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Ano X – Nº 40 // OUT/NOV/DEZ 2022

Coop guiado por dados


Oportunidade
Aprenda a utilizar Cooperativas podem Cooperativismo quer gerar
dados internos e liderar mercado de R$ 1 trilhão de prosperidade
externos a seu favor crédito de carbono para o Brasil
a r a q u e t e q u e r o ?
RETRANCA

Dados p

EDITORIAL
Vivemos novos tempos no cooperativismo! Nosso jeito diferente de fa-
zer negócios finalmente reencontrou a sua essência, que sempre esteve
ligada à inovação e à sustentabilidade. Depois de anos nos posicionando
timidamente no mercado, agora queremos ser vistos pelo muito que te-
mos feito pela economia brasileira. Chegou a hora de mostrar ao mundo
que fazemos muito, e fazemos bem; que somos os pioneiros do mercado
ESG e somos, sim, competitivos —  sem abrir mão de valores como a
ética, a cooperação e o respeito à diversidade. Além disso, precisamos
destacar, urgentemente, a qualidade e o profissionalismo da nossa ges-
tão, cada vez mais guiada por dados e resultados — justamente o tema
central desta edição especial da Saber Cooperar

Para melhor entender a importância do uso estratégico de dados em


um negócio, convidamos dois especialistas no assunto — um do coop
e outro do mercado — para falar sobre o assunto. Ambos foram taxati-
vos ao afirmar: é impossível crescer de forma sustentável fazendo uma
gestão baseada em opiniões pessoais, intuição ou experiência prévia.
Meu amigo cooperativista Robson Mafioletti, superintendente do Siste-
ma Ocepar, foi direto ao ponto: “a gestão guiada por dados é a que, do
nosso ponto de vista, dá certo.”

ANÚNCIO Outra reportagem interessante, desta edição, conta a história de três


coops estrangeiras que utilizam os dados de seus cooperados para fa-
zer o bem. Uma delas é a Savvy Coop, com sede nos Estados Unidos,
que reúne pacientes com doenças crônicas ou graves. Sob demanda de
laboratórios, institutos de pesquisa e universidades, eles participam de
estudos dedicados ao desenvolvimento de novos tratamentos para suas
COMO ACESSAR OS enfermidades — uma forma inteligente e inovadora de transformar ex-
RECURSOS MULTIMÍDIA periências que, em princípio, seriam pessoais, em dados capazes de sal-
var (ou pelo menos melhorar) a vida de muitas pessoas. 

Por fim, a equipe da Saber Cooperar produziu uma matéria detalhada


sobre como adequar sua cooperativa à Lei Geral de Proteção de Dados
Pessoais (LGPD). O texto traz um passo a passo didático, capaz de ajudar
sua coop a construir uma política eficiente de coleta, armazenamento
e uso de dados. E fica um alerta:  pouca gente sabe, mas manter da-
dos pessoais por mais tempo do que o necessário e não documentar
o destino dos mesmos  também são infrações passíveis de multa pela
nova legislação. Daí a importância de você entender todas as nuanças e
exigências da LGPD.
Tendo o aplicativo de
QR Code instalado Se você — como eu — é um entusiasta dos dados e das novas tecnolo-
em seu celular, basta gias, não deixe de ler esta edição especial da revista do cooperativismo.
abri-lo e direcionar a
câmera do aparelho Boa leitura!
em direção ao código.
Escaneie e espere o
aplicativo direcioná-lo Marcio Lopes de Freitas
para o conteúdo. Presidente do Sistema OCB

Revista SABER COOPERAR « 3


NESTA
ANO X • Nº 40 • ESPECIAL SISTEMA OCB
ISSN 2317-5109
No Brasil, o movimento cooperativista é representado oficialmente pelo
Sistema OCB, composto por três entidades complementares entre si:
✓ Confederação Nacional das Cooperativas (CNCoop) – órgão de
SESCOOP representação sindical das cooperativas, composto também por
CONSELHO NACIONAL federações e sindicatos.
• Marcio Lopes de Freitas – presidente
✓ Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) – entidade
REPRESENTANTES OCB representativa do cooperativismo no país, responsável pela promoção,

18
Região Centro-Oeste pelo fomento e pela defesa do sistema cooperativista em todas as
instâncias políticas e institucionais, no Brasil e no exterior.

6
• Celso Ramos Régis – titular

12
• Luis Alberto Pereira – suplente ✓ Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop) –
internacional
Regiões Norte e Nordeste
• Cergio Tecchio – titular
• José Merched Chaar – suplente
integrante do Sistema S, responsável pela formação profissional, pela
promoção social e pelo monitoramento das cooperativas. Entrevista USANDO DADOS PARA
ABAIXO O ACHISMO FAZER O BEM
Região Sudeste
• Edivaldo Del Grande – titular
• Pedro Scarpi Melhorim – suplente De olho no mercado
Região Sul
UM MUNDO DE INFORMAÇÕES
• Luiz Vicente Suzin – titular
• Leonardo Boesche – suplente À SUA DISPOSIÇÃO

Conselheiros Representantes dos Empregados em Cooperativas


• Mauri Viana da Silva – titular
• Nivair de Castro de Souza – suplente
A revista Saber Cooperar é uma publicação do Sistema OCB, realizada

24
REPRESENTANTES DO EXECUTIVO com recursos do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo
(Sescoop) e distribuída gratuitamente em todo o Brasil.

28
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
• Fabiano Maluf Amui – titular Gerente de Comunicação: Samara Araujo Melhores
34
• Marcio Cândido Alves- suplente
Conselho Editorial: Ana Regina Teixeira da Silva, Andressa Recchia,
Ministério da Economia Fábio Alexandre Salazar, Fabíola Nader Motta, Fernando Ripari, SUA COOPERATIVA JÁ
NÚMEROS ESTÁ ADAPTADA DE
• Myrian Mara Kosloski Prado – titular Juliana Gomes de Carvalho, Karla Oliveira, Leonardo Machado,
• Geanluca Lorenzon – titular COMPARTILHADOS VERDADE À LGPD?
Malaquias Ancelmo de Oliveira, Maria José de Andrade Leão,
• Adão José Correa Paiani – titular
• Juliano Cardoso Eleutério – titular
Rosana Vargas e Wesley Santos.
Especial

50
Jornalista responsável: Guaíra Flor
CONSELHO FISCAL DO SESCOOP 1 TRILHÃO DE
Colaboração: Alice Roberte e Lucas Badú
REPRESENTANTES DA OCB OPORTUNIDADES
• João Teles de Melo Filho – titular Projeto gráfico e editorial

44
• José Aparecido dos Santos – titular
• Alexandre Gatti Lages – suplente
• José Ronkoski – suplente
Poderes
Conselheiros representantes dos empregados em cooperativas
• Raphael Miguel da Silva – titular
Edição: Guaíra Flor
Diagramação: Vanessa Kassabian
COOPERATIVISMO CONTINUA
FORTE E BEM REPRESENTADO
Semente
• Waldir Ferreira da Silva – Suplente
Repórteres: Alessandro Mendes, Amanda Cieglinsk, Débora Brito, Flávia NO CONGRESSO NACIONAL UM NOVO
REPRESENTANTES DO EXECUTIVO
Duarte, Freddy Charlson, Guaíra Flor, Janaína Camelo, Lilian Beraldo, Mariana MERCADO PARA
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Branco e Paulo Pimenta AS COOPERATIVAS
• Marcio Eli Almeida Leandro – titular
Fotos da capa e do evento: Mateus Camargo, Pano pra Manga, Claudio BRASILEIRAS
• Mara Marlene Machado Papini– suplente
Andrade de Albuquerque, Pedro Henrique da França Amaral e Robson
Ministério da Economia Alexandre Pereira Cesco
• Arthur Henrique da Silva Santos – titular Ilustrações: Kleber Sales Perfil
68
• Luíza de Amorim Motta Deusdará – titular
Revisão: Luciana Pereira
O HOMEM QUE
Sistema OCB: Setor de Autarquias Sul – SAUS Qd. 4 Bl. “I” EXPORTOU O BRASIL

60
CEP 70070-936 – Brasília-DF (Brasil) – Telefone: +55 (61) 3217-2119

Melhores do ano
E-mail: comunicacao@ocb.coop.br

MELHORES ENTRE
OS MELHORES
ca hismo
RETRANCA
ENTREVISTA

ABAIXO O Por Alexandre Facciolla

O
mercado brasileiro parece ter aceitado a má-
xima de que “os dados são o novo petróleo”.
A pandemia certamente acelerou mudanças,
mas a busca pela utilização de dados para to-
madas de decisões rápidas e precisas já vinha
crescendo. Hoje, a gestão guiada por dados (data driven
management) consolida-se como estratégia eficiente de
negócios em diversos setores da economia, impactando
também o cooperativismo.

Para entender melhor os resultados e os desafios trazidos


pela decisão de gerir um negócio guiado por dados, a
Revista Saber Cooperar convidou dois especialistas no
assunto: Danielle Franklin, diretora comercial da Scala —
empresa do Grupo Stefanini com foco na implantação
de abordagens tecnológicas que exigem alto grau de
especialização em negócios —, e Robson Mafioletti, su-
perintendente do Sistema Ocepar, referência no trabalho
com dados.

Confira os melhores momentos da entrevista:

Qual é a diferença entre uma gestão tradicional e


uma gestão guiada por dados?
Danielle Franklin: Quando uma organização consegue
transformar dados em informações relevantes para o ne-
gócio, está fazendo uma gestão orientada por dados.
Por exemplo: se eu quero saber como divulgar uma de-
terminada campanha de marketing, com foco na sensi-
bilização de um determinado público, eu deveria con-
sultar meu histórico de vendas antes de tomar qualquer
ENTREVISTAMOS DOIS decisão. Fazer escolhas baseadas e guiadas por dados
é exatamente isso: o gestor não toma decisões basea-
ESPECIALISTAS EM das em achismo. Ele faz isso baseado em uma ou mais
informações, construídas a partir de dados e estatísticas
GESTÃO DE DADOS, históricas, que facilitam a tomada de decisões futuras.
UM DO COOP E Robson Mafioletti: A gestão guiada por dados é a que,
OUTRO DO MERCADO. do nosso ponto de vista, dá certo; é a gestão profissio-
nal. Não é possível tomar nenhuma decisão importan-
AMBOS CONCORDAM: te sem levar em conta uma série de dados, números e
DECISÕES BASEADAS estatísticas. É certo que decisões tomadas por feeling
[intuição] ou baseadas em experiências anteriores fazem
EM NÚMEROS SERÃO parte do dia a dia de um executivo. Mas, quando essa
decisão é tomada com base em dados, via de regra, ela
Robson Mafioletti, SEMPRE MELHORES E é muito mais assertiva. Aqui no Paraná, as cooperativas
superintendente
do Sistema Ocepar Danielle Franklin, MAIS PRECISAS que trabalham com a gestão de dados são as que obtêm
os melhores resultados.
diretora comercial
da Scala
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RETRANCA

Em quais setores da economia esse


modelo de gestão tem sido utilizado
com maior êxito?
DF: Há setores que estão muito mais
avançados na gestão guiada por dados,
como a indústria financeira. Tecnologica-
mente falando, a indústria financeira é o
que chamamos de early adopter, ou seja, “A PERGUNTA QUE O NEGÓCIO TEM QUE
foi a primeira a adotar uma tecnologia de
ponta. O varejo também largou na fren-
SE FAZER É: QUE TIPO DE INFORMAÇÃO
te, até porque depende muito de dados EU GOSTARIA DE TER PARA TOMAR
para tomar decisões sobre o que comprar, Como agir em situações de contextos
quando comprar, quando mudar o preço MELHORES DECISÕES? ESSA INFORMAÇÃO complexos, cujos dados não são
etc. Mas, de uma forma geral, o merca- conhecidos ou não há dados
do brasileiro já entendeu que “os dados É ESSENCIAL PARA MEU NEGÓCIO? SE A suficientes para uma análise completa
são o novo petróleo”. O problema é que, da situação?
para ser uma empresa com a cultura data- RESPOSTA FOR SIM, ESSA EMPRESA OU
-driven [guiada por dados], é preciso fazer DF: O que fazemos como consultoria: en-
investimentos que algumas instituições COOPERATIVA DEVERIA INVESTIR EM tramos nas organizações fazendo o que
chamamos de Assessment [um tipo de
ainda estão receosas em fazer.
DADOS, COM CERTEZA.” avaliação interna, que envolve relatórios,
RM: Dentro do cooperativismo, os ramos reuniões etc]. Nesses eventos, sentamos
Danielle Franklin, com todas as áreas da organização —
Crédito, Saúde e Agropecuário são des-
diretora comercial da Scala, empresa do Grupo Stefanini vendas, marketing, logística, contabilida-
taque. Nas cooperativas de crédito, todas
com foco na implantação de abordagens tecnológicas de, entre outras — e entendemos o que
as decisões são baseadas em dados —
que exigem alto grau de especialização em negócios essas áreas gostariam de ter como infor-
dos cooperados e do mercado; no Ramo
Saúde acontece o mesmo. O Sistema Uni- mações para insights; o que gostariam de
med tem trabalhado muito com Inteligên- saber.
cia Artificial (IA) e uso de dados para obter
melhores resultados. Nas cooperativas do Depois, apontamos para eles que tipos
agronegócio, os dados são fundamentais de dados seriam necessários para ter
para viabilizar a agricultura de precisão. aquela informação e mostramos como
implementar a solução. Em seguida, cria-
O uso de dados também cresceu muito -se um repositório que permita guardar
em diversas áreas internas das coopera- e consultar esses dados facilmente. Ele
tivas, como na pesquisa e assistência téc- precisa oferecer visualizações do passa-
RM: Negócios mais complexos, que pre- do e visões do futuro, usando estatística
nica para os nossos cooperados. A área
cisam tomar decisões com mais infor- e matemática, ou seja, a famosa Ciência
comercial é outra que utiliza bastante nú-
mações, vão ser mais beneficiados pela de Dados.
meros e indicadores. Elas acompanham o
gestão guiada por dados. Temos aqui,
mercado e as bolsas internacionais (Chi-
no Paraná, muito trabalho de agricultura RM: Isso é um problema sério, mas aca-
cago, Nova York, B3, em São Paulo) para
de precisão. As cooperativas do Ramo ba acontecendo. Até pela aceleração
tomar decisões mais assertivas.
Agropecuário têm de pôr a semente dos processos, com tomadas de decisão
adequada, no local adequado, com a rápidas, é um problema não ter dados
Como saber se está na hora de investir
quantidade certa de fertilizante e de- completos. Nesses casos, temos de usar
em dados para melhorar a gestão de
fensivo agrícola. Um negócio como esse o que têm [de dados] e buscar novas in-
negócios?
com certeza vai se beneficiar de dados formações. No ambiente cooperativo,
DF: A pergunta que o negócio tem que se para a tomada de decisão. Já os negó- dialogamos muito. Usamos a experiência
fazer é: que tipo de informação eu gosta- cios mais físicos, que têm mais atividades de quem tem mais vivência no mercado
ria de ter para tomar melhores decisões? corriqueiras, via de regra, terão menos como uma fonte de informação para to-
Essa informação é essencial para o meu benefícios. Falo de atividades mecâni- mar decisões mais assertivas, mas esse
negócio? Se a resposta for sim, essa co- cas, rotineiras, como o pessoal que cuida não é o melhor caminho. O ideal seria
operativa deveria investir em dados, com do cafezinho da empresa. construir uma base de dados.
certeza.

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RETRANCA

“A GESTÃO GUIADA POR DADOS É A QUE, DO


decisões mais precisas e acertadas, ge-
NOSSO PONTO DE VISTA, DÁ CERTO; É A GESTÃO rando melhores e maiores resultados
para os nossos cooperados. Além disso,
PROFISSIONAL. NÃO É POSSÍVEL TOMAR NENHUMA usando ferramentas de inteligência de
mercado, podemos tomar decisões mais
DECISÃO IMPORTANTE SEM LEVAR EM CONTA UMA rápidas e efetivas, profissionalizando a
SÉRIE DE DADOS, NÚMEROS E ESTATÍSTICAS.” gestão cooperativista.

Robson Mafioletti, Estamos avançando na construção de


superintendente do Sistema Ocepar. uma base de dados unificada para as
cooperativas do Paraná. Montamos uma
Cooperativa Central de TI, chamada Uni-
-TI [criada em dezembro do ano passa-
do], para que as cooperativas comparti-
lhem o que for possível de informações,
e façam uma gestão mais adequada de
seus dados.
Visualizar dados e informações nem RM: Se você tomar uma decisão baseada
sempre é o suficiente, na hora de em dados com dados ruins, sua decisão
tomar uma decisão. É sabido que será ruim. É aí que entram os engenhei- Existe algum campo econômico no
eles podem “mentir”, se não forem ros, administradores, cientistas de dados qual a gestão guiada por dados não
coletados e analisados da forma e economistas. Eles precisam checar esses se aplique ou não seja viável?
correta. Diante desse problema, como dados e organizá-los de forma lógica. Não
DF: Sinceramente, acredito que em todos
transformar dados em conhecimento? dá para gastar energia, capital com dados
os setores da economia existam dados
se não forem confiáveis. É preciso real-
DF: Esta é uma pergunta excelente. Mui- que possam virar insight [inspiração] para
mente checar as fontes e a precisão dos
tas empresas nos chamam para construir decisões estratégicas de negócio. Tudo o
dados. Esse é um desafio que temos. Nes-
relatórios, dashboards, ou até para mon- que tem a ver com entender o comporta-
sas horas, um bom gestor, com experiên-
tar modelos matemáticos e estatísticos mento de alguém tem a ver com dados. E
cia no setor onde atua, faz muita diferen-
que ajudem a prever o futuro. O que mui- em todas as áreas essa realidade se aplica.
ça, pois se alguém mandar dados muito
tas esquecem é que, antes de qualquer
estranhos ou fora da curva, ele perceberá
coisa, é preciso garantir que eles estejam Vou dar um exemplo: será que o pessoal
logo que a informação não está correta.
visualizando um dado correto, realmente que cuida da limpeza não precisa saber
fidedigno ao histórico dos fatos. a hora de comprar material para o próxi-
Como o cooperativismo pode
mo mês? Como fazer uma previsão cor-
beneficiar as cooperativas e seus
Muito antes de pensar em visualizar, é reta para não comprar nem a mais, nem
cooperados com ferramentas de
preciso pensar no que chamamos de go- a menos? Outro problema comum nesse
inteligência de mercado (BI) e gestão
vernança de dados — uma política de segmento: quantas pessoas é preciso co-
guiada por dados?
controle que garanta que esses dados locar dentro de um shopping na época
são verdadeiros, têm qualidade e estão DF: Uma boa prática de mercado é o do Natal para limpá-lo? Baseando-se no
seguros, já que refletem as informações compartilhamento de dados. Todas as fluxo de pessoas e no histórico de consu-
sensíveis da sua organização. cooperativas deveriam compartilhar os mo dos produtos de limpeza, é possível
dados dos setores nos quais atuam entre tomar decisões mais assertivas. E tudo
Somente depois de construir essa gover- si. Dessa maneira, elas estarão gerando isso são dados.
nança, é possível ter certeza de que os informações capazes de beneficiar todo
dados são confiáveis e capazes de ante- o cooperativismo. RM: Que eu saiba, não. Em qualquer
cipar futuros. Uma organização que fizer campo do conhecimento ou da econo-
qualquer visualização ou previsão em RM: O trabalho com dados pode be- mia, é difícil tomar decisões sem estar
cima de dados não organizados e sem neficiar o cooperativismo de diversas baseado em dados. Isso vale tanto para
qualidade pode prever algo completa- maneiras. Analisando uma grande base a parte econômica quanto para a parte
mente errado e levar o negócio ao caos. de dados, teremos condições de tomar social de um negócio. ■

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DE OLHO NO MERCADO

UM MUNDO DE Independentemente do ramo de


atuação da sua cooperativa, o
uso de dados pode elevar ainda
fosse armazenada em DVDs em-
pilhados, ela seria longa o sufi-
ciente para dar a volta à Terra 222

INFORMAÇÕES À SUA
mais o nível de acertos e a redu- vezes. Os dados são da empresa
ção dos riscos do negócio. Todas de inteligência de mercado IDC.
as informações sobre o processo
de produção, estoque de maté- Diante de números tão impac-
ria-prima, logística, composição tantes, você pode estar come-
de preço e desempenho de mer- çando a pensar: preciso ter essa
cado — quando bem organizadas quantidade gigantesca de dados
e analisadas — podem ajudar o à minha disposição para fazer
gestor a tomar decisões mais minha cooperativa funcionar? A
rápidas e assertivas. resposta é tranquilizadora: pro-
vavelmente, não.
“No dia a dia, as pessoas têm a
tendência de tomar decisões com “Boa parte das empresas [e as co-
caráter mais subjetivo, baseadas operativas se incluem aí] vão viver
na própria experiência, o que não no mundo de small data, ou seja,
significa que é sempre um erro. trabalharão com poucos conjun-
Mas quem tem uma base de da- tos de dados, e isso não signifi-
dos confiável para analisar, pode ca que elas não vão tirar provei-
obter resultados ainda melhores, to disso”, avalia André Filipe. O
encontrando caminhos e solu- pós-doutor explica que é assim
ções que vão além do óbvio”, que se começa e, conforme o uso,
DESCUBRA COMO O Por Carina Dourado analisa André Filipe Batista, pós- as instituições tendem a amadure-

T
-doutor em Data Science e espe- cer, criando bases de dados cada
COOP PODE ENCONTRAR, omates ou alfaces? Não parece, mas uma cialista em inteligência artificial. vez maiores, o que possibilita aná-
pergunta simples como essa, feita para es-
ORGANIZAR E UTILIZAR colher qual produto será cultivado em pro-
lises mais profundas.

DADOS INTERNOS
E EXTERNOS PARA
priedade, é capaz de mudar os rumos de
toda uma produção. Antes de tomar uma
decisão, o produtor precisa se fazer uma série de
Preciso de Para Max Stabile, diretor exe-
cutivo do Instituto Brasileiro de

tudo isso?
Pesquisa e Análise de Dados
outras perguntas: qual produto pode ser colhido
CRESCER E FAZER o ano todo? Qual deles tem os insumos mais ba-
(Ibpad), a questão não é o tama-
nho da base a ser trabalhada. “O
NEGÓCIOS ratos? E as pragas de qual é mais fácil controlar?
Preciso de quantos funcionários para lidar com a
desafio é se a sua empresa será
Vivemos em tempos de super- capaz de registrar cada etapa de
plantação? Qual a variação de preço ao longo do produção de dados. Basta fazer seu processo produtivo de uma
ano? Preciso de embalagem para o produto? uma busca na internet para en- forma que possa ser visualizada
contrar informações e números analiticamente”, explica. “O mais
A experiência do produtor, incluindo os anos na la- detalhados sobre qualquer assun- complexo é justamente levantar
voura, os erros e acertos cometidos ao longo do to. Tudo o que os quase 5 bilhões os dados necessários para essas
tempo e o conhecimento sobre a composição dos de internautas fazem on-line tam- análises, que envolve todos os
preços certamente facilitam o processo de decisão. bém tem grande potencial para custos com insumos, funcionários
O consumidor, na outra ponta, não tem tantas pre- virar dados. A previsão é que, e produtividade. Essa parte da
ocupações e foca no valor final do produto. Mas até 2025, haja 175 zettabytes de coleta é a mais difícil, na nossa
para quem produz, é essencial que todas as esco- dados no mundo virtual. Quer ter experiência. A maior parte das
lhas (ou pelo menos a maior parte delas) gerem re- uma ideia aproximada da magni- empresas têm processos, mas
sultados positivos, fazendo o negócio valer a pena. tude desse número? Pois bem, se elas registram isso de fato?”,
essa quantidade de informações questiona.

12 « Revista SABER COOPERAR Revista SABER COOPERAR « 13


Como ? Pioneirismo mineiro
RETRANCA

Todo o processo de coleta, organização, limpeza e visua- Quando o assunto são dados, o Sistema Ocemg
lização de dados em ferramentas que auxiliam um gestor — formado pelo Sindicato e pela Organização das
a tomar decisões é chamado de business intelligence (BI). Cooperativas do Estado de Minas Gerais — é referên-
Segundo os especialistas, o mais difícil de todo o proces- cia para o coop brasileiro. Desde 2004, a Unidade Es-
so é a organização e coleta de dados. A GESTÃO DA SUA COOP tadual define o seu planejamento estratégico apoiado
É HIPPO? nas estatísticas trazidas pelo Sistema de Informação
“O primeiro passo de uma consultoria de BI é a organi- Gerencial (SIG) — plataforma com dados cadastrais,
zação dos processos do cliente. Muitas vezes, é preciso Um dos fenômenos que a ges- econômicos e sociais das cooperativas mineiras.
conversar internamente para que todos os dados se co- tão guiada por dados previne
muniquem: o financeiro, o RH, o comercial”, exemplifica é o chamado HiPPO — sigla, “Nosso sistema evoluiu muito nos últimos anos. Hoje,
Max Stabile, do Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise em inglês, para Highest Paid já é possível acessar em tempo real os atendimentos
de Dados. Person’s Opinion (em portu- disponibilizados às cooperativas ao longo do ano,
guês, “a opinião da pessoa bem como informações sobre arrecadação e adim-
Na visão do executivo, essa é a parte mais difícil da im- mais bem paga”). Essa é uma plência, em relação às contribuições do sistema coo-
plementação de uma cultura de gestão guiada por da- tendência já constatada em perativista”, explica Alexandre Gatti, superintenden-
dos, mas também é a mais importante. “Ter clareza no diversos setores da economia, te do Sistema Ocemg.
seu processo, já faz com que você tenha condições de inclusive no cooperativismo,
planejar e questionar se as ações que você vai fazer são que consiste na delegação da Ainda segundo Gatti, a análise dessas informações
melhores ou piores”, explica tomada de decisão às pessoas também tem ajudado o Sistema Ocemg a fazer in-
com os maiores cargos e salá- vestimentos, direcionar ações de desenvolvimento
A próxima fase é a que Stabile chama de “recorte” ou rios em uma hierarquia. profissional por ramo ou área, além de elaborar es-
de visualização. Ela dá ao cliente uma ideia das informa- tratégias para aperfeiçoar e alavancar o coop mineiro
ções que foram levantadas, com representações visuais O problema é que, normal- no mercado.
em dashboards (painéis de visualização), com gráficos e mente, esses líderes costumam
indicativos, para que seja fácil compreender esses dados. embasar suas decisões em “Às vezes, uma cooperativa nos demanda um cur-
suas próprias convicções ou so relacionado à planejamento orçamentário e essa
A análise desses dados é a terceira etapa do projeto de experiências — o que pode ser pode ser uma lacuna da região em que ela está inse-
BI — feita a partir das perguntas que precisam ser res- extremamente prejudicial em rida. Os nossos diagnósticos de monitoramento nos
pondidas para auxiliar na tomada de decisão. Nessa fase, mercados cada vez mais volá- permitem identificar outras cooperativas com essa
é possível identificar padrões e também pontos fora da teis, competitivos e sujeitos a mesma demanda e, assim, fica mais fácil otimizar o
curva, que serão usados para desenvolver estratégias e grandes transformações. Para recurso e maximizar o atendimento”, explica.
ações que impulsionem o negócio. evitar problemas, o melhor a
fazer é investir em ferramen- O SIG também permitiu que o Sistema Ocemg ve-
“Depois de conseguir visualizar os dados com clareza, tas de BI, capazes de ajudar rificasse o alcance de seus programas e projetos.
os gestores passam a olhar com maior atenção para os os gestores HiPPOs a perceber “Tivemos a grata surpresa de confirmar que 90% das
dados que estão alinhados com a estratégia e com a re- para onde os ventos estão so- cooperativas já utilizaram mais de um de nossos ser-
dução de riscos do negócios. Para eles, fica mais fácil en- prando na economia. viços este ano, o que demonstra a penetração das
tender quais variáveis fazem os ponteiros dos resultados atividades e ações do Sistema junto às coops asso-
mexerem”, explica o pós-doutor André Filipe. ciadas”, avalia.

É aí que eles começam a entender a força do BI e passam A gestão guiada por dados do coop mineiro tem aju-
a querer avançar um pouco na análise de dados, solici- dado a equipe da Ocemg a compreender a realida-
tando a construção de sistemas preditivos, ou seja, que de das cooperativas do estado, deixando mais claro
ajudem a prever tendências de futuro para o empreendi- para todos quais são as principais necessidades e
mento e para o mercado com um todo (análises setoriais). movimentos do mercado.

“É natural que o cliente comece a fazer a gestão guiada E para garantir que os dados estejam sendo correta-
por dados em dashboards para, em seguida, prosseguir mente coletados e analisados, buscou-se profissionais
para modelos preditivos, nos quais é possível entender com vasto conhecimento na gestão da informação,
mais sobre os cenários de futuro do negócio”, comemora além de técnicos especialistas em cooperativismo,
o acadêmico. mercado e TI.

14 « Revista SABER COOPERAR Revista SABER COOPERAR « 15


TIRA-DÚVIDAS
RETRANCA
“Investir em um quadro espe-
cializado de profissionais que
entendam do nosso negócio e,
UM DASHBOARD PARA O COOP
O que é gestão guiada por dados (data driven
por consequência, das deman- management)?
Uma excelente maneira de experimentar uma jor-
das geradas por ele, é um dife-
nada de tomada de decisão baseada em dados, é É um modelo de gestão no qual a empresa baseia a toma-
rencial que permite ao Sistema
acessando o dashboard de Indicadores Econômicos da de decisão e o planejamento estratégico na coleta e na
Ocemg se destacar”, conclui
do Sistema OCB. A ferramenta lançada em julho de análise de informações – e não em intuição ou experiências.
Gatti.
2021 oferece, em um só lugar, dados macroeconô-
micos nacionais e mundiais, que podem ajudar sua Não é, portanto, uma ferramenta, mas uma metodologia
O pós-doutor em Data Science
coop no processo de tomada de decisão. que permite às organizações terem uma ideia mais precisa
André Filipe concorda e acres-
centa: para ser eficiente, um do seu negócio, conferindo a elas uma maior capacidade
“Nosso dashboard organiza, em um mesmo lugar, de aproveitamento de oportunidades e de antecipação de
projeto de gestão guiada por
dados públicos estratégicos, como o índice de in- tendências e problemas.
dados deve ser baseado em
flação, Produto Interno Bruto (PIB), emprego, juros,
um tripé de profissionais.
renda, entre outros. As informações são atualizadas Quais informações são levadas em conta em uma
automaticamente, assim que os dados são publi- gestão guiada por dados?
O primeiro ponto de apoio é
cados. Além disso, também é possível acessar pro-
uma pessoa que saiba traba- Os dados a serem analisados por uma empresa orientada
jeções e perspectivas dos principais indicadores
lhar com os dados, normal- por dados costumam ser disponibilizados em ferramentas
econômicos”, explica Ana Tereza Libânio, analista
mente alguém da parte de de inteligência de mercado (BI). Esses sistemas coletam da-
de estudos econômicos do Sistema OCB.
TI. O segundo é alguém que dos de diversas fontes, tanto internas quanto externas. Elas
seja responsável pela análise cruzam essas informações de modo a oferecer um panora-
Toda cooperativa registrada junto à OCB tem aces-
e validação estatística desses ma mais claro do mercado e da própria organização.
so à plataforma, com o mesmo login e senha já usa-
dados, geralmente um estatís-
dos para se conectar aos demais sistemas da Casa
tico ou economista. O último
do Cooperativismo. Para garantir a segurança dos Quem cuida da montagem e das análises de uma
componente dessa equipe é
dados do cliente, é preciso uma autenticação via ferramenta de BI?
um profissional que entenda
QR Code. A ferramenta é didática e segmentada É fundamental montar uma equipe multidisciplinar para ga-
do negócio, dos dados levan-
por tópicos, como conjuntura, indicadores regio- rantir o sucesso de um projeto guiado por dados. Reco-
tados e do motivo de cada in-
nais, nacionais, com um enfoque especial para os 7 menda-se contratar no mínimo três profissionais: cientista
formação estar ali.
ramos do cooperativismo. de dados, profissional de tecnologia da informação capaz
“Quando a gente junta esses de coletar e tratar essas informações; um estatístico ou eco-
Ana Tereza destaca que o processo de tomada de nomista, capaz de analisar os dados utilizando as técnicas
três profissionais para traba-
decisão deve ser subsidiado em duas frentes: adequadas; um especialista em mercado, que será encarre-
lhar, temos tudo o que é pre-
nas próprias informações das cooperativas, gado de entender os impactos dessas análises no mercado
ciso para fazer uma ferramenta
mas também nas tendências de mercado e e nos negócios da sua cooperativa.
de BI consistente: o profissio-
cenários econômicos. “As informações ser-
nal de TI lida com a matéria-
-prima, que são os dados. O
vem como bússolas, para decidir o próximo Por que investir em uma gestão guiada por dados?
passo, ver se faz sentido o caminho proje-
estatístico ou economista sabe Em tempos de economia globalizada e revoluções tecno-
tado e nada melhor do que os dados para
olhar de forma estratégica para lógicas, é preciso tomar decisões rápidas, assertivas e ca-
orientar”, explica.
aquela massa de informações; pazes de escalar os resultados da empresa de forma ágil e
já o especialista de mercado eficiente. Não dá mais para confiar apenas na intuição de
Para auxiliar ainda mais as cooperativas, a
entende como aquelas infor- um líder ou em experiências acumuladas no passado, prin-
OCB também oferece análises econômicas
mações podem ajudar a ala- cipalmente em um mundo onde todo mundo tem acesso
de temas que estão em alta, que podem ser
vancar os negócios”, conclui. ilimitado a dados. Nesse novo contexto, o que diferencia
encontradas no Conexão Coop, na parte de
um gestor do outro não é o acesso à informação, e sim ter
inteligência de mercado.
mercado
Vale destacar: o SIG é tam- a capacidade de entender o que ela quer dizer.
bém uma das principais fontes
de informação do Anuário do Para completar, a gestão guiada por dados otimiza o tempo
Cooperativismo Mineiro, uma Acesse agora dos gestores, previne erros, reduz custos, e ajuda a identifi-
radiografia do setor em Minas o dashboard car padrões e pontos fora da curva capazes de gerar novas
Gerais. A visualização dos da- de Indicadores
oportunidades de negócio. É um atalho seguro para sair da
Econômicos do
dos está acessível, de forma mesmice e enxergar além do óbvio. ■
Sistema OCB.
gratuita e forma atualizada, a
todas as pessoas interessadas. https://in.coop.br/dashboard-economico
Para saber mais sobre o assunto,
leia a entrevista da página 6
16 « Revista SABER COOPERAR Revista SABER COOPERAR « 17
CONEXÃO INTERNACIONAL

Usando dados
Por Débora Brito

I
CONHEÇA A HISTÓRIA DE novar e trazer soluções benéficas para a sociedade
QUATRO COOPERATIVAS está na essência do trabalho cooperativista. E um
dos setores em que o coop tem dado aula, no mer-
ESTRANGEIRAS QUE ESTÃO cado internacional, é justamente no gerenciamento
e compartilhamento de dados. Quer ver?
TRANSFORMANDO AS
EXPERIÊNCIAS PESSOAIS DE Em Nova Iorque, nos Estados Unidos, a Savvy Coop
— uma cooperativa de pessoas portadoras de doen-
SEUS COOPERADOS EM UM ças graves — encontrou uma maneira diferente e ori-

PARA FAZER O BEM PRODUTO VALIOSO E CAPAZ,


ATÉ MESMO, DE SALVAR VIDAS
ginal de lidar com os dados de seus cooperados. Eles
estão compartilhando informações sobre a experiên-
cia que têm no enfrentamento de uma doença com
institutos de pesquisas e laboratórios que precisam
entender melhor a realidade desses pacientes.

De acordo com a fundadora da cooperativa, Jen


Horonjeff — ela própria paciente portadora de artri-
te juvenil, uma doença que afeta as articulações do
corpo no período da adolescência — a Savvy Coop
foi a primeira cooperativa a atuar sob a perspectiva
dos pacientes e não dos médicos, dos hospitais ou
da indústria.

A história da Savvy se confunde com a de Jen, que


também sobreviveu a um tumor no cérebro e se tor-
nou uma pesquisadora PHD na área de saúde. Depois
de ser procurada várias vezes para compartilhar com
pesquisadores sua experiência como paciente, Jen
teve a ideia de reunir pacientes com diferentes expe-
riências de vida em uma cooperativa. Objetivo? Co-
letar as vivências de enfrentamento às doenças para
compartilhá-las com a comunidade científica e com a
sociedade. Assim, o que poderia ser um peso ou mais
uma experiência isolada e desconhecida de enfrenta-
mento de uma doença, se transformou em uma gran-
de oportunidade não só de renda, mas de melhora da
qualidade de vida desses pacientes.

Por meio de questionários, participação em grupos


focais, entrevistas, testes de produtos, entre outras
estratégias, a Savvy Coop faz uma ponte entre em-
presas e pacientes cooperados.

Na página da cooperativa, a fundadora destaca que


o grande valor da cooperativa é “permitir que a in-
dústria trabalhe junto com os pacientes” e que a prin-
cipal missão da coop é “colocar o paciente no centro
do desenvolvimento dos tratamentos ou insumos que
serão usados por eles mesmos”. A ideia é contribuir
para que as inovações em saúde sejam mais inclusi-
vas, diversas e efetivas para os pacientes.

18 « Revista SABER COOPERAR Revista SABER COOPERAR « 20


Interesse Dados para a
das e apenas os usuários com conta
cais, de criptografia, de identidade “QUANDO O DADO têm acesso aos registros por meio
de acesso. Se os cooperados acha-
ram por bem compartilhar e serem PASSA PELA GESTÃO de login. A cooperativa ressalta que

Dentro da Savvy Coop, as histórias


remunerados por isso, por que não?
Esse é outro ponto positivo do co-
operativismo, os resultados são re-
DA COOPERATIVA, de todos garante a soberania dos cidadãos
sobre a forma como os dados serão
utilizados.
de vida dos cooperados são ativos
negociados com pesquisadores e partidos e fatiados”, ressalta Bonelli. ELE PASSA PELO
“O cooperativismo já tem em sua
empresas de saúde. Funciona assim:
Vale destacar: sobreviventes de do-
CONSENTIMENTO... Com o lema “Meus Dados, Nossa
Saúde” a cooperativa suíça MIDATA
essência valores como a democracia,
uma clínica, um laboratório ou uma liberdade, equidade, solidariedade e
indústria entra em contato com a enças graves, cuidadores, acompa- ESSE É OUTRO também coleta dados de pacientes
justiça social, visando o bem comum.
cooperativa e apresenta sua neces- nhantes de portadores de doenças com o objetivo de contribuir para
Tendo em vistas que as chamadas
sidade, que pode ser, por exemplo, crônicas e autoimunes, profissio- PONTO pesquisas científicas sobre trata-
‘Cooperativas de Dados’ são siste-
uma entrevista de 60 minutos com nais de saúde também podem ser mentos de diferentes doenças. Ao
uma ou mais pacientes diagnosti- cooperados e colaborar com seus POSITIVO DO contrário da Savvy, a MIDATA não
mas de gerenciamento de dados
que pertencem aos seus membros,
cadas com câncer de mama, para insights. A cooperativa tem ainda cobra pelo compartilhamento de in-
apoiar o desenvolvimento de um um programa de referência que re- COOPERATIVISMO, formações, portanto, também não
eles vão poder decidir a melhor for-
munera pessoas não membros ou ma de fazer uso destes dados. E o
remunera as pessoas que aceitam
medicamento novo para a doença.
As demandas são registradas pela cooperadas. Para ter acesso ao be- OS RESULTADOS disponibilizar suas experiências no
melhor, já o fazem tendo a cultura
de governança destes dados para o
coop e apresentadas aos pacientes nefício basta indicar pacientes que
aceitem participar da coop e quei-
SÃO REPARTIDOS E enfrentamento da doença.
bem comum e benefício dos coope-
cooperados. rados como base”, destaca Fabíola
ram compartilhar informações. FATIADOS.” A cooperativa desenvolveu uma
Nader Motta, gerente geral do Sis-
Se der “match” (interesse mútuo) plataforma que armazena dados de
tema OCB.
entre a demanda da indústria e a Ana Carolina Bonelli, saúde coletados de startups, apli-
experiência do paciente, ambos pesquisadora do cativos, provedores de tecnologia,
ganham. Os pacientes são pagos
por colaborarem respondendo aos
questionamentos, por participarem
Instituto de Tecnologia e
Sociedade (ITS Rio)
grupos de pesquisa, entre outros. O
sistema foi desenvolvido pelas uni-
versidades suíças ETH Zurich e a de
Corona science
de experimentos ou de algum pro- Ciências Aplicadas de Bern.
cesso de desenvolvimento de pes- Fundada em 2015, a MIDATA tam-
quisas e produção de insumos de Na plataforma, ficam armazenadas bém oferece serviços de desenvolvi-
saúde. diversas informações sobre condição mento de aplicativos de saúde, estilo
de saúde, detalhes de cirurgias, tra- de vida e bem-estar, consultoria so-
Como cooperados que são, ao final tamentos, exames, medicamentos, bre questões éticas, apoio no geren-
de cada exercício, esses portadores documentos como prontuá- ciamento e consentimento do uso de
de doença crônica também rece- rios médicos, característi- dados e outros.
bem parte dos resultados obtidos cas físicas dos pacientes,
pela Savvy, de forma proporcional à entre outros dados. Mas foi depois da pandemia que
colaboração de cada (sobras) . Além cresceu o número de projetos tecno-
disso, têm direito a voto em proces- Os usuários da plata- lógicos de coletas de dados lançados
sos decisórios e contam com uma forma podem contribuir pela MIDATA, entre eles, o aplicativo
rede de apoio mútuo que os ajuda ativamente autorizando “Corona Science”, que permite às
a enfrentar suas doenças. o uso de seus dados em pessoas que tiveram Covid-19 infor-
pesquisas médicas e estu- marem sobre sua condição de saúde
Para a pesquisadora do Instituto dos clínicos. São eles que e os sintomas. Em contrapartida, o
de Tecnologia e Sociedade (ITS Rio) decidem livremente sobre o usuário tem acesso a várias informa-
Ana Carolina Bonelli esse modelo uso dessas informações em ções e serviços de suporte.
de compartilhamento de dados é projetos científicos. E se quise-
positivo, pois tem a autorização dos rem podem se tornar membros “Toda essa crise sanitária mundial
usuários e ainda traz valor para os da cooperativa, condição que dá acelerou muito a necessidade de
cooperados. direito a eles de participar do con- compartilhar dados de maneira mais
trole da organização. responsiva para o bem comum, em
“Quando o dado passa pela ges- busca de soluções para produção
tão da cooperativa, ele passa pelo Para atender aos requisitos de pro- de vacinas e outros fins”, completou
consentimento, por uma gestão de teção e segurança, todas as infor- Ana Carolina Bonelli, pesquisadora
algoritmos, gerenciamento dos lo- mações “doadas” são criptografa- do ITS.

20 « Revista SABER COOPERAR Revista SABER COOPERAR « 21


Mobilidade
RETRANCA
A acadêmica cita, ainda, outra co-
operativa europeia de saúde que
tem feito um trabalho de desta-
“A PARTIR DO MOMENTO QUE VOCÊ USA AS
que quando se trata de comparti-
lhamento de dados: a Salus Coop.
inteligente e CIDADES PARA O BEM PÚBLICO, VOCÊ CRIA
UMA INTELIGÊNCIA COLETIVA URBANA E
Criada em 2017 na Espanha, a
cooperativa engloba a atuação AS SOLUÇÕES DEIXAM DE SER OFERECIDAS
de diferentes atores para cumprir
todo o fluxo de receber as infor- Se sua condição de saúde pode fazer di-
SOMENTE PELOS GOVERNOS.” Mas para que experimente uma
expansão mais significativa, esse
mações dos usuários e de unida- ferença na vida de outras pessoas e da Ana Carolina Bonelli, ramo do cooperativismo ainda
des de saúde públicas ou priva- sociedade como um todo, informações pesquisadora do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS Rio) precisa atravessar algumas barrei-
das, agregar essas informações e como os lugares por onde você dirige, ras, como quebrar silos de dados,
repassá-las de forma estruturada e os quilômetros rodados por dia e quan- já que na maioria das vezes as in-
segura para as empresas e outras to tempo leva para se deslocar de um formações não estão centralizadas
instituições interessadas. ponto a outro na cidade também são va- em um único portal de dados ou
liosos para o cooperativismo, o mercado não estão padronizadas e forma-
A coop desenvolveu um modelo e o poder público. tadas da mesma maneira.
tecnológico para garantir a con-
fidencialidade dos dados, inde- De olho na possibilidade de contribuir Há ainda o desafio de se adequar
pendente da forma como os ou- para a tomada de decisões relacionadas a diferentes legislações e de cons-
tros atores tratam ou mantêm os à mobilidade urbana, a cooperativa Dri- truir uma infraestrutura tecnológi-
dados. ver’s Seat criou um aplicativo para ser ca segura e eficiente, além da falta
Em seu manifesto, a Salus Coop
destaca que não tem fins lucrati-
utilizado por motoristas de aplicativos
de transporte, como o Uber. O app gera
uma série de dados sobre as corridas fei-
Legados e de recursos.

desafios
Para superar parte dos desafios,
vos e que busca colaboradores tas pelo motorista. existe a possibilidade de criar uma
voluntários para contribuir. Tam-
coordenação de rede e fomentar
bém convida as autoridades sa- As informações são coletadas pela coo- uma cadeia produtiva de valor por
nitárias para desenvolver licenças perativa e repassadas para órgãos públi- meio do compartilhamento de
de uso e arquiteturas tecnológicas cos ou centros de pesquisa dados para O uso de informações pessoais infraestrutura computacional, de
que incentivam a doação de da- apoiá-los na tomada de decisões relacio- para basear decisões voltadas dados e recursos humanos e, prin-
dos, entre outras iniciativas que nadas à gestão da mobilidade urbana. a mudanças sociais e inovações cipalmente, estabelecer objetivos
possam estimular as pessoas a tecnológicas é uma tendência em claros de negócios compartilha-
dividirem informações que sejam O objetivo é melhorar o planejamento ascensão no coop internacional. dos entre os parceiros da cadeia.
úteis para acelerar as pesquisas da arquitetura das cidades e encontrar Ele tem sido muito aplicado na
científicas e o controle de estados soluções para congestionamentos e ou- estruturação das Cidades Inteli- Outra alternativa passa pela inte-
de emergência, como a pandemia tros problemas de trânsito e mobilidade. gentes, com o intuito de criar uma ligência de dados, com o desen-
do coronavírus. As informações coletadas pelos motoris- inteligência coletiva urbana para volvimento de serviços digitais
tas são vendidas pela cooperativa, que resolver problemas públicos. Seu flexíveis e adaptáveis, permitindo
reverte os ganhos para os próprios con- uso vai desde o gerenciamento de análise constante da interação e
dutores. tráfego nas cidades até o uso de do comportamento do usuário
informações pessoais para promo- com os serviços ofertados.
“A partir do momento que você usa as ver a saúde da população.
cidades para o bem público, você cria “Temos grandes desafios para os
uma inteligência coletiva urbana e as so- De fato, o trabalho das chamadas próximos anos de transformação
luções deixam de ser oferecidas somen- cooperativas de dados pode fa- digital, mas, para quem já possui
te pelos governos e passam a ser ofe- vorecer o fortalecimento de todo em sua essência cultural a coope-
recidas também por startups, por ONGs o ecossistema de governança de ração, metade do caminho já foi
e outros atores da sociedade que não dados e estimular a ampliação da trilhado. A governança de dados
somente o governo. Então, a gente tem legislação de proteção de dados de forma ética em compliance
cidadãos mais participativos e colabo- pessoais e de transparência de da- com as leis vigentes é um dos
rativos promovendo a democracia nas dos públicos, por meio de decre- maiores legados que as coopera-
cidades”, explica Fabíola Nader Motta, tos municipais de dados abertos e tivas de dados podem oferecer”,
do Sistema OCB. leis de governo digital. ressalta Fabíola. ■

22 « Revista SABER COOPERAR Revista SABER COOPERAR « 23


INTERCOOPERAÇÃO

O COOPERATIVISMO Uma das maneiras de fazer isso é


apoiando — sob demanda dos Siste-
FINANCEIRO CONTA mas — a incorporação dessas singula-
res por outras maiores e financeiramen-
COM O APOIO DO te mais sólidas. Nos últimos três anos,
FGCOOP PARA o FGCoop realizou oito operações de
assistência financeira para viabilizar
ANALISAR DADOS, essas incorporações. Elas beneficia-
ram diretamente 60,4 mil cooperados,
CLASSIFICAR RISCOS que mantiveram sua confiança no co-
E FAZER UM AMPLO operativismo financeiro intacta graças,
também, a essa atuação preventiva do
BENCHMARKING DO Fundo.
SETOR

Por Mariana Branco


de mercado
S
ó existe uma maneira de se
manter competitivo nesse mar
de dados que as novas tecno- Em janeiro de 2023, o FGCoop lançará
logias da informação dispo- um segundo projeto com dados para
nibilizam diariamente: saber apoiar as 648 cooperativas captado-
usá-los de forma estratégica e segura. ras de depósito associadas ao Fundo.
No cooperativismo, o Ramo Crédito é Trata-se de um painel de inteligência
um dos mais ativos e experientes nes- de mercado (business inteligence) que
se sentido, até devido à necessidade analisará a performance dessas coope-
de garantir a segurança dos dados dos rativas tendo como referencial o pró-
cooperados e, ao mesmo tempo, fazer prio universo do cooperativismo.
a análise e a classificação de riscos dos
produtos e serviços. “É um modelo que captura as infor-
mações, transforma em indicadores e
Os diferentes sistemas desenvolvem, compara, sempre entre cooperativas
com primazia, seus próprios bancos do mesmo tamanho”, diz o diretor-
de dados, plataformas de autoatendi- -executivo do FGCoop, Adriano Ricci.
mento, soluções de pagamento e clas- “Temos o modelo de análise de risco
sificação de risco. Mas como seguran- desde 2015, mas, nele, a cooperativa
ça nunca é demais, eles ainda contam não sabe necessariamente como está
com o apoio de uma entidade supras- o mercado. Nesse outro, ela consegui-
sistêmica, de caráter intercooperativo: rá saber a sua situação em relação aos
pares. Trata-se, portanto, de uma fer-

COMPARTILHADOS
o Fundo Garantidor do Cooperativis-
mo de Crédito (FGCoop) que, dentre ramenta de benchmarking (análise de
outras atribuições, analisa — com sigi- mercado)”, observa Ricci.
lo e imparcialidade — os dados finan-
ceiros de 648 singulares captadoras de O novo painel de mercado do Fundo
depósito. Objetivo? Identificar, com será disponibilizado gratuitamente às
antecedência, o risco de uma coopera- cooperativas associadas e deve be-
tiva fechar as portas. Assim, é possível neficiar, principalmente, as singulares
atuar preventivamente para evitar que independentes e de menor porte, que
a cooperativa entre em liquidação, ou não contam com a mesma estrutura de
seja, precise encerrar as atividades por análise de dados dos sistemas e das
insolvência. centrais de crédito cooperativo.

24 « Revista SABER COOPERAR Revista SABER COOPERAR « 25


“DAS MAIS DE 800 INSTITUIÇÕES
RETRANCA
“Nosso objetivo é municiar as associadas de
mais informações para que elas possam in-
serir, no seu planejamento estratégico, ações FINANCEIRAS PARTICIPANTES, A GRANDE
que ajudem a melhorar seus indicadores de
desempenho”, acrescenta. MAIORIA SÃO COOPERATIVAS FINANCEIRAS.”
Marcio Alexandre,
superintendente de Governança de TI e segurança
cibernética do Sicoob e representante da OCB no Conselho
Deliberativo do Open Finance

As cooperativas financeiras passam, atual-


mente, por um momento de consolidação,
em que estão fortalecendo sua estrutura de
capital. De acordo com Adriano Ricci, do
FGCoop, a maioria delas hoje trabalha com
dados não apenas com o objetivo de moni-
torar riscos, o que é inerente à atividade fi-
nanceira, mas também a fim de melhorar seu
desempenho.

Open finance
maior iniciativa de open finance um tempo determinado, a fim de
“Em todas as cooperativas, ao longo dos do mundo e já conta com a par- que a instituição para a qual está
últimos anos, melhorou muito o aspecto da
governança, compliance, controle e gestão.
“AS COOPERATIVAS ticipação do cooperativismo. “A migrando possa conhecê-lo me-
regulação não exige a participa- lhor e ofertar um produto em con-
Boa parte desse processo é feito indepen- ESTÃO CRESCENDO Quando se fala em análise de da- ção obrigatória das cooperativas dições de igualdade com os que
dentemente do FGCoop. Em alguns lugares, dos no setor bancário, um dos pri- financeiras no open finance. No possuía na instituição anterior.
a central [cooperativa] faz esse trabalho, em MUITO FISICAMENTE, meiros conceitos que vem à men- entanto, das mais de 800 institui-
outros, a própria cooperativa tem uma unida- te é o de open finance, ou sistema ções financeiras participantes, de Nas cooperativas, as primeiras ini-
de [de análise de dados]. Pelo nível em que NA CONTRAMÃO DOS financeiro aberto. Trata-se de uma forma voluntária ou obrigatória, a ciativas construídas sob essa estru-
vejo as cooperativas hoje, [o uso de dados] iniciativa do Banco Central para grande maioria são cooperativas tura incluem, por exemplo, solu-
não é uma coisa recente”, comenta. BANCOS, MAS NÃO padronizar o acesso às informa- financeiras”, diz. ções disponibilizadas em agências

Para Ricci, um dos principais desafios do


DEIXAM DE CRESCER ções dos clientes, ou seja, permitir
que eles possam acessar as infor- O objetivo do open finance é esti-
que permitem à cooperativa,
quando autorizado expressamen-
cooperativismo financeiro, agora, é refor-
çar a estrutura de capital conquistada e
NO DIGITAL. O APP mações que possuem em uma ins- mular a inovação e a concorrência te por cada cooperado, conhecer
tituição a partir de outra. no sistema financeiro. “Antes da e comparar os produtos e servi-
investir na comunicação. “Há dois anos, as OU A INTERNET DA implementação desse projeto, um ços utilizados por ele e identificar
cooperativas crescem mais do que os ban- Segundo Marcio Alexandre, su- cidadão que procurava uma nova oportunidades para ofertar produ-
cos percentualmente, em volume de depó- COOPERATIVA NÃO perintendente de Governança de instituição financeira tinha dificul- tos mais adequados.
sitos, crédito. O principal desafio é continuar TI e segurança cibernética do Si- dade em receber uma oferta as-
crescendo e ser conhecido. Um ponto fun- DEIXA A DEVER PARA coob e representante da OCB no sertiva à sua necessidade porque Outras iniciativas são a associação
damental é comunicar melhor à sociedade Conselho Deliberativo do Open Fi- esta instituição tinha pouca infor- digital inteligente, que permite à
os benefícios de fazer parte de um sistema NENHUM BANCO.” nance, a iniciativa acompanha uma mação sobre ele. E, dessa forma, cooperativa aproveitar informa-
como esse. Investir em estrutura de capital e tendência mundial de comparti- as ofertas poderiam não ser com- ções cadastrais do cooperado em
em reforço dos indicadores”, avalia. Adriano Ricci,
lhamento de dados, mas com um petitivas quando comparadas às outras instituições no momento de
diretor-executivo do FGCoop,
escopo mais amplo, ao incluir infor- das instituições com as quais ele sua associação à cooperativa; o
Ainda segundo o executivo, um ponto posi- mações sobre seguros, investimen- possuía relacionamento”, explica agregador de contas, que permite
tivo em relação à expansão das cooperativas tos e previdência, por exemplo. Marcio Alexandre. ao cooperado ter a visão completa
de crédito é que, mesmo com a maior quan- Por isso, o Banco Central decidiu de sua vida financeira em todas as
tidade de agências físicas, elas não deixaram recentemente alterar o nome do De acordo com ele, com a che- instituições onde possui relaciona-
de ampliar a presença digital. “As coopera- projeto para open finance, por se gada do open finance, ao buscar mento no seu aplicativo da coope-
tivas estão crescendo muito fisicamente, na tratar de uma iniciativa que excede uma nova instituição financeira, o rativa; e a iniciação de pagamento,
contramão dos bancos, mas não deixam de os limites dos produtos bancários. cliente pode autorizar o compar- onde um cooperado pode coman-
crescer no digital. O app ou a internet da tilhamento de dados como seu dar uma transação de Pix em outra
cooperativa não deixa a dever para nenhum Ele pontua ainda que a iniciativa histórico de transações em conta instituição à partir da conta que
banco”, comemora. brasileira já se posiciona como a corrente ou cartão de crédito por possui na cooperativa. ■

26 « Revista SABER COOPERAR Revista SABER COOPERAR « 27


“O COOPERATIVISMO
ESPECIAL
“O cooperativismo mudou a minha forma de trabalho, renda, progra-

e s
vida, ao me dar a minha primeira mas de inovação, cursos, projetos

i d a d
MUDOU A MINHA

t u n
1 TRILHÃO DE
r
oportunidade de trabalho. E ele se- sociais, ações de sustentabilidade

opo
gue fazendo isso todos os dias, ao e investimentos diretos na melho-
me mostrar de diversas maneiras ria das comunidades”, explica Mar- VIDA, AO ME DAR A
que as pessoas têm de estar sempre cio Lopes de Freitas, presidente do
em primeiro lugar, ao contrário do Sistema OCB. “É por isso este ano MINHA PRIMEIRA
que costuma acontecer na iniciativa lançamos um desafio para as coope-
privada”, elogia Lívia. “O coop é rativas de todo o país: atingir a meta
OPORTUNIDADE DE
mais humano, mais solidário e mais
justo. E ele ainda gera resultados
de R$ 1 trilhão de prosperidade e
de 30 milhões de cooperados até
TRABALHO... O COOP É
incríveis para as comunidades onde 2027.” MAIS HUMANO, MAIS
atuam.”
Essa cifra de R$ 1 trilhão, hoje, SOLIDÁRIO E MAIS
De fato, a Coopresa — assim como equivale à soma dos PIBs gerados
tantas outras cooperativas — movi- pelos estados do Rio de Janeiro e JUSTO. E ELE AINDA GERA
menta a economia local, gerando Distrito Federal juntos. Recurso su-
emprego e renda para a comuni- ficiente para construir 14 Brasílias RESULTADOS INCRÍVEIS
dade. Somente um de seus braços do zero, já considerando os juros
O COOP QUER LEVAR Por Thaís Cieglinski
de atuação, focado na manutenção e as correções monetárias dos úl-
PARA AS COMUNIDADES

M
MAIS PROSPERIDADE, udar vidas é uma das especialidades aeronáutica de baixa complexidade,
movimenta cerca de R$ 4 milhões
timos 60 anos. Tudo isso, revertido
em trabalho, renda, oportunidades,
ONDE ATUAM.”
do cooperativismo. Aos 19 anos, Lívia
TRABALHO E Maria Duarte entrou para a Coopresa por ano. Sem falar que gerou, entre negócios e prosperidade não ape- Lívia Maria Duarte,
— única coop brasileira a prestar ser- 2019 e 2022, 275 novas oportunida- nas para o coop, mas para todos os
DESENVOLVIMENTO viços de manutenção em aeronaves e des de trabalho na região.. brasileiros.
presidente da Coopresa

SUSTENTÁVEL PARA componentes de aviação. Ainda muito jovem, ela


“O coop faz isso mesmo: ele gera “Chegou a hora de mostrar ao Brasil
ingressou na área administrativa em 1998, e se
O BRASIL. MAS PARA apaixonou pela possibilidade de ajudar aquelas prosperidade por onde passa, na que o nosso jeito de fazer negócios
aeronaves a alçarem voo. A paixão foi tanta, que gera resultados, sim. E resultados
FAZER ISSO, VAMOS guiou toda a sua carreira. Ela cursou Ciência da muito expressivos. Somos inovado-
CONTAR COM VOCÊ! Computação, fez especialização em aeronáutica, res; somos éticos; trabalhamos com
propósito e, além de tudo isso, so-
foi convidada a lecionar na PUC de Minas Gerais
e passou uma temporada na iniciativa privada. mos sustentáveis! E é por isso que o
Mas não teve jeito. O coop falou mais alto. Hoje, coop será decisivo na retomada do
aos 44 anos, ela atua como como presidente da crescimento da nossa economia”,
Coopresa — cargo que assumiu há sete anos. finaliza Lopes de Freitas.

28 « Revista SABER COOPERAR Revista SABER COOPERAR « 29


Potencial para
RETRANCA
Antes mesmo do lançamento do
desafio do Sistema OCB — que
ganhou o nome de BRC 1Tri —,
as entidades de representação
da região Sul já estavam engaja-
das em campanhas regionais de
crescer
promoção do crescimento do co-
operativismo. O Sistema Ocepar, Justamente por ter tido a vida
do Paraná, foi o pioneiro ao lançar transformada pelo coop, a presi-
o PRC200 — planejamento estra- dente da Coopresa. Lívia Maria
tégico com uma meta ambiciosa: Duarte, também é entusiasta do
dobrar o faturamento das coope- BRC1TRI. “Acredito que o coop
rativas do estado de R$ 100 bi- brasileiro está maduro e pode ser
lhões para R$ 200 bilhões por ano. protagonista no desenvolvimen-
to econômico e social do nosso
“O PRC200 foi uma inspiração país”, aposta.
para nós”, reconhece Lopes de
Feita. “O trabalho de dados e pla- Desde 2015, quando retornou ao
“O PRC200 FOI UMA
INSPIRAÇÃO PARA NÓS.
Meta definida nejamento realizado, pelo Paraná,
nos últimos anos é uma referência
para todo o cooperativismo. ”
coop depois de uma temporada
na iniciativa privada, Lílian é tes-
temunha da resiliência e potencial

O TRABALHO DE DADOS a partir de Outra entidade que também já


de crescimento do nosso setor.

dados
adotou a cultura de definir obje- “Nosso segmento [prestação de
E PLANEJAMENTO tivos para o cooperativismo é o serviços para aviação] foi muito
Sistema Ocergs. Por lá, o desafio afetado pela pandemia, mas não
REALIZADO PELO central é alcançar R$150 bilhões desanimamos. Na baixa, a gen-
de faturamento e 4 milhões de te se preparou para a retomada
PARANÁ NOS Ao convidar o coop a gerar R$ 1 associados em cinco anos. O pla- dos voos e, hoje, o cenário ofere-
trilhão em prosperidade para o nejamento também busca gerar
ÚLTIMOS ANOS É Brasil, nos próximos cinco anos, 100 mil empregos diretos, realizar
ce muitas oportunidades para os
nossos cooperados’, comemora.
UMA REFERÊNCIA a equipe do Sistema OCB se ba-
seou em dados. “Nosso time ana-
R$ 300 milhões de investimentos
em capacitação e distribuir R$7,5 Com a reativação dos voos e au-
PARA TODO O lisou o desempenho histórico do
cooperativismo e identificou uma
bilhões de sobras líquidas anual. mento expressivo das demandas,
a Coopresa contratou uma con-
COOPERATIVISMO. ” média de crescimento de aproxi- No lançamento do RSCOOP150, sultoria de melhoria contínua para
madamente 26% ao ano, mesmo em setembro, o presidente do garantir o crescimento sustentável
Marcio Lopes de Freitas, durante a pandemia”, explica a Sistema Ocergs, Darci Hartmann, dos negócios.
presidente do Sistema OCB superintendente do Sistema OCB, destacou a relevância da iniciativa,
Tania Zanella. reforçando que, além de resulta- “Estamos nos preparando admi-
dos financeiros, as cooperativas nistrativamente e comercialmente
A partir daí, foram projetados três têm o poder de gerar desenvolvi- para suportar todas as deman-
cenários econômicos: um otimista, mento regional integral. das do segmento. A pandemia “A PANDEMIA MOSTROU A FORÇA QUE O
um moderado e um conservador. mostrou a força que o coopera-
“Trabalhando em um cenário mo- “O modelo cooperativo privilegia tivismo tem. A força de mostrar COOPERATIVISMO TEM. A FORÇA DE MOSTRAR
derado, no qual ocorra uma recu- o desenvolvimento da comuni- que, mesmo em tempos difíceis,
peração paulatina, porém firme dade como um todo, pois parte temos boas ideias, humanidade, QUE, MESMO EM TEMPOS DIFÍCEIS, TEMOS
da economia, temos plenas con- dos resultados e das sobras são capacidade de desenvolver a so-
dições de chegar em 2027 com reinvestidos em programas socio- ciedade ao nosso redor. O cenário
BOAS IDEIAS, HUMANIDADE, CAPACIDADE DE
faturamento anual de 1 trilhão de ambientais, gerando riqueza e dis-
prosperidade para o Brasil. Mas tribuição de renda para todos.”,
pós-pandêmico mostrou para o
Brasil e para o mundo a potencia-
DESENVOLVER A SOCIEDADE AO NOSSO REDOR.”
para fazer isso, precisamos do es- afirmou Hartmann “Temos muitos lidade da economia solidária, da
forço conjunto de todas as coope- Lívia Maria Duarte,
desafios pela frente, mas onde economia social, que são a base
rativas e também das representa- presidente da Coopresa
tem cooperativismo pujante, tem do cooperativismo”, acredita a
ções estaduais”, acrescenta Tania. desenvolvimento.” presidente da Coopresa.

30 « Revista SABER COOPERAR Revista SABER COOPERAR « 31


Cafesul
Assista ao vídeo aqui
RETRANCA

“Tenho muito orgulho de fazer


parte do grupo Póde Mulheres e
de ser uma cooperada, pois foi
através da cooperativa que surgiu
o nosso grupo e, com isso, nosso
trabalho vem sendo reconheci-
do”, conta Aline.
https://in.coop.br/BRC1TRI

A propaganda do produto de-


talha a nobreza e qualidade do
trabalho: “O café traz aroma deli-
cado, corpo cremoso e finalização
prolongada, proporcionando uma
experiência única ao saborear este
delicioso café conilon especial”.

Casada e com dois filhos, Aline é


“TENHO MUITO
ORGULHO DE FAZER Crescimento cooperada há 16 anos. “Unidos
como cooperativa temos uma

coletivo
base mais forte, pois o coopera-
PARTE DO GRUPO tivismo abre várias portas para
nós”, atesta.
PÓDE MULHERES E DE
Fundada em 1998, a Cafesul reú-
SER UMA COOPERADA, Assim como transformou a reali- ne pequenos produtores de sete
dade da presidente da Coopresa, municípios da região Sul do es-
POIS FOI ATRAVÉS DA o cooperativismo ajuda a tornar tado do Espírito Santo no Brasil
mais próspera a vida de um grupo para promover o desenvolvimen-
COOPERATIVA QUE de mais de 30 agricultoras familia- to sustentável das comunidades
res do Sul do Espírito Santo. A ini- em que atua.
SURGIU O NOSSO ciativa partiu da Cooperativa dos
GRUPO E, COM ISSO, Cafeicultores do Sul do Estado do
Espírito Santo (Cafesul) e hoje o
Desde 2008, a cooperativa parti-
cipa de um projeto de desenvolvi-
NOSSO TRABALHO grupo de mulheres está à frente mento regional sustentável para o
da produção de cafés especiais, café na região sul do estado, que
VEM SENDO com uma marca própria. envolve vários parceiros e estabe-
lece diversas metas, como a me-
RECONHECIDO.” Desde que foi criada, em 2016, a lhoria na assistência técnica e na
iniciativa mudou a rotina de pro- comercialização, a eliminação de
Aline Martins Mauri, dução e a vida de muitas famílias atravessadores para a obtenção
é uma das cooperadas do município de Muqui e localida- de melhores preços para o café;
responsáveis pela Cafesul des vizinhas. Aline Martins Ferreira aumento da produtividade das
Mauri, 33 anos, é uma das coope- lavouras e da oferta de cafés de
radas responsáveis pela marca. qualidade superior. ■

32 « Revista SABER COOPERAR Revista SABER COOPERAR « 33


MELHORES PRÁTICAS

a c o o p e ra t i v a
Por Alessandro Mendes Segundo Groff, muitas cooperati-

Su O
vas que pensam estar adequadas
surgimento da internet à LGPD têm, na verdade, muito
permitiu uma troca de ainda a ser ajustado. “Elas têm
informação mais rápi- uma abordagem muito simplista.
da, aproximando pes- Pensam que modificar um contra-
soas e gerando novas to e fazer mudanças no site já é
possibilidades no mundo dos ne- suficiente. A verdade, no entanto,
gócios. Mas, ao mesmo tempo, é que são necessárias uma série
trouxe um risco para a segurança de ações de caráter multidiscipli-

JÁ ESTÁ ADAPTADA DE das informações pessoais, que


muitas vezes ficam disponíveis na
rede e, se não houver o devido
nar, que envolvem profissionais
da área jurídica, de tecnologia
da informação, a organizacio-

VERDADE À LGPD? cuidado, podem acarretar danos


de imagem e prejuízos financei-
ros, entre outros.
nal”, aponta o DPO — cargo que,
aliás, é uma exigência da LGPD
e precisa ser criado em todas as
cooperativas que tratam os dados
Para prevenir o uso indevido de clientes e cooperados, exceto
de dados pessoais, mais de 120 aquelas de pequeno porte.
países já aprovaram e colocaram
BOA PARTE DAS COOPS em vigor leis nesse sentido. No
AINDA TEM MUITO A FAZER Brasil, a Lei nº 13.709/18 – mais
conhecida como Lei Geral de Pro-
PARA SE ENQUADRAR À teção de Dados Pessoais (LGPD)
— passou a vigorar em setembro
LEGISLAÇÃO DE PROTEÇÃO de 2020. Desde então, coopera-
DE DADOS PESSOAIS, tivas, empresas, órgãos de repre-
sentação, profissionais liberais,
DENTRO E FORA DA órgãos públicos e organizações
sem fins lucrativos estão correndo São considerados dados
INTERNET. LEIA A MATÉRIA para se adaptar à legislação. pessoais, de acordo
com a LGPD, qualquer
E DESCUBRA COMO “As cooperativas que atuam em
informação que possibilite a
identificação de uma pessoa
RESOLVER O PROBLEMA segmentos altamente regulados, física, de forma direta
como as de saúde, de distribui- ou indireta, como nome,
documentos pessoais,
ção de energia e crédito estão
dados bancários, número
mais adiantadas no processo, até de cartão de crédito/débito,
pelo fato de já seguirem uma sé- e-mail, endereço, telefone,
rie de normas”, explica Cristhian gênero, nacionalidade,
naturalidade, estado civil,
Groff, encarregado de proteção
profissão, peso e altura,
de dados (DPO) do Sistema OCB. entre outros.
“Mas há um grupo bastante sig-
nificativo de cooperativas para
quem a LGPD ainda não é reali-
dade, mesmo mais de dois anos
após a entrada em vigor. Isso
a gente percebe nas ações de
conscientização, nos eventos. Al-
guns temas básicos são novidade
para muita gente.”

34 « Revista SABER COOPERAR Revista SABER COOPERAR « 35


Ajuda A todo vapor
RETRANCA
de um visitante é um processo, o estou em conformidade’. É preciso
registro de um carro no estacio- comprovar com documentos obriga-
namento é outro, o mesmo vale tórios, como o registro das operações

bem-vinda
para a seleção de um colaborador, de tratamento de dados, que geral-
a gestão de benefícios, a atualiza- mente é o primeiro a ser cobrado.” Em algumas cooperativas brasi-
ção dos dados cadastrais de nossa leiras, o trabalho de adequação à
base de cooperativas e dirigentes, Entre as regras estabelecidas pela LGPD já está bastante adiantado.
As cooperativas podem contar a indicação dos representantes le- LGPD estão a prestação de infor- É o caso, por exemplo, da Creluz,
com o apoio do Sistema OCB gais de um contrato”, exemplifica mação, de forma explícita, para as distribuidora de energia elétrica
para realizar as adequações ne- Ana Paula. pessoas a respeito de quais ativida- com cerca de 25 mil consumido-
cessárias à LGPD. No portal des serão realizadas com seus dados res em 36 cidades do norte do Rio
LGPD no Cooperativismo, você Regras como essa também se pessoais; registro das bases legais Grande do Sul. O trabalho come-
encontra informações gerais so- aplicam a todas as cooperativas, válidas e regulares, relacionadas a çou em 2020, foi realizado em cin-
bre a lei, cartilhas, cursos on-line, que deveriam ter um programa cada uma das atividades, no registro co fases e envolveu o mapeamen-
vídeos explicativos e um passo a de conformidade em relação aos de operações de tratamento de da- to de cerca de 160 processos.
passo detalhado para a adequa- dados. “Dizer que sua coop está dos pessoais; implementação de me-
ção, composto por cinco etapas: adequada a LGPD sem ter uma didas de segurança da informação; Na primeira fase, a Creluz estru-
planejamento, mapeamento, política que crie diretriz internas e limitação do tratamento de dados turou o comitê responsável pelo
avaliação, correção e manuten- é o mesmo que ter um programa pessoais ao mínimo necessário para trabalho e realizou o levanta-
ção/mitigação. mento inicial, um diagnóstico de
“O DIFERENCIAL de ética ou anticorrupção, sem ter
um código de ética”, ensina Cris-
que sejam alcançados os objetivos da
atividade, dentre outras. desconformidade e um workshop
“O diferencial do site LGPD no para os colaboradores com abor-
DO SITE LGPD NO Cooperativismo está nas infor-
thian Groff, DPO do Sistema OCB.
dagens técnica e jurídica. Na se-
A fiscalização do cumprimento da
quência, foram definidos o encar-
COOPERATIVISMO mações sobre privacidade e pro-
teção de dados pessoais volta-
Ainda segundo Groff, é preciso LGPD é feita pela Autoridade Nacio-
regado pelo tratamento de dados
enfrentar o tema com dedicação nal de Proteção de Dados (ANPD).
ESTÁ NAS do para as cooperativas com os e qualidade. “Não adianta fazer Além de implementar e cobrar o pessoais, a política de privacida-
de, a barra de cookies no portal,
demais agentes de tratamento”, um serviço para inglês ver”, argu- cumprimento da lei, a autarquia fede-
INFORMAÇÕES explica a gerente jurídica do Sis- menta. “Até porque, em algum ral também é responsável por aplicar o canal de atendimento dos direi-
tema OCB, Ana Paula Ramos. momento, será necessário evi- sanções nos casos de descumprimen- tos dos titulares e mapeamento
SOBRE PRIVACIDADE “Buscamos sempre particulari- denciar a conformidade. No caso to da legislação, que podem ir de dos processos do negócio.
zar as orientações e informações
E PROTEÇÃO DE para o cooperativismo. Nesse
de uma fiscalização, por exem-
plo, não dá para dizer ‘olha, eu
uma advertência à proibição parcial
ou total das atividades. Já a terceira fase contou com a
sentido, quinzenalmente, produ- avaliação do organograma dos
DADOS PESSOAIS zimos novos conteúdos focados
 
processos de tratamento de dados
pessoais, da estrutura de seguran-
VOLTADO PARA AS em atualidades sobre a LGPD ou
mesmo para divulgar cartilhas, ça da informação, das políticas,
COOPERATIVAS COM cursos, vídeos orientativos e ou- dos contratos e das bases legais,
além da elaboração de relatório
tros materiais que elaboramos
OS DEMAIS AGENTES sobre a lei.” de riscos e de planos de ação.

DE TRATAMENTO." Ciente da importância de se ade-


quar à LGPD, há mais de dois anos
Ana Paula Ramos, o Sistema OCB vem colocando em
gerente jurídica prática um plano de trabalho com
do Sistema OCB cerca de 520 ações. “São muitos SAIBA MAIS
os processos que realizamos com
dados pessoais. A identificação Além da disponibilização de informações pelo portal LGPD
no Cooperativismo, o Sistema OCB também promove
eventos de capacitação e atende demandas pontuais de
cooperativas interessadas em saber mais sobre a legislação.
Também foi criado, em 2021, o Conselho de Proteção de
Dados no Cooperativismo (CPDC), que desempenha o papel
de orientação e conscientização relacionada à Proteção de
Dados Pessoais nas atividades cooperativistas no Brasil.

Acesse o site pelo QrCode


https://lgpd.coop.br/

36 « Revista SABER COOPERAR Revista SABER COOPERAR « 37


Quem é
RETRANCA
A quarta fase envolveu compatibilização das to. E se isso não for possível, a
bases legais, relatório de atividades de trata- sala vai ficar trancada. Ou seja,
mento de dados pessoais, inventário de ope- é preciso toda uma mudança de
radores, adequação do site e criação da po-
lítica de retenção, descarte e eliminação de
dados. Por fim, na quinta etapa, foi elaborada
CONHEÇA ALGUMAS INFRAÇÕES
À LGPD PASSÍVEIS DE
“ALGUMAS
INSTITUIÇÕES JÁ TÊM pequeno cultura”, completa.

Durante a adequação, foram re-


cartilha de proteção de dados e segurança
da informação e realizado evento de cons-
cientização de colaboradores com avaliação
APLICAÇÃO DE MULTA E OUTRAS
PENALIDADES
NOS PROCURADO
PARA RECEBER
precisa visados todos os procedimentos
que envolviam o uso de dados
pessoais. “Nosso DPO analisou,
de conhecimentos.

Durante o processo de adequação, vários


• Vazamento e/ou compartilhamento
de dados pessoais de forma irregular.
ORIENTAÇÕES, se adequar? por exemplo, todos os contratos
com terceirizados e com os pais
dos alunos e diversas cláusulas
desafios precisaram ser vencidos. “O pri-
• Manter dados pessoais por mais ENTÃO ESSE É UM Outra cooperativa que está em relativas à LGPD foram inseri-
meiro foi conhecer a fundo a LGPD e outros estágio avançado de implantação das”, conta Alabarse. “Além dis-
tempo do que o necessário.
dispositivos sobre o tema para saber como e NICHO DE MERCADO da LGPD é a Cooperativa de Tra- so, todos os nossos cooperados
onde atuar. E depois estruturar processos de • Não possuir políticas, normas e balho Educacional (Coopeeb). A assinam termos de confidenciali-
gestão adequados e objetivos, além de cons- procedimentos claros sobre a coleta QUE TEM SE ABERTO organização foi criada em 2000 dade, ou seja, quem sai da coo-
cientizar a força de trabalho da necessidade”, e o tratamento de dados. para gerir o Colégio Concórdia, perativa tem o compromisso e o
destaca o gerente operacional e encarregado PARA NÓS, TANTO em Porto Alegre (RS), que pas- dever de manter o sigilo das in-
de proteção de dados da Creluz, Fernando • Não manter documentos obrigatórios formações”, exemplifica o presi-
Fiorentin. sobre o uso e coleta de dados. PARA PALESTRAS sava por grave crise econômica
e corria o risco de ter as ativida- dente da Coopeeb.

“Realizamos um trabalho amplo, detalhado e • Não nomear DPO (profissional QUANTO PARA UMA des encerradas. Diante do risco
Hélio Alabarse conta que o pro-
da perda de seus postos de tra-
responsável pela proteção de dados
que ainda continua. Para se ter uma ideia, os
de uma organização), nas ocasiões
ASSESSORIA OU balho, 22 professores e técnicos cesso de ajuste às regras da LGPD
160 processos que avaliamos estavam distri- em atuação da escola se uniram e fez com o que o Colégio Concór-
buídos nos 26 departamentos da cooperati- em que a nomeação é obrigatória. CONSULTORIA.” criaram a cooperativa. dia tivesse ainda mais atenção ao
va”, conta. “Deixar a cooperativa com maior • Não treinar os colaboradores sobre sigilo e intimidade de alunos e
grau de conformidade possível e manter um o tema. Hélio Alabarse, Hoje, além da escola, com cerca familiares, mesmo em situações
programa de conformidade vigente, eficiente presidente da Coopeeb de 600 alunos, a Coopeeb tam- não previstas na lei.
e eficaz é um desafio que exige a participação • Não realizar gestão dos terceiros bém executa o Programa Jovem
e o comprometimento de todos”, completa. com quem dados pessoais são Aprendiz, em parceria com o Ser- “Temos aqui uma sala onde é fei-
compartilhados. viço Nacional de Aprendizagem ta a primeira abordagem quan-
Fiorentin destaca que a adequação à LGPD Cooperativa (Sescoop), em 22 do um aluno está com problema
trouxe diversos benefícios para o dia o dia da • Não atender às solicitações cidades gaúchas, além de ofere- de disciplina ou desestabilizado
Creluz, como a manutenção da credibilidade das pessoas. cer cursos para formação de lide- emocionalmente. Isso é feito em
da marca com os titulares de dados pesso- ranças. A cooperativa conta com um aquário, com paredes de vi-
ais, capacitação da força de trabalho, busca cerca de 160 associados. dro. E nesse processo a gente se
constante pela melhoria contínua e melho- deu conta que todo mundo podia
res práticas, simplificação de processos pelo Segundo o presidente da Coo- ver quem estava dentro. Então
cumprimento da legislação e remoção de peeb, Hélio Alabarse, a adequa- colocamos insulfilm para garantir
fragilidades, deixando a organização mais ção da cooperativa à LGPD vem o sigilo. A LGPD, então, nos aju-
segura, além de são sofrer penalidades pelo sendo realizada desde 2019. “É dou a fazer esse tipo de reflexão.
descumprimento da lei.
LGPD um trabalho que exigiu várias
mudanças no nosso dia a dia,
É nossa obrigação manter o aluno
protegido”, aponta.
Outro benefício, cita Fiorentin, foi a melhoria sobretudo porque, na escola,
em diversos processos de trabalho. Uma de- estamos sempre lidando com Segundo Alabarse, um dos próxi-
las envolveu mudanças no uso dos telefones menores e com informações mos passos da Coopeeb será ca-
celulares corporativos. “Implantamos uma sensíveis”, aponta. “Antes, por pacitar outras cooperativas para
tecnologia que permite, por exemplo, a lo- exemplo, se fazia um atendimen- a adequação à LGPD. “Algumas
calização dos aparelhos por georreferencia- to a um aluno e a ata poderia instituições já têm nos procurado
mento e impede acesso e instalação de da- ficar em cima da mesa de uma para receber orientações, então
dos sem autorização. Então, se um leiturista sala destrancada. Agora, existe esse é um nicho de mercado que
perde o telefone lá no interior, quem encon- toda uma preocupação para que tem se aberto para nós, tanto
trá-lo não vai conseguir acessar absolutamen- isso não ocorra. O documento para palestras quanto para uma
te nada”, conta. precisa ser arquivado de imedia- assessoria ou consultoria”, conta.

38 « Revista SABER COOPERAR Revista SABER COOPERAR « 39


Novo nicho no mercado
RETRANCA

ALERTA VERMELHO
Quando há vazamento de dados em uma empresa ou cooperati-
Onde existem desafios, também existem muitas vas, as consequências podem ser bastante graves. Além do claro
oportunidades de fazer negócio. Ciente da alta de- prejuízo para o cliente que teve sua informação pessoal divulgada,
manda do coop por consultorias em LGPD, um gru- a própria empresa pode enfrentar processos judiciais e ter sua ima-
po de 14 profissionais se uniu para fundar, em 2022, gem prejudicada junto a clientes e fornecedores.
a Cooperativa de Trabalho dos Profissionais de Priva-
cidade e Proteção de Dados (Cooprodados) — pri- Um dos casos mais conhecidos de vazamento de informações é
meira cooperativa a atuar na área de privacidade e o do Facebook. Em 2018, dados de 30 milhões a 87 milhões de
proteção de dados, de forma on-line, em todo o País. usuários da rede social foram vazados e utilizados pela Cambridge
Analytica para influenciar a opinião de eleitores em vários países,
A organização trabalha com a implantação de pro- entre eles o Brasil, a Índia e os Estados Unidos.
gramas de adequação à LGPD, promove treinamen-
tos e workshops de sensibilização para a cultura de O evento motivou uma discussão pública sobre normas éticas para
dados e também executa, sob demanda, serviços
LGPD de DPO. “Podemos contribuir no mais variado leque
empresas de mídias sociais, organizações de consultoria política
e políticos. O escândalo fez com que o Facebook perdesse, em
de ações necessárias para criar uma governança de um único dia, US$ 35 bilhões em valor de mercado na Bolsa de
dados eficiente, tanto em cooperativas quanto em Valores de Nova York. Além disso, o movimento #DeleteFacebook
empresas”, destaca a presidente da Cooprodados, chegou aos assuntos mais falados do Twitter. O caso foi, inclusive,
Sylvia Urquieta. retratado no documentário The Great Hack, exibido pela Netflix.

A ideia de criar a cooperativa surgiu da necessidade Outro caso de vazamento de informações ocorreu também em
de buscar espaço no mercado. “Eu comecei a no- 2018 com a Netshoes. Uma falha de segurança comprometeu da-
tar que muitos profissionais reclamavam da falta de dos pessoais de quase 2 milhões de clientes, entre eles nome, CPF,
VOCÊ SABIA? oportunidade de trabalho. Tanto o trabalho dentro e-mail e histórico de compras. A empresa acabou condenada a
das empresas quanto a possibilidade de integrar um pagar R$ 500 mil em indenizações por danos morais.
Leis de proteção de dados projeto de adequação”, conta Sylvia. “Aí me ocorreu
pessoais existem na Europa de unir forças. Fiz a proposta a várias pessoas, que Ainda no Brasil, outra situação de grande repercussão foi com
desde a década de 1970, compraram a ideia. Ficamos cerca de dois anos de- o Banco Inter. A instituição financeira vazou informações pesso-
mesmo antes do advento batendo como seria a cooperativa, porque era uma ais de cerca de 19 mil correntistas. A empre-
da internet. Uma das mais proposta inédita. E até hoje estamos nos ajustando, sa acabou multada em R$ 1 milhão e
completas, e que serviu de buscando novas soluções”, afirma. os recursos foram destinados a
inspiração para diversas instituições de caridade e
normativas, entre elas a Sylvia ressalta que um dos principais benefícios para organizações de combate
brasileira, é o Regulamento as cooperativas que se adequam à LGPD é um dife- a crimes cibernéticos.
Geral de Proteção de Dados rencial competitivo. “Já existe a exigência, sobretu-
da União Europeia (RGPD), do nos Estados Unidos e na União Europeia, de que
que entrou em vigor em empresas e cooperativas parceiras estejam em con-
2016. Na América do Sul, formidade com a lei de proteção de dados. Mais do
são diversos os países que que apenas uma vantagem competitiva, é uma de-
já possuíam leis específicas manda que, se não atendida, pode inviabilizar uma
sobre o tema, a exemplo parceria comercial. E é melhor se adequar pelo amor
da Argentina, que regula do que pela dor”, aponta.
o acesso a dados pessoais
desde 1994. Um dos primeiros clientes da Cooprodados é a Fede-
ração das Cooperativas Educacionais do Rio Grande
do Sul (Fecoeduc). Dez cooperativas associadas, en-
tre elas a Coopeeb, estão recebendo apoio para es-
tar em conformidade com a LGPD. “Temos cerca de
seis meses de existência, então este é nosso primeiro
grande trabalho. Vem sendo uma experiência impor-
tante para nós, inclusive para a nossa própria adapta-
ção à lei de proteção de dados”, finaliza Sylvia.

40 « Revista SABER COOPERAR Revista SABER COOPERAR « 41


RETRANCA

PASSO A PASSO PARA SE ADEQUAR À LGPD


10 BASES LEGAIS
4, Corrigir PARA A COLETA
1. Planejar 3. Avaliar Com a avaliação finalizada, é hora de corrigir
DE DADOS

as inconsistências foram detectadas e imple- 1. Consentimento


Nomeie um grupo de pessoas da coope- mentar medidas estruturais, como a Política 2. Cumprimento de
rativa para ser responsável por buscar in- Após o mapeamento, a próxima etapa é a avalia- Interna de Privacidade e Proteção de Dados obrigação legal ou
formações sobre a LGPD. Com base nes- ção. É preciso analisar todos os processos sobre as Pessoais e normas de retenção e descarte regulatória
sas informações preliminares, é necessário perspectivas organizacional, jurídica e da segurança de dados pessoais, entre outras, além de
definir quem será o encarregado de dados medidas específicas necessárias, como limi- 3. Realização de estudos
da informação. E então identificar o que precisa ser
pessoais (DPO) da cooperativa. Esse pro- tação de compartilhamento de dados pes- por órgão de pesquisa
feito em cada um deles para se adequar às exigên-
fissional pode ser alguém que já trabalha cias da LGPD. Na área organizacional, por exemplo, soais com fornecedores, limitação da coleta 4. Execução de contratos
na organização ou um novo profissional, algumas adequações podem ser a padronização de de dados pessoais desnecessários para al- ou diligência
que será contratado no mercado. Logo em procedimentos e a identificação de compartilha- cançar a finalidade dos processos, imple- pré-contratual
seguida, defina um cronograma indicando mentos feitos com terceiros que são desnecessários. mentação de ajustes específicos em siste-
mas e sites e descontinuação de processos 5. Exercício regular de
todas as fases do projeto de adaptação
sem base legal legítima, entre várias outras. direitos
à LGPD, descrevendo os objetivos e os “Nessa etapa é importante ver exatamente isso, se
procedimentos de cada etapa. “Também todos os compartilhamentos de informações com 6. Proteção da vida
nessa fase inicial, é importante que a co- outras áreas e também com fornecedores precisam 7. Tutela da saúde
operativa inicie ações de conscientização realmente ser feitos. Se o processo puder ser realiza-
de colaboradores, porque logo nas fases do com menos pessoas, menos gente vai lidar com 8. Proteção do crédito
seguintes todos terão que se envolver no as informações, o que reduz o risco”, aponta Groff. 9. Legítimo interesse
projeto”, aponta o DPO do Sistema OCB.

5. Mitigar
“É preciso o comprometimento de todos Já na área jurídica, é preciso avaliar qual é a base 10. Execução de políticas
para que o processo dê certo.” legal que justifica a coleta e o tratamento de dados pela administração
pessoais em cada um dos processos (veja quadro). pública ■
“Também é importante analisar os contratos com
prestadores de serviço externos que tenham acesso
aos dados pessoais sob responsabilidade da coope-
e manter
rativa. E para que tudo funcione adequadamente, é

2. Mapear preciso impor que esses terceirizados também cum-


pram à risca a LGPD. Porque se elas não cumprem
quem paga é a cooperativa. E essa imposição co-
O último passo é a consolidação das cor-
reções realizadas e das políticas, normas e
procedimentos estabelecidos. Nesta etapa,
meça nos ajustes contratuais”, afirma Groff. as cooperativas devem incorporar todas as
Faça um mapeamento dos processos diretrizes nas novas atividades que passa-
que envolvam o uso de dados de pes- No campo da segurança da informação, é preciso rem a realizar, considerando que, naquelas
soas físicas, além dos controles de se- analisar se medidas básicas estão sendo implemen- já mapeadas e corrigidas, tais diretrizes já
gurança da informação já implemen- tadas. “É ver, por exemplo, se há soluções de crip- estarão contempladas.
tados. “O ideal é que isso seja feito tografia para proteger dados pessoais, se há uma
com base em modelos internacionais limitação de acesso adequada às informações, se Também é importante manter uma auditoria
de boas práticas nessa área, como, todos os processos atendem requisitos de seguran- contínua para os controles necessários para
por exemplo, a ISO 27.001, que traz ça”, enumera. a manutenção da conformidade. É impor- Para saber mais sobre
um rol de vários controles para que tante ficar claro que a adequação à LGPD é o passo-a-passo da
uma organização tenha maturidade, um trabalho constante, que exige ajustes e adequação à LGPD,
segurança e gestão adequada da in- atualizações sempre que necessários. acesse o site no QrCode
formação”, afirma Groff. www.lgpd.somoccooperativismo.coop.br

42 « Revista SABER COOPERAR Revista SABER COOPERAR « 43


TRÊS PODERES

Por Paulo Victor Chagas nossa representatividade na Câ-

O
Cooperativismo
mara, o núcleo duro da Frencoop
cooperativismo brasi- ganhou dois reforços de peso no
leiro saiu vitorioso das Senado, com a eleição de Tereza
urnas em outubro de Cristina (MS) e Efraim Filho (PB)”,
2022. A atuação de par- comemora.
lamentares comprome-
tidos com o setor, no Congresso Clara revela que o Sistema OCB
Nacional, foi aprovada pelos elei- está preparando um extenso cro-
tores. Tanto, que oito em cada nograma de agendas, reuniões,
dez parlamentares da atual dire- ações estratégicas e entrega de
80% DO NÚCLEO toria da Frente Parlamentar do propostas sobre o cooperativis-
Cooperativismo (Frencoop) foram mo aos diversos stakeholders
DURO DA FRENCOOP reeleitos. Além disso, pelo menos (agentes-chave, em livre tradu-

CONTINUA FORTE
três dezenas de novos deputados
FOI REELEITO PARA e senadores que já se engajavam
ção) dos Três Poderes.

2023. DOS 227 com as pautas cooperativistas em “Será um momento importante


diversos estados e municípios to- em que usaremos nossos mate-
NOVOS DEPUTADOS,
E BEM REPRESENTADO PELO MENOS 30
JÁ FIRMARAM
marão posse em janeiro de 2023.

“O índice de renovação dos


riais para reapresentar o coope-
rativismo como uma plataforma
de desenvolvimento aos Poderes

NO CONGRESSO NACIONAL
parlamentares da Câmara dos Executivo e Legislativo, e quere-
Deputados [próximo dos 40%] mos colocar o coop, novamente,
COMPROMISSO COM configura uma oportunidade de na pauta prioritária do governo,
receber novos entusiastas do co-
A DEFESA DA PAUTA operativismo”, avalia o deputado
especialmente no Poder Executi-
vo”, salienta Maffia.
COOPERATIVISTA. federal Evair de Melo (ES), presi-
dente da Frencop. “Cerca de 30 Já no início da nova legislatura, o
NO SENADO, deles, inclusive, já assinaram o Sistema OCB e a Frencoop farão
compromisso de atuar em defe-
DOIS NOMES sa do movimento cooperativista
um trabalho específico na Câma-
ra e no Senado para apresentar
IMPORTANTES: e devem assumir posições estra- a importância do cooperativismo
tégicas, pró-medidas legislativas aos novos parlamentares. “Mui-
TEREZA CRISTINA favoráveis ao coop durante seus tos já estão conosco, mas espera-
(MS) E EFRAIM mandatos”. mos conquistar ainda mais apoio
para o nosso movimento que,
FILHO (PFB) A gerente de Relações Institu- sem dúvida, continuará sendo
cionais do Sistema OCB, Clara um dos grandes protagonistas
Maffia, também está animada com do desenvolvimento econômico
a força que o coop terá no novo e social do Brasil”, prevê Evair
Congresso Nacional, que tomará de Melo.
posse em 2023. “Além de manter

44 « Revista SABER COOPERAR Revista SABER COOPERAR « 45


RETRANCA

COOPERATIVISMO FORTE NO CONGRESSO


80%
dos parlamentares
que fazem parte do
núcleo da Frencoop
foram vitoriosos nas PROGRAMA DE EDUCAÇÃO
eleições das duas
Casas
O que podemos fazer POLÍTICA EM NÚMEROS

18 mil
513 513
A expectativa é de que
pelo menos 30 novos
pelo Brasil? acessos ao site
eleicoes2022.coop.br
deputados e senadores

268 38
eleitos reforcem a base da

Senadores
Frencoop, após assumirem
compromisso com a
A valorização e o reconhecimento do trabalho dos deputa-
dos federais e senadores contaram com um importante aliado +15 mil
Deputados neste ano: o Programa de Educação Política para o Coopera- pessoas em eventos presenciais
defesa do cooperativismo
no Congresso durante as tivismo. O objetivo era desafiador: fazer chegar aos membros do Programa em todo o país
campanhas eleitorais. das mais de 4.880 cooperativas brasileiras a mensagem de

PRINCIPAIS DEMANDAS DO SETOR NO


que todo cidadão deve se envolver nas pautas importantes
para o cooperativismo, incluindo a chancela ou reprovação, 9,3 mil
pelo voto, do trabalho de cada agente público em prol do visualizações da série
CONGRESSO NACIONAL E NO EXECUTIVO setor. E a meta foi alcançada com sucesso (veja quadro 2). Cooperativismo e Eleições 2022
no YouTube do Sistema OCB
A gerente de Relações Institucionais do Sistema OCB relata
que o programa foi desenvolvido de forma robusta e contou
com ampla participação de todas as entidades do Sistema 7,6 mil
OCB. “Tivemos sucesso nessa empreitada de falar do coope- aproveitamentos em 1.052
ATO COOPERATIVO TELECOMUNICAÇÕES CRÉDITO RURAL rativismo e trazer o setor como pauta para reflexão individual rádios comerciais, comunitárias
Impedir a duplicidade de Obter segurança jurídica para que Continuar garantindo o de cada eleitor. Em geral, as pessoas preferem se distanciar e educativas das 32 matérias
tributação das cooperativas e as cooperativas possam prestar financiamento das atividades do da política no Brasil. E todo o mote do nosso programa era jornalísticas distribuídas
dos cooperados por meio de um serviços de telecomunicações a produtor rural por meio do Sistema para demonstrar que não tem sentido se distanciar. A gente
adequado tratamento tributário. mais de 11 milhões de domicílios Nacional de Crédito Rural.
Conquista pode ser garantida em
um dos textos que trata da Reforma
que atualmente não possuem o
serviço. O Projeto de Lei 8.824/2017
A manutenção dos recursos no Plano
Safra 2023/2024 é prioridade
precisa participar porque as decisões serão tomadas, com ou
sem a nossa participação”, explica Clara Maffia. +160
Tributária - PEC 110/2019 -, foi aprovado na Câmara e aguarda para o cooperativismo, cuja
encontros com lideranças
que está no Senado. aprovação no Senado, relevância no setor agropecuário Dividido em cinco eixos, o programa fomentou a participa- cooperativistas e/ou com
sob o número PL 1303/2022. cresce a cada ano. ção dos cidadãos no processo eleitoral de maneira suprapar- candidatos
tidária, mediante esclarecimentos, capacitação para multi-
plicadores, formas de engajamento e mobilização, vídeos e
informações sobre doação a candidatos, dentre muitos outros
materiais.

Um dos pilares foi a construção do documento Propostas para Acesse o site


Cooperativismo
SEGUROS RECUPERAÇÃO LICITAÇÕES um Brasil Mais Cooperativo, entregue aos quatro candidatos
e Eleições 2022
Ampliar a possibilidade de atuação JUDICIAL Permitir que as cooperativas de trabalho presidenciais mais bem posicionados ao longo da campanha
www.eleicoes2022.coop.br
do cooperativismo no setor de Assegurar que as sociedades possam participar de contratações deste ano e a centenas de cooperativas de todo o Brasil. A
seguros. Atuação junto ao Ministério cooperativas possam utilizar públicas, reconhecendo-as como modelo publicação contém cinco eixos estratégicos, 22 propostas e
da Economia e à Superintendência procedimentos adequados de de negócio sustentável e capazes de dezenas de subtemas que dialogam com as demandas do se-
de Seguros Privados (Susep) em prol reorganização cooperativa. Essa contribuir nessa seara. Diferentes frentes Confira o documento
tor e o colocam o coop como protagonista de uma mudança
de avanços legais e regulatórios no proteção às peculiaridades das lidam com o desafio, como um grupo de Propostas para um Brasil
— que já está em curso no Brasil — no que diz respeito à nova
tema, além de garantir a aprovação cooperativas está prevista no Projeto trabalho jurídico do Sistema OCB mais Cooperativo
economia, sustentabilidade e construção de cidades mais in.coop.br/propostas_coop
do Projeto de Lei Complementar de Lei 815/2022, que se encontra e a realização de agendas institucionais
519/2018, que aguarda votação junto aos Três Poderes. prósperas, resultando em benefícios para toda a sociedade.
na Câmara.
no plenário da Câmara.

46 « Revista SABER COOPERAR Revista SABER COOPERAR « 47


quadro da Frencoop Capitão Wagner
Coordenador de
Inclusão Produtiva
Deputado Federal Governador Não eleito
União Brasil (CE)

Zé Vitor
RETRANCA
Coordenador de
Deputado Federal Deputado Federal Eleito

Perspectivas
Infraestrutura e Logística

Perspectivas para o novo PL (MG)

Zé Silva
Coordenador do
Nome Cargo atual Candidato(a) Situação

quadro da Frencoop
Deputado Federal Deputado Federal Eleito
Meio Ambiente Capitão Wagner
Solidariedade (MG) Coordenador de
Deputado Federal Governador Não eleito
PARA O NOVO QUADRO DA FRENCOOP
Inclusão Produtiva
Aline Sleutjes União Brasil (CE)
Coordenadora de
Relações Exteriores ZéDeputada
Vitor Federal Senadora Não eleita
NÚCLEO DA FRENCOOP (2019-2022) *POR ORDEM DE CARGOS NA FRENCOOP
Pros (PR) Coordenador de
Infraestrutura e Logística
Deputado Federal Deputado Federal Eleito
PL (MG)
Heitor Schuchi
Nome Cargo atual Candidato(a) Situação Coordenador Sindical ZéDeputado
Silva Federal Deputado Federal Eleito
PSB (RS) Coordenador do
Meio Ambiente
Deputado Federal Deputado Federal Eleito
Evair de Melo Pedro Lupion Solidariedade (MG)
Presidente Deputado Federal Deputado Federal Eleito Coordenador de
PP (ES)
Tecnologia e Inovação
Deputado
Aline Federal
Sleutjes Deputado Federal Eleito
PP (PR) Coordenadora de
Relações Exteriores
Deputada Federal Senadora Não eleita
Domingos Sávio NÚCLEO
Vice-presidente- Câmara
DA FRENCOOP
Deputado Federal (2019-2022)
Deputado Federal Eleito *POR ORDEM DE CARGOS NA FRENCOOP
Luiz Nishimori
Coordenador de Defesa
Pros (PR)

PL (MG) Agropecuária
Deputado Federal Deputado Federal Eleito
PSD (PR) Heitor Schuchi
Nome Cargo atual Candidato(a) Situação Coordenador Sindical Deputado Federal Deputado Federal Eleito
Luis Carlos Heinze PSB (RS)
Não eleito Lasier Martins
Vice-presidente- Senado Senador
Evair de Melo Governador Coordenador Tributário Senador Deputado Federal Não eleito
PP (RS) Presidente Deputado Federal
(retorna ao Senado)
Deputado Federal Eleito Podemos (RS) Pedro Lupion
Coordenador de
PP (ES)
Tecnologia e Inovação
Deputado Federal Deputado Federal Eleito
Sergio Souza Tereza Cristina PP (PR)
Deputado Federal Deputado Federal Eleito Representante do
Secretário-Geral
Domingos Sávio Deputada Federal Senadora Eleita
MDB (PR) Ramo Agropecuário Luiz Nishimori
Vice-presidente- Câmara Deputado Federal Deputado Federal Eleito PP (MS) Coordenador de Defesa
PL (MG) Agropecuária
Deputado Federal Deputado Federal Eleito
Covatti Filho
Hugo Leal Representante do
PSD (PR)
Coordenador Institucional Deputado Federal Deputado Federal Eleito Ramo Consumo
Deputado Federal Deputado Federal Eleito
PSD (RJ) Luis Carlos Heinze Não eleito PP (RS) Lasier Martins
Vice-presidente- Senado Senador Governador Coordenador Tributário Senador Deputado Federal Não eleito
(retorna ao Senado)
PP (RS) Arnaldo Jardim Podemos (RS)
Efraim Filho Representante do
Deputado Federal Deputado Federal
Deputado Eleito
Coordenador Jurídico
União Brasil (PB)
Sergio SouzaFederal Senador Eleito Ramo Crédito
Cidadania (SP)
Tereza Cristina
Deputado Federal Deputado Federal Eleito Representante do
Secretário-Geral
Ramo Agropecuário
Deputada Federal Senadora Eleita
MDB (PR) Dagoberto Nogueira
Alceu Moreira Representante do
PP (MS)
Coordenador de
Deputado Federal Deputado Federal Deputado Federal Deputado Federal Eleito
Assuntos Econômicos Eleito Ramo Infraestrutura Covatti Filho
Hugo Leal PSDB (MS) Representante do
MDB (RS) Deputado Federal Deputado Federal Deputado Federal Deputado Federal Eleito
Coordenador Institucional Eleito Ramo Consumo
Hélder Salomão PSD (RJ) Nelsinho Trad PP (RS)
Representante do Continua
Coordenador de
Deputado Federal Deputado Federal Eleito Senador Não disputou
Assuntos Sociais
Ramo Saúde Arnaldo Jardim no Senado
PT (ES) Efraim Filho PSD (MS) Representante do
Deputado Federal Deputado Federal
Coordenador Jurídico Deputado Federal Senador Eleito Ramo Crédito Eleito
União Brasil (PB) Giovani Cherini Cidadania (SP)
Leandre Representante do Ramo Trabalho,
Coordenadora de Atenção à Deputado Federal Deputado Federal Eleito
Deputada
Alceu Federal
Moreira Deputada Federal Eleita Produção de Bens e Serviços Dagoberto Nogueira
Saúde e Promoção Social PL (RS) Representante do
PSD (PR) Coordenador de
Deputado Federal Deputado Federal Deputado Federal Deputado Federal Eleito
Assuntos Econômicos Eleito Celso Maldaner Ramo Infraestrutura
PSDB (MS)
Baleia Rossi MDB (RS) Representante do
Deputado Federal Senador Não eleito
Coordenador de
Deputado
Hélder Federal
Salomão Deputado Federal Eleito
Ramo Transporte Nelsinho Trad
Comunicação MDB (SC) Representante do Continua
MDB (SP)
Coordenador de
Deputado Federal Deputado Federal Eleito Ramo Saúde
Senador Não disputou
Assuntos Sociais no Senado
PSD (MS)
PT (ES)
Giovani Cherini
Leandre Representante do Ramo Trabalho,
Coordenadora de Atenção à Produção de Bens e Serviços
Deputado Federal Deputado Federal Eleito
Saúde e Promoção Social
Deputada Federal Deputada Federal Eleita PL (RS)
PSD (PR)
Celso Maldaner
Baleia Rossi Representante do
Deputado Federal Senador Não eleito
Coordenador de Ramo Transporte
Comunicação
Deputado Federal Deputado Federal Eleito MDB (SC)
MDB (SP)

48 « Revista SABER COOPERAR Revista SABER COOPERAR « 49


SEMENTE

s
UM NOVO MERCADO
a
Por Luana Lourenço

v
ditos de carbono e atender a 48,7%

a t i
cooper brasileiras N
da demanda mundial do mercado
enhuma crise assusta o voluntário por esses ativos. A pro-
cooperativismo! Nosso jeção está em um estudo da con-

PARA AS jeito diferente de fazer


negócios nasceu durante
uma crise de desempre-
go, na Inglaterra, e desde então
sultoria WayCarbon e da Câmara
de Comércio Internacional (ICC
Brasil), e considera o preço de US$
100 por tonelada de CO2, valor es-
provou ter resiliência para crescer tipulado pela Taskforce on Scaling
em tempos turbulentos, como a Voluntary Carbon Markets (TSVCM)
crise econômica global de 2008 e em um cenário otimista. “Hoje, o
a pandemia de Covid-19, em 2020. Brasil atende a cerca de 12% da
Agora, neste exato momento, o demanda global no mercado vo-
coop enfrenta um novo momento luntário, percentual quatro vezes
desafiador: a emergência climática maior do que em 2019”, compara
provocada pelo aquecimento glo- a gerente-geral de consultoria da
bal. É o momento de olhar para os WayCarbon, Laura Albuquerque.
impactos ambientais das nossas
atividades, sim, mas também de O imenso potencial do Brasil nesse
CRÉDITOS DE CARBONO SÃO COMMODITIES mostrar ao mundo que somos par- mercado está diretamente ligado à
SUSTENTÁVEIS, COM POTENCIAL PARA GERAR te da solução, e não do problema. agropecuária, à produção de ener-
gias renováveis e à preservação e
ATÉ US$ 120 BILHÕES EM RECEITAS SOMENTE As cooperativas do Brasil e do recuperação de florestas, ativida-
mundo têm um imenso potencial des com grande capacidade de ge-
NO BRASIL. E O COOPERATIVISMO JÁ OPERA, para “descarbonizar a economia”, ração de créditos de carbono. E o
COM SUCESSO NESSAS NEGOCIAÇÕES garantindo um futuro mais justo e
ambientalmente seguro para as
cooperativismo está em todas elas,
principalmente no Ramo Agro, em
próximas gerações. Uma das ma- que somos responsáveis por 51%
neiras de fazer isso é assumindo da produção nacional.
a liderança do chamado mercado
de carbono, em que a redução de “Agora, temos um desafio de infor-
emissões de gases de efeito estufa mação e escala para colocar o coo-
é quantificada e transformada em perativismo como protagonista no
um ativo negociado no mercado mercado de carbono. A maior par-
internacional. te das cooperativas agropecuárias
já utiliza tecnologias de agricultura
Um crédito de carbono correspon- de baixo carbono, por exemplo,
de a uma tonelada de dióxido de e têm entre seus cooperados um
carbono (CO2) que deixou de ser potencial enorme quando se fala
emitida na atmosfera. O preço é das florestas das matas nativas de
volátil e, em 2022, cada crédito Reserva Legal e Áreas de Preserva-
chegou a ser negociado a US$ 10. ção Permanente (APP). Os proces-
Existe um mercado internacional sos produtivos, dentro do coop, já
regulado — em que países nego- estão realizando esse sequestro de
ciam créditos para cumprir suas carbono. O que precisamos, agora,
metas obrigatórias de redução de é de informação e apoio para que
emissões — e um voluntário, onde as cooperativas consigam men-
atua o setor privado. surar isso com os protocolos ade-
quados”, explica o coordenador de
Até 2030, o Brasil pode gerar até Meio Ambiente e Energia do Siste-
US$ 120 bilhões de receitas em cré- ma OCB, Marco Morato.

50 « Revista SABER COOPERAR Revista SABER COOPERAR « 51


Negociando
mente emissoras, como as usinas
termelétricas a gás ou carvão, por

Entenda o mercado carbono


exemplo. As unidades geradoras
têm de estar alinhadas com polí-
ticas de baixa emissão de gases

de de carbono Algumas cooperativas brasileiras


de efeito estufa, ser construídas
de acordo com a regulamentação
e passar por auditorias até serem
consideradas aptas para a gera-
estão atuando, com sucesso, no ção dos créditos.
O mercado de carbono surgiu para dar valor
mercado de carbono e essas ex-
financeiro à redução de emissões de gases
periências têm sido apresentadas Na Coprel, o cálculo considera
de efeito estufa e transformar o dióxido de
como exemplos em uma jornada que cada Megawatt-hora (MWh)
carbono (CO2) que deixou de ser emitido na
de informação promovida pelo produzido por três pequenas
atmosfera em um ativo que pode ser nego-
Sistema OCB Brasil afora. Uma centrais hidrelétricas — Enge-
ciado no mercado internacional entre gover-
delas é a Coprel, maior coopera- nheiro Ernesto Jorge Dreher e
nos e pelo setor privado.
tiva de eletrificação em extensão Engenheiro Henrique Kotzian,
de redes do país, com sede no no Rio Grande do Sul, e Rio do
O mecanismo foi criado com o Protocolo de
Rio Grande do Sul. Sapo, em Mato Grosso — e des-
Kyoto, que determina metas de redução de
emissões de gases de efeito estufa pelos paí- pachado para o Sistema Interliga-
“Geramos energia limpa e reno- do Nacional (SIN) evita o maior
ses ricos. Como os países em desenvolvimen-
vável desde 1991, com a implan- acionamento de termelétricas. A
to não tinham metas obrigatórias, poderiam
tação da CGH [Central de Gera- partir de um fator de emissão de-
transformar suas ações de mitigação em cré-
ção Hidrelétrica] Pinheirinho, em finido pelo SIN, é possível chegar
ditos para serem vendidos para quem preci-
Ibirubá (RS). A entrada no merca- à quantidade de CO2 que deixou
sasse compensar suas emissões.
do de crédito de carbono ocorreu de ser emitido por cada MWh
em 2009, inicialmente como um limpo produzido pela coop, re-
A ideia foi viabilizada por meio do Mecanismo
complemento da receita, com o sultando nos créditos disponíveis
do Desenvolvimento Limpo (MDL), em que os
objetivo de melhorar a rentabili- para comercialização.
créditos de carbono são validados pela pró-
dade dos investimentos”, conta o
pria ONU e por entidades nacionais, como a
facilitador de novos negócios da Desde a entrada nesse mercado,
Comissão Interministerial de Mudança Global
coop, Mateus Stefanello. a Coprel já emitiu e vendeu cerca
do Clima, no caso do Brasil.
de 500 mil créditos de carbono,
Após o crescimento da agenda que geraram receitas entre R$
Paralelamente ao mercado regulado, ligado
ESG, a Coprel passou a olhar 3 milhões e R$ 4 milhões, além
às metas obrigatórias de Kyoto, surgiu um
para o mercado de crédito de de abrir novas oportunidades no
mercado voluntário em que empresas, insti-
carbono com outros olhos. “Pro- mercado internacional, segun-
tuições financeiras, ONGs e outros agentes
jetos de geração de energia reno- do o facilitador de negócios da
também negociam créditos de carbono oriun-
vável, principalmente em virtude coop.
dos de reduções voluntárias de emissões.
do baixo impacto ambiental, pela
criação de áreas de preservação “A Coprel vende os seus créditos
Em 2015, com a atualização dos compromis-
permanente, hoje são um dife- de carbono por diversas formas,
sos globais com a crise climática no Acordo
rencial importante no mercado, sendo as mais usuais os contratos
de Paris, todos os países — ricos e em desen-
além de gerar renda e desenvol- bilaterais de compra e venda, e
volvimento — passaram a ter metas obrigató-
vimento econômico regional du- por meio da plataforma Go Cli-
rias de redução, as chamadas Contribuições
rante e após a implantação dos mate Neutral Now, das Nações
Nacionalmente Determinadas (NDC). A mu-
empreendimentos”, completa. Unidas”, explica Stefanello. Ele
dança deu um novo impulso para a criação
de um mercado regulado global de carbono, destaca que a cooperativa está
No caso da geração de energias implantando duas outras peque-
com participação de governos e empresas, e
renováveis, os créditos de carbo- nas centrais hidrelétricas (PCH)
metas estabelecidas para diferentes setores,
no são emitidos a partir do cálcu- que aumentarão os créditos de
cujas regras seguem em definição.
lo de quanto CO2 deixou de ser carbono que poderão ser nego-
lançado na atmosfera com a pro- ciados no mercado.
dução de energia limpa no lugar
de fontes não renováveis e alta-

52 « Revista SABER COOPERAR Revista SABER COOPERAR « 53


Potencial do
Com o ramo de Infraestrutura, o setor No Paraná, a Integrada Coope-
agropecuário reúne o maior potencial rativa Agroindustrial aposta no
de geração de crédito de carbono entre sequestro de carbono para viabi-
as cooperativas brasileiras. Neste último, lizar sua entrada no mercado de
além do eventual benefício financeiro, re- carbono. A preparação dos 11 mil
duzir e compensar as emissões de gases cooperados para um futuro de
de efeito estufa também aumenta a pro- baixo carbono é um dos eixos da
dutividade e a competitividade de quem agenda de sustentabilidade da
produz. Sem falar que o compromisso coop, que atua nos mercados de
com a sustentabilidade pode determinar soja, milho, trigo, café e laranja.
a própria sobrevivência das lavouras, dire-
tamente impactadas pelos eventos climá- Este ano, a Integrada lançou o
ticos decorrentes do aquecimento global. projeto Propriedades Sustentá-
veis, que inclui uma parceria com
A cafeicultura brasileira, por exemplo, tem a Federação do Plantio Direto
sofrido cada vez mais com as mudanças da na Palha. Nesse tipo de manejo,
temperatura e do regime de chuvas. Dian- a semeadura é feita na palha da
te desse cenário, aumentou a relevância cultura anterior, sem a necessida-
do debate climático para a Cooperativa de de queimar a área nem de re-
Regional de Cafeicultores em Guaxupé volvimento do solo, reduzindo a
(Cooxupé), uma coop mineira de 17 mil liberação de CO2 na atmosfera. A
pequenos produtores reconhecida inter- incorporação da matéria orgânica
nacionalmente por sua produção susten- ao solo também mantém a umi-
tável. dade e beneficia a nutrição das
plantas, gerando impactos positi-
“Os efeitos das mudanças climáticas nos vos na produtividade.
últimos anos foram muito evidentes. Nós
tivemos secas, períodos de chuva diferen- “Com o apoio da Federação, fa-
tes dos normais; então, não há um equilí- remos a aplicação de um checklist
brio como era antes e isso interfere dire- De acordo com a pesquisa, na produção cafeicultora para que o produtor consiga se
tamente na produção”, avalia o gerente e conservacionista, com boas práticas de manejo agrí- autoavaliar e caminhar com maior
ESG da Cooxupé, Alexandre Monteiro. cola, há um balanço negativo de 10,5 toneladas de segurança em relação às boas
CO2 por hectare ao ano. A Cooxupé agora está justa- práticas que visam o sequestro
Na visão de Monteiro, é responsabilidade mente trabalhando no inventário de carbono das la- de carbono efetivamente”, expli-
de todos tomar providências para evitar o vouras de seus cooperados para levantar o potencial ca a coordenadora de Sustentabi-
aquecimento global. “A cafeicultura per- de créditos de carbono que poderá comercializar — lidade da cooperativa, Ana Lúcia
mite isso: a redução da emissão de carbo- o que, segundo Monteiro, ocorrerá no médio prazo. Almeida Maia.
no na atmosfera”, pondera. De fato, um
estudo do Conselho dos Exportadores de “Estamos trabalhando com universidades e especia- Ainda segundo Ana Lúcia, além
Café do Brasil (Cecafé) — do qual a Cooxu- listas de renome internacional no assunto para nos do possível retorno financeiro no
pé fez parte — demonstrou que a cafeicul- orientar sobre como atingir esse objetivo. Quando futuro, os investimentos na pro-
tura é uma cultura “carbono negativo”, ou tivermos a definição do nosso balanço de carbono dução de baixo carbono já têm re-
seja, estoca mais carbono do que emite. E vamos procurar parceiros para monetizar esses cré- flexos na atuação da cooperativa
quando se trata de lavouras sustentáveis, ditos. Mas é importante destacar que nossa grande pelo reconhecimento das ações
o balanço é ainda mais negativo, garantin- preocupação em relação ao carbono não é ter cré- por parte de clientes, fornece-
do a adicionalidade necessária para gerar ditos para vender, é evitar o aquecimento global”, dores e instituições financeiras, o
créditos para o mercado de carbono. pondera o gerente. que garante acesso a mercados e
financiamento diferenciado.

54 « Revista SABER COOPERAR Revista SABER COOPERAR « 55


Necessidade de e
RETRANCA
Em outra frente, para garantir que
os projetos cooperativistas tenham
a escala necessária para entrar no

investimentos suporte mercado de carbono, o Sistema


OCB trabalha em uma estratégia
de reunir coops em uma mesma ini-
ciativa, numa espécie de consórcio
de projetos.
Segundo a gerente da consultoria WayCarbon, Ciente desses desafios e, principal-
Laura Albuquerque, o potencial de geração de cré- mente, das oportunidades desse
“O desafio é unir cooperativas
ditos de carbono do setor agropecuário brasileiro mercado para as cooperativas bra-
para que a gente tenha projetos
varia entre 10 e 90 milhões de toneladas de C02. sileiras, o Sistema OCB está atuan-
robustos para conseguir acessar o
do em duas frentes: informação e
mercado. Por exemplo, há várias
“Para isso, o foco dos investimentos deve ser em escala, segundo o coordenador de
cooperativas trabalhando com re-
sistemas integrados de lavoura e pecuária (ILP); Meio Ambiente e Energia do Siste-
aproveitamento de dejetos de suí-
lavoura, pecuária e florestas (ILPF); agricultura de ma OCB, Marco Morato.
nos, resíduos de frigorífico que ge-
baixo carbono com atenção voltada, principalmen-
ram biogás, ou seja, transformando
te, para a fixação do nitrogênio e plantio direto. “O primeiro passo é nivelar o co-
um passivo ambiental em energia
Além de intensificação da pecuária bovina de cor- nhecimento em todo o coopera-
renovável. E isso já tem metodo-
te, que inclui recuperação de pastagens degrada- tivismo, compartilhar informação.
logia (de certificação de créditos),
das, a adubação de pastagens extensivas e o con- Essa preparação tem o intuito de
já está quantificando, a gente só
finamento”, lista. criar esse conhecimento para facili-
precisa alcançar essa escala, e isso
tar a entrada das cooperativas nes-
poderá ser feito com esses projetos
De acordo com a especialista, o aproveitamen- se mercado”, explica.
guarda-chuva”, explica o coorde-
to desse potencial do Agro esbarra em desafios
nador de Meio Ambiente da OCB.
como a complexidade da medição do carbono Ao longo de 2022, a Casa do Co-
para geração dos créditos, feita por meio de meto- operativismo promoveu uma série
dologias registradas, etapa essencial para a apura-
ção do volume a ser negociado; a alta complexida-
de da regulação fundiária brasileira, que dificulta
de eventos para estimular a troca
de experiências entre cooperativas
que estão em diferentes graus de
Acordo de Paris
a obtenção do Cadastro Ambiental Rural (CAR) atuação no mercado de carbono,
e outros documentos exigidos para entrada no com a participação de pesquisado- O avanço na regulamentação do
mercado de carbono; a comprovação de adicio- res, consultores e outros agentes mercado de carbono em nível
nalidade (garantia de que o projeto tenha impacto ligados ao setor. global e nacional deve ampliar as
ambiental positivo, e não apenas cumpra obriga- oportunidades de participação do
ções legais de preservação); e o longo período de
tempo entre a intenção de geração dos créditos e
“O DESAFIO É UNIR Para o próximo ano, está sendo
preparada uma jornada de capaci-
cooperativismo. No âmbito mun-
dial, novas regras estão previstas
a efetiva implementação dos projetos. COOPERATIVAS tação das para os sistemas estadu- no art. 6º do Acordo de Paris, e
ais e o lançamento de uma ferra- dependem da definição sobre sis-
Além disso, o custo pode ser um limitante para PARA QUE A GENTE menta para ajudar as cooperativas temas de contabilidade, registro e
os projetos, principalmente para os pequenos a contabilizar suas emissões de verificação e outras etapas burocrá-
produtores. TENHA PROJETOS gases de efeito estufa — primeiro ticas para a implementação de um
passo do processo para entrar no
“Os custos vinculados ao processo de certificação ROBUSTOS PARA mercado de carbono.
novo mercado global, tanto o re-
gulado quanto o voluntário, o que
demandam um volume grande de crédito de car-
bono que compense o investimento de implemen-
CONSEGUIR “Queremos facilitar a inserção das
deve ocorrer a partir de 2024.
tação do projeto — o que, na maioria das vezes, é
mais viável para grandes empresas com disponibi-
ACESSAR O cooperativas. Além de informa-
ções, vamos oferecer essa ferra-
No Brasil, o mecanismo é regula-
mentado atualmente pelo Decre-
lidade de capital para tal investimento”, pondera MERCADO.” menta para auxiliá-las a fazer esse to 11.075, publicado em maio de
Laura. inventário de gases de efeito estufa 2022, que estabelece as bases para
Marco Morato, de suas unidades e de seus coope- um mercado de carbono regulado
Segundo a WayCarbon, os custos fixos de valida- coordenador de Meio rados. Possivelmente, essa ferra- no país, com base nas metas nacio-
ção, registros e verificação de um projeto de cré- Ambiente e Energia menta estará disponível em 2024”, nais de redução de emissões e dos
dito de carbono no mercado voluntário estão na do Sistema OCB adianta Morato. compromissos assumidos no Acor-
ordem de US$ 80 mil, o equivalente a R$ 400 mil. do de Paris até 2050.

56 « Revista SABER COOPERAR Revista SABER COOPERAR « 57


RETRANCA

#OCoopNaCOP27
Em uma nova rodada de negociações para encontrar saídas
para frear o aumento da temperatura do planeta, 193 países
que formam a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre
A normativa estabelece os pro- a Mudança do Clima se reuniram em Sharm el-Sheikh, no
cedimentos para a elaboração Egito, para sua 27ª Conferência das Partes, a COP27.
de Planos Setoriais de Mitigação
e institui o Sistema Nacional de Em meio ao cenário de recessão global pós-pandemia e da
Redução de Emissões de Gases incerteza energética na Europa por causa da guerra entre
de Efeito Estufa, que estão em Rússia e Ucrânia, a COP27 teve um papel ainda mais rele-
vante na definição de como os países irão engajar esforços Assista a live
fase de elaboração pelo gover- pelo QrCode
no. Nessa nova configuração, o políticos e, principalmente, recursos financeiros no combate
mercado regulado e o mercado ao aquecimento global e seus impactos.
voluntário funcionarão juntos, e
as cooperativas poderão partici- “A COP deixou de ser um evento apenas de governos e do
par com seus projetos nas duas setor público para ser uma grande demanda da sociedade
civil. O debate sobre o clima é a agenda da ONU que mais Além de dar visibilidade ao traba- COP27 para colocar as coopera- Com o olhar para o futuro, o Sis-
instâncias. lho das coops, a participação do tivas na pauta dos negociadores, tema OCB já prepara a estratégia
chega às pessoas, se alastrou amplamente em todo o mun-
do porque se trata de como a humanidade pode ser prejudi- sistema cooperativista na Con- que vão falar do tema da captação para a próxima Conferência do
“O decreto organiza um futuro ferência do Clima rendeu outros de recursos, do financiamento, do Clima, em Dubai, em 2023, em
mercado de carbono no Brasil. cada pela falta de controle com o cuidado com o meio am-
biente”, explica o coordenador de Relações Internacionais frutos para as cooperativas brasi- investimento verde. Por exemplo, que deve ampliar a presença de
O mais importante agora para as leiras: parcerias estratégicas com temos um projeto de cooperação coops brasileiras.
cooperativas é entender os pro- do Sistema OCB, João Martins.
organismos da ONU e organiza- com as cooperativas alemãs que
cessos para fazer o inventário de ções cooperativistas de outros fomenta a organização de coope- “Conhecendo a dinâmica da con-
carbono. Primeiro, precisamos Para as cooperativas brasileiras, a COP27 foi uma vitrine per-
feita para mostrar experiências sustentáveis que confirmam países, além da abertura de no- rativas de energias renováveis no ferência e quais resultados quere-
fazer as contas, depois a gente vos mercados. Segundo Martins, Brasil, fotovoltaica e outras.” mos alcançar, já estamos discutin-
se preocupa como e para quem o potencial do setor para ajudar a descarbonizar a econo-
mia, aliando desenvolvimento econômico e inclusão social. o evento ajudou a mostrar ao do uma participação mais robusta.
a gente vai vender. Vamos inven- mundo que o coop é “uma nova Lopes de Freitas acredita que, com À medida que o tema se torna
tariar esse carbono que está sen- marca do Brasil” — conectada a a captação de recursos internacio- cada vez mais importante inter-
do gerado pelo cooperativismo, “Essa é nossa expertise no cooperativismo: promover comu-
nidades sustentáveis, com crescimento inclusivo e que res- mercados cada vez mais exigentes nais destinados a investimentos nacionalmente também cresce a
deixar isso transparente e depois quanto à rastreabilidade e à pega- nesse tipo de negócios, seja pos- nossa responsabilidade de repre-
alocar isso nos mercados”, lista peitem o meio ambiente. Nosso objetivo na COP foi mostrar
como nossas cooperativas têm atuado voluntariamente para da de carbono dos produtos. sível multiplicar rapidamente esse sentar e defender o movimento
Marco Morato, do Sistema OCB. modelo de recompensa de proje- cooperativista. Para as próximas
cuidar das suas comunidades e seus cooperados, buscar
competitividade para seus negócios e, ao mesmo tempo, A agenda de prioridades do coo- tos sustentáveis no Brasil. COPs, devemos estar ainda mais
Segundo Laura Albuquerque, da perativismo brasileiro na COP27 engajados nesse debate”, conclui
WayCarbon, a segurança jurídica zelando pelas metas do meio a biente”, lista Martins.
inclui a regulamentação do merca- o presidente do Sistema OCB. ■
é fundamental para o crescimen- do de carbono, o combate ao des-
to e consolidação do mercado de matamento e a captação de recur-
carbono no Brasil, principalmente
para estimular a entrada de mais
CASES DE SUCESSO sos internacionais para fomentar Manifesto
Cooperando
atividades sustentáveis desenvolvi-
atores, o que inclui as coops. “Se com o Futuro
das por nossas coops.
o mercado estiver amparado por
uma lei, há um entendimento Em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, o SIstema Para o presidente do Sistema
melhor sobre o que fazer, qual OCB apresentou experiências de quatro cooperativas brasi- OCB, Marcio Lopes de Freitas, o
o rumo, as metas e os limites de leiras reconhecidas por práticas sustentáveis: a Coopercitrus, coop brasileiro precisa buscar in-
cada setor. O decreto é ótimo, é com foco na produção de energia limpa e restauração flo- Confira os cases
vestimentos para multiplicar as
um primeiro passo para regula- apresentados na
restal; a Cocamar, que destaca a integração lavoura-pecuá- ações desenvolvidas pelas coo-
mentação do mercado, mas uma COP27
ria-floresta para produção sustentável; a CCPR, com um case perativas para conter as mudan-
lei é essencial para a condução e de produção de energia limpa no agronegócio; e a Coplana, ças climáticas. “Cabe a nós dia-
evolução do Brasil nesse merca- com modelos de logística reversa e reflorestamento. logar com os países membros da
do”, pondera. cooperacaoambiental.coop.br

58 « Revista SABER COOPERAR Revista SABER COOPERAR « 59


DONO DE UM RISO FÁCIL E DE UMA FALA LIGEIRA, ROBERTO RODRIGUES
RETRANCA
PERFIL

ENCONTROU UM TEMPINHO NA AGENDA PARA CONTAR QUE A VIDA TEM, SIM,


UM SENTIDO. E VOCÊ VAI DESCOBRIR QUAL É, EM UM BATE-PAPO QUE REVELA
UM POUCO DA HISTÓRIA DESTE COLECIONADOR DE CAUSOS, CARGOS E PRÊMIOS

Por Flávia Duarte estava viajando e não chegaria a tempo. Sabe

M
o que os alunos queriam? Saber como era o
inha querida, quem tem interes- Roberto fora da sala de aula. Foi uma con-
se em um velho de 80 anos? Bo- versa de, mais ou menos, duas horas”, conta
bagem! Acho que você vai per- o amigo e colega de trabalho José Roberto
der seu tempo. Eu detesto falar Ricken, atual presidente do Sistema Ocepar.
de mim.”
Impossível mesmo não se interessar pela tra-
Assim, Roberto Rodrigues começa a entre- jetória deste cidadão de Guariba (SP), que
vista. Cheio de modéstia e com simpatia de ficou conhecido em todo mundo por seu tra-
sobra. Falar sobre si mesmo, para ele, soa balho como líder cooperativista e por ter sido
como vaidade, por isso, resiste. Passado um um dos maiores responsáveis pela internacio-
tempo, ele ri de si mesmo e cede. “Vamos nalização do cooperativismo brasileiro, lá nos
lá. Quem sabe você consegue me arrancar anos 1980.
alguma coisa”. E ri de novo.
Tamanho reconhecimento está exposto no
Roberto é daquelas pessoas de riso fácil e escritório em sua fazenda. “É quase um “mu-
sonoro. Chama os conhecidos pelo diminuti- seu”, como ele mesmo define. São centenas
vo do nome e transforma o primeiro contato de medalhas, troféus, mais de mil diplomas
em uma confortável amizade de tempos. Faz em homenagem a décadas de trabalho de-
jus à fama de ser muito bem-humorado, uma dicados ao crescimento do cooperativismo
ótima companhia e um excelente contador e ao fortalecimento da agricultura nacional.
de histórias. “Eu não me considero simpáti- Aqui e lá fora. São honrarias recebidas pelos
co. Seria cabotino dizer isso. Acho que sou cargos que já passou. E são inúmeros.
alegre, e a alegria de viver é sempre uma fe-
licidade.”

- Mas, se perguntarem, como você de-


finiria a felicidade?

- Para mim, a felicidade é um canto do


passarinho, que você escuta, mas não

O homem
põe na gaiola. Então, ele canta quan-
do quer, não quando você quer. A par-
tir daí, decidi o seguinte: a felicidade
não é uma estação, mas a viagem pela
vida. É um trem que corre sobre dois
trilhos, do amor e da justiça. Eu juntei
esses dois círculos virtuosos, procuran-
do ser feliz.

É por isso que tanta gente quer conhecê-lo,


ainda que o próprio desconheça o motivo da
QUE EXPORTOU O BRASIL curiosidade alheia. Ele inspira. “Uma vez, o
Roberto me pediu para substituí-lo em uma
aula na Universidade de Jaboticabal, porque

60 « Revista SABER COOPERAR Revista SABER COOPERAR « 61


Ritmo acelerado
RETRANCA
da família, hoje, administradas
pelos filhos. A saúde está em dia “QUANDO EU ESTAVA
e a disposição, farta. “Quando
eu estava prestes a completar 80
PRESTES A COMPLETAR
Roberto fala rápido. Tão ligeiro
anos, pensava: ‘vai ser complica-
do, né?’. Estarei muito velho’. Até
80 ANOS, PENSAVA:
como o próprio pensamento. Ta-
manha velocidade que, por ve-
que completei e vi que não foi tão ‘VAI SER COMPLICADO,
difícil assim. Agora, quero chegar
zes, as palavras se atropelam. É o
mesmo ritmo com que toca a vida.
aos 100.” NÉ?’. ESTAREI MUITO
Gosta de correr quando é moto- E teve comemoração para celebrar VELHO’. ATÉ QUE
rista. A irmã Anita Rodrigues con- as oito décadas bem vividas. Entre
ta que ao percorrer o trecho que os convidados, a família e muitos COMPLETEI E VI QUE
vai de São Paulo rumo a Guariba, amigos. Alguns, pertencentes à
ele avisa: “Estou sobrevoando famosa confraria do “F¨65”, da
NÃO FOI TÃO DIFÍCIL
Campinas”, tão rápido conduz.
tilhar o conhecimento e ter como cultura do Estado de São Paulo. Ele voa. Os filhos já sugeriram ao
turma de formandos de engenha-
ria agrônoma, de 1965, em Pira-
ASSIM. AGORA, QUERO
resultado o dobro de sabedoria. Em 2003, Roberto foi nomeado pai que contratasse um motorista.
“Se eu te ensinar tudo o que sei e Ministro da Agricultura, Pecuária “Eu não! Eu gosto de dirigir”, pro-
cicaba. Aliás, Roberto gosta de CHEGAR AOS 100.”
festas. A irmã entrega que ele é
você me ensinar o que sabe, fica- e Abastecimento e, por três anos, testa. apreciador de tango.
remos bem maiores. Foi quando teve o desafio, entre outros, de
tive a convicção de que estamos trazer visibilidade para a agricultu- Ele é inquieto. “A cabeça sempre Também adora cantar. E dizem
aqui para aprender e para ensinar, ra nacional. a mil”, descreve Anita. Roberto que canta bem. “Mas só ao vivo”,
fazendo o mundo melhor”, con- não nega que gosta da intensida- se nega a dar uma palhinha. Como
Rodrigues foi professor da Uni- clui. “Naquela época, o agro no Brasil de. Trabalha todos os dias. Qua- dorme pouco, conta que sempre
versidade de São Paulo (USP) e era quase um atraso. Roberto foi se o dia inteiro. Dá duas ou três teve fama de boêmio. “O Iris Re-
da Universidade Estadual Paulista Roberto passou, então, a cumprir o grande idealizador do seguro palestras por semana. Participa de zende (ex-ministro da agricultura –
(Unesp). Passou 34 anos dentro o que entendeu ser uma missão. rural, da defesa sanitária e da cer- 16 conselhos. É autor de 10 livros. 1986/1990) dizia que eu era dois
de sala de aula, mas depois dos Foi aprender. Foi ensinar. Na lista tificação de origem do produto. O último, mostra na estante que em um: bom para o dia e bom
70 anos o mestre foi obrigado a se de desafios assumidos ao longo Nada disso existia. Para o nosso fica atrás da cadeira onde está para a noite”, dá uma gargalhada.
aposentar. “Foi uma aposentado- da vida, acrescenta-se que foi pre- setor, ele é um líder mundial”, sentado, foi lançado em agosto
ria expulsória”, brinca. sidente do Conselho Superior do destaca José Roberto Ricken, que deste ano. “Segue a tropa” traz
Agronegócio da Fiesp – Cosag; esteve ao lado do ex-ministro du- um compilado de artigos com re-
Ensinando, ele conta que des- da Sociedade Rural Brasileira; da rante dois anos desta jornada. flexões importantes sobre econo-
cobriu o sentido da vida. Ainda Associação Brasileira do Agrone- mia e o agronegócio.
moço, se questionou: “O que es- gócio; da Academia Nacional de
tamos fazendo nesta Terra?”. Leu, Agricultura. Em 1985, assumiu a Só para por volta das 23h da noi-
perguntou, procurou e continuou presidência da Organização das te, “quando já não quero mais tra-
sem saber. Investigou nos livros, Cooperativas Brasileiras (OCB), balhar”, acomoda-se no sofá de
tentou entender os filósofos, quis onde permaneceu por dois man- “SE EU TE ENSINAR casa e lê algumas páginas de Gui-
saber o que pensava um pesca- datos.
dor. “Se nem Sócrates descobriu, TUDO O QUE SEI E VOCÊ marães Rosa. Grande Sertão Vere-
das é uma de suas obras favoritas.
imagina se um agrônomo de Gua-
riba vai saber explicar qual o senti-
Também ocupou o mais alto pos-
to da Organização Internacional
ME ENSINAR O QUE Bastam duas ou três páginas para
satisfazer o que este agricultor
do da vida...” de Cooperativas Agrícolas e, em SABE, FICAREMOS BEM define como “prazer intelectual”.
1997, alcançou um feito jamais Depois, é hora de fazer palavras
Mesmo assim, escolheu a defi- conquistado por um brasileiro: MAIORES. FOI QUANDO cruzadas. Sessenta minutos delas,
nição que melhor lhe convinha. foi o primeiro presidente não-eu- diariamente.
Como crê em Deus, entendeu ropeu da Aliança Cooperativa In- TIVE A CONVICÇÃO DE
que a vida é um presente divino ternacional (ACI). “Sou ‘ex’ tanta Três vezes por semana, Roberto
e, como tal, era sua obrigação dar coisa”, faz mais uma piada e ainda QUE ESTAMOS AQUI faz exercícios com uma personal
sentido à sorte de estar vivo. Des- acrescenta ser “ex-marido” duas
cobriu que ser feliz não se trata de vezes.
PARA APRENDER E PARA trainer. Nos fins de semana, gosta
de receber amigos em casa. Uma
dividir bens, onde cada um levaria
apenas uma metade. O segredo No início dos anos 1990, Roberto
ENSINAR, FAZENDO O vez por mês, deixa a capital pau-
lista para visitar uma das fazendas
de ser feliz, para ele, seria compar- também foi Secretário de Agri- MUNDO MELHOR.”
62 « Revista SABER COOPERAR Revista SABER COOPERAR « 63
Compartilhando
RETRANCA

aplausos
“Muito amigo”, “agregador”, “soli-
dário”, são predicados repetidas ve-
zes atribuídos a Roberto. “Ele busca
o bem comum e, por isso, consegue
juntar pessoas em torno de ideais. É
um coração de uma generosidade mui-
to grande, sempre disposto a ajudar”,
descreve Jacyr Costa, presidente do
Conselho Superior do Agronegócio
(Cosag - Fiesp).

Prova disso foi quando um amigo de cooperativa fundada pelo pai. partir de então, que “a criação de
longa data teve um câncer. Anita, a A sede era uma “sala com dois associações e, na forma da lei, a
irmã dele, conta que Roberto organi- funcionários”. Logo, queria incre- de cooperativas independem de
zou uma escala entre todos os colegas mentar os projetos e fundou a pri- autorização, sendo vedada a in-
do mesmo grupo para que o então pa- meira cooperativa de crédito rural terferência estatal em seu funcio-
ciente nunca estivesse só, sem receber de Guariba. Algo inédito naqueles namento”. “Além disso, o Estado
uma mensagem de apoio ou uma pala- tempos. “A situação econômica passava a apoiar e a incentivar
vra de afeto. Até o dia em que a cura era complicada naquele período. o cooperativismo, bem como a
chegou. Eu queria mexer com crédito para autorizar a criação das coopera-
liberar a agricultura do crédito dos tivas de crédito.” Era mais uma
Roberto é conhecido por gostar de bancos. Eu falava: ‘quero caminhar vitória do grupo encabeçado por
compartilhar aplausos. Dispensa plateia com as minhas próprias pernas’.” Rodrigues.
exclusiva. “Além de te ensinar as coisas
pela visão dele, ele te desafia, te esti- Nos anos 1980, Roberto Rodri- Quando o patriarca ficou doente,
mula, te eleva a moral. Ele comemora gues lutou para a expansão das transferiu o negócio para os filhos.
quando temos avanços e contribui para cooperativas de crédito pelo país Roberto se tornou o administrador
o reconhecimento do outro, para o tra- e liderou, como presidente da geral da fazenda. Com o tempo,
balho coletivo,”, reforça Ricken. OCB, um comitê jurídico que pro- somaram quatro propriedades,

Roberto não ocupa palco solo. Tal-


“SEMPRE DIGO QUE pôs a inclusão do cooperativismo produtoras de cana e de soja, prin-
na Constituição de 1988. Foram cipalmente. Até que foi Roberto
vez seja esta a razão de ter liderado e MEUS FILHOS SÃO mais de 350 cartas recebidas de quem ficou enfermo. Um câncer,
mobilizado quase 30 entidades e em- cooperativas de todo Brasil. A há 25 anos, chegou para lembrá-
presas do agronegócio para indicar o A PROVA DE QUE equipe de Roberto compilou as -lo da finitude da vida. “Eu não ti-
nome do ex-ministro Alysson Paolinelli Filho de Antônio José Rodrigues Filho, Roberto prioridades a serem apresentadas nha essa informação de que a vida
ao Prêmio Nobel da Paz. Um dos fun- cresceu em fazenda produtora de cana-de açúcar. DARWIN TINHA à Assembleia Nacional Constituin- acaba. Foi quando também decidi
dadores da Embrapa, Polinelli tam- Seu Antônio foi um grande líder cooperativista, fun- te e que seriam defendidas pela doar tudo para meus filhos.”
bém é considerado o responsável pela dador da OCB. Foi presidente de lá, como o filho RAZÃO: AS ESPÉCIES Frente Parlamentar Cooperativista
seria anos depois. Antônio também foi prefeito de
revolução agrícola tropical no Brasil e
criou horizontes para a autossuficiência Guariba, vice-governador de São Paulo e Secretário
EVOLUEM. ELES SÃO que ele ajudou a criar. Pai de quatro filhos, hoje, são eles
que tocam a produção. Roberto
de alimentos no país e também para a
segurança alimentar mundial. O nome
de Agricultura do Estado. Roberto seguiu os passos
do pai. O único da família. Uma das irmãs morreu
MUITO MELHORES Assim, surgia uma nova consti- preside um Conselho Familiar que
tuição com maiores garantias às se reúne periodicamente para ava-
dele não foi escolhido, mas a iniciativa precocemente. A outra, Anita, hoje com 77 anos, DO QUE EU.” cooperativas. Elas estavam livres liar resultados e pensar em futuras
de Rodrigues fez com que “a memória estudou letras, mas se realizou mesmo como artesã. do poder do Estado. Antes, era ações. Tem dado certo. “Sempre
dele ficasse viva e fosse reconhecida preciso ter uma autorização de digo que meus filhos são a pro-
perante toda a sociedade brasileira”, Roberto tocou desde muito jovem os negócios da funcionamento para abrir as por- va de que Darwin tinha razão: as
considera Jacyr Costa, do Cosag. família. Ele tinha 30 anos quando foi trabalhar na tas de uma. Mas o inciso 18 do espécies evoluem. Eles são muito
Art.5º documento deixou claro, a melhores do que eu.”

64 « Revista SABER COOPERAR Revista SABER COOPERAR « 66


Outros
RETRANCA
abrindo e o cooperativismo brasilei-
ro, ganhando espaço.

Roberto rodou o mundo fortalecen-


do o nome do Brasil. Visitou coo-
“ÉRAMOS perativas de crédito na França, na Peregrino, Roberto nem pensa em
Holanda, na Inglaterra, no Japão, no parar. Para o próximo ano, já está de
DESCONHECIDOS. Canadá, nos Estados Unidos e im- malas prontas. A nova meta é fazer
três viagens internacionais por ano.
ACHAVAM QUE portou alguns modelos para cá. Uma
interação que mostrou o Brasil agro No roteiro, um país que não conhece
e dois que deseja revistar. Já esco-
AQUI [NO BRASIL] para o mundo e abriu o Brasil para
lheu as primeiras paradas: Laos, pelo
investir em outros segmentos.
ineditismo, Canadá e Nova Zelândia,
SÓ TINHA JACARÉ, por amor.
Em 16 anos, Roberto esteve em 79
FUTEBOL E COBRA países. Nessas andanças, conheceu
Com tanta andança pela vida, Ro-
presidentes, bispos, cardeais e até
(...) DE REPENTE, rainhas. berto diz que não teve muito tempo
como gostaria com a família. Agora,
ENTRAMOS COM O - A rainha Elizabeth, da Inglater- quer estar mais presente. Pelo mun-
do afora, como não poderia deixar
ALGODÃO, FRUTA, ra, também?
- Ela não, mas a Silvia, rainha da de ser. Foi então que criou o “vovô
tour”: as férias anuais nas quais ele
FUMO, CARNE. NÃO Suécia, eu conheci.
promete levar os quatro filhos, sete

De guariba “Éramos desconhecidos. Achavam


FIZ NADA SOZINHO,
NINGUÉM FAZ,
Conquistas que ele conta com orgu-
lho. “Nós não éramos nada fora da-
netos, além de genros e noras uma
vez por ano para passear.

para o mundo
que aqui só tinha jacaré, futebol e qui. Sabiam que a gente exportava
café e açúcar. E só. De repente, en- O roteiro também já está pronto:
cobra”, diz. Uma injustiça para um
país gigante e que já contava com MAS EU AJUDEI A tramos com o algodão, fruta, fumo, Praga, Brastislava, passando por
carne. Não fiz nada sozinho, ninguém Viena e Budapeste. “Quero oferecer
a presença de cooperativas agríco-
las em crescimento, especialmente
ABRIR AS PORTAS faz, mas eu ajudei a abrir as portas do isso a meus netos como uma forma
O mundo conhece o agricultor de de união e, ao mesmo tempo, de
Guariba como o cooperativista que
aquelas voltadas à produção de café
e de soja.
DO BRASIL PARA O Brasil para o mundo”, conclui. “Mas
ainda acho que o Brasil pode ser o cultura, de diversão e de aproxima-
ção. Com a vida que eu tinha, me
abriu as portas do exterior para o
Brasil. E também aquele que trouxe
MUNDO.” campeão mundial da segurança ali-
afastei das família. Quero que meus
Visionário, ele viu a oportunidade de mentar. Temos uma agricultura espe-
o estrangeiro para ser apresentado tacular, sustentável e evoluída. Não netos me conheçam e, para isso, te-
transformar o país em vitrine lá fora.
ao, até naquele momento, inexpres- haverá paz enquanto houver fome”, nho que ficar mais perto.” Mas sem-
Começou a viajar pelas Américas e a
sivo Brasil. Nas viagens a trabalho, defende. pre voando. ■
divulgar nossa produção e nossas co-
o agrônomo levava na mala concei- operativas. Conheceria todo o conti-
tos de variedade, volume, compe- nente americano não fosse o fato de
titividade, eficiência e potencial de não ter passado por Belize. Quando
crescimento da produção brasileira. convidado a presidir a ACI, reforçou
“Meu discurso era: ‘vamos crescer a presença do Brasil nos eventos in-
muito mais, e vocês vão se dar bem ternacionais do resto do mapa. Fez
com a gente. Eu mostrava o nosso contatos com lideranças mundiais.
mapa, que éramos maiores do que Falou do nosso potencial de cresci-
a Europa inteira, mas ninguém sabia mento em português, francês, italia-
disso.” no e espanhol.

Tudo começou em 1985, quando Ro- Nos anos 1990, este líder mostrou
berto assumiu a presidência da OCB que aqui também se produziam car-
e, consequentemente, a vice-presi- ne, frango, soja, algodão. Ao mesmo
dência da Organização das Coopera- tempo, convidou delegações de ou-
tivas da América (OCA). No cenário tros países para conhecer o trabalho
de competitividade internacional, fi- de cooperativas em São Paulo, em
gurava um tímido Brasil. Goiás e no Sul. As portas foram se

66 « Revista SABER COOPERAR Revista SABER COOPERAR « 67


MELHORES DO ANO

Melho r e s e n t r e
os melhores
Por Lílian Beraldo

A cada dois anos, um seleto grupo Na visão de Tania, a premiação ga-


CONHEÇA AS de cooperativas recebe do Siste- nhou o coração das cooperativas
ma OCB o título de “Melhores do justamente por avaliar os benefícios
COOPERATIVAS Ano” – um reconhecimento à cria- gerados pelo coop para os coope-
VENCEDORAS tividade, à visão estratégica e aos
resultados obtidos, com reflexo nas
rados e para a comunidade. “Coo-
perativismo é isso: buscar o desen-
DO PRÊMIO pessoas e comunidades onde es- volvimento sustentável de todos,
tão inseridas. sem jamais esquecer de colocar a
SOMOSCOOP felicidade e o bem-estar das pesso-
MELHORES DO Em 2022, na 13ª edição do Prêmio
SomosCoop Melhores do Ano,
as em primeiro lugar “, ressalta.

ANO 2022 houve novo recorde de inscrições: A superintendente explica que


foram 787 cases enviados por 431 um segundo objetivo do Prêmio
cooperativas de todo o Brasil. Elas SomosCoop Melhores do Ano —
concorreram ao troféu de melhores tão importante quanto reconhecer
do ano em seis categorias: Comu- a pujança do coop brasileiro — é
nicação e Difusão do Coop, Coop divulgar projetos que possam ser
Cidadã, Desenvolvimento Ambien- replicados com sucesso por ou-
tal, Fidelização, Inovação e Interco- tras cooperativas. “Boas práticas
operação. existem para serem replicadas. Ao
compartilhar as iniciativas das Me-
“Este é o maior prêmio do coope- lhores do Ano, estamos fomentan-
rativismo brasileiro, criado justa- do a intercooperação e trabalhan-
mente para destacar os melhores do para melhorar os resultados de
projetos desenvolvidos pelo coop todo o cooperativismo”, finaliza.
em áreas estratégicas para o forta-
lecimento do nosso movimento”, Conheça, a seguir, os cases ven-
explica Tania Zanella, superinten- cedores das seis categorias desta
dente do Sistema OCB. edição:

68 « Revista SABER COOPERAR Revista SABER COOPERAR « 69


RETRANCA

FICHA TÉCNICA FICHA TÉCNICA


COMUNICAÇÃO E DIFUSÃO DO COOP COOP CIDADÃ
Cooperativa: Sicoob Cooperativa: Cercos (SE)

e jornalismo: um caminho
Cocred (SP)
Ramo: Crédito
Ramo: Infraestrutura
Projeto: Escavação e de beber
para conquistar novos cooperados
Projeto: Jornada do

em pleno
Revitalização de Poços
Cooperativismo Artesianos
Indicadores de Indicadores de
desempenho: desempenho:
A melhor forma de divulgar o co- bre o cooperativismo no GSHOW,
• 4 milhões de operativismo é mostrando o im- G1 e no site A Cidade ON. • Aumento do número
pessoas impactadas No sertão de Sergipe, o calor castiga e a estiagem
pacto que ele gera na vida das de casas com água
pelas mensagens dura oito meses. Nesse período, falta água para as
pessoas. O Sicoob Cocred partiu “Estou no Cocred há mais de 40 encanada e potável
da campanha nos pessoas e também para a plantação. Disposta a re-
dessa premissa para criar o projeto anos e sempre levantamos a ban- ligadas à rede de
seguintes canais de verter esse quadro, a cooperativa Cercos começou a
Jornada do Cooperativismo, uma deira do cooperativismo, mas com distribuição, de 20 para
TV: EPTV e TV TEM cavar e revitalizar poços artesianos nas comunidades
campanha que impactou 4 milhões foco no nosso negócio. Por isso, 143 residências.
(afiliadas da Rede onde atua.
de pessoas das regiões de Sertão- era um desejo realizar uma campa-
Globo), SBT, Rede • 64 produtores da
zinho, Ribeirão Preto, São José do nha como essa, abrangente, que
Record, TV Clube agricultura familiar agora A ideia surgiu do pedido de um cooperado que, com
Rio Preto, Franca e Marília, onde levasse à população os benefícios
(afiliada Band) e Globo têm acesso à irrigação razão, reclamou de um poço desativado há mais de
a cooperativa atua e mantém pos- do cooperativismo em todos os
News . para suas culturas. 30 anos no povoado Luiz Freire, por falta de manuten-
tos de atendimento. Os públicos setores. Ficamos muito satisfeitos
ção. Ele foi até a cooperativa em busca de ajuda para
• 399 mil acessos às prioritários eram jovens de até 25 com os resultados e recebemos • O acesso à água
voltar a plantar.
matérias e textos anos (cooperados em potencial) feedbacks positivos dos gerentes, fornecida pelos poços
publicados pela e os responsáveis pelas decisões contando sobre pessoas que nos artesianos, para consumo
“Desde a revitalização do poço, a nossa vida [na co-
cooperativa no de compras dentro de uma família procuraram, após assistir à minis- próprio passou de 60
munidade] melhorou uns 80%”, comemora Josiel
GSHOW, G1 e Portal (normalmente, as mulheres). série ou reportagens na TV, ou para 429 pessoas.
Souza Castelo, o “dono” da ideia. “As pessoas que
A Cidade ON. mesmo ouvir a série no rádio”, ex- • O projeto atende 6 antes passavam sede, não passam mais. Melhorou o
Consciente de que cada mídia plica o diretor geral do Sicoob Co- comunidades: Tabocas
• 97 mil pessoas valor da terra. Ano passado [depois do poço ser rea-
tem sua própria linguagem e ob- cred, Antonio Claudio Rodrigues. — que não recebia apoio
ouviram a série berto], conseguimos tirar 300 sacos de batata, antes
jetivo, o Sicoob Cocred investiu do Poder Público e não
jornalística “Especial não tirávamos nem um saco, porque não plantávamos
em diferentes produções audio- O sucesso da campanha também tinha água encanada
Cooperativismo”, nos meses de estiagem. Ganhamos mais dinheiro e
visuais. No rádio, optou-se pela pode ser medido pelo depoimento —,Piçarreira, Luiz Freire,
veiculada na rádio estamos vivendo bem melhor.”
produção de uma série jornalísti- de Edson de Oliveira, um aposen- Açuzinho, Açu Velho e
CBN e na plataforma ca de 10 episódios sobre coope- tado que se associou à cooperativa
de streaming Spotify. Lagarto. Com o sucesso dessa primeira empreitada, os coope-
rativismo, veiculada nos progra- após ser impactado pela minissérie
rados da Cercos fizeram uma assembleia e decidiram
mas Manhã CBN e Giro CBN. Os produzida pela cooperativa.
perfurar e revitalizar outros poços artesianos em novos
podcasts da série foram disponi-
locais. Para isso, também definiram pela destinação
bilizados no portal da rádio CBN “Quando ouvia falar de cooperati-
de 25% das sobras da cooperativa, em 2018 e 2019.
e na plataforma Spotify. va, sempre vinha a minha mente o
trabalho de reciclagem, de coleta
Além de melhorar a qualidade de vida das comuni-
Na televisão, houve produção de seletiva. Não tinha ideia de quan-
dades que sofriam com a inexistência ou deficiência
matérias jornalísticas exibidas no tas cooperativas existem no Bra-
da rede de abastecimento de água, o projeto possi-
jornal EPTV 1 e no programa Mais sil, de todos os setores onde elas
bilitou o incremento da geração de renda, já que o
Acesse o vídeo-case Caminhos. Também foi colocada estão, nem da força que elas têm. Acesse o vídeo-case acesso à água contribui substancialmente com a agri-
no ar a minissérie “Cooperativis- Nunca havia parado para pensar
cultura familiar produzida pelos cooperados. O proje-
mo e Impacto Social”, com quatro que o convênio médico é uma co-
to abrangeu mais de 100 famílias e aproximadamente
episódios, divulgada na internet e operativa, que o presunto vendido
430 pessoas ligadas direta e indiretamente à coope-
também nos seguintes canais de no mercado vem de uma coopera-
rativa. É o cooperativismo feito por e para pessoas.
televisão: Band, Record, SBT, Glo- tiva, nem sabia das vantagens de
bo e Globo News. ser associado a uma cooperativa
de crédito, em vez de ter uma con-
Por fim, o Sicoob Cocred patroci- ta em banco. Foi uma série bastan-
nou a veiculação de matérias so- te elucidativa”, comemora.

70 « Revista SABER COOPERAR Revista SABER COOPERAR « 71


RETRANCA

FICHA TÉCNICA FICHA TÉCNICA


DESENVOLVIMENTO AMBIENTAL FIDELIZAÇÃO
Cooperativa: Sicoob Credcooper Cooperativa:
(MG) Coplacana (SP)

Ramo: Crédito
Projeto: Nascente Viva,
Preservando nascentes Ramo: Agropecuário
Projeto: Núcleo Jovem
Coplacana
de do futuro
Produzindo água e Promovendo
Desenvolvimento Sustentável Indicadores de
Proteger as nascentes é garantir água para todos. Com Para construir o futuro do coo- grupo de WhatsApp para poder
hoje e para Futuras Gerações desempenho:
a preservação desses nascedouros – mesmo que o cur- perativismo, é preciso renovar o conversar e trocar informações.
Indicadores de desempenho: so de um rio esteja poluído ou degradado – é grande • Atração de novos quadro de associados e atrair uma
- 39 nascentes recuperadas a chance de recuperar o corpo hídrico. Ao contrário, se cooperados (115 nova geração de líderes. Pensan- “Posso dizer que o Núcleo Jovem
as nascentes forem destruídas quase nada se pode fazer jovens com idade do nisso, a Coplacana investiu da Coplacana tem trazido mui-
• Realização de consultoria para reverter a situação. Fonte necessária à vida, a água entre 16 e 35 anos) na criação de um Núcleo Jovem, to aprendizado para minha vida,
técnica, em parceria com a é um recurso que precisa ser preservado.
• 16 filiais da responsável por planejar e execu- com os eventos técnicos das mais
Embrapa, para manejo de
cooperativa agora tar atividades voltadas especifica- diversas áreas do agronegócio,
solo com foco em produção Com isso em mente, o Sicoob Credcooper desenvolveu
contam com pelo mente a produtores na faixa etária visitas em empresas e a troca de
de água em cerca de 1 mil um projeto para promover a revitalização e preservação
menos 1 membro do de 16 a 35 anos. Ao colocar os experiência entre os membros.
hectares de terra de nascentes por meio da conscientização ambiental,
Núcleo Jovem em jovens no centro das atenções, a Esse projeto tem tudo para crescer
• Mobilização de 1,2 mil jovens agricultura e pecuária sustentável, manejo integrado de Coplacana garantiu o Prêmio So- cada vez mais, e com certeza agre-
bacias e uso consciente da água. seu quadro social.
em um programa de educação mosCoop Melhores do Ano 2022, gar muita bagagem na carreira
ambiental realizado em na categoria Fidelização. profissional e pessoal dos jovens
parceria com duas escolas Tudo começou na região de Caratinga (MG), onde a envolvidos.”, avalia João Pedro
públicas estaduais de ensino cooperativa opera. A comunidade vinha sofrendo um O Núcleo Jovem da cooperativa Pacheco, membro da coordena-
médio processo intenso de degradação ambiental dos solos, promove encontros quinzenais ção do Núcleo Jovem Coplacana.
mananciais e reservas naturais — consequência direta sobre temas técnicos do agrone-
• Doação de 15 mil mudas, em das queimadas, dos períodos longos de seca, da falta gócio e incentiva o planejamento A aproximação entre diferentes
parceria com Instituto Terra, de educação e conscientização ambiental e da expansão da sucessão familiar nas proprie- gerações de produtores, com tro-
para o reflorestamento de 150 desordenada da agricultura e pecuária local. dades. O grupo é coordenado, ca de experiências, rodas de con-
hectares de área de APP do
atualmente, por cinco filhos de co- versas e confraternizações, tam-
bioma “Mata Atlântica”. Resultado? A seca foi agravada e houve perda de solo operados. Juntamente com dois bém foi bastante positiva.
• Aumento da vazão da fértil por causa da erosão e do assoreamento das nascen- colaboradores da Coplacana indi-
nascente recuperada de 5 m3 tes. Para piorar a situação, as nascentes foram prejudica- cados pela diretoria, eles montam “Trabalhando na coordenação,
de água, em dezembro de das e houve uma redução tanto da quantidade quanto um cronograma anual que consis- neste ano de 2022, pude me apro-
2016, para 53 m3 em 2022. da qualidade de água. te em duas atividades por mês, em ximar ainda mais da cooperativa e
formato online, híbrido ou presen- aprender os valores cooperativis-
O projeto Nascente Viva surgiu em um período de agra- cial. A ideia é que as atividades tas — especialmente aqueles que
vamento dessa crise hídrica, no ano de 2015. À época, foi permitam que jovens de qualquer envolvem a educação, intercoope-
necessário racionar o abastecimento de água em algu- uma das filiais participem e intera- ração e interesse pelo desenvolvi-
mas cidades, fato que prejudicou, inclusive, a produção jam com outras pessoas de idades mento da sociedade. No Núcleo,
e distribuição de alimentos. Preocupado, um grupo de semelhantes, trocando experiên- trabalhamos para auxiliar jovens
cooperados do distrito de Santa Luzia pediu à coopera- cias e fortalecendo seu vínculo que estão iniciando a vida profis-
tiva que realizasse um seminário sobre a recuperação de com a cooperativa. sional, trazendo conteúdos téc-
nascentes. Aquele foi o início de um projeto maior, que já nicos e de desenvolvimento pes-
Acesse o vídeo-case recuperou 39 nascentes na região, promovendo a susten- Acesse o vídeo-case
Para atrair uma geração antenada soal, além de trocar experiências
tabilidade da agricultura familiar e a segurança alimentar, e conectada, as redes sociais en- de vida”, afirma Victor Sanches,
além de contribuir com a restauração da Mata Atlântica. traram em campo. Foram criados cooperado e vice-coordenador do
perfis do Núcleo Jovem no Insta- Coplacana Jovem.
“Para nós, água significa vida. Hoje, graças a Deus e ao gram, Facebook e Linkedin. Para
Sicoob Credcooper, temos água suficiente para irrigar as participar, é necessário fazer um Atualmente, a Coplacana conta
lavouras de café”, avalia o cooperado e produtor de café pré-cadastro. Após passar por uma com 95 jovens, atuantes nas ativi-
Silvio Roberto Primo. entrevista, o jovem é inserido no dades da cooperativa.

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RETRANCA
O case vencedor da categoria intercoope-
FICHA TÉCNICA INTERCOOPERAÇÃO ração conta a história de duas cooperativas
INOVAÇÃO co-irmãs, que eram praticamente vizinhas no
Cooperativa:
Paraná: a Copagril e Lar Cooperativa Agroin-
Cooperacre (AC)

Exemplo de Influenciador
dustrial. Elas decidiram unir forças para crescer
Ramo: Agropecuário
Tecnologia na floresta [FZB1] no mercado da avicultura de corte. Resulta-
do? Em dois anos de atividade, entre 2020 e
Projeto: Fortalecendo
2022, elas geraram mais novos 100 postos de
Coop
boa
o extrativismo
e viabilizando o trabalho, conquistaram novos cooperados e
desenvolvimento ainda melhoraram a renda de seus associados.
O coop brasileiro tem
sustentável através da Com importância significativa na o superintendente da Central, um novo influenciador:
tecnologia Na época do acordo, a Copagril tinha apenas
economia regional, a castanha do Manoel Monteiro de Oliveira. O Marcelo Vieira Martins,
uma indústria com capacidade para abater
Indicadores de Brasil é um dos principais produ- maquinário também ajudou a re- diretor executivo da Uni-
FICHA TÉCNICA 160 mil aves/dia. O alto custo de produção
desempenho: tos florestais não madeireiros do duzir os riscos de contaminação, cred União — coopera-
— principalmente do milho e da soja para a
estado do Acre. Logo, aprimorar garantindo à cooperativa certifi- Cooperativas: Copagril e tiva financeira com atu-
• Números de industrialização de rações — minava a compe-
e aumentar a produção dessa cações que garantem a qualidade Lar Cooperativa (PR) ação no Paraná e Santa
associados passou de titividade da marca nos mercados nacional e
castanha são formas de contri- do produto. Catarina. Ele foi eleito,
1600 para 2.235 Ramo: Agropecuário internacional.
buir com o desenvolvimento da por voto popular, o ven-
• Aumento do número economia local e da qualidade de Empolgados com os resultados Projeto: Aliança cedor da categoria “In-
A Lar, por sua vez, possuía três indústrias de
de cooperativas e vida de pequenos produtores. obtidos, os cooperados ficaram estratégica de fluenciador coop”.
corte e cinco de rações, com produção de
associações: de 34 ainda mais motivados a produzir. intercooperação na grãos capaz de garantir a alimentação de uma
para 45 Por conhecer de perto essa rea- E até mesmo quem não entende avicultura de corte Com uma trajetória de
criação maior que a sua. Além disso, já estava
lidade, a Cooperativa Central de muito de tecnologia, aprovou as 25 anos no Sistema Uni-
• Crescimento Indicadores de habilitada a exportar cortes de aves para mais
Comercialização Extrativista do inovações da cooperativa. cred, Marcelo é um apai-
exponencial da escala desempenho: de 100 países. Foi então que surgiu a ideia de
Acre (Cooperacre) investiu em xonado pelo cooperati-
produtiva, de 45 para somar a produção das duas cooperativas para
tecnologia para aumentar a pro- “Eu não entendo muito desse • Aumento do número vismo — que considera
900 toneladas que elas pudessem conquistar, juntas, uma fa-
dutividade das castanheiras e evi- negócio de tecnologia, mas hou- de empregos gerados a mais equilibrada forma
tia maior do mercado.
tar o êxodo rural da região. ve um aumento bem relevante na unidade industrial de organização humana
na produção dos nossos coope- de aves de Marechal porque produz de ver-
Para garantir uma transição adequada para
O primeiro investimento da co- rados. Eles também estão bem Cândido Rondon (de dade, distribui de modo
os cooperados da Copragril, manteve-se uma
operativa foi a compra de um motivados a trazer seus produtos 2.100 para 2.350 postos justo e cada um é livre
política de pagamento por média da produ-
equipamento de seleção e clas- para a cooperativa, deixando de de trabalho) e na para participar.
ção para os três primeiros lotes dos avicul-
sificação da castanha, visando o entregá-los ao primeiro atravessa- indústria de rações do tores. Assim, os produtores tiveram tempo e
aumento tanto da produção anual dor que aparecer”, avalia Antonio município de Entre Rios “É uma alegria muito
condições para se adaptar às exigências téc-
quanto da qualidade do produto. Mendes de Oliveira, cooperado do Oeste (de 53 a 170) grande receber esse
nicas e uma tabela de pagamento 100% atre-
A máquina separa as amêndoas, da singular Cooperliber. prêmio. Nosso desejo é
• Total de aviários lada ao desempenho zootécnico.
automaticamente, em cinco clas- o de difundir cada vez
associados passou de
sificações. Antes dela, esse pro- Vale destacar: com a chegada mais [o cooperativismo],
342 para 399, em um “Decidimos fazer essa aliança estratégica por-
cesso era realizado manualmen- desse e de outros equipamentos, para levar o mais lon-
intervalo de dois anos. que enxergamos, na intercooperação, a opor-
te, de forma lenta e nem sempre toda a mão de obra foi realocada ge possível o alcance
tunidade de crescer, ampliar a nossa produção
precisa. para outros setores da cooperati- de suas ações”, disse
de aves e gerar melhores ganhos para os nos-
va, ajudando a aumentar a produ- Marcelo, que recebeu
sos associados”, afirma Ricardo Chapla, dire-
A Cooperacre busca, com essas tividade e os resultados de todo o 35.909 votos.
tor presidente da Copagril.
tecnologias, a melhora da escala grupo de cooperados. Uma pro-
Acesse o vídeo-case de produção e da qualidade do va de que a tecnologia pode, sim, Criada em 2020, a ca-
O diretor presidente da Lar, Irineo da Costa
produto. “De quebra, reduzimos ser sustentável e que o homem Acesse o vídeo-case Rodrigues, concorda. “Nosso projeto de inter- tegoria “Influenciador
custos e nos tornamos mais com- pode viver em harmonia com a Coop” homenageia per-
cooperação trouxe o ganho de escala que o
petitivos no mercado, entregan- floresta, aliando o aumento da sonalidades que se des-
mercado exigia. A Copagril continua com seus
do um melhor preço aos coope- produtividade com a preservação taquem na divulgação
associados, e é sócia da Lar apenas no segmen-
rados e aos consumidores”, avalia do meio ambiente. de conteúdos positivos
to da avicultura — uma parceria muito positiva
para as duas cooperativas e para os seus asso- sobre o coop — em pro-
ciados. Juntos, estamos crescendo, dividindo duções publicadas ou
custos e nos tornando mais competitivos.” replicadas nas mídias on
e off-line. As indicações
dos candidatos foram
feitas pelos sistemas es-
taduais. ■
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Dados Ego

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