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PESQUISA DE MERCADO, OPINIÃO E MÍDIA

A
T
S
I
V
E
R

# 18 / 2017

Tão perto,
tão longe...
Conteúdo das empresas
de pesquisa pode
conquistar mais espaço na
mídia. Isso exige apenas
informações e dados
melhor embalados e
profissionais de imprensa
atentos às metodologias
aplicadas aos estudos.
Selo de Qualidade ABEP
pode auxiliar nessa
aproximação

8º CONGRESSO ABEP / 2018


Com o tema “Um Infinito de Possibilidades”, evento sugere módulos
com apresentações mais rápidas e pequenas inserções comerciais
na ponta3dos CARO LEITOR

CONECTADOS
C
Como nas provas de re-
vezamento no atletismo

COM O AMANHÃ: ou na natação, as ativi-


dades na ABEP podem mudar de
mãos, mas o bom desempenho
não pode ser comprometido. É
com grande satisfação que rece-
bi do Paulo Carramenha o bastão Fábio Duarte:
Coordenador editorial
e a responsabilidade de ser co-
ordenador editorial da PMKT21.
Seu trabalho foi brilhante e isso
só aumenta o meu desafio no exercício da 50 anos,
nova função, que passo a acumular com as praticame

C atribuições dejornalistas
diretor-executivo da entidade. que repor
om a multiconectividade das to dos a respeito dos concei-
pessoas e as tendências cada tos básicos que norteiam o universo da
Feita essa
vez mais voláteis, as pesqui- explicação
pesquisa. inicial,
Os profissionais tenho a grata tegração
de imprensa,
sas de mercado e de opinião públi- porde
satisfação sua informar
vez, também que dão boas dicas de
a PMKT21 segue de Paula
ca tornam-se essenciais na busca de como os institutos devem atuar para am-
a evolução
novos caminhos para sensibilizar o pliarnatural da na
sua relevância mídia
mídia. e passa a ser vei- Mais adia
consumidor, impulsionar as marcas e Como é praxe nas últimas edições da
culada, a partir desta edição, exclusivamen- theus, ou
gerar resultados. À frente desse siste- PMKT21, dedicamos atenção à atual si-
ma obstinado de investigaçãote, em
estão os formato digitalnacional.
tuação da economia (tablets smartpho- de opiniã
Destaevez,
insights, “ingredientes” que ganham ao invés de apenas abrirmos espaço para
relevância na criação das nes),
ações de pora meio
opinião das plataformas
dos especialistas sobre aiOS,
con- Android berturas e
marketing e de PR dos clientes. Diante juntura e o futuro do País, fizemos uma
e HTML5. O aplicativo que pode ser baixado
dessa crescente demanda, a PMKT21 leitura do cotidiano tanto do ponto de
Para co
traz para discussão do tema gratuitamente na econômicos
Felipe vista dos agentes Google como da
Mendes, CEO da GfK, Valkiria Garré, população. Tudo ancorado nos levan-
CEO da Kantar Millward Brown PlayBrasil
ou na Apple
tamentos Store.pelas empresas de
realizados
Diantepesquisa.
e da Kantar TNS Brasil, e Zilda Knoplo- dessa Pelo novidade,
lado do governo e dos
ch, CEO da Enfoque. Todos empenha- empresários, o ânimo parece renovado a
dos em contribuir para que aoindústria
nosso partir
Conselho
de 2018. Já Editorial
entre os consumido-
de pesquisa gere insights mais qualifi- res, a sensação continua a ser de incerte-
achou que
cados, assertivos e eficientes.
seria uma boa
za e insegurança.
oportunidade
Ainda na linha do aperfeiçoamento para emavaliar-
Para falarmos consumidor, convi-
das iniciativas que movimentam o nosso do você ler a reportagem a respeito dos
mercado, conversamos com três mos as transformações
jorna- detalhes que envolvem pro- a atualização da
listas para entender como é feito
vocadas pela tecnologia mo- Familiar),
hoje e POF (Pesquisa de Orçamento
como seria possível melhorar o aprovei- uma antiga reivindicação da indústria
bile no comportamento
tamento e a divulgação dos conteúdos de pesquisa, cuja última do edição foi pu-
produzidos pelas empresas de pesquisa blicada há oito anos. Acreditamos que
consumidor e como a indús-
por parte dos veículos de comunicação. não faltam atrativos para que você dedi-
Uma das coisas que apuramos trianesses
de pesquisa
que algum tempoestáàsinves-
páginas digitais da
bate-papos é a carência de conhecimen- PMKT21. Boa leitura!
tindo e se adaptando para
captar as percepções sociais
PMKT21# 18 / 2017
4 SUMÁRIO

3> Caro leitor


Pág.

Matéria de capa
>> Pesquisa X Imprensa: com maior 6>
comprometimento dos dois lados, estudos podem Pág.
conquistar melhor visibilidade na mídia

> 12
Pág.
Congresso ABEP
>> Programado para 2018,
evento amplia espaço dedicado
aos cases, speakers e debates

Parceria ABEP/CENP
14 > >> Não compre gato por lebre.
Cuidados para não tomar como pesquisa 18 > Renda &
Pág. Pág. consumo
algo que não merece este nome
>> Nova POF traz
algumas novidades:
uso de TV a cabo,
aplicativos e gastos
com animais
Sinergia
>> Insights cada vez mais qualificados > 21
Pág.
domésticos

pedem relacionamento contínuo


com os clientes, estudos programados
e ampla troca de informações

PMKT21# 18 / 2017
Coordenação Editorial:
24 > Artigo Fábio Duarte
Conselho Editorial:
>> Diego Oliveira: A cultura participativa e os “ex-espectadores”
Duilio Novaes, Fábio Duarte,
AlessandraAlessandra Frisso,Coutinho
Frisso, Marcelo
Produção de conteúdo:
26 > Debate
Marcelo Coutinho e Luis Pilli
Produção de conteúdo:
Tamer Comunicação
>> Lançamento do livro Editor responsável:
Tamer Comunicação
Pesquisa de Opinião Pública – Editor
Theo responsável:
Carnier (MTB 11.110)
Redação:
Theo Carnier (MTBde11.110)
Gilberto Almeida
Teoria, Prática e Estudos de
Redação:
Revisão:Gilberto
ElisabetedeBigarelli
Almeida
Casos estimula discussão sobre
Arte: RicardoMário
Fotografia: Marques
Bock
as tendências que mexem Revisão:
Capa: Elisabete Bigarelli
Depositphotos
com a sociedade Fotografia:
Aplicativo editoria:
Mário Bock
Magtab.com
PMKT21Capa:
é umaDepositphotos
publicação trimestral
Aplicativo:
da Associação Magtab.com
Brasileira de Empresas
30 > Voz da experiência PMKT21 é uma(ABEP).
de Pesquisa publicação
da Associação
trimestral
Distribuição
Brasileira de
gratuita
>> Com 60 anos de profissão, Pergentino de Almeida plantou
Contato:
Empresas de Pesquisa (ABEP).
revistapmkt21@abep.org
as sementes das discussões em grupo no Brasil As opiniões emitidas
Distribuição nos artigos
gratuita
Contato:
são de responsabilidade
revistapmkt21@abep.org dos
As opiniões emitidas
autores. nos artigos são
34 > Economia de responsabilidade
Diretoria:dos autores.
>> Pesquisas de mercado e de opinião pública levam a análises diferentes Duilio NovaesDiretoria:
(Presidente); Fernando
dos agentes econômicos e da população sobre a realidade nacional Duilio (Vice-Presidente);
Ribeiro Novaes (Presidente); João
Marcia Cavallari
Francisco (Vice-Presidente);
Meira (Vice-Presidente),
PedroMendes
Felipe Ribeiroe(Vice-Presidente);
Luis Pilli (diretores
Valkiria Garré, João Francisco
nomeados); Fábio Duarte Meira e
(Diretor-
Joana MagelaExecutivo).
(diretores nomeados);
Fábio Duarte
ABEP | Av. Nove(Diretor-Executivo).
de Julho, 4.865,
ABEP |31A
conjunto Av. Nove
| CEPde Julho, 4.865,
01407-200 | São
conjunto
Paulo/SP |31A | CEP (11)
Telefone: 01407-200 | São|
3078 7744
Paulo/SP | Telefone: (11) 3078 7744 |
www.abep.org
www.abep.org

38 > PMKT Ciência


>> Influência da presença digital das marcas no comércio eletrônico

Escreva o seu e-mail, faça seu

44 > Estante Escreva o seuimprensa@abep.org


comentário: e-mail, faça seu
comentário: imprensa@abep.org
>> Sugestões de lançamentos do mercado editorial

45 > Artigo
>> Marcelo Coutinho: Estratégia de plataformas − você ainda vai ter uma
www.blogabep.org
PMKT21# 18 / 2017
6 M AT É R I A D E C A PA

SINTON
SINTO
quase
PERFEITA
Profissionais experientes de mídia mostram como os conteúdos
gerados pelas empresas de pesquisa podem ser melhor aproveitados
pela imprensa. É um trabalho que exige empenho dos jornalistas
e uma nova forma dos institutos tratarem suas informações
Por Gilberto de Almeida

P
oucos conteúdos conquistam tão gar seus conteúdos de maneira mais atraen-
bom espaço na mídia quanto as pes- te e eficiente. Para isso, o primeiro passo é
quisas de opinião pública e de mer- pensar no impacto e na diferença daquelas
cado. Quase todos os dias, jornais, revistas, informações no cotidiano dos leitores, dos
emissoras de rádio, telejornais e portais na ouvintes, dos telespectadores ou dos inter-
internet abrem espaços generosos para di- nautas. Se for algo relevante, os dados certa-
vulgar tendências da percepção da socieda- mente conquistarão espaço nobre na mídia,
de, seja no campo da política, do comporta- gerando boa repercussão e, consequente-
mento ou do consumo. Tudo, quase sempre, mente, a merecida exposição da empresa
envolto, equivocadamente, em uma aura responsável pelo levantamento. Tudo isso
de muita credibilidade e competência. Esse parece simples, mas ainda estamos longe do
aproveitamento das informações e dos da- mundo ideal.
Foto: Depositphotos

dos gerados, no entanto, poderia ser ainda Especialista há mais de 13 anos em aná-
maior, se a imprensa tivesse um entendimen- lise de dados aplicados ao jornalismo, José
to mais profundo do universo da pesquisa e Roberto Toledo considera as pesquisas de
se os institutos soubessem embalar e divul- opinião pública uma fonte muito importante

PMKT21# 18 / 2017
NIA
ONIA
Cristina Angelini: Denise Campos de Toledo: José Roberto Toledo :
produtora do Globo Repórter comentarista de economia da criador do Estadão Dados e
rádio Jovem Pan e da TV Gazeta membro do Conselho da Abraji
9
para a imprensa. No entanto, elas ainda são Sobre a credibilidade das pesquisas eleito-
subaproveitadas. Sua compreensão é restri- rais, depois de alguns resultados teoricamen-
ta por parte dos jornalistas. “Não existe um te imprevistos, como a eleição de João Dória
entendimento claro dos conceitos básicos já no primeiro turno para a Prefeitura de São
que envolvem a realização de uma pesqui- Paulo e a vitória de Donald Trump à Presidên-
sa, como metodologia, amostragem, campo, cia da República nos Estados Unidos, contra-
período de captação dos dados, abordagem riando a grande maioria das pesquisas de
presencial, por telefone ou web, os limites opinião realizadas às vésperas das eleições,
de cada estatística, etc.”, detalha Toledo, Toledo diz que isso reflete uma mudança no
que é criador do Estadão Dados, núcleo do comportamento do eleitorado. “Com a ul-
Estadão especializado em reportagens ba- traconectividade, mudou a maneira como as
seadas em estatísticas e dados, e também pessoas processam as informações e o tem-
fundador e membro do Conselho da Abraji po dedicado aos assuntos do seu interesse.
(Associação Brasileira de Jornalismo Investi- Isso torna a decisão do voto cada vez mais
gativo). “Isso, em parte, é resultado também tardia, provocando uma volatilidade muito
de uma certa inércia dos profissionais de im- grande”, explica Toledo.
prensa, combinada com a falta de tempo e o Muito políticos, durante o período eleito-
pouco espaço nos veículos para a divulgação ral, costumam dizer, principalmente quando
detalhada dos dados”, explica ele. estão atrás na disputa, que as pesquisas di-
Por parte das empresas de pesquisa, Tole- vulgadas pela mídia revelam apenas um re-
do lembra que, principalmente em período trato momentâneo da corrida por um cargo
eleitoral, proliferam levantamentos de opi- público. José Roberto Toledo prefere compa-
nião pública de má qualidade. São trabalhos rar a pesquisa a um fotograma de um longa-
produzidos por institutos de reputação duvi- -metragem. “Quantos mais fotogramas você
dosa, totalmente fora dos padrões e da ética tiver, melhor será a qualidade daquela tra-
exigidos pela ABEP. Como alguns jornais de jetória”, afirma ele. “A tecnologia trabalha
menor expressão vendem a sua credibilida- a favor do desenvolvimento das pesquisas.
de, essas pesquisas suspeitas, geralmente Quanto maior for a frequência dos levanta-
contrárias à tendência dos demais levanta- mentos, menor será o seu custo. É uma pena
mentos, ganham espaço e causam um des- que ainda tenhamos uma legislação restriti-
serviço à sociedade. “O único que fica satis- va, preocupada apenas com as consequên-
Fotos box: Divulgação / Foto página inteira: Depositphotos

feito nesse contexto de ilícito é o oportunista cias da divulgação de quem está na frente ou
que se aproveitou para enganar e ganhar di- atrás na corrida eleitoral. Além disso, infe-
nheiro”, diz Toledo. lizmente, ainda temos uma carência técnica
“Antes de um jornalista publicar uma pes- dos veículos no entendimento dos resulta-
quisa é fundamental que ele se certifique, an- dos”, analisa Toledo.
tecipadamente, da metodologia empregada, Mas na melhoria do aproveitamento das
do tamanho da amostra, das datas de campo, pesquisas pela mídia, não podemos depo-
dos levantamentos já realizados, etc. Além sitar os ajustes apenas nos profissionais de
disso, que fique de olho em quem são os ou- imprensa. Com 31 anos de carreira, dos
tros clientes daquele instituto. Se só trabalha quais mais de 18 anos dedicados à TV Glo-
para um partido ou para um candidato, sua bo − 12 como produtora-executiva do Jor-
credibilidade é no mínimo duvidosa”, ensina nal Nacional e outros seis no Globo Repórter
o membro do Conselho da Abraji. −, Cristina Angelini já filtrou e transformou

PMKT21# 18 / 2017
10
em reportagem inúmeras pesquisas. Fora os nomista Paulo Rabello de Castro, ex-presi-
levantamentos enviados pelos grandes ins- dente do IBGE, inconformado com o baixo
titutos, sua maior queixa é em relação aos aproveitamento das informações geradas
trabalhos realizados pelas empresas meno- pelo instituto.
res, muitas vezes com conteúdo irrelevan- Também disposta a contribuir na evolução
te, retratando um universo muito pequeno, do relacionamento das empresas de pesquisa
buscando apenas divulgação de uma marca. com a mídia, a jornalista Denise Campos de
“Qual é o grau de relevância para o noticiário Toledo, comentarista de economia da rádio
do Jornal Nacional, por exemplo, a informa- Jovem Pan e da TV Gazeta, ambas em São
ção sobre os principais itens que as mulheres Paulo, sugere que as pesquisas mais técnicas
carregam nas bolsas? ”, pergunta Cristina. deveriam ser divulgadas acrescidas de expli-
“Uma boa pesquisa para se transformar em cações para facilitar o entendimento. “Não
matéria num telejornal precisa impactar o basta o comparativo dos números, a análi-
cotidiano da maioria dos brasileiros. Muitas se das informações e a tradução dos dados
vezes, o assunto é bacana, mas é divulgado por meio de fontes especializadas ajudaria
de forma equivocada, valorizando uma mar- na compressão maior dos resultados”, reco-
ca ou fora do time”, explica ela. menda a comentarista de economia.
Um exemplo de conteúdo correto, mas Esse adicional também contribuiria para
fora do prazo, aconteceu em julho deste evitar que algumas pesquisas, em redações
ano, quando o Globo Repórter exibiu um com equipes pouco preparadas, ganhem es-
programa sobre a saúde do brasileiro, sua di- paço na mídia não pela qualidade dos dados,
ficuldade em controlar o peso e os benefícios mas por sua capacidade de gerar manchetes.
da atividade física. “Depois de termos pes- “Infelizmente, existem diversos casos de le-
quisado abertamente o assunto, recebemos, vantamentos bem limitados, porém com boa
na semana seguinte, um estudo a respeito repercussão em vários veículos de comunica-
da importância do trabalho do personal trai- ção por causa do tema abordado. Isso por-
ner durante os períodos de dieta. Poderia que querem apenas levantar a bola de de-
ser que nem usássemos aquela informação, terminadas questões”, alerta Denise Campos
mas ela não só chegou fora de hora como de Toledo.
também revela um grande desconhecimento A sintonia entre as empresas de pesquisas
do veículo com o qual tenta conquistar espa- e a mídia vem de longe. A melhoria desse re-
ço”, avalia a produtora da TV Globo. lacionamento, baseado em princípios éticos,
Para explorar com mais eficiência as opor- tende a avançar. Para contribuir com isso, a
tunidades na mídia eletrônica, Cristina An- ABEP se movimenta para lançar, em breve,
gelini propõe que as empresas de pesquisas um selo de qualidade. “Ele será um divisor
e suas assessorias sejam um pouco mais se- de águas dentro do mercado de pesquisa,
letivas em suas divulgações e que busquem de um lado estarão as empresas certificadas,
contextualizar seus dados. Em sintonia com comprometidas com o padrão dos processos,
essa sugestão, o IBGE criou há dois meses com a lisura dos resultados e ainda empe-
o IBGE Notícias e transformou sua área de nhadas em estimular a interlocução com a
Foto: Depositphotos

imprensa em um núcleo de produção de imprensa e com os veículos de comunicação.


conteúdo voltado para os jornalistas, com Na outra ponta, ficariam aqueles que fazem
releases mais diretos e didáticos. A concep- de tudo, menos pesquisa, finaliza Duilio No-
ção da agência surgiu de uma ideia do eco- vaes, presidente da ABEP.

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12 CONGRESSO ABEP

MAIS ENGAJADO,

Fotos: Divulgação
atraente e dinâmico
Com o tema “Um Infinito de Possibilidades”, o 8º Congresso da
ABEP, programado para segundo trimestre de 2018, amplia espaço
para cases, speakers e debates. Traz módulos com apresentações
mais rápidas, prêmio para clientes e product showcases

A
maioria dos grandes artistas começam suas Tudo isso integrado aos interesses e aos questionamen-
obras a partir de estudos e de esboços. É tos que inquietam os clientes que movimentam a indús-
exatamente por essa fase do processo de tria de pesquisa”, resume Mendes.
criação que passa a ABEP na estruturação do 8º Con-
gresso Brasileiro de Pesquisa – Mercado, Opinião e Mí- LADO A LADO COM OS CLIENTES
dia. Programado para o segundo trimestre de 2018, o Para tornar o evento mais engajador e atraente para
encontro é concebido a partir de um tema abrangente o público, além de concentrar as palestras, os deba-
e integrador: “Um Infinito de Possibilidades”. De acor- tes e as apresentações em apenas um palco − dividido
do com Felipe Mendes, chairman do evento e CEO da em duas frentes, com atividades que se sucedem sem
GfK Brasil, a proposta é tornar o congresso bianual da intervalo −, o chairman pretende ampliar também o es-
ABEP ainda mais dinâmico, conectado às necessidades paço dedicado aos cases, aos speakers e aos debates.
do mercado, aos desdobramentos político/econômico, Nos cases, por exemplo, uma das ideias é que sejam
às tendências do consumidor e à inovação permanente divulgados de maneira conjunta empresas de pesquisa
na comunicação. e clientes, lado a lado. “A visão do cliente revela quase
“Como já é tradição, vamos abrir espaço para discus- sempre um ângulo diferenciado, de quem vivenciou e
sões sobre as transformações do mundo, da sociedade contabilizou os bons resultados gerados de um traba-
e do consumidor. Analisaremos as evoluções geradas lho eficiente de pesquisa”, avalia
pela tecnologia, debateremos como a informação está
fluindo e se multiplicando no cotidiano das pessoas, no AGILIZAR A TRANSIÇÃO
ambiente das empresas, nas mídias, nas redes sociais. Sugestionado pelo formato dinâmico empregado nas

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13

Felipe Mendes
Chairman do
congresso e CEO
da GfK Brasil

“COMO JÁ É TRADIÇÃO, VAMOS ABRIR ESPAÇO PARA DISCUSSÕES SOBRE


AS TRANSFORMAÇÕES DO MUNDO, DA SOCIEDADE E DO CONSUMIDOR.
ANALISAREMOS AS EVOLUÇÕES GERADAS PELA TECNOLOGIA, DEBATEREMOS
COMO A INFORMAÇÃO ESTÁ FLUINDO E SE MULTIPLICANDO NO COTIDIANO
DAS PESSOAS, NO AMBIENTE DAS EMPRESAS, NAS MÍDIAS, NAS REDES SOCIAIS.
TUDO ISSO INTEGRADO AOS INTERESSES E AOS QUES­TIONAMENTOS QUE
INQUIETAM OS CLIENTES QUE MOVIMEN­TAM A INDÚSTRIA DE PESQUISA”

palestras do TED (Technology, Entertainment, Design), serão submetidos a uma ampla votação online, com
Felipe Mendes pretende otimizar o tempo do con- a participação de profissionais das áreas de pesquisa,
gresso da ABEP, procurando evitar que os expositores marketing e comunicação, explica Felipe Mendes.
mergulhem em divagações secundárias. Já chamado
informalmente de “semi-TED”, o novo padrão, com PRODUCT SHOWCASE
apresentações de 20 minutos para cases e papers e de Diante da tradição do congresso da ABEP em atrair
30 ou 40 minutos para os speakers, será esquemati- um público muito qualificado, estuda-se ainda a inser-
zado com muito planejamento, sensibilidade e discer- ção de ligeiras apresentações comerciais, de apenas
nimento a respeito da relevância de cada tema. Tudo sete minutos, de produtos ou de serviços trazidos por
isso em benefício da audiência, mantendo o especta- clientes ou por empresas de pesquisa. Nada que atra-
dor sempre ligado. palhe o andamento do evento, mas também não se
pode, nos dias de hoje, menosprezar recursos gerados
PRÊMIO PARA CLIENTES de forma objetiva e criativa, argumenta o chairman.
Outra novidade em discussão é a criação de um prê- Ainda temos alguns meses até o congresso e en-
mio para os clientes. Inspirado no formato do Cabo- quanto o nosso quadro não fica totalmente pronto,
ré, do Meio e Mensagem, o conselho que seleciona Felipe Mendes e os integrantes do conselho correm
os cases do congresso também indicaria três clientes atrás de tudo que envolve um grande evento: speake-
em categorias, como apoio à inovação dos parceiros, rs, estrutura, patrocinadores, fornecedores, etc. Mas
melhor entendimento do seu business, melhor aplica- fiquem atentos porque aos poucos vamos contando
ção dos insights gerados, etc. Feito isso, os indicados outras novidades.

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14 PA R C E R I A
ABEP/CENP

OS CUIDADOS
para não se
comprar gato
por lebre*
Pesquisas nunca foram tão necessárias para sustentar decisões
de marketing e publicidade. É preciso cuidado, porém, para não
tomar como pesquisa algo que, por problemas técnicos ou dolo, não
mereça este nome. Perda de reputação e dinheiro podem resultar de
uma decisão baseada em dados que não correspondem à verdade

N
um mundo no qual o consumidor não para da empresa. “Muitos casos são constrangedores de-
quieto, ele está sujeito a incontáveis oportu- mais para serem citados”, diz ele, que garante: mar-
nidades de ser impactado por mensagens de cas importantes já sofreram com decisões baseadas
todos os tipos, a atenção dele está sendo disputada por em informações precárias ou simplesmente sem base
cada vez mais gente, ao mesmo tempo em que tem mais técnica, a partir de fontes que não têm expertise em
e melhores informações sobre praticamente tudo, ter pesquisa de mercado e que acabaram sendo tomadas
acesso a pesquisas profissionais sobre quando e como como ponto de partida para decisões.
contatá-lo pode fazer toda a diferença entre o fracasso e Lembrando um caso recente, Duilio cita a menção
o sucesso de uma iniciativa de marketing. “O problema a uma informação que mal podia ser descrita como
é que alguns usuários de pesquisa e informações dispo- enquete, os dados coletados a partir do site de uma
níveis em diversas fontes, inclusive os da imprensa, nem empresa de eventos para jovens que se aventurou
sempre tomam o cuidado necessário com a averiguação a perguntar a eles qual era a sua principal fonte de
das fontes e de que empresa realizou a pesquisa na qual informação. Deu redes sociais e os números obtidos
baseiam as suas decisões”, diz Duilio Novaes, presidente pelo site, impressionantemente altos, caíram na inter-
da ABEP, entidade conveniada ao CENP. net e ganharam ares de verdade.
O olho treinado pelos 35 anos de profissão fez com “Só espero que ninguém tenha tomado alguma deci-
que Duilio colecionasse casos em que informações são a partir deles”, diz Duilio. Ele tem uma receita para
que poderiam ser definidas como muita coisa menos que profissionais de marketing, publicidade, jornalistas
como pesquisas e foram citadas ou, pior, serviram e outros não caiam nesta armadilha? Tem sim e não é
para decisões tomadas como base para os negócios nada de especialmente complicado. Basta que se contra-

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15
te um instituto de pesquisa ou um profissional do setor. A entidade tem, também, meios de defender usuários
“Há inúmeras técnicas, inúmeras formas de se che- de pesquisas tecnicamente deficientes. Para isso, man-
gar a um resultado confiável, se adaptando às neces- tem desde 2002 o Conselho de Auto-Regulamentação
sidades e possibilidades do contratante”, diz Duilio. com o objetivo de emitir pareceres acerca de aspectos
“Não é primordial entender as bases teóricas da esta- éticos envolvidos nas práticas da pesquisa de mercado,
tística e da pesquisa. Basta definir com precisão o plano mídia e opinião, sempre que forem alvo de questiona-
amostral dentro do universo a ser pesquisado, o que se mentos por parte da comunidade de pesquisa, clientes e
quer saber, como se dará a operação da coleta dos dados de outros agentes da sociedade, inclusive consumidores.
e, depois, garantir que a forma de como os dados serão co- Não são aceitas denúncias anônimas. “Toda empresa
letados comece e termine do mesmo jeito”, explica Duilio. de pesquisa ao se associar à ABEP assina uma declaração
A defesa da pesquisa técnica é luta permanente da formal, garantindo que irá seguir e respeitar o Código
entidade. A ABEP já comprou brigas com veículos de de Ética da entidade como ponto de partida do traba-
comunicação que questionaram o valor das pesquisas, lho de pesquisa”, explica Duilio. “Quando há queixas, o
tentando desacreditá-las como instrumento de aferi- Con-selho investiga e se manifesta. A ABEP disponibiliza
ção de uma dada informação. “Isso é mais comum em seu site um canal para que consumidores, órgãos
em pesquisa eleitoral, mas também já vimos acontecer públicos, partidos políticos, empresas etc. possam enca-
em relação à pesquisa de audiência. No final de todas minhar reclamações e sugestões ao Conselho.”
essas brigas, prevaleceu o bom senso”, diz Duilio. Duilio informa que a atividade, em todo o mundo,
Ele nota que, de forma geral, os veículos hoje têm o tem tradição na criação e adesão a códigos e guias de
cuidado de esclarecer método e alcance das enquetes qualidade e ética, frente às inovações da tecnologia
produzidas em sites ou depoimentos voluntários de que estão auxiliando a pesquisa de mercado, opinião e
espectadores e leitores, por exemplo. “Não há, ób- mídia, tanto na coleta das informações como na aná-
vio, problema algum em você questionar os leitores de lise dos resultados. O primeiro conjunto de códigos
um determinado veículo sobre o que acham sobre um e guias internacionais foi estabelecido em 1948, diz
dado assunto”, explica o presidente da ABEP. “Basta Duilio. Ele informa que a ABEP vai iniciar em breve as
que você deixe claro que aquilo não é uma pesquisa discussões para a concessão de um selo de qualifica-
formal, com método científico”. -ção técnica de pesquisas.

“TODA EMPRESA DE PESQUISA AO


SE ASSOCIAR À ABEP ASSINA UMA
DECLARAÇÃO FORMAL, GARANTINDO
QUE IRÁ SEGUIR E RESPEITAR O
CÓDIGO DE ÉTICA DA ENTIDADE
COMO PONTO DE PARTIDA DO
Foto: Divulgação

TRABALHO DE PESQUISA”
Duilio Novaes
Presidente da ABEP

PMKT21# 18 / 2017
UMA BOA
PESQUISA

A definição clássica é simples e elegante: pesquisa consiste, basicamente, em ouvir pessoas

O s contornos de uma pesquisa começam a


ser definidos quando se isola aquilo que se
quer pesquisar e o público visado. O espectro é
do começo até o fim. Em pesquisa profissional,
não há espaço para improvisação ou surpresas
de última hora”, diz Duilio. Ele lembra que em-
virtualmente ilimitado. Pode-se buscar tanto um presas de pesquisa podem ter diferentes espe-
simples “sim ou não” a uma dada pergunta em cializações, segundo tipo de pesquisa ou público
uma empresa, um bairro, uma cidade, um país visado – crianças, por exemplo.
inteiro, depende da necessidade e, claro, do or- As empresas podem ter alcance global, na-
çamento do contratante. cional ou local. “Pode-se dizer que há insti-
A seguir, há cuidados elementares com a sele- tutos de pesquisa capazes de atender virtu-
ção da amostra, o que os institutos fazem tendo almente a qualquer necessidade de qualquer
geralmente como ponto de partida as informa- empresa, entidade ou governo, adaptando-se
ções do IBGE, e a elaboração do questionário às necessidades e orçamentos disponíveis”, diz
com perguntas. A experiência profissional dos o presidente da ABEP. Há ainda empresas que
institutos conta muito nessa hora, de forma a se especializaram na coleta e levantamento de
evitar problemas que podem surgir na tabulação dados, planejamento da pesquisa ou no proje-
e interpretação dos resultados. to “full service”.
O passo seguinte é o chamado “campo”, com a Assim, o cliente pode delimitar o que quer,
coleta das informações propriamente ditas. Há, um projeto completo, um estudo específico ou
aqui também, múltiplas formas de metodologias uma consultoria para ajudá-lo em uma questão
que podem ser utilizadas, das entrevistas pesso- pontual. No site da ABEP há várias publicações
ais ou por telefone aos questionários enviados que disponibilizam lista de empresas e indica-
por correio ou e-mail ou ainda disponibilizados ções gerais das suas respectivas especializações e
em sites e aplicativos. experiências em mercados específicos ou certas
Há ainda a possibilidade de combinar diferen- técnicas de pesquisa.
tes técnicas, de forma a maximizar a verba do Também no site disponibiliza gratuitamente
Ilustrações: Depositphotos

contratante da pesquisa. Há várias instâncias de informações importantes para empresas interes-


controle, validação e análise de consistência das sadas em contratar serviços de institutos de pes-
informações coletadas na fase do campo. “O quisa, por exemplo, “Seleção e Escolha de uma
importante não é uma técnica específica; é sim Empresa de Pesquisa” e “Pesquisa de Mercado,
ter uma técnica íntegra e que balize a pesquisa Opinião e Mídia. O que é? Para que serve?”

(*) Conteúdo republicado da edição 51 (março/2017) da CENP Em Revista.

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17
O credenciamento, além de trazer transparência ao
mercado publicitário, constitui ferramenta importante
para o trabalho de planejamento de mídia realizado pe-
las agências de publicidade para os seus anunciantes.
A iniciativa do CENP também permite expandir o nú-
mero de veículos impressos com circulação verificada,
principalmente em âmbito regional. “O credenciamento
de pesquisas e estudos de mídia pelo CENP, que é gra-
tuito, tornou-se um farol para o mercado publicitário”,
diz Caio Barsotti, presidente do CENP.
É responsabilidade do CTM, Comitê Técnico de Mídia,
a análise das solicitações de credenciamento de forne-
cedores de pesquisas e estudos destinados à aplicação
das melhores técnicas de planejamento, negociação
e execução de mídia. O CTM atua como organismo
de consultoria e aconselhamento técnico referente ao
O CENP E A ABEP TÊM, DESDE 2015, UMA cumprimento do Anexo A, está integrado à estrutura
orgânica do CENP e é formado por 24 membros, entre
PARCERIA VI­SANDO A QUALIFICAÇÃO
titulares e suplentes, profissionais da área de mídia de
DE MÉTODOS E PROCESSOS E DE reconhecida competência que exercem a atividade em
AVA­LIAÇÃO TÉCNICA DAS METODOLOGIAS Agências de Publicidade, Veículos de Comunicação e
Anunciantes.
DAS PESQUISAS DESTINA­DAS AO O CENP e a ABEP têm, desde 2015, uma parceria vi-
MERCADO PUBLICITÁRIO sando a qualificação de métodos e processos e de ava-
-liação técnica das metodologias das pesquisas destina-
A BOA EXPERIÊNCIA DA PARCERIA CENP- ABEP das ao mercado publicitário. O convênio estabelece uma
No caso de pesquisas de audiência dos veículos de co- parceria entre as duas entidades para a análise técnica
municação, investimento publicitário e hábitos & com- preliminar por parte da ABEP dos pedidos de credencia-
portamento dos consumidores, oriundas de vários forne- mento de estudos de pesquisa de mídia, uma das fina-
cedores especializados, há uma maneira fácil de verificar lidades do CENP. A ABEP atua como organismo técnico
quando se tratam de dados confiáveis, informa Duilio: de consultas do CTM, podendo também ser chamada
basta conferir se as pesquisas são credenciadas pelo para analisar estudos já credenciados.
CENP. A entidade credencia serviços de informações de A parceria já existia na prática antes da assinatura do
mídia e serviços de verificação de circulação. Nos dois convênio e sublinha a importância do CTM como fó-rum
casos, a finalidade é garantir que os estudos e serviços de discussões de um dos aspectos mais importantes da
credenciados estejam alinhados com os princípios técni- publicidade e como grupo mobilizador e indutor de ações
cos previstos no Anexo “A” das Normas-Padrão, sob os práticas. “O CTM, em parceria com a ABEP contribui para
pilares de audiência/circulação, investimento e hábitos aprimorar a qualidade no planejamento publicitário”,
de consumo, permitindo-se, assim, que as agências cer- disse Antonio Ricardo Ferreira, coordenador do CTM. “É
tificadas otimizem e aprimorem seus planos de mídia. uma parceria muito bem-sucedida. Ter a experiência da
Esse serviço de credenciamento não implica em ne- ABEP para referendar as ações do CTM foi um passo im-
nhum custo ao fornecedor de pesquisa, da mesma forma portante para definir melhor o peso que é dado a cada
que é totalmente gratuito para uso de qualquer interes- estudo dos institutos de pesquisa considerado na pontu-
sado em acessar as informações sobre o credenciamento. ação para a Certificação”.

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18 RENDA & CONSUMO

VEM AÍ
ANUNCIADA COM GRANDE
ANTECEDÊNCIA PELA
DIRETORIA DA ABEP, A
PRÓXIMA EDIÇÃO DA
PESQUISA DE ORÇAMENTO

A
o saírem no dia 4 de
FAMILIAR, DO IBGE, abril de um encontro
TRARÁ, ENTRE OUTRAS com o então presi-
dente do IBGE, Paulo Rabello de
NOVIDADES, O CONSUMO Castro, Duilio Novaes e Márcia
DA POPULAÇÃO COM TV Cavallari, respectivamente, presi-
dente e vice-presidente da ABEP,
A CABO, APLICATIVOS anteciparam uma importante in-
formação para o mercado de pes-
DIGITAIS E GASTOS COM quisa: a retomada da atualização
ANIMAIS DOMÉSTICOS da POF (Pesquisa de Orçamento

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Foto: Divulgação
19

Duilio Novaes,
Márcia Cavallari e
Paulo Rabello de Castro

Familiar), uma antiga reivindica- Rabello de Castro trocou o co- pesquisa do IBGE estarão nas ruas
ção do setor, cuja última edição mando do IBGE pela presidência para visitar e mapear mais de 75
aconteceu entre 2008 e 2009. do BNDES, mas nem por isso a an- mil domicílios – nove mil a mais
Passados 82 dias daquela impor- tecipação da informação por par- que na edição anterior –, em apro-
tantíssima novidade, que, entre te da diretoria da ABEP deixou de ximadamente 1,9 mil municípios
outras coisas, permitirá atualizar ser relevante. Afinal, trata-se da brasileiros, para atualizar a lista de
o Critério Brasil (padrão de classi- mais abrangente avaliação sobre gêneros de consumo e a estrutura
ficação socioeconômico da ABEP), a classificação de renda e de con- de avaliação do IPCA (índice ofi-
o IBGE anunciou no dia 26 de ju- sumo das famílias brasileiras. cial de inflação do País). “Eu fico
nho o início do levantamento da Entre junho de 2017 e maio de feliz por estar à frente da equipe
POF 2017/2018. Nesse intervalo, 2018, cerca de mil agentes de que voltará a realizar esse retrato

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20 RENDA & CONSUMO

ilustração: IBGE
socioeconômico do País”, disse Ra- de coletar informações a respeito alimentícios e despesas escolares.
bello de Castro, durante reunião de dados antropométricos (peso e “Conhecendo todo esse processo,
com a diretoria da ABEP. altura) da população, que passará toda essa estrutura de despesa,
Além da amostra ampliada, en- a ser uma atribuição da Pesquisa você pode, por exemplo, aprimorar
tre as novidades contidas na pró- Nacional de Saúde (PNS) e no fu- políticas públicas para habitação,
xima edição da POF está a inves- turo da Pesquisa Nacional de De- transportes, gastos com educação,
tigação da insegurança alimentar mografia e Saúde (PNDS). saúde e outros tipos de análises
das famílias, que antes era alvo do Sobre a dinâmica do levanta- que são importantes para a nossa
levantamento da PNAD (Pesquisa mento, André Martins, gerente da sociedade”, afirmou o gerente da
Nacional por Amostra de Domicí- POF, diz que serão aplicados seis POF. Um sétimo questionário está
lios). Também foram feitos alguns questionários em cada domicílio previsto para ser aplicado em apro-
ajustes nos questionários para am- ao longo de uma semana. “Temos ximadamente 30 mil domicílios. Ele
pliar a visibilidade de alguns itens um dos questionários, que fica será dedicado apenas ao consumo
de consumo que, presumivelmen- no domicílio, para que o morador alimentar dos brasileiros.
te, podem ter se tornado mais pre- complete com as aquisições cole- Embora os profissionais sele-
sentes nos lares brasileiros, como tivas da família, ou seja, aqueles cionados pelo IBGE já estejam
os canais de TV a cabo, as redes di- produtos que são de uso comum”, percorrendo 1,9 mil municípios
gitais de músicas, os aplicativos, os explica o executivo do IBGE. brasileiros, distribuídos nas cinco
acessórios para celulares, etc. De acordo com Martins, todos os regiões do País, os resultados da
Mais uma inclusão na POF dados colhidos junto à população nova edição da POF são esperados
2017/2018 foi a mensuração das permitirão entender melhor e criar apenas para 2019. A partir daí,
despesas das famílias com animais novas políticas públicas associadas passa a ser implementada a POF
de estimação, como banho, tosa, às despesas das famílias, como a Contínua, que fará uma avaliação
rações, passeadores, entre outros relação de despesa com planos mais sistemática do orçamento
mimos. No entanto, a POF deixa de saúde, aquisição de gêneros das famílias brasileiras.

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SINERGIA 21

MUITO
além da
INSPIRAÇÃO
A identificação de insights eficientes exige relacionamento
contínuo com os clientes, estudos permanentes e planejados, e
troca integral de informações. Nada surge de um dia para o outro

N
ão é de hoje que os insights con- Para Felipe Mendes, CEO da GfK Brasil, a
quistam cada vez mais espaço e frequência de trabalhos entre os institutos e
importância no relacionamento os clientes é importantíssima para a melhoria
entre os institutos de pesquisa e os clientes. da qualidade dos insights. “Infelizmente, o
Esses lampejos sobre novas tendências da modelo de relacionamento mais comum, o
sociedade tornam-se fundamentais no dire- job a job, não nos permite extrair dos estu-
cionamento das ações de marketing e de co- dos, com a mesma profundidade e eficiência,
municação das empresas. No entanto, para informações adicionais que podem ajudar o
gerar mais resultados, a entrega desses insi- cliente a impulsionar as suas vendas”, expli-
ghts pode evoluir a partir de um planejamen- ca Mendes. “Se realizarmos estudos contí-
to estruturado e contínuo, acompanhando, nuos para um determinado parceiro sobre
por exemplo, o dia a dia das marcas e a troca o segmento de absorventes femininos, por
de informações estratégicas. Esses são al- exemplo, certamente esse histórico, basea-
guns dos movimentos essenciais para que os do em experiências anteriores, fará toda a
insights ganhem ainda mais relevância nos diferença na hora que apresentarmos as ten-
resultados dos produtos e dos serviços. dências e os demais resultados gerados pelo

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22
trabalho”, diz o executivo da GfK. para os clientes, sugere o CEO da GfK Brasil.
Além disso, ao estabelecer uma estratégia Assim como Felipe Mendes, Valkiria Gar-
de longo prazo com os clientes, o custo dos ré, CEO da Kantar Millward Brown Brasil e
estudos pode ser menor, em comparação aos da Kantar TNS Brasil, acredita também que
contratos individuais. Isso porque com oito o trekking contínuo das marcas, em parceria
trabalhos previamente negociados e plane- com os clientes, gera um trabalho integrado
jados, por exemplo, é possível negociar, an- e resultados mais consistentes. “Para fazer
tecipadamente, bases de dados, contratação isso, desenvolvemos diversas habilidades
do campo, etc. “No caso das pesquisas Ad em disciplinas diferentes que nos permitem
Hoc, a viabilização de seus custos torna-se apresentar insights respaldados por dados
mais simples a partir de uma parceria de tra- sólidos”, avalia Valkiria. “Esse modelo de
balho contínua”, comenta Mendes. trabalho vale tanto para os grandes como
Outro ponto importante, os profissionais de para os pequenos clientes, basta apenas que
atendimento dos institutos estão sendo esti- eles sejam orientados para que identifiquem
mulados a ter uma postura ainda mais efe- suas demandas com clareza.”
tiva para idealizar alternativas que ajudem o No entanto, segundo Valkiria, cabe tanto
cliente a resolver determinados problemas. aos profissionais da Millward Brown como aos
“O nosso objetivo, por meio de parcerias du- da TNS – institutos que atuam com portfó-
radouras, é gerar insights cada vez mais qua- lios integrados – criar um diálogo educativo
lificados, com custo-benefício mais atraente com os clientes em busca de objetivos mais

Valkiria Garré: CEO da Kantar Millward Felipe Mendes: CEO da GfK Brasil Zilda Knoploch: CEO da Enfoque
Brown Brasil e da Kantar TNS Brasil

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claros e precisos. “Cabe a nós, antes de tudo, Knoploch, CEO da Enfoque, ele deve ser vis-
perguntar ao cliente o que ele pretende fazer to como uma inspiração. “É algo que está
com aquela informação. A partir desses da- ali latente, mas ainda imperceptível. E que
dos básicos, adicionados a outros elementos, passa a ser notado a partir de uma reflexão,
conseguimos identificar o que pode ser real- que exige, entre outras coisas, tempo, ma-
mente novo, impactando positivamente no turidade, capacidade de observação de um
negócio do cliente”, detalha a CEO da Kantar determinado território, de um certo target.
Fotos box: Divulgação / Foto página inteira: Depositphotos

Millward Brown Brasil e da Kantar TNS Brasil. Não é uma simples eureca”, pondera Zilda.
Com briefing claro e bem detalhado, é pos- De acordo com a CEO da Enfoque, é pre-
sível buscar esses insights ao conectar, cruzar ciso entender que não são todos os estudos
e analisar dados produzidos a partir de diver- que geram insights. Diante da necessidade de
sas fontes e soluções disponíveis. Afinal, os justificar o ROI (Return on Investment), existe
pontos de contato dos clientes com o consu- muita expectativa em busca de novos insights.
midor, por exemplo, acontecem, simultanea- Muitas vezes, os objetivos alcançados por uma
mente, na troca de e-mails, nas mídias sociais, pesquisa contribuem exclusivamente para a
nos aplicativos móveis, etc. Ou seja, os novos tomada de uma decisão correta. “Os insights
insights podem ser obtidos em qualquer eta- não são fenômenos que surgem depois de três,
pa do processo de investigação. quatro dias de trabalho. Eles são resultado de
Para que o insight não se consolide apenas um relacionamento maduro e duradouro com
como mais uma commodity, segundo Zilda o cliente”, conclui a executiva.

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24 ARTIGO
DIEGO OLIVEIRA

A CULTURA
PARTICIPATIVA:
e os “ex-espectadores”
Por Diego Oliveira:
sócio-fundador da Youpper
Consumer & Media Insights

A união de múltiplas plataformas mascarou a


concorrência entre os meios e a rivalidade de ideias:
tudo em busca da sedução e retenção do target

H
oje, de forma abundante, se às inovações nas plataformas e canais
fala em cultura participativa. midiáticos, a reconfiguração de uma
Muito mais do que uma ex- sociedade em rede — que conecta pes-
pressão na moda para pautar o estí- soas e derruba barreiras geográficas e
mulo à participação dos consumidores temporais, e a possibilidade tecnológi-
midiáticos (“espectadores”), o atual ca de produção “amadora” — o que
cenário, alicerce dessa cultura, é mol- transforma os antes meros consumido-
dado por profundas transformações res em prosumers, entre outros impor-
Foto: Depositphotos

sociais e midiáticas. tantes aspectos.


Tais transformações se estabelece- Soma-se a tudo isso o fato de que a
ram a partir de diversos fatores, como mídia está em franca e acelerada trans-
a emergência de uma nova classe formação. Essa afirmação acaba por ter
consumidora — ampliando o acesso certo ar de lugar comum, afinal, tudo,

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25
O FATO É QUE TODOS OS
ESPAÇOS DA LIBERDADE
E DE CONSUMO E TODOS
OS POLOS DE INTERESSE
ENCONTRAM-SE HOJE
TOMADOS PELOS
VEÍCULOS DE MÍDIA
E SEU PROCESSO
CONVERGENTE: A VIDA
POR MÚLTIPLAS TELAS
NOS PROVA ISSO.

absolutamente tudo, na atualidade está em e tentaram antecipar o futuro. Convergência


transformação e, portanto, com a mídia não passou a ser a palavra de ordem e, em lugar
poderia ser diferente. do pensamento único, a união de múltiplas
Entretanto, me refiro aqui a uma transfor- plataformas mascarou a concorrência entre os
mação profunda e sem precedentes. Mesmo meios e a rivalidade de ideias: tudo em busca
com a intensa proliferação de canais e pulve- da sedução e retenção do target.
rização da audiência hoje, a TV, por exemplo, O fato é que todos os espaços da liberdade
tem menos de 90 anos e o panorama televisivo e de consumo e todos os polos de interesse
já se depara com o ataque da digitalização da encontram-se hoje tomados pelos veículos de
TV mudando todos os parâmetros anteriores. mídia e seu processo convergente: a vida por
O rádio FM é só um pouquinho mais velho e múltiplas telas nos prova isso. Por meio deles,
segundo Xavier Dordor (Mídia/Mídia Alterna- as pessoas buscam, no consumo midiático,
tiva, editora Nobel, 2007), neste contexto de uma diferenciação, assim como uma participa-
transformação, já pôs abaixo todas as normas ção — o que é mais recente. Daí essa produção
jornalísticas e publicitárias do rádio tradicional intensa de conteúdo e a emergência da cultura
conhecido como “periférico”. participativa, que tem mudado o estado de es-
A mídia impressa igualmente evoluiu nos últi- pírito do consumidor, seus desejos e padrões,
mos anos se transmutando rapidamente, prin- até mesmo a própria cultura de consumo.
cipalmente no setor das revistas com os títulos As narrativas (ou tramas) nos conteúdos mi-
especializados. A imprensa diária, em boa parte diáticos produzidos na contemporaneidade são
alicerçada pelos jornais, ainda se desenvolveu alterados, de forma radical, pela participação do
Ilustração: Depositphotos

do seu modo, notadamente em suas estruturas público consumidor. As obras ficcionais de es-
capitalistas, tendo passado nos últimos anos sência aberta (sujeitas a modificações de acordo
por uma transformação radical para se adaptar com a resposta da audiência), como as novelas
ao cenário digital e à cultura do free. por exemplo, agora parecem escancaradas para
Em relação ao consumo e estilos de vida, a influência dos “espectadores” — que parecem
as mídias assumiram um papel diferenciado ser tudo, menos espectadores…

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26 DEBATE
OPINIÃO PÚBLICA

“Pesquisa não é
uma commodity.
É INTELIGÊNCIA
DE MERCADO”
Em evento promovido pela ABEP e pela ASBPM, o professor
Alexandre Correa Lima apresenta seu novo livro sobre opinião
pública e debate as principais tendências que mexem com
a sociedade e movimentam a indústria de pesquisa

P
or que não subir o Everest? O desa- “Tanto é assim, que o projeto original nas-
fio de escalar a montanha mais alta ceu com 150 páginas e terminou com mais
do mundo foi a comparação que o de 400”, contou o autor, durante o debate
professor Alexandre Correa Lima, presiden- de lançamento promovido pela ABEP e pela
te da Mind Pesquisas, estabeleceu quando ASBPM, dia 11 de abril, em São Paulo.
decidiu escrever há quatro anos o livro “Pes- Não é à toa que Lima traça um paralelo
quisa de Opinião Pública – Teoria, Prática e entre a sua experiência editorial e o esforço
Estudos de Casos”. Tudo começou depois exigido de um alpinista ao encarar o pare-
que ele ministrou por seis semanas um mó- dão do Everest. “O caminho não foi fácil, a
dulo sobre o tema no curso de pós-gradua- subida foi longa, às vezes falta ‘fôlego’ dian-
ção da Universidade de Taubaté e percebeu te dos desafios e dos imprevistos do percur-
que precisaria de muito mais tempo para ex- so. No entanto, quando se chega ao topo
plorá-lo de maneira satisfatória. Além disso, do mundo – ou ao lançamento do livro – o
constatou que a bibliografia nacional a res- prazer é indescritível”, revelou o presidente
peito do assunto ainda era muito limitada. da Mind Pesquisas. Para instigá-lo a relatar

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27

Paulo Cidade
e Alexandre
Correa Lima

as aventuras enfrentadas ao longo da sua da interação com os negócios dos clientes,


jornada como autor, a ABEP e a ASBPM, du- a administração de pessoas, entre outras
rante debate com os leitores, contaram com questões que envolvem o mercado de pes-
a colaboração de Paulo Cidade, sociólogo e quisa. “Antes de tudo, é preciso entender
experiente profissional de pesquisa, que es- que pesquisa não é uma commodity. É inte-
quadrinhou por mais de duas horas, de ma- ligência de mercado. Portanto, temos a res-
neira bem descontraída, os diversos ângulos ponsabilidade de recomendar soluções que
do trabalho de Alexandre Lima. se tornam vitais na manutenção dos negó-
Segundo Paulo Cidade, o livro é um exce- cios dos clientes”, alerta o autor.
lente guia para quem pretende ingressar na Lima lembrou que a indústria de pesquisa
área de pesquisa. No entanto, ao avançar no já tem mais de 100 anos, mas ela já era pra-
Foto: Divulgação

conteúdo, Lima aborda as diversas facetas ticada de forma empírica desde os tempos
que envolvem a indústria de pesquisa, como de Jesus. Um exemplo foi a consulta popular,
os conceitos, as técnicas aplicadas aos es- conduzida por Pôncio Pilatos, governador da
tudos, a gestão de projetos, a importância Judeia, que decidiu pela libertação do ladrão

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28 DEBATE
OPINIÃO PÚBLICA

Barrabás e a condenação de Jesus à cruci- blicidade. Não apenas job a job, como costu-
ficação. Nada tão radical, mas não menos ma acontecer. A intervenção de Duilio levou
importante, os estudos realizados pelos ins- Alexandre Lima a fazer outra comparação:
titutos de pesquisa influenciam diretamente “Ninguém questiona o preço cobrado pelo
na gestão dos projetos e nos negócios dos cirurgião cardíaco. Da mesma forma que o
clientes. “Por isso, para se fazer uma leitura médico ‘vende’ a sua competência, o institu-
mais eficiente dos dados, é preciso conhecer to de pesquisa vende inteligência de merca-
a fundo as atividades dos clientes, seus de- do. Portanto, o fator preço não deveria ser o
safios, as pessoas envolvidas no processo”, principal critério de definição ou de negocia-
recomenda o presidente da Mind Pesquisas. ção entre as empresas de pesquisa e os clien-
Nesse ponto do debate, Duilio Novaes, tes”, avalia o autor de “Pesquisa de Opinião
presidente da ABEP, lembrou que a parceria Pública – Teoria, Prática e Estudos de Casos”.
Fotos: Divulgação

entre as empresas de pesquisa e os clientes Ao abordar o tema da formação de tendên-


se tornaria ainda mais eficiente se fosse tão cias ou de ideias que tomam conta da opinião
estreita e consistente quanto o relaciona- pública, Lima comparou isso, atualmente, a
mento dos clientes com as agências de pu- um caleidoscópio de variáveis ou a um liqui-

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“NINGUÉM QUESTIONA
O PREÇO COBRADO PELO
CIRURGIÃO CARDÍACO.
DA MESMA FORMA QUE
O MÉDICO ‘VENDE’ A SUA
COMPETÊNCIA, O INSTITU­TO
DE PESQUISA VENDE INTELIGÊNCIA
DE MERCA­DO. PORTANTO, O FATOR
PREÇO NÃO DEVERIA SER O PRINCIPAL
CRITÉRIO DE DEFINIÇÃO OU DE
NEGOCIA­ÇÃO ENTRE AS EMPRESAS
DE PESQUISA E OS CLIEN­TES”

dificador que mistura diversos fatores. “Não bastante frágil. Além disso, ao contrário dos
existe mais uma receita de bolo. É uma inter- Estados Unidos, da Inglaterra e da França,
conexão que combinada desde a relação com por exemplo, os nossos partidos não têm
os seus amigos, passa pela viralização nas re- programas sólidos. Falta comprometimento
des sociais, pela repercussão na mídia até a com os eleitores”, afirma Lima. “É preciso
participação dos chamados influenciadores, levar em conta que os eleitores tiraram os
que têm capital diferenciado para empoderar partidos e os políticos da zona de conforto.
e inspirar outros indivíduos”, diz ele. A TV deixou de ser o principal instrumento
Essa combinação de elementos e de infor- de marketing, e as ações digitais ganham
mações tem tornado também cada vez mais espaço e atuam com muita eficiência na
dinâmicos e instáveis os levantamentos elei- opinião pública”, finaliza o autor. Por essa
torais. “Tudo passou a ser muito volátil, a pequena amostra do que foi debatido no
pesquisa é capaz de depreender e interpre- evento promovido pela ABEP e pela ASBPM,
tar aquele momento da sociedade. Aqui no percebe-se que o livro é uma importante
Brasil, isso acontece com maior intensidade contribuição nas interpretações das tendên-
porque o nosso nível de politização ainda é cias sociais.

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30 VOZ DA EXPERIÊNCIA

DESBRAVADOR
da pesquisa
de mercado
Com mais de 60 anos de profissão, Pergentino Mendes de Almeida
plantou e cultivou as sementes da metodologia das discussões em grupo
no Brasil e depois, bem mais tarde, desenvolveu a técnica que permite
enxergar o futuro a partir do questionamento de cenários prováveis

P
ergentino Mendes de Almeida é um bom conta- diretor de criação, de produção (rádio, TV e impresso)
dor de histórias, além de ser uma das principais e ainda copy analyst, responsável pelo estilo e pela es-
referências da pesquisa de mercado. Tanto é as- tratégia de comunicação dos clientes. “Naquela época
sim que faz parte da seleta galeria dos Notáveis da ABEP. o grande bicho-papão da Lintas e das demais agências
Em seus mais de 60 anos de profissão, é um daqueles era o departamento de marketing dos clientes. No nos-
considerados desbravadores do setor. Entre suas contri- so caso, a Unilever estabelecia os critérios e nós estáva-
buições, trouxe da Europa e ajudou a plantar no Brasil as mos lá apenas para executá-los dentro dos prazos. Isso
sementes das discussões em grupo, que se transforma- resultava em fazermos e refazermos várias vezes filmes
ram na base das pesquisas qualitativas. Seu perfil volun- ou campanhas inteiras até que conseguíssemos, natu-
tarioso e entusiasmado levou Rodolfo Lima Martensen, ralmente, alcançar a expectativa do cliente”, lembra
um dos visionários das comunicações no Brasil, a apos- Pergentino, em um longo bate-papo com a PMKT21 em
tar no seu talento e torná-lo, ainda nos anos de 1960, seu apartamento no bairro de Perdizes, em São Paulo.
uma espécie de colaborador multitarefas da Lintas, hou- Aliás, esse rigor da Unilever resultou, por exemplo,
se agency da Unilever. Chegou a ser, simultaneamente, no afastamento de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho

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“COM AS DISCUSSÕES EM
GRUPO GANHANDO CADA
VEZ MAIS CREDIBILIDADE,
VIRA­VA E MEXIA OS
CLIENTES CONSIDERAVAM A
POSSIBILIDADE DE RESOLVER
SUAS DIFICULDADES EXTERNAS
E INTERNAS POR MEIO DO NOVO
MÉTODO, MESMO QUE AINDA
NÃO CONSEGUISSEM ENXERGAR
COM TOTAL NITIDEZ
O FOCO DO PROBLEMA”

(Boni) e de João Batista Natale da equipe da Lintas, xampu Vinólia. No entanto, a primeira marca a conquis-
que, apoiados por Pergentino, tentaram romper com as tar benefícios expressivos a partir da interação entre a
regras do marketing da Unilever ao propor adaptar à agência e o consumidor foi a linha de produtos mascu-
realidade brasileira o famoso conceito internacional do linos English Lavender de Atkinsons. Com as discussões
sabonete Lever – ou Lux, como já era conhecido no res- em grupo ganhando cada vez mais credibilidade, vira-
tante do mundo −: “Nove entre dez estrelas do cinema va e mexia os clientes consideravam a possibilidade de
usam sabonete Lever”. Os atrevidos criativos queriam resolver suas dificuldades externas e internas por meio
que o cliente transferisse, em parte, à dona de casa – do novo método, mesmo que ainda não conseguissem
responsável pelas compras do dia a dia − o brilho que enxergar com total nitidez o foco do problema. O suces-
até então valorizava apenas as estrelas do cinema. “Re- so do serviço levou Pergentino a estruturar uma equipe
sultado? Demos com os burros n’água”, conta Pergenti- dentro da Lintas apenas para cuidar das discussões em
no. Nada mudou. Com isso, o Boni e o Natale deixaram grupo. Trouxe do departamento de mídia o Julio Cesar
a agência, e ele foi passar uma temporada de treina- Vercesi, que havia trabalhado com o Alfredo Carmo –
mento na Europa. “Lá, durante um seminário na Ale- outro guru das pesquisas − na McCann e que já tinha
manha para gerentes da Lever, no fim de 1964, tomei um cheiro da coisa, e contratou Dilma Mendes de Al-
contato pela primeira vez com a técnica de discussão meida, recém-formada em Ciências Sociais, que depois
em grupo. Achei tudo aquilo incrível e tive a chance de veio a se tornar esposa de Pergentino.
acompanhar de perto várias reuniões com consumido- A agitação em torno das discussões foi tão grande
res selecionados pelos pesquisadores da Lever.” que a Thompson, agência que também atendia a Uni-
“Quando voltei ao Brasil, falei com o Lima sobre o lever, buscou um contato com Pergentino por meio do
método, que não só bancou a ideia como também libe- Arthur Cesar (outro Notável da ABEP). Ao ser informado
rou as reuniões em grupo na Lintas para explorarmos a da aproximação da concorrente, Lima Martensen não
técnica. Era o começo de uma nova época. Afinal, dian- só proibiu a troca de figurinhas com a Thompson como
te do engessamento imposto pela Unilever, a agência batizou o serviço de Lintest e o classificou como produ-
começou a apresentar suas propostas criativas acompa- to exclusivo da Lintas. “Diante da blindagem, ficamos
nhadas de relatórios de pesquisa. Ou seja, eram ideias proibidos de fazer qualquer apresentação pública sobre
que já tinham sido sugeridas, debatidas e ‘aprovadas’ a metodologia”, lembra o Notável da ABEP.
pelos consumidores”, recorda ele. Mesmo que a disseminação da informação, naquela
Em pouco tempo, as discussões em grupo caíram nas época, fosse bem mais lenta do que nos dias hoje, não
graças do cliente e passaram a ser aplicadas nos demais demorou muito para que a Thompson também come-
produtos da Unilever, como o sabão em pó Rinso e o çasse a levar a seus clientes os benefícios das discus-

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sões em grupo. Segundo Pergentino, só que com uma so a passo a expansão do Banco do Nordeste do Brasil
importante diferença: a Thompson contou a novidade para as demais regiões do País. “Sem os atuais benefí-
para Deus e o mundo. No entanto, existia demanda e cios das conexões digitais, eu chegava a viajar duas ve-
espaço para todos. “Foi quando no fim de 1964, a Lin- zes por semana para Fortaleza, onde ficava a sede do
tas tornou a nossa área independente e eu contratei o banco apenas para pegar os briefings e depois aprovar
Renato Jardim Moreira como chefe do departamento de a campanha”, descreve ele. Tudo isso sem abrir mão da
pesquisa”, conta ele. Porém, isso foi o início do fim do sua atividade de professor, mantida desde os tempos de
casamento de Pergentino com a Lintas. Mesmo diante Lintas, em instituições, como a Fundação Brasileira de
do convite de Lima para retomasse sua carreira de cria- Marketing, a ESPM, a Fundação Cásper Líbero e a Escola
tivo na Lintas de Londres, ele abriu mão de mais uma de Sociologia e Política de São Paulo.
temporada internacional para se dedicar exclusivamente Passados esses dois anos na ponte aérea São Paulo –
à pesquisa. A atividade, nessa altura do campeonato, já Fortaleza, Pergentino resolveu retomar a sua carreira de
tinha se transformado em paixão. pesquisador e fundou, em 1969, a LPM (Levantamen-
Ainda se considerando um aprendiz esforçado do tos e Pesquisas de Marketing), com os sócios Julio Cesar
mercado de pesquisa, Pergentino deixou a Lintas, co- Vercesi e sua esposa Dilma. Boa parte do êxito da nova
meçou a estudar estatística por conta própria e a fazer empresa, além da experiência da equipe, foi motivado
trabalhos como autônomo. Aos poucos, foi conquistan- pela implantação do painel de simulação de mídia. “Nós
do credibilidade como pesquisador até que suas creden- conseguíamos executar tudo que o painel de mídia fa-
ciais o levaram a codiretor do Inese (Instituto Nacional zia, mas com uma análise mais profunda e apurada.
de Estudos Sociais e Econômicos), a convite do Dr. Octá- Até que em 1977, a partir de um estudo para a Central
vio da Costa Eduardo (mais um Notável da ABEP), onde Outdoor sobre índice de lembrança gerado pela mídia
prestou serviços como consultor de marketing e de pro- exterior nos grandes centros urbanos, a LPM começou a
paganda, liderou projetos independentes de discussões desenvolver uma nova proposta de abordagem sobre os
em grupo e participou, ativamente, da consolidação da rumos do mercado de consumo: o futurismo. Futurismo
marca Hellmann’s no segmento de maionese industriali- não é futurologia”, esclarece Pergentino. “Trata-se de
zada e do lançamento no Brasil do Grecin 2000, tonali- uma estratégia de planejamento de longo prazo base-
zador de cabelo masculino. ada em cenários possíveis. Ainda às portas dos anos de
Até que em 1967, Pergentino deixou a pesquisa um 1980, começávamos a desvendar o conceito de globali-
pouco de lado ao aceitar a empreitada de Geraldo Alon- zação”, explica o Notável da ABEP.
so, fundador da agência Norton, para acompanhar pas- “Aos poucos, descobri que a concepção tradicional da

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pesquisa tinha mudado. Com o advento da internet e da televisão: “Para onde vai a televisão até 2075?” foi
das movimentações nas redes sociais, a prioridade pas- um presente oferecido à Rede Globo pela comemoração
sou a ser identificar a direção dos ventos. O que interessa dos seus 50 anos de fundação. “Neste caso, trabalhamos
saber é quais serão os desejos do consumidor amanhã em cima de duas importantes variáveis: o avanço da tec-
e não o quanto foi vendido. Para isso, usamos a socio- nologia e a medição da audiência. Em um dos cenários
logia das tendências, a técnica dos cenários possíveis, construídos, analisamos, por exemplo, os desdobramen-
além de outras estratégias de avaliação, que os ameri- tos na mídia de uma revolta popular, com repercussão
canos chamam de ‘futurismo’ e os europeus preferem internacional, contra as iniciativas de tecnologia por cau-
identificar como Estudos Prospectivos. E é exatamente sa de um grande vazamento de informação que trouxe
nesse campo que eu me especializei. Proporcionar um um grande prejuízo social”, conta Pergentino, sem dar
entendimento geral dos métodos de Estudos Prospec- outros detalhes por se tratar de um documento exclusivo
tivos ou do Futurismo, necessários no planejamento de entregue à Globo.
curto, médio e longo prazos, tanto na iniciativa privada O método aplicado no futurismo é dividido em três eta-
como na esfera da gestão pública”, afirma Pergentino. pas sucessivas. Na primeira delas são coletados dados e
A partir desse novo olhar, Pergentino conduziu dois estatísticas disponíveis, workshops são promovidos para
trabalhos de grande fôlego. O primeiro sobre mobili- livre manifestação de ideias e aplicação de diversas téc-
dade urbana, focado principalmente na expansão e na nicas estatísticas. Na segunda, a partir as informações
implantação das novas linhas do Metrô de São Paulo. reunidas, é possível identificar sinais de possíveis tendên-
“Entre as diversas tendências possíveis, levamos em cias. E na terceira, baseados em eventuais cenários ou em
conta importantes premissas, uma delas é de que os tri- fenômenos extremos, questionamentos e variáveis são
lhos instalados no subsolo da cidade são praticamente levantados para que sejam monitorados, permanente-
eternos. Além disso, o prazo entre a proposta de cons- mente, pelos gestores do trabalho. “A filosofia do futu-
trução da linha e o início das obras pode ser de até rismo nasce dos questionamentos. O futurismo é traçar
dez anos. É muito tempo. Por isso, o nosso estudo não previsões diante de cenários possíveis”, resume Pergen-
oferece soluções, mas apresenta aos técnicos possíveis tino. Ao olharmos para a primeira etapa do método do
variáveis que devem ser avaliadas ao longo do proces- futurismo, os workshops que estimulam o livre pensar
so”, resume o pesquisador. podem nos remeter aos movimentos iniciais das discus-
Projeto semelhante ao do Metrô foi coordenado há sões em grupo, quando o Notável da ABEP debatia com
dois anos por Pergentino, em parceria com a ESPM e as consumidoras, antecipadamente, propostas criativas
com a Casa Semio, sobre os próximos cinquenta anos que seriam aplicadas nas campanhas da Unilever.

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34 ECONOMIA

UMA
QUESTÃO
DE PONTO
DE VISTA
Pesquisas de mercado e de opinião pública revelam percepções bem diferentes
dos agentes econômicos e da população sobre a realidade brasileira

T
udo é uma questão do ângulo de leitu- EMPREGO
ra da realidade. Se avaliarmos o Brasil Entre os que enxergam, daqui para frente, dias
a partir dos dados econômicos, a situ- melhores, principalmente a partir de 2018, um
ação do País parou de piorar e, ao que tudo dos números mais significativos é o de vagas de
indica, engatinhamos em busca de dias melho- empregos criadas no primeiro semestre deste
res em 2018. Já a sensibilidade popular diz que ano, 67.358 postos de trabalho, como revelam
as pessoas se sentem acuadas, com medo de os dados de junho do Cadastro Geral de Empre-
perder o emprego, inseguras diante de novas gados e Desempregados (Caged), divulgados
ofertas de consumo. A ordem, por enquanto, pelo Ministério do Trabalho. De acordo com Tha-
é economizar ao máximo até que os salva-vidas ís Marzola Zara, economista-chefe da consultoria
retirem do horizonte as placas de perigo. Ou Rosenberg Associados, o mercado de trabalho
seja, todo cuidado é pouco. Tanto do lado das ainda deve apresentar uma recuperação menos
autoridades/empresários como do lado do con- intensa neste ano, criando condições para uma
sumidor, os estudos de mercado e de opinião retomada mais relevante do emprego a partir de
pública justificam, corretamente, os sentimen- 2018. “Ainda demora para voltar àquele cenário
tos das duas pontas da gangorra socioeconô- de pleno emprego. No entanto, o mercado de
mica. Em um dos extremos, a força produtiva trabalho começa a melhorar, e ano que vem será
chega a esboçar um sorriso de esperança. Mas, bem melhor”, estima a economista.
no outro limite, a população observa tudo ain- Se continuarmos a analisar os dados do últi-
da com muita desconfiança. mo Caged, descobriremos também que nos úl-

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timos 12 meses o mercado de trabalho fechou CONSUMO


749.060 vagas com carteira assinada. E que dos Se olharmos para o consumo das famílias, um
oito setores da economia pesquisados, apenas dos setores que começam a ganhar fôlego e a
a administração pública e, principalmente, a observar um pouco mais distante os efeitos da
agropecuária apresentaram saldo positivo. Os turbulência econômica é o de bens eletroele-
demais segmentos continuam demitindo. A trônicos, com maior evidência para os itens te-
PNAD Contínua, por sua vez, no trimestre de lecomunicações, linha branca e linha marrom.
março a maio, indica que temos no Brasil qua- Levantamento da GfK, para a Eletrolar Show
se 14 milhões de desempregados. Para Thiago 2017, aponta que esse segmento movimentou,
Xavier, economista da Tendências Consultoria, nos cinco primeiros meses deste ano, R$ 39,5
a recuperação do emprego ainda é bastante li- bilhões, um ganho de 12% no faturamento, em
mitada, sem reversão rápida diante das três mi- relação a 2016, além de uma expansão de 10%
lhões de vagas fechadas entre 2015 e 2016. “É nas vendas e de 2% no preço. Nada mal.
difícil saber quando vamos recuperar as vagas Segundo Rui Agapito, diretor comercial da
Ilustração: Depositphotos

que perdemos, teremos que pensar em alguns GfK e coordenador do estudo, a explicação para
anos. Estamos melhor do que no ano passado, essa recuperação nas vendas pode estar na pró-
mas longe de estar bem no que se refere ao pria crise econômica. Diante da necessidade de
mercado de trabalho. Em 2015 e 2016, elimi- economizar, o consumidor busca na tecnologia
namos as vagas criadas de 2011 a 2014, o que uma alternativa para tornar mais atraente a sua
mostra a gravidade da crise”, avalia Xavier. permanência em casa. Nesse contexto, a cate-

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goria que mais cresceu foi a dos smartphones, Recovery, a inadimplência já atinge cerca de 61
com aumento de 23% em comparação ao mes- milhões de brasileiros. “É metade da população
mo período do ano passado. Em segundo lugar, economicamente ativa”, calcula o executivo.
ficou o segmento de televisores, impulsionado Além disso, a pesquisa detectou também que as
pelo fim do sinal analógico, que ampliou seu fa- pessoas estão menos preocupadas com o nome
turamento em 15%, com 16% em volume. Já sujo e mais com o que é justo. De acordo com
os produtos de linha branca tiveram, em média, Dorival Mata-Machado, diretor do Data Popular,
um aumento modesto de 2% em faturamento. isso significa que os devedores têm pleiteado
Os eletroportáteis, por sua vez, geraram ganhos melhores condições de pagamento, com des-
de 13% em faturamento, com 12% em volume. contos maiores e juros menores.
Na mesma linha, os levantamentos regulares da
INADIMPLÊNCIA Serasa Experian identificam que a inadimplência
Enquanto algumas pessoas conseguem investir elevada não é resultado de excesso de endivida-
no seu lazer doméstico, outras ainda enfrentam mento – até porque a carteira de crédito está em
as dificuldades de ter o nome incluído na lista queda. “Não é que o brasileiro está se endividando
dos maus pagadores. Estudo encomendado ao além da conta, é apenas um reflexo do impacto
Data Popular pela Recovery, empresa especializa- da crise, com o desemprego em nível recorde. Não
da em recuperação de crédito, mostra que hoje é que o brasileiro não queira pagar, ele não tem
o brasileiro inadimplente deve, em média, três dinheiro”, explica Luiz Rabi, economista da Serasa
Ilustrações: Depositphotos

vezes o que ganha e, em alguns casos, acumu- Experian. O indicador de inadimplência de junho
la até 20 dívidas diferentes. Mais um detalhe: a da Serasa mostra ainda que 43% dos entrevistados
maior parte das dívidas foi feita nos últimos três apontam o desemprego como o grande vilão por
anos – período que coincide com o agravamento não estarem em dia com as contas. Outros 19%
da crise econômica do País. justificam não ter renda para pagar as suas dívidas,
Pelas contas de Flávio Suchek, presidente da sendo que 27% deles pertencem à classe baixa.

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PERCEPÇÃO OFICIAL de junho do levantamento online Perspecti-


A interpretação que os agentes econômicos va, realizado pela parceria TNS Kantar/Acre-
fazem da crise é bem diferente da percepção fi, mostra que o sentimento de preocupação
de quem anda nos supermercados atrás das da população cresceu de 62% para 66%, em
ofertas. Nos gabinetes, o que vale são as pro- comparação aos resultados divulgados em
jeções futuras. “Evidência é o que interessa abril. A percepção de otimismo, por sua vez,
na economia, são números, são fatos. Muitos caiu para 21%, contra 24%, registrado no pe-
insistem em lutar contra os fatos revelados nos ríodo anterior. O índice dos que se manifesta-
dados econômicos”, declarou Meirelles. Um ram pessimistas não se alterou e ficou em 8%.
dos índices valorizados pelo ministro foi o da Já resignação, saiu de 7% para 5%.
recuperação na produção industrial de bens de Outro dado que chama atenção no estudo
capital, que cresceu 3,5% em maio em relação é sobre a segurança dos respondentes relacio-
ao mês anterior, de acordo com levantamento nada à manutenção do seu emprego nos pró-
recente do IBGE. Bens de capital são aqueles ximos meses. De abril para junho deste ano, a
utilizados para a produção de outros bens, in- sensação de insegurança subiu de 64% para
dicando um investimento para um aumento 67%, enquanto os que se sentem seguros,
ainda maior de produção. “É um sinal de que caiu de 36% para 33%. Esse item da pesquisa
o item que levou o País à recessão, recessão quadrimestral TNS Kantar/Acrefi, que alcan-
que levou a uma queda da confiança e, conse- çou mil pessoas nas cinco regiões do Brasil,
quentemente, a uma queda do investimento, nos remete ao início deste texto, quando foi
agora começa a crescer”, afirmou Meirelles. mostrado que no primeiro semestre de 2017
foram criados 67.358 postos de trabalho. Ou
PERCEPÇÃO POPULAR seja, isso nos permite deduzir que existe ainda
As evidências do cotidiano dos brasileiros, no um abismo entre a realidade dos números e o
entanto, são bem menos favoráveis. A edição dia a dia dos brasileiros.

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38 PMKTCIÊNCIA

INFLUÊNCIA DA PRESENÇA DIGITAL


das marcas no comércio eletrônico
AUTOR -se com grupos maiores, com a sobreposição da cultura de massa, a
Marcos Daniel Navas Munoz (marcosdanielbr@gmail.com) sociedade se conecta com menores e mais numerosos grupos, em con-
Pós-Graduado em Gestão Empresarial e Marketing pela Business School sequência da afinidade em comum.
São Paulo, consultor na FCamara Consultoria e Treinamento, atua nas Conhecer o consumidor como indivíduo, e como este interage com a
áreas de Tecnologia, Inovação e Comércio Eletrônico. sociedade, é fundamental para que as marcas que pretendem atuar no
comércio eletrônico possam traçar suas estratégias de marketing. Este
RESUMO estudo orientou-se sob a luz da evolução das características do consu-
Este artigo busca contribuir para a pesquisa acadêmica em marketing midor que adquire produtos e serviços pela internet.
verificando como a presença digital das marcas influenciam no processo O objetivo deste artigo é verificar como a presença digital das marcas
decisório de compra no comércio eletrônico, identificando variáveis e des- influencia no processo de tomada de decisão de compra, conhecendo
crevendo características do comportamento do consumidor na internet. A os novos hábitos e características do perfil do consumidor da Era da
metodologia utilizada envolveu pesquisa de campo quantitativo-descriti- Informação. A relevância deste artigo está em abordar aspectos que
va, realizada por meio de questionário aberto, publicado em site exclusivo influenciam o consumidor no momento da compra e a sua importância
na internet e divulgado nas redes sociais. Por fim, os dados coletados nas estratégias de marketing das empresas, de modo a adequá-las ao
foram computados e analisados por meio de técnicas estatísticas. concorrido cenário do comércio eletrônico atual. Assim, este artigo traz
Os principais resultados apurados neste estudo mostram que os con- a hipótese: marcas com presença digital influenciam os consumidores
sumidores: consideram importantes as informações sobre produtos e no processo de tomada de decisão de compra.
marcas, buscam estreitar o relacionamento com as marcas por meio das
redes sociais, esperam conteúdo interessante, mais informações sobre 2 REFERENCIAL TEÓRICO
produtos e oportunidades exclusivas, estão dispostos a compartilhar 2.1 COMÉRCIO ELETRÔNICO
suas experiências na internet após a compra, preferem compartilhar ex- Segundo Manzoor (2010), entende-se por comércio eletrônico ou
periências positivas, buscam ter a opinião de outros consumidores como e-commerce o uso de meios eletrônicos e tecnológicos de conduzir uma
insumo para a tomada de decisão, apoiam e indicam marcas as quais transação comercial (venda, compra, transferência ou troca de produtos,
seguem nas redes sociais. serviços e/ou informações). Tais transações podem envolver somente
empresas, indivíduos ou ambos. Os produtos ou serviços comercializa-
1 INTRODUÇÃO dos podem ser entregues por meio da internet ou fora dela.
O comércio eletrônico ou e-commerce surgiu na década de 1990, mas Turban, King, Lee, Liang e Turban, D. (2015) afirmam que, em alguns
foi por volta de 1995, nos Estados Unidos, que começou a deslanchar, casos, há confusão entre os termos e-commerce e e-business, embora
principalmente com a popularização da internet e o surgimento de em- estes representem diferentes conceitos. O termo e-commerce é usado
presas como a Amazon.com. Para Manzoor (2010), ainda nos anos de para descrever somente o processo de compra e venda, entre duas par-
1990, época em que o público passou a ter acesso à internet e começou tes, pela internet. O e-business se refere a uma definição mais ampla
a se interessar por conteúdos sobre empresas, produtos e serviços, a do e-commerce, não somente a compra e venda de produtos e serviços,
internet passou a se tornar comercial. mas qualquer tipo de negócio on-line, serviços de atendimento ao clien-
A popularização do computador pessoal e da internet levou ao te, suporte e treinamentos a distância.
consumidor o acesso à informação. O consumidor passou a receber
influências de novas culturas, pessoas, empresas, marcas, veículos de 2.2 GERAÇÕES DO COMÉRCIO ELETRÔNICO
informação, além, é claro, das interferências do ambiente ao qual faz Para Manzoor (2010), o desenvolvimento do e-commerce pode ser di-
parte, que agora é formado de pessoas que recebem outras influências vidido em duas gerações. A primeira geração (de 1995 a 2000) foi do-
externas ao seu ambiente. minada por empresas operando nos USA. A segunda geração (a partir
Para Anderson (2006), as preferências do consumidor tornam-se de 2000) possui um escopo internacional, com empresas fazendo ne-
cada vez mais individualizadas. A sociedade vem se fragmentando e gócios em muitos países, em muitas línguas. Dificuldades de linguagem
se reagrupando ao longo de outras dimensões. Em vez de relacionar- e conversão de moedas passaram a ser o principal problema para os

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negócios. Para Qin, Chang, Li, S. e Lin, F. (2014), a primeira geração do e-commerce, analisou 37 milhões de visitas em redes sociais, das
e-commerce é baseada no Electronic Data Interchange ou Intercâmbio quais 529 mil foram convertidas em pedidos. Dentre as visitas às
Eletrônico de Dados (EDI). redes sociais analisadas, 63% eram do Facebook, seguido pelo Pin-
O EDI permitiu que as empresas trocassem documentos, produtos terest com 13% e Twitter com 10,5%. O Facebook é a rede social
e serviços por meio das redes de computadores, o que contribuiu para mais efetiva quanto à conversão, 85% dos pedidos vieram da plata-
uma significativa redução de custo de impressão, para a automatização forma (Social Commerce, 2013).
do processo de compra e melhorias no relacionamento entre clientes e
fornecedores. General Electric, Sears e Wal-Mart foram os pioneiros no 2.3 MARKETING E E-COMMERCE
EDI. Mesmo antes do surgimento da internet, as empresas se conec- Segundo Kotler, Kartajaya e Setiawan (2010), o marketing evoluiu, no
tavam por meio da Value-Added Network (VAN). A VAN era uma rede decorrer dos anos, em três fases, às quais denominam-se Marketing
independente utilizada para conectar empresas e transferir informações 1.0, 2.0 e 3.0, respectivamente. A fase do Marketing 1.0 ou a Era do
com segurança. Marketing centrado no produto deu-se durante a Revolução Industrial,
A segunda geração se inicia nos anos de 1990 com o começo do quando o objetivo das empresas era fabricar produtos que atingissem o
uso da internet para fins comerciais, mas foi somente em 1995 que a mercado de massa. Desta forma, os produtos eram os mais básicos pos-
IBM apresentou o conceito do e-commerce como visto até hoje. Para os síveis, a fim de reduzir o custo de produção e aumentar a escala. Os pro-
autores, a terceira geração teve início nos anos 2000, com a evolução e dutos também seguiam um padrão definido pelos próprios fabricantes
o barateamento de recursos tecnológicos que sustentam o e-commerce para que se pudessem atingir o maior número possível de compradores.
e sua aplicação em vários tipos de negócios. Neste artigo, considera-se O trabalho das equipes de marketing era divulgar as características
como primeira geração do e-commerce o período entre 1995 e 2000 dos produtos e criar a necessidade nos consumidores. Nota-se a seme-
em que o uso da internet, como meio de propagar informação sobre lhança entre as estratégias de marketing no início do e-commerce e as
empresas, produtos e serviços, permitiu o contato direto com o consu- estratégias do Marketing 1.0. Embora os produtos fossem desenvolvi-
midor possibilitando um crescimento no número de transações on-line. dos com base em necessidade dos consumidores, tem-se a divulgação
Foi também em 1995 que a IBM propôs, pela primeira vez, o conceito dos mesmos por meio de ferramentas simplesmente descritivas e foca-
atual do e-commerce (Qin, Chang, Li, S., & Li, F., 2014, p. 11). A se- das na massa. A comunicação não busca um público segmentado, pois
gunda geração do e-commerce deu-se a partir de 2000 com a entrada a falta de ferramentas adequadas e limitações técnicas da época não
do indivíduo como fornecedor de produtos e serviços, o fácil acesso à permitiam conhecer o consumidor a fundo (Manzoor, 2010).
internet, a massificação dos computadores pessoais e o baixo custo de Segundo Kotler (2010), a segunda fase do marketing surgiu com a
infraestrutura de tecnologia que possibilitou aos pequenos novos negó- Era da Informação. Agora, os consumidores podem pesquisar preços,
cios aparecerem por meio da internet. No início da primeira geração do produtos, serviços, lojas e promoções antes de tomar a decisão de com-
e-commerce, as estratégias de marketing das empresas eram centradas prar. Não basta, para as equipes de marketing, divulgar as características
no produto, e o e-mail era a principal ferramenta de divulgação. de seus produtos, é necessário entender quem são seus consumidores, o
Embora levasse uma comunicação desestruturada, o e-mail entre- que eles buscam e o motivo dessa busca. Tem-se, então, a Era do Mar-
gava ao consumidor as informações de destaque sobre os produtos e keting centrado no consumidor interagindo diretamente com a segunda
serviços (Manzoor, 2010, p. 14). Com o passar dos anos, o conteúdo fase do comércio eletrônico. Para Kotler (2003, p. 157), o mantra pri-
das campanhas foi evoluindo e entrando mais a fundo nas necessida- mordial do marketing é “descubra necessidades e preencha-as”, logo,
des dos clientes, mas foi somente na segunda geração que o uso de conhecer o cliente e oferecer um produto ou serviço que entregue o que
sofisticadas ferramentas de análise de dados possibilitou às empresas ele precisa é fundamental (Kotler, Kartajaya, & Setiawan, 2010, p. 3).
criarem anúncios mais efetivos e segmentados e centrar as estratégicas De fato, atender às características do Marketing 2.0 é bastante com-
de marketing no cliente. plexo, pois, assim como no varejo tradicional, o e-commerce é apenas
O e-mail deixou de ser o principal foco das estratégias de marketing, um ponto de venda. Não está entre as atribuições do e-commerce en-
dando espaço aos anúncios em sites, portais e redes sociais. A partir de contrar, entender, conhecer e estimular o consumidor a comprar deter-
2005, as redes sociais começaram a receber maior atenção pela quan- minada marca, produto ou serviço. A responsabilidade do e-commerce
tidade de usuários ativos nesse tipo de serviço e pela quantidade de no Marketing 2.0 é ajudar o consumidor a encontrar a melhor opção
informação compartilhada. Foi então, em 2009, que o comércio eletrô- entre produto e preço e concretizar uma transação comercial. O e-com-
nico introduziu canais específicos para redes sociais (Turban, King, Lee, merce disponibiliza ao consumidor uma ampla lista de opções, mode-
Liang, & Turban, D., 2015). Um exemplo foi o significativo aumento da los, marcas, fabricantes, preços e promoções para que o consumidor
atividade comercial no Facebook, Pinterest e Twitter. encontre algo que supra suas necessidades. Não existe exclusividade
Um estudo realizado em 2013 pela Shopify, plataforma para à determinada marca para o e-commerce, salvo exceções referentes às

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40 PMKTCIÊNCIA
estratégias comerciais, a fidelidade está no consumidor. Dessa forma, em todos os possíveis sites, mecanismos de busca, blogs, portais, redes
recai sobre as empresas gestoras de marcas a definição de uma estraté- sociais etc. em que seus clientes e futuros clientes possam frequentar. A
gia de marketing para o ambiente digital. essa estratégia, dá-se o nome de presença digital.
Segundo Kotler e Keller (2006, p. 304), a estratégia de marketing Segundo Strutzel (2015), a presença digital é a representação da
baseia-se no trinômio SMP – segmentação, mercado-alvo e posiciona- existência de uma entidade nas mídias digitais e sociais. A presença
mento. As empresas e indivíduos que optam por comercializar produ- digital é tão importante que, atualmente, seria muito improvável que
tos na internet, seja em site próprio ou de terceiros, precisam analisar uma empresa que não divulgasse seu endereço, site, e-mail ou tele-
e entender esses três quesitos e definir estratégias específicas para o fone na internet fosse encontrada. Isso porque as pessoas têm a per-
mercado digital. Para Kotler (2010), as pessoas estão cada vez mais se cepção que uma empresa, produto ou serviço que não é encontrado
sensibilizando pelas questões sociais e buscam soluções que façam do na internet não existe.
mundo um lugar melhor. Ainda segundo os autores, tem-se: Para Gabriel (2010), uma empresa sem presença digital é como
[...] o consumidor busca, agora, não somente preço, produtos, ser- uma empresa que não está na internet e, dependendo do negócio, é
viços ou promoções. Ele quer conhecer a empresa que fornece esses o mesmo que não existir de fato. Segundo a autora, existem três tipos
produtos e quão alinhadas estas empresas estão aos seus valores e de presença digital:
objetivos de vida. Eis a era do marketing centrado nos valores. Os con-
sumidores estão buscando empresas que abordem suas mais profundas • Presença própria: conteúdos digitais da marca, produzidos e mantidos
necessidades de justiça social, econômica e ambiental em sua missão, pela própria empresa como sites, blogs, perfis em redes sociais, como
visão e valores. Buscam também não apenas satisfação funcional e Facebook e Twitter, canais de vídeo (YouTube, Vimeo) etc.
emocional, mas a satisfação espiritual nos produtos e serviços que es- • Presença gratuita: conteúdos digitais da marca gerados e ganhos de
colhem (Kotler et al., 2010). forma orgânica e espontânea na internet. Por exemplo, conteúdos gera-
O Marketing 3.0 traz um novo dilema para as empresas que atuam no dos por usuários das redes sociais, aparições em ferramentas de busca
comércio eletrônico: transmitir missão, visão e valores em uma platafor- (Google, Bing, Yahoo), comentários e análises de consumidores em sites
ma de e-commerce. O e-commerce nada mais é que um site de compras de e-commerce ou buscadores de preço (Buscapé, Bondfaro, Zoom).
pela internet, um catálogo no qual os produtos são expostos. No varejo • Presença paga: conteúdos digitais da marca, comprados e pagos pela
tradicional, os produtos são organizados em prateleiras ou gôndolas, já empresa, como anúncios em banners (sites, portais, blogs, redes sociais
nos sites do comércio eletrônico, os produtos estão organizados em ca- etc.), links patrocinados, entre outros.
tegorias ou sessões que seguem uma lógica predefinida de exibição, ora
priorizando produtos com maior aceitação e saída, ora dando abertura O consumidor sente a presença digital, principalmente por meio do
para novos produtos ou produtos estratégicos. A divulgação dos produ- grande número de anúncios em banners vistos nos portais, blogs e re-
tos e serviços na internet passa a ser parte da estratégia comercial do des sociais. Para as marcas, a presença deve ir além disso. Para manter
e-commerce e tem o objetivo de alavancar suas vendas, independen- uma boa presença, é necessário ser ativo em muitos outros ambientes
temente do que está sendo vendido. Essa barreira obriga as marcas a digitais. Strutzel (2015) destaca como principais pontos: sites, hotsites e
acessarem outros ambientes digitais a fim de transmitir sua história, seus portais, blogs, perfis e páginas em plataformas de redes sociais, banners
objetivos, seus princípios e valores para esse novo consumidor. e anúncios de publicidade on-line, newsletters, informativos e e-mail
marketing, páginas de resultados em buscadores, vídeos, fotos, slides
2.4 PRESENÇA DIGITAL e infográficos, games, aplicativos para dispositivos móveis, podcasts,
Segundo Kotler (2010), a abordagem centrada no consumidor par- videocasts e conteúdos de entretenimento (advertainment).
te do princípio que os clientes são impactados passivamente pelas De fato, a empresa que busca a presença digital não precisa neces-
campanhas de marketing. Quando a empresa possui uma plataforma sariamente estar presente em todos esses ambientes (Strutzel, 2015). É
própria de e-commerce, é fácil mensurar a efetividade de suas cam- necessário que a estratégia adotada para o ambiente digital esteja ali-
panhas, mas quando se trata de plataformas de terceiros, não é pos- nhada com as estratégias de marketing e branding, de modo a entender
sível mensurar de forma precisa quão impactados seus clientes estão melhor o público-alvo, quais são seus hábitos, como se comunicam e o
sendo por campanhas de marketing digital, uma vez que a divulgação que é relevante no processo de tomada de decisão de compra.
dos produtos é feita pelas empresas de e-commerce, segundo suas É importante ressaltar que o mercado-alvo é um conjunto de clientes
próprias estratégias comerciais. reais e potenciais que tem interesse, renda e acesso suficiente para ad-
Diante desse cenário, as empresas têm meios de impactar seu merca- quirir um produto. Quando alinhadas às estratégias, a probabilidade de
do-alvo sem depender da publicidade gerada pelo e-commerce. A forma se implementar programas de marketing digital mais eficientes e com
mais eficiente de se comunicar com seu mercado-alvo é estar presente custos reduzidos é maior (Keller & Machado, 2006, p. 70).

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Além das estratégias de marketing e branding alinhadas à presença Essas fontes de informação variam entre comerciais de TV e artigos
digital, é necessário ter um posicionamento no ambiente digital. Kotler de revistas até recomendações de amigos, familiares, sites e blogs (Le-
e Keller (2006, p. 305) definem posicionamento como a apresentação cinski, 2011, p. 17). Nota-se, por meio dessa pesquisa que, a cada ano, o
do produto e da imagem da empresa a fim de ocupar um lugar dife- consumidor busca novas fontes de informações antes de se decidir por
renciado na mente do mercado-alvo. O objetivo é posicionar a marca algo que deseja comprar. A pesquisa citada pelo autor mostra também
na mente dos consumidores de modo a maximizar o potencial da em- que 50% dos consumidores fizeram algum tipo de pesquisa na internet
presa. O posicionamento é importante para que a empresa leve aos durante o processo de decisão de compra, 38% compararam produ-
consumidores a sua mensagem. Se os consumidores buscam conhecer tos comprados na internet e 36% buscaram informações referentes à
profundamente quem fornece seus produtos preferidos, esse desejo marca, o que mostra a relevância do conteúdo no processo de decisão.
deve ser atendido. Em outra pesquisa, os consumidores do varejo, que possuem algum
A mensagem deve ser transmitida, no ambiente digital, por meio dispositivo móvel, foram questionados sobre a influência da internet
de conteúdo. Um bom conteúdo que as pessoas tenham interesse em durante o processo de compra e constatou-se que 38% dos consumido-
consumir e divulgar fará com que a mensagem da empresa esteja sem- res entrevistados responderam que utilizaram o smartphone e/ou tablet
pre presente no ambiente digital. Assim como no mundo real no qual nos últimos seis meses, para comparar preços enquanto estavam den-
as marcas disseminam suas mensagens pela TV, rádio, jornal, outdoor, tro de uma loja, 34% buscaram informações sobre o produto e 24%
entre outras mídias, no ambiente digital também é necessário estar pre- acessaram a internet para comparar produtos (E-BIT, 2015). A pesquisa
sente onde o consumidor está. mostra que, mesmo no ponto de venda no varejo, o consumidor pode
Não basta que a marca seja top of mind ou tenha share of mind ser influenciado pelo conteúdo. Um consumidor que encontre informa-
suficiente, é necessário que a mensagem seja passada de forma cor- ções sobre o produto, empresa, marca e/ou loja pode mudar de opinião
reta (Keller & Machado, 2006). As pessoas estão buscando informação sobre a compra, mesmo estando dentro de uma loja, no “primeiro mo-
sobre os produtos e serviços, mas também querem conhecer os valores mento da verdade”.
de quem os produz. O alto índice de relevância que tem sido dado às
informações na internet pode fazer com que um ruído na comunicação 2.6 PODER DO CONSUMIDOR
seja o fator determinante para que o consumidor opte por outra marca. Anderson (2006) descreve que, em 1988, Joe Simpson, um monta-
nhista inglês, escreveu o livro intitulado “Tocando o vazio”, no qual
2.5 IMPACTO DA PRESENÇA DIGITAL relata, de forma contundente, como sobreviveu a um acidente nos Al-
Segundo Lecinski (2011), as empresas precisam se atentar ao novo mo- pes Peruanos. O livro fez pouco sucesso e não teve vendas significati-
delo mental do consumidor, o qual se denomina Zero Moment of Truth vas, apesar das resenhas favoráveis. Anos depois, Jon Krakauer publi-
(ZMOT) ou “momento zero da verdade”. Segundo o autor, os profis- cou o livro “No ar rarefeito”, também relatando uma trágica história
sionais de marketing trabalharam, durante décadas, concentrando seus sobre montanhismo. O livro de Krakauer tornou-se um fenômeno do
esforços em três momentos críticos do processo de compra: estímulo, mundo editorial e, de forma inusitada, “Tocando o vazio” voltou a ser
prateleira e experiência. vendido. A editora Harper Collins lançou então, uma nova edição do
Estímulo: é o momento em que o consumidor é impactado por uma livro de Simpson. As livrarias começaram a divulgar os dois livros lado
ação de marketing ou situação a partir da qual sente a necessidade de a lado. Em 2004, a IFC Films lançou um documentário sobre a histó-
adquirir um produto ou serviço. Por exemplo, o consumidor assiste a um ria, muito elogiado pela crítica. Algum tempo depois a Harper Collins
comercial na TV e se interessa pelo produto apresentado. publicou uma nova edição revisada do livro que passou 14 semanas
Prateleira ou “primeiro momento da verdade”: é o momento em na lista dos best-sellers do New York Times. A princípio pode parecer
que o consumidor tem o real contato com o produto, tem suas dúvidas coincidência que o livro de Simpson retomasse suas vendas justamen-
esclarecidas por um vendedor, negocia, aceita as condições e compra. te no período de lançamento de “No ar rarefeito”, mas o que ocor-
Experiência ou “segundo momento da verdade”: é o momento em que reu de fato foi o marketing espontâneo. Leitores do livro de Krakauer
o consumidor utiliza o produto ou serviço adquirido. Ainda segundo Le- enviaram resenhas para a Amazon.com descrevendo as semelhanças
cinski (2011), o “momento zero da verdade” ocorre entre o estímulo e entre os dois livros e elogiando o antigo livro. Os consumidores que
a compra. Uma vez que o consumidor tenha sido impactado por uma se interessavam por “No ar rarefeito” também começaram a comprar
ação de marketing ou sentido a necessidade de algum produto ou servi- “Tocando o vazio”. Logo os algoritmos da Amazon.com identificaram
ço, ele passa a buscar informações sobre o que deseja comprar. O autor esse padrão de comportamento e começaram a recomendar o livro
cita a pesquisa encomendada pela Google à Shopper Science, na qual como par. Os clientes que aceitaram a sugestão também começaram
o comprador médio usava 10,4 fontes de informação para tomar uma a escrever resenhas elogiando o livro de Simpson, iniciando-se um
decisão em 2011, em 2010, até 5,3 fontes de informação. ciclo de feedbacks positivos.

PMKT21# 18 / 2017
42 PMKTCIÊNCIA
Anderson (2006) mostra o impacto da informação espontânea no A pesquisa esteve disponível durante o período entre 16/10/2015 e
estímulo ao consumidor. Para o consumidor é importante saber como 16/11/2015, em site exclusivo na internet (Survey Monkey), sendo divul-
foi a experiência de outras pessoas com características e necessidades gada por meio de redes sociais e aberta a qualquer pessoa que tenha ou
iguais ou próximas às suas. As pessoas valorizam e se importam com não realizado compras pela internet. A amostra selecionada por meio da
o depoimento espontâneo de outros clientes, pois entendem como técnica da amostragem por conveniência foi constituída de 80 pessoas.
uma informação neutra sobre uma marca ou produto. Se um compra- Foram considerados os estudos de Lecinski (2011) e Kotler et al.
dor publicou um depoimento espontâneo em uma rede social ou em (2010), dados da utilização da internet (Pesquisa Brasileira de Mídia
um e-commerce elogiando um produto, é porque ele realmente teve 2015), do comportamento do consumidor (E-BIT, 2015) e da utili-
uma boa experiência. zação de redes sociais (Social Commerce, 2013) para a elaboração
Segundo Lecinski (2011), as empresas tendem a ficar inseguras ao de questionário composto de 23 questões. Para conhecimento dos
disponibilizar um espaço em seus sites e redes sociais para que os aspectos demográficos da amostra e da utilização da internet, utili-
consumidores possam se expressar sobre seus produtos e serviços. zou-se, exclusivamente, de questões de resposta única, estimulada e
O autor cita o depoimento de Brett Hurt, da Bazaarvoice, empresa de escala própria. Para entendimento das características comporta-
que presta serviços de interação com o cliente, “a média mundial de mentais dos consumidores, optou-se por questões de resposta única
análises de produtos é de 4,3 de 5,0”. As pessoas tendem a escrever ou múltipla, estimulada e de escala própria.
análises de produtos ou marcas que gostam e têm um certo temor Para a apuração dos dados coletados, foram inseridas as respostas
em escrever sobre experiências que não foram positivas (Lecinski, em planilha eletrônica, onde puderam ser analisadas. Por meio das
2011, p. 32). As avaliações negativas nem sempre são ruins, elas técnicas de análise univariada, foram calculadas as respectivas fre-
tornam o ambiente digital mais real para o consumidor. O consu- quências relativas.
midor busca informações verídicas e espera encontrar opiniões que
divergem da sua. Isso não significa que ele mudará de ideia ao ler 4 RESULTADOS
uma análise negativa. 4.1 PERFIL DOS CONSUMIDORES ENTREVISTADOS
Segundo Roberts (2004), as marcas e empresas que se destacarão No que diz respeito ao perfil do consumidor entrevistado, nota-se a
neste século são as que criarem conexões emocionais genuínas com sua predominância de indivíduos entre 26 e 35 anos (52,5%), seguidos
rede de relacionamento, e o primeiro passo para criar esse envolvimento por jovens entre 16 e 25 anos (28%), ou seja, consumidores que
é o respeito. As empresas não devem tentar obter adesão por meio do acompanharam a evolução da internet e do comércio eletrônico no
patrocínio de consumidores para que estes criem falsos depoimentos. decorrer dos anos.
Os consumidores identificarão essa manobra facilmente, e os va- Entre a população brasileira, somente 37% das pessoas utilizam
lores das marcas serão questionados. As marcas precisam de reais a internet sete dias por semana (Pesquisa Brasileira de Mídia 2015).
depoimentos de consumidores felizes e satisfeitos (Kotler et al., 2010, Pode-se observar que 85% dos entrevistados afirmaram utilizar a in-
p. 70). O consumidor pode ser um parceiro de valor na transmissão ternet todos os dias, o que mostra a importância da rede no dia a dia
da mensagem da marca no ambiente digital desde que o relaciona- desses consumidores.
mento seja bem trabalhado. As marcas devem abrir espaço para que o Confirmando a natureza dos entrevistados quanto à utilização da
consumidor possa se expressar de forma espontânea e valorizar cada internet, tem-se que 53,8% passam 4 horas ou mais conectados à
interação. O consumidor precisa se sentir respeitado e saber que sua internet nos dias em que a utilizam. A média brasileira de tempo de
opinião é importante para a empresa. utilização da internet de segunda a sexta-feira é de 4 horas e 59
Para Kotler et al. (2010), o consumidor deve sentir-se envolvido minutos e, nos fins de semana, é de 4 horas e 26 minutos (Pesquisa
e respeitado pela empresa. As marcas que entenderem e melhor se Brasileira de Mídia, 2015). Assim, conclui-se que 96,2% dos entrevis-
adaptarem a esse novo modo de pensar terão maior destaque no tados estão inseridos no ambiente digital.
ambiente digital.
4.2 ASPECTOS DA UTILIZAÇÃO DA INTERNET
3 METODOLOGIA Sobre os motivadores que levam o consumidor a utilizar a internet,
Para obter um diagnóstico preciso sobre a influência da presença di- constatou-se que 87,7% dos entrevistados passam parte do dia co-
gital no processo de tomada de decisão de compra do consumidor foi nectados à internet para fins profissionais e 84,9% se atualizam acer-
realizada uma pesquisa de campo quantitativo-descritiva, abordando ca do cotidiano e dos acontecimentos por este meio. Quanto ao uso
aspectos do comportamento do consumidor na utilização da internet, da internet em seus processos de compra, 79,5% afirmam utilizá-la,
a fim de identificar variáveis e descrever características relevantes do seja pesquisando ou comprando efetivamente e 78,1% a utilizam
processo decisório de compra pela internet. como forma de se relacionar com outros indivíduos.

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43
4.3 UTILIZAÇÃO DA INTERNET DO PROCESSO DE COMPRA 4.6 O QUE OS CONSUMIDORES ESPERAM DAS MARCAS
Quanto à utilização da internet em seu processo de compra, obteve-se No que diz respeito às expectativas dos consumidores em relação às
que 93% compram produtos e serviços pela internet. Embora a predo- marcas quando as seguem nas redes sociais, constatou-se que o con-
minância da amostra aponte para a compra efetiva pela internet, cons- teúdo interessante é relevante para 60% dos entrevistados, o que re-
tatou-se que os consumidores, mesmo quando optam por comprar pre- mete à literatura apresentada neste artigo que expõe o interesse do
sencialmente no varejo, utilizam a internet para buscar informações que consumidor em conhecer a fundo a empresa e a marca que fornece
os ajudem a tomar suas decisões. Destaca-se a importância dada pelo seus produtos, quais são seus ideais, seus objetivos e seus valores. Para
consumidor em conhecer a experiência de outros consumidores, 35,2% entender esse caráter, recorre-se novamente a Roberts (2004) que dis-
afirmam buscar outras opiniões sobre o produto que desejam adquirir. corre sobre a importância de as marcas contarem histórias e que é por
No que tange ao processo decisório do consumidor, constatou-se que os meio das histórias que as empresas podem contar quem são e atribuir
consumidores que compram pela internet buscam informações de diferen- valor às suas crenças.
tes fontes para auxiliá-los na tomada de decisão, o que nos remete à lite-
ratura citada neste artigo, que transcreve a importância das marcas criarem CONSIDERAÇÕES FINAIS
conteúdos relevantes e abrirem espaço em seus canais digitais para que os A presença das empresas no ambiente digital é de grande relevância
consumidores coloquem depoimentos sinceros e espontâneos. quando se pretende atuar no comércio eletrônico. Definir estratégias
de atuação nesse ambiente, alinhadas com as estratégias de marke-
4.4 VARIÁVEIS QUE INFLUENCIAM ting e branding é fundamental para que se conheça a fundo o merca-
NA DECISÃO DO CONSUMIDOR do-alvo e também para fazer com que a mensagem da empresa seja
Quanto ao conjunto de variáveis que influenciam o consumidor a deci- transmitida da forma correta. As empresas devem considerar, em suas
dir pela compra no comércio eletrônico, a pesquisa confirmou que, além estratégias, que o consumidor deve ser compreendido como indivíduo
das facilidades propostas pelo e-commerce de entrega em casa e facili- e que suas necessidades são tão importantes quantos seus valores e
dades de pagamento, a motivação do consumidor vem, principalmente, seus anseios por fazer da sociedade um lugar melhor. Os consumido-
após a leitura de recomendações de outros consumidores. res querem conhecer profundamente as empresas que fornecem seus
Nesse ponto, pode-se recorrer a Anderson (2006) que sinaliza o po- produtos preferidos e estão dispostos a compartilhar as experiências
tencial de alavancagem de vendas no e-commerce a partir da recomen- com outras pessoas. As pessoas valorizam e querem saber sobre as
dação dos consumidores. experiências de seus semelhantes. A empresa que compreender esse
Complementando o conjunto de variáveis, a pesquisa constata que cenário se destacará criando conexões emocionais com seus consumi-
o preço é importante para o consumidor, e que este se utiliza dos dores, pois são consumidores felizes que manterão viva a mensagem
recursos da internet para comparar e encontrar os menores preços, da empresa no ambiente digital.
porém 55,9% afirmaram terem tomado a decisão de comprar em um Embora existam alguns estudos e literatura sobre o tema, o assunto
e-commerce após encontrarem todas as informações que precisavam ainda é pouco difundido, principalmente no que tange às vendas de
sobre o produto. produtos e serviços na internet, onde o foco principal das estratégias é
No que tange aos estímulos que levam o consumidor a desistir de a presença paga por meio de anúncios e banners. No entanto, é indis-
comprar em um e-commerce, 19,1% atribuem a desistência à leitura de cutível o impacto que o consumidor pode causar, tanto positivo quan-
análises negativas sobre o produto em sites e redes sociais. Constata-se to negativo, nas campanhas de marketing digital. É possível tornar as
que a opinião dos consumidores é de grande relevância para o indivíduo campanhas mais eficientes quando se tem por base o relacionamento
que pretende comprar por meio do e-commerce. Assim como uma reco- com o consumidor bem construído e gerenciado, considerando-se as
mendação impacta positivamente o consumidor, uma análise negativa variáveis descritas neste artigo.
pode fazer com que este deixe de comprar. Contanto, um futuro aprofundamento dessa pesquisa se faz necessá-
rio para que se compreendam os aspectos do consumidor que o fazem
4.5 INFLUÊNCIA DO CONSUMIDOR SOBRE O CONSUMIDOR optar por uma marca ou outra e como evoluir as estratégias para que
Quanto aos comportamentos após uma compra em um e-commerce, estas se adaptem a essas características. Desta forma, vislumbra-se um
constatou-se que os consumidores estão dispostos a compartilhar suas retorno à academia com o objetivo de dar continuidade aos pontos
experiências e priorizam comentários positivos. Neste ponto pode-se identificados nesse artigo e, com isso, consolidar ainda mais a importân-
recorrer a Lecinski (2011) que apresenta a tendência do consumidor de cia da presença digital para o comércio eletrônico.
divulgar experiências positivas. Além dos aspectos referentes aos produ-
tos e às marcas, o consumidor também relata experiências de compra
no e-commerce, tanto positivas quanto negativas. Leia o artigo na íntegra no link: http://migre.me/wqNgW

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44
ESTANTE

EM NOME DOS PAIS


Autor: Matheus Leitão
Editora: Intrínseca
Desde pequeno, Ma-
SAPIENS – theus Leitão ouvia as
Uma Breve expressões “perse-
LIVROS

História da guição”, “prisão” e


Humanidade “porão” sussurradas
Autor: Yuval por seus pais, os jor-
Noah Harari nalistas Marcelo Net-
Editora: L&PM to e Míriam Leitão.
O autor repassa a Movido pela curiosi-
história da huma- dade de compreen-
nidade desde o der o passado, o
surgimento da espécie durante a pré-história até os jovem passou a reco-
dias atuais. Trata os fatos ou as crenças, que damos lher retalhos de uma
como certos atualmente, a partir de diversas inter- dolorosa história de
pretações e de diferentes pontos de vista. Ele aborda tortura, iniciada em
a evolução e o conhecimento do homem pela ótica 1972, quando os pais militavam no PCdoB. Delatados por
sociológica, antropológica e econômica. Baseia seus um companheiro, foram presos e torturados. O livro é re-
comentários também em informações trazidas da pa- sultado de suas incansáveis investigações, que começam
leontologia e da biologia. pela busca do delator e seguem com a localização dos
agentes que teriam participado das sessões de tortura.

PECAR E O OLHO DA RUA


PERDOAR – Autora: Eliane Brum
Deus e o Homem Editora: Arquipélago
na História O livro faz uma travessia pelo País conduzida pelo olhar
Autor: Leandro de repórter de Eliane Brum. Ela retrata a primeira déca-
Karnal da do século 21 a partir de dez grandes reportagens. Em
Editora: cada uma, a autora
Harpercollins revela a história
A afirmativa errar dentro da história,
é humano conclui ao narrar os basti-
uma verdade mais dores dos dilemas,
profunda que mui- das descobertas e
tas vezes se perde também das dores
no clichê: o pecado vividas por uma
e o perdão são duas repórter disposta
faces da mesma a questionar sua
moeda — um não própria trajetória
pode haver sem o outro. É exatamente a partir dessa profissional.
dualidade que o historiador Leandro Karnal mostra
como a sociedade moderna ainda utiliza essas noções
baseadas na religiosidade judaico-cristã, e como, ape-
sar de suas origens tão antigas, tais conceitos seguem
cada vez mais atuais.

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ARTIGO
MARCELO COUTINHO 45
49
AS MÉTRICAS
ESTRATÉGIA E
DEA
desconfiança
PLATAFORMAS:
DO MERCADO
você ainda vai ter uma
Marcelo Coutinho:
professor do MBA Executivo
da FGV/EAESP, consultor
de Estratégia Digital e
membro do Conselho
Ilustração: depositphotos

Editorial da PMKT21

Uma organização
As plataformas é capaz
digitais estão dominando dee, medir
o mundo com
a ajuda da inteligência artificial embutida nos seus produtos,
oeliminar
vão desempenho do seu
boa parte dos processos produto
(e empregos) ou
associados
serviço
ao marketing tradicional — comode forma
aconteceu com aisenta?
indústria
de conteúdo musical e jornalístico

A
convergência entre mídia consumo de vídeo” e a maneira

A
s e plataformas
tecnologiadigitais
possibilita
estão como
cimentoelepodeé calculado.
ser explicadaOpor erro
uméprin-
re-
dominando comportamentosa
o mundo e, com cípio da economia das redes chamado de

9
medir lativamente simples (a rede social
ajuda da inteligência
que eram difíceis de serem mensu- artificial “externalidades”, que de forma
contabilizava o tempo total em que simplifica-
embutida nos seus produtos, vão elimi- da podemos definir como o aumento de
rados, como o boca a boca sobre os vídeos eram vistos, mas dividia
nar boa parte dos processos (e empre- valor e utilidade percebida de um produto
uma marca. Mas,
gos) associados por mais tradicional
ao marketing sofistica- esse número
ou serviço somente
na medida pelo
em que eletotal de
é usado
das
— comoque possam
aconteceuser comas aconstruções
indústria de pessoas
por mais equemais assistiam
pessoas. por mais de
lógico-matemáticas por trás
conteúdo musical e jornalístico. dos
Os jornais três segundos),
O caso da Amazon maséseu impacto
ilustrativo: paraé
americanos viram no ano
números, seu sucesso é dependen-passado sua re- dar conta de todos os processos
grande: uma sobre-estimativa de envolvi-
ceita declinar ao nível de meio
te de dois fatores: a economia e a século (sim, dos com
60% a compra
a 80% e venda de
do tempo de consumo.
milhares de
50 anos) atrás. E o número de pessoas produtos, ela teve de montar uma vasta
confiança. Entre as diversas conclusões e explica-
empregadas nas gravadoras de música é estrutura de servidores e desenvolveu uma
A questão
a metade do que era ganhou destaque
no início do milênio. ções
enorme para a adoçãodedeprocessamento
capacidade novas tecnolo-e
quando
Do outroo lado mercado se deuestão
da gangorra contaor- gias entre
análise organizações
de dados. e consumidores
Isso possibilitou em 2006
do impacto
ganizações quedeemum suaaviso
maioriaque
nãoapa-
têm (são peloda
a criação menos
AmazonseisWeb
grandes modelos),
Services, empre-
mais dena
receu 20 página
anos de para
existência, mas que
anunciantes sa encarregada de “oferecer
aparecem dois pontos em comum: a capacidade
são seis das dez maiores
do Facebook, alertando para uma empresas em de processamento
percepção e armazenamento
de utilidade e a percepção de de
valor de mercado na Bolsa de Nova York: dados, entrega de conteúdo e outras fun-
“discrepância” entre a definição facilidade de uso/adoção. No caso das
Apple, Google, Microsoft, Facebook, cionalidades para auxiliar no crescimento e
do
Amazonindicador
e Alibaba.“tempo
Boa parte médio de
do seu cres- empresas, a percepção
ganhos de escala de seusde utilidade está
clientes”.

PMKT21
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2017
46
ARTIGO
MARCELO COUTINHO 49
ARTIGO
MARCELO COUTINHO

CAS E A Com uma receita de 9,8% do


faturamento do site (US$ 12,2
bilhões contra US$ 123,7 bilhões,
Como as organizações de me-
nor porte podem prosperar neste
tipo de ambiente? A maior parte

iança respectivamente), ela foi respon-


sável por 74,2% do lucro opera-
cional total de US$ 4,18 bilhões
das que conseguirem sobreviver
de forma relativamente indepen-
dente (sim, a venda para um dos

CADO
da Amazon. “gigantes” também é uma estra-
O próximo passo dessas pla- tégia de saída bem-sucedida) vai
taformas envolve, em diversos ter de desenvolver alguma espe-
graus, a produção e distribuição cialização em nichos. Uma das
de conteúdo e a automação dos mais interessantes para agência e
diversosMarcelo
processosCoutinho:
derivados, en- veículos me parece ser a resultan-
professor
tre os quais do MBA Executivo
o marketing e a publi- “O PRÓXIMO PASSO te da combinação de algoritmos,
cidade.daSegundo
FGV/EAESP, consultor
o vice-presiden- DESSAS PLA­
T AFORMAS conteúdo e criatividade.
de Estratégia Digital e
te de inovação da Neftlix, cerca Como destaca Seth Davidowitz,
membro do Conselho
de 80% dos mais de cem milhões
ENVOLVE, EM no recém-lançado Everybody Lies:
Editorial da PMKT21
de horas diárias de streaming de DIVERSOS GRAUS, Big Data, New Data, and What
conteúdo dos seus usuários são A PRODUÇÃO E the Internet Can Tell Us About
realizadas com base no algoritmo Who We Really Are (US$ 14,99
de recomendação da empresa. DISTRIBUIÇÃO DE no Kindle), o poder do Big Data
Não vai demorar para esses pro- CONTEÚDO E A não está no volume nem na velo-
cessos serem replicados em larga cidade com que os dados podem
AUTOMAÇÃO DOS
escala na publicidade. ser processados, mas na nossa

apaz de medir O Google parece ter dado mais


alguns passos nessa direção quan-
DIVERSOS PROCESSOS
DERIVADOS, EN­TRE OS
capacidade de encontrar padrões
(“agulhas”) em uma pilha cres-

eu produto ou do anunciou no fim de maio, na


Google Marketing Next, o lan-
QUAIS O MARKETING
cente de dados (“palheiro”).
Entre as muitas relações inte-
çamento da Google Attribution, E A PUBLI­CIDADE” ressantes sobre volumes de busca
forma isenta? um conjunto de iniciativas para feitos no Google, dados de pes-
avaliar o peso de cada ponto de quisas tradicionais e o senso co-
contato da marca na decisão final de compra do mum, ele destaca por exemplo que “adultos com
mo de vídeo” e a maneiraconsumidor. A montagem de modelos de atribui- filhos são 3,6 vezes mais passíveis de contar ao
ele é calculado. O erro é re-ção, tradicionalmente um processo caro, demora- Google (por meio dos termos que usam em suas

90
mente simples (a rede socialdo e sempre carregado de incertezas, era algo que buscas) que eles se arrependeram da sua decisão
bilizava o tempo total em quesomente marcas com muitos recursos financeiros do que adultos sem filhos”.
eos eram vistos, mas dividia (e certa sofisticação intelectual por parte de seus Nossa presença no Facebook, Twitter, Insta-
dirigentes) podiam fazer. Se o Google for bem-su- gram e outras redes é uma projeção daquilo que
úmero somente pelo total de
cedido na tentativa de adaptar isso para diferentes desejamos que os outros acreditem que somos,
as que assistiam por mais demercados, regiões geográficas e tamanho de em- enquanto nossas buscas no Google revelam nos-
egundos), mas seu impacto épresas, podemos aguardar grandes deslocamentos sos anseios reais (“never compare your Google
e: uma sobre-estimativa dede verbas nos próximos anos, tanto em termos de searches to everyone else’s social media posts”).
a 80% do tempo de consumo.meios quanto de veículos e ações específicas para É no entendimento desta distância criada pelas
e as diversas conclusões e explica-capturar e avaliar a atenção do consumidor. plataformas, e na criatividade para explorar como
É certo que em algum momento vamos ver as marcas podem preencher este vazio, que a co-
ara a adoção de novas tecnolo-
ações de governos ou grupos de indivíduos para municação tem espaço para crescer. Ocupar este
ntre organizações e consumidoresde alguma forma tentar controlar o enorme po- espaço vai exigir tanto o domínio dos algoritmos
elo menos seis grandes modelos),der destas plataformas — como a União Europeia quanto das emoções, dentro de uma velocida-
em dois pontos em comum: afez com a Microsoft em meados da década pas- de e custo compatíveis com uma concorrência
ção de utilidade e a percepção desada e já começa a indicar tentativas similares em internacional crescente para agências, veículos
ade de uso/adoção. No caso das relação ao Google e Facebook. Mas esse tipo de e anunciantes. Como dizia aquela antiga praga
iniciativa quando muito vai retardar um processo chinesa: “que você viva tempos interessantes”.
sas, a percepção de utilidade estáque parece inevitável. Sem dúvida nenhuma, serão.

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