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APOSTILA

FUNDAMENTOS DA
ASSOCIAÇÃO LIVRE

Av. Américo Buaiz, 501. Torre Norte – Enseada do Suá – Vitória – ES

Tel.: (027) 3345-6821

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SUMÁRIO

1.0 DEFINIÇÃO.........................................................................................3

2.0 HISTÓRIA.........................................................................................3

3.0 FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA ASSOCIAÇÃO LIVRE ..............4

4.0 COMO ACONTECE A ASSOCIAÇÃO LIVRE?................................5

5.0 EXEMPLOS DA ASSOCIAÇÃO LIVRE NA PRÁTICA....................6

5.1 TESTE DE ASSOCIAÇÃO LIVRE DE PALAVRAS......................6


5.2 PACIENTE: ANA.....................................................................................7

6.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................9


1.0 DEFINIÇÃO

A associação livre é uma ferramenta da psicanálise criada pelo próprio pai


deste campo clínico, Sigmund Freud. Consiste em convidar o paciente a
expressar tudo aquilo que passe pela sua mente durante uma sessão de
terapia. A intenção é que haja o menor número de filtros possível ou de
preconceito entre o que o paciente
pensa e o que ele diz ao terapeuta.

A associação livre tem seus


fundamentos teóricos, assim como
toda uma técnica. Há formas
específicas de aplicação e também
objetivos. É a técnica primordial da psicanálise utilizada em diversos contextos.
Um deles é a aplicação de testes projetivos, como o teste de Rorschach e
o teste de apercepção temática (TAT).

2.0 HISTÓRIA

Sigmund Freud desenvolveu e foi aperfeiçoando esse conceito ao longo do


tempo. Isso se deu entre os anos de 1892 e 1898. Freud foi substituindo
progressivamente o método da hipnose e o método catártico – que utilizava no
início – pela associação livre. Essa evolução foi motivada por um objetivo muito
concreto: evitar que o paciente fosse
sugestionado.

A partir de uma intervenção com uma de


suas pacientes, a senhora Emmy Von N,
em 1982, Freud começou a criar o método
da associação livre. Essa paciente pediu
diretamente a Freud que ele parasse de
intervir em seu discurso, e que a deixasse falar livremente.

Posteriormente, em sua obra “O método psicanalítico” de 1904, Freud explica


as razões pelas quais teria abandonado a hipnose. A partir dos trabalhos de
Breuer, outro psicanalista, Freud se dá conta de que a hipnose produzia
resultados apenas parciais e transitórios.

Ao contrário, o método da associação livre suprimia as resistências do


paciente. Desse modo, o acesso ao material inconsciente, como as
lembranças, afetos e e representações, era muito mais confiável. . Dessa
forma, o método catártico e hipnótico foi definitivamente substituído pela
associação livre. Esta se converteu na regra fundamental e meio privilegiado
de acesso e investigação do inconsciente.

3.0 FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA ASSOCIAÇÃO LIVRE

Quando uma pessoa fala, ela faz uma seleção das palavra que quer utilizar
para criar um sentido coerente com a mensagem que pretende compartilhar.
Apesar desse processo de seleção, que é mais ou menos rápido, costumam
aparecer falhas na linguagem. Alguns exemplos são os lapsos de linguagem,
esquecimentos, repetições, etc. Estas falhas nas conversas fora do contexto
terapêutico não costumam ser analisadas. No contexto analítico, porém, elas
têm enorme importância.

“O inconsciente está estruturado como uma linguagem.”


-Jaques Lacan-

Precisamente, no contexto analítico essas falhas são entendidas como uma


manifestação do inconsciente. É como se, de algum modo, o conteúdo
ultrapassasse a barreira defensiva do inconsciente da pessoa. Algo parecido
acontece com a associação livre.

O paciente, ao se ver liberado pelo terapeuta de qualquer controle, de


necessidade de disciplina e de dar um sentido lógico a suas ideias, cai no
cenário perfeito para se deixar levar pelo inconsciente. Este adquire força,
chega à mente, e se expressa na linguagem. A barreira defensiva, as
resistências, são enfraquecidas, e é possível então ter acesso ao conteúdo
inconsciente.
“A voz do inconsciente é sutil, mas nunca deixa de ser ouvida.”
-Sigmund Freud-

Para Freud, expor as resistências e então analisá-las é completamente


essencial para alcançar o inconsciente e a cura. Isso só acontece por meio da
associação livre. Junto à associação livre, a interpretação dos sonhos e a
análise de outros atos falhos são as três técnicas essenciais da clínica
analítica. Sendo assim, a associação livre se torna imprescindível, tanto que
para Freud é a técnica que mais identifica a psicanálise. É a técnica que a
diferencia de forma mais marcante de outras abordagens terapêuticas.

4.0 COMO ACONTECE A ASSOCIAÇÃO LIVRE?

A associação livre pode surgir espontaneamente ou ser induzida a partir de um


sonho, fantasia ou qualquer outro pensamento. Para que ela ocorra, no
entanto, e para que realmente se configure como uma associação livre,
são necessárias algumas condições.

Uma delas é que haja uma confiança na relação com o analista. Na


psicanálise, essa confiança é chamada de transferência. Outra condição é que
se tenha compreendido que o discurso analítico está em um lugar diferente do
que uma simples conversa habitual fora do contexto da consulta. Nada do que
é dito numa sessão será julgado, nada está certo ou errado. Tudo que é falado
é válido.

No momento em que o paciente se deixa levar por seus pensamentos e


consegue expressá-los abertamente com seu analista, o inconsciente se
expressa. As representações inconscientes afloram, são permitidas, e
podem então ser analisadas, interpretadas e trabalhadas. Obtendo acesso
ao material inconsciente, é possível elaborá-lo de maneira consciente. O
objetivo dessa elaboração é que o conteúdo deixe de ser uma fonte de mal-
estar ou de conflito.
“Há em todo ser humano desejos que não querem ser comunicados aos outros,
e desejos que não querem nem confessar sua existência.”
-Sigmund Freud-

Como facilitar a associação livre?

Podemos concluir que a associação livre surgirá com mais facilidade se o


paciente se sente cômodo tanto no espaço analítico quanto com seu analista.
Deve haver também a menor estimulação possível pelo ambiente que o
rodeia. Classicamente, usa-se o divã para tanto. Nele, o paciente se
encosta e o analista fica fora de seu campo de visão, evitando assim que
o paciente se sinta observado, julgado, e possa então se concentrar
completamente em suas associações.

O enunciado que o analista dá para o paciente é muito simples. Por exemplo:


“diga qualquer coisa”. Ou: “diga tudo o que surgir na sua mente, como uma
imagem ou qualquer lembrança que se apresente”. A partir daí, o paciente tem
absoluta liberdade para expressar tudo aquilo que passe por sua mente. Ele
não deve se preocupar em fazer um discurso elaborado ou em agradar
seu analista. Finalmente, a prática de uma boa associação livre permitirá uma
análise que renda muitos frutos e, em última instância, uma melhora subjetiva
do estado do paciente.

5.0 EXEMPLOS DA ASSOCIAÇÃO LIVRE NA PRÁTICA

5.1 TESTE DE ASSOCIAÇÃO LIVRE DE PALAVRAS:

Este teste é muito usado em entrevistas de recursos humanos (RH) e em


outras situações de testes psicológicos e comportamentais. O entrevistador diz
uma palavra e o entrevistado tem de responder com outra.

Normalmente, os critérios avaliados são coisas do tipo: rapidez da resposta e


criatividade ou não obviedade da resposta.
Por exemplo: Se o entrevistador diz
“verde” e o entrevistado responde:

 “cor“: a resposta foi literal demais,


o entrevistado perdeu pontos.

 “amarelo“: a resposta é um
complemento das cores da bandeira, é
uma resposta de baixa criatividade, mas já demonstra uma fuga do
óbvio e uma busca por complementariedade de ideias.

 “Amazônia“: a resposta foi mais criativa, por sua relação metonímica (na
Amazônia há muito verde). O candidato ganha pontos no teste de
associação livre de palavras.

5.2 PACIENTE: ANA

Essa sessão aconteceu um dia antes do período em que me ausentaria por


três semanas, em razão das férias. A paciente está no horário, é a terceira
sessão da semana, deita-se, e diz logo em seguida:

− Estou lendo vários livros, vários autores muito interessantes.

O tom da fala é de satisfação. Parece bastante animada.

Digo em tom afirmativo:

− Terá boas companhias nas nossas férias.

Comentários

O universo de possibilidades de temas para se iniciar uma conversa é infinito.


Escutando Ana, percebo o seu jeito, o tom, a fala, o clima e também a
circunstância em que se dá o encontro. Tudo isso está presente na sala de
análise. Sua comunicação parte do que chamamos pré-moção e emoção que
está vivendo naquele momento e diretamente ligada ao que ela se autoriza a
me comunicar. Quando digo isso, penso nas forças repressoras presentes no
psiquismo e, também, que o que é externalizado é autorizado pelo ego. Parto
da ideia de que o que está inconsciente é externalizado com todas as suas
deformações por meio da autorização do Ego. Escuto, então, naquele
momento, Ana me comunicando sua necessidade de mostrar-me que não lhe
farei falta, que já tem bons substitutos, mas a necessidade de trazer isso a mim
daquela forma me faz pensar no ditado: "Quem desdenha, quer comprar".
Penso que Ana está ferida na sua defesa narcísica, ao sentir que minhas férias
ocupam espaço dentro de si.

A forma com que se protege dessa dor é o desprezo. Não farei falta! A questão
é, como Ana pode saber algo antes que aconteça? Essa situação nos informa
que estamos em áreas sensíveis, redutos narcísicos e experiências
traumáticas que Ana necessita negar. Isso tudo me aproxima do seu mundo
psíquico e de sua história que passa como um filme em minha mente.

As falas seguintes de Ana me possibilitaram verificar que pude, com minha


comunicação, expandir nosso campo de investigação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CLINICA, P. Método da Associação Livre em Psicanálise. Psicanálise Clinica.


São Paulo, 2018. Disponível em: <https://www.psicanaliseclinica.com/metodo-
da-associacao-livre-em-psicanalise/>.

FOSTER, Marta. Associação livre de ideias: via régia para o inconsciente – a


especificidade do método. J. psicanal. São Paulo, 2010. Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
58352010000200015>.

BLOG. O que é a associação livre?. Blog: A mente é maravilhosa. 2018.


Disponível em: <https://amenteemaravilhosa.com.br/associacao-livre/>.

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