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Fundação Centro de Ciências e Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro

Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro


Universidade Federal Fluminense
Curso de Licenciatura em Letras- UFF / CEDERJ

Disciplina: Literatura Brasileira III


Coordenadora: Profª Flávia Amparo

AD2 – 2021.1

Aluno(a): _______________________________________________________

Polo: _______________________________ Matrícula: ___________________

Nota: _______________

De acordo com o que você estudou nas Unidades 3, 5 e 6 sobre a Romantismo, Formação
cultural brasileira, a Belle Époque e Machado de Assis, responda as questões abaixo de modo
dissertativo. Não copie respostas de sites da Internet nem do seu material de estudo. Você deve
pesquisar sobre o tema e escrever com suas palavras.

Questão 1 (2,5)

Com a reorganização do espaço urbano da cidade, a sociedade fluminense procurava apagar as


marcas locais que ainda identificavam o Rio de Janeiro com o Império escravocrata recém-
extinto. A obra de João do Rio está intimamente ligada a este momento de mudanças e euforia,
além de dialogar com os clássicos da literatura universal, com ênfase na literatura francesa.
Assista, na unidade 5, o vídeo da primeira parte do Programa “De lá para cá” sobre João do Rio,
presente na tecla “seu material indica”. A partir dos comentários de Julia O’Donnell (no vídeo)
sobre a sociabilidade e a forma de as pessoas se relacionarem nos espaços da cidade, mostre
como isso se revela nas mudanças ocorridas na configuração do espaço urbano do Rio de Janeiro
e, a partir do fragmento abaixo, do livro Dentro da noite, destaque como isso se configura no
ambiente da elite fluminense e na alienação desta pela entrega aos prazeres e ao ócio destinados
à alta sociedade.

História de gente alegre

O terraço era admirável. A casa toda parecia mesmo ali pousada à beira dos horizontes sem
fim, como para admirá-los, e a luz dos pavimentos térreos, a iluminação dos salões de cima
contrastava violenta com o macio esmaecer da tarde. Estávamos no Smart-Club, estávamos
ambos no terraço do Smart-Club, esse maravilhoso terraço de vila do Estoril, dominando um
lindo sítio da praia do Russel — as avenidas largas, o mar, a linha ardente do cais e o céu que
tinha luminosidades polidas de faiança persa. Eram sete horas. Com o ardente verão ninguém
tinha vontade de jantar. Tomava-se um aperitivo qualquer, embebendo os olhos na beleza confusa
das cores do ocaso e no banho víride de todo aquele verde em de redor. As salas lá em cima
estavam vazias; a grande mesa de baccarat, onde algumas pequenas e alguns pequenos derretiam
notas do banco — a descansar. O soalho envernizado brilhava. Os divãs modorravam em fila
encostados às paredes — os divãs que nesses clubes não têm muito trabalho. Os criados, vindos
todos de Buenos-Aires e de S. Paulo, criados italianos marca registrada como a melhor em
Londres, no Cairo, em New-York, empertigavam-se. E a viração era tão macia, um cheiro de
salsugem polvilhava a atmosfera tão levemente, que a vontade era de ficar ali muito tempo, sem
fazer nada. (...) Que curioso aspecto! Havia franceses condecorados, de gestos vulgares, ingleses
de smoking e parasita à lapela, americanos de casaca e também de brim branco com sapatos de
jogar o foot-ball e o lawn-tennis, os elegantes cariocas com risos artificiais, risos postiços, gestos
a contragosto do corpo, todos bonecos vítimas da diversão (...) .
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Glossário:

Baccarat – bacará: jogo de cartas de origem francesa, em que tomam parte vários jogadores, ganhando o grupo que, com duas
ou mais cartas, perfizer o total de pontos mais próximo de nove;
Divã - espécie de sofá ou canapé de origem persa, sem encosto ou braço;
Faiança persa - cerâmica persa brilhante, com efeitos metálicos;
Foot-ball – futebol, em inglês;
Lawn-tennis - tênis de gramado, em inglês;
Modorrar– ficar sonolento (em sentido figurado no texto, significa que os caficar abandonado;
Salsugem- maresia;
Viração - vento suave e fresco, espécie de brisa que sopra do mar para a terra; aragem;
Víride – de cor verde ou esverdeada.

Questão 2: (2,5)
O Rio entra na Belle Époque buscando se equiparar às grandes capitais europeias. Observe as
imagens a seguir e responda:

Cortiços da Rua do Senado: moradias mais


A Avenida Central, atual Rio Branco, na altura da populares foram demolidas para o embelezamento
Cinelândia: cidade foi transformada aos moldes da cidade
europeus (Foto: Augusto Malta - Acervo/MIS-RJ) (Foto: Augusto Malta - Acervo/MIS-RJ)

A obra de João do Rio (pseudônimo de Paulo Barreto) trata de um processo contraditório ocorrido no
Rio de Janeiro durante a Primeira República marcado por evidentes mudanças sociais e urbanísticas,
conforme as imagens acima. Ao mesmo tempo em que a cidade recebe um processo de modernização
acelerado, adotando hábitos e tecnologias mais avançados (cinema, eletricidade, automóvel etc.), há
uma divisão social que separa os beneficiados daqueles que ficam à margem destas mudanças, pois
nem todos os habitantes da cidade foram contemplados por esse progresso.
A partir das imagens e do conto “O bebê de tarlatana rosa”, de João do Rio, discuta as duas faces
desse processo de modificação social da Belle Époque carioca, apresentando a relação entre a face da
cidade que não foi contemplada pelo progresso – dado local – com as influências europeias na cultura
brasileira – dado universal.

Questão 3 (2,5)

Machado de Assis utiliza a ironia como um dos principais recursos para criticar modelos,
atitudes e crenças da sociedade brasileira do século XIX. De que modo a ironia do autor colabora
na construção da crítica social presente na crônica abaixo, publicada dias depois da abolição da
escravatura, em maio de 1888? Baseado na crônica, aponte pelo menos três argumentos que
revelam a manutenção dos padrões de exploração do negro mesmo após a Lei Áurea.
Crônica da abolição

Eu pertenço a uma família de profetas “après coup”, “post factum”, “depois do gato morto”, ou como
melhor nome tenha em holandês. Por isso digo, juro se necessário for, que toda a história desta lei de
13 de maio estava por mim prevista, tanto que na segunda-feira, antes mesmo dos debates, tratei de
alforriar um molecote que tinha, pessoa de seus dezoito anos, mais ou menos. Alforriá-lo era nada;
entendi que, perdido por mil, perdido por mil e quinhentos, e dei um jantar.
Neste jantar, a que meus amigos deram o nome de banquete, em falta de outro melhor, reuni umas
cinco pessoas, conquanto as notícias dissessem trinta e três (anos de Cristo), no intuito de lhe dar um
aspecto simbólico.
No golpe do meio (“coup du milieu”, mas eu prefiro falar a minha língua) levantei-me eu com a taça
de champanha e declarei que, acompanhando as ideias pregadas por Cristo há dezoito séculos,
restituía a liberdade ao meu escravo Pancrácio; que entendia que a nação inteira devia acompanhar
as mesmas ideias e imitar o meu exemplo; finalmente, que a liberdade era um dom de Deus que os
homens não podiam roubar sem pecado.
Pancrácio, que estava à espreita, entrou na sala, como um furacão, e veio abraçar-me os pés. Um dos
meus amigos (creio que é ainda meu sobrinho) pegou de outra taça e pediu à ilustre assembleia que
correspondesse ao ato que acabava de publicar brindando ao primeiro dos cariocas. Ouvi cabisbaixo:
fiz outro discurso agradecendo, e entreguei a carta ao molecote. Todos os lenços comovidos
apanharam as lágrimas de admiração. Caí na cadeira e não vi mais nada. De noite, recebi muitos
cartões. Creio que estão pintando o meu retrato, e suponho que a óleo.
No dia seguinte, chamei o Pancrácio e disse-lhe com rara franqueza:
— Tu és livre, podes ir para onde quiseres. Aqui tens casa amiga, já conhecida, e tens mais um
ordenado, um ordenado que...
— Oh! Meu senhô! Fico.
— Um ordenado pequeno, mas que há de crescer. Tudo cresce neste mundo: tu cresceste
imensamente.
Quando nasceste eras um pirralho deste tamanho; hoje estás mais alto que eu. Deixa ver; olha, és
mais alto quatro dedos...
— Artura não qué dizê nada, não, senhô...
— Pequeno ordenado, repito, uns seis mil-réis: mas é de grão em grão que a galinha enche o seu papo.
Tu vales muito mais que uma galinha.
— Eu vaio um galo, sim, senhô.
— Justamente. Pois seis mil-réis. No fim de um ano, se andares bem, conta com oito. Oito ou sete.
Pancrácio aceitou tudo: aceitou até um peteleco que lhe dei no dia seguinte, por me não escovar bem
as botas; efeitos da liberdade. Mas eu expliquei-lhe que o peteleco, sendo um impulso natural, não
podia anular o direito civil adquirido por um título que lhe dei. Ele continuava livre, eu de mau humor;
eram dois estados naturais, quase divinos.
Tudo compreendeu o meu bom Pancrácio: daí para cá, tenho-lhe despedido alguns pontapés, um ou
outro puxão de orelhas, e chamo-lhe besta quando lhe não chamo filho do diabo; cousas todas que
ele recebe humildemente e (Deus me perdoe!) creio que até alegre. [...]

Fonte: MACHADO DE ASSIS http://portal.mec.gov.br


Vocabulário:
1“après coup”: depois do golpe
2“post factum”: depois do fato
“coup du milieu”: brinde feito no meio de um jantar com convidados. O narrador traduz o termo francês ao pé da letra como “golpe do
meio” que não faz sentido em português. Contudo, o tradução inviesada serve não só para mostrar a ignorância do personagem, como
também para mostrar a “esperteza” do jantar beneficente, que era uma espécie de golpe para o anfitrião se autopromover diante da
sociedade.

Questão 4 (2,5)

A grande quantidade de jovens escritores mortos e a ameaça constante das doenças na grande
metrópole brasileira (Rio de Janeiro) fizeram a poesia da Segunda Geração Romântica refletir sobre
esse momento de crise e de morte, tanto na estética, quanto na linguagem e nas temáticas presentes
nas composições da época. Na Marmota Fluminense, por ocasião da morte de Casimiro de Abreu
(1860), observa-se que são utilizados trechos de poemas do escritor para ilustrar o seu sofrimento e
morte, assim como há uma preocupação em descrever os instantes finais da agonia do poeta. Partindo
do texto da Marmota e dos trechos de poemas de Casimiro destacados na matéria, escolha um poema
de Álvares de Azevedo da Antologia dos poetas ultrarromânticos (disponível no item “Material de
estudo” da unidade 3 da Plataforma) para fazer uma comparação entre ambos os poetas. Fale sobre
os escritores estrangeiros que exerceram influência nessa geração e de como a morte, a doença e a
melancolia são absorvidas na temática das obras e se constituem também como parte do vocabulário
utilizado pelos poetas brasileiros dessa geração. Exemplifique com trechos do poema escolhido por
você.

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