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Módulo de

Introdução aos Estudos Linguísticos


Curso de Licenciatura em Ensino Básico

Faculdade de Ciências de Educação e Psicologia

Departamento de Ensino Básico

Universidade Pedagógica
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Telefone: (+258) 21-320860/2 ou 21 – 306720
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Programa de Formação à Distância
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e-mail: cead@up.ac.mz / up.cead@gmail.com
Ficha técnica

Autoria: Eusébio Vilanculo

Revisão Científica: Elídio Macaringue

Revisão da Engenharia de EAD e Desenho Instrucional: Cornélio Mucaca

Edição Linguistica: Orlanda Gomane

Edição técnica/Maquetização: Aurélio Armando Pires Ribeiro

Layout da Capa: Váldinacio Paulo


Imagem base da Capa: Gaël Epiney

© 2017 Universidade Pedagógica

Primeira Edição

© Todos os direitos reservados. Não pode ser publicado ou reproduzido em nenhuma forma ou meio –mecânico ou
eletrónico- sem a permissão da Universidade Pedagógica.
Índice
Unidade 1: Introdução ao estudo da Linguística 12

Lição n° 1: 13

Noções de Linguística 13

Conceptualização, objecto e matéria de estudo, seu historial 13


Noções da Linguística........................................................................................................14
Matéria da Linguística .......................................................................................................14
Objecto de estudo da Linguística .......................................................................................15
Linguagem .........................................................................................................................16
Breve historial ....................................................................................................................17
Ramos da Linguística.........................................................................................................18
Linguística histórica...........................................................................................................18
Sociolinguística:.................................................................................................................19
Etnolinguística: ..................................................................................................................19
Psicolinguística: .................................................................................................................20
Neurolinguística:................................................................................................................20
Linguística descritiva: ........................................................................................................20

Lição n° 2 24

Conceitos básicos da Linguística 24


Língua ................................................................................................................................25
Fala ....................................................................................................................................25
Competência ......................................................................................................................25
Competência linguística .....................................................................................................26
Competência comunicativa ................................................................................................27
Performance .......................................................................................................................27
Sincronia e Diacronia.........................................................................................................27

Lição n° 3 31
"Estudo do signo linguístico" ......................................................................................................31
Signo linguístico ................................................................................................................32

Unidade 2: Fonética e Fonologia 38

Lição n° 1 39
"Fonética: o som e as suas propriedades articulatórias" ..............................................................39
Fonética .............................................................................................................................40
Breve historial ....................................................................................................................40
Aparelho fonador ...............................................................................................................41
Os sons e as suas propriedades articulatórias ....................................................................42
Classificação das vogais quanto à posição do dorso e da raiz da língua............................42
Vogais orais e vogais nasais ..............................................................................................43
Classificação das consoantes do português........................................................................44

Lição n° 2 49
"Fonologia: conceitos básicos e regras fonológicas" ..................................................................49
Fonologia ...........................................................................................................................50
Conceitos básicos da fonologia..........................................................................................51
Distribuição complementar ................................................................................................53

Unidade 3: Morfologia e Sintaxe 61

Lição n° 1 62
Morfologia ..................................................................................................................................62
Morfologia ........................................................................................................................63
A dificuldade de definir o conceito "palavra"....................................................................64

Lição n° 2 77
"Sintaxe: a frase e seus constituintes essenciais" ........................................................................77
Constituintes imediatos da frase ........................................................................................79
Frases gramaticais e agramaticais ......................................................................................80
Estrutura interna da frase ...................................................................................................81

Unidade 4: Semântica e Pragmática 86

Lição n° 1 87

Semântica 87
Semântica ...........................................................................................................................88
Subáreas da semântica .......................................................................................................88
Significado e significante...................................................................................................89
Relações semânticas entre palavras ...................................................................................90
Relação entre língua e sociedade .......................................................................................92
A variação linguística ........................................................................................................92
Diferenças entre Pidgin e Crioulo ......................................................................................94
Relação entre língua e falante ............................................................................................95

Lição n° 2 100

Pragmática – usos da língua 100


A Pragmática....................................................................................................................101
Unidade 5: Aquisição da Linguagem 107

Lição n° 1 108

Aquisição de linguagem 108


Processos de apropriação da linguagem humana .............................................................109
Aquisição da linguagem...................................................................................................109
Teorias de aquisição da linguagem ..................................................................................110
I. Teoria Behaviourista ou Teoria do E-R-R ....................................................................110
II. Teoria Inatista ou Teoria Mentalista ...........................................................................111
III. Teoria Cognitivista ....................................................................................................112

Lição n° 2 117

A linguagem e o cérebro 117


A linguagem e o cérebro ..................................................................................................119
Onde se situa o dispositivo da linguagem? ......................................................................119
Mecanismos cerebrais para a produção da linguagem .....................................................120
Fases de aquisição da linguagem .....................................................................................122

Unidade 6: Língua e Sociedade 128

Lição n° 1 129

Relação língua - sociedade e variação linguística 129


Relação entre língua e sociedade .....................................................................................131
A variação linguística ......................................................................................................131
Diferenças entre Pidgin e Crioulo ....................................................................................133
Relação entre língua e falante ..........................................................................................134

Lição n° 2 138

Factores que influenciam o ensino/aprendizagem de línguas 138


Relação entre língua e sociedade .....................................................................................139
A variação linguística ......................................................................................................139
Diferenças entre Pidgin e Crioulo ....................................................................................141
Relação entre língua e falante ..........................................................................................142

Referências Geral 146


Visão Geral do Módulo de

Caro estudante, sempre que alguém se coloca diante de um desafio


precisa de se revestir um espírito optimista, em oposição ao
pessimista, pois, este só leva à derrota.

Cientes de que você comunga este princípio, apresentamos-lhe o


módulo de Introdução aos Estudos Linguísticos (IEL), disciplina
que se circunscreve dentro do plano curricular da sua formação e
que vai constituir mais uma fonte de aprendizagem a partir da
leitura e compreensão dos conteúdos aqui apresentados os quais
coadunam com os diversos fenómenos linguísticos que fazem parte
da vida social e comunicativa do Homem.

Este módulo é composto por quatro unidades de conteúdos de


aprendizagem sistematizados em subunidades de forma a
proporcionar-lhe uma sequência lógica na abordagem dos mesmos
com o intuito de tornar os conteúdos mais compreensíveis.

Nesta óptica, recomenda-se que leia o texto para entender e discuta


com os demais colegas a matéria e procurem aprofundar à luz de
outras fontes pesquisadas, o que irá permitir a troca de ideias e o
cruzamento de diferentes formas de recepção dos conteúdos.

Assim, para consolidar os diferentes conteúdos apresentados neste


módulo, propõe-se uma série de exercícios de aplicação que você
deve resolver, pois pensa-se que a sua resolução seja um bom
método para o aprimoramento da matéria no PEA.

A disciplina de Introdução aos Estudos Linguísticos (IEL), no


curso de Licenciatura em Ensino Básico, apresenta-se importante,
primeiro porque nas instituições de ensino se verifica, actualmente,
um reconhecimento das actividades linguísticas no que diz respeito
às competências e performance, pois, é por meio delas que se

1
processa o ensino-aprendizagem das diversas disciplinas. Em
segundo plano, neste curso, esta disciplina visa dotar os estudantes
de conhecimentos básicos que lhes permitam compreender o
funcionamento das línguas e para poderem lidar com as situações
de bilinguismo e multilinguismo que se vivem na escolarização
básica e em outras esferas sociais.

Estrutura do Módulo
Os conteúdos que compõem este módulo estão organizados em seis
(6) unidades temáticas, estas por sua vez subdivididas em lições
nas quais, para além de abordagem dos conteúdos, se apresentam
exercícios de auto-avaliação e de aprofundamento dos conteúdos
estudados, o que o poderá ajudar na aprendizagem da matéria que
constitui este módulo.

Assim, a primeira unidade subordina-se ao tema Introdução ao


estudo da Linguística e, por sua vez, subdivide-se em três lições
que compreendem noções de linguística; conceitos básicos da
linguística; estudo do signo linguístico. Nesta unidade você vai
reflectir sobre a Linguística e a sua relevância no estudo da
linguagem.

A segunda unidade, cujo tema é Fonética e Fonologia, é


constituída por duas lições que correspondem aos dois conceitos-
chave do próprio tema. Para esta unidade você é solicitado a
caracterizar os sons da fala humana e conhecer as regras do
sequencialização dos mesmos em palavras.

Na terceira unidade, sobre Morfologia e Sintaxe, que compreende


duas lições, você vai estudar a palavra e as regras da sua
combinação em frase.

2
Já na quarta unidade, subordinada ao tema Semântica e Pragmática
- usos da língua, você vai analisar o significado das palavras e
reflectir sobre a relação entre os enunciados e os seus utilizadores.
Esta também compreende duas lições correspondentes às duas
áreas da linguística explicitadas no tema.

A quinta unidade diz respeito à Aquisição da linguagem. Na


mesma, você reflectir sobre as teorias de aquisição da linguagem,
procurando distingui-las por meio das suas características. E poderá
ainda estudar a estrutura do cérebro e a sua relação com a
linguagem. Realça-se que esta unidade compreende duas lições,
designadamente aquisição da linguagem e a relação entre o cérebro
e a linguagem.

A sexta unidade relativa à Língua e Sociedade está dividida em


duas lições, uma sobre a Relação Língua-Sociedade e outra sobre
factores que influenciam o ensino-aprendizagem de línguas. Nesta,
você vai reflectir sobre vínculo que a língua mantém com a
sociedade.

Material de suporte

Para o sucesso de ensino-aprendizagem desta disciplina


recomenda-se, como material didáctico essencial, consulta da
bibliografia complementar que se apresenta no fim de cada unidade
e/ou lição. Poder-se-ão usar, como meios suplementares, sebentas
ou fichas de apoio produzidos pelos docentes, cadernos e fichas de
trabalho para as várias componentes teóricas da linguística, a serem
adquiridos na biblioteca do centro de recurso ou com o tutor de
especialidade. Poderá ainda recorrer à artigos, textos, e outros
materiais disponíveis na internet.

3
Métodos e Estratégias de ensino-aprendizagem

A disciplina de Introdução aos Estudos Linguísticos irá privilegiar


o uso de métodos expositivo, de elaboração conjunta e trabalho
independente ou estudo individual adequados ao ensino de
Linguística e, especificamente, ao ensino à distância - no caso do
último. Outros métodos poderão ser usados pelo docente, sempre
que estes se julguem oportunos
e ajudem na clarificação dos conteúdos abordados.

As aulas práticas servirão tanto para a resolução de exercícios de


auto-avaliação, explicação e exemplificação dos conhecimentos
teóricos apreendidos, bem como para a apresentação e
esclarecimento de dúvidas.

Assim, para a sua melhor integração e um bom aproveitamento dos


subsídios e recursos que a disciplina irá oferecer, são
estrategicamente recomendadas as seguintes actividades:

i) Pesquisa bibliográfica – individual ou em grupo;


ii) Resolução de cadernos e/ou fichas de exercícios;
iii) Apresentação de temas e debates entre diferentes grupos
(em forma de seminários)

Objectivos do Módulo
Pretende-se, com o presente manual, alcançar os seguintes objectivos:

Objectivos gerais1

Deve ser capaz de:

Compreender o objecto dos estudos linguísticos e suas


ramificações;

1
Plano temático aprovado na 3ª Sessão do Conselho Universitário da UP – 2009.

4
Conhecer as características básicas da linguagem humana;

Conhecer os princípios básicos de cada uma das áreas de


estudos da Linguística de Português.

Objectivos específicos2

Depois de ter estudado este manual espera-se que demonstre as


seguintes competências:

Analisar os conceitos básicos relacionados com os estudos


linguísticos e dos postulados da linguística moderna;

Descrever as diferentes unidades distintivas e funcionais mais


elementares de uma língua;

Fazer o inventário das unidades sonoras distintivas e demonstrar


a sua relevância na distinção dos significados das palavras;

Interpretar a influência da língua falada sobre a língua escrita e


vice-versa no processo de ensino-aprendizagem;

Ilustrar a relação entre enunciados concretos e a realidade;

Conhecer, de um modo geral, os aspectos de aquisição da


linguagem e o funcionamento de alguns mecanismos cerebrais
relacionados com a produção e compreensão da linguagem;

Distinguir os conceitos: idiolecto, sociolecto, dialecto e padrão;

Distinguir e discutir os tipos particulares de mudança e de


variação linguísticas;

Discutir o impacto dos fenómenos de bilinguismo e


multilinguismo, nos processos de aquisição e aprendizagem de
línguas.

2
Idem.

5
A quem se destina o Módulo
A módula Introdução aos Estudos Linguísticos é constituído por
vários textos que apresentam diversos aspectos linguísticos nas
suas distintas dimensões. Ele destina-se à formação de estudantes
que tenham concluído a 12ª classe ou equivalente e inscritos no
Curso de Ensino Básico na modalidade de Ensino à Distância da
Universidade Pedagógica.

Avaliação
A avaliação é um instrumento muito importante para avaliar o nível
de compreensãodo aluno numa determinada actividade, pois só se
fica a saber dos rendimentos da mesma quando se controla e se
avalia os resultados.

Assim, a disciplina de Introdução aos Estudos Linguísticoscontará


com os três tipos de avaliação – avaliação diagnóstica, formativa e
sumativa – que consistirão em medir o grau de conhecimentos que
os alunos possuem sobre uma determinada matéria; controlar o
nível de assimilação da mesma ao longo da sua abordagem; avaliar
o que os alunos assimilaram sobre a matéria leccionada ou
ministrada, respectivamente.

Contudo, para a presente disciplina, a avaliação sumativa será


usada como o principal critério para a avaliação do desempenho
dos estudantes, sendo que os outros tipos serão reaproveitados
como elementos de ponderação. Assim, será submetido a dois (2)

6
testes escritos de carácter obrigatório; deverá, também, realizar um
trabalho (individual ou em grupo) para a atribuição de uma nota de
frequência semestral. A sua participação na plataforma electrónica
de aprendizagem (caso tenha acesso) será também avaliada

No final do semestre, submeter-se-lhe-á a um exame final, de


acordo com as condições estabelecidas pelo regulamento de
avaliação em vigor na Universidade Pedagógica.

Exercício de auto-avaliação

Ao longo deste módulo, apresentam-se-lhe várias tarefas que


acompanham o seu estudo. Tente sempre solucioná-las.

Recomenda-se, ainda, a si caro estudante, que desenvolva o hábito


de pesquisa e a capacidade de selecção de fontes de informação,
tanto na internet como em livros físicos. Consulte os manuais
disponíveis e referenciados no fim de cada lição para obter mais
informações acerca do conteúdo que esteja a estudar.

7
Ícones de Actividades

Caro estudante, para lhe ajudar a orientar-se no estudo deste módulo e


facilmente foram usados marcadores de texto do tipo ícones. Os ícones
foram escolhidos pelo CEMEC (Centro de Estudos Moçambicanos e
Etnociência) da Universidade Pedagógica. Tomou-se em consideração a
diversidade cultural Moçambicana. Encontre, a seguir, a lista de ícones, o
que a figura representa e a descrição do que cada um deles indica no
módulo:

1. Exercício 2. Actividade 3. Auto-Avaliação

[peneira]
[colher de pau com alimento
[enxada em actividade] para provar]
4. Exemplo/estudo de 5. Debate 6. Trabalho em grupo
caso

[Jogo Ntxuva]
[fogueira] [mãos unidas]
7. Tome nota/Atenção 8. Objectivos 9. Leitura

[estrela cintilante] [livro aberto]


[batuque soando]

8
10. Reflexão 11. Tempo 12. Resumo

[sentados à volta da
fogueira]
[sol]

[embondeiro]
13. Terminologia 14. Video/Plataforma 15. Comentários
Glossário

[Dicionário] [computador]
[Balão de fala]

1. Exercício (trabalho, exercitação) – A enxada relaciona-se com


um tipo de trabalho, indica que é preciso trabalhar e pôr em prática
ou aplicar o aprendido.
2. Actividade - A colher com o alimento para provar indica que é
momento de realizar uma actividade diferente da simples leitura, e
verificar como está a ocorrer a aprendizagem.
3. Auto-Avaliação – A peneira permite separar elementos, por isso
indica que existe uma proposta para verificação do que foi ou não
aprendido.
4. Exemplo/Estudo de caso – Indica que há um caso a ser resolvido
comparativamente ao jogo de Ntxuva em que cada jogo é um caso
diferente.
5. Debate – Indica a sugestão de se juntar a outros (presencialmente
ou usando a plataforma digital) para troca de experiências, para
novas aprendizagens, como é costume fazer-se à volta da fogueira.

9
6. Trabalho em grupo –Para a sua realização há necessidade de
entreajuda, que se apoiem uns aos outros
7. Tome nota/Atenção – Chamada de atenção
8. Objectivos – orientação para organização do seu estudo e daquilo
que deverá aprender a fazer ou a fazer melhor
9. Leitura adicional – O livro indica que é necessário obter
informações adicionais através de livros ou outras fontes.
10. Reflexão – O embondeiro é robusto e forte. Indica um momento
para fortalecer as suas ideias, para construir o seu saber.
11. Tempo – O sol indica o tempo aproximado que deve dedicar á
realização de uma tarefa ou actividade, estudo de uma unidade ou
lição.
12. Resumo – Representado por pessoas sentadas à volta da fogueira
como é costume fazer-se para se contar histórias. É o momento de
sumarizar ou resumir aquilo que foi tratado na lição ou na unidade.
13. Terminologia/Glossário – Representado por um livro de consulta,
indica que se apresenta a terminologia importante nessa lição ou
então que se apresenta um Glossário com os termos mais
importantes.
14. Vídeo/Plataforma – O computador indica que existe um vídeo
para ser visto ou que existe uma actividade a ser realizada na
plataforma digital de ensino e aprendizagem.
15. Balão com texto – Indica que existem comentários para lhe ajudar
a verificar as suas respostas às actividades, exercícios e questões de
auto-avaliação.

10
Conteúdos
Introdução ao estudo da
Visão Geral do Módulo de
Linguística
Ícones de Actividades

Unidade 1: Introdução ao estudo da Linguística

UNIDADE
Lição n° 1:

Noções de Linguística

Conceptualização, objecto e matéria de estudo, seu


historial
Noções da Linguística ................................
Matéria da Linguística ................................
Objecto de estudo da Linguística ................................
Linguagem ................................................................
Breve historial ................................................................
Ramos da Linguística ................................
Linguística histórica ................................
Sociolinguística: ................................................................
Etnolinguística: ................................................................
Psicolinguística: ................................................................
Neurolinguística: ................................................................
Linguística descritiva: ................................
Sincronia e Diacronia ................................

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Unidade 1: Introdução ao estudo da Linguística

Introdução
A linguagem é um dispositivo indispensável para a vida humana que
facilita a realização do processo de comunicação, troca de informações,
experiências, valores socioculturais, entre outras funções.

E ao mesmo tempo, a linguagem articulada constitui um marco diferencial


entre o Homem e os outros animais, pois ela constitui uma característica
exclusivamente do Homem.

E, deste modo, a Linguística apresenta-se como ciência que se dedica ao


estudo da linguagem humana. Assim, nesta unidade, constituída por três
(lições), propõe-se como conteúdos de estudo a conceptualização da
Linguística, objecto e matéria de estudo, ramos da Linguística e seu
historial, isto na primeira lição. Na segunda, apresentam-se os conceitos
básicos relacionados com a Linguística como ciência da linguagem. Na
terceira lição, pode-se encontrar o estudo do signo linguístico, isto é, a
abordagem da relação entre os dois elementos que compõem o signo
linguístico – o significado e o significante.

Objectivos da unidade
Ao completar esta unidade, você deve:
Possuir conhecimentos sobre o surgimento da linguística como
ciência, objecto de estudo, principais ramos, características da
linguagem humana;

Conhecer os conceitos básicos da linguística;

Dominar os conceitos básicos da Linguística;

Conhecer as principais características da linguagem humana.

Descrever o signo linguístico.

12
Lição n° 1:
Noções de Linguística

Conceptualização, objecto e matéria de estudo, seu historial

Introdução
Prezado estudante, nesta primeira lição, poderá aprofundar, com o auxílio
deste texto, conhecimentos sobre o conceito Linguística, como é que
surge como ciência e o que determinou que alguns estudiosos se
interessassem por esta área de conhecimento. Para o efeito, leia e dialogue
com o texto, numa atitude de plena concentração, recomendando-se-lhe
que o faça num intervalo de tempo correspondente a 40 minutos, sendo 15
para leitura e 25 para a resolução de tarefas/exercícios. Leia o número de
vezes necessário para a compreensão das ideias básicas do texto.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

Reflectir sobre os posicionamentos de vários autores


quanto à Linguística;

Identificar o objecto e a matéria de estudo da Linguística


Objectivos
Conhecer os ramos da linguística.

13
Noções da Linguística
Aqui apresentam-se-lhe algumas ideias sobre a Linguística que você deve
ler, compreender e sobre elas reflectir. Então, acompanhe, de seguida, a
definição proposta por alguns autores.

A Linguística “é a ciência que estuda a linguagem apreendida através da


diversidade das suas manifestações nas diferentes línguas naturais
(línguas humanas) ”, (Campos e Xavier, 1991:19).

Depois deter lido a ideia que o autor apresenta sobre a Linguística,


claramente, você entendeu que quando se fala da Linguística, olha-se para
um campo de estudo em que as reflexões se centram sobre a linguagem,
especificamente a humana, procurando-se entender o que é, como é que se
adquire, como é que se manifesta, como é que se organiza, e que relação
esta mantém com o Homem.

Um outro aspecto que de certeza que você identificou na leitura que fez é
atinente ao seu objecto de estudo. Antes, porém, se coloca primeiro a
matéria da Linguística que constitui tudo aquilo que está no centro das
reflexões desta ciência.

Matéria da Linguística
Caro estudante, a seu ver, o que vai constituir a matéria de estudo
da Linguística?

Na verdade, a matéria da Linguística é constituída, em primeiro lugar, por


todas as manifestações da linguagem humana, tanto dos considerados
povos selvagens quanto das nações civilizadas, das épocas arcaicas como
das clássicas ou das decadentes, dando maior importância, em cada
período, não só à linguagem correcta e à linguagem literária, mas a todas
as formas de expressão. Não é tudo, em segundo lugar, uma vez que a
linguagem escapa à observação, o linguista deverá ter em conta os textos
escritos, pois só eles lhe dão a conhecer os idiomas passados ou distantes,
(Saussure,1999:29).

14
Em síntese, pode-se dizer que a matéria de estudo da Linguística vai ser a
linguagem humana de todos os povos, de todas as épocas e de todas as
formas de realização.

Objecto de estudo da Linguística


E agora, será que você é capaz de identificar o objecto de estudo
da Linguística? Demonstre.
Será, para si, importantes os questionamentos sobre a linguagem
humana?

Claro! O objecto de estudo da Linguística vai ser a linguagem humana e


as línguas naturais. Quando se diz línguas naturais poderá, caro estudante,
ficar meio perplexo... “ Mas haverá línguas “não naturais”? E porquê
estudar apenas as naturais?

Entenda que o termo línguas naturais é um nome que se atribui a todas as


línguas que podem ser aprendidas como língua materna, mas que também
é dado ao Latim, que ainda hoje pode ser aprendido e falado, porém, não
estando disponível como língua materna; ou ao Sânscrito, que perdura na
Índia apenas como língua sagrada.

Em forma de definição, línguas naturaiscorrespondem às manifestações


espontâneas da capacidade da linguagem, ou por outra, estas não foram
construídas pelo Homem, mas foram construídas “com o Homem”, por
exemplo, línguas como o Português, o Francês, o Irlandês, o Árabe, etc.
Pelo contrário, as línguas artificiais foram arquitectadas deliberadamente
por uma pessoa ou por um pequeno grupo de pessoas, num tempo
relativamente curto e num contexto restrito. Por isso, estas não se
desenvolveram espontaneamente numa comunidade de falantes, nem
nunca foram aprendidas como línguas maternas, exemplo de Lojban (uma
língua oral criada com o propósito de eliminar a ambiguidade), o Láadan
(apresentada como uma língua mais adequada à expressão das mulheres),
Língua dos Pês, o Minderico, o Esperanto, o Ido, etc. Isto é, as línguas

15
artificiais são definidas à partida, enquanto nas línguas naturais há
activação de um potencial inscrito no código genético humano.

Uma questão semelhante àquela levantada acerca da expressão ‘línguas’


naturais pode ser igualmente levantada sobre a expressão linguagem
humana. Isto é, você poderia questionar se existiria linguagem “não
humana”? E porquê restringir?

Então, saiba o seguinte:

Esta restrição coloca fora do alcance da linguística outros sistemas de


comunicação, o das linguagens dos animais (entre abelhas ou golfinhos)
que são igualmente naturais, ou de formas de comunicação codificadas,
como a linguagem das flores, a linguagem dos tambores ou ainda
linguagens de programação.

Sobre a questão dois (2), você chegaria, exactamente, à conclusão de que,


na verdade, é importante estudarmos a linguagem humana porque ela
constitui a chave do conhecimento de grande parte do comportamento
humano. Em outras palavras, a forma como alguém fala está relacionada
com o que ele é, aliás, a linguagem em si já é uma forma de
comportamento humano, já que todos os seres humanos falam.

Se não concorda, tome como exemplo, alguém que fala abertamente, sem
receio de opinar, expressar o seu pensamento, sentimento, etc., é uma
pessoa extrovertida, simpática, relaciona-se facilmente com os outros, e,
pois é, adquire facilmente outras experiências. É verdade ou não?

Linguagem
Anteriormente, admitiu-se que o objecto de estudo da Linguística era a
linguagem humana. Após esta asserção, de certeza, a sua ansiedade
imediata, caro estudante, seja de saber o que é linguagem?

A resposta é simples:

Linguagem é a faculdade que o Homem possui de se poder comunicar por


meio da fala/palavras, (Guerra e Vieira, 1991:31).

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A posse da linguagem ultrapassa os limites do próprio atributo e vai para
além, ela distingue os seres humanos dos outros animais, pois, só o
Homem possui a capacidade de linguagem.

Aliás, Raposo (1998:15) sustenta que a linguagem “é uma faculdade


específica da mente humana, não partilhada por nenhuma outra espécie
animal, nem mesmo os macacos, possuidores, no entanto, de um razoável
grau de desenvolvimento cognitivos (...)”.

Corroborando com Raposo, Faria op. cit (1996:12) acrescentam que “para
certos povos africanos, uma criança é uma coisa (kuntu) até ao momento
em que adquire uma língua, tornando-se, por esse facto, uma pessoa
(muntu)".

Breve historial
Como é que a linguagem se impõe e desperta interesse para alguns
estudiosos reflectirem sobre ela de forma científica?

Na questão sobre a qual você acaba de reflectir, com muita confiança,


acredita-se que esteve mais próximo da verdade.

O interesse pela Linguística surge desde a antiguidade, motivado por


questões de carácter prático e filosófico. Sobre a vertente prática, a
Linguística aparece como solução para a procura de causas e possíveis
respostas a algumas perturbações relacionadas com a fala, o caso de afasia
ou problemas de leitura, na medida em que esta oferece bases teóricas
para o seu diagnóstico e interpretação, permitindo, por conseguinte, uma
planificação coerente de Curricula das letras nas escolas, os
reconhecimentos da linguagem computacional inspirada em modelos
humanos.

Do ponto de vista filosófico, os estudos linguísticos interessaram a muitos


pensadores, pois, desde os tempos remotos se tem encarado a linguagem
como espelho da mente, aliás, alguns autores defendem que o maior
problema com que os estudos filosóficos se debatem relaciona-se com a

17
linguagem, ou seja, muitos são os pensamentos comuns, mas com o uso
de linguagens diferentes.

Ramos da Linguística
A Linguística como ciência da linguagem subdivide-se em outras áreas,
isto deve-se à complexidade das línguas e das suas manifestações.

Assim, destacam-se como ramos da Linguística os seguintes:

- Linguística histórica;

- Sociolinguística;

- Psicolinguística;

- Neurolinguística;

- Linguística descritiva;

-Linguística comparada.

Depois de ter visto as diversas áreas da Linguística (ramos da


linguística), descubra o que cada uma delas, especificamente,
estuda.

Linguística histórica
É o ramo da linguística que estuda o desenvolvimento da língua e as
mudanças que ocorreram ao longo da sua história aos nossos tempos, o
que se pode chamar de estudosdiacrónicos. Na verdade, todas as línguas
evoluem com o passar do tempo, isto é, com o tempo elas ganham novas
estruturas que se distanciam cada vez mais das primeiras.

As línguas são entidades dinâmicas e que variam ao longo do tempo.


Confrontando uma língua contemporânea com fases anteriores dessa
mesma língua ou dois estádios passados da mesma língua é possível
registar algumas mudanças estruturais ou de uso, o que deixa clara a ideia

18
de ter havido uma evolução da mesma língua. (Mateus e Villalva,
2006:72)

Sociolinguística:
Na óptica de Mateus e Villalva (2006:87), é um ramo da linguística que se
ocupa dos usos da língua, tomando em consideração os factos sociais e
culturais que caracterizam uma dada comunidade de falantes.

Caro estudante, entenda que a Sociolinguística vai ser o ramo da


linguística que estuda a relação entre a língua e a sociedade falante.
Assim, a sociolinguística estudará a língua através de factores externos
que caracterizam as diversidades e heterogeneidade linguísticas.

Assim, se a língua é um sistema de signos usados pelos membros de uma


comunidade para se comunicar, está mais que claro que ela está em
contacto permanente com o Homem (sociedade), mantendo, por
conseguinte, uma relação de interdependência entre estes dois elementos –
não há língua sem sociedade e vice-versa.

Etnolinguística:
Estuda a relação entre a língua e a cultura, isto é, como é que na língua
estão reflectidos os valores culturais característicos de um povo - suas
crenças, sua religião, pensamentos, hábitos e costumes - e como é que
contribui para o conhecimento de um povo.

Sendo a língua um meio de comunicação usado pelos membros da


comunidade linguística que concebe, organiza e vive os seus valores, nela
estarão, obviamente, inseridos esses valores sociais e culturais.

Com isto, você poderá aderir ao seguinte pensamento: não sendo as


culturas elementos homogéneos (cada comunidade ou sociedade, com as
influências do seu meio, vive e organiza-se de forma particular ou
própria), a língua irá variar de comunidade a comunidade ou de sociedade
a outra.

19
Psicolinguística:
A Psicolinguística trata de estudo das relações entre a linguagem, ou
funcionamento de uma língua particular, e os processos cognitivos que
estão na base da sua aquisição, produção e compreensão, (Mateus e
Villalva, 2006:89).

Em suma, pode-se dizer que a Psicolinguística estuda as manifestações


mentais da língua.

De facto, a manifestação da língua está directamente relacionada com a


mente humana, em todos os três processos que garantem a
operacionalização linguística acima mencionados.

Neurolinguística:
Estuda os fenómenos biológicos da língua e os mecanismos do cérebro
que participam na aquisição e uso da língua, ou seja, na óptica das autoras
anteriormente evocadas (op.cit), a Neurolinguística estuda a memória, a
atenção e o conhecimento das áreas do cérebro ligadas ao processamento
e compreensão da fala e da escrita.

Para esta subárea, você deve recordar-se de que o sistema nervoso é o


centro de todas as actividades vitais do organismo humano, isto é, o
comando de todas as acções.

Por isso, todos os três processos, retomando – aquisição, produção e


compreensão, são possíveis graças a presença da estrutura neurológica no
organismo.

Linguística descritiva:
É um campo particular de pesquisa linguística que trata não da totalidade
das actividades da fala, mas das regularidades em certos traços fónicos.

Esta subárea é, em suma, responsável pela descrição da língua nas suas


dimensões sincrónica e diacrónica.

20
Resumo da Lição
Na presente lição, você aprendeu que a Linguística é uma ciência que
estuda a linguagem humana.

Sendo assim, a linguagem humana vai constituir o seu objecto de


estudo. E a linguagem humana de todos os povos, de todas as épocas e
de todas as formas de realização, a matéria de estudo da Linguística.
Aprendeu ainda que a linguagem é faculdade que o Homem possui
para se comunicar usando os signos verbais e não-verbais. O
surgimento da Linguística é motivado por razões de ordem prática e
filosófica, sendo as de ordem prática relacionadas com a busca de
soluções para problemas relacionados com a fala e leitura, por
exemplo, as afasias. E as de ordem filosófica justificam-se pelo facto
de se considerar a linguagem o espelho da mente, isto é, o que o
indivíduo realiza através da linguagem é imagem do que ele pensa e
sente. E, no fim, pôde saber que esta ciência se subdivide em,
linguística descritiva, comparada, sociolinguística, psicolinguística,
histórica, e neurolinguística.

21
Auto-avaliação
Caro estudante, avalie o nível de aprendizagem sobre o tema que
acabou de estudar resolvendo as questões que se seguem:

1.Que relação existe entre a linguagem e a Linguística?

2. Identifique o objecto de estudo da Linguística?

3. É importante estudarmos a linguagem humana porque ela


constitui a chave do conhecimento de grande parte do
comportamento humano. Comente a afirmação.

Chave decorreção
Muito bem!

Agora compare as suas respostas com as linhas de respostas que


se seguem:

1. Há relação entre a linguagem e a Linguística dado que para


existência da Linguística determinou a existência da linguagem,
tendo esta, por conseguinte, se constituído o objecto de estudo da
Linguística.

2. O objecto de estudo da Linguística vai ser a linguagem em geral e,


em particular, a linguagem humana.

3. A linguagem humana constitui a chave do conhecimento de grande


parte do comportamento humano, pois, a forma como alguém fala
traduz o que ele é, pensa, age, se relaciona com os outros e com o
meio.

22
Para si, seria relevante abordar questões da linguística no seu
curso? Explique-se.

Para aprofundar esta e outras questões, sugere-se, a seguir, uma


bibliografia complementar.
Exercício

Referências bibliográficas
CALLADO, J. A. Fundamentos de Linguística Geral. São Paulo,
Editora Cultrix, 1993.

-------------, O Conhecimento da Língua, Sua Natureza, Origem e Uso.


Lisboa, Editorial Caminho, (Trad. por A. Gonçalves e A. T. Alves,
Coord. por I. Duarte), 1994 (orig.1986).

LYONS, John. O que é a Linguagem? Introdução ao Pensamento de


Noam Chomsky. Lisboa, Editorial Estampa, 1972.

CAMPOS, M. H. C. e XAVIER, M. F.. Sintaxe e Semântica do


Português. Lisboa, Universidade Aberta, 1991.

SAUSSURE, Ferdinand. Curso de Linguística Geral. 8 ed., Lisboa,


1999.

MATEUS, M. H. M. e VILLALVA, A. O Essencial sobre a


Linguística. Portugal, Editorial Ndjira. 2006.

23
Lição n° 2
Conceitos básicos da Linguística

Introdução
Depois do estudo feito na lição anterior que tinha como objectivo a
apresentação das noções básicas sobre a linguística, nesta lição,
apresentam-se os principais conceitos relacionados com a área da
Linguística e, sobre os quais, você deveráreflectir e analisar de forma
crítico-reflexiva e, ainda, aplicá-los devidamente em diferentes contextos
de manifestação linguística.

Para estudar esta lição, orienta-se uma leitura reflexiva feita em 20


minutos várias vezes quanto necessárias e 30 minutos de resolução de
tarefas/exercícios

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

Descrever e analisar os principais conceitos da


Linguística;

Aplicá-los, de forma correcta e pontual, em situações


Objectivos concretas da sua vida profissional e social.

Como conceitos-chave sobre os quais se propõe que você reflicta


encontramos: Língua, Fala, Competência, Competência linguística,
Competência comunicativa, Performance, Signo linguístico.

24
Língua
“É um sistema de meios de expressão oral e escrita de que dispõem todos
os membros duma comunidade.” (Guerra e Vieira, 1991:31)

É um sistema de valores que se opõem uns aos outros, um conjunto de


convenções necessárias adoptadas por uma comunidade linguística para se
comunicar.

A Língua é uma forma particular da linguagem, um sistema de signos


linguísticos que pode ser utilizado por meio da fala ou escrita. É comum a
um povo, a uma nação e a uma cultura, e constitui o seu instrumento de
comunicação.

Fala
Parafraseando Guerra e Vieira (1991:31), é a forma individual como cada
sujeito falante põe em prática os seus conhecimentos linguísticos no acto
de comunicação com os seus semelhantes que desempenham o papel de
ouvintes.

Ou seja:

- Enquanto a língua é o conjunto de signos convencionados por uma


comunidade para se comunicar, a Fala vai ser a realização, por parte do
indivíduo (falante), das possibilidades que lhe são oferecidas pela língua.
Ela constitui um acto individual e momentâneo em que no qual entram em
jogo muitos elementos extra-linguísticos.

Competência
É a capacidade que um indivíduo possui para compreender e produzir
correctamente os símbolos que representam determinada
realidade/conceito. Um indivíduo com competência linguística, dominará
todo um conjunto de códigos que lhe permitirão quer compreender a
mensagem, quer transmiti-la.

Exemplo:

25
Está correcto dizer: "O papá foi ao serviço". Porém, é errado dizer – "
serviço ao papá o foi".

Competência linguística
A Competência Linguística na óptica de Chomsky (1965) é a capacidade
que o falante tem de a partir de um número finito de regras, produzir um
número infinito de frases.

A Linguística textual, que ganhou projecção na Europa a partir dos anos


70, teve inicialmente por preocupação descrever os fenómenos sintácticos
semânticos que ocorriam entre enunciados ou sequências de enunciados.
Nos anos de 90, muitas teorias do texto ganham força, variando entre si
pelo enfoque predominante de certos aspectos textuais, tais como:
critérios de textualidade e de processamento cognitivo do texto (beau-
Grande e Dressler), macrossintaxe do discurso (Weinricch), super-
estruturas e macro-estruturas textuais (Van Djik), relacionamento entre a
estrutura do texto e a interpretação extensional do mundo que é
textualizado em um texto (Petoffi).

Marcuschi (1983) apresenta a linguística textual como o estudo das


operações linguísticas e cognitivas reguladoras de capacidade intrínseca e
ideal que o sujeito possui para produzir e compreender uma infinidade de
enunciados da sua língua. A competência linguística significa o saber usar
uma língua observando os princípios ou regras gramaticais tendo em
conta os domínios tais como: fonologia, morfologia, sintaxe, e semântica,
pois, competência linguística significa o conhecimento global desses
domínios que convergem para a produção e reconhecimento de
sequências gramaticais, (Campos e Xavier, 1991:22)

Assim, a competência linguística vai ser o uso correcto das regras


gramaticais que regem o funcionamento duma determinada língua.

26
Competência comunicativa
Chamamos de competência comunicativa ao conhecimento das regras
socioculturais que permitem a utilização correcta duma língua.

Por exemplo, saber que se deve dizer: Mãe, precisa do seu livro? E não:
Mãe, precisas do teu livro?

Para a situação apresentada, deve-se ter o domínio das regras sociais


segundo as quais as pessoas com as quais se mantém relacionamento de
respeito, ou pessoas de idade superior a do locutor devem ser tratadas por
"você" e não por "tu". Assim sendo, o pronome possessivo correspondente
seria "seu" e não "teu", pois, este último se relaciona com "tu".

Performance
Na óptica de Campos e Xavier (1991:2013), a performance “é o uso
efectivo da competência linguística”.

Por outras palavras, podemos dizer que performance ou realização - é a


forma como o indivíduo consegue “demonstrar” a sua competência
linguística.

Segundo as mesmas autoras, a performance “não depende da competência


linguística.” Existem factores de natureza extralinguística que interagem
com a competência para a determinação da performance. Asim, uma
mesma competência linguística pode resultar em performances
qualitativamente diferentes.

É a capacidade que um falante tem de, em situações concretas, produzir


frases ou enunciados usando, efectivamente, a sua língua. Esta área
centra-se sobre a fala.

Sincronia e Diacronia
Para compreender a língua, Saussure divide os estudos linguísticos em
dois campos:

Nas abordagens sincrónica e diacrónica da linguística, ressalta que

27
[...] cada língua constitui praticamente uma unidade de estudo e obriga-
nos, pela força das coisas, a considerá-la ora estática ora historicamente.
Apesar de tudo, não se deve esquecer que, em teoria, tal unidade é
superficial, enquanto a disparidade dos idiomas oculta uma unidade
profunda. Ainda que no estudo de uma língua a observação se aplique ora
a um aspecto ora a outro, é absolutamente necessário situar cada facto em
sua esfera e não confundir os métodos.

A novidade do enfoque saussuriano, que foi um dos que agiram mais


profundamente, consistiu em tomar consciência de que a linguagem em si
não comporta nenhuma outra dimensão histórica, de que é a sincronia e a
estrutura, e de que só funciona em virtude da sua natureza simbólica.

As duas partes da Linguística, assim delimitada, vão se tornar


sucessivamente o objecto do nosso estudo.

A Linguística sincrónica ocupar-se-á das relações lógicas e psicológicas


que unem os termos coexistentes e que formam sistema, tais como são
percebidos pela consciência colectiva.

Em outras palavras, a abordagem Sincrónica da Linguística seria o estudo


dos diversos fenómenos linguísticos que caracterizam um único momento
na existência de uma língua, (Mateus e Villalva, 2006:42).

A Linguística diacrónica “ é o estudo das transformações e da evolução


da língua ao longo dos tempos”, (Guerra e Vieira, 1991:30). Isto é, a
abordagem Diacrónica incidirá sobre o estudo dos diferentes estados das
mudanças e/ou evolução linguística no tempo, (Mounin, 1997: 88).

28
Resumo da Lição
Nesta lição apresentaram-se e definiram-se alguns principiais
conceitos da área da linguística, e espera-se que você tenha
capitalizado ao máximo a sua atenção para ler profundamente e
reflectir sobre os mesmos. Os conceitos propostos foram:Língua, Fala,
Competência, Competência linguística, Competência comunicativa,
Performance, Signo linguístico.

Auto-avaliação
Caro estudante, para avaliar o seu nível de aprendizagem sobre o
tema que acabou de estudar resolva as questões que se seguem:

1.Diferencie a língua da fala.

2.Discuta os conceitos competência linguística, competência


comunicativa, performance.

Chave decorreção
Muito bem!

Agora compare as suas respostas com as linhas de correcção que


se seguem:

1. Enquanto a língua é um conjunto de signos convencionados por


uma comunidade com a necessidade de se comunicar e, como
podemos entender, abrange um grupo ampliado de falantes, a fala vai
ser a realização individualizada por parte de cada falante das
possibilidades que lhe são facultadas pela língua. Isto é, a fala é
individual e momentânea.

2. Na Competência linguística respeita-se o uso correcto das regras

29
gramaticais da língua e, na comunicativa, respeita-se o conjunto de
princípios sócio-culturais ao qual depende o uso de uma língua. Por
seu turno, performance vai ser o uso correcto ou gramatical da língua
em situações concretas, isto é, a performance varia de um contexto
social para o outro.

De que forma o domínio da competência linguística é a chave de


sucesso no desenvolvimento da função docente?

Para você aprofundar esta e outras questões, apresenta-se, a


Exercício
seguir, a bibliografia complementar.

Referências bibliográficas
CALLADO, J. A. Fundamentos de Linguística Geral. São Paulo,
Editora Cultrix, 1993.

-------------, O Conhecimento da Língua, Sua Natureza, Origem e Uso.


Lisboa, Editorial Caminho, (Trad. por A. Gonçalves e A. T. Alves,
Coord. por I. Duarte), 1994 (orig.1986).

LYONS, John. O que é a Linguagem? Introdução ao Pensamento de


Noam Chomsky. Lisboa, Editorial Estampa, 1972.

ABRAHAM, Werner. Diconário de terminologia linguística Actual.


Madrid, Editorial Gredos, 1981.

MARTINET, A. et all. Elementos de Linguística Geral. 5ª ed., Lisboa,


Clássica Editora,2014.

MARTINET, André. Função e Dinâmica das Línguas. S/ed., Coimbra,


Armand Colin Editeur, 1989.

30
Lição n° 3
"Estudo do signo linguístico"

Introdução
Na lição anterior, de certeza, você analisou profundamente alguns
conceitos relacionados com a linguística. Nesta, vai poder reflectir sobre o
signo linguístico, isto é, a relação entre o significado e o significante.

Para tal, sugere-se que estude esta lição num intervalo de tempo
correspondente a 40 minutos, sendo 10 minutos para leitura e 30 para a
resolução de tarefas/exercícios.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

Definir o signo linguístico;

Identificar os elementos constituintes do signo


linguístico;
Objectivos
Analisar a relação existente entre o significante e o
significado.

Signo linguístico, significante e significado.

Terminologia

31
Signo linguístico
A concepção do signo linguístico na óptica de Saussure

O signo linguístico une não uma coisa e uma palavra, mas um conceito e
uma imagem acústica. Esta não é o som material, coisa puramente física,
mas a impressão (empreite) psíquica desse som, a representação que dele
nos dá o testemunho dos nossos sentidos; tal imagem é sensorial, e, se
chegamos a chamá-la “material”, é somente neste sentido, e por oposição
ao outro termo de associação, o conceito, geralmente mais abstracto. O
carácter psíquico de nossas imagens acústicas aparece claramente quando
observamos a nossa própria imagem. O signo linguístico é, pois, uma
entidade psíquica de duas faces. Chamamos signo a combinação do
conceito e da imagem acústica: mas, no uso corrente, esse termo designa
geralmente a imagem acústica apenas. A ideia da parte sensorial implica a
do total. O signo linguístico exibe duas características primordiais: a
arbitrariedade do signo e o carácter linear do significante. Na
arbitrariedade do signo, a ideia de “mar” não está ligada por relação
alguma interior à sequência de sons /m-a-r/ que lhe serve de significante;
poderia ser representada igualmente bem por outra sequência. Esse
princípio domina toda a linguística da língua, suas consequências são
inúmeras. Utilizou-se a palavra símbolo para designar o signo linguístico
ou, mais exactamente, o que chamamos de significante. Este tem como
característica não ser jamais completamente arbitrário; ele não está vazio,
existe um rudimento de vínculo natural entre o significante e o
significado. Com arbitrário, quer-se dizer que o significante é imotivado,
isto é, arbitrário em relação ao significado com o qual não tem nenhum
laço natural na realidade. No segundo princípio, o da linearidade do
significante, todo o mecanismo da língua depende dele, e é
demasiadamente simples, todavia, fundamental e suas consequências são
incalculáveis.

Saussure (1999:121)

Assim, pode parecer-lhe pouco clara a abordagem de Saussure. Todavia,


basta ler com muita concentração e objectividade, virá entender com

32
muita facilidade. Ainda na tentativa de elucidar o pensamento de
Saussure, apresenta-se uma outra perspectiva que lhe possa aproximar da
síntese que se pretende que construa, a seguir:

Para que uma língua alcance os seus fins, é necessário que os membros de
uma comunidade, que partilhem as mesmas experiências colectivas,
concordem em atribuir a determinados conjuntos fónicos, produzidos em
certas situações, o poder de traduzir um determinado elemento da sua
experiência histórica. Deste contracto social, surge o que se pode designar
de signo, (Lopes, s/d: 41).

Por outra, sendo a língua um instrumento usado para permitir a


comunicação entre membros duma dada comunidade, é preciso que os
seus utentes cheguem ao comum acordo sobre as palavras/conceitos a
usarem para designar um determinado objecto/realidade que pertencente
às suas experiências. Caso contrário, a comunicação deixaria de existir.

Havendo esta necessidade, os falantes de cada língua associam, assim, de


modo arbitrário, por uma "relação puramente simbólica" (Saussure,1954
citado por Lopes, s/d: 41) um conteúdo a uma expressão. Só para ilustrar,
ao falar ou ouvir a palavra "casa" / kaza/, por exemplo, compreende-se
que a sequência de sons, diferentemente de qualquer outra sequência,
refere-se a um significado "espaço construído pelo Homem para lhe servir
de habitação", diferente de qualquer outro significado. Assim
acontecendo, esta convenção social de relacionar uma sequência de sons
com um significado específico, surgiria o signo linguístico.

Sintetizando tudo o que, até aqui, se apresentou, pode-se afirmar que o


signo linguístico vai ser a união (arbitrária = imotivada) de uma
imagem/objecto (significado) ao conceito/palavra (significante). Por isso
mesmo, cada comunidade falante de uma língua vai convencionar
sequências de sons para, em seguida, as relacionar com os respectivos
significados.

33
E sendo que “não há qualquer relação natural ou intrínseca entre o
significante e o significado, a sua ligação depende duma convenção”, o
signo linguístico é arbitrário, (Guerra e Vieira:1991:31)

Diz-se:

1. Banana em Português

2. Makobo em Ndau

Veja o exemplo: 3. Kova em Citshwa

4. EniKa em emácua

5. Mafigo em Sena

Deste exemplo, você pode entender que se o signo linguístico não fosse
arbitrário, por exemplo, o objecto representado na imagem teria o mesmo
significado em todas as línguas, isto é, usar-se-ia o mesmo
conceito/palavra para o designar

Resumo da Lição
Nesta lição, abordou-se a questão do signo linguístico. Tendo-se
referenciado que o Signo linguístico seria a relação que se estabelece
entre uma sequência de sons (palavra, conceito) e as realidades
incorporadas nas experiências vividas por cada comunidade falante de
uma determinada língua. Assim, o signo linguístico seria constituído
por dois elementos imprescindíveis - o significante e o significado. E
porque “não há qualquer relação natural entre o significante e o
significado, a sua ligação depende duma convenção”, o signo
linguístico é arbitrário

34
Auto-avaliação
Feito o estudo completo da lição, avalie o seu nível de
compreensão da matéria resolvendo as questões a seguir.

1. O que entende por signo linguístico?

2. Que diferença existe entre o significado e o significante? Dê


exemplos.

Chave de correção
Muito bem!

Agora compare as suas respostas com as linhas de correcção que


se seguem:

1. Signo linguístico é a relação (arbitrária) que se estabelece entre o


significante e o significado. É arbitrária porque não existe uma
relação interior e natural nas palavras que orienta, por exemplo, que
ao dizermos telemóvel se refere à imagem do objecto móvel que se
usa para a comunicação.

2. Significante é o conceito linguístico que se tem em relação a um


objecto ao passo que significado é a própria imagem (objecto
material e visível ou não a que o conceito se refere). Como exemplo
podemos tomar o dado em 3. Exemplo: ao dizer-se telemóvel se
refere à imagem do objecto móvel que se usa para a comunicação.

Assim, a palavra "telemóvel" seria o significante, e o objecto a que se


refere, o significado.

NB. Com alguma criatividade, ao exemplificar, você pode, inclusive,


desenhar o próprio objecto.

35
"Para que uma língua alcance os seus fins, é necessário que os
membros de uma comunidade, que partilham as mesmas
experiências colectivas, concordem em atribuir a determinados
conjuntos fónicos, produzidos em certas situações, o poder de
traduzir um determinado elemento da sua experiência
Exercício
histórica." Comente a afirmação tendo em conta o seu
contexto linguístico.

Para você aprofundar esta e outras questões, apresenta-se, a


seguir, a bibliografia complementar.

Referências bibliográficas
LOPES, Edward. Fundamentos da Linguística Contemporânea. São
Paulo, Editora Cultrix, s/d.

SAUSSURE, Ferdinand. Curso de Linguística Geral. 8 ed., Lisboa,


1999.

36
Conteúdos
Fonética e Fonologia
Unidade 2 Fonética e Fonologia

Lição n° 1

Fonética ................................................................
Breve historial ................................................................

UNIDADE
Aparelho fonador ................................................................
Os sons e as suas propriedades
articulatórias ................................................................
Classificação das vogais quanto à
posição do dorso e da raiz da língua ................................
Vogais orais e vogais nasais ................................
Classificação das consoantes do
português ................................................................

Lição n° 2
Fonologia ................................................................
Conceitos básicos da fonologia ................................
Distribuição complementar ................................
Relação entre língua e falante................................

Pág. 38 - 59

37
Unidade 2 Fonética e Fonologia

Introdução
Uma vez feita a breve introdução à Linguística na unidade anterior, nesta
far-se-á uma abordagem de aspectos relacionados com a língua, incidindo,
particularmente, sobre a área da Fonética, que é a dimensão mais simples,
e a Fonologia. Isto é, a língua é vista a partir de segmentos sonoros da fala
humana (os sons) e, também, poder-se-á reflectir sobre as regras que
regem a combinação ou associação de diversos segmentos sonoros para
formar sílabas ou palavras.

A mesma é constituída por duas lições, sendo que em cada lição seguir-
se-á a mesma estrutura que se tem usando.

Objectivos da unidade
Ao completar esta unidade, você deve:
Descrever as propriedades articulatórias dos sons da fala
humana;
Pronunciar e classificar devidamente os sons da fala humana;
Aplicar as regras fonológicas;
Distinguir os conceitos básicos da Fonologia.

O tempo proposto para a leitura é de 60 minutos o estudo é de 120


minutos.

Tempo

38
Lição n° 1
"Fonética: o som e as suas propriedades articulatórias"

Introdução
A Fonética apresenta-se como uma das áreas ou capítulos dos estudos
sobre a Linguística, podendo esta, inclusive, assumir estatuto de ciência.
Nesta lição serão abordados aspectos relativos aos sons produzidos na fala
humana, suas propriedades articulatórias, classificação e os ramos da
fonética.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

Conhecer a definição da fonética e apresentar o seu


objecto de estudo;

Diferenciar e classificar os sons de acordo com as suas


Objectivos propriedades articulatórias;

Distinguir os principais ramos do estudo da fonética.

Para o estudo desta lição, você precisa de 60 minutos distribuídos da


seguinte forma: 20 para a leitura e 40 para a resolução de
tarefas/exercícios
Tempo

Fonética; Sons; Propriedades articulatórias dos sons da fala humana.

Terminologia

39
Fonética
O termo fonética deriva de um adjectivo grego cujo significado é: “
relativo aos sons da linguagem”. Em termos muitos gerais, a Fonética é a
disciplina científica que se ocupa dos sons da fala humana, do modo como
esses sons são produzidos pelos locutores e como são percebidos pelos
ouvintes, (Faria et al, 1996:115).

Segundo Mateus et al (2005:45), a Fonética é o estudo dos sons da fala


humana, da sua produção à sua percepção.

Como se pode depreender, caro estudante, das duas acepções apresentadas


sobre o conceito Fonética há consenso na ideia de que esta área estuda os
sons da fala humana. Em seguida, veja como é que surgem os estudos da
fonética.

Breve historial
A atenção dada à história das ciências justifica-se pela convicção de que
as teorias científicas representam um progresso na investigação dos
fenómenos, quer se trate de ciências humanas ou das ciências exactas.
Esta mesma convicção tem estado presente nos linguistas que consideram
que os resultados das pesquisas que se sucedem no tempo constituem um
avanço fundamental na compreensão da natureza da linguagem.

Essa é a razão por que se acha aqui apresentar algumas referências ao


percurso histórico do desenvolvimento científico da fonética.

Os estudos de fonética acompanharam os primeiros tempos da Linguística


e apoiaram as relações que foram sendo estabelecidas entre as línguas. Ela
desenvolveu-se durante a segunda metade do Séc. XIX em consequência,
por um lado, do estudo científico das línguas nas perspectivas
comparativa e histórica, e por outro, da criação de instrumentos que
tornaram possível a análise acústica e articulatória do som.

Contudo, não se quer com isto afirmar que antes desta época o estudo dos
sons das línguas fosse desconhecido ou se lhe não atribuísse importância.

40
A fonética, tradicionalmente, subdivide-se em quatro ramos distintos, a
saber:

Fonética articulatória – que se dedica ao estudo do modo como os


articuladores se movimentam para a produção dos sons da fala. Em outras
palavras, a Fonética articulatória preocupa-se em como os sons são
produzidos pelos falantes.

Na óptica de Ngunga (2002:8), ela corresponde a uma área da linguística


que se ocupa do estudo da PRODUÇÃO dos sons incluindo o MODO
como são articulados ou produzidos bem como os órgãos do aparelho
fonador envolvidos na sua produção.

Esta área também incorpora a abordagem sobre a fisiologia ou anatomia


da fala; a estrutura do aparelho fonador: parte do organismo humano
especializada na produção dos sons, desde a expulsão do ar nos pulmões
até a cavidade bucal. Esta abordagem, na óptica de alguns autores, é feita
numa área específica - a da fonética fisiológica.

Fonética acústica – este ramo dedica-se ao estudo das propriedades


físicas da fala. Esta fonética estuda os sons da fala APENAS como
realidades FÍSICAS incluindo a quantidade de vibrações do ar por
segundo, intensidade dos sons, as ondas sonoras, as caixas de
ressonâncias, os aspectros das ondas sonoras, etc.

Fonética perceptiva (também conhecida por fonética auditória) –


conforme se refere a terminologia “perceptiva”, este ramo vai estudar o
modo como os sons são ouvidos interpretados e percebidos pelos ouvintes
em termos de duração, acentuação, entoação, etc..

Aparelho fonador
Os sons são produzidos pelo aparelho fonador constituído por vários
órgãos que participam na actividade da emissão dos sons da fala humana.

O aparelho fonador é constituído pelos seguintes órgãos: lábios,


maxilares, dentes, língua, arcada alveolar, cavidade ora/bucall, cavidade

41
nasal, abertura rinofaringal, palato, faringe, traqueia, epiglote, cordas
vocais, laringe, pulmões, diafragma.

Os processos de ventilação – inspiração e expiração – são responsáveis


pelos fluxos de ar ingressivo e egressivo, que intervêm directamente na
produção dos sons da fala.

Os sons e as suas propriedades articulatórias


Os sons da língua humana agrupam-se em vogais, consoantes e
semivogais.

Vogais

As vogais são produzidas sem constrições significativas da passagem do


fluxo do ar no tracto oral. Na produção das vogais, há vibração das cordas
vocais, ou seja, trata-se de sons vozeados.

Consoantes

As consoantes, ao contrário das vogais e das semivogais, são produzidos


com constrições significativas à passagem do fluxo de ar no tracto vocal,
causadas pelo movimento dos articuladores, podem impedir
completamente a passagem do fluxo de ar por momentos ou podem
estreitar a área da passagem do fluxo de ar, provocando a produção de
ruído.

Semivogais

Entre as vogais e as consoantes situam-se as semivogais, que são os


fonemas /i/ e /u/ quando, juntos a uma vogal, com ela forma sílaba.
Foneticamente estas vogais assilábicas transcrevem-se [ᵂ] e [ј]. Por
exemplo, em palavras como viu e pai. Em termos de classes naturais, as
semivogais apresentam traços como [-sil e -cons].

Classificação das vogais quanto à posição do dorso e da raiz


da língua
i) Altura do corpo da língua

42
Altas – o dorso da língua eleva-se em relação à sua posição neutra. Ex: [i],
[e], [u].

Médias – o dorso da língua mantém-se na sua posição neutra. Ex: [e] do


substantivo peso.

Baixas – o dorso da língua baixa em relação à sua posição neutra. Ex: [ԑ]
da forma verbal peso.

ii) Quanto ao recuo/avanço da articulação:

Anteriores ou palatais – o dorso da língua avança à sua posição neutra.


Ex: [i], [ԑ], [е].

Centrais – o dorso da língua mantém-se na sua posição neutra. Ex: [α],


[а].

Posteriores ou velares – o dorso da língua recua em relação à sua posição


neutra. Ex: [u], [o], [ᴐ].

iii) Posição dos lábios:

Arredondadas – os lábios ganham um formato redondo. Ex: [o]; [ᴐ], [u].

Não arredondadas – os lábios não tomam uma forma redonda. Ex: [a],
[α], [i], [α], [е].

Vogais orais e vogais nasais


Para além da classificação acima apresentada, as vogais podem ser orais
e/ou nasais.

Para esta classificação tem-se em conta as características sonoras das


vogais determinadas pela passagem da corrente articulatória (ar) durante a
articulação. Assim, se, durante o processo de articulação, o véu palatino
estiver levantado contra a parede posterior da faringe, e, por via disso, o ar
libertar-se, com maior fluxo, pela cavidade bucal, as vogais produzidas
vão ser orais. Ex: [i] em vi; [ԑ] em pé; [е] em vê; [а] em pá; [ᴐ] em pó;
[o] em avô; [u] em tu;

[ɨ] em de; [ɐ] em para; [а] em pá.

43
Já no caso contrário, se o véu palatino estiver abaixado, uma parte do ar
será libertado pela cavidade nasal e as vogais produzidas serão nasais. Ex:
[ẽ] em pente; [ĩ] em sim; [õ] em bom; [ũ] em atum; [ᾶ] em banco

Classificação das consoantes do português


As consoantes podem ser classificadas em função do:

Ponto de articulação, ou seja, lugar da constrição no tracto vocal,


podendo ser:

i) Bilabiais – quando na articulação há participação dos lábios; verifica-se


um fechamento dos dois lábios: [b], [p], :[ m]

ii) Labiodentais – toque do lábio inferior no sector anterior da arcada


dentária superior, causado por um movimento de aproximação do lábio
inferior: [f], [v].

iii) Linguodentais/ dentais – aproximação ou toque da coroa da língua ao


sector anterior da arcada dentária superior: [t], [d], [s], [z] – raiz da língua
avançada.

iv) Alveolares – aproximação ou toque da coroa da língua aos alvéolos


dentários superiores. Ex: [n], [r], [l]

v) Palatais – aproximação ou toque do dorso da língua ao palato duro.


Ex: [c], [ʃ], [ʒ], [ɲ], [λ].

vi) Velares - aproximação ou toque da raiz da língua à parede posterior da


faringe: [k], [g], [L].

vii) Uvulares – vibração da zona posterior do dorso da língua junto à


úvula. Ex: [q], [N], [G].

As consoantes podem também ser classificadas:

Quanto ao modo de articulação ou comportamento do ar

Este parâmetro diz respeito a forma como o fluxo de ar é expelido para o


exterior, isto é, o tipo de perturbação que é induzido à passagem do fluxo
de ar no tracto vocal. Podendo ser:

44
i) Oclusivas – quando há constrição total à passagem do fluxo de ar.

Ex: [p], [t], [k],

[b], [d], [g];

[m], [n], [ɲ].

ii) Fricativas – constrição parcial à passagem do fluxo de ar, suficiente


para provocar ruído. Ex: [f], [s], [v], [z],[Ʒ],[ʃ].

iii) Laterais – constrição central à passagem do fluxo de ar, a obrigar o ar


a passar pelos lados do dorso da língua. Ex: [l], [λ].

iv) Vibrantes- constrição parcial que provoca vibração da língua. Ex: [r],
[R].

Ainda sobre o modo de articulação podemos dividir as consoantes em


dois grandes grupos:

Obstruentes – são produzidos com um impedimento parcial da passagem


do fluxo de ar no tracto bucal: [b, p, d, g]
Soantes – não existem impedimento à passagem do fluxo de ar e com
maior proximidade aos sons vocálicos. Ex: [l], [λ], [r], [R].

Os sons da fala, em função do papel das cavidades bucal e nasal,


também podem ser:

Orais – o véu palatino movimenta-se na direcção da parede posterior da


faringe, fechando, por conseguinte, o acesso à cavidade nasal e impedindo
a passagem do fluxo de ar para o exterior. Ex: [p, b, g, k, d, t].

Nasais – o véu palatino não fecha o acesso à cavidade nasal, permitindo


que o fluxo de ar passe ao mesmo tempo, tanto pela cavidade nasal como
pela cavidade oral. Ex: [m], [n], [ɳ], [ɲ].

45
Resumo da Lição
Ao longo desta lição, você pôde entender que a Fonética é uma área
ou capítulo da Linguística, podendo ser ainda tratada como ciência,
que estuda os sons da fala humana, analisando as suas diversas
propriedades articulatórias que, consequentemente, determinam as
diversas classificações.

Os sons da fala humana podem ser agrupados em vogais, semivogais e


consoantes. Por sua vez, as vogais e consoantes, em função das suas
características quando articuladas, são classificadas em vários grupos.

Auto-avaliação
Para você avaliar o seu nível de compreensão sobre o tema que acabou
de estudar, resolva as questões que se seguem:

1. Defina a Fonética e indique o seu objecto de estudo.

2. Mencione os ramos da fonética e caracterize cada um deles.

3. Agrupe os seguintes sons de acordo com o ponto de articulação: / p,


m, b, v, n, f, t, s, d, k, g/.

4. Agrupe os sons apresentados em nº 3 de acordo com o modo de


articulação

Chave decorreção
Muito bem!

Agora compare as suas respostas com as linhas de correcção que


se seguem:

1. Fonética é o ramo da linguística que se dedica ao estudo dos sons

46
da fala humana, desde a sua produção à percepção. O objecto de
estudo da fonética são os sons da fala humana.

2. A fonética subdivide-se em 4 ramos:

- A fonética articulatória (estudo processo de produção dos sons


pelos articuladores);

- A fonética acústica (como é que os sons chegam aos ouvidos, ou


seja, as suas propriedades físicas);

- A Fonética perceptiva (estudo da forma como os sons são ouvidos,


percebidos e, até, interpretados);

- A Fonética fisiológica (estudo da estrutura físico-biológica através


da qual os sons são produzidos – o aparelho fonador).

3. (p, b, m) – bilabiais; (f, v) – labiodentais; (t, d, n, s) -


linguodentais; (g, k) – velares;

4. (d, g, b, n, m, t, k, p) – oclusivos; (f,v, s) – fricativos;

Dando exemplos concretos, sem repetir os que consta do texto,


distinga vogais, semivogais e consoante.

Para aprofundar esta e outras questões, apresenta-se, a seguir, a


Exercício bibliografia complementar:

47
Referências bibliográficas
MALMBERG, Bertyl. A fonética. Lisboa, Edição Livros do Brasil, s/d.
(trad. De La Phonétique, Paris, Presses Universitaires de France, 1954).

CRYSTAL, D. A Linguística. Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1991.

DUARTE, I. Língua Portuguesa - Instrumento de Análise. Lisboa,


Universidade Aberta, 2000.

LYONS, John. O que é a Linguagem? Introdução ao Pensamento de


Noam Chomsky. Lisboa, Editorial Estampa, 1972.

MATEUS, M. H. M. et al. Fonética e Fonologia do Português. S/ed.;


Lisboa, Universidade Aberta, 2005.

MATEUS, M. H. M. et al. Gramática da língua Portuguesa. 2ª ed.,


Lisboa, Caminho, 1990.

48
Lição n° 2
"Fonologia: conceitos básicos e regras fonológicas"

Introdução
Depois de ter estudado, na lição anterior, as características/propriedades
dos sons, segue-se a presente lição na qual você poderá entender como é
que os mesmos sons se organizam para a formação das primeiras
estruturas mais ou menos complexas - as palavras. Para esta lição se
sugere 60 minutos de estudo, sendo 20 minutos para a leitura e 40 para a
resolução de tarefas/exercícios.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

Conhecer as regras fonológicas do português

Aplicar as regras e os principais conceitos da fonologia do


português;
Objectivos
Descrever as regras fonológicas do português.

Fonologia, Fone; fonema; Pares mínimos; Alofone; Variação


livre; Classe natural.

Terminologia

49
Fonologia
Os sons da fala humana não se encontram isolados um do outro, ou seja,
para que funcionem como elementos aos quais se pode atribuir um sentido
- palavras ou frases, é necessário que entre si constituam um sistema
regido por um conjunto de princípio e regras que orientam a sua
combinação.

Percebendo este pressuposto, você está muito próximo de entender a


essência desta área da Linguística.

A Fonologia é definida como “uma área da Linguística que estuda os


sistemas de sons das línguas, sistemas esses que têm correspondência no
conhecimento intuitivo e mental que os falantes possuem da sua língua.”
(Mateus et al, 2005:30).

Já na perspectiva de Mussalin e Bentes (2001: 149), "a fonologia estuda


as diferenças fónicas correlacionadas com as diferenças de significado
(ex.: [p]ato/[m]ato), ou seja, estuda os fones segundo a função que eles
cumprem numa língua específica, os fones relacionados às diferenças de
significado e a sua inter-relação significativa para formar sílabas,
morfemas e palavras."

As mesmas autoras acrescentam que as unidades mínimas da fonologia


são os fonemas que, convencionalmente, são representados entre barras
inclinadas. Estas não são analisadas em outras unidades menores, ou seja,
são unidades indivisíveis.

Ela preocupa-se em pesquisar que diferenças fónicas estão ligadas à


diferenças de significação, como se comportam entre si os elementos de
diferenciação e segundo que marcas se podem combinar uns com os
outros para formar palavras ou frases.

Na sua perspectiva, Faria et al (1996:171), sustentam que o simples


conhecimento das propriedades dos sons da fala humana, comuns a todas
as línguas, não é suficiente para saber como funcionam os sons de uma
língua particular, que sequências constituem palavras dessa língua, que
propriedades fonéticas são usadas com valor informativo. Assim, a

50
fonologia vai procurar explicar o funcionamento do sistema dos sons que
permitem a comunicação entre falantes da mesma língua.

A fonologia pode ser entendida como estudo teórico de todas as línguas


em geral, pode se entender também como estudo aplicado a uma língua
particular, ou ainda a um grupo de línguas, mas que se sustentem numa
perspectiva teórica.

Uma vez que a combinação dos sons não é feita duma forma arbitrária,
então a fonologia vai descrever o sistema de regras que regulam a
combinação de elementos finitos (os sons) para formar um número
infinito de significados.

Existe, pois, na gramática universal (GU) um conhecimento implícito ao


nível subjacente ou fonológico e a fonologia com os domínios gramaticais
irá apresentar regras explícitas de suas combinações e poder penalizar os
infractores com a Teoria de Gramática Generativa proposta por Chomsky
(1970) ou por Chomsky e Halle (1968).

Conceitos básicos da fonologia


Fone

É a unidade mínima de análise das palavras nos estudos fonéticos,


qualquer som de fala humana. Em outras palavras, fone refere-se a cada
segmento que compõe uma palavra. Ex: na palavra “sal” os segmentos
[s], [a], [l] designam-se fones.

Fonema

Aos sons responsáveis pela distinção ou contraste entre o significado das


palavras dá-se o nome de fonemas.

É uma unidade sedimental e discreta que se apresenta em cada língua em


número restrito e finito, destinada a construir, sozinha ou combinando-se
duma associação de significantes e, destinadas a distinguir as palavras
uma da outra.

51
Exemplo1: nas palavras /casa/ e /caça/, são fonemas os sons [z] e [s]
porque são responsáveis em distinguir uma palavra da outra.

Exemplo 2: Nas palavras inglesas /fine/ que significa " bem de estado" e
/vine/ que significa vinho, os sons / f/ e /v/ são fonemas em inglês.

Os fonemas podem ser identificados através de pares mínimos.

Pares mínimos

É um par de palavras com significados diferentes que são pronunciadas


exactamente da mesma maneira excepto um som que é diferente.

Ou por outra, sempre que duas formas (palavras) forem iguais em todos
os aspectos excepto num segmento sonoro que ocorra na mesma posição
da cadeia, as duas palavras denominam-se pares mínimos.

Por exemplo, os pares constituídos pelas palavras inglesas - /fine e vine/;


/sink e zink/ - formam pares mínimos.

Em português pode-se tomar os seguintes pares de palavras: /Figo e fogo/;


/lado e dado/, etc.

Alofone

Às diferentes realizações de um fonema dá-se o nome de alofone ou


variantes fonéticas. É, pois, uma variante fonética previsível de um
fonema.

Os alofones são membros duma classe particular de fonemas usados não


contrastivamente.

Exemplo: em português o fonema /s/ pode se realizar como /s/ em saco,


como /z/ em asa e ainda como / ʃ / em festa.

52
Em forma de esquema pode analisar a seguir:

/s/

[s] [z] [ ʃ]

saco asa festa

Distribuição complementar
Quando dois ou mais sons nunca ocorrem no mesmo contexto fonémico
diz-se que se encontram em distribuição complementar.

Por exemplo, os segmentos /z/ e /c/ nunca ocorrem no mesmo contexto


fonémico, ou seja, na palavra /cinco/ só pode ocorrer o segmento /c/ e não
o /z/. Pois, se assim acontecer estaremos num contexto fónico diferente do
da palavra cinco, que seria zinco, que é diferente de cinco.

Ou seja, quando ocorre o segmento /z/ o /c/ não ocorre e, vice-versa.

Depois de ter analisado a distribuição complementar na secção anterior, e


tendo com certeza compreendido a sua essência, reflicta a seguir sobre a
variação livre.

Variação livre

Quando, na pronúncia duma palavra, dois fonemas podem ocorrer em


alternância mas sem alterar o seu significado. Por exemplo, no contexto
moçambicano, algumas pessoas pronunciam como /i/ e outras como /e/ a
primeira vogal [e] da palavra económico – [ikunómiku] /[ekunómiku]. Por
isso, diz-se que /e/ e /i/ estão em variação livre.

Já em Portugal, em algumas regiões, o /s/ pronuncia-se com o ápice da


língua junto dos alvéolos [ȿ] (conhecido por s «beirão») e em outras, o
caso de Lisboa, a sua pronúncia é dental [s], (Cfr. Faria et al, 1999:174).

Importa, pois, salientar-se que estas diferenças da pronúncia que ocorrem


entre falantes da mesma língua são decorrentes da diversidade dialectal ou
sociolectal entre os mesmos.

53
Já no que respeita ao conceito subsequente, propomos-lhe que reflicta
sobre a classe natural dos traços fonémicos.

Classe natural

Classe natural é aquela cujo número de traços que tem de ser determinado
para especificar essa classe é inferior ao número de traços necessários
para distinguir qualquer membro dessa classe. Por exemplo, /p, t, k/
podem ser especificados por dois traços [- contínuo; - sonoro].

Todavia, /p/ só por si requer quatro traços: [- contínuo; - sonoro;


+anterior; -coronal].

Regra fonológica

A Regra fonológica é a operação fonética dos sons que todos os falantes


usam mas, em alguns casos, inconscientemente as conhecem. Das
diversas regras fonológicas elaboradas, vai-se, neste texto, focalizar as
seguintes3:

i) Regra de assimilação

Um som ou fonema adquire um traço do outro fonema vizinho, ou seja,


copia o traço do fonema sequencial criando uma semelhança entre os dois
sons. É o efeito de vizinhança de um determinado som com o outro,
provocando uma semelhança entre eles em termos de traços fonéticos.

Exemplo: na palavra atenção, a vogal /e/ assimila o traço [+nasal] da


consoante nasal /n/ devido ao efeito de vizinhança entre os dois sons com
traços distintos.

Este processo de assimilação pode ser progressivo, quando,


foneticamente, o som se torna semelhante ao som precedente, ou seja,
som precedente influencia o som subsequente.

3
Pode ver outras regras fonológicas em Faria et all (199: 186-194).

54
Exemplo: pode-se tomar como exemplo a palavra pomba, a consoante
bilabial /b/ é modificado por causa da consoante nasal /m/.

Formalização da regra: [-vocálico; + consonântico] torna-se [+nasal] depois de


[+nasal].

Ou regressivo quando um determinado som é modificado por causa do


som seguinte.

Exemplo: pode-se tomar como exemplo, ainda, a palavra atenção, pois, a


vogal /e/ é modificada por causa da consoante seguinte /n/.

Formalização da regra: [+vocálico; - consonântico] torna-se [+nasal] antes de


[+nasal].

Depois de ter estudado sobre a regra de assimilação, a seguir, procure


analisar a regra de reforço e redução de traços.

Regra de reforço do traço

Nem todas as regras são de assimilação. A regra que aspira as oclusivas


surdas em certos contextos em inglês constitui a regra de reforço do traço,
pois quando se adiciona à consoante surda bilabial /p/[- contínuo; -voz ] o
aspirador /h/ em palavra como phonology, aquela passa a ter mais outro
traço [+aspirado].

Assim, a regra de reforço de traço acrescenta mais traços aos sons ou


fonemas.

Regra de redução e reforço

As regras fonológicas não se circunscrevem apenas nas regras de


assimilação (modificação de traço) ou reforço do traço, como também
encontramos as regras de redução e reforço que consistem,

55
respectivamente, em omitir ou acrescentar segmentos fonémicos
completos.

Esta regra é mais evidente em francês, por exemplo, as consoantes finais


de uma palavra, quando essa mesma palavra segue outra iniciada por uma
consoante ou líquida, são apagadas – redução.

Exemplo: petit tableau, pronuncia-se [peti tableau].

Ocorre, também, a redução em inglês, por exemplo, na contracção das


palavras he is surge a palavra he´s.

Todavia, em francês, por exemplo, as consoantes permanecem quando a


palavra seguinte inicia por uma vogal – pode-se considerar regra de
reforço.

Exemplo: petit ami, ficando [petit ami].

Regra de movimento ou metátese

Esta regra ocorre quando há uma deslocação de fonemas de um ponto da


cadeia para o outro.

Exemplo: em alguns dialectos de inglês, a palavra ask pronuncia-se [aks].


Aqui, a regra de metátese “troca” /s/ com /k/, em certos contextos.

A criança, por exemplo, sem muito domínio da fala ao pretender


pronunciar a palavra mesmo pode dizer: memos, ou seja deslocar o
fonema /s/ do meio para a posição final da palavra.

56
Resumo da Lição
Nesta lição abordou-se uma das áreas da Linguística, a fonologia. Esta
apresenta-se como aquela que se dedica ao estudo das regras através
das quais os sons da fala humana se organizam e combinam-se num
sistema linguístico que permite a comunicação entre falantes da
mesma língua.

Ainda nesta lição foram aprofundados alguns conceitos relacionados


com a fonologia e que caracterizam o uso diversificado dos sons da
língua portuguesa.

Em fonologia, existem várias regras que orientam e explicam o uso do


sistema linguístico, todavia, para este manual apenas foram
focalizadas algumas, como é o caso da assimilação, redução, reforço e
redução, reforço de traço, regras de movimento ou metátese

Auto-avaliação
Caro estudante, avalie desde já o seu nível de aprendizagem sobre
a matéria que acabou de estudar resolvendo as questões que se
seguem:

1. Apresente o objecto de estudo da Fonologia.

2. Para cada conceito, a seguir apresentado, dê um exemplo de:


fone, alofone, fonema e pares mínimos.

3.Tendo em conta as palavras intenção e alphabeto, descreva as


regras fonológicas nelas representadas.

4. Com um exemplo concreto, fale da regra de movimento ou


metátese.

57
Chave decorreção
Muito bem! Tem dúvidas quanto às respostas que deu?

Compare-as com as soluções que se seguem:

1. O objecto de estudo da fonologia são os fones segundo a função


que eles cumprem numa língua específica.

2. Fone - na palavra vaso os segmentos /v/, /a/, /s/, /o/ são designados
de fones da mesma palavra.

Fonema - nas palavras bola e mola, os sons /b/ e /m/ são fonemas das
palavras apresentadas, pois, diferenciam uma palavra de outras.

Pares mínimos - /fine e vine/ constituem um par mínimo.

Alofones - o fonema /x/ pode realizar-se como [ʃ] na palavra sexta;


como [z] em exacto; como [s] em auxílio.

/x/

Leia melhor no esquema: [ʃ] [z] [s]

3. Na palavra intenção a regra fonológica em causa é a de


assimilação progressiva, pois, o /e/ e /i/ assimilam o traço [+nasal] da
consoante nasal [n].

Na palavra Alphabet observa-se a regra de reforço de traço, pois,


ocorre uma aspiração do som /p/ através do uso de /h/.

4. Uma criança, no lugar de pronunciar [desligar] pode dizer


[delisgar] – Na última "palavra" o som /s/ situa-se depois de dois
sons relativamente à posição normal.

58
A comunicação entre falantes duma mesma língua só é
possível quando se observa o uso das regras que orientam a
combinação dos sons para constituir palavras. Fundamente a
assumpção com base nos seguintes exemplos: mecânico/
mniecâco.
Exercício

Aprofunde esta e outras questões, consultando a bibliografia


complementar abaixo apresentada.

Referências bibliográficas
MALMBERG, Bertyl. A fonética. Lisboa, Edição Livros do Brasil, s/d.
(trad. De La Phonétique, Paris, Presses Universitaires de France, 1954).

CRYSTAL, D. A Linguística. Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1991.

DUARTE, I. Língua Portuguesa - Instrumento de Análise. Lisboa,


Universidade Aberta, 2000.

CÂMARA, Jr., J.M. Para o Estudo da Fonêmica Portuguesa. Rio de


Janeiro, Organização Simões, 1953.

LYONS, John. O que é a Linguagem? Introdução ao Pensamento de


Noam Chomsky. Lisboa, Editorial Estampa, 1972.

MATEUS, M. H. M. et al. Fonética e Fonologia do Português. S/ed.;


Lisboa, Universidade Aberta, 2005.

MATEUS, M. H. M. et al. Gramática da língua Portuguesa. 2ª ed.,


Lisboa, Caminho, 1990.

59
Conteúdos
"Morfologia e Sintaxe"
Unidade 3: Morfologia e Sintaxe

Lição n° 1
Morfologia ................................................................
Morfologia ................................................................
A dificuldade de definir o conceito

UNIDADE
"palavra" ................................................................

Lição n° 2
Constituintes imediatos da frase ................................
Frases gramaticais e agramaticais ................................
Estrutura interna da frase ................................

Pág. 61 - 84

60
Unidade 3: Morfologia e Sintaxe

Introdução
Depois de ter aprofundado, na segunda unidade, sobre a natureza das
unidade mais simples da língua, a terceira unidade é reservada a parte da
morfologia e a sintaxe, ou seja, os sons da fala humana organizam-se num
sistema que garante o exercício de comunicação entre falantes da mesma
língua, sendo que tais sistemas podem constituir-se em palavras e/ou
frases.

Assim, considerando os dois temas desta unidade, serão aspectos a ter em


conta os processos pelos quais os sons se associam para gerar palavras,
por um lado, e, por outro, os processos da combinação de morfemas para
a formação de novas palavras - a derivação e/ou composição. Por sua vez,
as palavras combinam-se e formam estruturas mais complexas que são os
enunciados ou frases.

Esta unidade é constituída por duas lições, sendo a primeira sobre a


morfologia e a segunda acerca da sintaxe.

Objectivos da unidade
Ao completar esta unidade, você deve:
Conhecer a estrutura interna de palavras;

Representar palavra em árvores;

Identificar os processos de formação de palavras;

Definir a frase;

Conhecer as regras da sintaxe;

Descrever a estrutura interna da frase.

61
Lição n° 1
Morfologia

Introdução
Esta lição vai abordar questões ligadas à estrutura interna de palavra e aos
processos de formação de palavra. A palavra apresenta uma estrutura
constituída por vários elementos designadas por constituintes
morfológicos, como também existem processos que permitem que a partir
de palavras primitivas se gere outras que podem ser analisadas
isoladamente.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

Definir palavra;

Identificar e descrever os constituintes morfológicos.

Representar palavra em árvores;


Objectivos
Conhecer os processos morfológicos que permitem a
geração de novas palavras;

Classificar as palavras quanto ao processo de formação de


palavras.

Para estudar esta lição, você dispõe de 60 minutos, dos quais 20 para a
leitura e 40 para a resolução de tarefas/exercícios.

Tempo

62
Morfologia, morfema, palavra, derivação e composição.

Terminologia

Morfologia
O termo morfologia não constitui um termo exclusivo da linguística: a
botânica, a zoologia ou a geografia são algumas outras ciências em que o
mesmo termo era usado. Aliás, " quando, no início do séc. XIX, começou
a ser utilizado, referia-se a qualquer análise cujo objecto fosse a forma."
(Faria et al, 1996: 2015). Veja a seguir como é o termo morfologia é
definido.

Na óptica dos mesmos autores (op. cit: 26), a Morfologia “é o ramo da


Linguística que se dedica ao estudo da estrutura interna de palavras e do
modo como essa estrutura reflecte as relações entre palavras associadas de
um modo particular.”

Por isso, pode-se apresentar a Morfologia, como uma área da linguística


que estuda e analisa as formas das palavras e os processos da sua
formação.

O objecto de estudo da Morfologia é compreendido em duas dimensões:

- A análise da estrutura interna das palavras;


- A descrição dos processos morfológicos de formação de novas
palavras.

Em suma, podemos aferir que o objecto de estudo da Morfologia são os


morfemas de uma língua. Ou por outra, estuda a forma das palavras,
observando as alterações que as mesmas podem ter em diversas línguas.

Cabe, também, à Morfologia estudar as relações que se estabelecem entre


a forma, a função e o significado das palavras.

63
Sendo a palavra o elemento chave da Morfologia, siga, caro estudante, as
próximas linhas em que se define o termo palavra.

A dificuldade de definir o conceito "palavra"


A definição de palavra é uma questão complexa e tem dado origem a
vários debates, dado que os vários níveis de análise linguística usam
diferentes critérios e procuram respostas não necessariamente
coincidentes. Isto é, uns usam os critérios sintácticos, outros, semânticos,
outros ainda morfológicos.

Etimologicamente, o lexema palavra vem do grego parabole que deu


origem ao cognato parábola, que equivale dizer comparação.

Para Williams (1987) citado por Villalva (2008:20), “ palavras são


átomos sintácticos, ou seja, são unidades sintacticamente inanalisáveis: a
sintaxe não tem acesso a qualquer informação sobre a sua estrutura
interna e não pode operar sobre os seus constituintes.”

Em Morfologia, as palavras são estruturas ou unidades analisáveis em


unidades menores, como radical e afixos, a que se dá o nome de
constituintes morfológicos. Os afixos podem ser derivacionais (-dor de
programador), flexionais (-s de livros), modificadores (-in de inaceitável),
vogais de ligação (-i- de incecticida), vogal temática (-a- de cantar).

Já na perspectiva semântica, a palavra é uma unidade morfológica com


sentido (significado). Olhando para esta perspectiva, podemos, então,
encontrar palavras e as ditas não-palavras

Na língua portuguesa, para que uma dada estrutura fonémica seja


reconhecida como uma palavra é necessário que contenha um radical
(simples ou complexo), um especificador morfológico (constituinte
temático) e um ou dois especificador(es) morfo-sintáctico (s) que realiza
(m) a flexão morfológica.

Para a sua melhor compreensão, devemos aclarar que:

64
Radical (base) é o morfema livre ou unidade mínima da palavra a que se
agregam os afixos (prefixos ou sufixos); é a parte da palavra que existe
antes de se afixar um elemento flexional Nele estão as propriedades
nucleares da palavra, como a categoria sintáctica e o seu significado
básico.

Por exemplo, na palavra amoroso temos como radical o morfema amor


ao qual se acrescentou o sufixo /-oso/.

Contrariamente ao que acontece com o radical, o afixo nunca é livre, pois,


ele só existe associado a outros morfemas.

Constituinte temático (Vogal temática) é um elemento da palavra que se


liga directamente ao radical, podendo indicar o modelo de flexão dos
verbos (tipo de conjugação): primeira, segunda e terceira. Outrossim, o
constituinte temático pode determinar o género dos nomes, embora isto
não seja de forma linear, pois há nomes terminados em -a que pertencem
ao género masculino (o poeta, o cometa, o mapa).

Flexão morfológica é a parte ou elemento da palavra responsável por


uma boa parte da variação morfossintáctica das palavras. Os sufixos de
flexão podem indicar a variação em número (livros), a flexão dos verbos -
infinitivo - (comer)

Veja a seguir como é que os constituintes morfológicos podem ser


representados em árvore.

65
Representação de palavra em árvore (ex. da palavra livros):

Veja que, para a análise morfológica, as palavras são, obrigatoriamente,


formas flexionadas e cada forma flexionada é uma "palavra" diferente.

As formas flexionadas não são palavras – são temas ou radicais, ou seja,


são constituintes da palavra.

No radical estão alojadas as propriedades nucleares da palavra, como a


categoria sintáctica e o seu significado básico. É também a partir do
radical que se estabelece a diferença entre palavras simples e palavras
complexas.

Palavra simples e palavra complexa

Palavras simples

São aquelas que possuem um único radical e sufixos (primitivas ou


derivadas) que o especificam morfológica e morfo-sintacticamente,
variando nas suas categorias de flexão.

Em outros termos, as palavras simples não podem ser segmentadas em


unidades menores, que também sejam portadoras de significado, ou ainda,
estas não possuem estrutura interna.

Exemplo: ligar - [lig] radical simples, [a] constituinte temático, [r]


especificador morfológico.

66
Em forma de árvore pode-se representar da seguinte forma:

Palavra complexa

A palavra complexa é divisível em partes menores, portadoras de


significado. Veja, por exemplo, as palavras, folhagem ou plumagem.

Neste caso, folha refere uma parte de uma planta e pluma uma pena de
ave e a terminação -agem transmite a noção de conjunto.

Numa palavra complexa, a posição do radical domina uma nova estrutura


morfológica, que pode integrar um radical e um afixo (clar-ificar, des-
ligar) ou dois radicais (ec-o-sistem-as), sendo que cada um dos radicais
encaixados pode, por sua vez, ser uma nova estrutura morfológica (clar-
ifica-dor, re-des-ligar, micro-ec-o-sistema). Assim, neste caso concreto, a
configuração é expandida por ramificação do radical.

67
Em forma de árvore podemos ter:

Na árvore acima, a palavra clarificar foi segmentada em morfemas que


desempenham as seguintes funções:

/clar/ - é a base do radical derivado do qual podem derivar outras palavras,


assumindo assim a função de um primeiro radical. Por exemplo, claro(a),
clarear, clareza, claridade, clarividente.

/ific/ é um morfema que se agrega a base para formar um radical, o


segundo radical, do qual se geram novas palavras. Exemplo, clarifico,
clarificado, clarificador, etc.

/a/ é a vogal temática do verbo clarificar que indica o modo de flexão


verbal, neste caso a primeira conjugação.

/ r/ é um morfema que indica que a verbo está no infinitivo.

Morfema

Etimologicamente, o termo morfema deriva do grego morphe que


significa “forma”.

Pode-se definir morfema como um signo linguístico mínimo, uma unidade


gramatical em que se verifica uma união arbitrária de um som com um
significado, não podendo essa unidade ser analisada em segmentos
menores, porém esta definição é mais simplista.

68
Em suma, morfema é a unidade mínima de análise de uma palavra; o
morfema tem que ter uma forma física, sentido ou função na língua. Os
morfemas participam na construção de significados nas palavras.

Exemplo: Rapaz (morf.) -iada = rapaziada;

Rapaz (morf.) -es = rapazes

Flor (morf.): floreado, floresta, florescer, florir, etc.

Tipos de morfema

Os morfemas podem ser classificados em dois tipos:

- Morfemas presos: quando só por si não podem constituir palavras,


simplesmente são parte dela, ou seja, só têm significado quando associado
ao outro.

Exemplo: a palavra rapaziada é constituída por dois morfemas /rapaz –


iada/. Contudo, o morfema /–iada/, só por si não tem sentido ou
significado, precisa de se associar ao outro /rapaz/. Por isso, é morfema
preso, ou seja, dependente do outro.
- Morfemas livres: quando por si podem formar palavras, isto é, ocorrem
independentemente de estarem associados a outros e têm em si um
significado.

Exemplo: a palavra felizmente é constituída por dois morfemas /feliz-


mente/, neste caso o morfema /feliz/ só por si tem significado, não precisa
se juntar ao outro para ter sentido, é um morfema livre, ou por outra, não
é dependente de um outro.

Quando um morfema preso ocorre antes de um outro morfema designa-se


prefixo e quando ocorre depois de outros denomina-se sufixo.

Os sufixos e os prefixos têm, tradicionalmente, sido designados por


morfemas presos, uma vez que não podem ocorrer desligados dos outros.

69
Sintetizando, podemos dizer que os morfemas podem ser constituídos por
palavras, sufixos, prefixos, desinências.

NB.: Os radicais nem sempre coincidem com palavras, funcionando desta


forma como morfemas presos. Ex.; fresc-ura.

A palavra e os processos da sua formação

O enriquecimento do léxico de uma língua pode fazer-se através de dois


principais processos:

A. Derivação - Processo que permite formar palavras a partir de outras


palavras já existentes ou primitivas às quais se junta um prefixo e/ou um
sufixo.

Em outras palavras, é o processo pelo qual, a partir de uma palavra, se


formam outras, por meio de acréscimo de certos elementos que lhe
alteram o sentido primitivo ou lhe atribuem um novo sentido.

As palavras derivadas estabelecem com a palavra base uma relação


semântica e formal (palavras da mesma família).

B. Composição – Processo que permite formar palavras a partir da junção


de dois ou mais radicais (palavras primitivas).

Chamam-se primitivas as palavras que não são formadas a partir de


nenhuma outra. Exemplo: água, fazer, piano, feliz.

Afixação

Chama-se afixação ao processo morfológico de formação de palavras que


consiste na junção de um afixo ao radical.

Afixos – Morfemas (prefixos, sufixos e infixos) que se juntam à palavra


primitiva para formar outras palavras.

Prefixo – Afixo que se junta antes da palavra primitiva, ou seja, ocorre à


esquerda do radical. Exemplo: des + fazer = desfazer.

Sufixo – Afixo que se junta depois da palavra primitiva, isto é, ocorre à


direita do radical. Exemplo: feliz + idade = Felicidade

70
Infixo - Este ocorre no interior da palavra. Todavia, este tipo de afixo não
ocorrem com frequência na língua portuguesa.

Formação de palavras por derivação

A formação de palavras por derivação pode ser:

a) Por prefixação: juntando um prefixo a um radical

Exemplo: re+aparecer = reaparecer

prefixo

b) Por sufixação (derivação sufixal): agrega-se um ou mais sufixos ao


radical.

Exemplo: clara+mente = claramente

Sufixo

c) Por parassíntese - " um processo que permite formar verbos a partir


de substantivos e adjectivos por adjunção simultânea de um prefixo e um
sufixo", (Gonçalves, 2008)

Isto é, a derivação parassintética é a junção simultânea de um prefixo e


um sufixo a uma forma base. As palavras criadas por parassíntese não
ocorrem na língua apenas prefixadas ou sufixadas. Isto quer dizer que a
palavra formada por parassíntese se perder um dos afixos, perde a sua
existência no léxico da língua.

Veja os exemplos: amanhecer, endoidecer, amadurecer, aclarar, etc.

Demonstração: amanhecer = a + manh+ ecer . Porém, "amanh" ou


"manhecer" não ocorrem na língua como palavra.

prefixo sufixo

71
d) - Derivação prefixal e sufixal: Quando a um radical se adjunta um
prefixo e um sufixo. A palavra formada por este processo pode perder um
dos afixos regista a sua ocorrência no léxico da língua.

Ex: desnecessariamente = des + necessaria + mente.

O processo de derivação pode ocorrer sem afixação:

e)- Derivação Regressiva: Quando se tira o final da palavra e resulta


outra palavra. Ou seja, a partir de verbos formam-se novas unidades
lexicais, os substantivos.

Ex1:escovar-escova

Ex.2:Roubar-roubo

Derivação Progressiva: Quando numa palavra se acrescentam outros


morfemas, formando outras categorias gramaticais. Ex.: Balde - baldear.

f)-Derivação Imprópria: Mudança da classe gramatical primitiva de


uma palavra.

Exemplo: Creme é um substantivo, mas se usar dentro do contexto - A


blusa que comprei é creme. A palavra creme exerce a função de um
adjectivo, dando a característica, a cor da blusa.

Como avançámos anteriormente, para além da derivação temos a


composição como outro principal processo de formação de palavras.

Composição

A Formação por Composição – Junta-se dois ou mais radicais para


compor uma nova palavra. Temos dois principais sub-processos de
composição:

a) Composição por Justaposição: Duas ou mais palavras primitivas se

72
unem, sem a perda de nenhuma letra ou fonema, ou, ainda, acento
próprio. Elas são postas juntas, com ou sem hífen, e formam uma nova
palavra.

Exemplos. Guarda-chuva, girassol, vice-presidente, estrela-do-mar,


abelha-mestra, surdo-mudo.

b) Composição por Aglutinação: Parte dos elementos das palavras


primitivas é perdida e elas se juntam, perdendo assim a "ideia" de
composto.
Exemplo: planalto - plano + alto, fidalgo - filho + de + algo, aguardente
– água+ardente.

c) Composição por Hibridismo: união de elementos, sendo cada um


vindo de um idioma diferente.

Exemplos: automóvel -latim e grego, alcalóide - árabe e grego

Resumo da Lição
Nesta lição vimos que Morfologia é o ramo da Linguística que se
dedica ao estudo da estrutura interna de palavras e do modo como essa
estrutura reflecte as relações entre palavras associadas de um modo
particular. Sendo o objecto de estudo da morfologia as palavras, estas
são definidas como estruturas ou unidades analisáveis em unidades
menores, como radical e afixos, a que se dá o nome de constituintes
morfológicos e, podem ser demonstrados na árvore da palavra. Por
isso, pode-se dizer que a estrutura interna da palavra é composta por
radical e afixos.

Ainda nesta lição vimos que a palavra pode ser simples e complexa,
isto em função do número de radicais que se podem encontrar em cada
palavra e de serem ou não divisíveis em unidades com ou sem

73
significado. Sendo, assim, simples as palavras que tiverem na sua
estrutura interna apenas um radical, não são segmentáveis em outras
unidades menores que tenha significado. Todavia, complexas as que
tiverem mais do que um radical e são divisíveis em outras unidades
menores capazes de gerar novas palavras.

A palavra, também, pode ser analisada em unidades mínimas que se


designam morfemas, podendo ser presos que por si sós não formam
palavra; apenas quando agregados a outros e livres aqueles que por si
sós têm sentido.

Quanto à formação, avançámos que a palavra poder resultar de dois


grandes processos - a derivação e a composição. A derivação pode ser
por prefixação, sufixação, prefixação e sufixação, parassíntese,
regressiva e progressiva e derivação imprópria, e a composição, por
sua vez, observa três sub-processos - aglutinação, justaposição e
hibridismo.

Auto-avaliação
Feito o estudo completo da lição, avalie o seu nível de
compreensão da matéria resolvendo as questões a seguir.

1. Represente a palavra clamor em árvore.

2. Quais são os tipos de morfema que conhece? Dê dois exemplos


para cada morfema.

3. Classifique as seguintes palavras quanto ao processo de


formação e justifique: Desorganizadamente, justaposição, fidalgo,
fim-de-semana, decompor, mão-de-obra, apodrecer.

74
Chave decorreção
Muito bem!

Agora compare as suas respostas com as linhas de correcção que


se seguem:

1. Antes precisa de saber que se tratar de uma palavra simples.


Depois poderá representar da seguinte forma:

Palavra

Tema Flexão morfológica

Radical Constituinte temático

/ clam / /o/ / r/

2. Morfema preso (por si só não forma palavra): Ex1. independência


- (in- morfema preso);

Ex2. firmemente - (-mente - morfema preso);

Morfema livre (por si só já é palavra): Ex." -dependência" e "firme-"


dos exemplos anteriores.

3. Desorganizadamente - Derivada por prefixação (des-) e sufixação


(-mente);

Justaposição - Composta por justaposição (justa + posição);

Fidalgo - Composta por aglutinação (Filho+de+algo);

Fim-de-semana - composta por justaposição (fim+de+semana);

Decompor - Derivada por prefixação (de+compor);

Mão-de-obra - Composta por justaposição (mão-de-obra);

75
Apodrecer - Derivada por parassíntese (a+podr+ecer).

Fale do papel que os processos de formação de palavras


exercem no desenvolvimento duma determinada língua.

Para aprofundar esta e outras questões, consulte a bibliografia


Exercício que se lhe apresenta a seguir.

Referências bibliográficas
CRYSTAL, D. A Linguística. Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1991.

DUARTE, I. Língua Portuguesa - Instrumento de Análise. Lisboa,


Universidade Aberta, 2000.

LYONS, John. O que é a Linguagem? Introdução ao Pensamento de


Noam Chomsky. Lisboa, Editorial Estampa, 1972.

VILLALVA, Alina. Morfologia do Português. s/ed., Lisboa, 2008.

MATEUS, M.H.M. e VILLALVA, Alina. O essencial sobre


Linguística. Portugal (S/cidade), Editora Ndjira, 2006.

76
Lição n° 2
"Sintaxe: a frase e seus constituintes essenciais"

Introdução
Depois de termos reflectido sobre a morfologia na unidade anterior, nesta,
teremos uma ocasião especial para abordar a sintaxe, na qual poderemos
reflectir sobre a frase no que respeita aos constituintes imediatos e sua
estrutura interna.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

Conhecer a frase e as regras da sua formação;

Explicitar os constituintes imediatos de frase;

Descrever os constituintes internos de frase.


Objectivos

A sugestão de tempo para você estudar esta lição é de 60 minutos,


sendo 20 para a leitura e 40 para a resolução de tarefas/exercícios.

Tempo

sintaxe, frase, constituintes da frase, sujeito, predicado,


complementos verbais

Terminologia

77
Para começarmos, ao mesmo tempo que introduzimos o estudante dentro
da abordagem sobre a sintaxe, apresentamos a definição deste conceito na
óptica de alguns autores.

Assim, a parte da linguística que estuda como as palavras se combinam


para formar frases denomina-se sintaxe (Ribeiro et al. 2010:221).

Na óptica de Cunha e Cintra (2002:119), a sintaxe corresponde a parte da


gramática que descreve as regras segundo as quais as palavras se
combinam para formar frases.

Se você tiver analisado bem as definições apresentadas pelos autores


acima, não temos dúvidas de que constatou que o objecto de estudo da
sintaxe é a frase.

É importante o estudo desta área dentro do domínio linguístico, pois, o


saber linguístico não se completa se o falante não é capaz de juntar as
palavras formando frases que exprima um pensamento.

Na gramática de uma língua há regras que determinam como se devem


combinar os morfemas e as palavras para exprimir um determinado
significado, essas regras chamam-se regras sintácticas da língua.

Quando sabemos uma língua, sabemos, pois, quais são as combinações de


morfemas que são permitidas pelas regras sintácticas e quais as que não
são.

Frase

Na óptica de Mateus e Villalva (2006), a frase traz consigo uma


concepção multifacetada, isto é, não linear. Analise só as seguintes
definições:

a) A frase é uma estrutura que depende apenas do predicado. Ex.: Fiz um


trabalho maravilhoso.

b) A frase é uma estrutura que depende de um verbo. Ex.: Fiz! Ao


responder à pergunta fizeste o trabalho?

78
c) Frase é uma cadeia de palavras gramaticalmente completa e que
expressa uma ideia completa. Ex.: O Manuel foi visitar a avó que mora
sozinha.

Só para assegurarmos a sua compreensão, entenda que se pode definir


frase como um enunciado de sentido completo, unidade mínima de
comunicação, que pode ser constituída por uma única oração (frase
simples – hoje comi um gelado), por mais do que uma oração (frase
complexa – hoje comi um gelado que era delicioso) ou apenas por um
verbo (frase elíptica, estando os restantes constituintes subentendidos –
Comi, pode se responder a uma questão, comeste um gelado?), (Ribeiro
et al., 2010:221).

NB: A frase não é uma ocorrência física, é concebida abstractamente


como uma cadeia de palavras anunciadas através de regras gramaticais de
uma determinada língua.

Dentro duma frase as palavras combinam-se em pequenos grupos que


constituem unidades sintácticas, os constituintes da frase. Os
constituintes estão organizados em função da categoria sintáctica ou
classe de palavra a que pertence o elemento central do conjunto.

Constituintes imediatos da frase


Para construir um enunciado, as palavras combinam-se em frases, porém a
relação entre as palavras e a frase não é directa, pois, as palavras
pertencentes a categorias principais - nomes, adjectivos, verbos,
preposições e advérbios - constituem-se como núcleo de uma unidade
maior, os sintagmas. Disto resulta que, em função de cada categoria
principal que vai constituir o núcleo de cada constituinte frásico,
tenhamos sintagmas nominais, adjectivais, verbais, preposicionais e
adverbiais. (Mateus e Villalva, 2006:65).

Acompanhe a seguir a descrição de cada constituinte:

Grupo nominal: tem como núcleo um nome ou pronome (comi


gelado - NOME, Eu comi – PRONOME);

79
Grupo adjectival: tem como núcleo - um adjectivo (conheci uma
rapariga inteligente ADJ. Conheci uma rapariga interessada em
várias áreas ADJ e Complemento);
Grupo verbal: cujo núcleo é um verbo (acordei! Comecei a
acordar);
Grupo preposicional: com o núcleo uma preposição (gosto de
cães pequenos. Vou gostar de animais para sempre);
Grupo adverbial: com o núcleo um advérbio (Normalmente saio
à noite. A noite correu bastante mal).

Frases gramaticais e agramaticais


O uso correcto da língua requer o domínio das regras e princípios
gramaticais que regulam o seu funcionamento.

Por exemplo, Mateus et al (2002) apresentam como a ordem básica dos


constituíntes frásicos o Sujeito, Verbo e Objectos (SVO).

Assim, as frases que obedecem às regras gramaticais de uma determinada


língua designam-se frases gramaticais da língua e as que não lhes
obedecem chamam-se frases agramaticais.

Veja o exemplo 1: *Eu uma banana comi. É agramatical, pois, não


seguiu a estrutura (sujeito – verbo – objecto =SVO), pois, umas das
características estruturais da língua portuguesa é a observância à
sequência SVO.

Na verdade, a estrutura aceite seria a seguinte: Eu comi uma banana


(gramatical);

Exemplo 2: *Os cadernos é do João - esta frase é agramatical, pois, não


observa a regra de concordância verbal. Mas seria gramatical se assim
fosse construída: Os cadernos são do João.

80
Estrutura interna da frase
Na perspectiva de Cunha e Cintra (2002:122) ao falarmos da estrutura
interna das frases olhamos para os elementos que se interligam para a
construção da frase. Assim, encontramos:

Sujeito – É o ser sobre o qual se faz uma declaração. Ex: O lápis (sujeito)
caiu.

Predicado – É tudo aquilo que se diz do sujeito. O lápis da Joana caiu


ontem quando voltava da escola. (predicado).

Complemento – É o elemento que completa a ideia expressa pelo verbo


na frase.

Os complementos verbais podem ser:

i) Directo – Seleccionado na primeira posição pelos verbos transitivos


(seleccionam obrigatoriamente complementos – comer, ganhar, oferecer,
ler, etc.).

Ex: O Raul comeu uma goiaba (CD/OD).

ii) Indirecto – Seleccionado na segunda posição pelos verbos transitivos.

Ex: A Rita ofereceu um presente (OD) ao irmão (CI/OI).

A Rita ofereceu-lhe (OI) um presente (OD).

Os verbos intransitivos não seleccionam obrigatoriamente complementos


à sua direita (chover, cair, andar). Ou seja, estes verbos podem apresentar
adjuntos - compreendem todos os complementos circunstanciais - que
pela sua natureza não são regidos pelo verbo.

Ex: Ontem choveu.

Mas, nesta frase, os elementos que nos dão informação sobre o onde?
Como? A que horas? não são de selecção obrigatória, isto é, são
opcionais, com ou sem eles a frase preserva a sua estrutura gramatical -
tem sentido.

81
Resumo da Lição
Ao longo desta lição destacamos a frase como o objecto de estudo da
sintaxe. Vimos também que uma das características da frase é ter
sentido completo: Ele comeu o pão.

A frase apresenta constituintes imediatos e internos. São constituintes


imediatos os grupos nominal, adjectival, verbal, preposicional e
adverbial; e constituintes internos o sujeito, predicado e
complementos verbais.

Outrossim, vimos que quanto às propriedades de selecção os verbos


podem ser: impessoais (chover, haver); intransitivos (nascer, morrer);
transitivos directos (comer, fazer);

Auto-avaliação
Depois de ter estudado a lição, avalie o seu nível de compreensão
da matéria resolvendo as questões a seguir.

1. Analise a gramaticalidade das frases a seguir:

a) Os alunos tem medo de atravessar a linha a estrada.

b) A Sara precisou o seu relógio.

2. Analise a estrutura interna da frase: Os meninos assistiam ao


filme quando o pai chegou.

3. Identifique os constituintes imediatos da frase: Vagarosamente,


aproxima-se o exército da defesa.

82
Chave decorreção
Muito bem! Tem dúvidas quanto às respostas que deu?

Compare-as com as soluções que se seguem:

1.a) A frase apresentada não observa a regra de concordância verbal.


O verbo não concorda com o sujeito em número, sendo por isso,
agramatical. Assim, seria correcto: Os alunos têm medo de atravessar
a estrada.

b) A frase é gramatical, pois, justifica o princípio de regência verbal.


Pois, o verbo precisar com o sentido de concertar, selecciona
directamente um complemento directo. Mas com o sentido de querer
ou necessitar selecciona um sintagma preposicional (SP).

C.Ind. CC. tempo

2. Os meninos assistiam ao filme quando o pai chegou.

Sujeito Predicado

3. Vagarosamente = SAdv.; aproxima-se = SV; o Exército da defesa


= SN

Exercício de aprofundamento

Com exemplos concretos, distinga uma frase de uma


simples sequência de palavras.
Actividade

Como forma de aprofundar esta e outras questões, propõe-se a


seguir uma bibliografia complementar a qual deverá consultar.

83
Referências bibliográficas
CHOMSKY, Noam. Aspectos da Teoria da Sintaxe. 2ª ed., Arménio
Amado Editor, ( Trad. ed. original , 1965).

CASTALEIRO, J.M. A Língua e a sua Estrutura. in Escola


Democrática, Revista da D.G.E.B., Lisboa, Ministério da Educação,
1980-1981.

RAPOSO, E.P. Introdução à Gramática Generativa: Sintaxe do


Português. 2ª ed., Lisboa, Moraes Editores, 1986.

MATEUS, M. H. M. e VILLALVA, A. O essencial sobre Linguística.


Portugal (S/cidade), Editora Ndjira, 2006.

RIBEIRO, H. et al. Gramática Moderna da Língua Portuguesa.


Lisboa, Escolar Editora, 2010.

84
Conteúdos
Semântica e Pragmática
Unidade 4: Semântica e Pragmática

Lição n° 1

Semântica
Semântica ................................................................

UNIDADE
Subáreas da semântica ................................
Significado e significante ................................
Relações semânticas entre palavras ................................
Relação entre língua e sociedade ................................
A variação linguística ................................
Diferenças entre Pidgin e Crioulo ................................
Relação entre língua e falante................................

Lição n° 2

Pragmática – usos da língua


A Pragmática ................................................................

Pág. 86 - 103

85
Unidade 1: Título da Unidade

Unidade IV: Semânt ica e Pra gmát ic a

nidade VI: Língua e Soc ie da de

Introdução
Na unidade anterior você estudou a morfologia e sintaxe, ou seja, a
palavra e a frase. Nesta, convidamo-lo, mais uma vez, a acompanhar
activamente o desenvolvimento dos conteúdos reservado à mesma.

Assim, para orientar melhor o seu estudo dividimos a unidade em duas


lições: uma irá abordar tema da semântica e a outra versar-se-á sobre a
pragmática. No que diz respeito à semântica, focalizar-nos-emos, no
sentido das palavras e nas relações que entre si estabelecem tendo em
conta o sentido que cada uma transporta.

Para a área da pragmática, o foco principal será a análise dos principais


conceitos construídos no campo das relações entre as formas linguísticas e
os participantes/intervenientes no processo de comunicação.

Objectivos da unidade
Ao completar esta unidade, você deve:
Usar as palavras de acordo com o seu sentido;

Classificar as palavras tendo em conta a relação de sentido que


entre si estabelecem;

Analisar os diferentes conceitos da pragmática;

Conhecer os papéis assumidos pelos utilizadores das diversas


formas linguísticas no acto comunicativo.

86
Lição n° 1
Semântica

Introdução
Lembre-se, caro estudante, de que nas sessões anteriores demostrou-se
que a palavra constitui um átomo sintáctico analisável em unidades
menores designadas constituintes morfológicos. Ao referirmos que a
palavra é um átomo sintáctico é que esta pode-se combinar com outras
para formar uma estrutura mais complexa que designamos frase, aliás,
vimos também que a frase se pode reduzir a uma simples palavra (frase
elíptica).

Assim, esta autonomia que a palavra tem de poder, por si, constituir uma
frase justifica-se pelo facto de a mesma ser uma unidade semântica, ou
seja, uma unidade que, enquadrada num contexto comunicativo, tem
sentido/significado.

Assim, face ao significado que transportam as palavras relacionam-se


entre si formando uma rede de relações que chamamos de relações
semânticas entre as palavras.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

Saber sobre a relação entre a língua e a sociedade;

Conhecer as diferentes formas da variação linguística;

Diferenciar os conceitos relacionados com as


Objectivos
variações linguísticas

87
O tempo proposto para o estudo desta lição é de 30 minutos para a
leitura e 60 para a resolução de tarefas/exercícios.

Tempo

semântica, sinonímia, antonímia, hiperonímia/hiponímia,


holonínima/meronímia

Terminologia

Semântica
A semântica é entendida como a "área da linguística que estuda o
significado dos constituintes da língua", (Ribeiro et al., 2010:263).

Pode-se dizer que esta área também estuda, de um modo geral, o


significado dos textos e frases. Daí a existência da semântica de texto, de
frase e de palavra, (Mateus e Villalva, 2006: 69-70).

Em suma, podemos dizer que o objecto de estudo da semântica é o


significado das palavras ou expressões duma determinada língua.

Subáreas da semântica
A semântica subdivide-se em duas principais áreas, a saber:

a) - Semântica estrutural/de texto: relacionada com a estruturação dos


elementos linguísticos, isto é, as funções temáticas assumidas pelos
constituintes frásicos. Dentre elas se destacam as seguintes - agente e
alvo.

88
b) - Semântica lexical: intimamente relacionada com o léxico, trata
sobretudo da significação das palavras e das relações semânticas entre as
unidades lexicais.

Significado e significante
Quem sabe uma língua é capaz de entender o que lhe é dito e produzir
sequências de palavras com significado que se vão constituir num texto
comunicativo.

Ao destacar o significado, você precisa de saber que uma das


características principais da palavra é possuir um significado, ou seja,
referenciar um aspecto do domínio da experiência da realidade. Por
exemplo, a palavra papaia remete-nos a um referente da realidade, isto é,
uma fruta.

A palavra é constituída por uma estrutura fonológica sons e gráfica


(código que representa a palavra na escrita). Os dois aspectos constituem
o significante da palavra.

O significado da palavra pode remeter-nos a um referente da realidade


imediata, quando assim acontece estamos perante o seu valor denotativo.

Ex: Dói-me o pé direito - a palavra pé refere-se à parte inferior do órgão


do corpo humano articulado com a perna.

E, quando nos remete a um referente distinto do que é a realidade


imediata, vislumbra-se o seu valor conotativo.

Ex: Aos 40 anos já aparecem os primeiros pés de galinha - aqui, a


palavras pés interpreta-se como ruga no canto do olho.

Na linguagem técnica, a palavra admite um e único significado, diz-se


monossemia ou a palavra é monossémica. Já na linguagem comum a
palavra pode adquirir vários significados, verifica-se a polissemia ou a
palavra é polissémica.

89
Relações semânticas entre palavras
As relações semânticas entre as palavras podem ser analisadas em três
grandes vertentes:

a) De semelhança/ Oposição

Nesta vertente as palavras podem ser relacionadas pela sinonímia e/ou


antonímia.

Sinonímia – É a relação entre palavras na qual as mesmas assumem um


significado equivalente, porém com grafias diferentes, sendo possível
empregar uma por outra em determinados contextos. As palavras assim
relacionadas chama-se sinónimas.

Ex: esta rosa é linda; esta rosa é bonita; avaro/ avarento; beiço/lábio;
cara/rosto

Anteriormente falámos da relação de semelhança, em seguida veremos a


de oposição das palavras.

Antonímia – Uma relação entre palavras em que duas palavras têm


significados opostos: bom/mau; aquecer/arrefecer. As palavras assim
relacionadas designam-se antónimas.

A antonímia pode ser complementar quando a asserção positiva de uma


implica a asserção negativa de outra, isto é não há significados
intermédios. Ex: Vivo/morto; Verdadeiro/falso;

Pode ser também gradual quando há significados intermédios. Ex:


quente/frio; alto baixo; gordo/magro.

Para além da relação de semelhança e/ou oposição, as palavras


apresentam, também, a relação de hierarquia.

b) De hierarquia

Já as relações de hierarquia se classificam em hiperonímia/hiponímia.

Hiperonímia/hiponímia – uma palavra A é hiponímia de outra B se o


significado de A estiver contido no de B. Logo A é hipónimo de B e B é
hiperónimo de A.

90
Ex: Flor (hiperónimo) de rosa, cravo, hortência e outros hipónimos.

Vegetais (hiperónimo) de couve, repolho, alface, outros hipónimos

c) De parte-todo

Meronímia/holonímia – Uma palavra x é merónima de outra y se o


significado de x corresponder a uma parte do de y. Então, y é holónimo de
x; e x é merónimo de y.

Ex: corpo (holónimo) de cabeça, tronco, perna, outros merónimos de


corpo.

Antebraço, cotovelo, mão (merónimos) de braço, este é holónimo


daqueles

91
Relação entre língua e sociedade
Desde os estudos feitos acerca da linguagem procurou-se resposta
para entender a relação entre a linguagem e a sociedade, sendo estes
dois elementos interligados, pois, em qualquer período o Homem
sempre procurou uma forma de se comunicar (escrita ou oralmente).

A língua é social, tem uma estrutura única e comum, inatingível e


invisível. Realiza-se dentro da sociedade ou comunidade, mantendo os
seus membros em interacção.

Segundo Warburg (1963:233) a língua e a comunidade linguística


condicionam-se reciprocamente; segundo ele, não existe uma língua
sem sociedade e vice-versa

A variação linguística
A língua varia no tempo e no espaço, e a localização geográfica das
comunidades (factor geográfico); o contacto entre línguas diferentes,
aspectos culturais de cada comunidade, o estatuto social dos falantes
(factor político-social), entre outros, apresentam-se como factores
determinantes para a variação linguística.

A variação linguística pode ser concebida em duas vertentes:

- Intralinguística: Aquela que se manifesta no uso e nas estruturas de


um mesmo sistema linguístico. Isto é, quando a mesma língua sofre
alterações definidas política, social e geograficamente.

- Interlinguística: Quando ocorre dentro de sistemas linguísticos


diferentes, é caracterizada pelo uso de dois ou mais sistemas distintos.

Alguns conceitos relacionados com a variação linguística

Idiolecto – Quando um falante de uma língua, no conjunto de todos os


actos de fala, tem hábitos discursivos próprios, usa preferencialmente
determinadas construções gramaticais, determinadas palavras que, de

92
alguma forma, o individualizam. Em outras palavras, é o uso
particular ou característico duma língua pelo falante.

Por exemplo, há falantes de língua portuguesa que, preferencialmente


e com frequência, usam no seu discurso a conclusiva portanto.

Sociolecto – É a variação linguística entre os grupos sociais e que


permite demarcá-lo um em relação ao outro. Esta variação tem como
causa, factores de índole social.

Por exemplo, olhando para o contexto moçambicano, especificamente


para a Zona sul, o cicopi falado em Inharrime é diferente do falado em
Zandamela; O citswa de Vilankulo difere-se do de Homoíne - as duas
línguas são faladas na província de Inhambane.

Dialecto – É uma variação regional da língua ou processo de


diferenciação linguística resultante da diminuição da frequência e da
intimidade entre os falantes da mesma língua. Porém, as pessoas com
esta diferenciação linguística podem comunicar-se e entender-se.

O exemplo do português falado em Lisboa que se distingue do falado


e no arquipélago dos Açores e este último apresenta-se como dialecto
em relação ao português falado em Lisboa, tido como padrão.

Pidgin - É um género especial de língua reduzida. Ela surge entre


grupos de falantes de línguas diferentes, quando estes se querem
comunicar por interesses imediatos, especialmente comerciais.

Para que nasça pidgin é necessário que haja condições como: contacto
de falantes de línguas diferentes; necessidade de contactos imediatos.

Esta língua não possui falantes nativos, porque resulta da necessidade


de carácter social e não individual (comércio, viagens de
descobrimentos, invasões, escravatura, etc.).

Crioulo - Faria e tal (1996) tenta traçar a trajectória do Crioulo a


partir da criação (criar). Cria designou o animal criado em casa,
passou depois a designar os filhos dos escravos, e depois os mestiços
nascidos de relações de escravos com outras raças brancas.

93
Depois, este género de língua foi falado por crioulos nas zonas das
Caraíbas, América Ocidental.

Assim, Crioulo é um pidgin que devido ao desenvolvimento dos seus


falantes passa a se designar língua nativa ou materna o que não
acontece com o pidgin.

Diferenças entre Pidgin e Crioulo


Pidgin É uma L2 sem falantes nativos, enquanto Crioulo é uma L1
com falantes nativos. O Crioulo descende de Pidgin e cobre todas as
necessidades dos falantes. Pidgin é língua restrita, por isso se limita à
necessidades restritas do imediato.

Lingua franca – Quando grupos sociais falantes de línguas


divergentes, por comum acordo, usam uma determinada língua para se
comunicar social ou comercialmente, a essa língua acordada para a
comunicação dá-se o nome de lingua franca. É uma língua usada com
fins previamente determinados.

Por exemplo, o inglês tem sido chamado “a liíngua franca do mundo


inteiro”, pois, em muitas vezes recorre-se a ela para se manter relações
de comunicação com povos de origens diversas. O latim e o grego
foram durante um milénio linguas francas do cristianismo no
Ocidente e no Oriente.

Outros conceitos:

L1 (Língua Primeira) é a primeira que se adquire em termos


cronológicos. A língua do primeiro contacto com a sociedade e que
pode coincidir com a língua materna. Com a aquisição da L2, o seu
domínio e uso frequente se tornam necessários, passando a ser a L1.
Sabe-se que a L2 é a adquirida após a L1 ou língua materna.

A Língua 2 (Língua segunda) também tida como não nativa tem


duas acepções:

94
• Qualquer língua aprendida após a língua primeira em situação
cronológica;
• Aquela cuja competência temos em detrimento da língua dominada
em primeira mão.

LE (Língua Estrangeira) língua não nativa, e pode ser aprendida em


espaços territoriais distantes àquela que é nativa, usada no ensino
formal. Este ensino é feito normalmente por falantes não nativos.

Língua Padrão - Dias (2006) diz que a posição da Língua Padrão


depende da posição dos seus falantes (posição política, social e
económica); e que termos como língua, dialecto, variedade criam a
subjectividade, pois são designações derivados de factores
extralinguísticos.

Por exemplo, duas línguas mutuamente inteligíveis, uma pode ser


eleita social e politicamente como modelo, isto é, língua padrão. O
Estado e o aparelho institucional são as principais entidades
responsáveis pela padronização duma determinada língua.

Na perspectiva de Gonçalves (2008), Língua padrão “é a norma que


deve ser aplicada obrigatoriamente a todos os usos de uma língua. De
uma forma geral, a variedade de língua que é padronizada é aquela
que por diversas razões adquiriu maior prestígio na comunidade”.

A Língua padrão é Língua Nacional, porque serve de expressão de


sentimento nacional, com ou sem o conceito de Estado.

Relação entre língua e falante


Na relação entre a língua e utente/falante, observa-se situações em que
um indivíduo pode ter habilidades de usar e compreender mais de um
sistema linguístico, isto é, usar um determinado sistema linguístico em
determinadas situações e outro em outras ou seja, de acordo com a
dinâmica do indivíduo no uso das línguas podemos ter os seguintes

95
fenómenos:

Monolinguismo: É um fenómeno linguístico que consiste em o


indivíduo usar um único sistema linguístico. Fala, compreende uma só
língua, acontece quando o indivíduo é exposto a uma língua e não a
outras, contacto linguístico restrito.

Bilinguismo: Fenómeno linguístico caracterizado pelo domínio de


dois sistemas linguísticos diferentes. O indivíduo fala com
competência duas línguas, um bilingue preenche as exigências da
comunicação em qualquer uma das línguas que fala.

Multilinguismo: Quando um indivíduo pode usar vários sistemas


linguísticos, ou seja, fala mais que uma língua, o seu campo
comunicativo é mais amplo.

Resumo da Lição
Como aspectos destacáveis desta lição, importa referir que a
semântica, como uma área da linguística que tem por objecto de
estudo o significado das palavras duma determinada língua,
subdivide-se em duas principais subáreas, a estrutural e a lexical. E,
sobre a subárea lexical que constituiu o foco principal desta secção,
vimos que as palavras se relacionam tendo em conta 3 vertentes -
semelhança/oposição; hierarquia; parte/todo.

Auto-avaliação
Feito o estudo completo da lição, avalie o seu nível de
aprendizagem da matéria resolvendo as questões a seguir.

1. O que estuda a semântica?


2. Indique e explique a relação semântica existente entre as
palavras: Homem/criança; Carro/volante; falir/extinguir/;

96
Extrovertido/introvertido.

Chave decorreção
Agora compare as suas respostas com as linhas de correcção que
se seguem:

1. A semântica estuda o significado das palavras ou expressões de


uma determinada língua.

2. Homem/criança - Apresentam uma relação de hierarquia de


hiperonímia/hiponímia, isto porque a palavra Homem contempla no
seu significado, o sentido da palavra criança. Sendo, por conseguinte,
a primeira hiperónima e a segunda hipónima;
Carro/volante - Apresentam uma relação de parte-todo uma vez que
a primeira constitui o todo relativamente à segunda que corresponde
à parte. Assim, a primeira é holónima e a segunda merónima;
Falir/extinguir - Apresentam uma relação de semelhança, isto é, são
palavras sinónimas uma vez que têm significados equivalentes uma
da outra;
Extrovertido/introvertido - Denotam uma relação de oposição, pois,
uma tem um significado que se opõe ao do outro. Por isso, são
palavras antónimas.

Decifre o valor conotativo da expressão " pernas ao ar" na


frase que se segue: o mundo está de pernas ao ar.

Consulte a bibliografia complementar apresentada a seguir para


Exercício aprofundar esta e as demais questões que podem vir a apresentar-
se.

97
98
Referências bibliográficas
MUSSALIN, F. e BENTES, Anna C. (ogrs.) Introdução à Linguística:
domínios e fronteiras. Volumes 1 e 2, São Paulo, Cortez editora, 2001.

99
Lição n° 2
Pragmática – usos da língua

Introdução
Depois da apresentação do tema relativo à semântica na lição anterior,
nesta, apresentaremos a pragmática. Caro estudante, o uso duma
determinada língua pelo falante, no acto comunicativo, é caracterizado
por um conjunto de elementos envolvidos.

Como é óbvio, para além da própria língua usada estar ligada ao contexto
e os utentes, cada um destes elementos tem as suas características.
Por isso gostaríamos, na presente lição, de demonstrar a correspondência
e a pertinência destes elementos no acto comunicativo.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

Conhecer o objecto de estudo da pragmática;

Analisar os principais conceitos da pragmática;

Demonstrar a articulação entre os diferentes elementos


Objectivos
envolvidos no acto de comunicação.

pragmática, emissor, locutor, enunciador, enunciado, receptor,


ouvinte, contexto, destinatário e interlocutor.

Terminologia

100
A Pragmática
“É o ramo da linguística que estuda as relações dos signos com os seus
utilizadores ou intérpretes em contextos reais. Consiste na análise das
relações existentes entre as formas linguísticas e os participantes no
processo comunicativo num contexto de interacção”, (Ribeiro e tal,
2010:275).

Estuda, essencialmente, os objectivos da comunicação, ou seja, os


factores que condicionam e determinam o uso da linguagem.

Resumindo: A pragmática estuda a relação entre o enunciado e o


contexto da sua produção analisada pelos seus utilizadores.

Pois, os fenómenos linguísticos não se limitam ao âmbito da frase ou


enunciado mas vão para além dela e buscam outros domínios de ordem
social, cultural, político, etc.

Segundo Vilela (1999) citado por Ribeiro et al (2010:276),

A interacção discursiva pressupõe-se que os interlocutores


partilhem, para além de uma língua comum, um conjunto
amplo de informações pragmáticas: conhecimentos do
mundo, de crenças, de opiniões, de tópicos relacionados com
o meio social e cultural em que se inserem – a enciclopédia;
conhecimento mútuo dos interlocutores e do conhecimento da
situação de interlocução; conhecimento do contexto verbal,
etc.

Emissor: É a pessoa que, num determinado contexto, espácio-temporal,


realiza intencionalmente ou não um acto de comunicação verbal,
produzindo o enunciado.

Locutor: É a pessoa que fala e que produz um acto discursivo no âmbito


de uma situação de comunicação oral. Não se utiliza “locutor” para
designar um autor de discursos ou textos escritos.

101
Enunciador: É a pessoa com identidade psicossocial específica, que
escreve no discurso a sua subjectividade, a sua perspectiva intelectual,
emocional e axiológica do mundo.

Receptor: É a pessoa que recebe e interpreta um discurso ou um texto.


Pode ser uma pessoa real, como um interlocutor, um ouvinte ou um leitor
empírico e concreto.

Ouvinte: É a pessoa que recebe, compreende, os actos enunciativos


produzidos pelo locutor, sem participar directamente na interacção
discursiva.

Destinatário: É a pessoa ou entidade à qual se dirige um discurso ou um


texto. Pela sua condição social, pelo seu género, pela sua enciclopédia,
pela sua idade, etc.; o destinatário condiciona pragmaticamente a
actividade discursiva do emissor.

Interlocutor: É o participante num acto discursivo na posição do receptor


e que pode, no intercâmbio da interacção discursiva de um diálogo,
assumir o papel do locutor. Isto é, refere-se a quem é dirigida a
enunciação e que participa do acto discursivo.

Mas, objectivamente, o que diferencia os seguintes elementos: emissor,


locutor, enunciador, interlocutor?

Caro estudante, clarifique as suas ideias com ajuda do quadro abaixo.

Emissor Locutor Enunciador Interlocutor

Realiza um acto Produz Expressa, no Participa no acto


comunicativo oralmente um discurso, os seus discursivo e
verbal. acto discursivo. sentimentos ou pode mudar de
experiências. papel para
locutor.

102
O enunciado e o contexto

Enunciado

É produto de um acto de enunciação; é uma sequência comunicativa de


extensão variável, semanticamente auto-suficiente e sintacticamente
independente, que forma parte da cadeia de um texto, oral ou escrito, na
qual os enunciados se encadeiam em conformidade com os critérios de
coesão e de coerência textuais e com o princípio da progressão temática,
(Ribeiro e tal, 2010:278)

Contexto

Designa o conjunto de elementos linguísticos e não linguísticos que


rodeiam uma situação

comunicativa, seja qual for a sua extensão. Apresentado de outra maneira,


o contexto é a dimensão extra linguística de um enunciado, necessária
para a compreensão do mesmo.

O contexto dos enunciados intervém sempre na constituição do sentido de


um determinado enunciado.

Resumo da Lição
Na lição anterior destacámos a questão de, no contexto de
comunicação, em que se verifica o uso de uma dada língua, estarem
envolvidos vários elementos de que depende a comunicação. Nesta
senda, sublinhámos os elementos como: enunciado, utente e contexto.

Vimos também que no acto comunicativo os utentes da língua


assumem diversos e adversos papéis, podendo ser emissores,
locutores, interlocutores, destinatários, enunciadores, ouvintes e
receptores.

103
Auto-avaliação
Feito o estudo completo da lição, segue-se a fase de avaliar o seu
nível de aprendizagem da matéria resolvendo as questões a
seguir.

1. Defina Pragmática.
2. Que relação existe entre o enunciado e o contexto?

Chave decorreção
Agora compare as suas respostas com as linhas de correcção que
se seguem:

1. Na Pragmática analisam-se as relações entre as formas linguísticas


e os participantes no processo comunicativo.

2. O enunciado, como uma sequência comunicativa produzida por um


falante de uma determinada língua, depende do contexto em que é
produzido para a atribuição de sentido. Ou seja, o sentido de
enunciado depende do contexto em o mesmo é/foi produzido.

Analise o sentido da frase a seguir tendo em conta a sua


relação com o contexto em cada uma é gerada (zona urbana e
zona rural): O frango subiu.

Exercício Para aprofundar esta e outras questões, consulte a bibliografia


complementar a seguir apresentada.

104
Referências bibliográficas
CALLADO, J. A. Fundamentos de Linguística Geral. São Paulo,
Editora Cultrix, 1993.

-------------, O Conhecimento da Língua, Sua Natureza, Origem e Uso.


Lisboa, Editorial Caminho, (Trad. por A. Gonçalves e A. T. Alves,
Coord. por I. Duarte), 1994 (orig.1986).

LYONS, John. O que é a Linguagem? Introdução ao Pensamento de


Noam Chomsky. Lisboa, Editorial Estampa, 1972.

ABRAHAM, Werner. Diconário de terminologia linguística Actual.


Madrid, Editorial Gredos, 1981.

MATEUS, M. H. M. e VILLALVA, A. O essencial sobre Linguística.


Portugal (S/cidade), Editora Ndjira, 2006.

RIBEIRO, H. et al. Gramática Moderna da Língua Portuguesa.


Lisboa, Escolar Editora, 2010.

105
Conteúdos
Aquisição de Linguagem
Unidade 5: Aquisição da Linguagem

Lição n° 1

Aquisição de linguagem
Processos de apropriação da

UNIDADE
linguagem humana................................................................
Aquisição da linguagem ................................
Teorias de aquisição da linguagem................................
I. Teoria Behaviourista ou Teoria do
E-R-R ................................................................
II. Teoria Inatista ou Teoria Mentalista ................................
III. Teoria Cognitivista ................................

Lição n° 2

A linguagem e o cérebro
A linguagem e o cérebro................................
Onde se situa o dispositivo da
linguagem? ................................................................
Mecanismos cerebrais para a produção
da linguagem ................................................................
Fases de aquisição da linguagem ................................

Pág. 106- 125

106
Unidade 5: Aquisição da Linguagem

Introdução
A unidade finda abordava questões inerentes ao significado das palavras
ou expressões de língua e a relação entre o enunciado e os seus utentes. A
quinta unidade foi desenhada para trazer algumas bases teóricas e
explicativas sobre a aquisição da linguagem pelo Homem.

De facto, primeiro é preciso entender que para se apropriar da linguagem,


o Homem enfrenta dois grandes processos, a aquisição e a aprendizagem.

Nesta unidade, apresentamos as principais teorias formuladas sobre a


aquisição da linguagem, a estrutura do cérebro que permite a aquisição da
linguagem, fases pelas quais a criança passa ao longo do processo da
aquisição da linguagem.

Objectivos da unidade
Ao completar esta unidade, você deve:
Conhecer e descrever as teorias de aquisição da linguagem;

Identificar os principais órgãos que intervêm no processo de


aquisição da linguagem;

Conhecer as fases da aquisição da linguagem.

107
Lição n° 1
Aquisição de linguagem

Introdução
A presente lição está reservada à reflexão sobre os principais processos
através dos quais o Homem se apropria da linguagem, as teorias que
explicam o processo de aquisição da linguagem, com destaque para os
seus mentores, os fundamentos que cada teorizador apresenta, limites de
cada uma das teorias.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

Distinguir o processo de aquisição do processo de


aprendizagem da linguagem;

Analisar as principais teorias de aquisição da linguagem;


Objectivos

Ainda sobre esta lição, espera-se que você aprofunde cada tópico que
a compõe. Para tal, propõe-se-lhe 90 minutos para o estudo desta
lição, sendo 30 para a leitura e 60 para a resolução de
Tempo
tarefas/exercícios.

aquisição e aprendizagem da linguagem, inatismo, behaviorismo,


cognitivismo.

Terminologia

108
Processos de apropriação da linguagem humana
Já referenciamos, anteriormente, que para se apropriar da linguagem o
Homem reconhece dois grandes processos, as saber: aquisição e
aprendizagem.

Será que falar de aquisição da linguagem equivale falar de


aprendizagem da linguagem?

A seguir, caro estudante, analise atentamente a caracterização de cada


processo e capitalize os principais aspectos diferenciadores.

Aquisição - É a interiorização natural da língua que se caracteriza por


ser um processo intuitivo, subconsciente, implícito, assistemático,
instável, mais orientado para a produção de sentido do que para a
forma, do que é socialmente marcado.

No processo de aquisição, o indivíduo não está consciente do


processo, aprende duma forma natural, é um processo operativo
determinado pela interacção deste com o meio circundante. Por isso,
ele não dá conta do que já aprendeu e que antes não sabia.

Diferentemente da aquisição, a aprendizagem - É um processo


regulado; com conhecimento reflexivo, consciente e explícito;
sistematizado, orientado para as relações forma-sentido; tendente pela
via da regularização e padronização ao exercício do controlo
normativo da produção verbal. O meio da aprendizagem vai ser uma
instituição formal da educação – a escola.

Aquisição da linguagem
Segundo Xavier e Mateus (1992:49), a aquisição da linguagem é o
processo através do qual o indivíduo aprende a sua língua materna L1,
adquirindo as regras de funcionamento dessa língua por simples
exposição natural, a sua utilização no contexto comunicacional em
que está inserido.

Como vimos anteriormente, a aquisição ocorre num meio informal, ou

109
seja, natural através do convívio quotidiano motivado pela
necessidade de se comunicar.

Teorias de aquisição da linguagem


A questão de aquisição da linguagem foi, ao longo dos anos, um
objecto de grandes debates entre os linguistas, tendo culminado com a
formulação de algumas teorias que a seguir se apresentam:

I. Teoria Behaviourista ou Teoria do E-R-R


Esta teoria vigorou nos anos 50 no domínio da Psicologia e da
Linguística. Skinner, um dos precursores desta teoria, partindo da
constatação de que qualquer criança psicofisiologicamente “normal”
aprende a falar, ao contrário das crianças surdas, defendeu que a
língua era aprendida através de um sistema de hábitos, pressionados
por uma cadeia de Estímulo-Resposta-Reforço (E-R-R). Esta teoria dá
ênfase ao meio ambiente ao qual a criança deve ser exposto e
fundamenta-se nas seguintes linhas de razão:

• Que o meio-ambiente fornece os estímulos e a criança,


quer pela produção, quer pela compreensão linguística, fornece as
respostas. As respostas podem ser reforçadas pelos adultos.

A mesma teoria valoriza a imitação, que seria estimulada e


regularizada pelos adultos; sendo o meio-ambiente e a experiência a
desempenharem um papel fundamental na aprendizagem.

Limitações da Teoria Behaviourista ou E-R-R.

Constituem principais limitações dos Behavioristas:

• A não concepção da aquisição como um sistema de regras


interiorizadas;
• O ignorar a capacidade que qualquer ser humano tem de produzir
frases e expressões nunca antes ouvidas, ou seja, ignoram o aspecto
criativo da linguagem - criatividade;

110
• Ignoram o papel da mente da criança no processo da aquisição da
linguagem.

II. Teoria Inatista ou Teoria Mentalista


Esta teoria surge também nos anos 50, mas em oposição à Teoria
Behaviourista. Chomsky pôs em relevo a base biológica da linguagem
e os mecanismos específicos da sua produção.

De facto, defendeu a existência da capacidade inata, exclusivamente


humana, para a aquisição da linguagem. Para este autor, a criança
nasce com um LAD (Language Aquisition Device) que lhe permite a
aquisição e domínio da sua língua materna, num período relativamente
curto, pois contém os princípios da Gramática Universal (GU).

Chomsky defende que a linguagem é determinada pela estrutura da


mente que possui algumas características importantes, como sejam:

• A criatividade, que é a capacidade de gerar frases que nunca


tenham ouvido nem produzido anteriormente;
• A dualidade de estrutura, isto é, a possibilidade de representar as
frases por combinações de palavras e de palavras por combinações de
fonemas.

Esta teoria distingue competência (capacidade intrínseca e ideal que o


sujeito possui para produzir e compreender uma infinidade de
enunciados da sua língua); da realização (actualização desse
conhecimento em situações reais de comunicação, ou seja, realização
prática da “geração de regras” em acção na competência).

Em suma, esta teoria procura explicar a universalidade do processo da


aquisição da linguagem e da sua sequência; o facto de a diversidade
do meio não afectar o curso da aquisição; a produção de formas nunca
ouvidas e a rapidez do processo de aquisição.

Limitações da Teoria Mentalista

111
Os mentalistas não deram a importância devida à interacção verbal e
ao contexto, valorizados, a posterior, pela Psicologia comunicativa.
Negligenciaram a semântica (significação) e a pragmática (funções da
linguagem). Consideram que até aos cinco anos é idade básica para
adquirir a linguagem, não dá importância à fase posterior, a da
adolescência, em que o falante aprende a lidar com a abstracção. E
não explora, com rigor, a relação entre a linguagem e a cognição.

III. Teoria Cognitivista


Defendida por Piaget nos anos 70 a 80, enfatizou a relação entre a
linguagem e a cognição, questionando se a capacidade da linguagem
estava ou não isolada de outras capacidades cognitivas. Para Piaget, o
pensamento precede a linguagem e pode existir sem ela, e que o
desenvolvimento cognitivo resulta da interacção com o contexto.

Este teorizador concebe dois processos centrais da aprendizagem: a


assimilação (acção do sujeito sobre o objecto = o indivíduo vai ao
encontro do objecto para conhecê-lo) e a acomodação (acção do
objecto sobre o sujeito = o objecto conhecido deixa-se conhecer pelo
sujeito).

No que respeita à linguagem, considera que o cérebro assimila a


informação linguística nova e, simultaneamente, inputs linguísticos.

Este autor descreve as diferentes fases de aquisição e desenvolvimento


da linguagem a partir dos seis meses até aos doze anos, período em
que o ser humano lida com abstracções.

Limitações da Teoria Cognitivista

Nesta teoria, Piaget considera que o desenvolvimento cognitivo


resulta da interacção com o meio-ambiente recusa a programação
genética que, entretanto, é aceite pelos cognitivistas da actualidade.

112
Estudos Intra e interlinguísticos (Cross linguistics studies)

Desde os finais de 60, estes estudos têm-se desenvolvido para


procurar provar que:

• Existe uniformidade no desenvolvimento da linguagem;


• Cada língua tem características particulares e, ao mesmo tempo,
características comuns a todas as línguas do mundo.

Por estas razões, se têm desenvolvido investigações em narrativas


produzidas em várias línguas, por falantes de diferentes faixas etárias.
Para o efeito, Hickmann, Slobin e Berman desenvolveram projectos
investigativos em que puseram falantes a contar uma história a partir
de ilustrações que lhes estivessem subjacentes.

Os resultados foram: numa mesma língua, em grupos de faixas etárias


diferentes constataram-se elementos de carácter intralinguístico,
enquanto a análise das narrativas obtidas de sujeitos do mesmo grupo
etário, em línguas diferentes, permitiram constatações de carácter
interlinguístico.

Ainda estes estudos defendem que a aquisição de qualquer língua


reflecte a ligação entre o nível formal e o nível funcional.

No nível formal, o desenvolvimento é regulado pelo crescimento das


capacidades perceptuais e dos esquemas de informação que operam
em conjunto com os aspectos da língua materna.

No nível funcional, o desenvolvimento é regulado pelo aumento das


capacidades intelectuais e comunicativas.

113
Resumo da Lição
Ao longo da lição que acabámos de apresentar vimos que os processos
de aquisição e aprendizagem se distinguem um do outro. Na mesma
lição, constatámos que foram vários autores que se empregaram ao
estudo sobre como é que o Homem detém a linguagem que o
caracteriza, onde destacámos as teorias: inatista, behaviorista,
congnitivista, defendendo, cada uma o seu posicionamento.

Auto-avaliação
Feito o estudo completo da lição, avalie o seu nível de
compreensão da matéria resolvendo as questões a seguir.

1. Qual é a diferença existente entre aquisição e aprendizagem?


2. Distinga a visão ambientalista da mentalista sobre a aquisição
da linguagem.

114
Chave decorreção
Muito bem! Tem dúvidas quanto às respostas que deu?

Compare-as com as soluções que se seguem:

1. A diferença entre a aquisição e a aprendizagem centra no seguinte:


Aquisição Aprendizagem
. Ocorre no meio natural, . Ocorre no meio
informal - interacção social; institucional, formal - escola;
. O sujeito está inconsciente do . O sujeito está consciente do
próprio processo e dos seus próprio processo e dos seus
resultados, intui; resultados, planeia as suas
. Visa garantir a comunicação no actividades;
meio social, isto é, produção de . Visa assimilar as regras
sentido; gramaticais que asseguram o
uso correcto da língua-alvo,
ou seja, o nível formal da
língua;

2. Visão mentalista: a criança nasce com um dispositivo que lhe


permite adquirir a linguagem (LAD); dá ênfase à criatividade e à
dualidade de estruturas;
Visão ambientalista: a aquisição da linguagem pela criança depende
do meio ambiente; dá ênfase à imitação e interacção da criança com o
meio ambiente que estimula a sua aquisição.

Depois de analisar as teorias de aquisição da linguagem, com


qual teoria se identifica. Porquê?

Aprofunde esta e outras questões com base na seguinte


Exercício bibliografia complementar:

115
Referências bibliográficas
DUBOIS, Jean et al. Dicionário de Linguística. 9ª Ed., São Paulo,
Cultrix, 1993.

FLETCHER, Paul e GARMAN, Michael (Eds.), Language Acquisition.


2nd edition, Cambridge, Cambridge University Press, 1992.

-----------, Teoria da gramática: A faculdade da Linguagem. Lisboa,


Editorial Caminho, 1992.

SEQUEIRA, Fátima (org.). Linguagem e Desenvolvimento. Braga,


Instituto de Educação - Universidade de Minho, 1993.

SAPORTA, Sol. Psycholinguistics. New York, Hot, Rinehart and


Winston, 1961.

DUCROT, O. & TODOROV, T. Dicionário das Ciências da


Linguagem. Lisboa:

SCLIAR-CABRAL, L. Introdução à Psicolinguística. São Paulo:


Editora Ática S.A.

1991.

SIM-SIM, Inês. Desenvolvimento da Linguagem. S/ed., Lisboa


Universidade aberta, 1998.

116
Lição n° 2
A linguagem e o cérebro

Introdução
Reflectiu, na lição anterior, sobre o processo de aquisição da linguagem
pelo Homem. Desde já, estude com objectividade a lição cujo objecto é a
relação entre a linguagem e o cérebro.

Os estudos feitos sobre este assunto constataram que uma criança


psicofisiologicamente normal adquire a linguagem. Tal premissa leva à
conclusão de que existe uma ligação entre a linguagem e a mente.

Nesta unidade apresentaremos a relação entre a linguagem e a mente


humana (cérebro); os mecanismos cerebrais que ocorrem no indivíduo
visando a aquisição, compreensão e produção da linguagem; as fases por
que a criança passa durante o processo de aquisição da linguagem

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

Identificar as áreas cerebrais para a Produção e Recepção da


linguagem;
Caracterizar e explicar as funções dos vários sistemas biológicos
envolvidos na Produção e Compreensão da linguagem;
Objectivos
Explicar os Processos de Aquisição, Produção e Compreensão da
linguagem.

117
. Para aprofundar esta lição, você dispõe-se de 30 minutos de leitura e
60 de resolução de tarefas/exercícios.

Tempo

cérebro, assimilação, acomodação, competência, realização, sistema


nervoso, cérebro.

.
Terminologia

118
A linguagem e o cérebro
O estudo que se ocupa dos fundamentos biológicos da linguagem e
dos mecanismos do cérebro que estão na base da sua aquisição e uso
denomina-se Neurolinguística.

O cérebro – o órgão mais complexo do corpo humano e situa-se por


baixo do crânio e é constituído por cerca de 10 biliões de células
nervosas (neurónios) e biliões de fibras que ligam as células entre si.

As células nervosas ou massa cinzenta formam a superfície do


cérebro denominada córtex. Por baixo do córtex fica a massa branca
que é constituída principalmente pelas fibras de ligação. O córtex
cerebral é o órgão de decisão do corpo, recebe mensagens de todos os
órgãos sensoriais e é a fonte de todos os actos de vontade. É, “a sede
de tudo o que é exclusivamente humano no cérebro” e é também
onde se aloja a memória.

A gramática que representa o nosso conhecimento da linguagem terá


obviamente de se situar algures nessa massa cinzenta.

Onde se situa o dispositivo da linguagem?


Nos seus estudos, no início do século XIX, F. Gall sugeriu que a
linguagem estava localizada nos lóbulos frontais do cérebro porque,
quando era jovem, reparava que o mais equilibrado e inteligente dos
seus companheiros de estudo tinha os olhos salientas; o que, segundo
ele, significava um super desenvolvimento da matéria cerebral.

Só em Abril de 1861 é que a linguagem foi especificamente


relacionada com o lado esquerdo do cérebro, isto é, num encontro
científico em Paris, Dr. Paul Broca afirmou inequivocamente que a
fala se situa no hemisfério esquerdo.

O cérebro divide-se em duas partes (chamadas hemisférios


cerebrais) um de lado direito, outro de lado esquerdo. Esses
hemisférios estão ligados como gémeos siameses, precisamente a

119
meio, pelo corpo caloso: é esta via que permite a comunicação entre
os “dois cérebros”.

O hemisfério esquerdo controla os movimentos do lado direito do


corpo e o hemisfério direito controla os do lado esquerdo, ou seja, se
coçar o nariz com a sua mão direita, é o hemisfério direito que dirige
a sua acção. Se alguém sussurrar ao seu ouvido esquerdo, o sinal de
som vai para o hemisfério direito antes de atravessar a via para
chegar ao esquerdo.

Na base do cérebro encontra-se o bolbo raquidiano que liga o cérebro


à espinal medula.

Mecanismos cerebrais para a produção da linguagem


Na recepção e produção duma mensagem oral estão envolvidos:

- Sistema nervoso: responsável pelo processamento e codificação


das mensagens;

- Sistema respiratório: responsável pela produção da voz, uma vez


que constitui a fonte da energia acústica para a fonação;

- Sistema articulatório: responsável pelas características dos sons;

- Sistema auditivo: responsável pela recepção do som ouvido;

O sistema nervoso, que controla a respiração, a fonação e articulação


divide-se em sistema nervoso central (SNC) e sistema nervoso
periférico (SNP).

O controlo do processo situa-se, fundamentalmente, a nível do SNC.

Como explicam Andrade e Viana (1996:116), no cérebro do locutor,


parte integrante do sistema nervoso central, organiza-se a estrutura
subjacente ao enunciado linguístico (representação linguística,
fonológica) e desencadeia-se o plano fonético, um programa
detalhado de planeamento e coordenação de gestos. Este último, é
também uma representação abstracta.

120
As instruções motoras centrais são enviadas ao sistema periférico,
que, por sua vez, activa os mecanismos de produção. Das estruturas
anatómicas que participam na produção da fala a nível periférico
destacam-se os pulmões, a laringe, a faringe e as fossas nasais. A
actividade motora da laringe e das estruturas supra laríngeas do
falante opera sobre o ar que é expirado dos pulmões. Daí, resultam
pequenas variações de pressão (sinais acústicos) que se propagam no
ar - ambiente, sob a forma de ondas, transportando a informação
linguística do locutor de uma forma altamente codificada.

Numa situação de comunicação normal, os sinais acústicos ou sons


emitidos pelo falante e propagados pelo ar são captados e
processados pelo aparelho auditivo do ouvinte que os transforma em
sinais eléctricos adequados ao sistema nervoso. A informação
auditiva obtida a partir de propriedades presentes no sinal sonoro é
transmitida do sistema nervoso periférico ao sistema nervoso central
onde é descodificada e utilizada na “recuperação” da mensagem do
falante pelo ouvinte.

Por outras palavras, pode-se dizer que o emissor formula, a nível de


conceito, aquilo que quer transmitir ao receptor. Esta fase processa-se
a nível do sistema nervoso central, que transmite as instruções
necessárias através do sistema nervoso periférico para que os órgãos
de articulação oral façam os movimentos devidamente coordenados,
de forma a produzirem uma cadeia de sons correspondentes à
mensagem a transmitir. O sinal acústico emitido propaga-se no meio
até atingir o receptor. Este recebe tal sinal através do sistema auditivo
que transmite, pelo sistema nervoso periférico, a codificação da
mensagem até ao sistema nervoso central. Assim, o sistema nervoso
central é responsável pelo processamento central da mensagem ou
informação e o sistema nervoso periférico é responsável pela
produção ou execução motora da informação recebida do sistema
nervoso central e pela transmissão, para o sistema nervoso central,
dos impulsos ou estímulos verbais percepcionados na periferia.

121
(Extraído em Carla Ataíde. Maciel, 1998)

Fases de aquisição da linguagem


As crianças adquirem qualquer língua por fases sucessivas que se vão
aproximando da gramática do adulto (...). No entanto, muitos
investigadores são unânime em afirmarem que os primeiros choros e
vagidos do recém-nascido não fazem parte de um período pré-
linguístico, pois são totalmente controlados por estímulos e
constituem respostas da criança à fome, ao desconforto, ao desejo de
ser embalado ou à sensação de bem-estar, o que não é característico
para a linguagem humana.

1. Fase do balbúcio

Por volta dos seis meses de vida os bebés começam a balbuciar.


Neste período, eles produzem uma enorme variedade de sons que se
assemelham à linguagem humana. Porém, muitos dos sons não são
produzidos na língua do agregado familiar.

O balbuciar não depende de fornecimento de dados de informação


acústica-auditiva, pois, as crianças deficiente-auditivas também
balbuciam e há relatos que indicam ser o seu balbúcio muito
semelhante ao das outras crianças. E as crianças com capacidade
auditiva normal nascidas de pais surdo-mudos também balbuciam.

Durante o período de balbúcio, as crianças aprendem a reter os sons


“correctos” e a suprimir os sons “errados”.

2. Fase holofrástica

Algum tempo depois do primeiro ano – variando da criança para


criança e não tem nada a ver com a inteligência – as crianças
começam a usar repetidamente o mesmo som para “significar” a
mesma cosia. Nesta altura, as crianças já aprenderam que os sons se
relacionam com os significados e produzem as suas primeiras

122
“palavras”.

A maioria das crianças parece passar pela fase “ uma-palavra-uma-


frase”. Produzem frases de uma só palavra, que são geralmente,
palavras monossilábicas com a estrutura CV (consoante-vogal).

3. Fase de duas palavras

Por volta dos dois anos, as crianças começam a produzir expressões


de duas palavras, formam verdadeiras frases de duas palavras
relacionadas sintáctico e semanticamente, o contorno de entoação das
duas palavras abrange toda a frase em vez de existir uma pausa entre
as duas palavras. Neste período, não ocorre a flexão das palavras em
número, género, pessoa, tempo; os pronomes são raros.

4. Fase do telégrafo para o infinito

Já num período mais ou menos compreendido entre os três anos, a


criança encadeia mais de duas palavras (de três em diante). Na sua
produção, geralmente não tem palavras funcionais, a criança limita-se
a palavras plenas, ou seja, de “conteúdo” – razão de designar-se
discurso telégrafo. Nesta fase, há indícios de domínio de algumas
regras ou princípios da gramática.

123
Resumo da Lição
Em forma de sumário, importa realçar que existe uma relação entre a
linguagem e o cérebro humano, pois, é no cérebro onde ocorrem todos
os mecanismos que visam a aquisição, compreensão e produção da
linguagem. Por exemplo, ao longo do seu desenvolvimento, a criança
passa por distintas fases de aquisição da linguagem, sendo elas a fase
de balbúcio, holofrástica; fase de duas palavras; fase do telégrafo para
o infinito.

Na realização destas actividades, o sistema nervoso aparece como o


comando central que permite a activação das estruturas envolvidas no
processo de aquisição da linguagem.

Auto-avaliação
Feito o estudo completo da lição, verifique o seu nível de
apreensão da matéria resolvendo as questões que se seguem.

1. Fale dos sistemas envolvidos na produção da linguagem.


2.Caracterize a segunda fase de aquisição da linguagem.

124
Chave decorreção
Muito bem!

Agora compare as suas respostas com as linhas de correcção que


se seguem:

1. A produção da linguagem envolve quatro sistemas que,


coordenados a nível central do sistema nervoso, se articulam e
desempenham papéis diferentes nesta actividade.
- Sistema nervoso central que está subdividido em central e periférico
- responsável pelo processamento e codificação das mensagens;

- Sistema respiratório - responsável pela produção da voz, uma vez


que constitui a fonte da energia acústica para a fonação;

- Sistema articulatório - responsável pelas características dos sons;

- Sistema auditivo - responsável pela recepção do som ouvido.

2. Na fase holofrástica, depois do primeiro ano de vida, as crianças


relacionam os sons com os significados e produzem as suas primeiras
“palavras”. É a fase de “ uma-palavra-uma-frase”. Elas produzem
frases de uma só palavra, que são geralmente, palavras
monossilábicas com a estrutura CV (consoante-vogal).

Uma criança isolada do meio social não manifesta a primeira


fase de aquisição da linguagem. Com base no conhecimento
que adquiriu sobre este assunto, comente a afirmação.

Exercício A questão apresentada como outras sobre esta lição pode ser

125
aprofunda através da consulta da bibliografia a seguir
apresentada.

Referências bibliográficas
DUBOIS, Jean et al. Dicionário de Linguística. 9ª Ed., São Paulo,
Cultrix, 1993.

FLETCHER, Paul e GARMAN, Michael (Eds.), Language Acquisition.


2nd edition, Cambridge, Cambridge University Press, 1992.

-----------, Teoria da gramática: A faculdade da Linguagem. Lisboa,


Editorial Caminho, 1992.

SEQUEIRA, Fátima (org.). Linguagem e Desenvolvimento. Braga,


Instituto de Educação - Universidade de Minho, 1993.

SAPORTA, Sol. Psycholinguistics. New York, Hot, Rinehart and


Winston, 1961.

DUCROT, O. & TODOROV, T. Dicionário das Ciências da


Linguagem. Lisboa:

SCLIAR-CABRAL, L. Introdução à Psicolinguística. São Paulo:


Editora Ática S.A.

1991.

SIM-SIM, Inês. Desenvolvimento da Linguagem. S/ed., Lisboa


Universidade Aberta, 1998.

126
Conteúdos
Língua e Sociedade
Unidade VI: Língua e Sociedade

Lição n° 1

Relação língua - sociedade e variação linguística


Relação entre língua e sociedade ................................

UNIDADE
A variação linguística ................................
Diferenças entre Pidgin e Crioulo ................................
Relação entre língua e falante................................

Lição n° 2

Factores que influenciam o ensino/aprendizagem de


línguas
Relação entre língua e sociedade ................................
A variação linguística ................................
Diferenças entre Pidgin e Crioulo ................................
Relação entre língua e falante................................

Referências Geral

Pág. 126 - 144

127
Unidade VI: Língua e Sociedade

Introdução
Depois da unidade sobre a aquisição da linguagem, a presente unidade
está reservada à abordagem da relação existente entre a língua e a
sociedade-falante; variação linguística; reflexão sobre alguns conceitos
relacionados com a variação linguística. Ainda nesta unidade, apresentar-
se-á alguns elementos didáctico-metodológicos a serem considerados no
ensino de línguas, para além da relação entre a língua e o falante/utente.

Objectivos da unidade
Ao completar esta unidade, você deve:
Saber sobre a relação entre a língua e a sociedade;

Conhecer as diferentes formas da variação linguística;

Diferenciar os conceitos relacionados com as variações


linguísticas.

128
Lição n° 1
Relação língua - sociedade e variação linguística

Introdução
Nesta parte da VI unidade correspondente a 1ª lição, convidamo-lo,
prezado estudante, a mergulhar numa reflexão profunda sobre a relação
língua - sociedade. Isto é, como é que a língua se comporta perante os
seus utentes e como é que eles a utilizam.

Como se sabe, a língua realiza-se dentro duma sociedade, aliás, isso se


torna óbvio na medida em que a língua é fruto da convenção social e
ganha importância quando se torna instrumento facilitador da
comunicação entre os membros dessa mesma sociedade, daí que não
existe língua sem sociedade nem esta sem aquela.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

Saber sobre a relação entre a língua e a sociedade;

Conhecer as diferentes formas da variação linguística;

Diferenciar os conceitos relacionados com as


Objectivos
variações linguísticas

Para a presente lição, você dispõe de 30 minutos para leitura e 60


minutos para a resolução de tarefas/exercícios.

Tempo

129
Língua; variação linguística; dialecto; sociolecto; idiolecto; pidgin;
crioulo; língua primeira; língua segunda; língua franca; língua
padrão; língua estrangeira; variação intralinguística; varação
interlinguística; monolinguismo; bilinguismo; multilinguismo
Terminologia

130
Relação entre língua e sociedade
Desde os estudos feitos acerca da linguagem procurou-se resposta
para entender a relação entre a linguagem e a sociedade, sendo estes
dois elementos interligados, pois, em qualquer período o Homem
sempre procurou uma forma de se comunicar (escrita ou oralmente).

A língua é social, tem uma estrutura única e comum, inatingível e


invisível. Realiza-se dentro da sociedade ou comunidade, mantendo os
seus membros em interacção.

Segundo Warburg (1963:233) a língua e a comunidade linguística


condicionam-se reciprocamente; segundo ele, não existe uma língua
sem sociedade e vice-versa

A variação linguística
A língua varia no tempo e no espaço, e a localização geográfica das
comunidades (factor geográfico); o contacto entre línguas diferentes,
aspectos culturais de cada comunidade, o estatuto social dos falantes
(factor político-social), entre outros, apresentam-se como factores
determinantes para a variação linguística.

A variação linguística pode ser concebida em duas vertentes:

- Intralinguística: Aquela que se manifesta no uso e nas estruturas de


um mesmo sistema linguístico. Isto é, quando a mesma língua sofre
alterações definidas política, social e geograficamente.

- Interlinguística: Quando ocorre dentro de sistemas linguísticos


diferentes, é caracterizada pelo uso de dois ou mais sistemas distintos.

Alguns conceitos relacionados com a variação linguística

Idiolecto – Quando um falante de uma língua, no conjunto de todos os


actos de fala, tem hábitos discursivos próprios, usa preferencialmente
determinadas construções gramaticais, determinadas palavras que, de

131
alguma forma, o individualizam. Em outras palavras, é o uso
particular ou característico duma língua pelo falante.

Por exemplo, há falantes de língua portuguesa que, preferencialmente


e com frequência, usam no seu discurso a conclusiva portanto.

Sociolecto – É a variação linguística entre os grupos sociais e que


permite demarcá-lo um em relação ao outro. Esta variação tem como
causa, factores de índole social.

Por exemplo, olhando para o contexto moçambicano, especificamente


para a Zona sul, o cicopi falado em Inharrime é diferente do falado em
Zandamela; O citswa de Vilankulo difere-se do de Homoíne - as duas
línguas são faladas na província de Inhambane.

Dialecto – É uma variação regional da língua ou processo de


diferenciação linguística resultante da diminuição da frequência e da
intimidade entre os falantes da mesma língua. Porém, as pessoas com
esta diferenciação linguística podem comunicar-se e entender-se.

O exemplo do português falado em Lisboa que se distingue do falado


e no arquipélago dos Açores e este último apresenta-se como dialecto
em relação ao português falado em Lisboa, tido como padrão.

Pidgin - É um género especial de língua reduzida. Ela surge entre


grupos de falantes de línguas diferentes, quando estes se querem
comunicar por interesses imediatos, especialmente comerciais.

Para que nasça pidgin é necessário que haja condições como: contacto
de falantes de línguas diferentes; necessidade de contactos imediatos.

Esta língua não possui falantes nativos, porque resulta da necessidade


de carácter social e não individual (comércio, viagens de
descobrimentos, invasões, escravatura, etc.).

Crioulo - Faria e tal (1996) tenta traçar a trajectória do Crioulo a


partir da criação (criar). Cria designou o animal criado em casa,
passou depois a designar os filhos dos escravos, e depois os mestiços
nascidos de relações de escravos com outras raças brancas.

132
Depois, este género de língua foi falado por crioulos nas zonas das
Caraíbas, América Ocidental.

Assim, Crioulo é um pidgin que devido ao desenvolvimento dos seus


falantes passa a se designar língua nativa ou materna o que não
acontece com o pidgin.

Diferenças entre Pidgin e Crioulo


Pidgin É uma L2 sem falantes nativos, enquanto Crioulo é uma L1
com falantes nativos. O Crioulo descende de Pidgin e cobre todas as
necessidades dos falantes. Pidgin é língua restrita, por isso se limita à
necessidades restritas do imediato.

Lingua franca – Quando grupos sociais falantes de línguas


divergentes, por comum acordo, usam uma determinada língua para se
comunicar social ou comercialmente, a essa língua acordada para a
comunicação dá-se o nome de lingua franca. É uma língua usada com
fins previamente determinados.

Por exemplo, o inglês tem sido chamado “a liíngua franca do mundo


inteiro”, pois, em muitas vezes recorre-se a ela para se manter relações
de comunicação com povos de origens diversas. O latim e o grego
foram durante um milénio linguas francas do cristianismo no
Ocidente e no Oriente.

Outros conceitos:

L1 (Língua Primeira) é a primeira que se adquire em termos


cronológicos. A língua do primeiro contacto com a sociedade e que
pode coincidir com a língua materna. Com a aquisição da L2, o seu
domínio e uso frequente se tornam necessários, passando a ser a L1.
Sabe-se que a L2 é a adquirida após a L1 ou língua materna.

A Língua 2 (Língua segunda) também tida como não nativa tem


duas acepções:

133
• Qualquer língua aprendida após a língua primeira em situação
cronológica;
• Aquela cuja competência temos em detrimento da língua dominada
em primeira mão.

LE (Língua Estrangeira) língua não nativa, e pode ser aprendida em


espaços territoriais distantes àquela que é nativa, usada no ensino
formal. Este ensino é feito normalmente por falantes não nativos.

Língua Padrão - Dias (2006) diz que a posição da Língua Padrão


depende da posição dos seus falantes (posição política, social e
económica); e que termos como língua, dialecto, variedade criam a
subjectividade, pois são designações derivados de factores
extralinguísticos.

Por exemplo, duas línguas mutuamente inteligíveis, uma pode ser


eleita social e politicamente como modelo, isto é, língua padrão. O
Estado e o aparelho institucional são as principais entidades
responsáveis pela padronização duma determinada língua.

Na perspectiva de Gonçalves (2008), Língua padrão “é a norma que


deve ser aplicada obrigatoriamente a todos os usos de uma língua. De
uma forma geral, a variedade de língua que é padronizada é aquela
que por diversas razões adquiriu maior prestígio na comunidade”.

A Língua padrão é Língua Nacional, porque serve de expressão de


sentimento nacional, com ou sem o conceito de Estado.

Relação entre língua e falante


Na relação entre a língua e utente/falante, observa-se situações em que
um indivíduo pode ter habilidades de usar e compreender mais de um
sistema linguístico, isto é, usar um determinado sistema linguístico em
determinadas situações e outro em outras ou seja, de acordo com a
dinâmica do indivíduo no uso das línguas podemos ter os seguintes

134
fenómenos:

Monolinguismo: É um fenómeno linguístico que consiste em o


indivíduo usar um único sistema linguístico. Fala, compreende uma só
língua, acontece quando o indivíduo é exposto a uma língua e não a
outras, contacto linguístico restrito.

Bilinguismo: Fenómeno linguístico caracterizado pelo domínio de


dois sistemas linguísticos diferentes. O indivíduo fala com
competência duas línguas, um bilingue preenche as exigências da
comunicação em qualquer uma das línguas que fala.

Multilinguismo: Quando um indivíduo pode usar vários sistemas


linguísticos, ou seja, fala mais que uma língua, o seu campo
comunicativo é mais amplo.

Resumo da Lição
Nesta lição vimos que a língua e a sociedade constituem dois
elementos que pela sua génese se interconectam, na medida em que a
língua surge com a sociedade como instrumento de comunicação. Daí
que se diz que não há língua sem sociedade e nem existe sociedade
sem língua.

Vimos também que sendo a língua um elemento de uso social, ela


apresenta variações que podem ser de dois níveis: intralinguístico ou
interlinguístico. Na mesma senda, reflectimos igualmente sobre alguns
conceitos relacionados com a variação linguística e sobre a ralação
língua-utente.

No que respeita à relação língua-utente, constatamos que de acordo


com a sua dinâmica no uso das línguas podemos distinguir os
seguintes tipos de utente/falante: monolingue, bilingue e multilingue.

135
Auto-avaliação
Caro estudante, feito o estudo completo da lição, faça uma auto
avaliação do seu nível de aprendizagem da matéria resolvendo
as questões a seguir.

1. Que relação existe entre língua e sociedade?


2. Fale da diferença existente entre crioulo e pidgin.

Chave decorreção
Agora compare as suas respostas com as linhas de correcção que se
seguem:

1. Entre a língua e a sociedade existe uma relação de


interdependência, pois, a existência duma língua só se faz sentir na
sociedade quando à ela os seus membros recorrem para se
comunicar, do mesmo modo que não há sociedade sem um substrato
linguístico.

2. O crioulo nasce do pidgin e distingue-se um conceito do outro na


medida em que enquanto o pidgin é uma L2 sem falantes nativos, o
crioulo é uma L1 com falantes nativos. O pidgin é língua restrita, por
isso se limita à necessidades restritas do imediato.

Fale do estatuto da língua portuguesa em Moçambique.

A seguir, apresenta-se lhe a bibliografia complementar que


poderá permitir o aprofundamento desta e de outras questões
Exercício relacionadas com este conteúdo.

136
Referências bibliográficas
GARMADI, Juliette. Introdução à Sociolinguística. Lisboa,
Publicações Dom Quixote, 1989.

FASOLD, R. The Sociolinguistics of society. Oxford, Brasil Blackwell,


1986.

FISHMAN, J. (Ed.) The socilogy of Language. The Hague, Mouton,


1968.

RODMAN, R. e FROMKIN, V. An Introduction to Language. 1993.

SAUSSURE, Ferdinand. Curso de Linguística Geral. 8 Ed., Lisboa,


1999.

137
Lição n° 2
Factores que influenciam o ensino/aprendizagem de línguas

Introdução
Depois da reflexão sobre a relação entre língua e a sociedade na qual ela é
utilizada, isto na lição anterior, nesta são analisados alguns factores que
influencia o ensino-aprendizagem de línguas.

Como qualquer outro processo de ensino, o de línguas sofre influências de


muitos factores que, de alguma forma, determinam a sua qualidade. De
um modo geral, no conjunto de factores que influenciam o
ensino/aprendizagem de línguas, uma parte está relacionada com o
contexto e outro com o perfil dos sujeitos envolvidos - professor e aluno
(suas características, oportunidades, sua forma de planificação, etc.).

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

Identificar os principais factores que influenciam o processo de


ensino-aprendizagem de línguas;

Explicar de que forma cada factor influencia o mesmo


Objectivos processo.

O tempo estimado para o estudo desta lição é de 15 minutos para a


leitura e 25 para a resolução de tarefas/exercícios.

Tempo

Motivação, material didáctico, método de ensino, exposição à língua.

Terminologia

138
Relação entre língua e sociedade
Desde os estudos feitos acerca da linguagem procurou-se resposta
para entender a relação entre a linguagem e a sociedade, sendo estes
dois elementos interligados, pois, em qualquer período o Homem
sempre procurou uma forma de se comunicar (escrita ou oralmente).

A língua é social, tem uma estrutura única e comum, inatingível e


invisível. Realiza-se dentro da sociedade ou comunidade, mantendo os
seus membros em interacção.

Segundo Warburg (1963:233) a língua e a comunidade linguística


condicionam-se reciprocamente; segundo ele, não existe uma língua
sem sociedade e vice-versa

A variação linguística
A língua varia no tempo e no espaço, e a localização geográfica das
comunidades (factor geográfico); o contacto entre línguas diferentes,
aspectos culturais de cada comunidade, o estatuto social dos falantes
(factor político-social), entre outros, apresentam-se como factores
determinantes para a variação linguística.

A variação linguística pode ser concebida em duas vertentes:

- Intralinguística: Aquela que se manifesta no uso e nas estruturas de


um mesmo sistema linguístico. Isto é, quando a mesma língua sofre
alterações definidas política, social e geograficamente.

- Interlinguística: Quando ocorre dentro de sistemas linguísticos


diferentes, é caracterizada pelo uso de dois ou mais sistemas distintos.

Alguns conceitos relacionados com a variação linguística

Idiolecto – Quando um falante de uma língua, no conjunto de todos os


actos de fala, tem hábitos discursivos próprios, usa preferencialmente
determinadas construções gramaticais, determinadas palavras que, de

139
alguma forma, o individualizam. Em outras palavras, é o uso
particular ou característico duma língua pelo falante.

Por exemplo, há falantes de língua portuguesa que, preferencialmente


e com frequência, usam no seu discurso a conclusiva portanto.

Sociolecto – É a variação linguística entre os grupos sociais e que


permite demarcá-lo um em relação ao outro. Esta variação tem como
causa, factores de índole social.

Por exemplo, olhando para o contexto moçambicano, especificamente


para a Zona sul, o cicopi falado em Inharrime é diferente do falado em
Zandamela; O citswa de Vilankulo difere-se do de Homoíne - as duas
línguas são faladas na província de Inhambane.

Dialecto – É uma variação regional da língua ou processo de


diferenciação linguística resultante da diminuição da frequência e da
intimidade entre os falantes da mesma língua. Porém, as pessoas com
esta diferenciação linguística podem comunicar-se e entender-se.

O exemplo do português falado em Lisboa que se distingue do falado


e no arquipélago dos Açores e este último apresenta-se como dialecto
em relação ao português falado em Lisboa, tido como padrão.

Pidgin - É um género especial de língua reduzida. Ela surge entre


grupos de falantes de línguas diferentes, quando estes se querem
comunicar por interesses imediatos, especialmente comerciais.

Para que nasça pidgin é necessário que haja condições como: contacto
de falantes de línguas diferentes; necessidade de contactos imediatos.

Esta língua não possui falantes nativos, porque resulta da necessidade


de carácter social e não individual (comércio, viagens de
descobrimentos, invasões, escravatura, etc.).

Crioulo - Faria e tal (1996) tenta traçar a trajectória do Crioulo a


partir da criação (criar). Cria designou o animal criado em casa,
passou depois a designar os filhos dos escravos, e depois os mestiços
nascidos de relações de escravos com outras raças brancas.

140
Depois, este género de língua foi falado por crioulos nas zonas das
Caraíbas, América Ocidental.

Assim, Crioulo é um pidgin que devido ao desenvolvimento dos seus


falantes passa a se designar língua nativa ou materna o que não
acontece com o pidgin.

Diferenças entre Pidgin e Crioulo


Pidgin É uma L2 sem falantes nativos, enquanto Crioulo é uma L1
com falantes nativos. O Crioulo descende de Pidgin e cobre todas as
necessidades dos falantes. Pidgin é língua restrita, por isso se limita à
necessidades restritas do imediato.

Lingua franca – Quando grupos sociais falantes de línguas


divergentes, por comum acordo, usam uma determinada língua para se
comunicar social ou comercialmente, a essa língua acordada para a
comunicação dá-se o nome de lingua franca. É uma língua usada com
fins previamente determinados.

Por exemplo, o inglês tem sido chamado “a liíngua franca do mundo


inteiro”, pois, em muitas vezes recorre-se a ela para se manter relações
de comunicação com povos de origens diversas. O latim e o grego
foram durante um milénio linguas francas do cristianismo no
Ocidente e no Oriente.

Outros conceitos:

L1 (Língua Primeira) é a primeira que se adquire em termos


cronológicos. A língua do primeiro contacto com a sociedade e que
pode coincidir com a língua materna. Com a aquisição da L2, o seu
domínio e uso frequente se tornam necessários, passando a ser a L1.
Sabe-se que a L2 é a adquirida após a L1 ou língua materna.

A Língua 2 (Língua segunda) também tida como não nativa tem


duas acepções:

141
• Qualquer língua aprendida após a língua primeira em situação
cronológica;
• Aquela cuja competência temos em detrimento da língua dominada
em primeira mão.

LE (Língua Estrangeira) língua não nativa, e pode ser aprendida em


espaços territoriais distantes àquela que é nativa, usada no ensino
formal. Este ensino é feito normalmente por falantes não nativos.

Língua Padrão - Dias (2006) diz que a posição da Língua Padrão


depende da posição dos seus falantes (posição política, social e
económica); e que termos como língua, dialecto, variedade criam a
subjectividade, pois são designações derivados de factores
extralinguísticos.

Por exemplo, duas línguas mutuamente inteligíveis, uma pode ser


eleita social e politicamente como modelo, isto é, língua padrão. O
Estado e o aparelho institucional são as principais entidades
responsáveis pela padronização duma determinada língua.

Na perspectiva de Gonçalves (2008), Língua padrão “é a norma que


deve ser aplicada obrigatoriamente a todos os usos de uma língua. De
uma forma geral, a variedade de língua que é padronizada é aquela
que por diversas razões adquiriu maior prestígio na comunidade”.

A Língua padrão é Língua Nacional, porque serve de expressão de


sentimento nacional, com ou sem o conceito de Estado.

Relação entre língua e falante


Na relação entre a língua e utente/falante, observa-se situações em que
um indivíduo pode ter habilidades de usar e compreender mais de um
sistema linguístico, isto é, usar um determinado sistema linguístico em
determinadas situações e outro em outras ou seja, de acordo com a
dinâmica do indivíduo no uso das línguas podemos ter os seguintes

142
fenómenos:

Monolinguismo: É um fenómeno linguístico que consiste em o


indivíduo usar um único sistema linguístico. Fala, compreende uma só
língua, acontece quando o indivíduo é exposto a uma língua e não a
outras, contacto linguístico restrito.

Bilinguismo: Fenómeno linguístico caracterizado pelo domínio de


dois sistemas linguísticos diferentes. O indivíduo fala com
competência duas línguas, um bilingue preenche as exigências da
comunicação em qualquer uma das línguas que fala.

Multilinguismo: Quando um indivíduo pode usar vários sistemas


linguísticos, ou seja, fala mais que uma língua, o seu campo
comunicativo é mais amplo.

Resumo da Lição
Nesta lição vimos que a língua e a sociedade constituem dois
elementos que pela sua génese se interconectam, na medida em que a
língua surge com a sociedade como instrumento de comunicação. Daí
que se diz que não há língua sem sociedade e nem existe sociedade
sem língua.

Vimos também que sendo a língua um elemento de uso social, ela


apresenta variações que podem ser de dois níveis: intralinguístico ou
interlinguístico. Na mesma senda, reflectimos igualmente sobre alguns
conceitos relacionados com a variação linguística e sobre a ralação
língua-utente.

No que respeita à relação língua-utente, constatamos que de acordo


com a sua dinâmica no uso das línguas podemos distinguir os
seguintes tipos de utente/falante: monolingue, bilingue e multilingue.

143
Auto-avaliação
Caro estudante, feito o estudo completo da lição, faça uma auto
avaliação do seu nível de aprendizagem da matéria resolvendo
as questões a seguir.

1. Que relação existe entre língua e sociedade?


2. Fale da diferença existente entre crioulo e pidgin.

Chave decorreção
Agora compare as suas respostas com as linhas de correcção que se
seguem:

1. Entre a língua e a sociedade existe uma relação de


interdependência, pois, a existência duma língua só se faz sentir na
sociedade quando à ela os seus membros recorrem para se
comunicar, do mesmo modo que não há sociedade sem um substrato
linguístico.

2. O crioulo nasce do pidgin e distingue-se um conceito do outro na


medida em que enquanto o pidgin é uma L2 sem falantes nativos, o
crioulo é uma L1 com falantes nativos. O pidgin é língua restrita, por
isso se limita à necessidades restritas do imediato.

Fale do estatuto da língua portuguesa em Moçambique.

A seguir, apresenta-se lhe a bibliografia complementar que


poderá permitir o aprofundamento desta e de outras questões
Exercício relacionadas com este conteúdo.

144
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