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Facultad de Psicología y Ciencias Sociales

Doctorado en Psicología

A DEPENDÊNCIA NO CONSUMO DE CANNABIS A LUZ DA NEUROCIÊNCIAS

Artigo Científico apresentado à Universidade


de Flores como exigência curricular para
aprovação no Curso de Doutorado em
neuropsicologia.

Doctorandos: B. ENGELKE LUDOGERO, CATHARINE,


PAULA SAMUEL, MILENA
MACATRÃO, GABRIELA
2

RESUMO

No Brasil as discussões sobre políticas públicas no tocante ao uso da erva


Cannabis Sativa, conhecida como maconha vem ganhado notoriedade e
divergências. A escolha do tema do trabalho que ora introduzo deve-se, sobretudo,
ao grande interesse que a Neuropsicologia me despertou desde os primeiros
períodos do curso de psicologia.
O quеstionаmеnto quе sе intеncionа solucionаr com еstа реsquisа é a
dependência no uso da maconha, o que sua possível constatação impacta
diretamente na sociedade e propicia um conhecimento para a escolha do uso da
substância. A droga psicoativa age no sistema nervoso central, modifica
comportamentos e a longo prazo ocasiona danos a memória e portante é área de
interesse da saúde pública.
Outro aspecto importante é o crescente uso do Canabidiol, substância
presente na maconha como tratamento medicinal nos quadros convulsivos em
paciente epiléticos pelo efeito calmante. O resultado imediato positivo invade o
senso comum, gera certo conforto a vida dos paciente e familiares, porém a
Organização Mundial de saúde não pode constatar, até o prezado momento que se
trata de um tratamento seguro a longo prazo e por isso não recomenda o uso.

Palavras chave: psicologia, uso, Cannabidiol, dependência.


3

ABSTRACT

In Brazil, public policy discussions regarding the use of the herb Cannabis Sativa,
known as marijuana, have gained notoriety and divergences. The choice of the
theme of the work that I am introducing is mainly due to the great interest that
Neuropsychology has awakened since the first periods of the psychology course.
The question that is meant to solve with this is dependence on the use of marijuana,
which its possible impact directly impacts on society and provides knowledge for
choosing the use of the substance. The psychoactive drug acts on the central
nervous system, modifies behaviors and in the long term causes damage to
memory and therefore it is an area of public health interest.
Another important aspect is the increasing use of Cannabidiol, a substance present
in marijuana as a medicinal treatment for seizures in epileptic patients due to its
calming effect. The immediate positive result invades common sense, generates a
certain comfort in the lives of patients and families, however the World Health
Organization cannot verify, until the dear moment, that it is a safe treatment in the
long term and therefore does not recommend the use.

Keywords: psychology, use, Cannabidiol, addiction.


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SUMÁRIO
1. INTRODU
2. USO E DE
3.EFEITOS NEUROBIOLÓGICOS E PSICOFISIOLÓGICOS DO USO DA
CANNABIS.....................................................................................................10
4. USO MEDICINAL DA CANNABIS............................................................12
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................14
6.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................17
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1.INTRODUÇÃO

O presente artigo tem por objeto o estudo sobre as consequências


psicológicas e neurológicas no uso da maconha trazendo relevantes dados diante
de um cenário de discussão atual de políticas públicas, tanto no meio midiático,
quanto em pesquisas que buscam bases sólidas para delimitar o tema e trazer uma
margem de segurança diante do uso da Cannabis.

O quеstionаmеnto quе sе intеncionа solucionаr com еstа реsquisа é a


dependência psicológica no uso da maconha, o que sua constatação impacta
diretamente na sociedade e propicia um conhecimento para a escolha do uso da
substância. A droga psicoativa age no sistema nervoso central, modifica
comportamentos e a longo prazo ocasiona danos a memória e, portanto, é área de
interesse da saúde pública. (CEBRID, 2007)1
O estudo bibliográfico centra-se nas contribuições teóricas de vários autores.
Para confecção do presente trabalho utilizaremos livros atualizados, revistas,
materiais extraídos da Internet, revistas especializadas, jornais da área psicológica,
entrevistas, salientando-se o que tem de mais atual sobre medicina, psicologia e
periódicos concernentes ao tema.

O uso de drogas surge de uma relação de prazer, da busca da


satisfação, de um desejo de uma busca mais profunda de um bem-estar. Day, H. &
Jankey, S. G (1996) retratam uma abordagem psicologicamente da noção de
qualidade de vida, que é uma questão importantíssima e estaria relacionada a um
dos desejos humanos básicos que é viver e se sentir bem.
Para os autores, seria uma busca de indicadores que tratam das reações
subjetivas de um indivíduo relacionada às suas vivências, ligada a experiência
direta do indivíduo, cuja qualidade de vida está sendo avaliada, e demonstra
indicadores relacionados a percepção dos povos às suas próprias vidas, felicidade,
satisfação. O indivíduo ao escolher o uso da droga, não escolhe necessariamente a

1
O CEBRID é o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, que funciona no
Departamento de Medicina Preventiva da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo). É uma
entidade sem fins lucrativos e existe exclusivamente para ser útil à população. Disponível em
https://www.cebrid.com.br/livreto-informativo-sobre-drogas/. Acesso em 20/02/2020.
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dependência ou uma autoflagelação, mas um encontro consigo, com a sensação


de liberdade, felicidade ou êxtase.
Para Reis, Tatiana Rangel (2007), existia uma convicção no meio acadêmico
que a maconha por si só raramente era um problema de origem primária, seria
apenas com a associação de outras drogas. Dado ao exposto a carência em se
privilegiar a abstinência de um individuo que consome apenas maconha. Somente
na década de 90 começaram a aparecer dependentes químicos de maconha,
carecendo de tratamento.
No tocante ao consumo, a discussão acerca do uso hedonista (ou
recreativo) e terapêutico da cannabis sativa está passando por uma revisão pela
sociedade, por iniciativa parte das famílias e dos próprios pacientes por soluções
aos seus sofrimentos, trazendo à tona o assunto discutido timidamente pelas
indústrias, médicos e autoridades governamentais. (PAMPLONA; MALCHER-
LOPES, 2014).
Conforme nos elucida Jungerman, Flavia (2007) as questões associadas ao
uso de maconha, são as principais causas decorrentes da procura de tratamento, a
autora reitera a importância de um estabelecimento de vínculo terapêutico desde a
primeira entrevista. A definição de um diagnostico de dependência é feita através
de instrumentos feitos num segundo momento através de entrevistas com
questionários.
A autora mencionada acima, reforça que no caso específico do diagnostico
de dependência química de maconha tais questionários avaliam o consumo pela
ótica da quantidade, frequência, e áreas afetadas no indivíduo pelo uso da droga.
Entender a dinâmica da maconha no cérebro humano, os diferentes padrões
de uso e suas consequências no cotidiano é essencial para que tenhamos um
estudo sério e detalhado, primordial a qualquer posicionamento. Propicia também
uma maior liberdade do indivíduo em escolher o uso ou não, baseado em dados
empíricos.

A presente pesquisa é necessária, mesmo que já abordada em diversos


outros trabalhos e conforme descortina Crippa et al (2010), a maconha é a droga
ilícita mais consumida no mundo e sua taxa de prevalência de uso fica somente
atrás do consumo de álcool e de cigarros. A complexidade da classificação dos
padrões de uso e sua relação com uma possível dependência psicológica com
7

danos neuronais merecem relevante tratamento e não pode se tornar reducionista


ao prazer do senso comum e a раrtir somеntе do рonto dе vistа orgânico, рois
dеvе-sе considеrаr tаmbém o mеio sociаl no quаl o usuário еstá insеrido е
еsреciаlmеntе, sеus аsреctos рsicológicos.

2. USO E DEPENDÊNCIA

Em 2015, cerca de 250 milhões de pessoas usavam drogas ilícitas e


dentre estes, cerca de 29,5 milhões de pessoas, ou seja, 0,6% da população adulta
global apresentaram transtornos relacionados ao consumo de drogas, incluindo a
dependência, de acordo com o último Informe Mundial sobre Drogas, Oficina das
Nações Unidas sobre Drogas e Delitos (UNODC)2.
Segundo Galduróz, JC et al Noto AR (1999 apud RIBEIRO, Marcelo et
al 2005) as pesquisas realizadas através de um levantamento domiciliar feito na
cidade de São Paulo, em 1999, com uma população acima de 12 anos, a maconha
foi a droga que teve maior uso na vida (6,6%), seguida de longe pelos solventes
(2,7%) e pela cocaína (2,1%). Аlgumаs dаs rерrеsеntаções sociаis rеlаcionаdаs а
erva Cannabis Sativa clаssificаm-na como sе fossе mero exagero tratá-la como
droga ilícita, subestimando seu uso, enquanto outras com muita inflexibilidade e
rigidez abominam a ideia de sua utilização fora dos fins medicinais e por vezes até
contestam essa utilização para amenizar sintomas de doenças.
Segundo Zaneto, Neide (2007) a maconha é a droga ilícita mais
consumida no mundo, apesar disso ainda não é responsável pela maior demanda
para busca de tratamento no Brasil. Para a autora a crença arraigada no passado,
que a maconha é uma droga leve, não levando a um real perigo, poderia explicar
esse fenômeno, sendo assim o uso e a dependência da maconha não tem a
relevância devida para os riscos de saúde.
Para Crippa, J. A. S.; Zuard, A. W et al (2010) houve um crescimento
do interesse por essa espécie de planta após à identificação, pelo grupo do

2
A Oficina das Nações Unidas sobre Drogas e delitos (UNODC) é a agência da ONU
encarregada de coordenar as atividades internacionais de fiscalização de narcóticos. Foi criada em
2002 e atualmente tem cerca de 500 trabalhadores espalhados por todo o mundo. Sua sede está
localizada em Viena e possui 21 escritórios no exterior, além de um centro e coordenação em Nova
York. Disponível em https://idpc.net/pt/incidencia-politica-internacional/sistema-global-fiscalizacao-
entorpecentes/unodc, acesso em 24/03/2020.
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professor israelense Raphael Mechoulam, na década de 1960, dos principais


componentes químicos, e podemos citar o delta-nove-tetra-hidrocanabinol (∆∆9-
THC) e o canabidiol. O que despertou o desejo científico de inúmeros
pesquisadores, inclusive de cientistas brasileiros que evidenciaram demonstrações
observando utilizações científicas das referidas substâncias no tratamento de
doenças.
Souza, Yuri; Santos, Maria de Fátima et al. (2018) entendem que
apesar dos comprovados benefícios do cannabidiol à saúde, atualmente, o debate
em torno do uso medicinal deste fármaco continua bastante heterogêneo e
polêmico, tendo em vista a extração de tal substância de uma droga ilícita.
Silveira, Dartiu; Silveira, Evelyn (2017) desenvolveram uma cartilha chamada
Padrões de Uso de Drogas e estabeleceram distinções entre uso, abuso e
dependência. A partir do paradigma da existência de inúmeros padrões de
relacionamento com substâncias psicoativas não seria correto entender seu uso
como patológico, seja ela lícita ou não.

Os autores ainda destacam que a maior parte dos usuários destas


substâncias psicoativas não chega a desenvolver um nível de dependência e que
não estaria correto afirmar que todo uso de substâncias psicoativas (lícitas ou
ilícitas) é patológico ou problemático, enfatizando que o uso ocasional não é isento
de riscos.

Entendem que o fenômeno da dependência é enredado e compreende o


sujeito, com características de personalidade e singularidade biológica; a
substância psicoativa, com propriedades farmacológicas específicas e o contexto
sociocultural.
O indivíduo é o mais complexo dos três elementos e não há como afirmar se
ocorrerá a dependência baseado na relação que estabelece com a droga e a maior
parte dos usuários de substâncias, lícitas ou ilícitas, não se tornará dependente. A
relação com a droga será influenciada, diretamente, por diversos fatores: sociais,
biológicos e psicológicos.
Ainda sobre o tema, o uso nocivo como um padrão de utilização uso de uma
substância psicoativa que resulta em dano à saúde. Para determinar o uso nocivo e
o abuso, as diretrizes diagnósticas colocam como requisito um dano real a saúde
9

física ou mental daquele usuário e que, concomitantemente esse sujeito não


preencha os critérios diagnósticos da dependência para o transtorno psicótico
induzido ou drogas ou para transtorno relacionado ao uso de drogas. ( SILVEIRA;
SILVEIRA 2017)

Os autores supracitados, afirmam que para caracterizar a dependência é


necessário um período de um ano para uma observação da apresentação de
requisitos como forte desejo ou compulsão de consumo da substância, dificuldades
no controle do comportamento do uso, crises de abstinência, aumento da tolerância
no padrão da quantidade de consumo dentre outras.
Frise-se que, conforme o Relatório Mundial sobre Drogas, a UNODC (2017)
aponta que cerca de 29,5 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de
transtornos provocados pelo uso de drogas, sendo os opióides os mais prejudiciais.
Enquanto o mercado de novas substâncias psicoativas (NPS) ainda é
relativamente pequeno, os usuários desconhecem seu conteúdo e a dosagem de
substâncias psicoativas.
Segundo Aleluia (2009), existe de uma diferença bem didática e progressiva
que vai do uso experimental até a dependência de maconha. Onde o indivíduo em
um ambiente com amigos tem seu primeiro contato com a maconha, gosta e após
algumas semanas volta a se encontrar com esses amigos, assim voltando a fumar.
Mesmo após algum tempo, quando indivíduo retorna a sua rotina de
atividades, há um impulso na procura desse círculo de drogas e o sujeito volta a
fumar para repetir o prazer, o que se denomina uso esporádico. O uso frequente
ocorre quando há uma regularidade no uso, como em todos os finais de semana.
Neste mesmo sentido, para a autora supracitada, quando o sujeito passa a
comprar certa quantidade de maconha para estocar, fuma aos finais de semana e
aumenta progressivamente o número de cigarros de maconha ocorre o abuso que
gera um desenvolvimento de tolerância.
Momento em que há um afastamento desse usuário abusivo das pessoas
que não renegam esse estilo de vida. Logo após passa a fumar maconha todos os
dias pela parte da noite para relaxar, fica meio disperso não consegue mais estudar
em casa. Começa a perder rendimento escolar significativamente.
10

Quando há tolerância, o usuário passa a fumar mais de um cigarro de


Cannabis por dia e quando tenta pela primeira vez diminuir por algum motivo, se
sente muito mal, a chamada abstinência, cujo corpo sente a ausência da maconha.
Então o individuo que começou a fumar por prazer passa a fumar para não sentir
abstinência e sente-se escravo da maconha está classificado como dependente.
(ALELUIA, 2009).

3 EFEITOS NEUROBIOLÓGICOS E PSICOFISIOLÓGICOS DO USO DA


CANNABIS
Há uma ampla e crescente preocupação com relação aos efeitos e
consequências do uso da maconha, que além de ser a droga ilícita mais consumida
no mundo, encontra na adolescência a porta de entrada, justamente num período
crucial para o desenvolvimento neural e psicossocial.
Os efeitos negativos do consumo são comprovados, porém alguns estudos
identificam prejuízos definitivos dentro do contexto de um consumo frequente ou
prolongado, que vão além do período de intoxicação aguda. (SOLOWIJ, PESA,
2010).
Segundo Grant et al. (2003) essa avaliação referente aos prejuízos
neuropsicológicos decorrentes do uso da maconha permanece um desafio entre os
pesquisadores, já que vários estudos apontam para prejuízos significativos no
período inicial de abstinência, mas não obtêm êxito na demonstração dos déficits
residuais.
Para os autores, algumas variáveis precisam ser consideradas, como o tipo
de testes neuropsicológicos utilizados, o intervalo entre o último consumo da
substância e o momento da avaliação, a concentração de tetra-hidrocanabinol
(THC) na maconha consumida, os efeitos do uso de outras substâncias, a
presença de comorbidades psiquiátricas, o tamanho da amostra, assim como o
tempo e a intensidade de uso.
Durante a fase de intoxicação aguda, a droga induz distorções de
percepção, o que prejudica tanto a memória, quanto a concentração e na fase
posterior ocorre uma perturbação da atenção, memória e controle da inibição. De
acordo com pesquisas realizadas a relação da resposta à administração aguda de
11

canabinoides é mediada pelo histórico de consumo e pela tolerância desenvolvida


durante a realização de algumas tarefas cognitivas. (SOLOWIJ; PESA, 2010).
As autoras ainda apontam que é necessário salientar, que ainda não há
pesquisas suficientes que levem a uma determinação de formas sistemáticas de
parâmetros do uso da cannabis que resultem na tolerância, as doses que podem
ou não desencadear desempenho prejudicado em usuários regulares ou as tarefas
cognitivas que respondem à tolerância.
Ilan et al (2004 apud SOLOWIJ; PESA 2010) aduz sobre a perturbação da
memória operacional pelo uso agudo. Indivíduos apresentaram medidas de
desempenho, de eletroencefalograma (EEG) e de ERP prejudicadas em uma tarefa
espacial após o consumo da droga, o que enfatiza os perigos de uso principalmente
na adolescência ou numa gestação por exemplo, tendo em vista os processos
mentais ali desenvolvidos nestas fases.
Novais et al (2008 apud SOLOWIJ; PESA 2010) em um estudo acerca da
atenção sustentada, observou 132 usuários de longo prazo divididos em um grupo
de início precoce, que iniciaram o uso de cannabis antes dos 15 anos e um grupo
de início tardio, por volta dos 15 anos.
Os resultados obtidos apontam que os usuários precoces apresentaram um
desempenho consideravelmente pior na tarefa de atenção sustentada, não
havendo diferenças de desempenho entre o grupo de início tardio e controles.
Embora possamos observar uma ausência de déficits de desempenho
explícitos, foi observado um metabolismo de glicose mais baixo nas regiões
órbitofrontal, temporal, do hipocampo e do parahipocampo durante o desempenho
de TDC nos usuários. regulares de maconha.
Um estudo sobre a inibição de pré-pulso de pré-atenção (IPP) atribuiu um
desempenho baixo a usuários crônicos de cannabis com déficits na atenção
mantida, que estiveram também associados a grande maior frequência de uso
de cannabis.
Solowij N, Battisti (2008) afirmam que as evidências sugerem que o um
consumo de maconha a longo prazo, leva a um potencial prejuízo nos mecanismos
de codificação, armazenamento, manipulação e recuperação. Os usuários
conhecem menos palavras nas tentativas e recordam menos palavras
12

particularmente após interferência ou atraso. Porém a recuperação da função da


memória costuma ocorrer após um período de 28 dias de abstinência .
A Psicologia clássica relata uma possível explicação para o abuso de drogas
relacionando a uma tendência natural do homem a repetir condutas que causam
prazer e evitam o desprazer. A atuação das drogas em áreas relacionadas a
emoções positivas e estimuladoras positivam tal afirmação, trata-se de um sistema
de recompensas que atuam em pelo menos 6 neurotransmissores - dopamina,
serotonina, acetilcolina, glutamato, GABA e diversos peptídeos (ESTÁRROZ et al
2003).
Ainda neste sentido os autores relatam que o uso de drogas altera o
funcionamento neuronal e citam mais 6 áreas cerebrais como o sistema
mesolímbico, núcleo pálido ventral, hipocampo, hipotálamo, amígdala e núcleo
pêndulo-pontino-tegmental. Ademais o consumo e alta intensidade e frequência
leva a náuseas, fadiga, dores crônicas na cabeça, garganta, irritabilidades,
problemas menstruais, tentativas de suicídio, isolamento social dentre outros.
Portanto não podemos deixar de associar o consumo de Cannabis aos
malefícios, embora estes possam ser reduzidos ou sanados com o passar do
tempo de abstinência, as pesquisas não conseguem definir um padrão dos
usuários que se diferem por muitos fatores, já que o homem é um ser
biopsicossocial e cada usuário segue um viés de consumo, porém com danos
biocerebrais, psicológicos e cognitivos são iminentes.

4. USO MEDICINAL DA CANNABIS

O uso medicinal da maconha é um tema muito controverso, pois pode ser


observado por muitas perspectivas e enfoques, um deles, estaria centrado no
tocante a legalização de seu uso, que gera inúmeras controvérsias sob o ponto de
vista da saúde mental, já que poderia aumentar o risco em determinadas pessoas
com alguma pré disposição a patologias como transtornos bipolares, mania por
exemplo. (BESSA E MAUER, 2017)

Neste mesmo sentido, para os autores acima citados, o principal ponto


positivo seriam os estudos científicos promovidos nos Estados Unidos, onde já
existem pelo menos três medicamentos derivados da Cannabis e todas as
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pesquisas estão sendo realizadas utilizando os princípios ativos da planta para


mais indicações clínicas seguras.

Segundo Gontijo ÉC et al. (2016), o canabididiol, que é substância presente


na maconha tem obtido ótimos resultados terapêuticos em indivíduos com sintomas
convulsivos, pois age no sistema neural equilibrando a excitação e inibição.
Resultando num ótimo diagnóstico e elevando a qualidade de vida do indivíduo
acometido.
No mesmo viés, Brucki, Sonia M. D. et al. (2015), enfatiza que a
aplicabilidade do canabidiol é diretamente ligada ao quadro de epilepsias
intratáveis, de dificíl controle. Porém ressalta que a segurança e eficácia da
utilização de tal substância deve ser melhor estabelecida para que não seja usada
de forma indiscriminada.
Com relação a dor crônica, Ribeiro M et al. (2005) entendem que a maconha
pode resultar na redução dos estímulos dolorosos, causando alívio da dor
resultante de uma sensação de desconforto, sofrimento ou angústia, já que é uma
sensação desagradável, percebida através de nervos sensitivos. O estado doloroso
é associado a um processo destrutivo atual ou potencial dos tecidos, que se
expressa através da reação orgânica e/ou emocional.

Os autores supracitados ainda desvelam que a Cannabis apresenta um


resultado positivo contra efeitos colaterais na quimioterapia e da radio terapia,
atuando no alívio das dores, enjoos e ansiedade. Ademais, também vem
evidenciando efeitos antitumorais, atuando diretamente na redução de tumores,
mesmo levando em consideração a presença de substâncias cancerígenas
produzidas pela combustão da erva no ato de fumá-la.
Izo, Borelli Capasso et al. (2010), realizaram estudos acerca dos
canabinoides relacionando-os a um impacto direto no tratamento da prevenção de
doenças como Alzheimer e diabetes. O tratamento reduziu os espasmos causados
por esclerose múltipla e tiques característicos da síndrome de Tourette. Também
foi constatada uma melhora nas dores neuropáticas e miopáticas. Aumento de
qualidade no sono e diminuição de vômitos em pacientes com imunodeficiência
induzida pelo HIV.
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Em 10 de Março de 2020, a Anvisa 3, a Resolução da Diretoria Colegiada


(RDC) 327/2019 entrou em vigor, trazendo os requisitos para a regularização de
produtos de Cannabis para fins medicinais no Brasil. São documentos com fins de
orientação, com o fito de tonar todo o processo transparente. A pacificação da
questão vai demandar tempo e muitos estudos, porém as evidências médicas
caminham para a uma aceitação ampla, sem preconceitos, pautada em muitos
estudos a longo prazo.

5.Considerações Finais

O desenvolvimento do presente estudo possibilitou uma análise acerca da


ampla utilização da Cannabis Sativa nos mais diversos tipos de usuários tanto. As
consequências psicológicas são diversas, assim como as de origem neurológicas.
Acreditando num ser humano biopsicossocial e espiritual não podemos ser
reducionistas a ponto de classificar a gravidade do uso de uma droga ilícita como
mero exagero.

O uso e a dependência psicológica carecem de muitos estudos


aprofundados, pesquisas e atenção pela comunidade científica. A maconha é
droga mais consumida no mundo e atualmente tem algumas de suas substâncias
utilizadas para algumas doenças. Vale ressaltar que ainda sim, alguns indivíduos
com pré-disposições a alguns transtornos psicológicos podem ter sua saúde
comprometida de maneira irreversível. Assim os estudos poderão determinar por
exemplo, a escolha do uso medicinal pelo paciente e pelo médico ou quem sabe a
mudança nas políticas públicas de repressão a maconha.

As inúmeras pesquisas abordadas neste artigo possuem um viés voltado a


contrabalancear as perspectivas, de modo a reproduzir com muita seriedade os

3
Criada pela Lei nº 9.782, de 26 de janeiro 1999, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa) é uma autarquia sob regime especial, está presente em todo o território nacional por meio
das coordenações de portos, aeroportos, fronteiras e recintos alfandegados.Tem por finalidade
institucional promover a proteção da saúde da população, por intermédio do controle sanitário da
produção e consumo de produtos e serviços submetidos à vigilância sanitária, inclusive dos
ambientes, dos processos, dos insumos e das tecnologias a eles relacionados, bem como o controle
de portos, aeroportos, fronteiras e recintos alfandegados. Disponível em
http://portal.anvisa.gov.br/institucional. Acesso em 10/05/2020.
15

danos neurológicos, a dependência, a atual necessidade do uso se substâncias


presentes na erva Cannabis como o tetra-hidrocanabinol (THC) e o canabidiol para
tratamentos de saúde.Todos os estudos apontam para um início de uso de
maconha voltado para uma inserção social, para o lazer e busca de momentos
alegres ou relaxantes. Esse é um primeiro passo até que seja inevitável participar
de reuniões constantes com o uso da droga. A mudança de comportamento ocorre
de forma inevitável, já que nem todos os grupos sociais aceitam indivíduos que
usam drogas ilícitas;

As pesquisas neurobiológicas e psicofisiológicas apontam para


consequências danosas da utilização, além de não conseguir precisar um nível
seguro de uso de maconha. A gravidade parece ser ainda maior quando o usuário
é adolescente, já que seu sistema neural e psicossocial ainda está em formação,
cujos danos apontam para uma situação definitiva. No tocante aos dependentes já
adultos, alguns danos a memória, atenção, como prejuízo nos mecanismos de
codificação, armazenamento, manipulação e recuperação se apresentam durante o
período de intoxicação aguda, porém os indivíduos conseguem superar tais óbices
após tempo de abstinência de 28 dias.

Destaca-se que os homens não seguem padrões comportamentais rígidos e


por isso determinar precisamente os padrões de usuários não é possível. Não há
uma linha do tempo que demonstre o caminhar do uso até o abuso da droga,
tampouco que os usuários necessariamente se tornam usuários frequentes a ponto
de terem alterações em suas funções cognitivas. E como há pouco tempo os
países vem afrouxando as leis no tocante ao uso medicinal, ainda não há muita
controvérsia acerca do tema.

A medicina caminha para um entendimento de utilização de canabinoides na


prevenção de doenças como Alzheimer, diabetes, em espasmos, dores crônicas,
qualidade de sono epilepsia entre outros. O fator pontual entre as pesquisas
médicas reside numa utilização ponderada, com prescrição médica pautada em
laudos para que não haja uma banalização desses medicamentos, mas que sejam
utilizados para amenizar o sofrimento do adoecimento e nã causar mais sofrimento.
16

Assim como as pesquisas médicas apontam para a positividade do uso de


medicamentos derivados da Cannabis, também apontam para o grande risco na
utilização por indivíduos que tenham pré-disposição a transtornos como da
bipolaridade ou mania, por exemplo. Neste quesito não falamos de pré-conceitos,
preconceitos ou rigidez, mas de conhecimento para a escolha do uso, falamos de
conhecimento científico que ampara a liberação do canabidiol em todo o mundo.
Portanto, podemos afirmar que não há segurança no nível de utilização do
uso recreacional, esporádico ou frequente da maconha. Seja pelo potencial abusivo
em algum momento, seja porque é certa a dependência psicológica e fisiológica em
muitos indivíduos. A Cannabis não pode ser tratada como benéfica, e deve sim,
estar incluída no rol de drogas proibidas.
Quanto ao uso medicinal e seu sucesso de uso, sendo avaliada por um
médico, dentro de um acompanhamento profissional, o mundo caminha para uma
nova ideia de medicamentos a base da droga e que não tem absolutamente
nenhuma relação com uso da droga ilícita.
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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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