Você está na página 1de 11

TÍTULO: A RELAÇÃO ENTRE O USO DA MACONHA DURANTE A ADOLESCÊNCIA E O SURGIMENTO

PRECOCE DA ESQUIZOFRENIA

CATEGORIA: CONCLUÍDO

ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE

SUBÁREA: Enfermagem

INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL - UNICSUL

AUTOR(ES): STEFFANY TORRES DA SILVA, MARIA EDUARDA SANTOS DO NASCIMENTO, BRENDA


ROBERTA GOMES VELOSO, VICTORIA EMILIA CORREIA GOUVEIA

ORIENTADOR(ES): CAROLINE FIGUEIRA PEREIRA

Realização: Apoio:
Resumo

Nos últimos anos houve aumento considerável no interesse em pesquisas


relacionando o uso de drogas psicoativas, e seus efeitos neuropsicológicos, em
especial a cannabis sativa, popularmente conhecida no Brasil como maconha, uma
vez que esta é uma droga ordinariamente consumida pela população jovem. Para o
desenvolvimento deste estudo, fora realizada uma revisão de literatura a fim de
verificar a possível relação do uso da maconha com o surgimento precoce desta
psicose. Utilizou-se como base de dados a Biblioteca Virtual da Saúde (BVS), sendo
realizada a consulta no ano de 2019 com os seguintes descritores: Adolescente,
esquizofrenia e cannabis. Os principais resultados obtidos mostram que há uma
relação neurobiológica entre o uso maconha e o desenvolvimento prematuro da
esquizofrenia, indicando que há fatores etiológicos que sugerem tal relação, como
os fatores genéticos, pois o uso da maconha pode antecipar o surgimento da
esquizofrenia em indivíduos predispostos geneticamente ou exacerbar os sintomas,
apesar de haver estudos que antagonizam esta relação, pressupondo ser apenas
uma casualidade, pois a manifestação dos primeiros sintomas desta psicose e o
início do consumo de drogas tem o seu auge nesta fase. Contudo pode se concluir
que existem fatores genéticos e neuropsicológicos que fundamentam o uso da
maconha durante a adolescência e sua associação com o surgimento precoce da
esquizofrenia. Evidencia-se ser indispensável a elaboração de estudos
aprofundados que sejam capazes de elucidar os efeitos que a maconha pode
acarretar nas funções cerebrais e sua influência no desenvolvimento de distúrbios
neuropsicóticos.

Introdução

A esquizofrenia é um distúrbio mental grave caracterizado por distorções do


pensamento e percepção, e embotamento afetivo1. Segundo a PAO (Organização
Pan Americana de Saúde) em abril de 2018, a esquizofrenia afetava
aproximadamente 23 milhões de pessoas no mundo, tendo início ao fim da
adolescência e início da vida adulta 2.

O primeiro estudo investigativo, relacionando o aparecimento precoce da


esquizofrenia com o uso da maconha, é datado de 1987, e fora realizado na Suíça
5, no qual evidenciou que há um aumento significativo de dose-resposta, no
surgimento de tal distúrbio psicótico 6.

Estatísticas da Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmam que a maconha é


droga psicoativa mais consumida no mundo, estima-se que 181,8 milhões de
pessoas são usuários de maconha, com idade entre 15 aos 64 anos, sendo que
2,5% da população adulta usaram maconha no ano de 2015, tal percentual aumenta
para 3,5% na faixa etária entre 15 a 24 anos 8.

A maconha é um perturbador do Sistema Nervoso Central (SNC), promovendo


descaracterização espacial e temporal, mudanças de tato, visão e audição,
desencadeando dependência e tolerância 10. Seu uso prolongado resulta em
prejuízos cognitivos, alterações neuropsicológicas, e prejuízos de atenção que
podem estar relacionados ao tempo de uso, mas não a frequência 5.

Dentre os efeitos que causam desprazer destaca-se: ansiedade, pânico, paranoia,


diminuição das habilidades mentais, sobretudo atenção e déficit da capacidade
motora e riscos de exacerbação dos sintomas psicóticos 10. Seu uso prolongado
resulta em prejuízos cognitivos, alterações neuropsicológicas, e prejuízos de
atenção que podem estar relacionados ao tempo de uso, mas não a frequência 3.

Objetivo

Verificar a existência da relação entre o uso de maconha e o desencadeamento


precoce da esquizofrenia em adolescentes.

Metodologia

O presente trabalho refere-se a uma revisão de literatura, realizada por meio da


análise de artigos com o objetivo de verificar a correlação entre o uso da maconha
na adolescência e o surgimento precoce da esquizofrenia.

Foi utilizado para levantamento dos artigos bibliográficos os acervos da biblioteca


virtual da saúde (BVS). Como método de busca para pesquisa foi utilizado a
estratégia PICO com os respectivos descritores: adolescentes, cannabis e
esquizofrenia.
Os critérios de inclusão para o estudo são artigos com o idioma em português e
espanhol, que apresentem relação com o tema estabelecido, de exclusão são artigos
com pacientes portadores de outras doenças mentais, portadores de esquizofrenia
que não fizeram uso de maconha durante a adolescência e artigos de demais
idiomas.

A partir deste plano de levantamento bibliográfico, selecionamos os artigos para a


elaboração do estudo, após realizarmos a pesquisa e a leitura dos artigos, os dados
foram organizados conforme sua relevância ao tema, e analisados, para construção
da revisão.

Desenvolvimento

Segundo a Classificação Internacional de Doença 10º Edição (CID 10), a


esquizofrenia pode ser classificada em 9 tipos diferentes 3, sendo eles: paranoide,
hebefrênica, catatônica, indiferenciada, depressão pós esquizofrênica, residual e
simples 4, dentre as influências causais tem-se a genética, influências ambientais, e
o abuso de substâncias psicoativas sendo este considerado um fator desencadeante
do Distúrbio.3

No que tange a genética e o aparecimento precoce da esquizofrenia, podemos


destacar que uma discreta alteração de fatores variados no desenvolvimento do
sistema nervoso pode se converter em um conjunto de sintomas comportamentais. 1
Nas influências ambientais, podemos destacar diversas alterações estressantes e
sociais que induzem o indivíduo ao uso precoce da maconha, com o intuito de obter
relaxamento 4, E este uso está relacionado com o aparecimento dos sintomas de
esquizofrenia. 3

No que se refere ao Brasil em 2010 foi divulgado pelo CEBRID (Centro Brasileiro de
Informações sobre Drogas Psicotrópicas) uma pesquisa com 50.890 estudantes das
27 capitais do país onde o total de estudantes que relataram uso no ano vigente de
qualquer droga, lícita ou ilícita ficando de fora da pesquisa o álcool e tabaco, foi
13,6% dos estudantes da rede particular e 9,9% da rede pública sendo a maconha
utilizada por 3,7% dos estudantes, tendo maior prevalência de uso entre a faixa
etária de 13 à 19 anos de idade.9
Dentre os efeitos que causam desprazer destaca-se: ansiedade, pânico, paranoia,
diminuição das habilidades mentais, sobretudo atenção e déficit da capacidade
motora e riscos de exacerbação dos sintomas psicóticos 10. Seu uso prolongado
resulta em prejuízos cognitivos, alterações neuropsicológicas, e prejuízos de
atenção que podem estar relacionados ao tempo de uso, mas não a frequência. 3

O abuso de substâncias pode ser explicado pela tendência do ser humano a repetir
atitudes que produzem prazer. As drogas atuam em zonas, que causam condutas
incentivadoras. 5 O funcionamento neural pode ser alterado pelo uso de qualquer
droga com consequente modificação do desempenho das funções cerebrais.10

Tais modificações das funções cerebrais ocorrem devido aos principais compostos
encontrados na maconha, o delta-9-tetrahidrocanabinol (THC) que causa a
sensação de letargia e bem-estar a curto prazo. 3 Sabe-se que esse composto atua
como receptor agonista de canabinoide (CB), que está presente no encéfalo (CB1)
e nas estruturas do sistema imune (CB2), esse segundo não tendo grande atuação
no presente estudo.5

Os receptores CB1 encontram-se abundantemente no cerebelo, hipocampo,


amigdala, gânglios da base e córtex, o que está diretamente relacionado com os
efeitos centrais conhecidos dos canabinoides em relação com a alteração do estado
emocional, colapso de memória de curto-prazo, resultando em desorientação
espacial e temporal.5

Deste modo, os principais indícios biológicos de que o sistema canabinoide esteja


envolvido no aparecimento da esquizofrenia são: os receptores canabinoides estão
localizados, anatomicamente em regiões que vinculadas a esquizofrenia e o abuso
da maconha pioram os sintomas psicóticos em paciente já esquizofrênicos. 5

O uso crônico da maconha provoca déficit de aprendizagem, diminuição da


motivação gerando apatia e improdutividade, o que desencadeia a Síndrome

amotivacional que é um estado de omissão e displicência, o qual apresenta


disfunções gerais da capacidade cognitiva, interpessoal e social; podendo causar
exacerbação dos sintomas em distúrbios pré-existentes.10
Durante o período da adolescência evidencia-se uma série de profundas alterações
sociais, biológicas, orgânicas, culturais, existenciais e emocionais. Esse é um
período da vida que envolve novas sensações, experiências, curiosidade, desafios
e a busca de uma identidade própria e de pertencer a um grupo. Tais particularidades
tornam esse período considerado de risco para experimentar e desenvolver
dependência de substâncias psicoativas. 11

A utilização da maconha é influenciada por contextos sociais. Entre os adolescentes


se o grupo em que o mesmo estiver inserido, fizer uso mesmo que de maneira
experimental da maconha o jovem se sente pressionado a usar. Somado a esse fato
durante a adolescência o jovem dificilmente aceita orientações, e por isso muitas
vezes ocorre afastamento familiar, e aproximação dos amigos.3

Durante a adolescência ocorrem processos de aprimoramento cerebral, e por isso


neste período há uma maior sensibilidade aos efeitos resultantes do uso de
substâncias. Os sistemas de reforços concernentes ao prazer motivado pelo uso de
drogas são espontaneamente hiperativos em contrapartida os sistemas
responsáveis pela inibição de comportamentos são naturalmente hipoativos, o uso
de drogas resulta em ativação do sistema de recompensa que aliada a impulsividade
característica desta faixa etária, torna o jovem vulnerável em relação as drogas. 11

Sabe-se que inúmeras são as causas que levam os adolescentes a iniciar o uso de
drogas, dentre estes estão: falta de supervisão, uso de drogas pelos pais, famílias
com conflitos conjugais, violência doméstica, falta de afeto e padrão de comunicação
negativa, todavia estes apresentam um déficit no conhecimento, dos riscos do uso
da maconha bem como de sua ligação com o desenvolvimento da esquizofrenia. 11

Sabe-se que quanto mais cedo inicia-se o consumo da droga (particularmente antes
dos 15 anos) 11, maiores são as chances de desenvolver os sintomas da doença,
denota-se que algumas literaturas citam o início de consumo a partir dos 7 anos. 12

Um estudo quantitativo realizado com adolescentes cujo o objetivo foi verificar as


consequências cognitivas em usuários ou dependentes da maconha e realizando
uma comparação com aqueles que não fazem uso, identificou como resultado um
grau de prejuízo relacionado a lentificação psicomotora, flexibilidade mental, e
percepção visual no que diz respeito a atenção, evidenciando desta forma danos no
funcionamento neuropsicológico de usuários.13 A coexistência do transtorno é
comumente associada ao abuso de substâncias, e ao uso nocivo do dependente. As
manifestações clinicas próprias deste e de outros transtornos mentais, são parecidas
com os efeitos alucinógenos da maconha, tanto que durante a esquizofrenia existe
a ativação dos receptores endocanabinóides, mesmo sem a utilização da droga,
tendo em vista que o uso dos canabinóides estão vinculados a regulação do estado
de ânimo, aumento do apetite, a perca de memória, e a percepção de dor alterada,
podendo ainda ter alucinações visuais ou auditivas se o uso for abusivo. 12

Um estudo de neuroimagem evidenciou que em ambos os sexos onde foi iniciado o


uso da maconha antes dos 17 anos, identificou uma menor porcentagem de matéria
cinzenta cortical, do que aqueles que fizeram uso posteriormente. Portanto os dados
mostram que a adolescência é o momento de maior vulnerabilidade do encéfalo,
para os efeitos negativos da maconha.5

Sendo assim, entende-se que o sistema canabinóide de fato está relacionado a


patogenia da esquizofrenia, e a ativação deste sistema pelo uso da maconha pode
ser a base neurobiológica que explicaria o desenvolvimento de esquizofrenia pelo
uso da maconha.5

Resultados

Na fonte de informação pesquisava localizaram-se 63 artigos, desses 50 foram


excluídos por não cumprirem o critério de elegibilidade de linguagem e correlação
com adolescência. O estudo final fora realizado com 13 artigos.
Figura. Prisma do processo de seleção dos estudos para revisão de literatura.

Os artigos analisados, indicaram que há uma relação entre o uso da maconha na


adolescência e o surgimento da esquizofrenia em indivíduos pré-dispostos. Em
contrapartida há autores que indicam que a relação é apenas uma coincidência, pois
ambos têm picos no fim da adolescência pois é um momento de maior
vulnerabilidade, e início da vida adulta, uma vez que a esquizofrenia se desenvolve
neste período. Porém há autores que evidenciam a existência desta relação onde o
uso da maconha pode antecipar o surgimento precoce da esquizofrenia, porém esta
relação não é totalmente estabelecida.

Considerações Finais

Conclui-se com esta revisão de literatura que estudos sobre o tema ainda são
escassos, apesar de pertinente, pois sabe-se muito pouco dos efeitos do uso da
maconha em período prolongado durante a adolescência e no decorrer da vida.
Sendo assim, compreende-se que existem fatores etiológicos, que relacionam o uso
da maconha durante a adolescência com o surgimento precoce da esquizofrenia,
salientando que o risco é aumentado durante este período.

Referências

1. SILVA, Regina. Esquizofrenia um revisão. Revista de psicologia da


USP.
17 edição, página 263 - 285 São Paulo, sp. 2006.

2. Organização Mundial de Saúde; Organização Pan-americana de Saúde.


Brasil. Folha informativa – Transtornos mentais. Brasília, DF, 2018.

3. SILVEIRA, J. OLIVEIRA, R. VIOLA, B. SILVA, T. MACHADO, R.


Esquizofrenia e o uso de álcool e outras drogas: perfil epidemiológico.
Revista rene. Edição maio - junho, pág. 436 - 446. Divinópolis, MG, Brasil.
2014.
4. PICON, P. et al. Esquizofrenia. Protocolo clínico e diretrizes
terapêuticas. Revista do ministério da Saúde. Pág. 97 - 103. Portal da
saúde. São Paulo - sp. 2013.

5. Oliveira, V. K. de; Moreira, E. G. Maconha: fator desencadeador de


esquizofrenia? Semina: Ciências Biológicas e da Saúde, Londrina, v. 28,
n. 2, p. 99108, jul./dez. 2007.

6. Sewell, R. Andrew et al. Efeitos comportamentais, cognitivos e


psicofisiológicos dos canabinoides: relevância para a psicose e a
esquizofrenia. Revista brasileira de psiquiatria. São Paulo , v. 32, supl.
1, p. 515-530, Maio 2010 .

7. MELO, Daniele. Maconha: legaliza? Eis a questão. Centro universitário


de Bauru Revista dos tribunais v.964 pág 6-12. Bauru, sp. 2017.

8. ONUBR, 2016. OMS: cannabis é droga ilícita mais consumida no


mundo, com180 milhões de usuários. Disponível em:
<https://nacoesunidas.org/oms-cannabisedroga-ilicita-
maisconsumidano-mundo-com-180-milhoes-de-usuarios/> Acesso em:
30/03/2019 às 18:37.

9. CARLINI, E. et al. VI Levantamento nacional sobre o consumo de drogas


psicotrópicas entre estudantes do ensino fundamental e médio das
redes pública e privada de ensino nas 27 Capitais brasileiras.
Brasília. DF. 2010.

10. RIGONI, M. et al. Consequências neuropsicologicas do uso da maconha


em adolescentes e adultos jovens. Revista ciencia & cognição v. 8 pág.
118 - 126. Porto Alegre, RS. Brasil. 2006.
11. PARADA, Juliana. Aspectos psicossociais relacionados ao uso de
drogas na adolescência. Centro de psiquiatria do instituto de previdência
dos servidores do Estado de Minas gerais. BH v.3, n.5, pág 10 - 21.
2013.

12. CARDEILLAC, Veronica. Cannabis y esquizofrenia: revisión de la


literatura de los últimos quince años. Universidade Miguel Hernandez de
alche .Revista de psiquiatria do Uruguay v.80, n.1, pág. 33-44. 2016.

13. ARAÚJO, L. et al. Estudo psicossocial da maconha entre adolescentes


do arquipélago de Fernando de Noronha. Universidade federal do Piauí,
Parnaíba, PI, Brasil. Revista de psiquiatria v. 44, n.2, pag. 160- 166.
2013

Você também pode gostar