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Universidade Estadual Paulista Júlio De Mesquita Filho

Faculdade de Ciências Curso: Psicologia – Noturno


Aluno: Gustavo Henrique Medri RA: 191025275
Matéria: Psicofarmacologia
Prof. Dr. Fábio Leyser Gonçalves

Psicoterapia Assistida por Psicodélicos e o uso de Psilocibina em suas práticas

Bauru
2023
Introdução

Os psicodélicos

Os psicodélicos ou alucinógenos, assim como os psicofármacos são moléculas


que atuam nas sinapses serotoninérgicas do sistema de recompensa no SNC. Os
neurônios serotoninérgicos cerebrais estão envolvidos em diversas funções como sono,
humor, regulação da temperatura, percepção da dor e regulação da pressão arterial
(Katzung, 1998). Humphry Osmond cunhou o primeiro termo em uma combinação
vinda do grego entre psique (alma ou “mente” e delein (manifestar), entendendo-se
como a “manifestação da mente” ou algo semelhante, enquanto que alucinógenos
devido sua capacidade de alteração da percepção sensorial, principalmente a visual,
sendo muitas vezes comparados às alucinações.

Suas formulações sejam naturais ou sintéticas são amplas, encontrados em


plantas como é o caso da Dimetiltriptamina (DMT), presente na jurema e no chá de
Ayahuasca, ou seu análogo como o 5-MeO-DMT encontrado no sapo Bufo alvarius,
outras triptaminas como o LSA encontrado na Argyreia Nervosa, uma espécie de
trepadeira, a dietilamida do ácido lisérgico (LSD) sintetizado a partir do fungo do
centeio, a mescalina encontrada em cactos como o São Pedro e o Peyote, a Ibogaína,
extraída da Iboga, e cogumelos como o gênero psilocybe sp. contendo o alcaloide
psilocibina são alguns dos psicodélicos mais populares, no qual vamos nos debruçar
especificamente neste último posteriormente.

Na figura 1 vemos um modo de classificação em quatro eixos em que o lado


direito representa essa parcela de psicodélicos, tanto os mais clássicos e com único
efeito, quanto alguns mais novos e complexos.
Figura 1: Classificação das Drogas

Enquanto que a figura 2 ilustra o mecanismo de ação e ações dos principais


alucinógenos:

Figura 2 - Mecanismo dos alucinógenos nos receptores 5HT2A.


Esta figura mostra a principal ação dos alucinógenos, como LSD, mescalina, psilocibina e MDMA: isto é,
o agonismo dos receptores 5HT2A. Os alucinógenos podem exercer outras ações em outros receptores
serotoninérgicos (particularmente 5HT1A e 5HT2C), bem como em outros sistemas de
neurotransmissores. Além disso, o MDMA, em particular, também bloqueia o transportador de serotonina
(SERT). Fonte: STAHL, 4ºed. 2014.
Cogumelos e a Psilocibina
As primeiras experiências documentadas com cogumelos considerados sagrados
no mundo ocidental moderno se deram por intermédio do micologista Gordon Wasson
na década de 1950, mas seu uso em cerimonias e rituais religiosos datam de civilizações
antigas da América Central e do Norte no século XIII e XVI, havendo hipóteses de
historiadores de seu uso a milênios (SOARES, 2021). Mas, seu início nas pesquisas em
ensaios clínicos com psilocibina ocorreram durante os anos 1960 por meio da
farmacêutica suíça Sandoz.

Como efeitos fisiológicos, a psilocibina aumenta moderadamente a pressão


arterial, de modo que indivíduos com problemas cardiovasculares graves também são
excluídos no processo de triagem para os estudos. De modo que, com rigor nesses
processos de seleção, os maiores riscos do uso de psilocibina e de outros psicodélicos
clássicos são os efeitos psicológicos como ansiedade, medo e reações confusas,
podendo levar a comportamentos de risco em ambientes clínicos não monitorados
(SOARES, 2021).

Cada droga tem o seu mecanismo de ação particular, mas todas elas atuam,
direta ou indiretamente, ativando uma mesma região do cérebro: o sistema de
recompensa cerebral. Esse sistema é formado por circuitos neuronais responsáveis pelas
ações reforçadas positiva e negativamente. Quando nos deparamos com um estímulo
prazeroso, nosso cérebro lança um sinal: o aumento de dopamina, importante
neurotransmissor do sistema nervoso central (SNC), no núcleo accumbens, região
central do sistema de recompensa é importante para tais efeitos das drogas de abuso, por
esse e outros motivos que os efeitos de estado alterado/modificados de consciência que
os psicodélicos causam não geram dependência química, uma vez que atuam mais
diretamente na serotonina.

Referente a questão inegável do abuso de medicamentos psiquiátricos a temática


está cada vez mais em discussão devido aos graves problemas da automedicação, do
abuso e uma prescrição excessiva que só tende a crescer, em especial dos ansiolíticos e
dos antidepressivos, por parte dos médicos (PELEGRINI, 2003).

Conforme apontado por Birman (1999), a psicopatologia atual se identifica por


um funcionamento psíquico decadente na realização e na glorificação do Eu e na
estetização da existência, ou seja, o fracasso em participar da cultura do narcisismo e do
espetáculo. Parte-se então para doenças e transtornos como a depressão, a síndrome do
pânico, a dependência química e outros, de modo a explorarmos novos caminhos por
meio de outros métodos e perspectivas.

Potencial Terapêuticos Dos Psicodélicos

Drogas são ferramentas assim como facas são úteis porque cortam, mas
perigosas pelo mesmo motivo, as drogas também podem ser úteis e perigosas
dependendo de quem e como as utiliza. Isso porque elas afetam nosso cérebro e
consciência. O resultado do uso depende dos: propósitos de quem usa, tipo da droga, a
dosagem e o controle de qualidade.

No contexto proibicionista em que vivemos, por conta de um hiato de décadas,


diversos avanços foram barrados, de modo que com tal renascença nessas pesquisas,
artigos de revisão foram publicados recentemente em periódicos internacionais que
abordam o potencial de uso psicoterapêutico (Soares, 2021) em vários compostos
psicodélicos para tratar diversos tipos de transtornos mentais tais como depressão,
ansiedade, dependência química, ajudando na neuroplasticidade, MDMA como
tratamento de Transtorno de Estresse Pós-Traumático, de modo que alguns estudos não
demonstravam o rigor cientifico nas análises como atualmente, sendo necessário novas
investigações (Johnson, 2014).

Os dois receptores da serotonina específicos o 5-HT1A e o 5-HT2A, este último


sendo o alvo dos psicodélicos clássicos – serotonina possuindo 14 receptores no total.
De forma que uma teoria do Imperial College é que o receptor 5-HT1A é uma via de
lidar com o estresse de forma passiva (o receptor dos antidepressivos clássicos
inibidores da recaptação da serotonina, aumentando a mesma na fenda sináptica) de
forma a acumular muito estresse durante muitos anos. De forma que a psilocibina
funciona de uma forma ativa, no receptor 5-HT2A, entendendo o problema e atuando na
causa. Entrando numa seara promissora e complexa em relação a questão psicodélicos x
antidepressivos. (SCHENBERG et al, 2021).

De tal modo, independentemente do tipo de droga e da proibição, existe sempre


o Grupo de Risco, por isso é indispensável um regulamento e prescrições corretas com
controle de qualidade. Do ponto de vista toxicológico, algumas substancias desse nicho,
como o uso do chá de ayahuasca por exemplo pode trazer efeitos nocivos ao organismo
como: desidratação, por conta das náuseas, vômito e diarreia. Podendo causar até
mesmo uma síndrome serotoninérgica (grande estimulação de
receptores serotoninérgicos - sendo uma reação potencialmente fatal que tende a
provocar temperatura corporal alta, espasmos musculares e ansiedade ou delírio
(STAHL, 2014).

Ressalta-se que nos modelos utilizados nas pesquisas atuais que avaliam o
potencial terapêutico da psilocibina e de outros psicodélicos, estes são utilizados como
parte de um processo psicoterapêutico rigorosamente estruturado, de modo a incluir
uma triagem para excluir pacientes com desordens psicóticas (SOARES, 2021). O
maior risco das drogas é o vício e a overdose, geralmente por causas respiratórias ou
cardíacas. Psicodélicos mexem com a vascularização mesmo que em níveis normais,
então quem já teve AVC ou algo do tipo é uma área de risco. (SCHENBERG et al,
2021).

Método

A Psicoterapia Assistida por Psicodélicos

Os efeitos dependem muito da dose consumida, do estado físico e psíquico no


momento do uso (sono, alimentação, humor, expectativas, preocupações) e do contexto
de uso (local, companhias, significados culturais), o chamado set e setting terapêuticos.

Em sessões realizadas pela Multidisciplinary Association for Psychedelic


Studies (MAPS), apontaram sempre haver uma dupla de terapeutas e o médico aparecia
de meia em meia hora para medir temperatura, pressão cardíaca entre outros processos
vitais. O envolvimento clínico entre o paciente e terapeuta podiam ser afetados
dependendo das questões que possam emergir, como questões sexuais envolta dos
traumas, ou de confiabilidade, por isso a postura de serem em duplas (preferencialmente
um de cada sexo) e também para que um novato seja acolhido e não se sinta
desamparado (SCHENBERG et al, 2021). Uma vantagem dos efeitos adversos
temporariamente confinados da psilocibina é que a equipe e o pessoal médico podem
responder prontamente com suporte e tratamento (JOHNSON et al, 2014)

De modo que nesses estudos, em seu modelo característico, há o número de 13 à


15 sessões em sua média, havendo de 2 há 3 sessões com a utilização da substancia de
modo a intercalar com terapias que não há sua utilização de forma que, além de sessões
preparatórias com objetivo de fornecer um suporte interpessoal que possa incentivar o
foco interno do paciente e uma discussão pós sessão de experiências, que possa
alavancar mudanças duradouras no comportamento e atitude (SCHENBERG et al,
2021).

Psicoterapia Assistida por Psilocibina

Utiliza-se então em pesquisas envolvidas com psilocibina a mesma terminologia


que a MAPS em psicoterapia assistida por psilocibina. Uma primeira com dose mais
branda para que o paciente se familiarize com a substancia e seus efeitos, e uma
segunda mais potente para que sinta profundamente a experiencia em si. Os tratamentos
estudados não tem nada de micro-dose, são sempre macro-doses uma de 15mg e outra
de 25mg de psilocibina, sendo difícil afirmar em quantidades de cogumelos, uma vez
que possuem quantidades variadas dessas substancias, mas girando em torno de 2 a 4g
em média. Cada sessão com a psilocibina leva em torno de 6 a 8 horas, praticamente um
dia todo. (SCHENBERG et al, 2021).

No estudo realizado em Johns Hopkins nos EUA, que envolve o uso de


psilocibina para o tratamento da dependência química em nicotina, Johnson (2014)
relata que as sessões seguiram as diretrizes de segurança para pesquisa de alucinógenos
em humanos com rigor. No dia da aplicação da substancia, os participantes tiveram a
pressão arterial e a frequência cardíaca monitoradas em intervalos de 60 minutos ou
menos, e pelo menos um membro da equipe estava presente durante as sessões. Para
cada sessão, um médico estava de plantão, e os medicamentos estavam disponíveis em
caso de problemas cardiovasculares ou eventos psicológicos (JOHNSON et al., 2008).

Durante as sessões, os participantes foram encorajados a deitar em um sofá e se


concentrar em sua experiência interna. Os participantes usavam uma máscara nos olhos
e ouviam um programa de música por meio de fones de ouvido. A equipe forneceu
apoio interpessoal não diretivo para gerenciar efeitos da psilocibina, mas não forneceu
resultados específicos para parar de fumar. Depois que os efeitos das drogas
diminuíram, os participantes foram convidados a escrever uma narrativa aberta
descrevendo sua sessão para discussão com a equipe no dia seguinte.

Neste estudo em questão os resultados do piloto também apoiam a viabilidade


da abordagem, já que 80% dos participantes estavam abstinentes aos 6 meses de
acompanhamento. Porém, ainda com critério na análise de seus resultados, dado o
pequeno N e design "open-label", ou seja, sem grupo controle, analisando o antes e
depois dos pacientes. Dessa forma nenhuma conclusão definitiva pode ser tirada sobre o
papel causal da psilocibina por si. No entanto, as taxas de abstinência foram
substancialmente mais altas do que o normal, demonstrando avanços.

Alguns apontamentos relatam que estudos com microdosagens mostram que os


pacientes tinham uma falsa sensação de melhora, como efeito placebo levando em
consideração o pouco tempo de uso. Tanto os depressivos clássicos (como a fluoxetina)
como os psicodélicos, precisam de uma interação do meio com a substancia para que
surjam bons efeitos (SCHENBERG et al, 2021). De modo que os efeitos dos
psicodélicos em uma dose macro encurtam a ação de tratamento em relação aos
antidepressivos clássicos, como uma forma de catalisador. Nem todo mundo melhora,
mas uma alta porcentagem atinge o que se chamam de remissão, ou seja, uma
praticamente cura. A qualidade da experiencia psíquica da pessoa tem a ver com o
resultado final, se ela irá melhorar ou não, e os melhores resultados são aquelas
experiencias mais próximas de dissolução do ego, onde a pessoa se sente “boiando no
universo” diminuindo os pensamentos auto-referentes, diminuindo assim os sintomas
depressivos. Tudo é químico e psicológico (SCHENBERG et al, 2021).

Uma ressalva feita por Schenberg é de que a PAP não é recomendada para
psicólogos recém formados, por ser uma técnica difícil, apresentar casos complexos,
seria mais viável uma pessoa com uma bagagem experiencial a respeito do atendimento
clínico para conduzir todo seu manejo. O mesmo utiliza-se como linha teoria de
Stanislav Grof, mas não se opõe a nenhuma como Psicanalise, Junguianas, Cognitiva
Comportamental etc.

Há também estudos de Comparação da psilocibina com o tratamento padrão para


a depressão por Robin Carhart-Harris no Imperial College em Londres. Há também
estudos na Universidade Johns Hopkins (segundo centro de pesquisa psicodélica nos
EUA) estuda-se psilocibina para várias finalidade, , transcendência, indução de
experiencias místicas agora com líderes espirituais e diversos estudos com ansiedade
existencial, principalmente pacientes com câncer ou outros diagnósticos terminais que
sofrem com ansiedade, depressão, medo da morte durante essa incerteza da duração de
sua vida, demonstraram que em uma única dose aliviava diversos desses sintomas
(SCHENBERG et al, 2021).
Na Suíça pesquisas em retiros de meditação bem estruturados, com
neuroimagem, mostrando que a psilocibina potencializa e aprofunda, tornando os
resultados da meditação mais duradouros e significativos, mesmo com pessoas já
experientes (e também está tendo testes com novatos). Há inovações em pesquisa com
voluntários saudáveis que mostrou que a psilocibina altera o domínio de abertura de
escalas de personalidade, podendo haver ligação com tratamento de pessoas com
Boderline, porém algo não estudado ainda e que se deve ter muito, muito cuidado na
hora de ser ministrado (uma vez que ainda há diversas questões nebulosas a respeito).

Considerações finais

Por fim, uma reflexão que se pode pontuar é a questão do proibicionismo que, se
não houvesse toda a repressão na década de 60 e 70 em torno dos psicodélicos,
possivelmente não estaríamos enfrentando o mal do século XXI que é exatamente a
depressão e a ansiedade. Infelizmente tais pesquisas ainda andam a passos lentos, a
estreita visão social das drogas, aliada à bases religiosas e de preconceito atuam como
barreira na pesquisa psicodélica a décadas. Esperamos que o panorama futuro dessa área
tão promissora venha a emergir com seus devidos cuidados e empenhos, enquanto que a
psilocibina é cada vez mais descriminalizada e utilizada para tratamento de depressão e
outros experimentos.

Referências

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