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Aula #004 - Sonhos: o que são, como são formados e como interpretá-los

O termo Complexo pretende designar um conjunto de ideias que estão articulada entre si e só
posso perceber essa articulação entre as ideias a partir em que analisando desenrola seu
discurso e vai portanto mostrando do que se constitui esse novelos que estão em sua mente.

Freud apresenta os sonhos e os atos falhos como produções análogas ao sintoma e a fala do
paciente em análise.

Os sonhos se parecem com os fenômenos típicos de uma psicose.


Encontramos delírios e alucinações nas psicoses. Alucinações o sujeito tem uma experiência
perceptiva com objetos que não estão presentes. Ex: sujeito escuta uma voz sem que ninguém
esteja falando algo pra ele, ou o sujeito vê um objeto que na verdade não estão presentes. No
sonho fenômenos muito parecidos com os delírios psicóticos que é uma construção de
pensamento que é totalmente afastada da realidade, não é compatível com a realidade.

Os sonhos também apresentam características parecidas com delírios e alucinações porque


são meio irracionais, de repente acontecem coisas absurdas no sonho, coisas que não
compreendemos direito. Ex: De repente no sonho você é filho do presidente da república, você
está convivendo com uma figura mitológica, de repente você está fazendo coisas absurdas,
impensáveis e que não se encaixam com a realidade cotidiana. Ao mesmo tempo acontecem
coisas no sonho que vão afetar nosso pudor, coisa que fazemos no sonho que são
inimagináveis de serem feitas no dia-dia.

Quando olhamos pros sonhos sem teoria psicanalítica na cabeça, eles se parecem com uma
espécie de loucura.

Assim como os atos falhos e os pensamentos despropositados do paciente em análise, os


sonhos também são desprezados porque aparentemente não fazem sentido.
Freud nota que existe um elemento de falta de compreensão presente tanto nos sonhos
quanto nos atos falhos e nas falas do paciente em análise. Pra quem olha de fora, esses três
elementos e também os sintomas podem parecer fenômenos que não tem menor sentido e
que não significam nada. São justamente esses fenômenos que para o senso comum, que para
a academia, a ciência não significam nada, serão justamente esses fenômenos que vão
interessa a Freud.

Freud vai mostrar que é justamente por meio desses fenômenos que o inconsciente se
manifesta.

Os fenômenos/sintomas histéricos deixavam a medicina da época sem saber o que fazer e


muitos médicos da época de Freud olhavam para os sintomas histéricos e como não
conseguiam compreende-los e diziam “isso não é nada” e esse “nada” que supostamente o
paciente não tem que interessa a psicanalise. O psicanalista ao ouvir seu paciente ele não está
esperando confissões magnificas, revelações absolutamente surpreendentes, o psicanalista
escuta tudo o que seu paciente diz, justamente porque ele entende que por trás de um relato
de uma comida que o paciente fez pode estar se manifestando algo de ordem inconsciente. O
psicanalista pega e dá valor a tudo aquilo que no senso comum e na própria ciência é
menosprezado.

Freud vai mostrar que é nisso que é indignificante pro senso comum que vamos poder
encontrar as preciosidades do inconsciente.
A verdade por trás dos sonhos se revela claramente nos sonhos das crianças.
Quando pega os sonhos de crianças, existe uma facilidade para entende-los. Quando uma
criança conta um sonho, ele aparenta/traz uma certa transparência porque em geral como são
os sonhos de crianças? Nos sonhos, as crianças realizam aquilo que elas não conseguiram fazer
no dia anterior. Ex: o pai e a mãe prometeu para criança que fariam um passeio numa praça, e
de repente choveu naquele dia que impediu o passeio, é muito provável que na noite daquele
dia em que ela desejou ir para o passeio e não foi possível, é provável que no sonho a criança
se veja indo ao passeio que não conseguiu ir por conta da chuva. No sonho ela vai realizar de
modo imaginário exatamente aquilo que ela não pode fazer no dia anterior.

Freud vai dizer que é justamente o sonho da criança que revela o que está presente nos
sonhos dos adultos. Assim como a criança sonha com aquilo que ela deseja no dia anterior e
não pode realizar, os adultos fazem a mesma coisa. Através dos sonhos realizamos os desejos
que não conseguimos realizar na véspera.

E os pesadelos? E nos sonhos que não estou realizando sonho nenhum? E quando no sonho
acontece coisas que não quero?

Diferença entre psiquismo das crianças e dos adultos: Nos sonhos das crianças a barreira
egóica é muito fininha e superficial, isso porque as crianças estão construindo e
desenvolvendo o seu ego a partir das relações que elas tem com as pessoas e sua relação com
a própria realidade, enquanto o adulto trabalha com as noções de certo/errado, puro/impuro
e essas noções estão bem instaladas em sua mente, a criança está em processo de instalação.
As crianças muitas vezes não se importam com a “sujeira”. O ego tem o ego consolidado e a
limpeza é algo bom. Os desejos que ficam reprimidos/insatisfeito do dia anterior podem ser
expressos nos sonhos das crianças de uma forma muito direta, já no caso dos adultos como
tem a barreira da resistência egóica, os desejos reprimidos dos adultos não vão conseguir se
manifestar de forma direta como os das crianças, até porque os desejos dos adultos são
diferentes do das crianças, muitas vezes são desejos mais sórdidos, mais sujos, mais safados
por assim dizer, que vão estar ali reprimidos no inconsciente e buscando expressão.

O sonho nos adultos: O que se manifesta no sonho? O que é o sonho tal como a gente se
lembra dele? Para Freud eles são o conteúdo manifesto do sonho, são apenas uma faceta do
sonho, é o que se lembra dos sonhos, isso que aparece na consciência. Mas esse conteúdo
manifesto é só o que aparece, mas o que de fato produz os sonhos, a essência dos sonhos não
são essas imagens que vivenciamos durante a noite, na verdade o que está atrás dessas
imagens, o que produz essas imagens é o que ele vai chamar de pensamentos latentes, aquilo
que não está patente, aquilo que não está manifesto. E o que são os pensamentos latentes
que não tenho acesso? R: São os desejos que foram reprimidos no dia anterior.

Passamos o dia inteiro reprimindo desejos, essa é a condição humana. Se você não passasse o
dia reprimindo desejos, ninguém te suportaria. Imagina um dia em que você acordasse e
começasse a falar e fazer tudo o que você quer e deseja. Ex: Está no trabalho e o chefe fala
algo que você não gosta e você fala exatamente o que quer falar pra ele, manda ele ir pra
aquele lugar, o que vai acontecer com você? Você será demitido.

Para viver em sociedade precisamos abrir mão de parte de nossos desejos, precisamos abrir
mão de parte de nossa satisfação, abrir mão da parcela do gozo para que possa fazer parte da
sociedade e viver de acordo com as normas da sociedade. Viver cotidianamente é reprimir
cotidianamente. Ao final do dia você tem uma capivara de desejos reprimidos, isso sem falar
nos desejos que vêm reprimindo desde a infância. Na hora em que você vai dormir essa
barreira egóica que durante o dia se manteve firme evitando que você xingasse seu chefe,
evitando que você falasse tudo que viesse a telha pra as pessoas, evitando que você pensasse
essas coisas, quando você dorme essa barreira dá uma relaxada porque o seu ego enquanto
você está dormindo ele não está em pleno funcionamento. Então acontece uma avalanche
dentro de você, esses desejos reprimidos agora que o ego deu uma relaxada, eles encontram
um terreno favorável para se expressarem. Todos os desejos reprimidos durante o dia anterior
e durante toda a sua vida, especialmente os desejos infantis vão ficar à espreita esperando o
momento em que o ego vai dar uma relaxada.

Eles se expressam de maneira disfarçada para que o ego tolere a presença deles durante os
sonhos, os desejos se mostram de forma alusiva, simbólica, não vão se apresentar com clareza
e por isso que ao sonhar você não consegue apontar quais são os desejos que estão sendo
expressos no sonho. Por isso acha abstrato, confuso, absurdo e não saber o que significa.

Ex: Época da ditadura, a censura. Os artistas utilizavam sua criatividade para disfarçar sua
mensagem em músicas que fossem aparentemente irrelevantes, aparentemente inocentes.
Foi por exemplo que nasceu a música “Cálice” “afaste de mim esse cálice de vinho tinto de
sangue” quando pensa nessa música pensamos “Chico Buarque virou cristão? Está cantando
música gospel” mas quando pega a palavra “cálice” e não pensa no objeto do cálice, percebe
que essa palavra é homófona, ela tem o mesmo som o imperativa “cale-se” no sentido de
calar. Chico Buarque conseguiu através da música Cálice que aparentemente tinha um cunho
religioso, ele conseguiu exprimir sua mensagem que era o desejo de que a ditadura se calasse
acabasse. Foi uma estratégia para conseguir exprimir sua mensagem sem que a censura o
detivesse. O inconsciente é esse artista que consegue traduzir/expressar seus desejos
reprimidos de uma maneira que o ego tolera, de uma maneira disfarçada.

Freud ao falar do sonho tal como lembramos, ao falar do sonho, Freud do manifesto Freud
fala de conteúdo, mas ao falar daquilo que está na origem do sonho, Freud fala de
pensamentos. Por que há essa diferença? Porque nossos sonhos são formados basicamente de
imagens. Em geral não sentimos cheiro no sonho, ele imaginário (composto por imagens), mas
os desejos que estão por trás do sonho e o produzem não são da ordem da imagem, esses
desejos são verbais, são constituídos de palavras, frases. Por isso que na hora que o
psicanalista escuta o sonho do seu paciente, ele não pode ficar preso às imagens que estão
sendo relatadas pelo paciente, ele tem que prestar mais atenção nas palavras que o paciente
utiliza para narrar o seu sonho. Se ele ficar preso à imagem não vai conseguir identificar os
elementos reprimidos que estão sendo expressos.

Exemplo: Vamos supor que você sonhe com o ator “Mauricio Mattar” e o analista inexperiente
vê o seu paciente dizendo que sonhou com Mauricio Mattar, ele talvez olharia pra isso e
pensaria “quem será na vida do paciente parece o Mauricio Mattar?” e entrar por esse
caminho que não o levaria a nada. O mais importante no relato do sonho não é o conteúdo, é
o relato verbal, as palavras que o paciente usa para descrever os sonhos. Ao falar do mauricio
mattar tem que estar menos voltado pra imagem e mais para a palavra “matar” porque pode
muito bem ser que esse paciente no dia anterior tenha sofrido uma chamada de atenção da
parte do seu chefe e tenha pensado “eu não suporto esse cara, eu queria matar essa cara” mas
o paciente não é uma pessoa que pensa na morte de outras pessoas, essa ideia passa como
um relâmpago na cabeça dele e imediatamente reprime e a noite sonha com Mauricio Mattar.

Na hora de interpretar do sonho não pode pegar o sonho como um todo, se tentar fazer isso
sua interpretação provavelmente será incorreta porque na determinação de um sonho não
está presente somente um desejo reprimido mas vários desejos, vários pensamentos, várias
ideias.

Tem que pegar o sonho e separar cada elemento do sonho, desmembrar o sonho. Pega cada
um dos elementos e produzo associações para cada um deles.

O processo de transformação dos pensamentos latentes em conteúdo manifesto, Freud


chama de elaboração onírica. É usado dois mecanismos para fazer essa elaboração:
Condensação e Deslocamento.

Na condensação o que o inconsciente faz? Ele pega de repente três pensamentos e esses três
pensamentos possui um elemento comum entre eles, o inconsciente vai lá e produz no sonho
uma imagem que representa os três, ou seja, uma imagem do inconsciente consegue
condensar três pensamentos. O inconsciente sintetiza vários pensamentos em apenas um.

No deslocamento trata-se simplesmente de transferir de um pensamento para uma


determinada imagem um valor afetivo vinculado a ele. Ex: quero matar meu chefe e eu
gostaria de mata-lo. O que o inconsciente pode fazer? Ele transfere a energia psíquica que está
ligada a esse pensamento para a figura do Mauricio Mattar. O afeto estava vinculado ao
pensamento mas ai de repente esse afeto é transferido para a imagem de Mauricio Mattar.

Exemplo de interpretação de sonho:


“Ela (a paciente) viu três leões num deserto, um dos quais estava rindo; mas não sentiu medo
deles. Depois, contudo, deve ter fugido deles, porque estava tentando subir numa árvore; mas
descobriu que sua prima, que era professora de francês, já estava lá em cima, etc”

Interpretação: Freud adotando sua técnica vai pedir para que sua paciente produza
associações a partir de cada um dos elementos do sonho.

1 elemento: três leões. O que vem a sua cabeça ao pensar nisso?

- Frase que havia elaborado em inglês: “A juba é o adorno do leão”


- Seu pai usava uma barba que lhe emoldurava o rosto como uma juba
- Sua professora de inglês se chama “Srta. Lyons”
- Um conhecido lhe enviara as baladas de Loewe (palavra alemã para “leão”)

O senso comum, em geral, quando vai abordar no sonho o que ele geralmente busca? O
significado. Se você sonhou com o leão qual o significado de leão? Ah é força, dominação,
ferocidade, o sendo comum busca esse tipo de significado. Mas a abordagem que Freud utiliza
é diferente, ele pensa no significado do que tem por trás no leão mas ele não busca o que ele
significa na cultura, a abordagem de Freud é a palavra leão/leões a que que essa palavra
remete? O olhar de Freud não é um olhar imagético, ele não olha o leão como a figura do leão,
o olhar de Freud para esse leões é como uma palavra no discurso da paciente, ele não analisa
o sonho como um conjunto de imagens mas como um texto. Ele faz a análise da palavra e não
da imagem do leão. Ex: A professora de inglês não tem nada a ver com a imagem do leão mas
seu sobrenome é “Lyons”. Freud estimula a paciente a fazer uma associação não em termos de
“leão significa força, domínio então pensa nisso na sua vida, o que está correlacionado a
domínio e força?” essa não é a abordagem de Freud. A abordagem de Freud é “associe com
base nessa frase “eu vi três leões, o que vem na sua cabeça a partir disso?” E então a
associação começa a acontecer.
A abordagem de Freud é muito mais pela ordem do significante (a materialidade da palavra)
do que pela ordem do significado. Embora o conteúdo do sonho seja um conteúdo imagético o
que está por trás dos sonhos é um texto, são pensamentos verbais, é o inconsciente querendo
expressar um discurso com imagens.

Por meio dessas 4 associações consegue perceber com muita clareza qual foi o mecanismo
utilizado pelo inconsciente. O inconsciente condensou na imagem de três leões todos esses
pensamentos. O pensamento relacionado ao pai, relacionado a professora de inglês,
relacionado a essas baladas que ela havia recebido desse auto chamado Loewe.

2 elemento: “mas não sentiu medo deles. Depois, contudo, deve ter fugido deles, porque
estava tentando subir numa árvore”
Associação:
- Havia lido uma história sobre um escravo que fora caçado com cães e subira numa árvore
para se salvar

3 elemento: “[...] num deserto”


Associação:
- Piada que havia lido -> conselho para pegar leões: “pegue um deserto e passe-o por uma
peneira, e o que sobrar serão leões.”

4 elemento: “sua prima já estava lá em cima”


Associação:
- Piada que havia lido -> perguntaram para um oficial por que ele não se esforçava para cair
nas graças do chefe. O oficial respondeu que já se insinuara, mas o superior JÁ ESTAVA EM
CIMA.

No dia do sonho, a paciente havia recebido a visita do superior de seu marido (um “grosses
tier” – grande animal / “um leão da sociedade”) e não sentiu o mínimo receio dele.

Portanto, essa visita evocou na paciente as imagens de outros leões do seu passado em
relação aos quais ela também não queria ter sentido medo.

Qual o desejo da paciente? Ela não queria ter sentido medo dos leões do seu passado ex: seu
pai, a professora. E esse desejo ficou frustrado. Quando ela se depara na realidade com o
frosses tier, o leão da sociedade e ela não sente medo, isso desencadeia nela “eu também não
queria ter sentido medo daqueles outros leões” e então ela sonha com esses três leões dos
quais ela não sente medo.

O inconsciente vai lançando mão de diversos elementos da vida da paciente, coisas que ela viu,
ouviu, pensamentos que ela teve, o inconsciente vai pegando todos esses pensamentos para
formar um sonho com o objetivo de expressar determinados desejos reprimidos. Vamos ver
quais são esses desejos.

GRAVAÇÃO - Aula #005 - Exemplo de sonho, escuta do inconsciente e pesadelos

Somos seres divididos em consciente e inconsciente, a parte iluminada da consciência não


pode conter certos elementos pois ela não suporta que está do outro lado que é o
inconsciente e ele tenta se manifestar na nossa vida, por exemplo, nos sonhos mas a barreira
egoica não permite a entrada desses elementos então eles se disfarçam para poderem passar
para a consciência. Os sonhos aparentemente não significam nada, mas para um bom
entendedor os sonhos fazem sentido, e o bom entendedor é o psicanalista. Para serem
compreendidos eles precisam ser interpretados, a primeira etapa para interpretar um sonho é
decompô-lo em seus elementos assim como um farmacêutico pega uma determinada
molécula e ao analisar essa molécula ele consegue distinguir cada um dos elementos químicos
que fazem parte dessa molécula, assim também faz o psicanalista, ele não pega o sonho e
tenta interpretar ele como um todo, isso é um equivoco gravíssimo.

Freud diz explicitamente que é o primeiro passo para a interpretação do sonho deve ser a
decomposição dos elementos do sonho. Depois de decompor cada elemento do sonho você
então começa a produzir associações a partir de cada elementos e são essas associações, esse
encadeamento de pensamentos que vai levar na direção do inconsciente, vai levar na direção
daquilo que foi reprimido. Você vai ter que desfazer o processo que foi feito pelo inconsciente
para conseguir ultrapassar a barreira de resistência egoica. O inconsciente precisou condensar
muita coisa, precisou disfarçar muita coisa, precisou cortar muita coisa e agora você vai fazer o
trabalho inverso.

Uma boa analogia para pensar isso é analogia do processo de edição de um vídeo. Vários
conteúdos que estavam na origem, no material bruto do material do sonho eles são cortados,
e esse processo de edição ele não para na hora que o sonho acontece, esse processo de edição
acontece também depois que você acorda, porque quando você acorda pode se lembrar de
muitos detalhes do sonho mas que conforme o dia vai passando você vai se esquecendo.
Porque isso acontece? Porque o ego que é resistente, que quer ficar bonitinho e se olhar no
espelho e ficar inebriado com a imagem limpa, ele continua trabalhando, ou seja, o ego
continuou no trabalho de “edição”.

O senso comum, em geral, quando vai abordar no sonho o que ele geralmente busca? O
significado. Se você sonhou com o leão qual o significado de leão? Ah é força, dominação,
ferocidade, o sendo comum busca esse tipo de significado. Mas a abordagem que Freud utiliza
é diferente, ele pensa no significado do que tem por trás no leão mas ele não busca o que ele
significa na cultura, a abordagem de Freud é a palavra leão/leões a que que essa palavra
remete? O olhar de Freud não é um olhar imagético, ele não olha o leão como a figura do leão,
o olhar de Freud para esse leões é como uma palavra no discurso da paciente, ele não analisa
o sonho como um conjunto de imagens mas como um texto. Ele faz a análise da palavra e não
da imagem do leão.

Isso que Freud vai chamar de atenção flutuante. Como geralmente escutamos uma pessoa no
senso comum, dia-dia? Você escuta tentando entender o que a pessoa quer dizer pra você,
tentando ser empático, estamos sempre tentando nos colocar no lugar do outro para entender
o que ele quer falar. O modo de escuta do psicanalista não é assim, ele não escuta pegando o
significado do que a pessoa quer dizer, a psicanalise não é centrada na pessoa, ela é uma
terapia centrada no inconsciente porque a pessoa é justamente aquela que não quer saber a
verdade, então se me centro na pessoa estou me centrando naquele polo do sujeito que não
quer saber da verdade, no ego que é justamente essa dimensão da nossa personalidade que
não quer saber porque a verdade mancha o espelho do ego.

Como se escuta o inconsciente e não se deixar levar pela pessoa que quer a todo custo me
enganar porque ela quer se enganar? Não pode ir pelo significado, na terapia rogeriana, por
exemplo, qual a intervenção? O paciente conta algo e o terapeuta rogeriano tenta captar o
significado da fala do paciente, exatamente o que ele disse e devolve. Na psicanalise até
utilizamos essa técnica quando o paciente precisa de acolhimento, quando o paciente está
desorganizado e esse tipo de intervenção é muito útil porque muitas vezes esse ego que está
fascinado pela própria imagem está fragilizado também, então precisamos dar essa
sustentação mas vamos além porque nosso objetivo primordial não é fazer o paciente se sentir
compreendido, é fazer justamente o paciente conseguir ter acesso a isso que fala através dele
e que muitas vezes ele não entende e se opõe a isso. Mas esse discurso está o tempo todo se
manifestando e muitas vezes quem vai introduzir o paciente ao inconsciente, apresentar o
paciente ao seu inconsciente é o psicanalista, e pra isso o psicanalista não pode escutar seu
paciente em condições normais, tentando captar o significado, o que ele está tentando dizer
pra mim. O olhar o analista é “o que essa pessoa está dizendo? Quais palavra ela está
utilizando? Porque o inconsciente está falando aí”.

O ego tenta articular seu discurso intencional e o inconsciente está usando essas palavras que
o sujeito está articulando intencionalmente, o inconsciente está usando essas palavras para se
manifestar, por isso o ideal é que o paciente faça associação livre, porque assim o inconsciente
fala mais alto. O analista tem que estar atento às palavras e isso que é a atenção flutuante, o
ouvido tem que estar atento a palavra que ele está utilizando pra conexão entre uma palavra
que ele falou e outra que falou há 15 minutos atrás. Esse é um tipo de escuta que não é fácil
de ser desenvolvida. O inconsciente é o que está nas coincidências, ele mora nos detalhes, é
preciso desenvolver essa escuta para captar o sentido inconsciente.

O que a análise do sonho revela pra gente? Uma das descobertas psicanalíticas mais
importantes. A descoberta de que a criança sobrevive no adulto. Enquanto no senso comum e
na psicologia de forma geral se acredita que nós fomos crianças e aí a gente se desenvolve, se
torna adolescente e então continua se desenvolvendo e se torna adultos. O que a análise dos
sonhos revela é que crescemos sim mas aquela criança que ficou insatisfeita/frustrada lá atrás
continua sobrevivendo, essa criança continua querendo satisfação e ela sobrevive e busca
satisfação de seus desejos que ficaram frustrados lá atrás através das formações do
inconsciente. Embora os sonhos realizem os desejos do dia anterior, a força pra formação dos
sonhos, a energia pra formação dos sonhos é provenientes dos desejos insatisfeitos da
infância. Todo sonho realiza ao mesmo tempo os desejos do dia interior e os desejos infantis,
como se toda noite a criança que nós fomos e que inevitavelmente ficou insatisfeita é como se
em todo sonho ela reaparecesse e dissesse “agora eu vou realizar” mas ela vai se deparar com
o ego e vai ter que se disfarçar.

A análise dos sonhos também revela que o Inconsciente faz uso de certos símbolos típicos
para se expressar de forma disfarçada. São encontrados na cultura que vai solidificando
certos símbolos, certas coisas que tipicamente representam outras e como o inconsciente
está aberto, ele é constituído por aquilo que a gente apreende desde fora.
Ex:
Objetos fálicos (guarda-chuva, facas, varas) -> pênis
Objetos recipientes (caixas, estotojos, armários) -> vagina/útero
Autoridades -> pais

Os pesadelos não contradizem a explicação freudiana. A ansiedade/medo presente neles é


uma reação típica do ego aos desejos violentos reprimidos.
Medo/pavor/ansiedade/angustia/desespero são exatamente as reações que o ego te diante
dos desejos inconscientes. Para o Eu do sujeito (que é a parte que reprime), o desejo causa
ansiedade, medo. O pesadelo é justamente um tipo de sonho que mostra como o Eu percebe
os desejos reprimidos como perigosos e ameaçadores.
Quem define como o sonho vai ser é o ego, o inconsciente trabalha e disfarça seu conteúdo a
partir dos critérios do ego.

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