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PSICOFARMACOLOGIA

PSICOFARMACOLOGIA

PSIQUIATRIA 1
PSICOFARMACOLOGIA

PSICOFARMACOLOGIA

CONTEÚDO: MATHEUS VIEIRA DE CASTRO


CURADORIA: CAROLINA STOFFEL BARBOSA

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PSICOFARMACOLOGIA

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 4

2. ANTIPSICÓTICOS .................................................................................................... 5

2.1 Antipsicóticos Típicos ........................................................................................... 6

2.2 Antipsicóticos Convencionais............................................................................. 7

2.3 Antipsicóticos Atípicos..........................................................................................7

2.4 Clozapina...................................................................................................................8

3. ESTABILIZADORES DO HUMOR ........................................................................ 8

3.1 Lítio ............................................................................................................................. 9

3.2 Anticonvulsivantes...............................................................................................10

3.3 Antipsicóticos Atípicos........................................................................................11

4. ANTIDEPRESSIVOS...............................................................................................11

4.1 Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina....................................12

4.2 Inibidores da Recaptação de Serotonina e Noradrenalina.......................13

4.3 Antidepressivos Tricíclicos.................................................................................14

4.4 Outros antidepressivos.......................................................................................14

5. BENZODIAZEPÍNICOS ........................................................................................ 15

6. ELETROCONVULSOTERAPIA (ECT)................................................................16

REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 17

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1. INTRODUÇÃO Porém, vale destacar que essa não é uma


tarefa fácil, já que esses medicamentos
O avanço da psicofarmacologia é um fenô- apresentam uma multiplicidade de fun-
meno que desde a década de 1970 vem ções, e suas indicações vão variar de
revolucionando a abordagem terapêutica acordo com cada caso, o que torna o trata-
em saúde mental. Frequentemente, novas mento individualizado. Vários fármacos te-
descobertas vão surgindo na área. A cada rão um nível de eficácia muito parecido, por
dia, se sabe um pouco mais sobre o funci- isso deve-se levar em conta outros aspec-
onamento de neurotransmissores e neuro- tos na escolha: efeitos colaterais, tolerân-
circuitos do nosso cérebro que irão definir cia, segurança, custos, entre outros.
nosso comportamento, e, dessa forma,
Basicamente, essas substâncias vão agir
como podemos intervir para aliviar o sofri-
interferindo nas sinapses, onde atuam os
mento psíquico de muitos pacientes.
neurotransmissores (mediadores quími-
É de suma importância que todo médico cos). Os psicotrópicos podem, nesse con-
generalista tenha, no mínimo, um conheci- texto, desempenhar funções de antagonis-
mento básico sobre as principais classes tas e agonistas de receptores, bem como
de psicofármacos, quais são seus meca- interferir na receptação de neurotransmis-
nismos de ação, principais indicações para sores, intensificar a liberação deles, ou até
a prática clínica e seus efeitos colaterais. inibir enzimas presentes na fenda sináp-
tica.

Também é importante salientar que paci-


entes em sofrimento psíquico não devem
As classes farmacológicas agrupam ser abordados apenas com psicofarmaco-
fármacos com mecanismos de ação logia. A fisiopatologia de todos os transtor-
parecidos. Porém, deve-se atentar que nos psiquiátricos envolve diversos fatores
os NOMES dessas classes NÃO
relacionados ao ambiente, à genética e ao
DEFINEM INDICAÇÃO.
psiquismo de um indivíduo. Dessa forma, o
Por exemplo: os “antidepressivos” não fármaco estaria atuando em apenas uma
necessariamente são indicados apenas “frente” do problema. A psicoterapia e o
para depressão. Além disso, nem suporte familiar, por exemplo, são aliados
mesmo para alguns casos de depressão
fundamentais em qualquer tratamento na
eles serão indicados.
psiquiatria.

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2. ANTIPSICÓTICOS A principal teoria que explica a base neu-


robiológica da síndrome psicótica é a que
A psicose é uma síndrome psiquiátrica ca- afirma que ela se deve a um aumento da
racterizada pela presença de delírios, alu- atividade dopaminérgica na via mesolím-
cinações, desorganização do pensamento bica.
e comportamentos claramente bizarros.
A formulação dessa teoria, deve-se,
Alguns autores costumam definir essa
grande parte, à descoberta dos antagonis-
condição como uma “perda do contato
tas de receptores de dopamina. Percebeu-
com a realidade”. Normalmente, um paci-
se que essas substâncias eram capazes de
ente psicótico possui baixo insight, ou seja,
reduzir significativamente alguns sintomas
não é capaz de ter consciência de sua mor-
da psicose. Daí eles recebem o “apelido”
bidade.
de antipsicóticos.
O principal transtorno que cursa com sín-
Vale destacar que para os pacientes com o
drome psicótica é a esquizofrenia. Entre-
diagnóstico de esquizofrenia (pacientes
tanto, ela pode acometer pacientes com
que mais utilizam dessa classe de fárma-
outras condições, como por exemplo: qua-
cos), os antipsicóticos têm a função de re-
dros de delirium, transtornos esquizoafeti-
duzir a sintomatologia da psicose (alucina-
vos, transtornos do humor (depressão e
ções, delírios, desorganização de pensa-
mania), intoxicação por substâncias como
mento). Dessa forma, na maioria dos ca-
álcool, estimulantes e alucinógenos, e até
sos, eles irão atuar somente nos sintomas
mesmo em condições orgânicas como hi-
positivos da doença.
poglicemia ou distúrbios neurológicos.

A fim de separar essa classe de fármacos,


da forma mais didática possível, este re-
sumo irá dividi-la da seguinte maneira:
Na esquizofrenia, as psicoses fazem parte
dos chamados “sintomas positivos”, 1. Antipsicóticos Típicos
típicos desse transtorno.
Já os “sintomas negativos” seriam as alte- 2. Antipsicóticos Convencionais

rações responsáveis pelo empobreci-


3. Antipsicóticos Atípicos
mento global da vida afetiva, social e
cognitiva do indivíduo, como por exemplo Cada uma dessas classificações apresenta
o embotamento afetivo, a abulia e a características marcantes que as diferen-
anedonia. ciam dos demais.

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2.1 ANTIPSICÓTICOS TÍPICOS dicinesia, e tremor), distonia aguda (espas-


mos contínuos e contrações musculares) e
Os primeiros antipsicóticos descobertos,
acatisia.
os típicos, representados pelo Haldol, são
caracterizados por fazerem uma ligação Outro efeito adverso significativo será a
intensa com os receptores dopaminérgicos discinesia tardia. Trata-se de uma condi-
D2. Graças a essa forte ligação, eles apre- ção que ocorre pelo bloqueio crônico dos
sentam ótima eficácia contra os sintomas receptores D2 nas vias dos núcleos da
psicóticos. base. Ela causa movimentos involuntários
repetitivos, principalmente da musculatura
Em contrapartida, o bloqueio dopaminér-
oro-línguofacial (síndrome do coelho),
gico ocorre em receptores por todo o cére-
ocorrendo protrusão da língua com movi-
bro, o que explica o principal “defeito” des-
mentos de varredura látero-lateral, além
ses medicamentos: os muitos efeitos cola-
de movimentos coreiformes na mão (tre-
terais. Sua ação no Núcleo Acumbens (re-
mor “de contar moedas”) e podendo evo-
lacionado ao centro de recompensa) ge-
luir, até mesmo, para uma dificuldade em
ram anedonia, apatia e falta de iniciativa. Já
falar, comer ou respirar.
sua ação na via tuberoinfundibular pode
aumentar a produção de prolactina, acar-
retando em galactorreia. Ademais, o blo-
queio na região mesocortical tende a cau- Para controlar a indesejável síndrome
sar prejuízos cognitivos nos pacientes. extrapiramidal em pacientes que
precisam fazer uso dos antipsicóticos
Entretanto, os efeitos colaterais mais im- típicos, constantemente será
portantes serão os relacionados a um au- necessário o uso concomitante de
mento de acetilcolina. Isso ocorre pois, em fármacos anticolinérgicos
condições normais, a dopamina inibiria a li- (Prometazina e Biperideno).

beração desse neurotransmissor. Por- As principais desvantagens dessas


tanto, na presença dos antipsicóticos típi- medicações, caso sejam utilizadas por
cos, os altos níveis de acetilcolina, especi- longos períodos, são:
almente nos núcleos da base, serão res- -O aumento dos ricos de discinesia
ponsáveis pelo aparecimento de sintomas tardia;
- Elevação dos riscos de déficts
motores, que chamamos de síndrome ex-
cognitivos permanentes (amnésia).
trapiramidal: parkinsonismos (rigidez, bra-

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Uma grande vantagem dos antipsicóticos 2.3 ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS


típicos é o baixo custo e a alta disponibili-
Os modernos antipsicóticos atípicos (por
dade no sistema público de saúde. Muito
exemplo: Risperidona, Olanzapina, Queti-
por conta disso, eles ainda são ampla-
apina e Aripripazol), além de fazerem um
mente utilizados na prática clínica.
bloqueio nos receptores D2, caracterizam-
2.2 ANTIPSICÓTICOS se por também atuarem em receptores
CONVENCIONAIS serotoninérgicos, em especial do subtipo
5HT2, o qual está muito relacionado ao
Os antipsicóticos convencionais, represen-
funcionamento de neurônios pré-dopami-
tados pela Clorpromazina, caracterizam-
nérgicos. Outrossim, eles também influen-
se por um bloqueio dopaminérgico bem
ciam a liberação dopaminérgica na subs-
menos intenso e uma forte ação anticoli-
tância nigra, fazendo com que os
nérgica, através da interação com recepto-
antipsicóticos atípicos apresentem signifi-
res muscarínicos, alfa1 e H1.
cativamente menos efeitos extrapirami-

Por conta disso, altas doses são necessá- dais se comparado com os típicos.

rias para atingir um efeito antipsicótico sa-


Em termos de eficácia antipsicótica, eles
tisfatório com esses fármacos, o que acaba
não apresentam muita diferença para os
gerando importantes efeitos colaterais re-
antipsicóticos típicos. Porém, por terem
lacionados à ação anticolinérgica, como
menos efeitos colaterais extrapiramidais,
por exemplo: sedação, hipotensão, turva-
costumam ser os medicamentos de
ção visual, glaucoma, xerostomia e consti-
escolha na prática. Em contrapartida, são
pação.
mais caros, o que dificulta seu acesso, prin-

Portanto, eles não são utilizados mais cipalmente no sistema público de saúde.

como antipsicóticos. Seu principal uso,


Os efeitos adversos que mais preocupam
atualmente, é como sedativo para pacien-
nessa classe são as alterações metabólicas
tes com sintomas psicóticos. Além disso,
(hipertensão, obesidade, hipercolesterole-
eles são bastante utilizados em pacientes
mia e diabetes). A Olanzapina, por exem-
com retardo mental para controle de agi-
plo, caracteristicamente, tende a causar
tações psicomotoras, já que, para tal, não
um aumento do peso. Dessa maneira, mui-
é preciso uma dosagem tão alta.
tos pacientes podem não se sentir confor-
táveis, atrapalhando a adesão ao trata-
mento.

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Outro fator de destaque dos antipsicóticos chances de desenvolvê-la. Logo, a cloza-


atípicos é o fato de serem bastante úteis pina está reservada apenas para casos que
em outras condições psiquiátricas. Alguns não obtiveram respostas a outros antipsi-
deles são considerados estabilizadores de cóticos. Caso seja utilizada, o paciente pre-
humor de primeira linha. Além disso, ou- cisa fazer, semanalmente, um hemograma
tros, como a Quetiapina, são utilizados em completo para acompanhamento.
doses baixas para controle de quadros de-
pressivos-ansiosos. 3. ESTABILIZADORES DO
HUMOR
2.4 CLOZAPINA
Antes de falarmos especificamente sobre
Por fim, vale um destaque especial para a os estabilizadores do humor, vamos revi-
Clozapina, um antipsicótico singular, que, sar alguns conceitos importantes sobre a
embora seja muitas vezes incluída entre os função psíquica humor e o transtorno afe-
atípicos, apresenta características especí- tivo bipolar (a principal indicação dessa
ficas. Ela atinge diversos neuroreceptores classe de fármacos):
diferentes, como dopaminérgicos D1 e D2,
serotoninérgicos 5HT2, alfa-adrenérgicos O humor, também conhecido como estado
e histamínicos. de ânimo, é como se define o tônus afetivo
de cada indivíduo, uma espécie de “estado
A Clozapina é o medicamento comprova- emocional basal” que uma pessoa apre-
damente com maior eficácia como antipsi- senta em um período da vida, e que não é
cótico, especialmente em casos refratários reativo às situações da vida.
e mais graves de esquizofrenia. Alguns es-
tudos ainda sugerem que ela seria capaz O humor de uma pessoa normalmente so-
de reduzir modestamente os sintomas ne- fre variações ao longo do tempo, porém,
gativos da doença. Além disso, é a que tem em algumas situações da vida ele pode
o menor risco de causar efeitos extrapira- passar dos limites da funcionalidade, cau-
midais. Por esse motivo, é considerada sando um expressivo sofrimento e prejuízo
“padrão-ouro” para o tratamento de qua- aos indivíduos. Essas alterações podem
dros graves de sintomas psicóticos. ser tanto “para menos” (depressão) quanto
“para mais” (mania).
O grande problema está em seu principal e
perigoso efeito colateral: a agranulocitose Dessa forma, uma síndrome depressiva é
grave! Quanto maior a dose, maior as caracterizada por um importante rebaixa-

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mento do humor, sendo os sintomas cen- no alívio da mania, mas também como pro-
trais a tristeza, a hipobulia (falta de ânimo, filaxia contra a alternância entre os polos
energia e vontade de fazer coisas), e a ini- depressivo e maniforme.
bição do curso do pensamento.
A partir de agora, portanto, falaremos so-
Já uma síndrome maníaca, caracteriza-se bre os principais fármacos usados como
por uma elevação exacerbada do humor: estabilizadores do humor e suas particula-
os sintomas centrais são euforia ou irrita- ridades.
bilidade, fuga de ideias, agitação psicomo-
tora e um aumento da sensação subjetiva 3.1 LÍTIO
de energia vital. Os sais de Lítio foram os primeiros medi-
camentos aprovados como “estabilizado-
Durante um quadro de mania, o paciente
res do humor”. Porém, até o atual mo-
pode estar mais loquaz que o habitual, ta-
mento, não se sabe exatamente qual seu
quipsíquico (com pensamentos acelera-
mecanismo de ação. Sua farmacologia é
dos) e com fuga de ideias. O envolvimento
extremamente complexa e pode afetar di-
exagerado em atividades com elevado po-
ferentes partes do cérebro de forma vari-
tencial para consequências dolosas é ca-
ada em momentos distintos.
racterístico. Além disso, sintomas psicóti-
cos como delírios e alucinações podem es- Desde sua descoberta, o lítio é muito utili-
tar presentes, e indicarão gravidade. zado principalmente para estabelecer uma
manutenção profilática em pacientes com
Essa perturbação do humor invariavel-
Transtorno Afetivo Bipolar, a fim de evitar
mente gera prejuízos acentuados no funci-
episódios futuros de mania ou depressão.
onamento social ou profissional, causando
Além disso, também mostra uma boa efi-
danos pessoais e a terceiros.
cácia para controlar os episódios de mania
Quando um indivíduo apresenta pelo me- aguda.
nos um episódio de mania, alternado ou
Vários estudos indicam, ainda, a função
não com episódios depressivos, define-se
neuroprotetora do lítio. Vale destacar que
o Transtorno de Humor Bipolar, ou Trans-
o Transtorno Bipolar pode, assim como na
torno Afetivo Bipolar.
Esquizofrenia, causar uma neurodegene-
Neste contexto, os estabilizadores do hu- ração (atrofia de diversas áreas corticais
mor seriam medicamentos eficazes não só importantes) ao longo do tempo.

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Ademais, esse fármaco é apontado como deles: Ácido valproico, Carbamazepina e


superior a outros medicamentos na pre- Lamotrigina.
venção ao suicídio. Estudos clínicos mos-
Além dos óbvios efeitos como antiepiléti-
traram que lítio reduz a incidência de suicí-
cos, passou-se a perceber que esses re-
dio em pacientes com transtorno bipolar
médios poderiam também ser útil para a
tipo I em seis ou sete vezes.
psiquiatria, no tratamento do transtorno
Apesar do custo baixo ser uma vantagem, bipolar. De maneira geral, eles possuem
o lítio apresenta desvantagens a se consi- menos efeitos colaterais que o lítio, porém
derar, especialmente relacionados à sua é preciso uma dose mais alta para atingir o
toxicidade. Por ser muito parecido com o efeito desejado no humor.
sódio, ele passa com maior facilidade pela
Predominantemente, os anticonvulsivan-
barreira hematoencefálica e pode se con-
tes serão utilizados por seus efeitos
centrar rapidamente no sangue. Isso faz
profiláticos no tratamento de pacientes bi-
com que a dose tóxica seja muito próxima
polares, especialmente naqueles transtor-
da dose terapêutica e que, consequente-
nos bipolares de ciclagem rápida, e no con-
mente, seja preciso um acompanhamento
trole da mania aguda. Via de regra, eles
da litemia (concentração de lítio no san-
possuem uma maior eficácia na prevenção
gue) do paciente, principalmente no início
da mania do que na de episódios depres-
do tratamento.
sivos, embora alguns estudos apontam a
Os efeitos adversos possíveis mais impor- Lamotrigina como promissora no trata-
tantes são: tremores, dispepsia, diarreia, mento da depressão bipolar.
poliúria, cefaleia, além de nefropatias e hi-
As principais reações adversas dessa
potireoidismo. É necessário tomar cuidado
classe são: ganho de peso, sedação e náu-
com o uso de lítio em pessoas com proble-
seas. Especificamente com o Ácido val-
mas renais ou que usem medicamentos
proico, aumenta-se o risco de uma hepto-
que possam interferir na absorção do só-
toxicidade grave e alopecia. Além disso, o
dio, como alguns anti-hipertensivos.
uso do Ácido Valpróico por gestantes, es-
3.2 ANTICONVULSIVANTES pecialmente no primeiro trimestre de ges-
tação, está associado a um maior risco de
Outra classe de fármacos muito utilizada
teratogênese, sobretudo defeitos na for-
como estabilizadores do humor são os
mação do tubo neural.
anticonvulsivantes, principalmente três

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3.3 ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS Traumático, Transtornos Alimentares, en-


tre outros. Outrossim, ainda podem ser
A cada dia mais, os antipsicóticos atípicos
usados para outras condições, como dor
(descritos anteriormente), especialmente a
crônica, distúrbios do sono, bruxismo, in-
Olanzapina, são utilizados como estabili-
continência urinária e disfunções sexuais.
zadores do humor, sobretudo porque eles
apresentam, um início de ação rápido nas Existem várias subclasses de antidepressi-
crises, se tornando a primeira escolha em vos que variam significativamente quanto
casos de mania aguda. Além disso, como aos seus mecanismos de ação, toxicidade
todo bom estabilizador do humor, atuam e interações medicamentosa. Entretanto,
como elemento profilático no transtorno não existe evidência robusta que alguma
bipolar. subclasse se sobressaia a outra em relação
ao seu poder antidepressivo. Portanto, a
Ademais, se destacam por possuírem uma
escolha sempre deve ser feita conside-
ação também na fase depressiva do trans-
rando os efeitos colaterais e a individuali-
torno bipolar, contexto no qual se sobres-
dade de cada paciente (idade, sexo, tipo de
sai a eficácia da Quetiapina.
depressão, nível socioeconômico e etc.)

4. ANTIDEPRESSIVOS Geralmente, o ideal é que um tratamento


com antidepressivo seja breve (de 6 a 12
Uma classe de psicofármacos muito co-
meses). Na pratica, entretanto, alguns in-
nhecida e receitada é a dos antidepressi-
divíduos acabam precisando de um tempo
vos. Essa popularidade baseia-se acima de
maior.
tudo na sua eficácia no tratamento da de-
pressão, seu amplo espectro de ação, sua Outra informação relevante é sobre o início
relativa segurança e em sua facilidade de da ação efetiva desses fármacos: a maioria
uso. deles só começam a fazer efeito na de-
pressão a partir da segunda semana de
É claro que os transtornos depressivos se-
uso contínuo em dose terapêutica, aproxi-
rão a principal indicação desses fármacos,
madamente. Além disso, vale destacar que
porém é importante salientar que os anti-
essas não são substâncias que geram de-
depressivos são moléculas que podem
pendência. Mas, no momento do desmame
atuar em diversos transtornos psiquiátri-
após um uso prolongado, eles podem cau-
cos como Transtorno de Ansiedade Gene-
sar uma síndrome de retirada. Essa se re-
ralizada, Transtornos Obsessivos-Com-
fere à apresentação de alguns sintomas le-
pulsivos, Transtorno do Estresse Pós-

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ves a moderados: cefaleia, vertigem, irrita- Com o uso constante dos ISRS, o aumento
bilidade, sensação de cabeça vazia, entre de serotonina na fenda sináptica causa
outros. uma dessensibilização dos autos-recepto-
res 5HT1A. Passado um certo tempo, es-
ses receptores passam a não detectar as
altas quantidades de serotonina ali exis-
Deve-se ter muito cuidado no início do
tentes, e enviam sinais para a desinibição
tratamento de pacientes com quadro de
do fluxo de impulsos neuronais nos neurô-
depressão, especialmente entre os mais
nios serotoninérgicos, liberando mais do
jovens. É preciso nos atentar à possibili-
neurotransmissor na fenda sináptica. Esse
dade de se tratar de um episódio de
tempo que leva para a dessensibilização
depressão do Transtorno Afetivo Bipolar.
dos auto-receptores 5HT1A provavel-
Nesse caso, a utilização de antidepressi-
mente é o responsável pela ação terapêu-
vos como monoterapia subiria considera-
tica não imediata dos ISRSs.
velmente as chances desse indivíduo
“ciclar” rapidamente para um episódio ma- Tal ação terapêutica não só é comprovada-
níaco. mente eficaz na depressão, como também
em diversos outros. Atualmente os ISRSs
4.1 INIBIDORES SELETIVOS DA são considerados tratamentos de primeira
RECAPTAÇÃO DE SEROTONINA linha para: Transtorno Depressivo Maior,
distimia, Transtorno do Pânico, TOC, Fobia
Os Inibidores Seletivos da Recaptação de social, TEPT, Bulimia nervosa e Transtorno
Serotonina (ISRS) são os antidepressivos de Ansiedade Generalizada.
mais populares em todo o mundo. São re-
presentados pelos seguintes fármacos: A grande vantagem dessa classe é a
fluoxetina, paroxetina, sertralina, fluvoxa- menor presença de efeitos colaterais e a
mina, escitalopram e citalopram. maior segurança, principalmente se com-
parada às classes de antidepressivos que
Como o nome da classe já adianta, os vieram antes (IMAO e Tricíclicos, por
ISRSs bloqueiam seletivamente a recepta- exemplo). Os principais efeitos adversos
ção da serotonina através da inibição do dos ISRS são: náuseas e diarreia, disfun-
transportador depentente de Na+/K+ ade- ção sexual, cefaleia e insônia/sonolência.
nosina trifosfatase nos neurônios pré-si-
nápticos. Embora todos os fármacos dessa classe
possuam eficácia terapêutica parecida,

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PSICOFARMACOLOGIA

consegue-se apontar algumas particulari-


dades em cada um.
SOBRE O RISCO DE SUICÍDIO COM O
A fluoxetina, por exemplo, apresenta um
USO DE ISRSs:
efeito anorexígeno no início de seu uso, o
que pode ser útil para pacientes que dese- Aumentará em pacientes graves com
jam perder peso. Por outro lado, possui apatia/hipobulia significativa, que estão
com o humor deprimido, mas também se
meia vida longa (de até 3 dias), o que pode
sentindo “sem forças”.
trazer mais prejuízos caso ocorra uma vi-
rada maníaca. Nesses pacientes, os ISRS, pela sua
característica de melhorar os sintomas
Já a paroxetina possui meia vida curta e, da depressão de forma heterogênea,
com isso, é mais segura para pacientes bi- pode causar um aumento da força de
polares. Ela também causa um aumento no vontade antes da melhora do humor.
apetite, o que pode levar ao ganho de Então, o risco de suicídio acaba
aumentando nesse início de tratamento.
peso. De forma off-label, esse medica-
mento pode ser utilizado para o trata- MAS LEMBRE-SE: O risco de
mento de ejaculação precoce. suicídio é maior na depressão do que no
uso de antidepressivos. E, para um
A sertralina destaca-se, em particular, por paciente grave, identificado com risco de
seu efeito cardioprotetor. Ela interage bem suicídio, sempre deve ser considerado a
pouco com medicamentos cardíacos e internação.
ainda possui uma discreta ação de inibição
da atividade plaquetária. Além disso, cos-
tuma ser a droga de escolha para lactan- 4.2 INIBIDORES DA RECAPTAÇÃO
tes, especialmente em casos de depressão DE SEROTONINA E
pós-parto, devido a sua baixa concentra- NORADRENALINA
ção no leite materno.
Os Inibidores da Recaptação de Seroto-
O Escitalopram, por sua vez, é considerado nina e Noradrenalina (IRSN), também co-
o ISRS mais seguro de todos, pois apre- nhecidos como duais, são representados
senta pouquíssimas interações medica- pela venlafaxina, desvenlafaxina e duloxe-
mentosas. Em contrapartida é um remédio tina, e, como o próprio nome já diz, são ca-
mais caro que os outros, e por isso não pazes de inibir a receptação tanto de sero-
costuma estar disponível sistema público tonina quanto de noradrenalina.
de saúde.

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PSICOFARMACOLOGIA

Essa atuação dupla confere uma boa res- Esses fármacos também atuam aumen-
posta contra o Transtorno Depressivo tando as concentrações sinápticas de se-
Maior e o Transtorno de Ansiedade Gene- rotonina e noradrenalina, como os ISRS e
ralizada. Atualmente, são considerados IRSN, o que os confere um alto poder anti-
fármacos de escolha depois dos ISRSs, ou depressivo.
primeira escolha, dependendo do caso.
Entretanto, mecanismos de ação secundá-
Sua grande desvantagem é o alto custo.
rios como o antagonismo aos receptores
Assim como os ISRSs, os duais sofrem muscarínicos, colinérgicos e histamínicos
poucas interações medicamentosas. Am- definem um perfil de muitos efeitos colate-
bos também compartilham muitos efeitos rais. Entre eles: boca seca, constipação, re-
colaterais, como os gastrointestinais. Já tenção urinária, visão borrada, ganho de
quanto aos efeitos sexuais, a duoloxetina peso, sedação, disfunção sexual, hipoten-
mostra a vantagem de interferir menos na são ortostática. O mais preocupante deles,
libido. Ademais, os IRSN podem causar sem dúvida, são seus efeitos cardíacos, em
uma modesta hipertensão durante o trata- especial um prolongamento do intervalo
mento. QT.

Por fim, tanto a venlafaxina quanto a du- Por isso, hoje, os antidepressivos tricíclicos
oloxetina mostram efeitos benéficos em são considerados segunda ou terceira es-
algumas condições dolorosas, como nas colha de tratamento, e ficam mais reserva-
dores neuropáticas, fibromialgia e outras dos para pacientes com quadros depressi-
dores crônicas. vos refratários ou muito graves.

4.3 ANTIDEPRESSIVOS 4.4 OUTROS ANTIDEPRESSIVOS


TRICÍCLICOS
Além dos já citados, muitos outros antide-
Os tricíclicos são antidepressivos mais an- pressivos estão disponíveis no mercado e
tigos e por muito tempo foram os antide- uma série de fármacos com mecanismos
pressivos mais usados no mundo. Seus de ação diversos estão sendo desenvolvi-
principais representantes são: imipramina, dos.
amitriptilina e nortriptilina. Atualmente,
A trazodona e a nefazodona têm como
são remédios baratos e amplamente dis-
principal efeito o antagonismo dos recep-
poníveis na rede pública de saúde
tores pós-sinápticos 5HT2. Elas parecem
ser também eficazes agentes ansiolíticos e

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esses efeitos costumam ser mais eviden- A Mirtazapina, por sua vez, é um antide-
tes logo no início do que os efeitos antide- pressivo com mecanismo de ação total-
pressivos. mente singular entre os disponíveis, que
envolve um bloqueio de receptores alfa-2-
Quanto aos efeitos colaterais, os antago-
adrenérgicos.
nistas de 5HT2 podem levar a sintomas
gastrointestinais, hipotensão ortostática, Comparada aos ISRSs, a Mirtazapina, em-
cefaleia, entre outros. O mais preocupante bora tenha eficácia bem parecida, pode
deles, porém raro, seria uma falência hepá- produzir efeitos ansiolíticos e antidepres-
tica, mais relacionada ao nefazodona. sivos mais rapidamente. Além disso, ela
possui a vantagem de possuir menos efei-
Já a bupropiona, um antidepressivo que
tos colaterais sexuais e um maior efeito se-
vem ganhando popularidade nos últimos
dativo (que pode auxiliar em pacientes
anos, trata-se de um antidepressivo com-
com insônia). O aumento do apetite e pos-
binado noradrenérgico e dopaminérgico.
sível ganho de peso são as reações inde-
Embora seu mecanismo de ação não esteja
sejadas que mais se destacam.
completamente explicitado, ela demonstra
eficácia em muitos tipos de depressão. É Ainda poderiam ser citados outros antide-
muito utilizada em conjunto com os ISRS, pressivos como a Vilazodona, a Vortioxe-
intensificando o efeito antidepressivo e tina e a Reboxetina, bem como os
contrabalanceando os efeitos colaterais Inibidores da Monoaminoxidase (IMAOs),
sexuais. os primeiros antidepressivos descobertos
que hoje, por conta de seus muitos efeitos
De todos os antidepressivos, a Bupropiona
colaterais importantes, são agentes de ter-
é a única que, provavelmente, não seja efi-
ceira linha para depressão.
caz no tratamento dos transtornos de an-
siedade. Entretanto, outras indicações in- 5. BENZODIAZEPÍNICOS
teressantes desse fármaco são para a ces-
sação do tabagismo e no tratamento de Benzodiazepínicos são os psicofármacos
TDAH. mais prescritos no mundo. Geralmente,
quando falamos em ansiolíticos, associa-
Em relação aos efeitos colaterais, ela apre- se diretamente a eles, já que são os princi-
senta um perfil favorável, em parte por pais representantes dessa classe. São
causa da baixa afinidade pelos receptores exemplos: diazepam, clonazepam, alpra-
muscarínicos, alfa-adrenérgicos e histamí- zolam, midazolam.
nicos.

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PSICOFARMACOLOGIA

Esses fármacos compartilham um efeito embora raras, são as piores reações do


em comum sobre os sítios de ligação ben- quadro.
zodiazepínicos presentes nos receptores
Já em relação ao risco de overdose, os ben-
GABA-A. Tais receptores gabaérgicos es-
zodiazepínicos apresentam boa margem
tão relacionados com propriedades anti-
de segurança. A maioria dos óbitos en-
convulsivantes, ansiolíticas, sedativas e re-
volve o fato desses medicamentos estarem
laxantes muscular.
associados à ingestão concomitante de ál-
Eles são muito úteis para alívio rápido de cool.
crises de ansiedade. São também boas es-
Em casos de intoxicação com altas doses,
colhas para o tratamento de Transtorno de
os benzodiazepínicos possuem um antí-
Ansiedade Generalizada e Transtorno do
doto: flumazenil. O uso dele, por sua vez,
Pânico. Além disso, eventualmente podem
deve ser feito com cuidado, já que reduz o
ser utilizadas para insônia, epilepsia, rela-
limiar convulsivo.
xamento muscular, abstinência de álcool e
como anestésicos. Por fim, estudos recentes vêm apontando
que, a longo prazo, esses fármacos podem
Além da sedação, letargia, hipotensão leve
levar, progressivamente a um déficit de
e desempenho motor reduzido que os
memória e atenção.
benzodiazepínicos podem causar, o efeito
colateral mais perigoso, sem dúvidas, é o
6. ELETROCONVULSOTERAPIA
desenvolvimento de dependência/absti-
(ECT)
nência.
Durante a história, alguns médicos perce-
Após pouco tempo de uso contínuo, o pa- beram que pacientes com graves transtor-
ciente tende a não apresentar a mesma nos psiquiátricos, após fazerem um episó-
resposta com a mesma dosagem. Por isso, dio de convulsão, apresentavam uma sur-
caso o tratamento não seja feito com preendente melhora de seus sintomas.
acompanhamento e aconselhamento cor- Após um longo período estudando esse
reto, os usuários correm sério risco de de- fato, concluiu-se que a estimulação elétrica
senvolverem um vício e irem tomando é a maneira mais rápida e segura de fazer
cada vez mais doses mais altas. uma pessoa convulsionar.

Os sintomas comuns de abstinência in- Por muito tempo, esse procedimento, co-
cluem ansiedade, palpitações e sensibili- nhecido como “eletrochoque”, foi feito vá-
dade elevada a luz e som. As convulsões,

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PSICOFARMACOLOGIA

rias vezes de maneira equivocada, sem se- um dos tratamentos mais eficazes de toda
gurança, e até mesmo como método de a medicina. Além disso, ainda apresenta
punição. Tudo isso gerou um estigma his- boa resposta em pacientes esquizofrêni-
tórico que persiste até os dias atuais. Atu- cos graves, em especial aqueles com sin-
almente, porém, a ECT é realizada apenas tomas catatônicos.
em uso simultâneo de anestesia geral, de
A perda da memória de acontecimentos
forma segura e controlada.
próximos à realização do procedimento
Hoje, a ECT é considerada padrão-ouro no pode ser um efeito adverso da eletrocon-
tratamento de casos graves e refratários vulsoterapia.
de mania e depressão. Ela é considerada

REFERÊNCIAS:
1. SADOCK, B J; Compêndio de psiquiatria: ciência do comportamento e psiquiatria clínica,
11ª edição. Porto Alegre: Artmed, 2017. 1466pp.

2. SCHATZBERG, A; DEBATTISTA, C; Manual de Psicofarmacologia Clínica, 8ª edição. Porto


Alegre: Artmed, 2017. 784pp.

3. DALGALARRONDO, P; Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais, 2ª edição.


Porto Alegre: Artmed, 2008. 440pp.

4. Curso Psiquiatria: Psicofarmacologia (Professor David Sender). Jaleko Aca-


dêmicos. Disponível em: < https://www.jaleko.com.br>.

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