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GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

Dependência Química

Disciplina: Anatomia e Neuroanatomia


Professora: Renata Resende
Turma: PS2A

Gabriela Torres
Stela Hubner
Vitor Guilherme

O uso de substâncias capazes de alterar o estado de consciência vem sendo feito


desde os primórdios da humanidade. Sejam estimulantes ou sedativos, lícitas ou ilícitas,
as drogas estão presentes em todas as camadas da sociedade. Podemos destacar como
algumas das drogas ilegais a maconha, cocaína, LSD, anfetaminas, ecstasy, crack e
opióides. Mas também é importante lembrar que existem muitas drogas legais que são
ainda mais utilizadas e que podem fazer tão mal quanto, como álcool, cigarro, cafeína,
ansiolíticos e outras substâncias farmacológicas. Cada uma delas age de formas
diferentes e têm diferentes níveis de probabilidade de dependência, podendo ser de alto
ou baixo risco. Cerca de 10% das pessoas que utilizam uma substância psicoativa pela
primeira vez se tornarão dependentes e em algumas dessas drogas, como a nicotina, essa
chance é cinco vezes maior.

O problema começa quando o uso ocasional começa a se tornar cada vez mais
frequente, gerando um desequilíbrio no organismo que altera o metabolismo químico e,
assim, causando a dependência. A dependência química é uma doença biopsicossocial,
visto que seus sintomas são variados, sendo estes cognitivos, comportamentais e
fisiológicos. O sujeito passa a deixar de fazer outras atividades antes consideradas
prazerosas para fazer atividades em prol do vício, além de apresentar dificuldades de se
relacionar socialmente, visto que é afetada sua capacidade de pensar, sentir e agir.
Outros sintomas comuns são a falta de controle, ansiedade, irritabilidade, confusão
mental e em casos mais graves até transtornos de personalidade. Além de poderem gerar
inúmeros problemas para a saúde física.

A capacidade de tomada de decisões é gravemente afetada no caso do abuso de


substâncias. O fluxo contínuo de estímulos que recebemos tanto do ambiente quanto do
nosso organismo nos leva a nos posicionarmos sobre o que é prazeroso e o que é
adequado dentro de cada contexto. A fim de restringir essa tomada de decisões existem,
em cada sociedade ou meio social, certas estruturas nas quais os indivíduos são levados
a acatar certar linhas de pensamento ou comportamento. Como estruturas religiosas,
militares, entre outras.

Muitos são as causas pelas quais os indivíduos buscam o uso de drogas, estando
relacionadas a fatores psicológicos, sociais, biológicos e ambientais. Alguns sujeitos
podem apresentar em seu organismo uma predisposição ao abuso de substâncias. Cerca
de 50% do problema no caso do álcool está relacionado diretamente a fatores genéticos,
podendo uma pessoa com pais alcoólatras ter quatro vezes mais chance de também
desenvolver o vício. Os grupos que estão mais propensos a reagirem aos efeitos do
álcool são mulheres, jovens e idosos, sendo estes os com maior predisposição à
dependência.

Outros aspectos sociais que podem ser determinantes no uso da droga são fatores
como moradia, estabilidade social, vínculos e pressões sociais. O ambiente em que o
indivíduo cresce também pode ter grande influência a medida que certas crenças
disfuncionais desenvolvidas na infância e não amadurecidas podem levar a um padrão
de pensamentos automáticos disfuncionais e sentimentos impulsivos. Geralmente em
casos de dependência química as crenças centrais são construídas em contextos de
famílias disfuncionais, como rigidez excessiva, violência domiciliar e ausência paterna.

No início da década de 40 surge uma teoria que poderia explicar todo o processo
de desenvolvimento da dependência quimíca, a chamada teoria do reforço que afirma
que o comportamento das pessoas pode ser influenciado e controlado através do reforço
das ações, recompensando as desejadas e desprezando as indesejadas. O primeiro teste
foi realizado com chimpanzés que foram induzidos ao vício de opioides através de
injeções dadas diariamente, após um tempo eles voluntariamente pediam as injeções e
trabalhavam para conseguir. Houveram testes com ratos que foram induzidos ao vício
de estímulos elétricos, apesar de que somente uma parte dos ratos deixou suas
necessidades de lado para ficar em função do choque. Com isso, foi possível descobrir
que todas as drogas, apesar de atuarem de formas diferentes, ativam a mesma região do
cérebro: o sistema de recompensas central.

As drogas de abuso causam um aumento rápido na liberação de dopamina, um


importante neurotransmissor do sistema nervoso central (SNC). A dopamina é uma
substância química produzida e liberada no cérebro que tem importantes funções no
organismo, como movimento, sono, cognição, memória, aprendizagem, emoções e,
principalmente, a sensação de prazer. Ela é localizado no núcleo accumbens, uma das
principais partes do estriado. Esse núcleo tem sido considerado como a estrutura chave
envolvida nos processos emocionais, na interface límbica, motora e no efeito das drogas
psicoativas. O prazer intenso tem a ver com o sistema de recompensas, pois ele é peça
fundamental para o aprendizado por associação, ou seja, a base do condicionamento.
Outro importante neurotransmissor do SNC presente no sistema de recompensas é a
serotonina, produzida no lobo frontal, aréa do cérebro que modula a flexibilidade,
seleção de ações e avaliação das mesmas. Logo, quando há um déficit na produção da
serotonina, podemos observar a capacidade de tomada de decisões ser gravemente
prejudicada.

Quando o indivíduo repete o uso da droga, os neurônios liberadores de dopamina


já entram em atividade ao reconhecer os estímulos externos e internos vividos no
momento anterior ao uso da substância. Este momento em usuários dependentes é
conhecido como fissura e é por isso que a memória tem papel tão importante no
processo de dependência química. Pode-se observar que ao voltar a locais onde foi
utilizada a droga, ter pessoas utilizando por perto ou estar sob o mesmo estado mental
que estava antes, a tendência é que o sujeito se sinta pressionado a utilizar a droga
novamente. Como alguém que bebe e um dia experimenta um cigarro, é natural que ao
beber novamente perto de pessoas que fumam ela sinta vontade de fumar novamente.
Até que esse ocasionalmente se torna vício. Este condicionamento é tão forte que
existem pessoas que mesmo após deixar de ser usuária, continuam com a dependência,
podendo ter surtos de fissura.

Com o decurso do tempo e repetição contínua da dose, os neurônios do sistema


de recompensas se tornam cada vez menos sensíveis ao mecanismo de ação da droga,
ou seja, o indivíduo adquire uma tolerância maior a droga e precisa ir aumentando a
dose ingerida gradativamente a fim de obter o mesmo grau de euforia. Os neurônios
antirrecompensa ficam hiper ativos e a pessoa passa a buscar a substância apenas para
alívio de seu sofrimento, da apatia que toma conta dela quando o efeito vai embora.
Quanto aos estímulos prazerosos, as recompensas naturais, como sexo ou comer,
também há o aumento da liberação de dopamina. Entretanto, a liberação é interrompida,
em mais casos do que não, pela saciedade. No caso das drogas de abuso, elas induzem
um aumento brusco e exacerbado de dopamina no núcleo accumbens, sendo este sinal
reforçador e aumentando a probabilidade de busca pela droga.

Além disso, as substâncias psicoativas também agem sobre o sistema


mesolímbico e o sistema mesocortical, que juntos formam o sistema de recompensas. O
sistema mesolímbico é composto por projeções dopaminérgicas que partem da área
tegmentar ventral para o núclo accumbens, ele está relacionado com o mecanismo de
condicionamento ao uso da substância e também à fatores ligados ao uso, como as
emoções, memória e a chamada fissura. Já o sistema mesocortical é composto pela área
tegmentar ventral, pelo córtex pré-frontal, pelo giro do cíngulo e pelo córtex
orbitofrontal. O córtex pré-frontal é responsável pelas funções cognitivas superiores e
pelo controle de ações. O giro do cíngulo, localizado acima do corpo caloso, tem
conexões com diversas outras estruturas do sistema límbico e tem as funções de
atenção, memória, regulação da atividade cognitiva e emocional; já o córtex
orbitofrontal é responsável pelo controle do impulso e da tomada de decisões. Na
decorrência do consumo de drogas, essas alterações no sistema mesocortical estão
relacionadas com a compulsão e a perda do controle. É essa ação das drogas de abuso
sobre o sistema de recompensas que pode causar a dependência.

As drogas de abuso, a medida que aumentam a liberação de dopamina,


funcionam como um reforço que pode ser positivo ou negativo, ou seja, ter como
propósito único o prazer ou servir para aliviar algum desconforto que a pessoa possa
estar sentindo, como alguém que se sente demasiadamente triste, deprimida ou ansiosa.
A psicologia busca a compreensão das causas que levam ao uso excessivo de drogas,
assim como auxilia no entendimento de todo o caminho percorrido pelo usuário em sua
vida antes e durante a dependência, não somente pela parte do indivíduo, mas também
auxiliando a família nesse processo, visto que eles também são gravemente afetados
com toda a situação.

Existem diferentes linhas e abordagens na psicologia para se lidar com


dependentes químicos. No entanto, o processo não é simples e tende a ser demorado,
assim como doloroso. A partir do momento em que há a busca pela transformação por
parte do indivíduo, um grande passo já foi dado e é essencial que haja uma postura de
aceitação por parte do psicólogo, para que o paciente possa ganhar confiança e sentir
que não será julgado. O objetivo do tratamento psicológico é prestar assistência
preventiva, curativa e de reabilitação por meio da psicoterapia individual ou em grupo.
O indivíduo necessita de apoio para conseguir reavaliar e corrigir seu pensamento. É um
tratamento mais realista e adaptativo.

A terapia cognitivo-comportamental tem sido amplamente utilizada em casos de


dependência química por seu caráter rápido e objetivo, podendo ser aplicada até mesmo
em ambientes hospitalares, e é possível ser feita juntamente a outros métodos
terapêuticos, como grupos de auto-ajuda e a terapia dos doze passos. A proposta da
TCC é fazer com que o paciente desafie seus pensamentos automáticos e elabore
pensamentos e crenças alternativas para lidar com suas fissuras, para que possa
desenvolver um estilo de vida sem drogas e tome, repetidamente, decisões que
modifiquem o desenvolvimento do processo de adição.

Para isso, é preciso trabalhar com intervenções que atuam dentro da visão da
dependência no modelo cognitivo, procurando entender e modificar: 1- situações que
atuam como estímulos de alto risco; 2- estímulos (internos ou externos) que ativem
crenças centrais sobre o indivíduo; 3- pensamentos automáticos; 4- surgimento de
sintomas fisiológicos reconhecidos como fissura; 5- crenças permissivas, facilitadoras;
6- o acesso à droga e inicia seu uso; 7- o uso da substância, que desencadeia sentimento
de satisfação, assim como culpa e fracasso; 8- o desconforto psicológico que ativa mais
crenças disfuncionais e dá continuidade ao uso da droga. 

As técnicas mais usadas na TCC do dependente químico são: identificação de


pensamentos automáticos, avaliação e questionamento de pensamentos automáticos,
registro diário de pensamentos automáticos disfuncionais, identificação de crenças,
avaliação e modificação de crenças, exposição gradual e dificuldade crescente,
enfrentamento, relaxamento, exercício físico e dramatização.

A Abordagem Centrada na Pessoa se fundamenta na valorização do indivíduo


que busca ajuda. A ideia de abordagem tem como base a teoria de Carl Rogers, que
acreditava que se houvesse o estado necessário para o indivíduo se desenvolver, ele iria
para o caminho da socialização e da maturidade. A outra ideia era que o crescimento do
indivíduo seria sua nova noção do Eu. A experiência que você tem de si mesmo, como
se vê, quais potencialidades e defeitos julga possuir. O papel do psicólogo dentro desse
tema era de se colocar na posição de companheiro, não de um guia. As condições para
uma boa terapia seriam, então: empatia, congruência e aceitação positiva incondicional.
Essas três condições seriam essenciais para um desenvolvimento entre o psicoterapeuta
e o cliente.

O tratamento químico no setor psicológico proporciona acompanhamento


psicoterapêutico àqueles que se tratam na unidade de internamento. O período de
internação é entre três a sete meses, e durante esse período eles têm várias atividades
que ajudam na abstinência tendo como base as cinco áreas acima mencionadas: sessões
psicoterapêuticas semanais, educação física, laborterapia, grupos terapêuticos com o
setor de psicologia e grupos temáticos com a assistente social. A comunidades
terapêuticas desenvolvem o crescimento pessoal por meio da mudança de
comportamentos e atitudes individuais. Antes do indivíduo se internar ele deverá passar
por testes psicológicos. Normalmente eles buscam o tratamento porque percebem que
perderam algo muito significativo ou estão prestes a perder.

Outra técnica que vem sendo muito utilizada é a Redução de Danos, um


conjunto de princípios e ações para abordagens nos problemas relacionado ao uso de
drogas. Seu foco incide na formulação de práticas direcionadas aos usuários de drogas
e aos grupos sociais com que eles convivem, que tem por objetivo a diminuição dos
danos causados pelo uso de drogas. Embora vejamos relações a proibição ao perigo
oferecida pelas distintas substâncias, o que define se são ilícitas ou lícitas não é a
ausência ou presença de riscos. Por exemplo, álcool, nicotina, opióides (morfina) e
benzodiazepínicos são drogas lícitas, mas podem provocar dependência e morte.

As práticas de redução de danos, surgidas como uma alternativa para as


estratégias proibicionistas do tipo “guerra às drogas”, baseiam-se em princípios de
pragmatismo, tolerância e compreensão da diversidade. São pragmáticas porque
compreendem que é necessário oferecer serviços de saúde a todas as pessoas que têm
problemas com álcool e outras drogas, incluindo aquelas que continuam usando após o
tratamento, visando principalmente à preservação da vida.

Mesmo que se compreenda que, para muitas pessoas, o ideal seria que não
usassem mais drogas, sabemos que isso pode ser muito difícil. A estratégia de redução
de danos é tolerante, pois evita o julgamento moral sobre os comportamentos
relacionados ao uso de substâncias psicoativas, evitando, por exemplo, intervenções
autoritárias e preconceituosas. A redução de danos acolhe a diversidade de usuários e
não se sustenta na exigência obrigatória da extinção do uso. Seu objetivo é,
principalmente, a diminuição dos danos físicos, psicossociais e jurídicos relacionados ao
uso de drogas.

Um exemplo da prática de redução de danos, podemos citar a Holanda, que


oferece serviços aos usuários de drogas dando a eles locais seguros para o uso da droga
e agulhas desinfetadas para não se contaminarem com diversas doenças, como hepatite
e AIDS. A troca de uma droga por outra que diminua riscos e danos também é um
exemplo de uma prática de redução de danos.

Um dos maiores desafios é a aceitação e valorização do indivíduo, porque ainda


há muito preconceito nos dependentes químicos, ao se sentir aceito desde suas primeiras
falas, enquanto ainda está se adaptando à terapia. Oferecer psicoterapia para um público
que tem dificuldade de enfrentar seus problemas e, talvez por isso, procurou refúgio na
substância química é um grande desafio.

Referências bibliográficas

https://drauziovarella.uol.com.br/drauzio/artigos/dependencia-quimica-neurobiologia-
das-drogas-artigo/

http://www.aberta.senad.gov.br/medias/original/201704/20170424-094615-001.pdf

http://www.saudedireta.com.br/docsupload/1340498491ptchap4.pdf

http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-
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https://www.cetcc.com.br/artigos/como-tratar-dependencia-quimica-em-tcc/

http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-
56872005000200013

http://www.scielo.br/pdf/tce/v21n4/02.pdf

https://zenklub.com.br/vicios-dependencia-quimica/

https://www.sesc-sc.com.br/blog/saude/artigo--o-papel-da-psicologia-nos-casos-de-
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https://psicologado.com.br/atuacao/psicologia-da-saude/a-psicologia-e-suas-
contribuicoes-para-a-ressignificacao-dos-sujeitos-dependentes-quimicos

https://www.hri.global/files/2010/06/01/Briefing_what_is_HR_Portuguese.pdf

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