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Tendências

QUE IMPACTAM O
COOPERATIVISMO
Com características aderentes à nova economia,
as cooperativas têm tudo para crescer e se tornarem
protagonistas em seus mercados. Conheça as
estratégias que podem ajudar a sua cooperativa!
CONTEÚDOS

1. Introdução
2. Contexto: a revolução digital é agora!
3. Fortaleza das cooperativas
4. Tendências nos ramos
do cooperativismo
5. Desafios da gestão: inovação,
diversidade, velocidade e olhar
para o futuro

6. Conclusão

Os e-books InovaCoop trazem as reflexões sobre os


temas que discutimos nos nossos últimos blogposts e
temas complementares com conteúdos afins. O formato
pdf é para que você possa salvar, compartilhar e acessar
sempre que quiser, mesmo se estiver off-line.

Este e-book resgata parte dos conteúdos abordados nos


seguintes blogposts:

●● 9 tendências de inovação para o cooperativismo


em 2021

●● Agricultura digital: inovação para os produtores rurais

●● 7 tendências de inovação no cooperativismo


de transporte

●● Como novas tecnologias impactam o cooperativismo


de saúde

●● Como o open banking impacta o cooperativismo


de crédito

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1. INTRODUÇÃO
Seria preciso muito esforço para procurar e encontrar
um segmento da economia que, devido à inovação e à
tecnologia, não esteja passando por transformações
severas em seus modelos de funcionamento. Ainda assim,
o risco de não encontrar é muito grande.

Com o cooperativismo não é diferente. O desenvolvimento


e a disseminação de modelos de inovação aplicáveis aos
mais diversos ambientes têm - há já alguns anos - mudado
a forma como as cooperativas se relacionam entre si, com
o mercado, com cooperados e com seus colaboradores.

Prova disso são os resultados de um estudo recente do


Sistema OCB sobre inovação no cooperativismo. Para as
474 pessoas que responderam a pesquisa, a importância
da inovação para o cooperativismo é expressiva.
Os respondentes precisavam classificar a inovação
de 0 a 10, sendo em que ‘0’ é ‘nada importante’ e ‘10’
é ‘muito importante’. As notas mais elevadas (10 e 9)
concentraram 84% das respostas, enquanto as notas
de 0 a 4 nem foram citadas.

Além disso, 4 em cada 5 cooperativas participantes


da pesquisa (84%) declaram já ter a inovação como
parte do planejamento estratégico. E a maior parte das
cooperativas participantes do estudo, o equivalente
a 2 em cada 3 delas, já tinha projetos de inovação antes
da Covid-19.

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De maneira geral, a busca das cooperativas é similar
à das empresas mercantilistas. Ou seja, o que se almeja
é incrementar a competitividade por meio da melhoria na
capacidade de produzir e fazer negócios. E como se não
bastasse, a pandemia de Covid-19 que colocou o planeta
em isolamento intensificou ainda mais essa busca, incutindo
novos elementos a serem considerados para a estratégia
e a gestão dos negócios das mais variadas naturezas.

De acordo com artigo publicado pela McKinsey,


passaremos por uma transição ao longo de 2021, rumo
ao chamado “novo normal”. A aposta da consultoria
é de que as expressões pré-Covid-19 e pós-Covid-19
venham a se assemelhar, no futuro, às referências pré
e pós grandes guerras.

Dentre os pontos de destaque elencados no artigo,


chama a atenção o ganho de produtividade decorrente
da intensificação de uso dos meios digitais, a chamada
Quarta Revolução Industrial. Entre o primeiro e o
segundo trimestres de 2020, a produtividade média nos
Estados Unidos cresceu 10,6%. Do segundo ao terceiro
trimestre foi observado um novo crescimento, de 4,6%.
Trata-se, portanto, da melhora mais significativa desde
1965, conforme análise da McKinsey.

Em paralelo, a mesma McKinsey afirma que agora as


empresas têm três vezes mais probabilidade do que antes
da crise de conduzir pelo menos 80% das interações com
consumidores por meios digitais.

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Se, apesar do início das vacinações, os indícios de
saída da crise causada pela pandemia ainda são
tênues, uma certeza já pode ser ventilada. O que
manteve as empresas - cooperativas inclusive
- respirando durante o auge da crise foram
as tecnologias digitais. E o que vai permitir às
organizações continuar existindo e crescendo será a
capacidade de se reinventar tanto no meio eletrônico
quanto no off-line. Para isso, é imperativo ajustar o
foco para as estratégias de inovação e ficar antenado
às tendências que pautam o comportamento do
consumidor e a eficiência geral da cadeia produtiva.

A partir de agora vamos conferir as principais


tendências que têm pautado a definição de
estratégia das organizações ao redor do mundo.
Vamos olhar juntos para as possibilidades de
evolução do nosso modelo de negócio. Absorver esse
conhecimento irá ajudar a tornar nosso segmento
cada vez mais competitivo e, dessa maneira, ajudar a
transformar o planeta a partir de princípios e valores
como os do cooperativismo.

Boa leitura!

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O boom de inovação que vivemos atualmente teve início
com a revolução digital. Por isso, procurar entender as
suas principais tecnologias e como algumas cooperativas
têm utilizado estas novas ferramentas é, certamente,
o primeiro passo para nos aprofundarmos nos impactos
da inovação em cada ramo do cooperativismo.

Vamos começar pela digitalização de processos. Este


é um dos primeiros passos da transformação digital
e uma tendência que surgiu já há algumas décadas. Ainda
assim, é um movimento que se encontra em curso e que
tem promovido avanços relevantes em diversas frentes.
Mais recentemente, a pandemia provocou a aceleração
de alguns desses processos, que foram digitalizados
praticamente do dia para a noite. No cooperativismo,
alguns exemplos que podemos citar são a associação
digital e a realização de assembleias digitais.

Este é um movimento que é chamado de independência


de localização. Ou seja, não importa onde o cooperado
ou o cliente esteja para a experiência ocorrer. Podemos
citar ainda iniciativas como a associação digital, do
Sicoob, que usa tecnologia para os processos de
aquisição e onboarding dos novos cooperados. Outro
exemplo são as iniciativas de telessaúde. A migração para
o ambiente digital foi o que viabilizou, também, o trabalho
remoto nas cooperativas.

De fato, a tecnologia já é uma realidade no


cooperativismo. A pesquisa sobre inovação do Sistema
OCB, citada na introdução deste e-book, mostra
que os investimentos em tecnologia estão presentes
em 53% das cooperativas. E uma das tecnologias
mais promissoras atualmente é o uso da inteligência
artificial. Vamos entender.

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Máquina que aprende
e resolve problemas
A inteligência artificial é, na verdade, a combinação de
tecnologias para simular capacidades humanas ligadas
à inteligência. Na prática, isso permite, por exemplo,
a aprendizagem a partir da análise de uma grande
quantidade de dados, podendo ser útil desde
o atendimento ao cliente à otimização de transações
em uma rede, por exemplo.

A Integrada Cooperativa Agroindustrial se associou ao Hub


de Inteligência Artificial do Senai do Paraná para implementar
o uso da tecnologia em seus processos. A ideia inicial era
resolver gargalos na cadeia produtiva da cooperativa.

O primeiro ponto atacado foi o da evasão de cooperados,


o que foi endereçado a partir da análise de dados
de distanciamento gradual dos cooperados até o
desligamento total. Além disso, a cooperativa tem
trabalhado para otimizar o controle de fraudes e analisar
áreas agricultáveis a partir de fotos de satélite.

A Cocamar, por sua vez, tem aplicado a inteligência


artificial para classificar grãos de soja. Para tanto,
também em associação ao Senai do Paraná, foi
desenvolvido um equipamento capaz de capturar imagens
dos grãos, extrair informações e gerar um algoritmo
capaz de monitorar o nível de acidez e concentração
de clorofila nos grãos.

A Unimed Grande Florianópolis implantou o Robô Laura


nas unidades de internação e cirúrgica. Agora,
o monitoramento dos pacientes é feito continuamente,
com emissão de alertas para os profissionais no caso
de anormalidades. Com isso, os casos de piora clínica
do estado de saúde dos pacientes são diagnosticados
previamente, aumentando as chances de sucesso no
momento da intervenção médica.

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Fora do cooperativismo, uma empresa que levou a
inteligência artificial a outro patamar foi o gigante
varejista chinês Alibaba. Isso porque a partir do uso das
tecnologias digitais, especialmente a inteligência artificial,
o Alibaba consegue coordenar em tempo real uma
complexa cadeia varejista.

No livro “Alibaba: Estratégia de Sucesso”, Ming Zeng, um


alto executivo do gigante chinês, explica a importância
da tecnologia na estratégia do Alibaba:

O Alibaba é o que se obtém quando todas as funções


associadas ao varejo são coordenadas on-line numa
rede ampla alimentada por dados de vendedores,
anunciantes, prestadores de serviços, empresas de
logística e fabricantes. Em outras palavras, o Alibaba
faz o que Amazon, eBay, PayPal, Google, FedEx, todos
os atacadistas e uma boa porção dos fabricantes
dos Estados Unidos fazem, com uma pitada saudável
do setor financeiro como guarnição. Mas ele não
cumpre todas essas funções sozinho. O Alibaba
usa a tecnologia para atrelar e coordenar o esforço
de milhares de empresas chinesas para criar um
ecossistema de negócios muito diferente e nativo da
internet (fundado e operado primariamente on-line)
que é mais rápido, mais inteligente e mais eficiente do
que as infraestruturas tradicionais do comércio.”

O interessante do depoimento acima é notar como a


tecnologia não apenas melhorou o negócio, ela gerou
algo completamente novo. No caso do Alibaba, que
nasceu nativamente digital em todos seus elos, nem
mesmo a comparação com a Amazon é adequada, na
visão do autor do livro.

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“Como alto executivo do Alibaba, conheci muita gente
que vê a empresa como o maior varejista do mundo ou
a Amazon da China. Essa impressão, além de errada,
também obscurece o modelo de negócio inovador do
Alibaba e a janela que abre para a evolução do cenário
econômico. Ao contrário da Amazon, o Alibaba nem
mesmo é um varejista no sentido tradicional; não
adquirimos nem mantemos estoque, e o serviço de
logística é realizado por fornecedores externos”,
afirma Zeng.

Como veremos mais adiante, estas novas tecnologias


abrem janelas não apenas para os diferentes ramos do
cooperativismo ganharem eficiência, mas também para
reinventarem completamente seus modelos de negócio.
Mas, antes, vamos abordar outras tecnologias inovadoras
que as cooperativas precisam ficar atentas:

Realidade Virtual (RV) e


Realidade Aumentada (RA)

Enquanto a RV cria um ambiente virtual que permite a


imersão completa do usuário, a RA integra elementos
virtuais ao mundo real. Ambas têm aplicações diversas
capazes de transformar a experiência de consumo e de
treinamentos para cooperativas.

Big Data/Analytics

O uso de Big Data e Analytics está bastante relacionado


à inteligência artificial. Afinal, é a análise e interpretação
de grandes volumes de dados que proporciona insights
que auxiliam na tomada de decisões em cooperativas.

Assim, as cooperativas e outras organizações são


capazes de adotar uma postura data driven. Ou seja,
em que as decisões são tomadas com base em dados e,
portanto, tendem a ter um nível maior de assertividade.

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Automação

Ao automatizar processos as cooperativas tendem a


ganhar em produtividade deixando as tarefas operacionais
repetitivas para as máquinas e redirecionando as pessoas
para a gestão dos processos automatizados e tarefas mais
estratégicas e táticas.

Uma cooperativa que se beneficiou da automação é a


Lar Cooperativa Agroindustrial. Ao instalar sensores
para automatizar os pedidos de ração na avicultura, a
cooperativa passou a obter economia, já que não há mais
o risco de falta de alimentação adequada para a criação, pois
o processo de solicitação anteriormente usado era manual.

Plataformas e ecossistemas
de negócios digitais
No tópico anterior, entendemos algumas tecnologias
inovadoras e como elas podem garantir mais eficiência
aos negócios. Mas elas podem ir além da inovação
incremental e causar disrupções em setores inteiros.

É o caso do modelo de negócios baseado em plataformas,


que está revolucionando a organização do mercado nos
mais diversos segmentos econômicos. Num resumo
bastante breve, podemos dizer que a oferta de uma
plataforma extrapola o produto. As plataformas mais
desenvolvidas e complexas, inserem o consumidor em
um ecossistema de negócios, ou seja: diversas empresas
e tecnologias conectadas entre si.

Assim, as plataformas não ficam


restritas à sua própria capacidade
de produção, mas são capazes de
agregar valor a partir de parceiros
de integração. Veja, por exemplo,
o caso do Alibaba, que citamos
anteriormente: ele coordena uma
complexa rede varejista conectada
à sua plataforma.

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Outro exemplo é Google, que
oferece um apanhado de produtos
digitais - em sua maioria gratuitos
- e conecta um sem número de
empresas em seu ecossistema.
Em troca dos produtos e serviços
gratuitos, o Google captura dados,
que configuram o real valor da
plataforma. Os anunciantes veem
valor nisso e pagam ao Google, que tem
a função de manter o ecossistema vivo
e atraente para ambos os lados.

Os autores Magaldi e Salibi, no livro “Gestão do Amanhã”,


categorizam esses negócios como uma nova economia.
Diferente da lógica tradicional focada no ganho de
escala por meio de controle de insumos e recursos, esse
novo modelo ganha escala por meio do crescimento da
demanda, com apoio das plataformas digitais e seus
“efeitos de rede”. O negócio cresce à medida que cresce
o número de participantes em sua rede.

Quanto maior a rede, maiores serão as interações,


mais valiosos são os dados gerados que podem
ser usados para aumentar as interações e gerar
mais valor à rede. Quanto maior o valor gerado,
maior a perspectiva de geração de receita a custos
decrescentes de captação de cliente e de manutenção
da rede. É o novo ciclo virtuoso da nova economia.”

Não é à toa, portanto, que as maiores empresas do


planeta ou nasceram como plataformas ou passaram
a se organizar como tal, caso do próprio Google, da
Amazon, da Microsoft, do Facebook e da Apple.

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Pelos exemplos na tela anterior, não pense que
a revolução das plataformas está restrita a alguns poucos
setores. Pelo contrário. Veja o que diz o livro “Plataforma:
A Revolução da Estratégia”, dos autores Parker, Alstyne
e Choudary, referências mundiais no assunto:

“Quase todo setor de atividade em que as informações


são ingrediente importante candidata-se à Revolução
da Plataforma. Incluem-se aí empresas cujo “produto”
é constituído por informações (como educação e
mídia), assim como qualquer outra que extraia valor do
acesso a informações sobre necessidades de clientes,
flutuação de preços, oferta e procura e tendências de
mercado - o que inclui quase todo tipo de mercado.”

Ou seja, todos os ramos do cooperativismo podem


ser afetados por este novo modelo de negócio.
E quando uma plataforma adentra em um setor, ela
muda toda sua dinâmica. E, em muitos casos, gera
distorções relacionadas ao monopólio dos dados e ao
poder excessivo da plataforma na intermediação das
transações, geralmente penalizando a ponta mais fraca
com baixa remuneração. É o exemplo de plataformas
de transporte urbano e entregadores, nas quais a
precarização do trabalho tem se tornado evidente.

Nesse sentido, surge uma oportunidade para as


cooperativas, o cooperativismo de plataforma.

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Plataformas com princípios cooperativistas

Como vimos, na mesma medida em que criam novas


oportunidades, as plataformas também trazem
problemas relacionados à monopolização de dados
e à precarização das relações de trabalho.

No meio cooperativista, no entanto, essas


questões não configuram problemas, pois a gestão
e a propriedade da plataforma são dos próprios
associados. Assim, o modelo de cooperativismo
baseado em plataformas explora os ganhos
exponenciais proporcionados pelo chamado efeito
de rede e ganha terreno em duas frentes: negócios
online e negócios locais. Um dos exemplos da primeira
modalidade é a Stocksy, cooperativa canadense de
fotógrafos que distribui seus produtos mundialmente.
Uma cooperativa de plataforma com atuação local é
a Up&Go, que faz intermediação de força de trabalho
em Nova York e, portanto, tem atuação local.

O Sicoob Central ES criou uma plataforma


cooperativa batizada de Ciclos para expandir sua
atuação, extrapolando o ramo de crédito para outras
áreas, como telecomunicações, energia limpa, planos
de saúde e um marketplace.

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A atuação em plataforma insere a cooperativa
num ecossistema que tem potencial para
incrementar sua capacidade de inovação e de
adoção tecnológica. Tais ecossistemas colocam
as cooperativas em contato com outros
players, melhorando a troca de informações
e experiências. É uma forma inteligente de
cultivar conhecimentos e competências sem
precisar ter todos dentro de casa.

A possibilidade chama a atenção de empresas


de todos os tipos e portes. Tanto que a McKinsey
estima que os ecossistemas tecnológicos
e baseados em plataforma - que hoje
correspondem a entre 1 e 2% da economia
mundial - vão abocanhar uma fatia de até 30%
dos negócios globais até 2025.

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Muitas competências e valores do
cooperativismo têm tudo a ver com
os ecossistemas de negócios digitais,
plataformas e inovação. São as fortalezas
das cooperativas para este novo cenário.
Vamos analisar algumas delas.

Intercooperação e
ecossistemas digitais
Vimos que os ecossistemas de negócios são basicamente
várias empresas conectadas e sincronizadas por meio
da tecnologia trabalhando, muitas vezes, de forma
cooperativa. E sabemos que isso tem tudo a ver com
o cooperativismo e um de seus princípios,
a intercooperação.

O cenário de mercado mais desafiador associado às novas


tecnologias disponíveis tem favorecido a exploração
deste sexto princípio do cooperativismo. E por mais que
as cooperativas ainda não tenham criado um ecossistema
digital complexo como os das big techs, muitas iniciativas
interessantes de intercooperação têm surgido.

Por um lado, essas sinergias entre as cooperativas


são melhor exploradas, resultando em ganhos de
produtividade e redução de desperdícios. Com a
intercooperação é possível, por exemplo, otimizar
processos de retaguarda (back office), como
administrativo, RH e mesmo, em alguns casos,
o próprio marketing.

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Este é o caso da Unium, iniciativa de intercooperação
que reúne Frísia, Castrolanda e Capal que proporcionou
um aumento de 20% no faturamento conjunto das
cooperativas nos segmentos de lácteos, suínos e trigo.
Com três anos de existência, a Unium tem faturamento
anual de R$ 7 bilhões.

Outro case que representa a tendência à


intercooperação, este do ramo de crédito, é o do Sicredi
Conecta, um marketplace que funciona como vitrine de
produtos e serviços para pequenos empreendedores e
já reúne mais de 20 mil cooperados.

A Unifop (Cooperativa de Trabalho e Saúde) se


beneficiou da intercooperação ao desenvolver sua
plataforma de telessaúde. Ao recorrer à Lyseon Tech
Cooperativa de Trabalho e Soluções Tecnológicas, teve
acesso não apenas à tecnologia necessária para os
atendimentos remotos, mas também ao treinamento
profissional necessário para operar a plataforma. Tudo
feito entre cooperativas.

O poder deste princípio do cooperativismo é tão grande


que o Sistema OCB lançou o CooperaBrasil, rede
nacional que ajuda a encontrar produtos e serviços de
cooperativas brasileiras.

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Foco no cliente e o interesse
pela comunidade
O interesse pela comunidade e pelo ser humano, algo
tão arraigado nos valores do cooperativismo, são meio
caminho andado para um dos segredos das empresas
inovadoras: o foco (obsessivo) no cliente.

O modelo tradicional pregava o desenvolvimento do


melhor produto possível como forma de conquistar o
mercado. Mais recentemente, com padrões de qualidade
já bem estabelecidos e segmentações de mercado
mais claras, o foco mudou para as pessoas. Ou, melhor
dizendo, para suas necessidades. Afinal, o cliente ganhou
poder de escolha com o advento da internet, que trouxe
possibilidades de consumo praticamente infinitas.

Colocar as pessoas no centro está no DNA do movimento


cooperativista e tem como foco melhorar as condições
de vida das pessoas. As cooperativas só tem à ganhar
liderando essa tendência que é apontada na pesquisa do
Gartner. Isso se confirma na pesquisa da OCB onde, 64%
das cooperativas afirmaram que inovaram justamente no
atendimento ao cliente.

Para ter o cliente efetivamente no centro das decisões,


as cooperativas devem empregar esforços para atender
suas necessidades e surpreendê-los positivamente.
Isso demanda conhecer bem e desenvolver um
modelo sistemático de relacionamento com o cliente,
que começa com o desenvolvimento das personas
de consumo, perfis cuja construção é baseada em
entrevistas com consumidores em potencial, mas que
se mantém ao longo de toda a jornada do consumidor.

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Dentro dessa tendência, alguns conceitos vão se
tornar cada vez mais populares, como é o caso do
Customer Centric (centrado no cliente), que, como
o próprio nome indica, coloca o cliente no centro de
todas as decisões estratégicas da cooperativa. Então,
para que isso se torne prática corrente na cooperativa,
alguns pontos são fundamentais. Dentre eles,
tornar-se um expert sobre o cliente da marca. Isso
significa conhecer suas características, necessidades
e dores, bem como as expectativas e o padrão de
comportamento.

A reboque dessa imersão no cliente vem o


mapeamento da jornada de consumo, com pleno
conhecimento desde a prospecção até o pós-venda.
Podemos dizer que o conceito de Customer Centric
tem como finalidade maior atender à CX (Customer
Experience, ou Experiência do Cliente) e conduzir ao
sucesso do cliente. Vamos ver um pouco mais sobre
esses dois conceitos.

Uma das ferramentas que ajuda na sistematização


do relacionamento com o cliente é a CX, que,
em resumo, se dedica a criar uma experiência de
consumo diferenciada e sobre a qual se baseia todo
o relacionamento com o cliente. Dessa maneira, a CX
contempla desde o momento em que o consumidor
conhece a marca, navega pelo site da cooperativa, faz
o primeiro contato e concretiza uma compra até toda
a gestão pós-compra, incluindo eventual prestação de
assistência técnica.

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Já o sucesso do cliente pode ser definido como o pleno
atingimento, por parte dos clientes, dos objetivos
determinados quanto ao uso do produto ou serviço
oferecido pela cooperativa. Por trás desse conceito está
o entendimento de que, ao se beneficiar plenamente da
oferta (produto ou serviço), o cliente obtém sucesso e,
logo, volta a consumir com a instituição responsável pela
satisfação. Esse conceito está pautado pela adequada
segmentação dos grupos de consumidores, bem como pelo
claro estabelecimento e gestão de expectativas, além do
acompanhamento criterioso das métricas envolvidas.

Organizações com valores e


propósito em primeiro lugar
A McKinsey, ao estudar o impacto da pandemia no
comportamento dos consumidores, tem notado uma
preocupação crescente com o que é, efetivamente,
essencial para a vida das pessoas. Dentre o rol de
pontos levantados, chama a atenção o da preferência
por trabalhar e consumir de organizações que não visam
exclusivamente o lucro, mas que tenham, acima de tudo,
propósito e valores bem definidos. Ou seja, exatamente
tudo que devem ser as cooperativas, que dessa maneira
contribuem para o desenvolvimento sustentável das
comunidades em que se inserem.

Para explorar essa vantagem natural do cooperativismo,


é preciso deixar os valores muito claros a partir da
comunicação que as cooperativas fazem de seus
negócios. É necessário, portanto, fazer com que as
pessoas que se interessam por consumir de organizações
sustentáveis saibam quais os valores que pautam a
atuação das cooperativas responsáveis por colocar os
produtos e serviços no mercado.

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O movimento SomosCoop é uma
das formas de comunicar sobre o
cooperativismo e identificar os negócios
cooperativos. Seu carimbo ajuda nessa
comunicação sobre como funciona o
modelo de negócio das cooperativas,
seus valores e relevância nas
comunidades. Ele tem sido usado cada
vez mais pelas cooperativas brasileiras.
Vale a pena conferir aqui.

Aprendizado constante:
a valorização da educação
O exemplo da comunicação ajuda a tornar mais evidente
a importância do aprendizado constante para as
cooperativas. É preciso que as cooperativas aprendam
a se comunicar melhor para usufruir de uma vantagem
competitiva que lhes é inerente.

Da mesma maneira que o desenvolvimento de novas


formas de se comunicar, outras tendências podem
ser incorporadas pelas cooperativas, o que evidencia
a importância da criação de mecanismos que
proporcionem a reciclagem contínua de conhecimento dos
colaboradores. E isso tem tudo a ver com o sexto princípio
cooperativista: educação, formação e informação.

É essa capacidade de aprender rápido e constantemente


que permitirá às cooperativas incorporar novos
processos, tecnologias, padrões e desafios, bem como
desenvolver soft skills diversas, tais como resiliência,
empatia, liderança, ética e colaboração.

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Há uma expressão em inglês para essa capacidade:
lifelong learning. Ou seja, aprendizado ao longo da vida,
remetendo ao fato de, para cooperativas ou no aspecto
individual, sempre ser oportuno aprender o que é novo.

Nessa linha, a autora de “Eu, você e os robôs”, Martha


Gabriel, reforça em seu livro que em tempos de tantas
transformações temos que ter agilidade nas ações frente
às mudanças. Ela afirma que:

Nesse contexto de aumento da incerteza,


o planejamento para o futuro passa a ser muito menos
importante do que a habilidade de estar preparado
para qualquer tipo de desafio que a mudança possa
trazer. Assim, em ambientes incertos, a principal
habilidade para se ter sucesso não é o ‘planejamento’,
e sim, o ‘preparo’: precisamos aprender a nos preparar,
mais do que planejar para o futuro.”

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Até aqui você pôde acompanhar e entender as tendências
e mudanças que afetam as organizações mundialmente,
inclusive as transformações ocasionadas pela pandemia.
Agora, vamos ver essas tendências de forma prática em
cada ramo, conhecendo alguns cases reais. Acompanhe!

SAÚDE:
tecnologia amplia atendimento

A tecnologia foi essencial para viabilizar consultas


médicas durante a pandemia por meio da telessaúde.
E cooperativas como a Unimed-BH conseguiram colocar
em prática projetos de atendimento remoto que estavam
sendo desenvolvidos há anos. Como resultado, a Unimed-BH
conseguiu reduzir em mais de 60% a movimentação em suas
unidades de Pronto Atendimento. Mais de 570 consultas
chegaram a ser realizadas num único dia, totalizando mais
de 14 mil consultas no total entre março e junho de 2020.
Mais de 12 mil clientes passaram por telemonitoramento
no mesmo período.

Na Central Nacional Unimed (CNU), a telemedicina


tem sido aliada em suas diferentes modalidades:
teleorientação, teletriagem, telemonitoramento e
teleconsulta. Entre março e junho de 2020, a célula
de atendimento a distância já havia realizado 1,4 mil
teleconsultas, feito 8,5 mil teleorientações, colocado
em telemonitoramento 3 mil beneficiários e outros
20 mil doentes crônicos.

A Unifop, por sua vez, conseguiu não apenas manter


as consultas, como ampliar sua base de atuação, já
que a localização geográfica de médicos e pacientes
deixou de ser um impeditivo. E fez isso por meio da
intercooperação, tendência já destacada neste e-book.
A Unifop criou sua própria plataforma a partir de uma
intercooperação com a Lyseon Tech Cooperativa de
Trabalho e Soluções Tecnológicas.

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Esses exemplos demonstram que o ano de 2020 foi
de reinvenção para o setor da saúde. Adaptar-se
para atender às medidas de isolamento social só
foi possível graças à tecnologia. E na saúde isso é
ainda mais significativo, pois se trata de um setor
com grandes barreiras culturais. Afinal, a medicina
é algo milenar, cheia de princípios e, principalmente,
regulamentações. Romper paradigmas neste contexto
não é algo simples.

E tudo indica que a telessaúde e a telemedicina vieram


para ficar. Uma publicação do Diário Oficial da União
(DOU), de 20 de agosto de 2020, que altera a Lei
nº 13.989, diz que a regulamentação da telemedicina
poderá ser feita pelo Conselho Federal de Medicina
(CFM) após o período de crise causada pelo novo
coronavírus. Portanto, tudo indica que a telemedicina
fará parte da saúde brasileira de forma definitiva.

Vale ressaltar que o crescimento desse serviço


tem sido exponencial. A startup Docway, por
exemplo, que tem como clientes Seguros Unimed,
Unimed Fesp, SulAmérica e outras, registrou
crescimento de 600% no faturamento em
2020. Ao longo do ano passado, foram
registrados mais de um milhão de
atendimentos na plataforma, sendo 35%
das consultas relacionadas à Covid-19.

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AGRO:
agricultura digital em expansão

A agricultura tem se beneficiado da tecnologia com a


adoção de drones, big data, gerenciamento de dados,
entre outras possibilidades. A finalidade do uso de
tecnologias digitais no campo é auxiliar os agricultores
em suas atividades.

Com isso, as decisões passam a ser baseadas em dados


reais, proporcionando mais previsibilidade à produção.
Além disso, possibilita a chamada agricultura de precisão,
com monitoramento da lavoura via satélite e drones, com
aplicação de inteligência artificial capaz de cruzar dados
e indicar ações a serem tomadas.

Dentre as possibilidades da agricultura digital estão


o mapeamento de áreas, a análise georreferenciada
de solo, a aplicação de insumos agrícolas com taxas
variáveis, a pulverização localizada e o uso de tecnologias
de plantio, irrigação e pulverização.

É com base nessas possibilidades que a Coopercitrus


disponibiliza o aplicativo Coopercitrus Campo Digital, que
proporciona aos cooperados acesso a serviços e a soluções
digitais como amostragem georreferenciada de solo, uso de
drones, plantio de precisão, dentre outros.

A exemplo da Coopercitrus, as cooperativas do ramo


agro precisam acompanhar a evolução do setor, que está
cada vez mais digitalizado. Uma pesquisa realizada pela
Embrapa em parceria com o Sebrae e o Inpe, que contou
com mais de 750 participantes entre produtores rurais,
empresas e prestadores de serviço, mostrou que 84%
dos entrevistados já utilizam pelo menos uma tecnologia
digital no processo produtivo.

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Além disso, o estudo mostrou que boa parte dos
produtores rurais que participaram da pesquisa já usa
aplicações a partir de sensores remotos e de campo,
eletrônica, aplicativos ou plataformas digitais para fins
específicos em uma cultura ou sistema de produção.
Segundo a pesquisa, 68% adquiriram e fazem uso de
tecnologia digital por conta própria; e 31% tiveram
acesso aos serviços por meio de terceiros, como
cooperativas e associações.

O pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária


(SP) e coordenador do estudo, Édson Bolfe, destaca um
número que mostra a tendência de alta da agricultura
digital: 95% dos produtores desejam mais informações
sobre o assunto.

“É a nova agricultura. Existe uma projeção para 2030


indicando que haverá uma intensa revolução no campo
e ela já começou”, comenta Francisco Severino, gerente
técnico corporativo da Cooperativa dos Plantadores
de Cana do Estado de São Paulo (Coplacana).
A cooperativa firmou parceria com a Embrapa
no fim de 2019 para inovar no modelo de
trabalho, melhorando a produtividade
e, consequentemente, a renda
dos produtores, com o uso de
tecnologia blockchain e soluções
em sensoriamento remoto.

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CRÉDITO:
open banking estimula a inovação

Não há dúvidas de que a tendência mais promissora para


o ramo crédito é o open banking, que está movimentando
também as instituições bancárias mercantilistas. Trata-se
de uma tendência internacional que foi colocada em pauta
no Brasil pelo Banco Central como forma de aumentar
a competitividade em produtos e serviços financeiros,
além de proporcionar mais autonomia aos clientes com
relação à sua vida financeira. A expectativa é que o open
banking esteja completamente disponível no Brasil ao
longo de 2021.

Na prática, o open banking é um conjunto de regras


e de tecnologias que permitem compartilhar dados de
clientes entre as instituições. O grande diferencial é que
o consentimento do usuário é elemento imprescindível
para qualquer operação dessa natureza. Assim, cada um
pode adotar o open banking conforme suas necessidades
pessoais.

Dentre as vantagens, para os clientes, está a possibilidade


de fazer a portabilidade de seus produtos e serviços
financeiros conforme os benefícios oferecidos pelas
instituições. Para bancos, cooperativas de crédito e outras
instituições, a vantagem é acessar os dados e históricos dos
clientes para avaliar a concessão de crédito, por exemplo.
Ou seja, haverá uma redução à barreira de entrada no
segmento bancário.

Assim, os bancos tradicionais precisarão investir na


experiência do cliente, algo com o qual cooperativas e
fintechs já têm mais familiaridade. Tanto é que o Sicoob
já conta com uma plataforma para adoção da novidade,
que é tida como uma possibilidade adicional para acessar
serviços de forma prática.

29
Inclusive, o tópico “Plataformas e ecossistemas de
negócios digitais”, no segundo capítulo deste e-book,
tem impacto direto e aderência ao ramo crédito. Exemplo
disso são Alibaba, WeChat e as entradas de grandes
plataformas, como Amazon e Facebook, no mercado
de meios de pagamento.

CONSUMO:
e-commerce consolidado

A McKinsey acredita que o comportamento dos


consumidores mudou de forma definitiva a partir da
pandemia de Covid-19. Dentre as tendências listadas
pela consultoria, a que aparece em primeiro lugar afirma
que as compras migraram em definitivo para o ambiente
digital. Ou seja, a compra online chegou para ficar e essa
é uma realidade que as cooperativas, em especial as do
ramo consumo, não podem se dar ao luxo de ignorar se
quiserem se manter competitivas no novo cenário.

As compras online de algumas categorias de consumo,


como as de medicamentos e de supermercado,
cresceram mais de 40% devido ao isolamento social.
E os números de outros segmentos são igualmente
impressionantes:

Suprimentos domésticos: +38%

Produtos de cuidados pessoais: +38%

Itens de mobiliário: +30%

Itens esportivos: +28%

O movimento para o ambiente digital também


colocou em xeque, explica a McKinsey, a lealdade
dos consumidores às marcas. Até mesmo porque há
elementos a serem considerados para a decisão de
consumo, como eventual queda na renda, fechamento
de lojas e mudança de prioridades.

30
Dos consumidores pesquisados, 40% afirmaram
ter reduzido o gasto com itens não essenciais,
comportamento que pretendem manter após o fim
da pandemia. E mesmo o consumo de itens essenciais
registrou uma mudança, com maior preocupação
com preço. Ganharam espaço produtos mais populares
e com menor preço.

Como resultado da mudança nos hábitos de consumo,


36% dos consumidores têm experimentado novas
marcas, com 25% desses trocando pela nova marca.
No entanto, para mudar de marca, os consumidores estão
em busca de disponibilidade dos produtos, conveniência
e incorporação de valores.

Por isso, pensando na comodidade de seus cooperados


e clientes, a cooperativa de consumo Cooper criou um
e-commerce, chamado Minha Cooper, para oferecer a
opção de entrega. O cliente precisa acessar o site para
conferir a disponibilidade da filial e o frete é cobrado
conforme a região. No mesmo sentido, a Coop lançou
o app Sempre Coop, além do serviço Coop Retira.

No agro também temos exemplos nesse sentido, como


a Cocamar, que desenvolveu o Shopping Cocamar,
um e-commerce onde são oferecidos os produtos da
cooperativa. A iniciativa nasceu a partir do programa
de inovação Cocamar Labs.

Já no ramo crédito, o Ailos Aproxima é o marketplace


para empreendedores que nasceu dentro do Sistema
Ailos. Sua função é atuar como vitrine de produtos e
serviços para cooperados e empreendedores, facilitando
sua conexão com potenciais clientes. No Sicredi, com
apoio de startups, foi criado o Conecta, um marketplace
para todas as cooperativas do Sistema Sicredi e que
apoia o desenvolvimento de pequenos empreendedores.

31
TRABALHO, PRODUÇÃO DE BENS E SERVIÇOS:
vocação para cooperativismo de plataforma

As chamadas “plataformas enxutas” são aquelas com


um foco mais estreito de atuação. Geralmente elas giram
em torno de uma interação básica e suas variações -
por exemplo, a interação básica do Uber é o transporte
de passageiros e do Rappi é a entrega. Algumas destas
plataformas, devido a seu efeito na precarização do
trabalho, são popularmente chamadas de plataformas
de “bicos”.

E é justamente neste nicho em que o cooperativismo


de plataforma tem um terreno fértil para crescimento.
Se os prestadores de serviços destas plataformas
fossem seus cooperados, muitas distorções poderiam
ser equacionadas, resultando em: melhor remuneração,
prestadores mais satisfeitos e, consequentemente,
melhor qualidade do serviço. Isso sem contar uma
das principais características do cooperativismo: a
propriedade compartilhada. Já imaginou se os grandes
aplicativos distribuíssem o lucro a seus prestadores?

Outro ponto interessante é que estas plataformas


enxutas, diferentes de ecossistemas complexos
como Alibaba e Google, são mais viáveis de serem
desenvolvidas. Alguns exemplos de plataformas
cooperativas já existentes neste formato são a Up&Go
(Estados Unidos) e Stocksy (Canadá). A primeira, é uma
cooperativa de faxineiras; a segunda, de fotógrafos e
videomakers. Ambas têm como diferencial remuneração
acima da média do mercado, distribuição dos lucros ao
final do período, além, claro, da gestão e propriedade
compartilhadas.

No Brasil o cooperativismo de plataforma não está


totalmente desenvolvido, mas já existem iniciativas
como a do aplicativo de motoristas PODD.

32
TRANSPORTE:
tecnologia e inovação para superar
os obstáculos do setor

Historicamente, o setor de transporte enfrenta dois


grandes desafios: o peso dos custos na composição
dos fretes, que chega a 28% do custo do produto,
e a segurança nas operações de transporte. Por isso,
o investimento em tecnologia e inovação nunca foi
tão forte nas cooperativas que fazem parte do ramo
transporte. Tudo visando a tornar fretes e viagens cada
vez mais econômicos e eficientes.

Por outro lado, hoje vemos uma abundância de


tecnologias que podem contribuir justamente para tornar
o transporte mais eficiente. Dentre as tecnologias que
têm sido utilizadas estão: big data, analytics e inteligência
artificial. O entendimento é de que esses recursos são
capazes de extrair dados e processar informações que
proporcionem redução de custos com os equipamentos
a partir da interpretação do comportamento dos
motoristas e de seus hábitos ao volante. Outra
possibilidade aventada por essas tecnologias é a da
manutenção preditiva. Ou seja, antes que os problemas
de fato ocorram e gerem situações de insegurança ou até
mesmo acidentes.

A correção de maus hábitos ao volante ganha um aliado


importante com a crescente possibilidade de realizar
entregas autônomas, com uso de veículos não tripulados.
Embora ainda distante da realidade, essa é uma das
grandes promessas para revolucionar o transporte
de passageiros e cargas em todo o mundo. No Brasil,
em Minas Gerais, a Scania tem feito alguns testes de
extração de minério com caminhões não tripulados.

33
Recurso já mais difundido no setor de transportes é o
acompanhamento em tempo real dos fretes, com cada
vez menos interferência humana devido à ampla adoção
de IoT (Internet of Things, ou Internet das Coisas, em
Português). Com os próprios veículos se conectando à
internet, sua localização é comunicada em tempo real
para os contratantes de frete. Não é à toa, portanto, que
os investimentos em IoT para a logística vão chegar à
casa de US$ 10 bilhões, em 2022.

Com isso, a expectativa é de que sejam resolvidos


também os principais gargalos existentes na last mile.
Ou seja, na última perna da entrega para o cliente final,
momento sensível especialmente nas operações de
e-commerce.

Outra tendência cada vez mais consolidada é a de


robotização de galpões logísticos, com previsão de
investimentos da ordem de US$ 22,4 bilhões ainda em
2021. Tudo porque 54% dos executivos e gerentes de
operações acredita que esses autômatos são capazes
de melhorar a produtividade em logística até 2025.

Dentre as oportunidades em modelos de negócios


em logística a mais difundida é, certamente, a de
MaaS (Mobility as a Service), que propõe a entrega do
transporte sem a necessidade de possuir o veículo. Com
isso, empresas e passageiros - especialmente em centros
urbanos - conseguem usufruir apenas do benefício da
locomoção ou transporte, com redução de custos e
otimização de processos.

Nesse sentido, uma das iniciativas é a PODD (Pay


on Demand), da Coopertran, que propõe tornar os
motoristas de aplicativos como o Uber em cooperados,
valorizando o profissional e proporcionando segurança
à modalidade.

34
INFRAESTRUTURA:
eficiência energética e democratização
do acesso

A Agenda 2030 da ONU para o Desenvolvimento


Sustentável conta com 17 itens, sendo que um deles,
o de número 9, se dedica às ações em infraestrutura.
As premissas são a construção de infraestruturas
resilientes, capazes de promover a industrialização
inclusiva e sustentável, além de fomentar a inovação.

Então, o entendimento é de que os investimentos em


infraestrutura são capazes de proporcionar condições
básicas para o crescimento econômico e o desenvolvimento
das nações. Isso passa, dentre outros tópicos, pela
produção de energia renovável, processos eficientes de
distribuição de energia elétrica e promoção de eficiência
energética no consumidor final, com democratização do
acesso aos benefícios gerados por essa infraestrutura,
garantindo energia de qualidade a um preço justo.

A expectativa é de valorização da produção de energia


renovável com atributos benéficos ao setor, e de
forma descentralizada. Inclusive, a busca por eficiência
econômica, constante nas cooperativas, ganhou um
aliado: o Mercado Livre de Energia. A economia para o
consumidor final é estimada em aproximadamente 10%.

Com a reorganização dos ramos, o ramo infraestrutura


ficou mais diverso, contemplando oito segmentos: água
e saneamento, construção civil habitacional, construção
civil comercial, desenvolvimento, distribuição de energia,
geração de energia, irrigação e telecomunicações.
Ao todo, a construção civil habitacional possui o
maior número de cooperativas do ramo (77), obtendo
participação de 30% no setor. As cooperativas de
distribuição de energia, por sua vez, são responsáveis
por uma parcela de 26% do ramo.

35
Segundo o Anuário do Cooperativismo Brasileiro,
do Sistema OCB, o ramo vem evoluindo com a
incorporação de novas iniciativas, como a prestação
de serviços de telecomunicações. Dessa forma,
a atuação variada das cooperativas reflete bem o papel
do cooperativismo que é atender às necessidades e
buscar soluções para seus cooperados e comunidade.

Vale lembrar que, em 2020, o ramo se beneficiou


da aprovação de duas leis: a 14.109, que trata da
utilização de recursos do Fust para conectividade rural;
e a 14.108, sobre desoneração da internet das coisas.
As novas legislações garantem um ambiente favorável
para o avanço da conectividade rural, considerando
que um dos grandes empecilhos para a implantação
de infraestrutura de internet no campo era justamente
o fomento a projetos com essa finalidade, por meio
de financiamentos com custo acessível.

Com o incentivo a diferentes arranjos produtivos


para essa atividade, as novas legislações vão
estimular consequentemente o fortalecimento
das cooperativas de telecomunicações, além da
possibilidade de intercooperação para cooperativas
agropecuárias, de infraestrutura e de crédito,
sempre com o foco na melhoria da qualidade de vida
do cooperado. Arranjos que permitam uma inclusão
digital nas mais distantes comunidades, onde se abre
um novo horizonte para o desenvolvimento.

36
Você, leitor do InovaCoop, já sabe que a inovação
não é fruto de atos isolados, pois demanda esforços
sistemáticos para gerar resultados. Na prática, é
necessário criar mecanismos para estimular, coordenar
e medir resultados de ações visando à inovação. Ou seja,
colocar a gestão da inovação a serviço das cooperativas.

Mais do que nunca, a gestão da inovação se mostra


necessária nos tempos atuais, em que várias
organizações tiveram que se reinventar. Muito do que
vimos neste ebook são resultados de um processo de
gestão da inovação maduro e estruturado.

Nesse sentido, listamos tendências que estão no cerne


dessa questão e que têm a capacidade de mudar o jogo
da atuação das cooperativas em todos os ramos.

Programas de inovação
Cada vez mais os programas de inovação têm se
popularizado como forma de colocar as cooperativas
como protagonistas da nova economia. Um dos
principais motivos é o fato de os programas de
inovação criarem ambientes separados da operação,
sendo possível desenvolver novos modelos de negócio,
novos processos operacionais, produtos e serviços
diferenciados, processos de melhoria contínua etc.

Dentre os benefícios dos programas de inovação


está o estímulo ao intraempreendedorismo. Ou seja,
a transformação da cooperativa de dentro para fora.

Ao apartar o ambiente experimental da operação, esses


programas proporcionam segurança ao processo como
um todo, mitigando riscos de compliance e governança,
e abrem caminho para a criação e consolidação da
cultura de inovação dentro das cooperativas. Mais do

38
que isso, a separação entre os processos correntes e a
inovação no primeiro momento evita que as iniciativas sejam
influenciadas por qualquer viés do negócio. O resultado é
uma maior liberdade para desenvolver e aprender com as
experimentações propostas pelos programas de inovação.

Há diversas possibilidades para criar esses programas,


desde criar espaços para a proposição de ideias,
envolvendo ou não os clientes, até o lançamento de
desafios restritos aos colaboradores ou abertos ao
mercado, com a convocação de startups. O foco é, em
geral, na criação e estabelecimento de relações de ganho
mútuo entre os envolvidos.

Em diversos ramos do cooperativismo não faltam exemplos


de programas de inovação já implementados e com
resultados positivos para mostrar. Alguns exemplos são:

Agro:

Coplacana, com o Avance Hub

Frísia, com o Digital Agro Coonection

Cocamar, com o Cocamar Labs

Saúde:
Unimed VTRP, com o Hub Vibee

Unimed do Brasil, com o Unimed Lab

Unimed Regional Maringá, com o Programa de Ideias

Unimed BH, com o Movimento Juntos Inovamos

Crédito:
Sistema Ailos, com o InPulse Ailos

Sicredi, com o Inovar Juntos

Sicoob Unicoob, com o Missão 21

Sicoob Empresas RJ, com o Plataforma.Space

39
Diversidade e inclusão
As cooperativas que desejam inovar precisam ter
em mente que inovação e diversidade andam juntas.
Na verdade, vai além disso. O artigo “Diversidade:
inclusão ou estratégia?”, da Harvard Business Review,
mostra que a diversidade favorece a inovação.

O estudo mostra que cerca de 76% dos funcionários


de organizações preocupadas com diversidade
reconhecem que há espaço para expor ideias e inovar
no ambiente de trabalho. Por outro lado, em empresas
onde a diversidade não faz parte da agenda, esse valor
cai para 55%.

Da mesma maneira, quando os colaboradores percebem


a diversidade presente dentro da organização, eles
se sentem mais motivados, diz o artigo. Logo, entendem
que empenhar esforços resulta em ganho para
a companhia e para seu desempenho individual.
Em empresas reconhecidas pelo incentivo à diversidade,
os funcionários são 17% mais engajados e dispostos
a ir além de suas responsabilidades formais.

Além disso, a diversidade e a abertura a diferenças


reduzem conflitos que impactam na produtividade e na
eficiência. Assim, a incidência de conflitos chega a ser 50%
menor em organizações que investem em diversidade.

Outro motivo, até bastante evidente, é que a inovação


pressupõe soluções de problemas reais. E somente é
possível entender e endereçar tais problemas quando
a realidade da população está refletida no quadro
de profissionais da cooperativa, em todos os níveis.
Portanto, se deseja inovar, abrace a diversidade para ser
mais eficiente e obter sucesso nas iniciativas.

40
Gestão ágil e velocidade
organizacional
Não é segredo para ninguém que esteja no mundo dos
negócios que a velocidade é um fator determinante
para o sucesso de uma organização. Afinal, em muitos
segmentos de mercado impera a máxima do “winners
takes all”, ou “o primeiro leva tudo”. Em cenário
assim, resta aos demais competir para conquistar os
consumidores que sobraram ou visar o pioneiro como o alvo
a ser combatido. O resultado é que as estratégias acabam
sendo pautadas também pelo que o líder de mercado faz,
o que pode trazer limitações à estratégia da cooperativa.

Então, investir em ganho de velocidade operacional e na


tomada de decisão é estratégico para a competitividade
das cooperativas. E não estamos sozinhos ao afirmar
isso. A McKinsey afirma que “a velocidade organizacional
é um ingrediente essencial para um desempenho superior
em um período de mudanças” e indica três caminhos
para criar uma cultura baseada em velocidade e, assim,
ganhar em lucratividade, resiliência operacional, saúde
organizacional e potencial de crescimento:

Desenvolver mecanismos para


1 uma tomada de decisões mais rápida;

Melhorar a comunicação
2
e a colaboração internas;

3 Aumentar o uso da tecnologia.

Um dos passos mais importantes - talvez o primeiro


- no sentido de ganhar velocidade executiva é
entender e incorporar o universo da gestão ágil. São
técnicas, metodologias e conceitos que proporcionam
transparência, autonomia e compartilhamento da tomada
de decisão e que, não por acaso, são recorrentes entre os
programas de inovação que citamos anteriormente. São
metodologias como Scrum, Design Sprint, Lean, Smart
e Kanban, com ferramentas como Trello, Asana, Google
Drive e Slack, entre outras.

41
A gestão ágil dissemina a importância da
velocidade organizacional por toda a cooperativa,
independentemente do ramo, criando um senso
de urgência entre os colaboradores que permite
a mudança rápida de direção. Este é o tipo de
embasamento que deu suporte à criação das frentes
de telemedicina em cooperativas de saúde quando
do início da pandemia, por exemplo.

Olhar para o futuro


Outro desafio de gestão é a capacidade
de experimentar novos futuros possíveis,
tendo flexibilidade para se adaptar a
novos cenários e rotas, a exemplo do que
ocorreu durante a pandemia. Em artigo
publicado no Linkedin, Dagoberto Trento,
gerente de Estratégia e Inovação do Sicredi, afirma
que esse novo modelo de executar a estratégia passa
pelo processo da experimentação:

“A partir da jornada de experimentação, onde a


organização se prepara para que todos os caminhos
possíveis sejam acolhidos, em detrimento ou não de
outros, a trajetória poderá, naturalmente, apresentar
outro(s) futuro(s) diferente(s), mais agregador(es)
e satisfatório(s) do que aquele inicialmente previsto.
E a organização, e quem a lidera, deve ter a sensibilidade
de perceber as sutilezas e ter a coragem, energia
e celeridade para executar o futuro possível que melhor
se adeque à sua estratégia. Mas como perceber? Simples:
no cenário da experimentação de futuros possíveis,
a oportunidade de agregar mais valor tem mais força que
a execução pré-estabelecida (presente).”

42
No livro “Gestão do Amanhã”, Magaldi e Salibi
sugerem que as organizações tenham um motor
de crescimento voltado para redesenho do próprio
negócio. Segundo eles, desenvolver um motor de
crescimento orientado a garantir a geração de
resultados financeiros no curto prazo com outro
motor destinado à geração de resultados no futuro
é uma estratégia que contribui para que a
organização se prepare para o novo sem abrir mão
dos recursos do presente.

Dessa forma, é como se a organização atuasse com


dois focos: 1) na operação atual, em que, além de muita
disciplina, é preciso apostar em melhoria contínua nos
processos e monitoramento constante na redução de
riscos para a operação, sobretudo os financeiros; e 2)
no futuro, em que se espera uma gestão baseada na
agilidade, maior propensão ao risco, originalidade
e uma estrutura financeira específica.

Os autores vão um pouco além e afirmam que essa


nova mentalidade deixa duas claras opções de
sobrevivência para as organizações: autodestruir-se
ou ser destruído por terceiros. Sinalizando, assim,
a importância de acompanhar as mudanças
e reinventar os negócios.

43
Ao longo deste livro digital procuramos, além de pontuar
as principais tendências e a forma como elas influenciam
os negócios, trazer cases que mostrassem os impactos
práticos no ambiente das cooperativas. Dessa maneira,
podemos tirar duas conclusões principais, pelo menos.

A primeira é a de que as tendências afetam igualmente


tanto as empresas mercantilistas quanto as
cooperativas. Por disputarem o mesmo mercado, as
organizações estão sujeitas às mesmas demandas por
parte dos consumidores e contam com as mesmas
possibilidades tecnológicas e de conceitos.

A segunda conclusão é a de que não existe uma fórmula


pronta que possa atender a todos os casos de forma
igualitária. Cada cooperativa citada desenvolveu uma
forma única de absorver e aplicar os conceitos que
têm pautado os rumos do mercado. E essa talvez seja
a principal lição a ser aprendida não apenas com este
conteúdo, mas com os acontecimentos que têm se
desdobrado ao longo do último ano.

Ao encontrar uma maneira própria de inovar e colocar


continuamente em prática as inovações, as organizações
se tornam mais ágeis. Consequentemente, atingem um
nível elevado de adaptabilidade, inclusive para situações
impossíveis de prever. O exemplo mais claro nesse
sentido é a própria pandemia.

45
Não havia como uma organização estar preparada para
os desafios decorrentes de um desencadeamento de
acontecimentos como o que observamos desde que
a doença se alastrou. Levou algum tempo até que o
próprio comportamento do vírus pudesse ser entendido
e, ainda assim, cada governo ao redor do mundo lidou
com a questão de uma maneira.

Logo, somente puderam sobreviver as organizações


que já estavam prontas para a mudança, qualquer que
fosse a direção para a qual ela apontasse. Então, tornar
as organizações mais ágeis e flexíveis para se adaptar
rapidamente às mudanças futuras é, sem dúvida, um dos
desafios para continuar em linha com essa e as próximas
tendências que se desenharem no ambiente de negócios.

Mais uma vez, a maneira como as cooperativas têm


encontrado para ganhar agilidade e flexibilidade
são absolutamente únicas, embora a criação de um
programa de inovação seja uma constante dentre as mais
preparadas. Por isso, o primeiro passo é, certamente,
criar espaços, momentos e uma mentalidade preparada
para o debate, para o surgimento e a lapidação de ideias
que possam afetar positivamente o negócio.

E, acima de tudo, é imprescindível tomar decisões e


colocá-las em ação o quanto antes. Somente a partir
da experimentação as cooperativas vão desenvolver
o conhecimento necessário para saber o que as
aproxima ou afasta do ganho de competitividade.

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