informação. de ou custo, envolvem os elos já exis- sui vasto capital e grandes recursos de
Operações tão grandes como essas tentes da cadeia de valores da HPQ. pesquisa e desenvolvimento para ge-
vinham, ao longo dos anos, se tornan- rar novas tecnologias aplicando-as
do extremamente dispendiosas. O segredo do sucesso da divisão de comercialmente, além do conheci-
serviços e suporte da HPQ está em mento necessário para torná-las pro-
O modelo de operação adotado pela usar a mesma estrutura para atender dutos completos, aptos a competir no
HPQ separava os departamentos por o cliente que compra apenas o servi- mercado de massa. Um bom exem-
níveis de clientes e pela complexida- ço de helpdesk até o cliente que rea- plo dessa capacitação foi a criação do yw

S E T E M B R O / O U T U B R O D E 2003–REVISTA DA ESPM 41
Marketing para produtos de Alta Tecnologia

sistema de administração de dados Usando uma estratégia competitiva os serviços relacionados a esse
da TESS, operadora de telefonia ce- moderada, a HPQ conquistou a de- sistema, porém não é líder de
lular no interior do Estado de São manda reprimida de seus principais mercado. A vantagem de manter tal
Paulo. Foi realizado um projeto de concorrentes. Usando técnicas de operação é adquirir conhecimentos ao
redes de informações capaz de ad- engenharia reversa, tornou-se capaz lidar com as diferentes aplicações em
ministrar desde o fluxo de dados nas de reparar e dar suporte às máquinas que o sistema é utilizado. Com esse
linhas telefônicas até os sistemas de de concorrentes como IBM, absorven- tipo de abordagem, a HPQ oferece
cobrança e controle financeiros da do boa parte da demanda reprimida uma alternativa viável caso o mercado
empresa. A HPQ, além de criar e exe- para esses serviços. Seu gigantismo e resolva mudar o padrão.
cutar o sistema, forneceu todos os conhecimento tecnológico a tornaram
equipamentos e softwares necessá- uma alternativa segura à concorrên- v MERCADOS ESTÁVEIS
rios ao seu funcionamento. cia, além de capacitá-la a operar com
mais propriedade sistemas abertos. Ao falarmos de sistemas de alta dispo-
O sucesso obtido incentivou a em- nibilidade, o mercado estável é a etapa
presa a transformar esse tipo de pro- Lançando mão de uma estratégia do ciclo de vida em que alguns países
jeto em um serviço regular de seu competitiva sutil, a HPQ desenvolveu do mundo se encontram, como os Es-
portfólio, chegando a realizar algo sistemas operacionais para computa- tados Unidos (onde a HPQ é líder). A
semelhante com a Telesp Celular na dores de grande porte que capacita- maioria dos clientes de sistemas de alta
implantação dos sistemas de telefo- ram a empresa a operar, modificar e disponibilidade desses países usa con-
nia celular pré-pago, o Baby. Focar reparar com grande habilidade os figurações intermediárias ou semi-avan-
em um nicho específico de mercado sistemas líderes de empresas concor- çadas. O sucesso para levar os clientes
a indústria de telefonia permitiu à rentes, como o AS400 da IBM. A HPQ aos próximos estágios do serviço está
HPQ adquirir conhecimentos que é um dos referenciais de mercado para no marketing de relacionamento.
reforçam sua tecnologia de transmis-
são de dados.

v MERCADOS DE MASSA

Corbis
Sua principal característica é a relu-
tância dos clientes pragmáticos em
trocar sua plataforma por algo novo.
A HPQ tornou-se líder em suporte a
usuários (helpdesk), em alguns países
do mundo, ao associar seu nome a
parceiros como Microsoft, SAP e
Oracle. Usando uma estratégia agres-
siva de liderança, a HPQ fez seus
clientes perceberem o helpdesk
terceirizado como uma opção segura
e barata em relação a possuir estrutura
própria. Uma forte campanha de edu-
cação minimizou a preocupação dos
clientes em relação ao comprometi-
mento de um helpdesk terceirizado. É
claro que associar o nome da HPQ ao
serviço, grande líder em vários setores tSua principal característica é a relutância dos clientes
pragmáticos em trocar sua plataforma por algo novo. A HPQ
tecnológicos, ajudou. tornou-se líder em suporte a usuários (helpdesk), em alguns países.

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Nesse estágio do ciclo de vida, as ne- tégias, foram excelentes. Os lucros da os fatores racionais e emocionais que
gociações com os clientes para a am- divisão de serviços e suporte foram levam à compra são mais complexos
pliação do serviço giram em torno maximizados, os custos caíram, foram que os geralmente encontrados em
das diretorias de tecnologia da infor- criadas fortes parcerias, e o pessoal outros mercados.
mação e financeira. A barreira prin- (mais bem capacitado) trabalha com
cipal está no fato de convencer quem foco e satisfação. Isso reflete uma boa Essa é uma indústria movimentada por
já recebe um serviço caro e de quali- utilização dos elementos do compos- inovações, quebras de paradigmas. O
dade comprovada a comprar uma ex- to de marketing da empresa frente às consumidor de alta tecnologia, como
tensão que não necessariamente tra- condições de mercado, sejam elas qualquer outro, teme trocar um produ-
rá vantagens muito superiores à con- provenientes de qualquer um dos ci- to/serviço seguro e que já conhece por
figuração atual. A chave está em mos- clos de vida de adoção da tecnologia. algo novo, que não necessariamente
trar que o custo-benefício e as ino- domina. Esse sentimento se acentua, pois
vações da versão ampliada trarão O resultado é uma empresa mais for- o mercado de alta tecnologia apresenta
vantagem significativa para o cliente te, que consegue diferenciar-se de ciclos de vida mais curtos que os outros.
em termos de diferenciação da con- seus concorrentes e obter vantagem
corrência. Segundo Moore (1997), competitiva, chegando a liderar vá- Tendo como base essa informação, a
nesta fase, a comunicação de rios segmentos. empresa de tecnologia deve saber usar
marketing é a área em que o próprio os argumentos e as ferramentas neces-
valor do produto é definido. O valor sárias para convencer o consumidor a
é percebido com base na experiên- 5. DISCUSSÃO trocar a atual infra-estrutura para o novo
cia do usuário com o produto. DAS QUESTÕES paradigma que está sendo oferecido.
DE PESQUISA Esses argumentos podem vir de uma
Outro fator importante é saber o ní- equipe de vendas eficiente, de uma
vel de satisfação e o momento certo Pode-se concluir que para posicionar campanha de educação promovida
para abordar o cliente. Para isso, a produtos e serviços no mercado de pela empresa, ou por qualquer outro
HPQ desenvolveu um complexo sis- alta tecnologia, deve-se observar com meio necessário. O importante é que
tema de acompanhamento e medi- cuidado a fase do ciclo de vida em o consumidor se sinta seguro e moti-
ção das reações e da satisfação do que o produto está. Isso ocorre por- vado para adotar a nova tecnologia,
cliente ao interagir com o serviço e que os clientes, os fatores que levam seja ele um visionário que procura van-
com o própria empresa. Dessa for- à compra e os custos operacionais são tagens competitivas ou um pragmáti-
ma os executivos abordam o cliente diferentes em cada uma dessas fases, co que deseja o menor impacto possí-
em momentos mais apropriados e levando a empresa empreendedora vel em suas operações.
com argumentos de vendas mais a trabalhar seu marketing mix de
consistentes. forma direcionada à fase em que se No caso específico da HPQ, notou-se que
encontra. Nesse sentido, levando em os consumidores receavam em contratar
CONCLUSÃO DO CASO HPQ conta as questões formuladas no item 3 um serviço terceirizado de helpdesk
deste trabalho, chega-se às seguintes temendo que a atenção dispensada não
Todo conhecimento adquirido pela conclusões: fosse satisfatória. A HPQ, através de
HPQ no realinhamento de sua estru- associações estratégicas com parceiros de
tura de suporte e serviços foi essencial renome e de uma forte campanha de edu-
para capacitar a empresa a competir 1. EM MERCADOS DE ALTA cação, conseguiu reverter o quadro tor-
nos diferentes momentos do ciclo de
TECNOLOGIA, OS FATORES nando-se líder no fornecimento desse tipo
RACIONAIS E EMOCIONAIS
vida da tecnologia. QUE LEVAM À COMPRA SÃO de serviços. O consumidor passou a com-
MAIS COMPLEXOS? prar no momento em que a HPQ criou
Dessa forma, mais enxuta e com “ar- uma imagem de liderança e segurança
mas” mais eficazes, os resultados al- Ao falar de produtos e serviços de alta que satisfizesse também a seus anseios
cançados, utilizando diferentes estra- tecnologia é preciso ter em mente que emocionais. yw

S E T E M B R O / O U T U B R O D E 2003–REVISTA DA ESPM 43
Marketing para produtos de Alta Tecnologia

2. É UM MERCADO EM ceria de longo prazo. Esse é um dos mo-


tivos pelos quais as empresas líderes de
mercado de alta tecnologia com boas idéias,
e estas representam, inicialmente, uma pos-
QUE A CONFIABILIDADE
E O MARKETING DE mercado são privilegiadas, uma vez que sibilidade de lucros futuros. As empresas de
RELACIONAMENTO SÃO se mostram aptas a fornecer soluções sucessoconseguem,atravésdainteraçãocom
MUITO IMPORTANTES? tecnológicas adequadas por um grande seus clientes durante as diversas fases do ciclo
espaço de tempo. de adoção da tecnologia, dotar a idéia de
A grande velocidade de mudança dos um valor comercial.
padrões no mercado de alta tecnologia Durante o estudo de caso, verificou-se
faz com que os clientes sejam extrema- que uma forte razão para os clientes es- O desenvolvimento do sistema de alta dispo-
mente rigorosos na escolha de seus for- colherem a HPQ é o potencial da em- nibilidade da HPQ ilustra fortemente esse
necedores. Eles precisam confiar que a presa em ser um fornecedor de item. Em um primeiro momento procura-
empresa escolhida seja capaz de guiá- tecnologia a longo prazo. Líder e pos- ram-se parceiros que pudessem desenvol-
los na troca do paradigma, adaptando suidora de tecnologia de ponta em di- ver e testar junto com a HPQ um sistema
seus sistemas atuais e minimizando o versos segmentos, a HPQ mostra-se al- de informação que tivesse baixos níveis de
impacto nas operações. A segurança dos tamente capacitada a ajudar seus clien- paradas e manutenção, gerando desta
clientes vem das referências que possui, tes na troca dos paradigmas tecnológi- forma alta disponibilidade e grande
e do modo como interage com o forne- cos. Tal posição faz com que a HPQ se vantagem de custos. O passo seguinte foi
cedor de tecnologia. A maioria deles beneficie da propaganda boca a boca. vender a idéia de um sistema de informática
confia na empresa de alta tecnologia que Foi assim com a implementação e ex- altamente disponível a consumidores ino-
já possui experiências bem-sucedidas pansão dos sistemas de alta disponibili- vadores, que enxergaram antes do restante
com seus pares, que por sua vez passam dade. A HPQ inicialmente ofereceu e ins- do mercado a vantagem competitiva e
essa informação ao mercado, ajudando talou tais sistemas em clientes formado- econômica que tais sistemas podiam
a tornar o fornecedor de tecnologia uma res de opinião, tornando-se referência no oferecer. Os consumidores inovadores
referência no segmento em que atua. mercado. Com essa posição conquistada, ajudaram os sistemas de alta disponibilida-
conseguiu oferecer seus produtos a outros de a tornarem-se produtos cada vez mais
A verdade é que a maioria dos clientes clientes, de variados portes. completos, bem como a evoluir a estrutura
quer “ver para crer”, por isso a propa- de suporte da HPQ para interagir com os
ganda boca a boca é uma grande arma clientes de forma mais rápida e assertiva.
para criar a imagem de um fornecedor 3. É POSSÍVEL, ATRAVÉS Nesse estágio do ciclo de vida, o sistema
de alta tecnologia em que se pode con- DA ANÁLISE DO CICLO
DE VIDA DO PRODUTO, de alta disponibilidade já estava preparado
fiar. Uma boa parte dessa confiança é OFERECER AOS CONSUMI- para enfrentar os consumidores pragmáti-
construída no relacionamento que a DORES PRODUTOS DE cos do mercado de massa. Esses exigem
empresa fornecedora de alta tecnologia ALTA TECNOLOGIA CAPA-
ZES DE MELHOR ATENDER alto desempenho, ótima relação custo-
mantém com seus clientes. Esses devem A SUAS NECESSIDADES E benefício e padronização.
ter a empresa de alta tecnologia como EXPECTATIVAS?
parceira, alguém que entende suas ne- Com o desenvolvimento e a expansão dos
cessidades e expectativas e oferece, com No mercado de alta tecnologia, uma boa sistemas de alta disponibilidade, a HPQ
base nisso, soluções adequadas. O for- idéia não garante sucesso. É preciso que foi capaz de ajustar sua estrutura de Servi-
necedor de alta tecnologia deve fazer- ela evolua através do ciclo de vida de ços e Suportes para gerar mais e melhores
se presente e interagir com o cliente em adoção da tecnologia e se torne um pro- tecnologias, bem como a atender a um
todas as fases do ciclo de vida do produto, duto completo. Isso ocorre porque as ne- maior e variado número de clientes.
utilizando as ferramentas adequadas para cessidades e expectativas dos consumido-
construir um relacionamento duradou- res mudam de acordo com a fase do ciclo 6. CONCLUSÕES E
ro. Como já abordado anteriormente em que estão, e com o tipo de interação RECOMENDAÇÕES
neste trabalho, vale lembrar que, ao es- que mantêm com o produto/serviço.
colher um fornecedor de alta tecnologia, O estudo mostrou que no mercado
o cliente procura acima de tudo uma par- A maioria dos empreendedores adentra o de alta tecnologia os fatores racionais

44 REVISTA DA ESPM– S E T E M B R O / O U T U B R O D E 2003


Daniel Braga, Maria Clara Piazza, Tales Andreassi

e emocionais que levam à compra são instrumentos de pesquisas que lhe forne-
mais complexos. Isso ocorre devido à çam dados indicadores do desempenho
velocidade com que os produtos de seus produtos, bem como a satisfação BIBLIOGRAFIA
tecnológicos se tornam obsoletos e ao de seus clientes. Dessa forma ela saberá
distanciamento que a própria tecnologia quando e como intervir estrategicamente DRUKER, P. Inovação e Espírito Empreendedor:
tem com as pessoas; muitos consumi- junto aos clientes. práticas e princípios. 2 a edição, São Paulo, Livraria
dores a encaram como algo difícil de Pioneira Editora, 1987.
apreender e lidar. Por tais motivos, reco- A questão da exploração de nichos tam- GALE, M. What Segment is your Brand in? Adweek
menda-se, antes de entrar no mercado bém merece destaque. A escolha de ni- Magazines’Technology Marketing, EUA, vol. 21, n.
ou levar um produto ao mercado de chos capitalizados e em expansão deve 11, p. 37, Dec. 2001.
massa, realizar o maior número possível ser um dos principais fatores de sucesso GOLBERG, A. Off-Base Pitch.: focus on how
de pesquisas e estudos que possam para a empreitada no mercado de alta customers and non-customers differ. Adweek
elucidar o comportamento do consumi- tecnologia. A não-existência de uma Magazines Technology Marketing, EUA, vol. 22, n.
dor em relação à tecnologia e à inova- metodologia que ajude a determinar a 7, p. 6 , Jun. / Jul. 2002.
ção que se pretende comercializar. Esses viabilidade econômica e o poder de in- MCKENNA, R. Competindo em tempo real. Estratégi-
estudos devem ter foco e explicitar ao fluência de um nicho sobre o restante do as vencedoras para a era do cliente nunca satisfeito.
máximo as barreiras emocionais e racio- mercado pode ser uma problemática 2 a edição, São Paulo, Campus, 1999.
nais frente à novas tecnologias, além de para os empreendedores que nele dese- MOORE, G., MCKENNA, R. Crossing the Chasm:
indicar possíveis caminhos para transpor jem atuar. Embora não tenha sido foco marketing and Selling High – Tech Products to
tais barreiras. Outra recomendação im- deste trabalho explorar mais a fundo tal Mainstream Customers. 1 a edição, EUA,
portante é feita a partir da constatação contexto, é algo que deve merecer aten- Harperbusiness, 1991.

de que, no mercado de alta tecnologia, ção dos estudiosos sobre o tema. MOORE, G. Dentro do Furacão: estratégias de
a confiabilidade e o marketing de rela- Marketing para Empresas de Ponta. 1 a edição, São
cionamento são muito importantes. Por fim, a metodologia de adequação dos Paulo, Futura, 1999.

produtos de alta tecnologia às aspirações PACKARD, D. THE HP WAY: how Bill Hewlett and I
a
Um dos maiores desafios para as empre- dos consumidores, através de uma aná- Built Our Company. 1 edição, EUA, Harperbusiness,
sas que atuam neste segmento é comu- lise do ciclo de vida do produto, deve 1996.

nicar um produto ou uma mensagem e ser recomendada como instrumento base PARASURAMAN, A., COLBY, C. Marketing para
receber uma resposta positiva por parte para as empresas atuantes neste merca- Produtos Inovadores: como e por que seus clientes
a

do consumidor. Ao ser exposto a qual- do. Tal prática minimiza os riscos de lan- adotam tecnologia. 1 edição, Porto Alegre,
Bookman, 2002.
quer tipo de comunicação ou até mes- çamento de novos produtos, ajuda a
mo abordado pela equipe de vendas, o direcionar a comunicação e controlar os YIN, R.K. Case Study Research: design and
consumidor deve sentir que está sendo gastos em pesquisa e desenvolvimento, methods. Newbury Park, CA, Sage, 1989.
oferecida uma solução rentável e além colocar a empresa em sintonia com
confiável. Acima de tudo o que o consu- os desejos e expectativas do mercado.
midor realmente procura são referências
seguras do trabalho da empresa, garantia Certamente, este trabalho não pretendeu AUTORES
de que esta poderá apoiá-lo, como esgotar o assunto de uma área tão nova,
fornecedora, conhecendo seus problemas rica e com tão poucos estudos aplicados. DANIEL BRAGA RODRIGUES ALVES
e indicando soluções, durante um longo Muitas outras áreas de investigação po- Gerente de Produto da Colgate
tempo. Recomenda-se uma criteriosa dem ser desenvolvidas. Sugerem-se, por Palmolive, graduado pela ESPM
seleção entre os potenciais parceiros no exemplo, estudos de natureza mais quan- MARIA CLARA PIAZZA
desenvolvimento de projetos; estes devem titativa, procurando levantar a percepção Consultora Associada à
ser consumidores de reputação, forma- dos consumidores em relação aos produ- Plataforma Consultoria
dores de opinião. Além disso, para garan- tos de alta tecnologia e inserindo para TALES ANDREASSI
tir a longevidade de seu sucesso, a em- comparação com o atual estudo de caso Professor da ESPM e da FGV-EAESP
presa de alta tecnologia deve investir em o exemplo uma empresa nacional. ESPM

S E T E M B R O / O U T U B R O D E 2003–REVISTA DA ESPM 45

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