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PSICOFARMACOLOGIA E

CORRELAÇÕES COM A
PSICOTERAPIA

Dr. Marcelo de Oliveira Fonseca


Tópicos da Discussão

➢ Relação Tratamento psicofarmacológico e


psicoterápico.
➢ Paradigma dos modelos.
➢ Psicoterapia e seus efeitos no SNC.
➢ Psicoterapia e Serotonina; novos achados.
➢ Psicoterapia e Epigenética.
➢ A Importância dos Tratamentos Combinados.
Dados Relevantes

 No Brasil - entre 2010 e 2014, a venda de anticonvulsivantes, de


antidepressivos e estabilizadores do humor aumentou aproximadamente
25 e 58%, conforme dados da IMS Health Brasil, que pesquisa informações
do setor da indústria farmacêutica.

 Em Angola - Há medicamentos portugueses à venda em Luanda ao triplo do


preço a que são vendidos em Portugal. Segundo o jornal angolano Vox
Nova Angola, muitos dos medicamentos são vendidos nas farmácias
normais e mantêm a etiqueta original, em euros e com a referência, mas
acabam por ser vendidos em kuanzas e a um valor muito mais elevado.
Saúde Mental no Brasil

 Reforma Psiquiátrica no Brasil – déc. 1980

 CAPS – modelo de atenção em rede de cuidado: atendimento


medicamentoso, psicoterápico, orientação, suporte social,
grupos operativos, atendimento familiar

“Os problemas de origem social, histórica e política são


transformados em problemas individuais, inerentes ao sujeito e
solucionados no plano biológico” (Giusti, 2016, p. 192)
Perspectiva biológica e Psicoterapia

Os 5 princípios de Kandel (Neuropsiquiatra austríaco/americano ganhador


do Nobel)
 Todos os processos mentais são neurais
 Genes e proteínas determinam conexões neurais e respectivamente
seu funcionamento
 Experiência altera a expressão dos genes
 Aprendizagem gera alterações das conexões cerebrais – PLASTICIDADE
NEURAL
 Psicoterapia altera a expressão dos genes
Perspectiva biológica e Psicoterapia

Vale ressaltar que, infelizmente...


Muitos psiquiatras têm mantido a infeliz posição
dicotomizada de que a psicoterapia é um tratamento para
transtornos de “base psicológica”, enquanto a medicação é
para transtornos de “base biológica”.
Mas quais serão os principais
achados sobre o tema?
Como a ciência moderna tem
buscado explicar os efeitos da
psicoterapia?
Psicoterapia e Alterações cerebrais

 Os resultados da psicoterapia e os mecanismos de mudança


relacionados aos seus efeitos têm sido tradicionalmente
investigados nos níveis psicológico e social, medindo
mudanças nos sintomas, habilidades psicológicas,
personalidade ou funcionamento social. Durante as últimas
décadas, ficou claro que todos os processos mentais
derivam de mecanismos de o cérebro. Isso significa que
qualquer mudança em nossos processos psicológicos é
refletida por mudanças nas funções ou estruturas do
cérebro.
Psicoterapia e Alterações cerebrais

 Evidências neurobiológicas recentes ajudaram a esclarecer


que experiências de aprendizagem – como a psicoterapia –
podem alterar circuitos e funções cerebrais, às vezes mais
que a psicofarmacoterapia, outras vezes menos, e em
alguns transtornos de maneira semelhante. Em diversos
estudos sobre a combinação desses tratamentos –
psicofarmacopsicoterapia (PFPT) – em diferentes
transtornos mentais, verificou-se alteração na estrutura e
função do cérebro.
Psicoterapia e Alterações cerebrais

 Até 2011, data da revisão de Karssol na revista Psychiatric


Times, haviam sido publicados cerca de 20 estudos sobre
alterações cerebrais após psicoterapia para depressão,
transtornos de ansiedade e transtorno de personalidade
limítrofe (Tabela). O primeiro estudo foi publicado há quase
20 anos, em 1992. Neste estudo, os pesquisadores
compararam a terapia comportamental com o tratamento
com fluoxetina. Ambas as modalidades de tratamento
demonstraram alterações semelhantes no cérebro,
especialmente no núcleo caudado.
Psicoterapia e Alterações cerebrais
Psicoterapia e alterações
cerebrais

 A maioria desses estudos relatou alterações cerebrais


semelhantes após psicoterapia e medicação. No entanto, alguns
estudos recentes também mostraram diferenças claras entre
essas modalidades de tratamento. No estudo de Goldapple e
colaboradores,5 a resposta ao tratamento da TCC em pacientes
com TDM foi associada a aumentos no metabolismo no
hipocampo e cingulado dorsal e diminuições no córtex frontal
dorsal, ventral e medial. Este padrão era claramente distinto do
padrão causado pela paroxetina, que incluía aumentos no
metabolismo nas áreas pré-frontais e diminuições no hipocampo
e cingulado subgenual.
Psicoterapia e alterações
cerebrais

 Ainda quanto tais alterações e possíveis complementaridades,


estudos demonstraram que o mecanismo por trás da eficácia da
terapia cognitiva para pacientes com TDM pode ser através de
um aumento na função pré-frontal, que está envolvida no
controle cognitivo, enquanto os medicamentos antidepressivos
operam mais diretamente na amígdala, envolvida na geração de
emoções negativas.

DeRubeis RJ, Siegle GJ, Hollon SD. Cognitive therapy versus medication for depression: treatment outcomes and neural mechanisms.
Nat Rev Neurosci. 2008;9:788-796.
Psicoterapia e Alterações cerebrais

 Cada dia mais novos estudos buscam encontrar relações


entre a eficácia da psicoterapia e possíveis alterações
neurológicas.
 Dentre os achados mais citados, encontramos:
➢ Regulação de atividade límbica e amígdala – casos de fobia
➢ Alterações no Metabolismo (+ ou -) pré-frontal – caso de depressão
➢ Aumento de atividade mitocondrial em córtex pré frontal - TDM
Psicoterapia e Alterações cerebrais

 O estudo de Linden (2006) revisa estudos de neuroimagem funcional


sobre os efeitos da psicoterapia e seus fundamentos metodológicos,
incluindo o desenvolvimento de técnicas de provocação de sintomas.
Os efeitos da terapia cognitivo-comportamental (TCC) no transtorno
obsessivo-compulsivo (TOC) foram consistentes em mostrar
diminuição do metabolismo no núcleo caudado direito. A terapia
cognitivo-comportamental na fobia resultou em diminuição da
atividade nas áreas límbica e paralímbica. Curiosamente, efeitos
semelhantes foram observados após intervenção bem-sucedida com
inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) em ambas as
doenças, indicando semelhanças nos mecanismos biológicos de
psicoterapia e farmacoterapia
Linden DE. How psychotherapy changes the brain--the contribution of functional neuroimaging. Mol Psychiatry. 2006
Jun;11(6):528-38. doi: 10.1038/sj.mp.4001816. PMID: 16520823.
Psicoterapia e Serotonina

 Um dos estudos de maior importancia na identificação do papel da


psicoterapia na atividade do neurotransmissor serotonina foi de
KARLSSON et al (2010).
 O estudo foi parte de um projeto maior comparando psicoterapia e
tratamento medicamentoso com inibidor seletivo da recaptação da
serotonina (ISRS) no transtorno depressivo maior (TDM). Pacientes
com TDM foram randomizados para receber fluoxetina 20-40
mg/dia ou psicoterapia psicodinâmica breve por 4 meses. Os
receptores de serotonina 5-HT1A do cérebro foram medidos antes e
após o tratamento com tomografia por emissão de pósitrons e o
radioligando [carbonil-11C] WAY-100635.

KARLSSON, H., HIRVONEN, J., KAJANDER, J., MARKKULA, J., RASI-HAKALA, H., SALMINEN, J., . . . HIETALA, J.
(2010). Research Letter: Psychotherapy increases brain serotonin 5-HT1A receptors in patients with major
depressive disorder. Psychological Medicine, 40(3), 523-528. doi:10.1017/S0033291709991607
Psicoterapia e Serotonina

Ainda de acordo com o estudo; de todos os pacientes do estudo, 23


participaram da tomografia por emissão de pósitrons do estudo: 8 do
grupo de psicoterapia e 15 do grupo de fluoxetina. As avaliações clínicas
incluíram (além das principais medidas de desfecho HAM-D e Inventário
de Depressão de Beck) Escala de Avaliação do Funcionamento Social e
Ocupacional (SOFAS) e Escala de Ajuste Social-Auto-relato (SAS-SR) e
Inventário Breve de Sintomas.
Em ambos os grupos, os escores SOFAS aumentaram de forma
semelhante. Em todo o grupo, o aumento do receptor 5-HT1A foi
positivamente correlacionado com o aumento nos escores SOFAS após o
tratamento no córtex orbitofrontal, sugerindo que aqueles que tiveram as
maiores melhorias no funcionamento social e ocupacional tiveram os
maiores aumentos do receptor 5-HT1A .

KARLSSON, H., HIRVONEN, J., KAJANDER, J., MARKKULA, J., RASI-HAKALA, H., SALMINEN, J., . . . HIETALA, J.
(2010). Research Letter: Psychotherapy increases brain serotonin 5-HT1A receptors in patients with major
depressive disorder. Psychological Medicine, 40(3), 523-528. doi:10.1017/S0033291709991607
Psicoterapia e Serotonina

A análise da mudança na densidade do receptor 5-HT1A nos


grupos de tratamento revelou um aumento significativo no
grupo PSY em comparação com o grupo FLU (rmANOVA,
grupo×repetição: F=7,24, p=0,014). O tamanho médio do efeito
nas regiões do cérebro foi de 0,85 (intervalo -0,02 a 1,31).
Quando comparados com controles saudáveis, os pacientes do
grupo PSY demonstraram densidade de 5-HT1A
significativamente aumentada após o tratamento (grupo ×
repetição: F = 16,21, p = 0,003), enquanto os pacientes que
receberam FLU não diferiram dos controles saudáveis em
termos de alteração ( grupo×repetição: F=1,62, p=0,222).

KARLSSON, H., HIRVONEN, J., KAJANDER, J., MARKKULA, J., RASI-HAKALA, H., SALMINEN, J., . . . HIETALA, J.
(2010). Research Letter: Psychotherapy increases brain serotonin 5-HT1A receptors in patients with major
depressive disorder. Psychological Medicine, 40(3), 523-528. doi:10.1017/S0033291709991607
Psicoterapia e Serotonina

Outras análises do mesmo estudo indicaram que essa associação foi impulsionada
por pacientes que receberam psicoterapia. Neste grupo, o aumento do receptor
5-HT1A foi positivamente correlacionado com um aumento nos escores SOFAS
após o tratamento no córtex orbitofrontal, córtex cingulado anterior ventral,
córtex pré-frontal medial e córtex parietal e córtex temporal lateral. Tais
correlações não foram observadas no grupo fluoxetina.
Este foi o primeiro estudo a mostrar que o aumento da densidade dos receptores
5-HT1A após a psicoterapia está fortemente associado ao aumento do
funcionamento social e ocupacional. Assim, entre indivíduos deprimidos, o 5-HT1A
pode ser um marcador de funcionamento social, não da gravidade dos sintomas de
depressão. Enquanto ambos os tratamentos melhoraram o SOFAS, apenas a
psicoterapia foi associada ao aumento da densidade de 5-HT1A. A razão para isso
pode ser que a neurotransmissão serotoninérgica é aumentada pelo tratamento
com ISRS de uma maneira diferente da psicoterapia.

KARLSSON, H., HIRVONEN, J., KAJANDER, J., MARKKULA, J., RASI-HAKALA, H., SALMINEN, J., . . . HIETALA, J.
(2010). Research Letter: Psychotherapy increases brain serotonin 5-HT1A receptors in patients with major
depressive disorder. Psychological Medicine, 40(3), 523-528. doi:10.1017/S0033291709991607
Psicoterapia e Serotonina

Os autores ainda concluem que, os achados sugerem que a


medicação ISRS, embora leve à diminuição dos sintomas e
aumento do funcionamento no curto prazo, está associada a
uma recuperação incompleta do sistema serotoninérgico após
o tratamento. Isso pode estar relacionado ao maior risco de
recaída.
O que foi evidenciado em outros estudos.
Os autores ainda ressaltam que, os mecanismos envolvidos na
alteração do sistema serotoninérgico após a psicoterapia
permanecem desconhecidos.

KARLSSON, H., HIRVONEN, J., KAJANDER, J., MARKKULA, J., RASI-HAKALA, H., SALMINEN, J., . . . HIETALA, J.
(2010). Research Letter: Psychotherapy increases brain serotonin 5-HT1A receptors in patients with major
depressive disorder. Psychological Medicine, 40(3), 523-528. doi:10.1017/S0033291709991607
Psicoterapia e Serotonina

Outro estudo que investigou a eficácia da psicoterapia em


alterar aspectos associados à serotonina foi o de Lehto et
al (2008), intitulado “Changes in midbrain serotonin
transporter availability in atypically depressed subjects
after one year of psychotherapy”.

KARLSSON, H., HIRVONEN, J., KAJANDER, J., MARKKULA, J., RASI-HAKALA, H., SALMINEN, J., . . . HIETALA, J.
(2010). Research Letter: Psychotherapy increases brain serotonin 5-HT1A receptors in patients with major
depressive disorder. Psychological Medicine, 40(3), 523-528. doi:10.1017/S0033291709991607
Psicoterapia e Serotonina

No estudo pacientes ambulatoriais depressivos (N = 19) receberam


psicoterapia psicodinâmica por 12 meses. Todos os indivíduos
preencheram os critérios do DSM-IV para depressão e 8 foram
classificados como tendo depressão atípica. A gravidade da depressão foi
avaliada com a Escala de Avaliação de Depressão de Hamilton de 29 itens
(HAM-D-29). As densidades do transportador de serotonina do
mesencéfalo (SERT) e do transportador de dopamina do corpo estriado
(DAT) foram registradas usando imagens cerebrais de tomografia
computadorizada por emissão de fóton único (SPECT) com o radioligando
[123I]nor-β-CIT antes e após a psicoterapia. Como resultados, observaou-
se a densidade do SERT do mesencéfalo aumentou significativamente
durante a psicoterapia em atípicos, mas não em não atípicos. Não houve
alterações nos níveis de DAT.

KARLSSON, H., HIRVONEN, J., KAJANDER, J., MARKKULA, J., RASI-HAKALA, H., SALMINEN, J., . . . HIETALA, J.
(2010). Research Letter: Psychotherapy increases brain serotonin 5-HT1A receptors in patients with major
depressive disorder. Psychological Medicine, 40(3), 523-528. doi:10.1017/S0033291709991607
Psicoterapia e Serotonina

 Outro estudo sobre o tema foi de Lehtonen (2012), para o autor, a atividade
reduzida do transportador de serotonina pré-sináptica (5-hidroxitriptamina) é
comumente associada à transtornos depressivos maiores, principalmente em
regiões como mesencéfalo. De acordo com o estudo, o acompanhamento de
pacientes em psicoterapia por período superior à 12 meses demonstrou que os
níveis dos transportadores de serotonina foram aumentados significativamente
se comparados aos grupos de controle (pacientes com depressão sem o
tratamento psicoterápico).
 Ainda quanto ao estudo, em alguns casos, os valores do transportador
aumentaram após o tratamento psicoterápico, mas isso não necessáriamente
indicou uma melora imediata nos valores de testagem para sintomas depressivos,
o que em alguns casos ainda tardou à aparecer.

Johannes Lehtonen (2012) Serotonin: Vital affects and psychotherapy, Nordic Psychology, 64:2, 118-127, DOI:
10.1080/19012276.2012.726816
Psicoterapia e Dopamina

Outro estudo que revela importantes achados sobre a


relação entre psicoteapia e neurotransmissores é de
Cervenka et al (2012), intitulado “Alterações na ligação do
receptor D2 da dopamina estão associadas à redução dos
sintomas após psicoterapia no transtorno de ansiedade
social.”
Psicoterapia e Dopamina

Segundo os autores, o sistema dopaminérgico desempenha um papel


no transtorno de ansiedade social (TAS), em parte com base em
estudos de imagem molecular que mostram níveis reduzidos de
marcadores dopaminérgicos em pacientes em comparação com
indivíduos controle.
O estudo então buscou avaliar os níveis extra-estriatais do receptor D2
da dopamina (D2-R) medidos por tomografia por emissão de pósitrons
(PET) e se esses poderiam prever a redução dos sintomas após a
terapia cognitivo-comportamental (TCC). Nove pacientes com TAS
foram examinados usando PET de alta resolução e o radioligando
antagonista D2-R de alta afinidade, antes e após 15 semanas de TCC
Psicoterapia e Dopamina

No pós-tratamento, houve redução estatisticamente


significativa dos sintomas de ansiedade social (P < 0,005).
Usando uma análise de covariância de medidas repetidas,
foram mostrados efeitos significativos para o tempo e
tempo x mudança LSAS anx no potencial de ligação D2-R
(BP ND) (P <0,05). Em uma análise região a região
subsequente, correlações negativas entre a mudança no
D2-R BP ND e a mudança no eixo LSAS foram encontradas
para o córtex pré-frontal medial e hipocampo (P < 0,05).
Psicoterapia e Dopamina

Este foi o primeiro estudo a relatar uma relação direta


entre a mudança dos sintomas após o tratamento
psicológico e um marcador de neurotransmissão cerebral.
Usando um design de comparação intra-individual, o
estudo apoia um papel para o sistema de dopamina em
regiões corticais e límbicas do cérebro na fisiopatologia do
T. Ansiedade Social. 005).
Psicoterapia e Dopamina

Ainda segundo os autores, os resultados deste estudo


preliminar indicam que mudanças plásticas no sistema
dopaminérgico podem estar por trás dos sintomas de
ansiedade reduzidos em pacientes com TAS após o
tratamento com TCC. O estudo apoia o papel do sistema
dopaminérgico no TAS e mostra que as comparações
intraindividuais podem ser uma abordagem promissora na
identificação de biomarcadores cerebrais para transtornos
psiquiátricos.
Epigenética e psicoterapia

 Recentemente publicada, a revisão de Pellicano et al


(2022) intitulada “Epigenetic correlates of the
psychological interventions outcomes: A systematic
review and meta-analysis”, analisou 14 estudos e uma
meta-análise de 2 estudos de coorte prospectivos.
 Os achados da revisão sistemática mostraram que, na
maioria dos estudos, os sujeitos que responderam à
terapia foram associados a uma diminuição ou aumento
específico do estado de metilação, que em sujeitos que
não responderam à terapia foi associado de forma
oposta. A meta-análise mostrou um aumento significativo
no estado de metilação do gene MAOA após uma TCC nos
participantes com ansiedade.
O que é metilação?

 Processo epigenético que suprime a transcrição de


determinados genes e também promove a alteração
da estrutura da cromatina para formas mais
condensadas.
 Como tal, é interpretada pelo código epigenético e é
também o mecanismo epigenético mais bem
caracterizado.
Epigenética e psicoterapia

 Ainda segundo os autores, os achados sugerem


mudanças dinâmicas nos mecanismos epigenéticos,
como a metilação, após um tratamento psicológico
que estão relacionadas a desfechos clínicos.
Ótica do tratamento combinado

Problemática entre Psiquiatria e Psicoterapia – finalidade : Saúde mental do


paciente
 Dificuldades da formação médica quanto à importância de fatores sociais,
culturais e comportamentais das demandas em saúde.
 Problemas na comunicação entre áreas da saúde.
 Pesquisas escassas sobre a conexão entre fatores psicológicos,
comportamentais e bioquímicos.
Ótica do tratamento combinado

Problemática entre Psiquiatria e Psicoterapia – finalidade : Saúde mental do


paciente
 Uma psicologia que não aprende nem se importa com nossas bases
neurais.
 Uma formação de psicólogo que tem pouca ou nenhuma
multidisciplinaridade.
 Dificuldades de mercado.
Ótica do tratamento combinado

Embora sejam raros os estudos que visem discutir o valor da combinação de


terapias para quadros depressivos graves, o estudo de revisão de Thomas L.
Schwartz e Daniel Santarsieri (2016) demonstrou que a tendências na
literatura sugerem que o tratamento combinado de psicofarmacos e
psicoterapia pode ser especialmente útil entre pacientes que estão aguda ou
gravemente deprimidos, com risco aumentado de recaída ou que
frequentemente descontinuam seus antidepressivos.

Schwartz, T. L., & Santarsieri, D. (2016). Neural Implications of Psychotherapy,


Pharmacotherapy, and Combined Treatment in Major Depressive Disorder. Mens sana
monographs, 14(1), 30–45. https://doi.org/10.4103/0973-1229.193079
Ótica do tratamento combinado

Um estudo importante para discutirmos o tratamento combinado foi de


Manber. R et al (2008). O objetivo do trabalho foi comparar o tempo de
remissão durante 12 semanas de tratamento de depressão crônica após
medicação antidepressiva (n = 218), psicoterapia (n = 216) e sua combinação
(n = 222)

Manber, R., Kraemer, H. C., Arnow, B. A., Trivedi, M. H., Rush, A. J., Thase, M. E., Rothbaum, B. O., Klein, D. N., Kocsis, J. H.,
Gelenberg, A. J., & Keller, M. E. (2008). Faster remission of chronic depression with combined psychotherapy and medication
than with each therapy alone. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 76(3), 459–467. https://doi.org/10.1037/0022-
006X.76.3.459
Ótica do tratamento combinado

Ainda quanto ao estudo, análises revelaram que a combinação de medicação


e psicoterapia produziu remissão completa da depressão crônica mais
rapidamente do que qualquer um dos tratamentos de modalidade única,
que não diferiram entre si.
Para aqueles que receberam o tratamento combinado, os mais propensos a
ter sucesso foram aqueles com baixa depressão inicial (24 itens da Escala de
Avaliação de Hamilton para Depressão [HRSD; M. Hamilton, 1967] pontuação
< 26) e aqueles com alta pontuação de depressão, mas baixa ansiedade (
HRSD ≥ 26 e Escala de Avaliação de Ansiedade de Hamilton [M. Hamilton,
1959] < 14).

Manber, R., Kraemer, H. C., Arnow, B. A., Trivedi, M. H., Rush, A. J., Thase, M. E., Rothbaum, B. O., Klein, D. N., Kocsis, J. H.,
Gelenberg, A. J., & Keller, M. E. (2008). Faster remission of chronic depression with combined psychotherapy and medication
than with each therapy alone. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 76(3), 459–467. https://doi.org/10.1037/0022-
006X.76.3.459
Ótica do tratamento combinado

Em suma, os autores concluem que medicamentos


antidepressivos combinados e psicoterapia resultam
em remissão completa mais rápida de formas crônicas
de transtorno depressivo maior.

Manber, R., Kraemer, H. C., Arnow, B. A., Trivedi, M. H., Rush, A. J., Thase, M. E., Rothbaum, B. O., Klein, D. N., Kocsis, J. H.,
Gelenberg, A. J., & Keller, M. E. (2008). Faster remission of chronic depression with combined psychotherapy and medication
than with each therapy alone. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 76(3), 459–467. https://doi.org/10.1037/0022-
006X.76.3.459
Mas somente para depressão?
Ótica do tratamento combinado
diagnósticos diversos

Quanto ao transtorno bipolar, ensaios clínicos


controlados randomizados (ECRs) indicam que o
tratamento combinado funciona majorando a
amplitude da recuperação, otimizando sua velocidade,
diminuindo a frequência e aumentando o tempo até a
recaída, aumentando a aceitabilidade e a adesão ao
tratamento medicamentoso.
Manber, R., Kraemer, H. C., Arnow, B. A., Trivedi, M. H., Rush, A. J., Thase, M. E., Rothbaum, B. O., Klein, D. N., Kocsis, J. H.,
Gelenberg, A. J., & Keller, M. E. (2008). Faster remission of chronic depression with combined psychotherapy and medication
than with each therapy alone. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 76(3), 459–467. https://doi.org/10.1037/0022-
006X.76.3.459
Ótica do tratamento combinado
diagnósticos diversos
No tratamento da disfunção cognitiva em pacientes
com transtornos psicóticos, considera-se que, embora
a psicofarmacoterapia possa potencializar a
capacidade relativa de determinada habilidade
cognitiva, uma abordagem de remediação cognitiva
que trate esses fatores poderia aumentar a capacidade
para competência em situações da vida real. Portanto,
associar psicofarmacoterapia a remediação cognitiva
pode garantir maior quantidade de neuroplasticidade
e de benefício clínico.
Ótica do tratamento combinado
diagnósticos diversos
Já sobre os transtornos de ansiedade, em se tratando
do transtorno de ansiedade generalizada, uma
metanálise mostrou que os maiores benefícios da
terapia combinada podem ocorrer nas fases iniciais do
tratamento. Nas fobias específicas, o medicamento
usado isoladamente parece ser, na melhor das
hipóteses, de eficácia limitada, sendo ineficaz em
alguns casos quando comparado com a resposta
robusta relatada para as terapias comportamental e
cognitiva.
Ótica do tratamento combinado
diagnósticos diversos
Quanto ao transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), uma
metanálise revelou que, entre as psicoterapias, aquelas com
base comportamental foram mais efetivas do que as com base
cognitiva; já outra metanálise confirmou que a associação entre
terapia cognitivo-comportamental (TCC) e psicofarmacoterapia
é mais eficaz do que a TCC usada de forma isolada no
tratamento agudo de TOC, mas talvez não em longo prazo.
Juntas, essas pesquisas fornecem evidências de que o
tratamento combinado pode ser uma estratégia eficaz nesse
transtorno.
Ótica do tratamento combinado
diagnósticos diversos

No caso do transtorno de estresse pós-traumático (TEPT),


embora as monoterapias tenham sustentação sólida, evidências
em favor da associação das duas ainda são muito limitadas.
Entretanto, o uso adjuvante de prazosina com psicoterapia
parece justificado, visto que os pesadelos podem não se
resolver adequadamente apenas com TCC.
Ótica do tratamento combinado
diagnósticos diversos

Em casos de transtorno de pânico com e sem agorafobia, não


parece que o tratamento combinado confira algum benefício
adicional substancial no tratamento dos transtornos de pânico
em adultos se comparado com a monoterapia psicológica ou
psicofarmacológica. Em se tratando da intervenção
psicofarmacológica, o uso de benzodiazepínicos (BZDs)
interfere no desfecho de alguns casos. Mais pesquisas são
necessárias em relação ao uso de terapias combinadas no
pânico com ou sem agorafobia.
Ótica do tratamento combinado
diagnósticos diversos

Na anorexia nervosa, a combinação de tratamento mostrou


resultados inconclusivos. Em casos de bulimia nervosa, a
combinação de medicamentos (particularmente topiramato) e
TCC pode aumentar a eficácia da TCC ou de outra psicoterapia
utilizada isoladamente. Os ECRs relativos aos transtornos de
compulsão alimentar que associaram anti depressivos ou outros
medicamentos à TCC sugeriram pouca vantagem sobre a TCC
isolada na redução da compulsão alimentar
Ótica do tratamento combinado
diagnósticos diversos

Sobre o transtorno do déficit de atenção/hiperatividade


(TDAH), dados de metanálises sugerem que a
psicofarmacologia pode reduzir de modo significativo os
sintomas, mas aparentemente não há qualquer efeito adicional
quando as duas modalidades são combinadas. Nos casos de
insônia, a sequência ideal ocorre quando a TCC é introduzida no
início do tratamento, antes ou concorrentemente aos fármacos.
Ótica do tratamento combinado
diagnósticos diversos

Quanto ao tratamento combinado em pacientes dependentes,


a quantidade de estudos rigorosos relacionados a uma
abordagem integrada é pequena. O mesmo ocorre com a
integração da PFPT nos transtornos perinatais, em que a
literatura é bastante limitada e não há evidências sugerindo que
o tratamento combinado melhore o desfecho. Quanto aos
transtornos sexuais, não há consenso, nem um modelo baseado
em evidências para a realização de tratamento combinado.
Ótica do tratamento combinado
diagnósticos diversos

Todas essas conclusões evidenciam a necessidade constante de produzir


ECRs para buscar resultados consistentes para os transtornos carentes de
modalidade de tratamento adequada, assim como para aperfeiçoar os
estudos que apresentam resultados conclusivos. Ressalta-se também o
despertar de outras teorias psicológicas para pesquisas que contribuem
consistentemente para as práticas baseadas em evidências. Faz-se
fundamental, independentemente da modalidade (psicoterapia e/ou
psicofarmacologia), que o tratamento seja fornecido por um clínico
empático, afetuoso e imparcial, que seja sensível à contribuição dos fatores
psicossociais e que também atue informando o paciente de todas as opções
de tratamento, pois tal conduta leva os pacientes a responderem melhor aos
tratamentos baseados em evidências.
Quais os benefícios do uso
combinado de psicofarmacos e
psicoterapia?
Mesma ação, caminhos diferentes.

Quanto observamos as bases biológicas


associadas à remissão e tratamento de
transtornos mentais e comportamentais,
psicofarmacos e psicoterapia apresentam
mais semelhanças que diferenças.
Mais rápido ao objetivo

A maioria dos estudos revela que, a


combinação entre ambas as terapias oferece
resultados mais rápidos, mais consistentes e
com menores chances de reincidência.
Compreensão de um indivíduo
integral

Embora fatores ambientais tenham possível


relação com a gênese das alterações
químicas associadas aos transtornos
descritos, também devemos considerar que
em muitos casos o caminho por ser oposto.
Redução do sofrimento

Estudos mostram que, a combinação de


ambas as terapias pode abreviar o
tratamento, e levar a redução de sintomas
de forma mais rápida. Isso se reflete em
redução do sofrimento psíquico e
conseqüente melhora na qualidade de vida.
Caminho para novas descobertas

A combinação de ambas as terapias favorece


o melhor entendimento dos processos
químicos associados ao adoecimento
mental, levando à novas terapias e ao maior
sucesso do processo .
Discussão de casos
Perguntas?
Obrigado à todos.
Bom fim de semana!
REFERÊNCIAS:
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