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Estruturação do Modelo de Negócios Canvas

para Setores da Construção de Edifícios


Claudio Alcides Jacoski
Dr. Eng. de Produção (UFSC). Docente do Programa de Pós Graduação em Tecnologia e Gestão da Inovação

André Scapin
Mestrando do Programa de Pós Graduação em Tecnologia e Gestão da Inovação – Unochapecó.

Lissandro Hoffmeister
Mestrando do Programa de Pós Graduação em Tecnologia e Gestão da Inovação – Unochapecó

Marcelo Fabiano Costella


Dr. Eng. de Produção (UFRGS), Programa de Pós Graduação em Tecnologia e Gestão da Inovação

Resumo

Este artigo apresenta o uso de tecnologias de modelagem de negócios para propor modelos em setores
da construção civil. O modelo de negócios representa uma orientação lógica da formação de valor de
uma empresa, agregando parceiros, clientes e concorrentes. O método utilizado Canvas tem como ca-
racterísticas a possibilidade de relação de subsetores da empresa com o mercado, interagindo a partir
do modelo e processo do negócio, gerando um fluxo de controle sistêmico. Quatro setores da cons-
trução civil foram escolhidos para a modelagem de negócios: construtora, incorporadora, escritório
de projetos e empreiteira. Utilizou-se o quadro Canvas para definição do modelo de negócio, baseado
nas exigências dos clientes das empresas do macrossetor da construção de edificações. Observou-se
que os setores estudados possuem exigência diferenciadas de mercado, tendo necessidade de usarem
ferramentas de modelagem dos processos e TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação) como
propostas de valor e necessidade de relacionamento com seus clientes. Ao estruturar um novo negócio
no setor da construção civil, há condições de se estabelecer um padrão inicial de condições aponta-
das no quadro formulado. Com o quadro Canvas foi possível criar um modelo de empresa integrado
entre as interfaces do negócio, estruturando cada empresa/setor de forma sistêmica para satisfação do
cliente e definindo de forma estratégica, as melhores condições para atuação competitiva no mercado.
Palavras-chaves: modelagem de negócios, Canvas, construção civil, competitividade, inovação.

Introdução ainda todas evoluções tecnológicas, as organiza-


ções se viram obrigadas a mudarem seus concei-
tos. Os clientes passaram a ser o foco, exigindo
Durante muito tempo, o foco principal das
cada vez mais um tratamento individualizado
organizações esteve direcionado aos produtos.
(Araujo et al., 2004). As organizações procuram,
O mais importante era produzir um grande nú-
agora, utilizar novas técnicas, tecnologias, pa-
mero de produtos padronizados, tratando todos
drões e paradigmas que ajudem a alcançar efi-
os clientes da mesma forma. No entanto, com a
ciência e eficácia em seus processos, produtos e
evolução atual, com a globalização do mercado, a
serviços e assim atender às necessidades indivi-
competição se tornou mais acirrada e, somando
duais dos seus clientes.

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Junto com essa mudança de foco, as orga- conjunto com 470 consultores do mundo inteiro,
nizações se deparam com a necessidade de am- uma ferramenta de visualização do modelo de
pliar a visão do negócio em relação aos seus de- negócio, a técnica Canvas. Trata-se de uma repre-
partamentos. Observou-se então, que dentro das sentação visual de todos os elementos de negócio
organizações, para acompanhar as mudanças e que juntos contribuem na geração e manutenção
expectativas do mercado, a antiga visão departa- da cadeia de valor entre a empresa e o mercado.
mental (ou funcional) deveria evoluir para uma Outros estudos vem ampliando o escopo do
visão mais aperfeiçoada que evitasse vários pro- estudo de Modelagem de Negócios. Como apre-
blemas que a visão departamental traz consigo senta Lindgren (2012) as pesquisas sobre o BMI
(Santana & Andrade, 2011). Essa evolução está (Business Model Innovation), e o BMIL (Business
levando às organizações a constituírem uma vi- Model Innovation Leadership), ambos estudados
são de processos, que permite à organização uma no enfoque a pequenas e médias empresas pelas
visualização mais detalhada e, ao mesmo tempo, pesquisas de (Zott, 2011), (Teece, 2012).
abrangente do seu negócio.
Frente a essas mudanças as tecnologias de
modelagem de negócios se colocam como im- O Setor da Construção e a
portante mecanismo para acompanhamento dos
Modelagem Canvas
processos permitindo resolver muitos problemas
já na origem, reformulando o esquema estrutural
da empresa, e fortalecendo a sustentabilidade das Características da indústria da
ações estratégicas das corporações. construção civil
O modelo de negócio demonstra o sistema
da empresa, cada setor e etapa a ser elaborado Frente ao desenvolvimento do setor da cons-
no projeto; enquanto que a estratégia de negó- trução civil, que é um setor de grande dinamicida-
cio considera toda a cadeia de valor da empresa de na geração de renda e emprego, além de cons-
como mostra a figura 01, verificando as compras tituir-se em um importante instrumento social,
da empresa e as vendas ao consumidor. O modelo pois absorve a mão de obra variável do país e tem
e a estratégia de negócios, quando desenvolvidos grande poder de reprodução de empregos diretos
de forma correta e planejada, permitem melhores e indiretos, observa-se que ainda há dificuldades
resultados corporativos e operacionais. na estruturação das empresas nascentes, o que
Há necessidades além da estratégia de negó- implica no fechamento prematuro de empresas
cio visando a disputa em mercados competitivos. neste setor. Embora não existam estudos conclu-
Segundo Martin (2009), é necessário definir o sivos específicos sobre o setor da construção, no
cliente, o valor para o cliente, como será conse- país, segundo relatório do Sebrae (Sebrae, 2008),
guido a receita necessária e o lucro para determi- há uma média de mais de 27% de taxa de morta-
nado negócio, e como ofertar o melhor serviço a lidade em empresas nascentes com até um ano de
um preço competitivo. vida. Desta forma, justifica-se uma estruturação
O termo Modelo de Negócios começou a muito clara do negócio para que as adversidades
ser utilizado na década de 90, e desde então vem e as condições impostas pelo mercado extrema-
ampliando-se na literatura científica. Conforme mente competitivo, possam ser enfrentadas.
Martikainen, Niemi & Pekkanen, (2013), de uma Segundo Cadeia Produtiva (2013), em 2012,
maneira mais simplificada, o modelo de negócios os impostos e taxas gerados pelas atividades da
define como a empresa entrega valores aos seus cadeia produtiva da construção, representaram
clientes, além da formação de receita em lucro. uma carga tributária de 23,6%, percentual seme-
Quando se fala sobre modelo de negócio, lhante ao observado nos anos recentes. Frente
destaca-se o Business Model Generation (Oster- ao ano anterior, a arrecadação cresceu 4,3% em
walder; Pigneur, 2009), resultado de pesquisas termos nominais, o que representou uma que-
do suíço Alexander Osterwalder (Osterwalder, da real de 1,6%, mas se mantendo constante no
2004), responsável pelo fenômeno que esse termo seu desenvolvimento gerando oportunidades de
se tornou na comunidade de empreendedores, em trabalho e se desenvolvendo para melhorias nos
especial, os empreendedores digitais. Como con- processos da construção civil.
tinuação do seu trabalho, Osterwalder propôs, em

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Espera-se que o setor segundo FGV/CBIC distribui e captura valor. Os modelos de negócio
(2012), consiga manter o ritmo de crescimento na relacionados à visão tradicional das organizações
casa de 4,5% a 5% nos próximos anos. Este pata- da era industrial com pensamentos da eficiência
mar somente poderá ser mantido com o crescimen- e otimização de processos têm se tornado inade-
to de novas empresas, estruturadas e organizadas quado às organizações do conhecimento, afeta-
com foco na competitividade. Certamente esse re- das pelo ritmo crescente de mudanças radicais e
sultado para ser atingido tem que considerar ou- imprevisíveis no ambiente empresarial. Essa re-
tros fatores também, como o acompanhamento formulação da natureza do negócio e da natureza
evolutivo de outros setores da economia, políticas da própria organização caracteriza as mudanças
públicas de incentivos, dentre outros. A constru- de paradigma que são a marca da inovação do
ção civil hoje trabalha em um patamar muito dife- modelo de negócio.
renciado do que se via na década passada, seja em Baseado nestes princípios o objetivo de Alex
termos econômicos, organizacionais, tecnológicos, Osterwalder criador do modelo Canvas, em sua
sociais e de relação com o meio ambiente. Portan- tese de doutorado (Osterwalder, 2004), apresen-
to, a estrutura organizacional da década passada, tada à Universidade de Lausanne, na Suíça, foi
que tinha ausente as ferramentas de gestão trata- definir, a partir de outro ponto de vista, o que é
das neste trabalho, não se adapta mais ao mercado modelo de negócio, e o que é realmente relevante
atual, exigindo significativas mudanças de funcio- para representar um modelo de negócio, utilizan-
namento, comportamento e posicionamento. do uma ontologia.
Não bastassem as adversidades apontadas, o Alexander Osterwalder em 2004, utilizou
setor da construção é conhecido pela sua fragmen- conceitos de Design Thinking para elaborar a
tação (Jacoski, 2003) e pelas condições diferencia- ferramenta visual, chamada de Canvas. O De-
das da sua cadeia produtiva que possui diversos sign Thinking, ou “pensar como um designer”, é
atores, a maioria atuando de maneira desconexa uma abordagem utilizada na criação de produtos
com o restante do setor. Segundo o Sebrae (2008), e, mais recentemente, na inovação em negócios.
o macrossetor da construção civil é composto pe- Baseia-se em colocar as pessoas no centro do
las construtoras, incorporadoras e prestadoras de desenvolvimento do projeto, gerando resultados
serviços. Além dos vários segmentos da indús- mais favoráveis a elas. A metodologia estimula a
tria de materiais de construção e do comércio. Na criatividade, curiosidade, validações iterativas e o
pesquisa optou-se por estudar quatro setores de foco no cliente, mantendo o produto ou o negócio
importância econômica e organizativa da cadeia sempre alinhado às expectativas do cliente (Pires
produtiva da construção, as construtoras, as incor- & Queiroz, 2012).
poradoras, empreiteiras e escritórios de projetos. Com esta ferramenta de representação de
modelo de negócio, Osterwalder propôs a utiliza-
ção de um Business Model Generation (Geração
A modelagem de negócios Canvas de Modelo de Negócio) uma ferramenta para des-
crever, analisar e construir modelos de negócio,
A academia tem buscado estruturar o co- e que relaciona graficamente os chamados “Nove
nhecimento ligado a Modelagem de Negócios Blocos de Construção do Modelo de Negócio”
podendo-se citar: (Magretta, 2002; Afuah, 2003; (Osterwalder & Pigneur, 2009).
Morris, 2003; Osterwalder, 2004; Chesbrough,
2006; Taran, 2011; Zott, 2010; Teece, 2012; Lin-
Os nove blocos de construção do modelo
dgren, 2011). Neste contexto, o próprio Lindgren
(2012) afirma que, com base nestes estudos ante- de negócio – Canvas
riores, a terminologia ligada aos negócios parte de
um conjunto de 7 dimensões: Proposição de valor; Com base no design thinking para demons-
Grupo de clientes; Cadeia Produtiva; Competên- tração e pelo trabalho de ontologia de Oesterwal-
cias, Redes (networks), Relação entre negócios e der foram efetuadas divisões de noves blocos do
Forma de valor. Business Model Canvas demonstrado na figura 1,
De acordo com Osterwalder (2004), mode- considerando o grau de importância e segmento
lo de negócio pode ser conceituado como a des- de área
crição da lógica de como uma organização cria,

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Figura 1. Pilares do modelo de negócio e seus blocos de construção


Fonte: Pires, E. M.; Queiroz, R. J. G. B. (2012).

Ampliando visualmente a condição de es- o ciclo para criação do modelo de negócio. Não
truturação de um negócio, é possível compreen- obstante a estar se apresentando esta ferramenta
der de forma facilitada, como pode ser visto na para criação de empresas, pode-se observar que o
figura 02 a partir da representação gráfica pro- modelo permite sua utilização para readequação
posta por Osterwalder e Pigneur (2009), na cons- a empresas no mercado que pretendam inovar e
tituição das condições e das relações de cenários, posicionar-se de maneira mais competitiva, ava-
oferecendo uma visão estratégica e de posicio- liando o cenário e as relações entre a proposição
namento. Da estrutura dos blocos do Canvas, de valor da empresa, os clientes atuais e futuros,
fica demonstrando as interações de cada bloco e custos, atividades chave, etc.

Figura 2. Representação gráfica do modelo proposto por Alexander Osterwalder (original)


Fonte: Osterwalder, A. (2004).

Os blocos são divididos em: (blocos que um ou vários segmentos de clientes, de pequeno
tratam de relacionamento com os clientes) seg- ou grande porte. Compete à organização decidir
mentos de clientes, proposição de valor, canais de sobre quais segmentos pretende atender. O mo-
distribuição, relacionamento com os clientes; (de- delo de negócio deve ser projetado considerando
mais blocos), fluxo de receita, estruturas de custo, adequadamente as necessidades específicas do
recursos, atividades e parceiros chave. Segue uma cliente pretendido tendo como ponto focal para
definição de cada um dos blocos componentes: quem a organização está criando valor.
a) Segmentos de Clientes (Customer Seg- A segmentação de clientes é feita baseada em
ments) - Um modelo de negócios pode definir critérios. Um critério define quais são as caracte-

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rísticas para um segmento de clientes considerado clientes específicos. Esses produtos e serviços são
no negócio. Um segmento consiste em um grupo a forma como as necessidades e os desejos desses
de clientes que possuem as mesmas necessidades, clientes são atendidos, ou seja, os benefícios ofere-
os mesmos comportamentos e compartilham os cidos pela empresa. São exemplos de Proposições
mesmos pensamentos. Ao identificar todos os de Valor: Novidade, Performance, Customização,
segmentos de clientes do negócio, alguns podem Funcionalidade, Design, Marca/Status, Preço,
ser mais atrativos que outros. O objetivo é man- Redução de Custos, Redução de Riscos, Acessi-
ter o foco naqueles segmentos que realmente vão bilidade, Conveniência/Usabilidade, Geração de
consumir o valor a ser entregue, e vão manter a Receita, etc. (Osterwalder & Pigneur, 2009).
empresa em crescimento (Pires & Queiroz, 2012).
Diferentes grupos de pessoas ou organiza- Perguntas importantes:
ções que a empresa pretende servir, com neces- - Que valor nós entregamos para o cliente?
sidades ou comportamentos comuns, claramente - Quais problemas dos clientes nós estamos
definidos. São o “coração” de qualquer modelo de ajudando a resolver?
negócio. - Que necessidades dos cliente nós estamos
Para uma Startup (empresa nascente) com satisfazendo?
recursos limitados, quanto maior o recorte do - Que pacotes de produtos/serviços nós esta-
segmento (nicho), melhores são as chances de mos oferecendo para cada Segmento de Clientes?
se identificar e atender as necessidades reais dos
clientes, porém esse nicho deve ser grande o sufi- Exemplos de proposição de valor são: novi-
ciente para formar um negócio potencial atrativo. dade, performance, customização, marca, luxo,
No entanto, no início das iterações os empreen- preço baixo, acessibilidade, comodidade, etc. O
dedores ainda não têm evidências suficientes para valor não são necessariamente as funcionalidades
tomar uma decisão consciente de quais segmentos de um sistema entregue ao cliente, mas são o que
a empresa pretende servir e quais deve deixar de o cliente obtém de ganhos com a utilização do
fora (Pires & Queiroz, 2012). sistema. Projetar valores baseado nos sentimen-
Grupos de clientes representam segmentos tos dos clientes é a melhor decisão.
distintos se: c) Canais de Distribuição (Distribution
◆◆ Suas necessidades exigem e justificam uma Channels) - O terceiro bloco de construção do
oferta diferente; modelo de negócio são os Canais de Distribuição.
◆◆ São alcançados por canais de distribuição Conforme a definição de modelo de negócio, a
diferentes; empresa precisa entregar o valor ao seu cliente. Os
◆◆ Exigem diferentes tipos de relacionamentos; canais são o meio pelo qual o cliente obtém os va-
◆◆ Tem lucratividade substancialmente dife- lores do negócio. Além disso, o canal de distribui-
rentes; ção também descreve como a empresa leva até o
◆◆ Estão dispostos a pagar por aspectos dife- cliente o valor, e como faz o cliente perceber o que
rentes da oferta. a empresa oferece. Descreve quais os caminhos
Perguntas importantes: pelos quais a empresa comunica e entrega valor
- Para quem estamos criando valor? para o cliente.
- Quais são as características deste(s) seg- Os canais de comunicação, vendas e distri-
mento(s)? buição do produto são a interface da empresa com
- Quem são os nossos potenciais clientes o cliente. Servem para ajudar o cliente a conhecer e
mais importantes? avaliar a proposição de valor do produto, efetuar a
compra e uso do mesmo e posteriormente receber
O sucesso de uma empresa depende do grau suporte e assistência. Encontrar a combinação cor-
de satisfação de seus clientes (Osterwalder & Pig- reta de canais – próprios e/ou através de parceiros
neur, 2009), bem como do tamanho do mercado – é essencial para conseguir “entregar valor” para
dos segmentos de clientes escolhidos para serem o público-alvo (Osterwalder & Pigneur, 2009).
priorizados.
b) Proposição de Valor (Value Proposition) Perguntas importantes:
- Este bloco representa os pacotes de produtos e - Por quais Canais nossos Segmentos de
serviços que geram valor para os segmentos de Clientes podem/querem ser abordados?

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- Como esses Canais estão integrados? valores os clientes estariam dispostos a pagar. Ao
- Qual é o Custo/Benefício da utilização de final, é possível ter mais de um modelo de receitas
cada Canal? no negócio, inclusive para um mesmo segmento
de clientes.
d) Relacionamentos com Clientes (Custo-
mer Relationships) – A forma de relacionamen- Perguntas importantes:
to está intrinsecamente ligada ao perfil de cada - O que o cliente valoriza e pelo qual está
segmento de clientes. Mais do que nos outros disposto a pagar?
blocos, a empresa deve definir diferentes meca- - O que eles têm pago ultimamente para re-
nismos para criar e manter relacionamentos e o solver o mesmo problema?
nível de envolvimento do cliente. Quanto maior - De que maneira eles preferem pagar pelo
for o envolvimento e o interesse do cliente, mais valor gerado?
fácil será manter a rentabilidade com os clientes - Qual é a parcela de contribuição de cada
adquiridos. Para escolher as estratégias de rela- fonte de receita para a receita total esperada?
cionamento com os clientes, é preciso definir o
foco do negócio para aquisição, retenção e venda f) Recursos-chave (Key Resources) – Para
de produtos/serviços extras. Essas três estratégias elaborar o bloco de Recursos-chave, o empreen-
podem e devem coexistir no modelo de relaciona- dedor deve ater-se a colocar os recursos que são
mento com os clientes (Osterwalder, 2004). realmente imprescindíveis para a viabilização do
negócio, e não colocar quaisquer recursos que o
Perguntas importantes: negócio venha a requerer.
- Que tipo de relacionamento os clientes de O sexto bloco de construção de um modelo
cada segmento podem esperar? de negócio constitui os Recursos-Chave do negó-
- Qual é o custo de cada um deles? cio, e descreve as habilidades e recursos necessá-
- Como isso está integrado ao Modelo de rios para que o modelo de negócio seja coloca-
Negócio como um todo? do em prática. Esses recursos tornam a empresa
- O que pode se esperar em termos de aqui- apta a criar e entregar a sua proposição de valor,
sição, retenção e up-selling (vendas complemen- conquistando os mercados, ampliando e fortale-
tares) para esse tipo de relacionamento? cendo os relacionamentos com cada segmento de
clientes, e com isso aumentar a sua receita (Oster-
e) Fluxo de Receita (Revenue Streams) - walder & Pigneur, 2009).
Representa as possibilidades de geração de receita
que a empresa pode obter com cada segmento de Perguntas importantes:
clientes. É a medição de quanto e como o cliente -Que Recursos-Chave são importantes para
está disposto a pagar pela quantidade de valor ge- a nossa proposição de valor?
rada. Há uma série de fontes e modelos de receita -E para os Canais?
que podem ser aplicados pelas empresas. Alguns -E para os relacionamentos com os Clientes?
exemplos são: Venda de Produtos, Preço por uso -E para implementar as Fontes de Receita?
do produto, Preço por assinatura, Aluguel, Licen-
ça, Arbitragem (intermediação, agenciamento), g) Atividades-chave (Key Activities) – As
Publicidade, Leilão, etc. atividades podem ser de três tipos de natureza. A
As fontes de receita representam o que a em- primeira está diretamente relacionada à cadeia de
presa obtém de cada um dos segmentos de clien- valor e consiste nas ações operacionais, desenvol-
tes. Uma citação no livro de Osterwalder diz: “Se vimento de produtos, logística, marketing, ven-
os clientes são o coração do modelo de negócio de das e serviços. É a transformação do produto até a
uma empresa, os fluxos de receita são as artérias” entrega do valor para os clientes. A segunda con-
(Osterwalder & Pigneur, 2009). Ou seja, os clien- siste na resolução de problemas, com atividades de
tes também constroem e entregam valor para a diagnóstico de problemas, proposição de alterna-
empresa, quando pagam pelo produto ou serviço. tivas, escolha e execução da solução, e controle
Ao pensar no modelo de negócio, o empreende- dos resultados. Essa está geralmente associada a
dor deve se questionar qual o modelo de receita atividades de consultoria externa, e análise de in-
se adéqua a cada um dos segmentos, e por quais vestidores e especialistas. A terceira e última re-

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fere-se à rede de valor, e contém as atividades de de do negócio, ou seja, os gastos referentes à cria-
infraestrutura do negócio, apoiando a criação do ção de valor, como já foi dito, os gastos para man-
valor, como o gerenciamento de contratos, manu- ter os relacionamentos com os clientes, os custos
tenção da infraestrutura física, e dando suporte relevantes com os mecanismos de entrega de valor
aos recursos financeiros, como o controle de gas- e também para gerar receita. Após a definição dos
tos e de receitas (Osterwalder & Pigneur, 2009). outros elementos de modelo de negócio, represen-
tados como blocos de construção, como recursos-
Perguntas Importantes: chave, atividades-chave e parceiros-chave.
- Que Atividades-Chave são importantes A redução de custos é uma atividade deseja-
para a nossa proposição de valor? da, mas não essencial, pois o valor entregue por
- E para os Canais? si só já tem um alto custo. Outros modelos de
- E para os relacionamentos com os Clientes? negócio tendem a reduzir os custos, para gerar
- E para implementar as Fontes de Receita? maior rentabilidade. Automação de tarefas, ter-
ceirização intensiva dos recursos e atividades são
h) Parceiros-chave (Key Partners) – Os Par- atividades constantemente empregadas.
ceiros-chave definem a rede de fornecedores e par-
ceiros que viabilizam o modelo de negócio. Perguntas importantes:
De maneira geral, as parcerias e alianças es- - Quais são os custos mais importantes ine-
tratégicas tem se tornado um componente essencial rentes ao nosso modelo de negócio?
nos modelos de negócio, e sendo incorporado em - Quais recursos-chave são os mais caros?
várias empresas (Osterwalder, 2004). Observam-se - Quais atividades-chave são as mais caras?
atualmente quatro tipos de parcerias: alianças es-
tratégicas entre empresas que não são concorrentes,
O quadro Canvas
parcerias entre empresas concorrentes (Osterwal-
der chama de coopetição, a junção de cooperação
Na figura 3 pode-se ver o Canvas (original
com competição), empreendimentos em comum
em inglês) utilizado por muitas empresas para
para novos negócios, e a relação consumidor-for-
criar um modelo de negócio inovador ou gerar
necedor garantindo o fornecimento regular.
inovação em negócios já existentes, enquadrando
Entre os benefícios de parcerias bem-suce-
os nove blocos de modelagem de negócios propos-
didas, estão incluídas a otimização e a estabilida-
to por Osterwalder (2004), acoplando as regiões
de, porque, como a empresa terceiriza algumas
de importância para cada uma delas.
de suas atividades, o processo de desenvolvimen-
to e aprimoramento das tecnologias e processos
acontece em paralelo entre a empresa e seus par-
ceiros. As parcerias também propiciam a redu-
ção de riscos e incertezas, ao escolher parceiros
que tenham experiência e que estejam bem con-
solidados no mercado alvo.

Perguntas importantes?
- Quais devem ser nossos parceiros-chave?
- E os fornecedores estratégicos?
Figura 3: Canvas do Business Model Generation
- Quais recursos-chave estamos obtendo deles?
Fonte: Osterwalder, A.; Pigneur, Y. (2009).
- E quais atividades-chave eles produzem?

i) Estrutura de Custos (Cost Structure) – O A metodologia também sugere um processo


último bloco de construção da metodologia de Os- para o desenho do modelo de negócio. De forma
terwalder e Pigneur (2009), refere-se à estrutura- breve, recomenda-se um processo de brainstor-
ção dos custos do negócio. Os custos mais impor- ming (tempestade de ideias) inicial para geração
tantes inerentes ao negócio devem estar presentes, de possibilidades, após uma fase de discussão e
desde as etapas da construção até a captura do va- consolidação. O objetivo é completar o Canvas
lor. Os custos importantes devem ser aqueles que com as principais definições de cada componente
realmente vão interferir no cálculo da rentabilida- (Pires & Queiroz, 2012).

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Descrição do modelo de negócios com Canvas Abordagem Metodológica


Utilizar a modelagem Canvas ajuda o em-
Estudo realizado com o setor da
preendedor em vários aspectos. Hulme (2010)
sugere que os empreendedores realizem um exer- construção civil
cício de modelar seus negócios usando uma ferra-
menta gráfica como o Canvas. São três seus prin- Inicialmente fez-se um levantamento biblio-
cipais benefícios. gráfico de ferramentas e técnicas em modelagem
O primeiro concerne à necessidade de co- de negócio para criação do quadro Canvas, po-
municar e descrever o modelo de negócio. Tan- dendo chegar em sua concepção estrutural e tam-
to clientes, quanto funcionários, executivos e até bém para compreensão de sua funcionalidade.
mesmo empreendedores concorrentes precisam O estudo como realizado não tem referência
ter conhecimento sobre o seu modelo de negócio, na literatura da construção civil, sendo necessá-
se você tem um negócio. A ferramenta facilita a rio fazer associação com outros setores e buscar
comunicação com os demais stakeholders (partes elementos em outras cadeias produtivas.
interessadas) sobre como é a articulação dos di- A partir deste momento, o foco se deu junto
ferentes componentes do negócio, para gerar dis- a indústria da construção civil, sua cadeia pro-
cussões criativas sobre novas oportunidades de dutiva, seus setores e subsetores de empresas que
negócio, bem como alinhar os pensamentos para fazem parte desta rede da economia. Sendo de-
identificação de riscos e falhas do modelo. finido portanto os setores que deveriam ter um
Outro benefício está em o empreendedor estudo de modelagem empresarial para aprimo-
pensar em todos os detalhes do seu modelo de ramento do negócio destes setores.
negócio, durante todo o tempo. Empreendedores Foi desenvolvido então um modelo de ne-
frequentemente tendem a considerar mais uma gócio para cada tipo de empresa: construtora, in-
parte do seu negócio, como marketing ou fonte de corporadora, escritório de projetos e empreiteira
receitas, ignorando outros componentes funda- de mão de obra, usando a técnica de representa-
mentais, como a estrutura de custos do negócio. ção de blocos Canvas.
Com a ferramenta Canvas, o negócio é sempre Para isso foi estudado o segmento da cons-
representado por inteiro, porque a realidade acon- trução civil, enquadrando quem são os clientes e
tece dessa forma (Hulme, 2010). Apesar de não se como deve ser estruturada uma empresa do setor
tratar de uma regra, todos os componentes devem da construção civil para atender estes clientes.
ser analisados e descritos um por um, participan- Antes tendo uma etapa de brainstorming, na qual,
do de todas as etapas de aprendizado da empresa. por discussões em grupo de profissionais ligados
Se o modelo de negócio é representado atra- aos referidos setores, análise de informações bi-
vés de uma linguagem comum, como o Canvas, é bliográficas, propostas de ideias também usando
mais fácil trazer outras pessoas para as discussões princípios da antologia, e por metodologia visual
e sessões de brainstorming (tempestade de ideias). Design Thinking, resultou na ferramenta quadro
Ou seja, utilizar uma ferramenta gráfica permite da técnica Canvas preenchido para o modelo de
gerar mais iniciativas inovadoras nos modelos de negócio proposto. Cabe ressaltar que cada um
negócio, possibilitando um aumento da criativi- dos elementos inseridos nos blocos foi identifica-
dade do negócio. Como já visto anteriormente, as do por no mínimo uma referência bibliográfica
metodologias de Design Thinking por si só já facili- em literatura da construção civil para corroborar
tam a criação de soluções inovadoras, baseadas nas com os elementos citados.
necessidades e desejos dos clientes. A ferramenta Os segmentos do setor da construção civil
Canvas incorpora essa metodologia e, portanto, utilizados foram: Construtora, Incorporadora,
favorece as mentes criativas dos empreendedores. Escritórios de Projetos e Empreiteiras de Mão
Como é possível perceber, o Canvas não se de Obra. Apresentado na sequência do trabalho.
propõe a tratar de cada componente em detalhe. Ressalta-se ser uma proposição de posicionamen-
Seu objetivo é descrever o Modelo de Negócio em to do setor, não sendo exclusivo nem conclusivo
uma visão mais macro, guiando o empreendedor para as empresas, que devem utilizá-lo como mo-
para identificar quais são as suas hipóteses mais delo inicial de proposição.
questionáveis, e avançar na produção e na busca
de provas para suas suposições.

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Estruturação do Modelo de Negócios Canvas…

Modelagem de negócio Em recursos chaves estudou a estrutura de


cada setor/empresa para aporte na entrega de va-
Primeiramente foi identificada a importân- lores aos clientes. Definindo com base em situação
cia de cada bloco respondendo às perguntas em já existentes e novas propostas de estruturação.
específico (apresentadas na revisão bibliográfica). Cada empresa tem atividades a serem desen-
Começando pela interface dos clientes que é de volvidas que são de extrema importância para seu
onde parte a modelagem de negócios proposto funcionamento. No bloco atividades chaves, atri-
pelo criador do modelo Canvas. Neste bloco se buíram-se atividades que as empresas deveriam
define quem serão os clientes da empresa, para ter para seu bom funcionamento fundamentado
quem a empresa estará entregando seus produtos em bibliografia e procedimentos funcionais no
e/ou serviços. ramo da construção civil.
Definição do produto onde na interface se es- Para os parceiros chaves das empresas, lis-
tuda a preposição de valor do produto, que será in- taram-se parceiros que podem contribuir no de-
formado neste bloco qual é realmente o produto e senvolvimento das atividades da empresa para
como é este produto da empresa para seus clientes. atendimento dos clientes. Parceiros estes baseado
Para definição destes valores buscou-se tendências no modelo existente das empresas.
ou necessidades exigidas por clientes de cada em- A estrutura de custo foi proposta basea-
presa, por meio de material bibliográfico atual. da nos recursos chaves da empresa, impondo os
No bloco canais de distribuição foi proposto maiores gastos e investimentos que a empresa te-
quais seriam as formas de entrega destes valores ria no negócio.
aos clientes, por diferentes formas e maneiras Por fim, foi feita uma análise final do mode-
para cada empresa baseado em procedimentos lo de negócio gerado. Discutindo as relações de
padrões já existentes para estas empresas e pro- fluxo das interfaces do quadro de maneira siste-
pondo outras formas de entrega ao cliente. mática ao segmento da construção civil, basean-
Para o bloco relacionamento com o cliente, do no cenário atual.
apresentaram-se formas de manter contato com
o cliente no atendimento das propostas de valores
entregues. Para isso, buscaram-se referências em Apresentação dos Modelos
TIC (tecnologia da informação e comunicação)
para manter esta relação com o cliente da empresa.
Propostos
No bloco de fontes de renda definiu-se como
seria o tipo de recebimento da empresa pela en- Com uma coletânea de dados da indústria
trega de valores propostos aos clientes, baseado da construção civil foi possível estruturar as in-
em formas já existentes e padrões de contratos formações para composição do quadro Canvas
empresariais. que aponta tendências e exigências de clientes para
Na interface gerenciamento de infraestrutu- produtos e atendimento de necessidades, bem
ra foi definido quais são os parceiros, atividades e como o posicionamento estratégico das empresas
recursos chaves, já pensando em fluxo sistemáti- destes setores da construção.
co da modelagem de negócios. Seguem os modelos propostos:

Quadro 1. Quadro Canvas - Modelo de negócio para Construtoras.


Fonte: Elaborado pelos autores

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C. A. Jacoski, A. Scapin, L. Hoffmeister, M. F. Costella

Criado para: Criado por: Em:

Canvas do Modelo de Negócio MODELO PARA UMA CONSTRUTORA

Parcerias Chaves Atividades chaves Propostas de valores Relacionamentos com o cliente Segmentos de clientes

*Fornecedores de materiais *Produção eficiente:


* Entrega da construção no prazo firmado
*Empreiteiras de mão de obras *Uso de equipamentos e maquinas nas atividades da construção
*Associação de sociedades e sindicatos *Aprimoramento dos funcionarios na qualificação dos trabalhos *Gerenciamento da obra (obras de maior porte) * Incorporadora
* Organograma da empresa bem definido e estruturado
*Processos produtivos sustentaveis *Sistema de fluxo de informações direto *Setores Publicos
*Eficiente e atualizado sistema de gerenciamento das obras *Pessoas fisicas
*Sistema de recrutamento de pessoal eficaz *Mão de obra de boa qualidade e capacitada
*Respeitar as normas de desempenho da construção
*Adoção de praticas com base na construção enxuta Canais
*Controles de qualidade da execução *Suporte tecnico de engenharia atuante na obra
*Uso da modelgaem BIM no canteiro de obra *Trabalho de markenting
* Construção sustentável
Recursos chaves *Serviço qualificado de venda dos valores
*Contratos bem firmados juntamente com orçamentos
*Eficiente estrutura de serviço (deposito de materiais, central montagens)
*Ter uma infraestrutura que atenda perfeitamente a demanda da produção nas obras bem detalhados
*Ter um aporte tecnico qualificado (engenheiros, tecnicos,gestores)
*Uso de materiais de construção de boa qualidade

Estrutura de custos Fontes de renda


*Aquisição de materiais e equipamentos *Contratos por prestação de serviço/construção
*Investimeos salariais com funcionários
*Pagamentos de terceiros
* Estrutura admistrativa

(1) CBIC= maiores indices da população comparado regioes do Brasil, em SC


(2) CADEIA PRODUTIVA DA CONSTRUÇÃO CIVIL: UMA ANÁLISE SOBRE A
SUSTENTABILIDADE

Quadro 2. Quadro Canvas - Modelo de negócio para Incorporadoras


Quadro 2. Quadro Canvas - Modelo de negócio para Incorporadoras
Fonte: Elaborado pelos autores
Fonte: Elaborado pelos autores

Quadro 3. Quadro Canvas - Modelo de negócio para Escritórios de Projetos.


Fonte: Elaborado pelos autores.

Quadro 4. Quadro Canvas - Modelo de negócio para empreiteiras de mão de obra.


Fonte: Elaborado pelos autores.

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Estruturação do Modelo de Negócios Canvas…

Cada setor da construção apresenta deficiên- empresas como foi o caso em questão) em ofere-
cias na constituição em seus produtos e prestação cer valor aos seus clientes por meio de produtos
de serviços, todos já conhecidos pela cadeia pro- (bens e serviços), incidindo uma análise das en-
dutiva da indústria da construção, envolvendo tregas e dos resultados esperados, almejando a
entrega de serviços bem como questões de pro- manutenção de forma sustentável ao longo de um
dutividade e qualidade no bem entregue ao clien- período de tempo.
te. Diante disso se propôs no modelo de negócio, Tal técnica que se propunha a buscar a
uma forma estrutural que contribua no atendi- estruturação de estratégias para enfrentamen-
mento destas exigências e demandas, baseado no to da competitividade do mercado, mostrou-se
modelo de negócio Canvas, buscando minimizar adequada e ampla, não oferecendo um conjunto
a ocorrências das falhas existentes nos setores. conclusivo e final, mas sim, dinâmico, de análise
Para o tipo de empresa construtora, pode- proativa e evolutivo, permitindo a geração de va-
se observar uma tendência da necessidade de lor para cada tipo de cliente.
gerenciamento estratégico para entregar os valo- Cabe ressaltar a possibilidade de uso da mo-
res aos clientes, tendo como atividade chave da delagem Canvas não somente para projetos nas-
organização, para tal adotando-se ferramentas centes, mas sim de empresas existentes no setor
de gestão para controle dos processos produtivos da construção, através do redesenhar dos negó-
da empresa. Além da preocupação com o atendi- cios visando avançar no processo de inovação e
mento a questões de sustentabilidade ambiental, eficácia como uma vantagem competitiva para o
que tem relação direta com a produção da cons- mercado de atuação.
trução civil. A inovação do modelo de negócio de cada
Já na empresa incorporadora evidenciou a empresa (construtora, incorporadora, escritório
demanda de exigências dos clientes por particu- de projetos e empreiteira de mão de obra) pode
laridade de características na busca de imóveis. E ser visto como o ponto de partida através das
uma forte operação de entrega e relacionamento mudanças ao nível dos processos para transfor-
com e destes valores com os clientes apontando mar a lógica de proposição de valor das organi-
como necessário para venda dos imóveis. zações que compõem estes setores. Em cada um
Montando o modelo de negócio para escri- dos tipos estudados, foi possível construir uma
tório de projetos para a construção civil, perce- estratégia de abrangência da condição existente,
be-se uma grande demanda de agilidade e pre- para o que se espera estrategicamente como en-
cisão nos produtos entregues ao cliente. Tendo a trega da empresa.
necessidade de ferramentas de integração opera- Frente a estes resultados e com os objetivos
cional nos processos dos projetos. Necessitando citados, em aprimoramento dos setores da cons-
também de uma estrutura gerencial para organi- trução e aplicação do Canvas fica a proposição
zação das etapas de cada projeto e aprimoramen- para estudos individualizados com empresas e
to dos mesmos. também um estudo mais amplo com a Cadeia
Tendo o modelo da estrutura para a em- Produtiva.
preiteira de mão de obra, apontou-se claramente Resulta que os modelos propostos para cada
na falta de qualificação da mão de obra atual e tipo de empresa escolhido (construtora, incor-
a grande exigência dos clientes por um produto poradora, escritório de projetos e empreiteira de
final entregue de boa qualidade. Forçando com mão de obra) do setor da construção civil, podem
que este tipo de empresa invista na qualificação ser usados como plataforma de estudo e estru-
de sua mão de obra, capacitação e evolução nas turação de empresas nascentes, ou mesmo para
técnicas de produção. empresas já existentes com o intuito de inovação
na modelagem de negócio para busca do atendi-
mento aos clientes, melhora da competitividade e
Comentários conclusivos posicionamento estratégico frente ao atual cená-
rio competitivo do mercado da construção.
A estruturação do modelo de negócio Can-
vas para os quatro setores da construção, eviden-
ciou uma efetiva possibilidade de se abranger a
representação dos processos de uma (ou conjunto

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C. A. Jacoski, A. Scapin, L. Hoffmeister, M. F. Costella

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