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Efeitos renda e substituição: a equação de Slutsky

Dentro da teoria do consumidor, a chamada equação de Slutsky visa explicar como a


demanda do consumidor responde a variações dos preços.
Existem dois efeitos de uma variação dos preços sobre a demanda do bem:
1º Efeito (Efeito Substituição): Variação do preço de um dos bens  varia preços
relativos  varia taxa marginal de substituição entre os bens  varia demanda pelos
dois bens. (GIRO NA CURVA DE RESTRIÇÃO ORÇAMENTÁRIA)
Exemplo: Preço do bem 1 cai  bem 1 se torna relativamente mais barato  taxa
marginal de substituição cai  demanda do bem 1 aumenta e do bem 2 cai.
Efeito substituição: É a variação na demanda provocada pela variação da taxa a qual os
dois bens são trocados (taxa marginal de substituição).

2º Efeito (Efeito Renda): Variação do preço de um dos bens  varia poder aquisitivo
do consumidor  varia a demanda pelos dois bens. (DESLOCAMENTO DA CURVA
DE DEMANDA DO CONSUMIDOR)
Exemplo: Preço do bem 1 cai  aumenta poder aquisitivo do consumidor  aumento
da demanda pelo bem 1.

DIVIDINDO OS EFEITOS:
Gráfico Efeito total variação de preço sobre a demanda – Varian p. 144

Efeito Total – Equação de Slutsky

EFEITO SUBSTITUIÇÃO
Para analisar o efeito substituição, iremos deixar que os preços relativos variem e ajustar
a renda de modo que o poder aquisitivo permanece igual (reta ainda passa sobre a cesta
original). Assim, será possível isolar o efeito substituição sem considerar a variação da
demanda decorrente do efeito renda.
Redução do preço do bem 1  reta orçamentária gira para cima (reduz inclinação – fica
menos vertical)  inclinação da reta orçamentária varia (preços relativos se alteram) e
poder aquisitivo permanece constante (reta não se desloca).
Assim, considerando que os preços relativos mudaram após a mudança do preço do bem
1, a renda necessária para que a cesta original possa ser comprada aos novos preços
(mantendo o poder aquisitivo permaneça constante) é dada pela quantidade de consumo
original multiplicada pela variação no preço desse bem:
∆R = x1∆p1 (Fórmula da reta orçamentária girada)
Ou seja, se o preço do bem aumentou, a renda terá que aumentar para que a mesma
cesta continue sendo possível. Se o preço do bem diminuiu, a renda do indivíduo poderá
ser menor para adquirir a mesma cesta.
Obs.: O efeito substituição é a variação da demanda causada pela mudança dos preços
relativos e, logo, da taxa de troca de um bem pelo outro, deixando o poder de compra
inalterado. O efeito substituição pode ser chamado também de demanda compensada,
isto é, a variação da demanda pelo bem cujo preço variou, dados os ajustes necessários
na renda para que o indivíduo seja capaz de consumir a cesta original após a mudança
dos preços relativos (causada pela variação do preço de um dos bens).
No entanto, considerando a reta orçamentária girada, a cesta ótima a ser adquirida
provavelmente não será igual a original, pois aos novos preços relativos e à nova renda
monetária, a cesta ótima se dará no ponto em que a curva de indiferença mais alta
tangencia a reta orçamentária girada.
Assim, o efeito substituição será dado pela distância entre a cesta original e a nova cesta
ótima, indicando como o consumidor substitui um bem por outro quando o preço varia,
mas o poder aquisitivo permanece constante.  A nova cesta ótima irá conter mais
unidades do bem que ficou relativamente mais barato do que a cesta original continha.
Efeito substituição  ∆xs1 = x1(p1’, R’) – x1(p1, R)
Isto é, é a variação na demanda do bem 1 quando o preço do bem 1 muda para p1’ e a
renda muda para R’.
Sabendo-se a função demanda, basta substituir o novo preço e a nova renda para
calcular a nova cesta ótima do indivíduo, e então calcular a diferença em relação a cesta
inicial.

Ex.: x1 = 10 + R/10p1 (função demanda pelo bem 1)


R = 120
P0 = 3 por litro
x1 = x1 (3, 120) = 10 + 120/30  x1 = 14 litros

Se preço cai para P1=2 por litro, então:


Nova renda monetária:
∆R = x1∆p1 = 14 x (2-3) = -14
Logo: R’ = 106

Calculando a nova demanda pelo bem 1:


x1 (p’, R’) = x1 (2, 106) = 10 + 106/10x2 = 15,3
Calculando o efeito substituição (variação compensatória):
∆xs1 = x1 (3, 120) – x1 (2, 106) = 15,3 – 14 = 1,3

Ou seja, o indivíduo irá consumir mais 1,3 litros do bem 1 quando o preço desse bem
cai de p0 = 3 para p1 = 2. (Efeito substituição)

O efeito substituição sempre terá sinal oposto ao da variação dos preços, pois se o preço
do bem cai, a demanda pelo bem aumenta por causa do efeito substituição  Fica mais
barato consumir o bem em questão. Logo: EFEITO SUBSTITUIÇÃO NEGATIVO
(variação da demanda oposta à variação do preço).
EFEITO RENDA
Para analisar o efeito renda, iremos deixar que o poder de compra se altere, enquanto os
preços relativos serão mantidos constantes (inclinação constante).
Redução do preço do bem 1  reta orçamentária se desloca para cima  poder
aquisitivo varia (reta orçamentária se desloca), enquanto inclinação da reta orçamentária
permanece constante (preços relativos constantes).
O efeito renda ocorre pois quando o preço de um bem diminui, é possível comprar mais
unidades do bem (sem reduzir do outro bem), pois o poder aquisitivo do dinheiro
aumentou, mesmo a renda monetária continuando igual à inicial. O efeito renda irá
medir, então, apenas o impacto da mudança do poder de compra do indivíduo
(resultante da redução do preço de um dos bens), sem levar em conta o efeito da
mudança dos preços relativos (que já foi mensurada pelo efeito substituição).
O efeito renda, ∆xr, é a variação da demanda do bem 1 quando variamos a renda de R1
para R0 (renda monetária igual a inicial – reta orçamentária se desloca para ficar com o
mesmo intercepto vertical que a reta inicial (mas como o preço do bem 1 caiu, o poder
de compra desse dinheiro aumentou)) e mantemos o preço do bem 1 constante em p1’
(inclinação da reta igual à inclinação da reta ajustada aos novos preços relativos). Ou
seja, é a variação na demanda resultante de uma variação na renda de R1 para R0 (renda
inicial), mantendo-se os preços em seus novos valores (p1’, p2).
∆xr = x1 (p1’, R) – x1 (p1’, R’)
Isto é, a variação na demanda pelo bem quando a renda volta a ser igual à inicial e o
preço permanece constante ao novo valor p1’. Mede, então, apenas o efeito da mudança
do poder de compra do consumidor dado o novo preço p1’.

Ex.: Considerando o exemplo anterior:


∆xr = x1 (p1’, R) – x1 (p1’, R’)

x1 (p1’, R) = x1 (2, 120)  x1 = 10 + R/10p1  x1 = 10 + 120/ 10x2  x1 = 16


x1 é a demanda pelo bem 1 ao novo preço p1’ e à renda inicial R.

x1 (p1’, R’) = x2 (2, 106) = 10 + 106/ 10x2 = 15,3


x2 é a demanda pelo bem 1 ao novo preço p1’ e à nova renda R’.
Logo: ∆xr = = x1 (2, 120) – x1 (2, 106) = 16 – 15,3 = 0,7
Ou seja, o indivíduo irá demandar mais 0,7 litros do bem 1 aos novos preços quando a
renda do indivíduo aumenta voltando ao seu valor original (de R’ para R).

O sinal do efeito renda poderá ser positivo ou negativo:


Bem normal  Preço do bem cai  equivale a um aumento da renda (aumento do
poder de compra)  aumenta a demanda pelo bem. (EFEITO RENDA NEGATIVO –
Relação inversa entre preço e demanda).
Bem inferior  Preço do bem cai  equivale a um aumento da renda (aumento do
poder de compra)  reduz a demanda pelo bem. (EFEITO RENDA POSITIVO –
Relação direta entre preço e demanda).

EFEITO TOTAL – EQUAÇÃO DE SLUTSKY

O efeito total na variação da demanda provocada pela variação dos preços dos bens,
mantida fixa a renda, é dado pela soma do efeito substituição e do efeito renda (Equação
de Slutsky).
Efeito total = ES + ER
Equação de Slutsky:

∆x1 = ∆xs + ∆xr


x1 (p1’, R) – x1 (p1, R) = [x1 (p1’, R’) – x1 (p1, R)] + [x1 (p1’, R) – x1 (p1’, R’)]

Isto é, é a variação da demanda pelo bem 1 causada pela variação dos preços relativos,
considerando que o poder de compra permaneça constante, mais a variação da demanda
causada pela variação do poder aquisitivo do consumidor, dado que os preços relativos
permaneçam constantes.

O sinal do efeito total dependerá do sinal do efeito renda, já que o efeito substituição
será sempre negativo. Se tivermos um bem normal, o efeito renda e o efeito substituição
seguem na mesma direção, reforçando o efeito sobre a demanda. Se o bem é inferior, o
efeito renda e o efeito substituição terão sinais opostos.

Dessa forma:

 Se temos um bem normal e o preço cai:


ET (+) = ES (+) + ER (+)
O sinal entre parênteses indica se o impacto sobre a demanda é positivo ou negativo.

Nesse caso, uma redução do preço do bem 1, levará ao aumento da demanda pelo bem 1
tanto devido ao efeito substituição (pois o bem 1 se torna relativamente mais barato)
quanto ao efeito renda (pois significará um aumento do poder de compra do
consumidor).

 Se temos um bem inferior e o preço cai:


ET (?) = ES (+) + ER (-)
 Se ER > ES  Efeito total será negativo (ou seja, uma redução do preço do bem
resultará em redução da demanda pelo bem).  Bem de Giffen.
 Se ER < ES  Efeito total será positivo (ou seja, uma redução do preço do bem
resultará em aumento da demanda pelo bem).

Assim, no caso de um bem inferior, o efeito de uma variação dos preços de um


bem sobre a demanda do bem poderá ser positiva ou negativa, a depender do
tamanho do efeito renda.
Caso o efeito renda seja suficientemente grande, o efeito de uma variação do
preço do bem sobre a demanda do mesmo será perverso (aumento do preço do
bem  aumento da demanda pelo bem; redução do preço do bem  redução da
demanda pelo bem). Neste caso, o bem será um bem de Giffen.

Equação de Slutsky em termos de taxas de variação:


Sendo ∆xre = x1 (p1’, R’) – x1 (p1’, R) = - ∆xr
Ou seja, usando o valor negativo do efeito renda.
Então, a identidade de Slutsky será:

∆x1 = ∆xs - ∆xre


Calculando em termos de taxa de variação, divide-se cada lado da equação por
∆p1. Logo:
∆x1/∆p1 = ∆xs/∆p1 - ∆xre/∆p1

Como ∆R = x1∆p1, então:


∆p1 = ∆R/x1
Substituindo na equação de Slutsky, tem-se:
∆x1/∆p1 = (∆xs/∆p1) – (∆xre/∆R) x1

Onde:
∆x1/∆p1  taxa de variação da demanda à medida que o preço se altera,
mantendo-se inalterada a renda – Efeito total.
∆xs/∆p1  taxa de variação da demanda quando o preço varia e a renda é
ajustada para manter acessível a cesta antiga – Efeito substituição.
(∆xre/∆R)/ x1  taxa de variação da demanda, mantendo-se os preços fixos e
ajustando-se a renda – Efeito renda.

Mas-Colell – pag. 46
Varian – pag. 136
FGV – pag. 43

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