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A POESIA DE FERREIRA

GULLAR E A DITADURA
MILITAR BRASILEIRA:
DIÁLOGOS POSSÍVEIS

Leonardo Vinícius Sfordi da Silva


(UEM)
Isabela Padilha Papke (UEM)
OBJETIVO GERAL
Realizar aproximações entre a literatura engajada do poeta brasileiro Ferreira
Gullar e as perspectivas históricas e sociais durante o período da ditadura militar
brasileira (1964 - 1985).
FERREIRA GULLAR
Escritor maranhense que atravessou as décadas de
repressão ditatorial brasileira em plena produção
literária, chegando a representar um ‘perigo’ ao
governo na década de 1970. Teve, em 1964, as
publicações do ensaio "Cultura posta em questão"
queimadas por militares. Em 1968, com a
assinatura do Ato Institucional nº 5, é preso. Em
1971, quando morre seu pai, Gullar decide sair da
vida clandestina e partir para o exílio. Entre as
principais cidades em que passa a residir estão
Moscou e Buenos Aires (MELO, 2005, p. 9).
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA –
ANTÔNIO CANDIDO
Nas concepções contemporâneas, a literatura se “define como lugar em que se plasmam
representações mentais que permitem vislumbrar certas dimensões do mundo social, antes
que elas sejam inteiramente construídas” (TEIXEIRA, 2018, p. 26).

A fonte literária dá abertura para discussão, reflexão e produção de conhecimentos sobre


dados e períodos históricos, pois podemos perceber, no decorrer das leituras, elementos
literários que refletem conjunturas, contextos culturais, sociais e político de diversas épocas.
Candido (2006): síntese entre o interno (a estética) e o externo (a História e a Sociologia),
possibilitando uma compreensão imersiva e integral da literatura.
DOIS E DOIS SÃO
QUATRO
Eu-lírico reforça que há um futuro a ser batalhado para além da
ditadura.

Tom positivo, apesar do contexto em que está inserido, para ele a vida,
mesmo com todo o sofrimento social, ainda assim vale a pena para lutar e
ser vivida.

Empírico e matemático, o qual mostra que a asserção de que a vida vale


a pena é verdadeira da mesma forma que a matemática é lógica.

Baixa distribuição de renda.

A miséria.

“uma profunda concentração de renda e extrema desigualdade social,


conformando a burguesia brasileira, no plano da dinâmica a acumulação do
capital, a um papel secundário, cada vez mais subordinado à lógica da
internacionalização do capital” (RAGO FILHO, 2004, p.148)
AGOSTO DE 1964
Percebe-se a criticidade com que o eu-lírico interpreta
esse espaço em que se encontra e pronuncia esses versos:
as mentiras institucionais veiculadas pelos generais para
O ônibus sacoleja. legitimar o golpe de Estado que haviam conseguido dar.
Entre lojas de flores Adeus, Rimbaud,
A representação de uma forma coercitiva policial aplicada
e de sapatos, bares, relógio de lilases,
contra os opositores do novo regime, e que cala: pois
mercados, butiques, concretismo, sufocar é sempre esse ato de não permitir que se fale ou
viajo num ônibus neoconcretismo, respire.
Estrada de Ferro-Leblon. ficções da juventude, Percebemos a realidade social entranhada na criação
Volto do trabalho, adeus, que a vida poética, ou seja, Ferreira Gullar capta um mecanismo
a noite em meio, eu compro à vista institucional do regime, que está na vida secular da
fatigado de mentiras.
sociedade e transfigura esse real, indicando o sufocamento
aos donos do mundo.
do poema e a poesia sendo inquirida policialmente.
Ao peso dos impostos,
o verso sufoca,
Percebe-se também a violência e o autoritarismo com que
foi sendo adquirida uma suposta legitimidade social para a
a poesia agora sobrevivência do governo.
responde a inquérito
policial-militar.
Expõe-se aqui, então, uma gama de mecanismos
utilizados para inibir as críticas e levantes, que
demonstram mais ainda o caráter autoritário do regime
AGOSTO DE 1964 militar.
Pode-se entender que esse tipo de denúncia explícita no
Digo adeus à ilusão poema compreende um ato de resistência tanto à Censura
mas não ao mundo. Mas não à instalada no país quanto às ideias ufanistas espalhadas
vida, meu reduto e meu reino. oficialmente pelo regime, que negavam diversas dessas
Do salário injusto, formas inumanas de coerção, como a tortura e o terror.
da punição injusta, nesse momento mais pungente do poema, a escrita é
da humilhação, da tortura, dura, ríspida, como se recusasse a utilização de
do terror, retiramos algo e com metáforas, buscando um tom de denúncia que compete
ele construímos um artefato muito mais à escrita informativa do que à escrita poética.
(GULLAR, 2013: 31) A última frase do poema, com seu tom esperançoso,
mesmo depois de todas as linhas anteriores serem
pesadas e cruéis, demonstra essa saída que acontecerá
através da luta incessante, da resistência constante.
MAIO DE 1964 – FERREIRA
GULLAR Denúncias acerca dos abusos dos militares no
poder;
a esperança é outro elemento chave abordado no
poema.

os militares trouxeram mecanismos para opor liberdade e


comunismo “A liberdade aparecia nos pronunciamentos do grupo
de poder após 1964 como sinônimo de oposição ao comunismo”
(REZENDE, 2013, p.71).
MAIO DE 1964 – FERREIRA
GULLAR Ditadura contrasta à felicidade e aos direitos básicos subjetivos;
injustiça e a miséria que havia na época da repressão militar.
o individualismo e seus desejos subjetivos para pensar na
coletividade, em um ambiente mais pacífico.
As possíveis relações-chave com a ditadura são as denúncias acerca dos abusos dos militares no poder, as
torturas, a repressão, a miséria (tanto social, como psíquica que a ditadura deixou) e a necessidade de uma
luta coletiva para combater o sistema.
Além disso, a esperança é outro elemento chave abordado no poema, o eu-lírico não se deixa atingir pelos
males da ditadura e entende que enquanto houver luta e esperança ditadura nenhuma pode acabar com os
sonhos, a esperança e os direitos subjetivos de cada Homem. “ter dois pés e mãos, uma cara/ e a fome de
tudo, a esperança. / Esse direito de todos/ que nenhum ato/ institucional ou constitucional/ pode cassar ou
legar.
Dessa forma, vemos que por mais que a ditadura tenha restringido diversas vivências cotidianas, ela não
foi capaz de retirar do Homem a esperança para um futuro que tenha uma ruptura no sistema.
A terceira estrofe do poema diz respeito aos horrores da ditadura e como ela se contrasta à felicidade e aos
direitos básicos subjetivos. “Mas quantos amigos presos!/ quantos em cárceres escuros/ onde a tarde fede
a urina e terror”. Aqui vemos que o eu-lírico remonta fatos históricos. As prisões era uma prática comum
de repressão nos anos de chumbo da ditadura militar.
RESULTADOS
A resistência poética dá-se em Gullar, principalmente pela negação à
desordem, ou à falsa ordem, imposta em tempos incongruentes.
Lirismo uma poesia engajada de cunho crítico histórico-social;
Poeta abre caminho pela sátira e pela ironia fumegantes, pelo olhar
revolucionário que não se compadece com os erros de sua época, pela
poesia terrena, perigosa e comunicante
Sua poesia, muito dinâmica, apresenta desde aspectos intimistas a
aspectos críticos da realidade política e social nacional.
REFERÊNCIAS
CANDIDO, A. Literatura e sociedade. 9. ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre
azul, 2006.
GULLAR, Ferreira. Dentro da noite veloz. 6ª ed. Rio de Janeiro: José
Olympio, 2013.
MELO, C. V. A resistência poética de Ferreira Gullar. Nau Literária, Revista
eletrônica de crítica e teoria de literaturas. Porto Alegre – Vol. 01 N. 01 –
jul/dez 2005
RIDENTE, M. 1968: Rebeliões e utopias. In: FILHO, D. A. R.; FERREIRA,
J.; ZENHA, C. O século XX: O tempo das dúvidas, do declínio das utopias às
globalizações. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.

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