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FARMÁCIA CLÍNICA
DIRECIONADA À
PRESCRIÇÃO
FARMACÊUTICA
2

ATENÇÃO BÁSICA A SAÚDE- FARMÁCIA

SUMÁRIO

FARMACÊUTICO E O USO DE MEDICAMENTOS .................................................... 7


AS CONSEQUÊNCIAS DO USO INADEQUADO DE MEDICAMENTOS ................. 16

A HISTÓRIA DA FARMÁCIA CLÍNICA E DA ATENÇÃO FARMACÊUTICA ............. 21

O SURGIMENTO DA ATENÇÃO FARMACÊUTICA ................................................. 24


3
A IMPORTÂNCIA DO PROFISSIONAL FARMACÊUTICO NA PRÁTICA DA
ATENÇÃO FARMACÊUTICA .................................................................................... 29

ELEMENTOS PRESENTES NA REALIDADE DO PROFISSIONAL


FARMACÊUTICO...................................................................................................... 29

O FARMACÊUTICO NA PRÁTICA DA ATENÇÃO FARMACÊUTICA ...................... 31

INTRODUÇÃO À FARMÁCIA CLÍNICA E ATENÇÃO FARMACÊUTICA ................. 35

PANORAMA HISTÓRICO DA PROFISSÃO FARMACÊUTICA A PARTIR DO


SÉCULO XX .............................................................................................................. 37

ANÁLISE DO PERÍODO DE TRANSIÇÃO................................................................ 42

ATENÇÃO FARMACÊUTICA NO BRASIL ................................................................ 47

ATENÇÃO FARMACÊUTICA – O PACIENTE COMO FOCO ................................... 51

ATENÇÃO FARMACÊUTICA – RESPONSABILIDADES ......................................... 53

A ATENÇÃO FARMACÊUTICA – RESULTADOS .................................................... 59

PROBLEMAS RELACIONADOS A MEDICAMENTOS ............................................. 60

SEGUIMENTO FARMACOTERAPÊUTICO .............................................................. 62

Problemas de Saúde ................................................................................................. 78

Medicamentos ........................................................................................................... 78

Avaliação ................................................................................................................... 79

Intervenção Farmacêutica ......................................................................................... 79

Os medicamentos ..................................................................................................... 80

Descrição de reações adversas. ............................................................................... 91

Tratamento não medicamentoso para hipertensão ................................................... 91


TRATAMENTO MEDICAMENTOSO......................................................................... 92

Inibidores Adrenérgicos ............................................................................................. 93

Vasodilatadores Diretos ............................................................................................ 94


4
Antagonistas dos Canais de Cálcio ........................................................................... 94

ATENÇÃO FARMACÊUTICA AO PACIENTE DIABÉTICO....................................... 95

ATENÇÃO FARMACÊUTICA AO PACIENTE DISLIPIDÊMICO ............................. 101

ATENÇÃO FARMACÊUTICA AO PACIENTE ASMÁTICO ..................................... 105

ATENÇÃO FARMACÊUTICA À PACIENTE GESTANTE ....................................... 115

Propriedades físico-químicas dos fármacos ............................................................ 118

Características da placenta ..................................................................................... 119

Fase de desenvolvimento embrionário em que se administra o fármaco ................ 119

Classes farmacológicas utilizadas durante a gestação ........................................... 120

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 122


UM PANORAMA GERAL DA SAÚDE E DOS MEDICAMENTOS NO BRASIL

A situação da saúde no Brasil é a resultante de uma série de fatores, cujo


impacto sobre a mesma é considerável: educação, segurança, previdência social, 5

infraestrutura, conjuntura econômica. Os organismos internacionais que monitoram


esse campo desenvolveram indicadores destinados a medir o estado de saúde da
população de um país. Entre esses indicadores, ressalta-se a expectativa de vida
dos habitantes ao nascer e a mortalidade infantil.
Embora ocupe uma posição inferior à dos países desenvolvidos e de muitas
nações em desenvolvimento, o Brasil apresenta uma esperança de vida e uma
mortalidade infantil que se aproximam das dos países de elevado desenvolvimento.
O sistema público de saúde nacional, o SUS, responsável pelo atendimento
médico a 180 milhões de pessoas, merece considerável parcela de crédito para esse
sucesso.
O Sistema Único de Saúde cobre todos os residentes do país, isto é, cerca de
180 milhões de pessoas, sendo uma das maiores estruturas públicas de saúde
existentes no mundo. Foi criado em 1990, depois que a Constituição de 1988
legislou que toda a população brasileira fosse atendida gratuitamente por um
sistema de saúde público, regido pelos princípios da universalidade, equidade e
integralidade.
Um componente crítico do sistema de saúde é o medicamento. Alguns
tratamentos continuados – hemofilia, AIDS, diabetes, hipertensão, transplantes –
custam dezenas de milhares de reais por ano por paciente, valores muito superiores
à capacidade de pagamento de qualquer indivíduo e com os quais a sociedade arca
por intermédio do sistema público de saúde.
Os medicamentos, suprimentos médico-hospitalares e os demais insumos de
saúde, representam parcela importante do atendimento médico. Correspondem à
cerca de 20% dos gastos totais em saúde. É o segundo item dos custos, atrás das
despesas com mão-de-obra. No orçamento de saúde da União, cerca de 3 bilhões
de reais em R$ 25 bilhões, ou seja, 12% da verba são destinados à aquisição de
medicamentos.
Atuam no País cerca de 350 laboratórios farmacêuticos, dos quais 50
multinacionais, os quais respondem por 70% do faturamento. Existem 45 mil
farmácias, das quais 3.500 pertencem a redes. As farmácias e drogarias vendem
82% dos medicamentos consumidos no País. Os laboratórios fabricantes pouco
vendem diretamente para as farmácias e hospitais. Comercializam seus produtos
por intermédio de 1.500 distribuidores atacadistas.
Os medicamentos no Brasil podem ser classificados em éticos (que somente 6

podem ser vendidos com prescrição médica), como os antibióticos e de balcão (over
thecounter – OTC), como, por exemplo, o paracetamol. Além destes, a população
também consome plantas medicinais, adquiridas inclusive de feirantes.
Mais de 30 mil apresentações de medicamentos são registradas no mundo,
das quais 20 mil no Brasil. A ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária,
autoriza o uso de medicamentos no País. Cerca de 8 mil apresentações são
regularmente comercializadas no Brasil, das quais 6 mil são produtos éticos. As
apresentações são formulações baseadas em aproximadamente 1.500 fármacos.
Os medicamentos são de três tipos: de marca, cobertos pela patente detida
pelo laboratório descobridor, similar e genérico. Esse último custa até 40% menos
que o de marca. Cerca de 40 laboratórios produzem mais de 300 genéricos. Estima-
se que os genéricos absorverão entre 30% e 40% do mercado.
Alguns medicamentos não são incluídos na corrente comercial por serem
fornecidos gratuitamente pelos governos: federal e de alguns Estados. São
destinados a programas sociais e aos portadores de enfermidades prolongadas e
dispendiosas: AIDS, hemofilia e diabetes. Os governos federal e estaduais operam
16 laboratórios que fabricam medicamentos destinados aos programas sociais. Seu
custo é menor do que o dos laboratórios privados, já que não enfrentam despesas
de marketing que respondem por 40% dos custos dos medicamentos comerciais.
São fornecidos a hospitais públicos e a secretarias estaduais e municipais de saúde.
Os mais conhecidos são o Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Instituto
Butantan e a Fundação para o Remédio Popular – FURP.
Assim, conclui-se que em um país de intensos contrastes e desigualdades
profundas, é arriscado procurar sintetizar a atuação do sistema de saúde, avaliar o
modelo e julgar os resultados obtidos. O Brasil possui duas classes de habitantes: os
que têm planos privados de saúde e os que somente dispõem do sistema público, o
SUS. Extrair médias aritméticas de indicadores de mortalidade infantil e de
expectativa de vida desses dois povos pode levar a conclusões estatísticas
viesadas. Válidas ou não, as médias dos indicadores revelam que o Brasil realizou
progressos consideráveis e continuados nos últimos 50 anos na área da saúde.
Considerando os parcos recursos aplicados globalmente na saúde do País, 10 vezes
inferiores aos dos países de maior desenvolvimento; e considerando que o SUS, que
atende 180 milhões de pessoas, é o maior sistema do mundo ocidental, e, portanto,
pelo seu gigantismo, o mais difícil de ser administrado. Os resultados obtidos são 7

surpreendentemente exitosos.
Pairam elevados riscos no futuro, pois como o País vem obtendo resultados
expressivos na economia, emprego, segurança, educação, infraestrutura, no
saneamento e como todas essas áreas influenciam na saúde, é possível que os
progressos na área médica, partilhados por uma população em contínua expansão,
não se sustentem.
Desde que livre de patologias mentais, que são a burocracia, o suborno e a
tomada subjetiva de decisões, e concentrando-se nas ações médicas mais eficientes
sob o aspecto custo-benefício, como a higiene, a prevenção, o saneamento básico e
a atenção primária, o País poderá atingir em breve os patamares de saúde
alcançados pelas nações com as quais procura ombrear.

FARMACÊUTICO E O USO DE MEDICAMENTOS

O USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS

Há uso racional de medicamentos, de acordo com a Organização Mundial da


Saúde - OMS (Nairobi, Quênia, 1985), quando "pacientes recebem medicamentos
apropriados para suas condições clínicas, em doses adequadas às suas
necessidades individuais, por um período adequado e ao menor custo para si e para
a comunidade".
Como exemplo de uso inapropriado de medicamentos, tem-se: o uso de
muitos medicamentos por paciente (polimedicação); o uso inapropriado de
antimicrobianos, frequentemente em posologias inadequadas ou para infecções não
bacterianas; o uso excessivo de injetáveis, quando há disponibilidade de formas
farmacêuticas orais mais apropriadas; a prescrição em desacordo com diretrizes
clínicas; a automedicação feita de forma inapropriada, frequentemente com
medicamentos vendidos sob prescrição.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde – OMS (2002) – há doze
intervenções para a promoção do uso racional de medicamentos:
- Comitê nacional estabelecido de forma multidisciplinar para
coordenar as políticas do uso racional. No Brasil, criado por meio da Portaria GM n°
1555, de 27 de junho de 2007, o Comitê Nacional para a Promoção do Uso Racional
de Medicamentos tem por objetivo principal identificar e propor estratégias e 8

mecanismos de articulação, de monitoramento e de avaliação direcionadas à


promoção do uso racional de medicamentos, de acordo com os princípios e
diretrizes do Sistema Único de Saúde – SUS;
- Diretrizes clínicas;
- Lista de medicamentos essenciais – a OMS definem medicamentos
essenciais como os que satisfazem às necessidades prioritárias de saúde da
população, sendo selecionada de acordo com a sua pertinência para a saúde
pública, a existência de evidências sobre sua eficácia, segurança e sua eficácia
comparada aos custos. Além disso, enfatiza que devem estar disponíveis nos
sistemas de saúde em quantidades suficientes, nas formas farmacêuticas
apropriadas, com garantia da qualidade e informação adequada, ao preço que os
pacientes e a comunidade possam pagar;
Entre as diretrizes da política nacional de medicamentos, está a adoção da
Relação Nacional de Medicamentos Essenciais – RENAME – que deverá servir de
base ao desenvolvimento tecnológico e científico, à produção de medicamentos no
País e às novas listas construídas nos níveis estadual e municipal de atenção à
saúde. Essa relação, elaborada com base no quadro nosológico do País, é o
fundamento para orientação da prescrição e do abastecimento da rede do Sistema
Único de Saúde (SUS), com vistas ao aperfeiçoamento de questões administrativas
e de redução de custos, instrumentalizando o processo de descentralização.
Abrange um elenco de medicamentos necessários ao tratamento e controle das
enfermidades prioritárias em saúde pública nos diversos níveis de atenção no País;
- Comitês de Farmacoterapia baseados em problemas nos cursos de
graduação;
- Educação médica continuada em serviço como requisito para
registro profissional;
- Supervisão, auditoria e feedback;
- Informação fidedigna e isenta sobre medicamentos;
- Educação dos usuários sobre medicamentos
- Não permissão a incentivos perversos;
- Regulamentação e fiscalização apropriadas;
- Gasto governamental suficiente para assegurar disponibilidade de
medicamentos e infraestrutura;
Ainda, como medidas regulatórias que apoiam o uso racional de 9

medicamentos, têm-se:

- Registro de medicamentos mediante evidências de que sejam


seguros, eficazes e de boa qualidade;
- Revisão da classificação de medicamentos sob prescrição; incluindo
a limitação de certos medicamentos a serem disponibilizados apenas sob prescrição
e não como venda livre;
- Estabelecimento de padrões educacionais para os profissionais de
saúde, com fortalecimento de cumprimento dos códigos de conduta, em cooperação
com entidades profissionais e universidades;
- Registro de profissionais de saúde: médicos, enfermeiros e demais
profissionais, assegurando que tenham a necessária competência para a prática
relacionada a diagnóstico, prescrição, administração e dispensação;
- Licenciamento de estabelecimentos farmacêuticos: farmácias,
distribuidoras, assegurando que cumpram todos os padrões de funcionamento e de
dispensação;
- Monitorização e regulação da promoção de medicamentos,
assegurando informação ética e sem vieses;
- Todos os materiais promocionais devem ser isentos, fidedignos,
com informações balanceadas e atualizadas.
Portanto, o uso racional de medicamentos pode ser definido como o processo
que compreende a prescrição apropriada, a disponibilidade oportuna e a preços
acessíveis, a dispensação em condições adequadas, bem como o consumo nas
doses indicadas, nos intervalos definidos e no período de tempo indicado de
medicamentos eficazes, seguros e de qualidade.
Tal definição denota que a promoção do uso racional de medicamentos
depende de medidas educativas que envolvem os profissionais que atuam na área
da saúde, particularmente os prescritores e dispensadores, bem como os usuários
de medicamentos.
Nesse contexto, cabe ressaltar a premência da adequação dos currículos dos
cursos de graduação e pós-graduação de profissionais da área de saúde, uma vez
que as discussões sobre essa necessidade delongam-se demasiadamente,
carecendo de aplicação prática que reflita na melhoria das condições de saúde da
população. 10

Não há como negar que a população, hoje, apresenta problemas no acesso


aos serviços de saúde e aos produtos farmacêuticos indispensáveis. Os recursos
concedidos pelo governo para o financiamento da assistência farmacêutica são
insuficientes e utilizados sem que se tenha ideia de sua efetividade.
Concomitantemente, o caráter simbólico dos fármacos e seu entendimento
simplesmente como mercadoria, consequência da produção capitalista, faz da sua
utilização sem critério um problema de saúde pública.
A incorporação de novas tecnologias torna os produtos farmacêuticos
complexos, caros e frequentemente perigosos; no entanto, constituem o recurso
terapêutico mais empregado.
De acordo com a publicação “Cómo Investigar el uso de los medicamentos
por parte de los consumidores”, dos autores Anita Hardon, Catherine Hodgkin e
Daphne Fresle, disponível no site da Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS
(www.opas.org.br), nos países em desenvolvimento, os gastos com medicamentos
podem alcançar de 30 a 40% do gasto sanitário. Grande parte desse gasto
corresponde a compras individuais de medicamentos para a automedicação e, raras
vezes, para prescrição médica.
Segundo o mesmo artigo, os problemas comuns do uso inapropriado de
medicamentos são:
- Não utilizar o medicamento do modo que indica o prescritor
Esse é um problema que os agentes de saúde tentam diminuir e que têm sido
tema de numerosos estudos sobre o uso de medicamentos. As pessoas tendem a
esquecer dos detalhes do assessoramento que recebem, ou não compram todos os
medicamentos que lhe foram os administram em doses inadequadas.
Um estudo realizado por Homedes e Ugalde, em 1993, identificou quatro tipos
de pacientes que solicitam aconselhamento médico, mas não o seguem:
1. Os pacientes motivados que não conhecem ou esquecem a totalidade,
ou uma parte, das recomendações;
2. Os pacientes bem informados, mas insuficientemente motivados para
seguir as instruções; 11

3. Os pacientes que não podem seguir as recomendações porque são


pobres, não possuem acesso aos medicamentos ou por outras causas externas;
4. Os pacientes que trocam de opinião e por diferentes razões decidem
não seguir as recomendações.
Automedicação com medicamentos de venda sob prescrição (venda com
receita médica)

Em muitos países, as pessoas podem comprar livremente medicamentos que,


por lei, poderiam ser vendidos apenas com receita médica.
A automedicação com medicamentos de venda com receita é um problema
especialmente em países em desenvolvimento, nos quais as farmácias vendem
medicamentos sem exigir a receita, bem como os comércios não autorizados e os
pequenos armazéns. Algumas vezes, as pessoas inclusive se automedicam com
fármacos de venda com receita por conselhos de curandeiros tradicionais. As
pessoas guardam em casa os medicamentos que sobram e os retorna a utilizar ou
doa os mesmos a vizinhos e à família. Essa prática também é observada em países
em que a venda de medicamentos está mais bem controlada. A possibilidade de
comprar medicamentos pela internet faz com que os medicamentos disponíveis
somente com receita médica em um país possam ser comprados de outro onde o
controle é prescritos. Algumas vezes, os pacientes deixam de administrar os
medicamentos indicados ou menos rigoroso. A imigração e a maior mobilidade das
pessoas permitem que mais indivíduos comprem medicamentos do local onde é
mais fácil realizar essa compra, ou obtenha os medicamentos de familiares e
amigos. Por exemplo: imigrantes acostumados a adquirir livremente “medicamentos
de venda com receita” em seu país de origem podem obter dos amigos ou familiares
que o visitam.

- Uso inadequado de antibióticos


Os antibióticos são medicamentos importantes, mas são prescritos em
excesso e as pessoas se automedicam, realizando um uso abusivo dessa classe
para o tratamento de transtornos menores, como diarreia, resfriado e tosse. Quando
os antibióticos são utilizados com demasiada frequência e em doses inferiores às
recomendadas, as bactérias tornam-se resistentes. Esse problema preocupa
seriamente os responsáveis pelas políticas de saúde pública. A consequência é o 12

fracasso do tratamento quando os pacientes com infecções graves tomam


antibióticos. As pessoas compram doses inferiores às recomendadas porque não
podem custear o tratamento completo ou porque não sabem que é necessário
completar o tratamento.
Inclusive em países industrializados, em que a venda de medicamentos é
mais bem controlada, a inobservância ao tratamento prescrito é um problema
frequente. As pessoas que não sabem que é preciso completar o tratamento deixam
de administrar os antibióticos quando cessam os sintomas, enquanto que outras
administram doses maiores que as indicadas por acreditarem que assim serão
curadas mais rapidamente.

- Uso excessivo de injetáveis


Em muitos países, os agentes de saúde e os pacientes acreditam que as
injeções são mais eficazes que os comprimidos. Essa crença não somente gera
gastos desnecessários (em muitos casos os comprimidos são a modalidade
terapêutica mais barata), como também leva a riscos desnecessários para a saúde
nos lugares em que as injeções são administradas em condições inadequadas de
higiene, ou com seringas e agulhas que são utilizadas mais de uma vez e sem
esterilizar.

- Uso excessivo de medicamentos relativamente seguros


Em muitos países, as pessoas acreditam que “há uma pílula para cada
doença”. Antes da aparição de qualquer transtorno leve, imediatamente administra
medicamentos. Em numerosos países, as vitaminas e os analgésicos, como os
complexos polivitamínicos, ácido acetilsalicílico e paracetamol são os fármacos
(relativamente seguros) mais utilizados. Essa prática não é segura. A aspirina pode
provocar hemorragia gástrica e o paracetamol, em quantidades excessivas, pode
provocar a morte.
- Uso arriscado de ervas medicinais
- Nos países em desenvolvimento, a automedicação com ervas
medicinais é habitual. Em muitos destes países, há programas que verificam a
segurança e a eficácia dessas ervas, e algumas são selecionadas para fazer parte
dos programas nacionais de saúde. Nos países industrializados, também está 13

crescendo a utilização de ervas medicinais. As pessoas acreditam


que são “mais naturais” que os produtos farmacêuticos. Algumas ervas
medicinais são potentes e sua segurança não é tão evidente como se acredita. Além
disso, podem ser perigosas se administradas junto a produtos farmacêuticos. Por
exemplo, a erva antidepressiva hipérico (Erva de São João) não pode ser utilizada
com inibidores seletivos da recaptação de serotonina.
- Uso de combinações não essenciais de medicamentos
Quando apresentam tosse ou estão resfriadas, as pessoas tendem a tomar
toda a classe de medicamentos para tosse e resfriado, que contém mais de um
princípio ativo. Algumas vezes esses medicamentos, inclusive, contêm substâncias
de ações contrárias: uma que suprime a tosse e outra que a estimula. Esses
remédios não curam e constituem um gasto desnecessário.

- Uso de medicamentos caros desnecessariamente


Em muitos países, as pessoas escolhem os medicamentos por sua marca
comercial. Os produtos de marcas registradas frequentemente são mais caros que o
medicamento genérico que contém o mesmo princípio ativo. Além disso, as pessoas
não sabem que os medicamentos com diferentes nomes comerciais podem conter
exatamente a mesma substância. O preço dos medicamentos é um elemento
importante para os consumidores.

FATORES QUE INFLUENCIAM NO USO DE MEDICAMENTOS

Além disso, a mesma publicação do site da Organização Pan-Americana de


Saúde ainda cita os diferentes fatores que influenciam no uso de medicamentos:
 A família – as crenças individuais influenciam no modo pelo qual os
medicamentos são utilizados, e essas crenças podem ter sido moldadas por
integrantes da família. Além disso, outros fatores são importantes nesse nível:
 Percepção da necessidade de tomar medicamentos – os dados sugerem que
as pessoas têm perdido a confiança na capacidade do organismo em
combater doenças sem a “ajuda” dos medicamentos, inclusive quando se
tratam de transtornos de resolução espontânea, como o resfriado e a diarreia.
As pessoas administram medicamentos não somente para tratar os sintomas
de uma doença, mas por acreditarem que os medicamentos são necessários 14

para permanecer saudáveis;


 Ideias sobre eficácia e segurança – as pessoas utilizam os medicamentos de
acordo com suas próprias ideias de eficácia e segurança que, de acordo com
estudos antropológicos, dependem de alguns fatores, como: cor e forma do
medicamento; método de administração; “compatibilidade” entre o
medicamento e a pessoa que o utiliza; o fato de que o medicamento tenha
sido eficaz no passado; um medicamento novo (que acreditam ser mais
eficazes);
 Desconhecimento que leva à politerapia – frequentemente as pessoas
desconhecem as causas de um transtorno e também qual o tratamento mais
eficaz. Em consequência, tendem a utilizar distintos tratamentos
simultaneamente, muitas vezes combinando medicamentos tradicionais e
modernos. Se a doença é grave, é possível que consultem diferentes
prestadores de serviço de saúde, tradicionais e modernos;
 Papel da família em relação ao consumo de medicamentos – o uso de
medicamentos não depende somente das ideias da pessoa sobre os
medicamentos, mas também de seu papel na família com relação à compra
de medicamentos, sua administração e decisão de uso;
 Preço dos medicamentos – o preço é um fator importante que determina o
uso de medicamentos nos países em desenvolvimento, mas isso também
ocorre em países industrializados, entre os pacientes que não contam com a
cobertura de algum seguro médico;
 Níveis de alfabetização dos consumidores – a alfabetização determina o grau
de acesso à informação escrita sobre os medicamentos, como bulas ou
cartazes educativos com mensagens escritas;
 O “poder” dos medicamentos – nas famílias, o uso do medicamento depende
também da eficácia terapêutica. Os analgésicos possuem grande aceitação
porque aliviam a dor; os xaropes para tosse porque eliminam a tosse; os
antibióticos porque curam infecções.
 A comunidade – é o contexto imediato em que indivíduos e
famílias enfrentam seus problemas de saúde. As pessoas falam sobre os
tratamentos; acreditam e reforçam os padrões culturais do uso dos
medicamentos e dependem das fontes locais de abastecimento. Os fatores 15

que influenciam sobre o uso de medicamentos na comunidade são:


 padrões culturais sobre o uso do medicamento;

 sistema de abastecimento de medicamentos;

 canais de informação.

 As instituições de saúde – entre elas, os centros de saúde e os


hospitais públicos e6 privados influenciam sobre o uso de medicamentos:

 consulta aos agentes de saúde;

 qualidade da prescrição;

 qualidade da consulta;

 qualidade da dispensação;

 regularidade do abastecimento;

 preço dos medicamentos.

 O planejamento nacional – na maioria das economias em


desenvolvimento e transição, o gasto com medicamentos ocupa o
segundo lugar no gasto governamental em saúde, depois do gasto em
pessoal. Sobre o uso de medicamentos por parte dos consumidores,
influenciam as políticas governamentais de abastecimento de
medicamentos essenciais por meio do setor público e de
regulamentação da dispensação e promoção no setor privado.
 O planejamento internacional – onde também há fatores que influenciam no uso
de medicamentos, entre eles:

16
 regulamentação do comércio internacional e acesso aos
medicamentos;
 ajuda externa;
 organização internacional de defesa do consumidor;
 internet.

AS CONSEQUÊNCIAS DO USO INADEQUADO DE MEDICAMENTOS

Desde a época da Segunda Guerra Mundial, com a produção industrial de


fármacos em larga escala e a difusão sem limites da sociedade capitalista de
consumo, aprofundou-se a distância entre os significados dos termos saúde e
doença, e o produto farmacêutico passou a ser o meio quase imediato de se
alcançar o bem-estar ou de se superar os problemas sanitários da sociedade
moderna.
Assim, consolida-se o papel do fármaco como bem de consumo e se esquece
da sua finalidade de ser bem social. Segundo a Sociedade Brasileira de Vigilância
de Medicamentos (2001, p.56):(...) as consequências e o papel dominante que os
medicamentos adquiriram na sociedade e especialmente nos sistemas de saúde
abrangem necessariamente aspectos ideológicos. O medicamento é elemento que
está em relação com a natureza dos sistemas de saúde e muitas vezes contribuem
para a sobrevivência deles. O sistema de saúde se mantém com o medicamento e
este subsiste, se reproduz e se amplia graças a ele.
De alto custo e perigoso, o consumo irracional de produtos farmacêuticos é
um fenômeno extenso que se multiplica com rapidez em todo o mundo.
São numerosos os estudos que descrevem os problemas sanitários em razão
da utilização inadequada de fármacos.
Para Peretta e Ciccia (2000, p.23): (...) aproximadamente 50% da população
que toma remédios o faz de maneira incorreta, e 5% das internações hospitalares se
devem à falta de cumprimento de terapêuticas farmacológicas.
De acordo com o Banco Mundial, cita Machado dos Santos (2002, p. 357):
(...) somente 1/5 da população é consumidora regular de medicamentos (...) apenas
15% da população brasileira, com renda acima de dez salários mínimos, consomem
48% do mercado total; 51% da população com renda abaixo de quatro salários
mínimos consomem somente 16% desse mercado (...). Essas distorções quanto ao 17

acesso e consumo de fármacos trazem consigo diversos agravantes. Uma das


principais pode ser demonstrada por meio de um documento publicado em 1997,
pela OMS, no qual se estimava que 52 milhões de pessoas pudessem morrer no
mundo naquele ano. Dessas, 42 milhões morreriam em países em desenvolvimento,
1/3 seria de crianças menores que 5 anos e 10 milhões por causa de infecção
respiratória aguda, diarreia, tuberculose e malária.
A ideia de que mais de 60% dos tratamentos podem ser inúteis ou perigosos,
em uma época em quem há renda restrita na maior parte da população e limites dos
orçamentos públicos, é preocupação das mais alarmantes.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2002), durante as últimas décadas demonstrou-se por muitos
estudos que a morbidade e mortalidade causada por produtos farmacêuticos estão
entre os principais problemas de saúde, fato que começa a ser reconhecido pelos
profissionais de saúde e pelo público. Estima-se que as reações adversas a
fármacos estão entre a 4ª e a 6ª maiores causas de mortalidade nos EUA. Elas
provocam morte em milhares de pacientes a cada ano e muitos outros têm
sofrimento decorrente de reações adversas.
De acordo com o disposto no livro “Ciências Farmacêuticas, Farmácia Clínica
e Atenção Farmacêutica”, os eventos adversos relacionados a medicamentos podem
levar a importantes agravos à saúde dos pacientes, como relevantes repercussões
econômicas e sociais, sendo considerado atualmente um importante problema de
saúde pública. Dentre eles, os erros de medicação são ocorrências comuns e podem
assumir dimensões clinicamente significativas e impor custos relevantes ao sistema
de saúde. Em 1999, nos Estados Unidos, o informe do CommitteeonQualityof Health
Care in America destacou que os erros de medicação acarretam mais de 7.000
mortes por ano.
Segundo o mesmo livro, existem controvérsias quanto à terminologia dos
efeitos negativos do uso dos medicamentos, prejudicando a realização de estudos e
a comparação entre eles. Entre os conceitos considerados como mais importantes
atualmente tem-se:
 acidentes com medicamentos são todos os incidentes, problemas
ou insucessos, inesperados ou previsíveis, produzidos ou não por erro,
consequência ou não de imperícia, imprudência ou negligência, que ocorrem durante
o processo de utilização dos medicamentos. Englobam toda a sequência de 18

procedimentos técnicos ou administrativos e podem ou não estar relacionados a


danos ao paciente. É um termo amplo que engloba os conceitos de eventos
adversos, reações adversas e erros de medicação;
 eventos adversos são definidos como danos leves ou graves
causados pelo uso de um medicamento (ou pela falta de uso, quando este é
necessário). Esses eventos são classificados como evitáveis e inevitáveis, segundo
o American Societyof Health – System Pharmacists (1998). A presença do dano
deve ser enfatizada aqui como condição necessária para a caracterização de um
evento adverso; reação adversa, segundo a Organização Mundial da Saúde, é
qualquer efeito prejudicial ou indesejado que se apresenta após a administração de
medicamentos em doses normalmente utilizadas no homem para profilaxia,
diagnóstico ou tratamento de uma doença, ou com o objetivo de modificar uma
função biológica;
 erro de medicação, segundo o National Coordinating Council for
Medication Error Reportingand Prevention (1998, 2001), é qualquer evento evitável
que pode, de fato ou potencialmente, levar ao uso inadequado de medicamento
independente do risco de lesar ou não o paciente e do fato de o medicamento se
encontrar sob controle dos profissionais de saúde, do paciente ou do consumidor.

CAUSAS DE ERROS DE MEDICAÇÃO

Um estudo avaliou falhas no sistema de utilização de medicamentos que


causaram eventos adversos e demonstrou que 22% delas foram causadas por
conhecimento insuficiente sobre medicamentos por parte da equipe da saúde. Dos
erros de medicação, 50% ocorreram na transcrição e administração, 39% na
prescrição médica e 11% na dispensação (LEAPE et al., 1995). Cohen (1999)
classificou as causas de erros em seis grandes categorias, descritas abaixo:
– Falhas de Comunicação
- Problemas relacionados à prescrição médica
Prescrições ilegíveis ou pouco legíveis, ambíguas, incompletas e confusas
podem levar a erros. Os zeros, os pontos e os números decimais nas prescrições
aumentam a possibilidade de erros. O uso de U ou UI, representando unidades,
pode ser confundido com o número zero e levar à administração de insulina ou 19

heparina em doses dez vezes maiores que a prescrita.


A legislação brasileira determina que “somente será aviada a receita que
estiver escrita por extenso e de modo legível, observados a nomenclatura e o
sistema de pesos e medidas oficiais”, garantindo à farmácia o direito de não
dispensar os medicamentos de prescrições onde existam dúvidas causadas pela
caligrafia (BRASIL, 1973, p.5).

- Prescrições Orais

Os nomes dos medicamentos podem ser parecidos quando verbalizados,


originando erros por falha de interpretação. Por isso, as prescrições orais devem ser
evitadas e restritas a situações de emergência. Quando absolutamente necessárias,
devem ser feitas em linguagem clara e pausada, sendo uma norma de segurança
fazer com que a pessoa que está recebendo a prescrição verbal repita o que está
ouvindo.

- Semelhança de Nomes dos Medicamentos

A confusão entre medicamentos com nomes semelhantes, tanto em relação à


grafia quanto à sonoridade, pode levar os profissionais de saúde a enganos,
resultando em problemas para os pacientes.
A escolha dos nomes dos medicamentos não é baseada em preocupações
futuras de possíveis erros, tendo um forte componente de lógica comercial. Diante
disso, não são raros os erros relacionados à similaridade de nomes de
medicamentos quando escritos ou pronunciados.

- Identificação do Paciente
Pacientes com nomes semelhantes, homônimos, doentes confusos que
respondem inconscientemente o que lhes é perguntado, mudanças de leitos e
deambulação podem gerar problemas de administração de medicamentos a
pacientes errados. Uma das medidas para diminuir esse tipo de problema é a
prescrição conter de forma legível o nome completo do de medicamentos.

1 – Sistemas Inadequados de Dispensação de Medicamentos 20

2 - Erros de Cálculos das Doses

Existem dois tipos de erros por cálculos de dose, sendo o primeiro aquele em
que o médico não dispõe, não solicita ou deixa de levar em conta, para os cálculos
da dose, informações importantes sobre o paciente, como função renal ou hepática,
peso e idade. O outro é aquele em que houve erro no cálculo matemático
propriamente dito.
Os erros nos cálculos de doses dos medicamentos são mais comuns em
pediatria e com medicamentos utilizados por via intravenosa.

3- Problemas Relacionados à Rotulagem e Embalagem dos Medicamentos

As embalagens e rótulos dos medicamentos são desenhados segundo as


normas estabelecidas por instituições governamentais. As empresas e farmácias
hospitalares que reembalam os medicamentos também têm grande responsabilidade
em prover informações claras nas rotulagens dos seus produtos.

4 – Erros na Administração

A administração de medicamentos é geralmente a última oportunidade de se


evitar um erro. Alguns aspectos importantes para que sejam evitados são: dupla
checagem das diluições e dos cálculos de dose, atenção aos erros de comunicação
da prescrição, cuidado com as prescrições verbais, identificação segura do paciente,
bem como a orientação deste sobre seu tratamento medicamentoso.

5 – Educação do Paciente

O aconselhamento ao paciente é uma importante medida de prevenção de


erros, e os profissionais de saúde devem estar preparados e motivados para essa
atividade. São essenciais que os pacientes recebam informações seguras e claras
sobre os medicamentos, seus efeitos terapêuticos e reações adversas, os horários e
a via de administração.
Segundo Carlos Cezar Flores Vidotti e Rogério Hoeller, em publicação
realizada em 2006 na revista Farmacoterapêutica (Conselho Federal de Farmácia - 21

CFF e Centro Brasileiro de Informações sobre Medicamentos – CEBRIM), o


exercício profissional do farmacêutico na farmácia comunitária no Brasil é
desafiador, injusto e indigno, embora seja este um dos locais que mais caracterizam
a profissão. Mesmo considerando, hoje, décadas de mudança no discurso de
entidades farmacêuticas em favor da valorização do farmacêutico, o avanço da
atuação desse profissional em atenção primária e na promoção do uso correto de
medicamentos segue a passos lentos, talvez em velocidade insuficiente para
acompanhar as profundas mudanças que têm ocorrido na sociedade global e, em
especial, na sociedade brasileira.
Ainda assim, cabe ao farmacêutico, como profissional especialista em
medicamentos, executar ações de modo a identificar, prevenir e resolver os
problemas relacionados ao uso do medicamento, de modo a garantir a saúde do
paciente.

A HISTÓRIA DA FARMÁCIA CLÍNICA E DA ATENÇÃO FARMACÊUTICA

A PRÁTICA DA FARMÁCIA COMO PROFISSÃO

De acordo com os professores Tarcísio José Palhano e José Aleixo Prates e


Silva - no livro Ciências Farmacêuticas Farmácia Clínica e Atenção Farmacêutica - a
prática da farmácia, enquanto profissão, tem ocorrido a olhos vistos em nosso País
desde o Império. A primeira legislação federal de que se tem registro é o Decreto n°
20.377, ato do presidente Getúlio Vargas, em seu Governo Provisório, no ano de
1931, com o qual a farmácia é consignada como estabelecimento profissional do
farmacêutico.
Contudo, no mesmo ano, sob pressão de leigos, a natureza profissional da
farmácia era descaracterizada, posto que o Decreto n° 20.627 já estabelecia a
possibilidade de o farmacêutico participar de sociedade com leigos, com um mínimo
de 30% do capital da empresa, preservando sua responsabilidade técnica pelo
estabelecimento, uma discrepância sanitária acolhida por farmacêuticos da época
como uma conquista da categoria.

O SURGIMENTO DA FARMÁCIA CLÍNICA MODERNA 22

Conforme citado por Marcelo PolacowBisson em seu livro Farmácia Clínica –


Atenção Farmacêutica, a história da Farmácia Clínica moderna começa com o final
da Segunda Guerra Mundial em um ambiente de grande desenvolvimento, com o
lançamento de diversos fármacos e a introdução de uma tecnologia farmacêutica
capaz de uma produção em larga escala.
Com a indústria farmacêutica em amplo desenvolvimento e as atividades de
manipulação magistral diminuindo sensivelmente, os farmacêuticos começam a
repensar o currículo dos cursos de Farmácia, principalmente nos Estados Unidos,
com um direcionamento para as atividades clínicas. O eixo da profissão começa a
mudar da manipulação para a assistência aos usuários de medicamentos.
O termo “Farmácia Clínica” adquiriu popularidade a partir da segunda metade
da década de 1960. Entretanto, em 1921, J.C. Krantz já afirmava que os
farmacêuticos deveriam ser capacitados por meio de programas práticos para
fornecer “serviços clínicos”.
A Farmácia Clínica surgiu no ambiente hospitalar, onde existe supervisão
contínua do paciente.
É importante ressaltar que a preocupação com o usuário de medicamentos
começa a ganhar força na década de 1960, com o uso indiscriminado da talidomida
e as consequências nefastas que isso provocou, tornando imprescindível a avaliação
clínica de novas drogas e o acompanhamento do uso em larga escala dos
medicamentos comercializados. Começam a surgir nessa ocasião ciências como a
farmacoepidemiologia e a farmacovigilância, que por meio do acompanhamento
sistemático do uso começa a melhorar a segurança do usuário de medicamentos.
No entanto, essa mudança não foi sentida no Brasil, uma vez que o modelo
adotado no país na década de 1960 contemplava a formação pelas habilitações nas
áreas de análises clínicas, industrial ou de alimentos. As disciplinas clínicas, como a
farmacologia clínica, farmacoterapia e semiologia, simplesmente inexistiam na
prática, enquanto disciplinas como química orgânica, química analítica e físico-
química dominavam o ciclo básico. Essa situação perdurou até as décadas de 1970
e 1980, quando farmacêuticos de hospitais-escola começaram a introduzir novas
ferramentas de dispensação, como a dose unitária e as atividades clínicas, em suas
rotinas de trabalho.
Na década de 1970, o farmacêutico praticamente desapareceu das farmácias 23

e drogarias brasileiras, persistindo o hábito negativo e antiético de “assinar”, ou seja,


ser o responsável técnico do estabelecimento, sem prestar a devida assistência. A
população ficava sem receber a atenção clínica do farmacêutico e à mercê do
mercantilismo de alguns proprietários de farmácia.
Em 1988, em Nova Deli (Índia), reuniu-se um grupo consultivo da
Organização Mundial da Saúde – OMS – para discutir o papel do farmacêutico no
sistema de saúde, cujo relatório representa um marco importante na reorientação da
atuação do farmacêutico, que deixa de ser centrada no medicamento e passa a ser
voltada aos usuários.
Nesta década de 1980, também começam a surgir nos cursos de farmácia de
algumas universidades brasileiras as disciplinas de farmácia hospitalar, farmácia
clínica e farmacoterapia, gerando o início das atividades clínicas também fora dos
hospitais.
Em 1993, em Tókio, a Federação Farmacêutica Internacional (FIP) editou o
documento “Boas Práticas de Farmácia: Normas de Qualidade dos Serviços
Farmacêuticos”, endossado pela OMS. O documento, conhecido como a
“Declaração de Tókio” expressa: “a missão da prática farmacêutica é dispensar
medicamentos e outros produtos e serviços para o cuidado à saúde, e ajudar as
pessoas e a sociedade a utilizá-los da melhor maneira possível”. Nesse documento
também está explícito que o paciente e a comunidade são os principais beneficiários
das atividades do farmacêutico.
Em 1994, a Assembleia Mundial da Saúde aprovou a resolução WHA 47.12,
que trata do apoio provido pelos farmacêuticos à Estratégia Revisada da OMS sobre
Medicamentos, onde é solicitada a “promoção em parceria com outros profissionais
da saúde, do conceito de atenção farmacêutica como uma maneira para alcançar o
uso racional de medicamentos e de participar ativamente na prevenção de doenças
e na promoção à saúde”.
O grupo consultivo da OMS, reunido em 1997, em Vancouver, ao analisar a
necessidade de serviços farmacêuticos nos sistemas de saúde, em termos mundiais,
identificou papéis considerados essenciais, expressos como o “farmacêutico sete
estrelas”, no documento, preparando o farmacêutico do futuro, como:
1. provedor de cuidados;
2. ser capaz de tomar decisões;
3. comunicador; 24

4. líder;
5. gerente;
6. aprendiz permanente;
7. educador.

De acordo com o relatório, os farmacêuticos devem possuir conhecimentos,


atitudes, habilidades e comportamentos específicos para o desempenho efetivo
desses papéis.

O SURGIMENTO DA ATENÇÃO FARMACÊUTICA

Assim, é somente na década de 1990 que o farmacêutico começa seu retorno


às origens e reencontra sua vocação assistencial e clínica nos hospitais, farmácias e
drogarias, enquanto começa a encontrar espaço também na indústria farmacêutica
em departamentos de pesquisa clínica, serviço de atendimento ao cliente (SAC) e
farmacovigilância. Surge nessa época a atenção farmacêutica. Hoje considerada a
principal atividade do farmacêutico em farmácia clínica, ela se baseia no processo
de anamnese/análise/orientação/seguimento e utiliza conhecimentos de
farmacoterapia, patologia, semiologia, interpretação de dados laboratoriais e
relações humanas.
No Brasil, o processo de promoção da Atenção Farmacêutica iniciou-se em
2000 por meio de uma consulta de experiências e reflexões sobre Atenção
Farmacêutica no site da OPAS/OMS, que deu origem à proposta de Consenso
Brasileiro de Atenção Farmacêutica. Nesse documento, a Atenção Farmacêutica foi
incorporada à Assistência Farmacêutica, e com A proposta de consenso foi
amplamente divulgada e discutida nos eventos subsequentes: oficina de trabalho em
2001, duas reuniões complementares em 2002, no I Fórum isso tem-se levado em
conta, para a promoção e formação de profissionais para essa prática, o modelo de
atenção e os princípios do SUS, conforme proposto na oficina de trabalho e nas
reuniões complementares, que tem sido desenvolvida com a perspectiva de
integralizar as ações de saúde.
Nacional de Atenção Farmacêutica em 2003, na I Conferência Nacional de
Política de Medicamentos e Assistência Farmacêutica em 2003, e no II Fórum
Nacional de Atenção Farmacêutica em 2004, que contribuíram com a elaboração de 25

diversas estratégias e definições de responsabilidades.


Nessa década, começa a despontar na América do Norte e logo chega ao
Brasil um movimento chamado “medicina baseada em evidências”, em que os
protocolos clínicos são extremamente valorizados e a busca por melhores condutas
terapêuticas passam a ser determinante no acompanhamento clínico de um
paciente. O farmacêutico passa a ser peça- chave nesse processo devido aos seus
vastos conhecimentos farmacoterapêuticos.
Em 2001, o Conselho Federal de Farmácia, em conformidade com as
recomendações internacionais, e considerando o quadro traçado no mercado
farmacêutico brasileiro e da profissão farmacêutica, dentro de suas atribuições de
zelar pela saúde pública, editou a Resolução n° 357, que aprova o regulamento
técnico das Boas Práticas de Farmácia para o Brasil. Este, entre muitos outros
tópicos, determina aos farmacêuticos: “promover ações de informação e educação
sanitária” (Art. 2°, inciso VII)”; “... explicar clara e detalhadamente ao paciente o
benefício do tratamento, conferindo-se a sua perfeita compreensão,. ” (Art. 31).
Com a introdução do perfil generalista nos cursos de Farmácia a partir de
2002, começou a crescer a preocupação com as atividades clínicas a serem
desenvolvidas pelo farmacêutico, e disciplinas como farmácia clínica, farmacoterapia
e atenção farmacêutica passam a fazer parte, pouco a pouco, do currículo de várias
faculdades de farmácia.
A Atenção Farmacêutica constitui uma nova filosofia de exercício profissional
farmacêutico, já que está regulamentada pela Lei 8080/1990 que, em seu capítulo I,
artigo 6°, parágrafo 1º, declara que “estão incluídas, no campo de atuação do SUS,
a execução de ações de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica”.
Não existe, porém, uma concepção concreta da prática de tal conceito (SILVA &
PRANDO, 2004).
Isso então permite a cada farmacêutico certa flexibilidade para adaptar a
provisão da Atenção Farmacêutica à sua realidade, seus próprios recursos e
habilidades, procurando sempre uma farmacoterapia racional, segura e custo efetivo
para o cuidado do paciente (SILVA & PRANDO, 2004).
Além disso, a variabilidade enorme de patologias, unida à ampla
disponibilidade terapêutica, oferece múltiplas possibilidades de abordagem e
resolução de um mesmo caso.
26

A FARMACOEPIDEMIOLOGIA E A FARMACOVIGILÂNCIA

Existem duas áreas que se relacionam diretamente com a Farmácia Clínica e


com a Atenção Farmacêutica: a Farmacoepidemiologia e a Farmacovigilância.
Associando-se o conhecimento proveniente da Farmacologia Clínica e da
Epidemiologia, surge a Farmacoepidemiologia, que pode ser definida como a
aplicação do conhecimento, métodos e raciocínio para estudar os efeitos tanto
benéficos como adversos, bem como o uso de medicamentos em populações
humanas. Possui como objetivo descrever, explicar, predizer e controlar os efeitos e
usos de tratamentos farmacológicos em populações definidas no tempo e espaço
(STROM, 2000).
Nos tempos atuais, em decorrência da crescente demanda por novos
fármacos concebidos muitas vezes sob intensa pressão comercial, a
Farmacoepidemiologia, com suas contribuições, passa a ter importância estratégica
na operação de sistemas de saúde em quase todos os países do mundo.
A Farmacoepidemiologia propõe-se como uma forma de abordagem capaz de
ultrapassar as limitações usualmente observadas nos estudos das ações dos
fármacos. Para isso, essa ciência organiza-se em dois grandes grupos de ações: a
Farmacovigilância e os Estudos de Utilização de Medicamentos.
A Farmacovigilância, segundo Laporte e Tognoni (1993), é a “identificação e
avaliação dos efeitos, agudos ou crônicos, do risco do uso dos tratamentos
farmacológicos no conjunto da população ou em grupos de pacientes expostos a
tratamentos específicos”.
Mais recentemente, a organização Mundial da Saúde apresenta a
Farmacovigilância como sendo a ciência e as atividades relativas à detecção,
determinação, compreensão e prevenção de eventos adversos ou qualquer outro
possível problema relacionado a medicamentos. Ressalta, ainda, que a
abrangência da Farmacovigilância deve ser ampliada para incluir a segurança de
toda tecnologia relativa à saúde, incluindo medicamentos, vacinas, produtos do
sangue, biotecnologia, fitoterápicos e a medicina tradicional.
A Farmacovigilância, também conhecida como “ensaios pós-comercialização”
ou “Fase IV”, tem como um de seus principais objetivos a detecção precoce de
reações adversas, especialmente as desconhecidas.
É necessário promover a Farmacovigilância, após o registro de um novo 27

medicamento, possibilitando assim que o perfil de segurança dos medicamentos


seja sempre atualizado, considerando que o desenvolvimento de um medicamento
não termina no momento em que o fabricante recebe uma autorização de
comercialização (STROM, 2000).
A Atenção Farmacêutica é uma das entradas do sistema de
Farmacovigilância, ao identificar e avaliar problemas/riscos relacionados à
segurança, efetividade e desvios de qualidade de medicamentos, por meio do
acompanhamento/seguimento farmacoterapêutico ou outros componentes da
Atenção Farmacêutica. Isso inclui a documentação e a avaliação dos resultados,
gerando notificações e novos dados para o sistema por meio de estudos
complementares.
Na medida em que o Sistema de Farmacovigilância retroalimenta a Atenção
Farmacêutica, por meio de alertas e informes técnicos, informações sobre
medicamentos e intercâmbio de informações, potencializa as ações clínicas
individuais (acompanhamento/seguimento, dispensação, educação...), outras
atividades de Atenção e Assistência Farmacêutica como o processo de seleção de
medicamentos, a produção de protocolos clínicos com prática baseada em
evidências, integrada nas ações interdisciplinares e multiprofissionais, entre outras.
Dessa forma, obtém-se a melhora da capacidade de avaliação da relação
benefício/risco, otimizando os resultados da terapêutica e contribuindo para a
melhoria da qualidade de vida e adequação ao arsenal terapêutico.

A FARMÁCIA COMO ESTABELECIMENTO DE SAÚDE

Na condição de estabelecimento que integra os sistemas de saúde, a


farmácia apresenta vantagens, tais como: fácil acesso a um profissional de saúde;
condições adequadas para a participação em campanhas sanitárias (vacinação, p.
ex.); redução de gastos com tratamentos, por possibilitar a intervenção primária e
encaminhamento à assistência médica; aumento na observância à terapêutica
farmacológica prescrita, com consequente melhora na qualidade de vida do usuário.
Porém, um dos fatores que hoje descaracteriza as farmácias quanto à
assistência à saúde é que se criou na mente do consumidor, que na maioria dos
estabelecimentos farmacêuticos preponderam os interesses comerciais. Para que a
população volte a ter confiança na farmácia e a reconheça como estabelecimento de 28

saúde, é necessário que se ofereça um atendimento diferenciado, onde o


farmacêutico, devidamente habilitado e qualificado, seja capaz de oferecer
orientações e informações sobre medicamentos e estar realmente envolvido na
busca de soluções aos pacientes (SCHENKEL, 1991).
A atual expansão das drogarias contribuiu para afastar os farmacêuticos das
farmácias, os estabelecimentos transformaram-se em locais de negócios. No Brasil,
o conceito de medicamentos ainda não passa de uma mercadoria qualquer. As
farmácias e drogarias (principalmente) transformaram-se em mercearias e estão
mais sujeitas às regras do mercado que as regras sanitárias. Nelas comete-se a
alvitante e irresponsável ”empurroterapia”, em que o balconista do estabelecimento
oferece qualquer medicamento ao paciente à revelia de prescrição médica e da
dispensação do farmacêutico, atendendo exclusivamente aos apelos do negócio e
do lucro (SANTOS, 2000).
A verdadeira vocação da farmácia é a de ser um estabelecimento de consulta
farmacêutica e não mais um mero ponto de dispensação. Ela é um lugar em que as
pessoas buscam cada vez mais informações sobre saúde com vistas a melhorar a
qualidade de vida (SANTOS, 2002).

DESAFIOS DO PROFISSIONAL FARMACÊUTICO

Como citado anteriormente, a atividade de manipular medicamentos sofreu


forte impacto com a industrialização. A ameaça de mudanças de paradigmas gerou,
também, oportunidades na orientação sobre o uso correto de medicamentos e outras
atividades de promoção à saúde. Porém, o ensino farmacêutico, em sua maioria,
não foi adaptado à nova realidade da farmácia, o que tem acarretado choque entre
valores éticos, dos farmacêuticos e mercantis, das indústrias e do comércio.
Para transformar os desafios em oportunidades, os farmacêuticos precisam
atualizar- se e assumir atitude proativa na busca de soluções para problemas que
lhes são colocados no ambiente de trabalho.
A IMPORTÂNCIA DO PROFISSIONAL FARMACÊUTICO NA PRÁTICA DA
ATENÇÃO FARMACÊUTICA

29

FONTE: Disponível em> <www.cefarma.com.br>.

“O papel do Farmacêutico no mundo é tão nobre quão vital. O Farmacêutico


representa o órgão de ligação entre a medicina e a humanidade sofredora. É o
atento guardião do arsenal de armas com que o Médico dá combate às doenças. É
quem atende às requisições a qualquer hora do dia ou da noite. O lema do
Farmacêutico é o mesmo do soldado: servir.
Um serve à pátria; outro serve à humanidade, sem nenhuma discriminação de
cor ou raça. O Farmacêutico é um verdadeiro cidadão do mundo. Porque por
maiores que sejam a vaidade e o orgulho dos homens, a doença os abate - e é
então que o Farmacêutico os vê. O orgulho humano pode enganar todas as
criaturas: não engana ao Farmacêutico. O Farmacêutico sorri filosoficamente no
fundo do seu laboratório, ao aviar uma receita, porque diante das drogas que
manipula não há distinção nenhuma entre o fígado de um Rothschild e o do pobre
negro da roça que vem comprar 50 centavos de maná e sene.” Monteiro Lobato

ELEMENTOS PRESENTES NA REALIDADE DO PROFISSIONAL


FARMACÊUTICO
De acordo com a Proposta do Consenso Brasileiro de Atenção Farmacêutica
(Atenção Farmacêutica no Brasil: Trilhando Caminhos – 2001-2002), no que se
refere ao contexto da prática farmacêutica no Brasil, alguns elementos foram
identificados e explicitam aspectos fundamentais da realidade, traduzida, entre 30

outras, pelas seguintes considerações:


- crise de identidade profissional do farmacêutico e, em
consequência, falta de reconhecimento social e sua pouca inserção na equipe
multiprofissional de saúde, não representando um referencial como profissional de
saúde na farmácia. Porém, existe uma busca de conhecimento como ferramenta
para interferir no processo de melhoria da qualidade de vida da população e para
que haja valorização do profissional farmacêutico no País;
- deficiência na formação, excessivamente tecnicista, com incipiente
formação na área clínica. Descompasso entre a formação dos farmacêuticos e as
demandas dos serviços de atenção à saúde, tanto públicos quanto privados e nos
diferentes níveis, bem como daquelas referentes ao setor produtivo de
medicamentos e insumos necessários ao âmbito da saúde. Falta de diretrizes e
escassez de oportunidades de educação continuada;
- dissociação entre os interesses econômicos e os da saúde coletiva,
com predomínio dos primeiros, resultando na caracterização da farmácia como
estabelecimento comercial e do medicamento como um bem de consumo,
desvinculados do processo de atenção à saúde;
- prática profissional desconectada das políticas de saúde e de
medicamentos, com priorização das atividades administrativas em detrimento da
educação em saúde e da orientação sobre o uso de medicamentos;
- iniquidade no acesso aos medicamentos, embora exista um
compromisso crescente dos gestores, farmacêuticos e de outros profissionais da
saúde com a garantia de acesso da população às ações de atenção à saúde,
incluindo-se a Assistência Farmacêutica, tanto no setor público quanto privado;
- embora existam definições legais referentes à Assistência
Farmacêutica e à política de medicamentos, há problemas referentes à sua efetiva
implementação, incluindo-se a definição de mecanismos e instrumentos para a sua
organização, avaliação e possíveis redirecionamentos.
- falta de integração e unidade entre as entidades representativas da
categoria farmacêutica e outros segmentos da sociedade em torno das políticas de
saúde.
O FARMACÊUTICO NA PRÁTICA DA ATENÇÃO FARMACÊUTICA

É acentuado o crescimento do uso de medicamentos em nível mundial, visto


31
que a terapia medicamentosa é a forma mais frequente de intervenção médica em
qualquer ambiente. Há certa pressão da sociedade para que ocorra a prescrição do
medicamento (“medicamento = cura!”). Muitos pacientes exigem do profissional
médico a prescrição, pois o medicamento, para eles, é considerado a cura dos seus
sintomas, de seu problema de saúde, da sua doença.
Com isso, grande atenção tem sido dedicada atualmente pelos órgãos
governamentais a fim de realizar a avaliação do custo econômico da
morbidade/mortalidade relacionada ao medicamento.
É esse o ponto de atuação do farmacêutico na prática da Atenção
Farmacêutica: contribuir para a redução da morbidade/mortalidade relacionada ao
uso de fármacos.
A importância dessa atuação fica explícita ao verificar-se que apenas o
diagnóstico correto, a prescrição adequada e a dispensação exata não são garantia
do sucesso da farmacoterapia. O seu sucesso depende também de outras variáveis,
como, por exemplo:
 adesão do paciente ao tratamento;
 características individuais de cada paciente (genética);
 qualidade do medicamento (qualificação dos fornecedores);
 eventos adversos:
 interações medicamentosas;
 interações alimentares,
 iatogenia (eventos não esperados) ;
 efeitos colaterais, também denominados reações adversas, que
apesar de serem eventos esperados, os pacientes, muitas vezes, não têm
conhecimento;
 conhecimento sobre o medicamento e a doença;
 demora na resolução do problema, motivo pelo qual os pacientes
devem ser orientados quanto aos fármacos que não respondem prontamente
(antidepressivos, por exemplo);
 muitas vezes, sem a orientação, a pessoa acredita que a
farmacoterapia não é efetiva e interrompe o uso do medicamento;
 carência de recursos para a aquisição de medicamentos;
 resolução do problema aparentemente rápida, como, por
exemplo, no uso de antibióticos em que o paciente interrompe o uso em período 32

inferior ao estipulado por acreditar que se encontra “curado”, já que não apresenta
mais os sintomas;
 tratamentos prolongados, como com antidiabéticos e anti-
hipertensivos;
 falta de adaptação ao regime posológico;
 falta de credibilidade na informação repassada ou no profissional.

Considerando que, na maioria das variáveis citadas acima, pode ocorrer


intervenção do profissional farmacêutico, este torna-se, sim, uma peça-chave no
tratamento farmacoterapêutico do paciente, sendo um dos responsáveis pelo
sucesso do mesmo.
A atenção primária previne as populações contra doenças, livrando o cidadão
da internação hospitalar, barateando os custos. O farmacêutico, além de prestar
orientação sobre as doenças, ajudando a preveni-las, vai informar sobre os
medicamentos com vistas a racionalizar o seu uso e evitar erros na terapêutica. As
ações farmacêuticas significam segurança para a população, especialmente para
quem toma medicamentos (SANTOS, 2002).
O processo de globalização afirma que o farmacêutico ainda é o único
profissional de saúde em contato contínuo com a população. Com a falsificação de
medicamentos e a implantação da política de genéricos no Brasil, a procura pelo
profissional farmacêutico para o esclarecimento dessas e outras dúvidas da
população encontra-se em franco crescimento. Dessa forma, o farmacêutico deve
estar devidamente habilitado e qualificado para prestar a Atenção às comunidades,
orientando quanto ao uso racional de medicamentos (LYRA JR., 2000).
Para a realização da Atenção Farmacêutica, o profissional farmacêutico
deverá possuir as seguintes características:
 capacidade de atender o paciente e atuar diretamente junto ao
mesmo;
 capacidade de identificar, resolver e prevenir os problemas
relacionados aos medicamentos (PRM’s);
 enfoque na saúde e bem-estar do paciente;
 responsabilidade por atender às necessidades do paciente;
 possuir como foco os resultados mensuráveis, resultados 33

clínicos.
O farmacêutico pode, com esse direcionamento clínico, melhorar os
resultados farmacoterapêuticos, seja por intermédio de aconselhamento, de
programas educativos e motivacionais, ou até da elaboração de protocolos clínicos,
baseados em evidências comprovadas com o estabelecimento de melhores regimes
terapêuticos e monitoração desses procedimentos.
No código de ética da profissão farmacêutica, regulamentado pela Resolução
do Conselho Federal de Farmácia nº 417, de 29 de setembro de 2004, encontra-se
uma grande preocupação com o lado assistencial do farmacêutico. Ele estabelece
como princípios e deveres do farmacêutico o exercício da assistência farmacêutica e
o fornecimento de informações ao usuário dos serviços, além da necessidade de
contribuir para a promoção da saúde individual e coletiva, principalmente no campo
da prevenção.
Na atenção farmacêutica, o farmacêutico deve sentir-se responsável pela
conquista dos resultados esperados para cada paciente. A oferta da Atenção
Farmacêutica representa uma maturidade da farmácia como profissão e uma
evolução natural das atividades maduras da farmácia clínica e dos farmacêuticos.
Muitas associações profissionais consideram que a Atenção Farmacêutica é
fundamental para os objetivos da profissão no que consiste em ajudar as pessoas a
fazerem melhor uso dos medicamentos. Esse conceito unificado transcende a todos
os tipos de pacientes e a todas as categorias de farmacêuticos e organizações
(CLAUMANN, 2003).
O farmacêutico pode trabalhar com pacientes individualmente, em grupos ou
com famílias, mas independentemente de qual o grupo, o profissional deve sempre
incentivar o paciente a desenvolver hábitos saudáveis de vida a fim de melhorar os
resultados terapêuticos, trabalhando em conjunto, preferencialmente, com os demais
membros da equipe multidisciplinar de saúde.
O farmacêutico que deseja trabalhar em contato com pacientes, realizando a
Atenção Farmacêutica, deve possuir uma série de conhecimentos e habilidades que
serão discutidas, porém a grande dificuldade será transportar os conceitos e as
ferramentas teóricas para o dia a dia do profissional, passando pela mudança
cultural dos próprios farmacêuticos, pela valorização da profissão perante a
sociedade e, principalmente, os administradores de saúde e órgãos governamentais.
Seja como curador das antigas civilizações, boticário de séculos recentes ou 34

o farmacêutico atual, algo une-os e mantém-se intacto: a disposição para cuidar de


seus pacientes no momento em que eles se fragilizam por uma dor ou uma doença.
(CLAUMANN, 2003)
Muito além de ser um simples dispensador de remédios, o farmacêutico está
envolvido no processo de pesquisa de novas drogas, no estudo de efeitos colaterais
e de reações adversas dos medicamentos já existentes, na fabricação de
cosméticos, na medicação de doentes hospitalares, na fiscalização sanitária e em
outras atividades que asseguram a qualidade de vida (CLAUMANN, 2003).
Arcar com tamanha responsabilidade não é tão simples como possa parecer.
Mais que boa vontade e alguns anos de estudos universitários, um bom
farmacêutico necessita estar a par dos avanços medicinais, das novidades da sua
área e das mudanças da sociedade (POLAKIEWICZ, 2002).
A informação, assessoramento e orientação ao paciente, prestados pelo
farmacêutico, fazem com que se aplique na prática um resgate da verdadeira função
do farmacêutico (COSTA, 2001).
A Atenção Farmacêutica é viável e praticável por farmacêuticos de todas as
áreas. A oferta dela não se limita aos farmacêuticos com residência ou outras
especializações. Também não se limita aos que desenvolveram atividades
acadêmicas ou de ensino. A Atenção Farmacêutica não é uma questão de títulos
formais ou de lugares de trabalho, mas de relações pessoais, diretas, profissionais e
responsáveis com o paciente que assegurem o uso adequado dos medicamentos e
melhore sua qualidade de vida (CLAUMANN, 2003).
Torna-se imprescindível ter em conta que o farmacêutico não tem a exclusiva
autoridade no assunto relacionado ao uso de medicamentos. O conceito de Atenção
Farmacêutica não diminui a função nem a responsabilidade de outros profissionais
de saúde. Também não implica usurpação da autoridade por parte dos
farmacêuticos. As ações que complementares (CLAUMANN, 2003).
Dentre as dificuldades enfrentadas pelos farmacêuticos na implantação da
Atenção Farmacêutica, ressalta-se que, na maioria das vezes, o farmacêutico da
farmácia pública ou hospitalar tem uma gama enorme de tarefas burocráticas que o
afasta do paciente e, assim como ocorreu em outros países, o farmacêutico
brasileiro precisa melhorar seu tempo, diminuindo as tarefas administrativas e
aumentando as atividades clínicas (BISSON, p.7.2003).
Está comprovado que o trabalho do farmacêutico aumenta a adesão do 35

paciente aos regimes farmacoterapêuticos, diminui custos nos sistemas de saúde ao


monitorar reações adversas e interações medicamentosas e melhora a qualidade de
vida dos pacientes.
Não se pode esquecer que o farmacêutico é o parceiro privilegiado do
sistema de saúde, da indústria farmacêutica e do consumidor. O farmacêutico é o
único profissional que conhece todos os aspectos dos medicamentos. Portanto,
pode dar uma informação privilegiada às pessoas que o procuram na farmácia
(CLAUMANN, 2003).
A farmácia é uma instituição de acesso fácil e gratuito, onde o usuário, muitas
vezes, procura em primeiro lugar o conselho amigo, desinteressado, mas seguro do
farmacêutico (ZUBIOLI, 2000).

INTRODUÇÃO À FARMÁCIA CLÍNICA E ATENÇÃO FARMACÊUTICA

Conforme Witzel, no livro Ciências Farmacêuticas Farmácia Clínica e Atenção


Farmacêutica (2008), seguem abaixo as considerações referentes à introdução da
Atenção Farmacêutica.
Nos últimos anos e, especialmente ao longo do século XX, em todos os
países, os sistemas de assistência sanitária passaram e ainda estão passando por
transformações sem precedentes. Isso afetou tanto o próprio conceito de saúde,
como a estrutura e organização colocada em prática pelos serviços de saúde em
sua luta contra a enfermidade e suas consequências. Tanto os profissionais que
prestam serviço de saúde quanto os indivíduos beneficiários diretos dos serviços
prestados estão examinando de maneira crítica suas necessidades, expectativas,
valores e critérios éticos. Concretamente, os profissionais da assistência sanitária
põem em dúvida sua função e suas responsabilidades tradicionais, e os limites
profissionais que estavam antes claramente delimitados estão cada vez mais
obscuros.
Além disso, os conhecimentos e as tecnologias médicas e farmacológicas
disponíveis para atuar tanto na prevenção quanto na terapêutica e reabilitação das
enfermidades têm evoluído substancialmente, de forma que se dispõe atualmente de
amplas possibilidades para superar as enfermidades e suas consequências.
O tratamento farmacológico constitui a forma mais frequente de intervenção
médica em assistência sanitária. Conforme Hepler; Graiger – Rousseaux (1995), 36

cerca de dois terços das consultas médicas nos Estados Unidos resultam em
renovação ou em nova prescrição de medicamentos. O uso do medicamento tem
crescido dramaticamente com o aumento da vida média da população, o aumento da
prevalência de doenças crônicas e a ampliação da variedade de medicamentos
efetivos.
Segundo Hepler; Graiger – Rosseaux (1995) “o propósito de toda terapia
medicamentosa deve ser o de aperfeiçoar a duração e a qualidade de vida das
pessoas. A disponibilidade de produtos farmacêuticos seguros e efetivos tem
melhorado o gerenciamento tanto de doenças agudas quanto crônicas no alcance
desses objetivos. [...] O medicamento é provavelmente a modalidade terapêutica
mais estudada na atualidade [...] e a terapia medicamentosa tem uma forte base
científica [...]. Contudo, apesar do extenso conhecimento científico, uma ampla
literatura mostra que frequentemente há falhas no controle dos riscos associados à
farmacoterapia”.
As funções do profissional farmacêutico na área assistencial estão passando
por uma vigorosa e rápida expansão em todas as dimensões, e a profissão está
tentando reorientar-se para satisfazer às necessidades que têm sido introduzidas
nos sistemas de saúde atuais.
Na década de 1960, os farmacêuticos tinham três escolhas básicas a fazer ao
optarem por atuar na área assistencial: farmácia comunitária, farmácia hospitalar e
docência. Em 1990, as escolhas possíveis ampliaram-se principalmente nos países
desenvolvidos, incluindo atendimento domiciliar, cuidados geriátricos,
gerenciamento, especialidades clínicas diversas, pesquisa, entre outras.
Essa ampliação de opções esteve diretamente relacionada aos grandes
movimentos ocorridos nesse século, que promoveram a redefinição do papel do
profissional farmacêutico que, apesar de relacionado ao medicamento, vem
passando por alterações significativas em diferentes locais. Há, atualmente, uma
tendência mundial em se fortalecer as atividades do farmacêutico junto ao paciente,
visando ao atendimento farmacêutico mais efetivo.
As discussões, no âmbito internacional, sobre a definição da missão, do papel
e funções do profissional farmacêutico intensificaram-se nas últimas décadas do
século XX, especialmente nos Estados Unidos e Europa, e mais recentemente têm
produzido reflexões críticas na América Latina, que vem buscando também
reorientar a prática farmacêutica, levando em consideração as características de 37

cada país e dos sistemas de saúde vigentes.


No Brasil, a discussão acerca dos termos Farmácia Clínica, Assistência e
Atenção Farmacêutica estão ocorrendo com grande intensidade. Esse movimento
vem ganhando o centro das discussões entre pesquisadores, formuladores de
políticas e profissionais. Contudo, o entendimento conceitual de cada um desses
termos e sua inter-relação ainda parece obscuro para a grande maioria dos agentes
envolvidos. Por esse motivo, faz-se necessário entender os aspectos conceituais e
filosóficos que foram construídos ao longo da própria profissão farmacêutica e que
não podem ser compreendidos sem uma breve retrospectiva histórica.

PANORAMA HISTÓRICO DA PROFISSÃO FARMACÊUTICA A PARTIR DO


SÉCULO XX

Segundo Hepler; Strand (1990), a profissão farmacêutica experimentou


significante crescimento e desenvolvimento nos últimos anos. No século XX, a
farmácia passou por três grandes períodos: o tradicional, o de transição e o de
cuidado do paciente, que está atualmente em desenvolvimento. Nesses três
estágios, podem-se identificar diferentes conceitos relativos à 1função e deveres do
farmacêutico.

ETAPA TRADICIONAL

A farmácia, no início do século XX, estava associada à figura do Boticário,


que preparava e comercializava produtos medicinais. Segundo Hepler; Strand
(1990): “[. ] Durante esta fase tradicional as principais funções do farmacêutico eram
a obtenção, o preparo e a avaliação dos produtos medicamentosos. Seu dever
primário era garantir que os fármacos que ele comercializava fossem puros, não
adulterados, e preparados segundo a arte, embora ele apresentasse um dever
secundário de prover recomendações aos indivíduos que o procuravam em busca de
fármacos de não prescrição [ ].”
Esse papel começou a ser adulterado quando a preparação de medicamentos
passou a ser desempenhada gradualmente pela indústria farmacêutica. Conforme
relatou Alvarez (1993) “[. ] Os grandes avanços científicos e tecnológicos que
permitiram a elaboração industrial de medicamentos produziram uma dissociação 38

entre a preparação universitária do farmacêutico e suas ações, especialmente nas


farmácias comunitárias. Os farmacêuticos começaram a sentir-se frustrados porque
grandes partes dos conhecimentos adquiridos na graduação acabavam sendo
perdidos, pois já não eram aplicados de forma permanente. A literatura norte-
americana começou a mencionar que os farmacêuticos estavam se convertendo em
meros dispensadores de produtos pré-fabricados, além de se distanciar da equipe
da saúde e do paciente [...].”
A partir dessas inquietudes, nasceu um movimento profissional que,
questionando sua formação e atitudes, determinou como poderiam ser corrigidos os
problemas que estavam sendo detectados. Assim, ao final da década de 1960,
começa a se falar de uma nova disciplina, a Farmácia Clínica, que permitia
novamente aos farmacêuticos participar da equipe de saúde, contribuindo com seus
conhecimentos para melhorar o cuidado dos pacientes (ALVAREZ, 1993).
Nesse momento, portanto, iniciava-se o período de transição profissional.

ETAPA DE TRANSIÇÃO

Esse período de transição foi de rápida expansão das funções do


farmacêutico e do aumento da diversidade profissional. Os farmacêuticos passaram
não somente a exercer novas funções, mas também começaram a inovar funções,
trazendo contribuições inéditas à literatura.

DEFINIÇÕES DA FARMÁCIA CLÍNICA

Conforme Witzel (2008), inicialmente foram propostas diferentes definições


para a Farmácia Clínica, como, por exemplo, farmácia orientada de forma
equivalente ao medicamento e ao indivíduo que a recebe; farmácia realizada ao lado
do paciente.
O conceito de Farmácia Clínica está imbuído pela filosofia de que o
farmacêutico deve utilizar seu conhecimento profissional para promover o uso
seguro e apropriado de medicamentos nos e pelos pacientes, em trabalho conjunto
com outros profissionais da área da saúde. Esse conceito é confirmado pela
literatura desde a década de 1960, com ampla documentação de diversos tipos de
serviços e atividades clínicas. Os primeiros relatos descreviam o papel do 39

farmacêutico na resolução de erros de medicação ou reações adversas a


medicamentos, detecção de interações entre medicamentos ou entre medicamentos
e exames laboratoriais, detecção de incompatibilidade entre misturas intravenosas e
doenças induzidas por medicamentos.
O termo “Farmácia Clínica” adquiriu popularidade a partir da segunda metade
da década de 1960. Entretanto, em 1921, J.C. Krantz já afirmava que os
farmacêuticos deveriam ser capacitados para fornecer serviços clínicos.
A Farmácia Clínica, conforme já mencionado, surgiu no ambiente hospitalar,
onde existe supervisão contínua do paciente. Até a época da Segunda Guerra
Mundial, o farmacêutico hospitalar era o profissional especializado na produção de
medicamentos necessários ao atendimento dos pacientes. O desenvolvimento da
indústria farmacêutica, a partir das décadas de 1940 e 50, levou a uma
transformação da profissão farmacêutica no hospital, e a ênfase do trabalho do
farmacêutico hospitalar passou da manipulação e produção de medicamentos ao
fornecimento de informações sobre os mesmos.
Ainda como consequência do desenvolvimento da indústria farmacêutica, que
trouxe um grande aumento do número de fármacos sintéticos disponíveis no
mercado, verificou-se um aumento na frequência de problemas relacionados ao uso
de medicamentos. A Farmácia Clínica surgiu com a finalidade de reduzir a
ocorrência de tais problemas, por meio do acompanhamento dos pacientes.
Diversas definições foram elaboradas com o objetivo de caracterizar a
Farmácia Clínica. A definição a seguir foi estruturada por Robert Miller, em 1968: “A
Farmácia Clínica é a área do currículo farmacêutico que lida com a atenção ao
paciente com ênfase na farmacoterapia. A Farmácia Clínica procura desenvolver
uma atitude orientada ao paciente. A aquisição de novos conhecimentos é
consequência do desenvolvimento de habilidades de comunicação interprofissional e
com o paciente”.
Segundo a ASHP (American Society of Hospital Pharmacists – Sociedade
Americana de Farmacêuticos de Hospitais), a Farmácia Clínica pode ser definida
como “a ciência da saúde cuja responsabilidade é assegurar, mediante a aplicação
de conhecimentos e funções relacionadas ao cuidado dos pacientes, que o uso de
medicamentos seja seguro e apropriado; necessita, portanto, de educação
especializada e treinamento estruturado, além da coleta e interpretação de dados,
da motivação pelo paciente e de interações multiprofissionais”. 40

Embora tenham sido formulados vários conceitos sobre Farmácia Clínica, em


essência sempre houve mais similaridade do que diferenças entre eles. Assim, a
Sociedade Americana de Farmacêuticos de Hospital, resume: [. ] O exercício da
farmácia clínica implica aplicação de conhecimentos em nome do paciente, quando
são considerados os processos de sua enfermidade e sua necessidade de
compreender o tratamento medicamentoso. A prática requer uma estreita relação
entre a farmácia e o paciente, o médico e os profissionais de saúde. A farmácia
clínica está orientada ao paciente, à enfermidade e ao medicamento, e a prática tem
uma orientação interdisciplinar (SOCIEDADE AMERICANA DE FARMACÊUTICOS
DE HOSPITAL, 1991, p.6)
Segundo Holland & Nimmo (1999), a farmácia clínica é uma prática que
aprimora a habilidade do médico para fazer boas decisões sobre medicamentos. Ao
médico cabe a responsabilidade pelos resultados da farmacoterapia e ao
farmacêutico fornecer serviços de suporte adequados e conhecimentos
especializados sobre a utilização do medicamento.
É possível verificar que todas as definições enfatizam o caráter
multiprofissional da Farmácia Clínica e colocam o paciente como objeto principal das
atividades do farmacêutico clínico. O medicamento passa a ser um instrumento
utilizado em benefício do paciente. A Farmácia Clínica pressupõe que o
farmacêutico garanta resultados clinicamente apropriados para a farmacoterapia,
estabeleça relacionamento interprofissional ativo com médicos e enfermeiros e
exerça atividades em ambiente clínico junto ao paciente.
Os serviços farmacêuticos tradicionais concentram-se na dispensação e na
aquisição, armazenamento e controle de estoque de medicamentos. As demandas
referentes a esses serviços são relativas ao controle da aquisição e do estoque de
medicamentos, às políticas e aos procedimentos para os sistemas de distribuição de
medicamentos, ao controle dos medicamentos existentes fora da área física da
farmácia e ao trabalho conjunto com a equipe de enfermagem para solucionar os
problemas inerentes ao sistema, entre outras.
Nessa situação, os relacionamentos interprofissionais dos farmacêuticos nos
hospitais são limitados pela localização física da prática profissional: as áreas de
atendimento ao paciente, para médicos e enfermeiros, e a farmácia hospitalar, para
farmacêuticos. A comunicação entre médicos e farmacêuticos ou entre enfermeiros
e farmacêuticos restringe-se a situações do processo de distribuição de 41

medicamentos; as oportunidades de cooperação interprofissional na atenção ao


paciente são mínimas. Como consequências desses tipos de serviços farmacêuticos
e de relações interprofissionais citam-se:
1. alta incidência de erros de medicação;
2. alta incidência de reações adversas a medicamentos;
3. alta incidência de interações medicamentosas (medicamento-
medicamento, medicamento-alimento e medicamentos-exames laboratoriais);
4. incompatibilidades em misturas intravenosas;
5. iatrogenias
6. subutilização dos recursos humanos;
7. desperdício de medicamentos;
8. altos custos de medicamentos no hospital.

A implementação de serviços farmacêuticos clínicos no hospital possibilita


aumento da segurança e da qualidade da atenção ao paciente, redução de custos e
aumento da eficiência hospitalar.
Segundo Alvarez (1993), a Farmácia Clínica nasceu como disciplina aplicável
às ações do farmacêutico na área assistencial, mas reconheceu-se no decorrer de
seu desenvolvimento, que seus objetivos eram válidos em praticamente todos os
âmbitos do exercício profissional. Dessa forma, podem-se identificar ações que
compartilham do propósito do uso adequado de medicamentos em:
 farmácias hospitalares e de ambulatórios de serviços públicos;
 farmácias comunitárias privadas;
 indústria farmacêutica;
 agências reguladoras de medicamentos;
 docência e investigação.

Os conceitos de Farmácia Clínica foram sendo paulatinamente difundidos e


incorporados pela profissão farmacêutica no mundo todo. Na América Latina, o
Chile, em 1972, incorporou a Farmácia Clínica no programa de graduação de
farmacêuticos da Universidade do Chile e, desde 1977, tem realizado cursos de
capacitação para farmacêuticos latino-americanos.
No Brasil, o grande interesse pelo desenvolvimento da farmácia clínica se deu 42

na década de 1980.

ANÁLISE DO PERÍODO DE TRANSIÇÃO

Pode-se observar que o farmacêutico clínico, em qualquer ambiente em que


estivesse inserido, participava assessorando, aconselhando e educando sobre o uso
correto dos medicamentos, ajudando os pacientes a utilizar os medicamentos mais
adequados ao seu problema de saúde, de acordo com sua necessidade, na dose,
via e frequência de administração correta, pelos períodos apropriados a um custo
razoável e evitando o desenvolvimento de problemas associados, como reações
adversas e interações.
A Farmácia Clínica representou a introdução da orientação da prática
farmacêutica ao paciente por meio dos serviços que passaram a ser prestados,
havendo uma grande evolução nesse sentido. Contudo, apesar de orientada ao
paciente, a prática farmacêutica nesse período acabou tendo significados diversos e
de grande amplitude. Além disso, algumas definições propostas de prática de
Farmácia Clínica colocaram os medicamentos como elemento principal e somente
mencionavam o paciente. Como exemplo de tais definições, cita-se o conceito de
Farmácia Clínica do American Collegeof Clinical Pharmacy: “É uma especialidade
das ciências da saúde que compreende a aplicação, pelo farmacêutico, dos
princípios científicos da farmacologia, toxicologia, farmacocinética e terapêutica
para o cuidado ao paciente”.
A análise dessa nova situação fez com que fossem geradas novas
inquietudes em alguns farmacêuticos, que passaram a questionar como reorientar a
prática farmacêutica, deslocando as preocupações profissionais do medicamento
para o usuário. Essas inquietudes surgiram precocemente na literatura norte-
americana, conforme relatam HEPLER; Strand (1990): “[...] Brodie já alertava, em
1967, para a necessidade de correção deste foco, contudo suas ideias em termos de
responsabilidade social com o cuidado ao paciente parecem ter sido negligenciadas
na época. Muitos dos novos serviços farmacêuticos clínicos desenvolvidos e
implementados nesse período de transição embora aproximassem o farmacêutico do
paciente, continuavam com o foco no medicamento e na sua dispensação, estando
estes processos muito mais direcionados ao sistema biológico envolvido que ao
paciente individual.” 43

Ainda analisando esse estágio de transição, Hepler; Strand (1990) relatam:


“[...] Este estágio de transição introspectivo, no qual a farmácia buscou sua
identidade profissional e a legitimação da mesma, foi talvez tanto uma resposta
inevitável ao desaparecimento do papel do boticário quanto uma antecipação
necessária da maturidade profissional. Infelizmente, esta atualização das funções do
farmacêutico penetrou de forma muito lenta na profissão. Embora muitos
farmacêuticos tenham se envolvido com entusiasmo nesta evolução, outros
preferiram manter o status quo. Da mesma forma, algumas organizações
farmacêuticas apoiaram esta ampliação das funções, enquanto outras se opuseram
a ela [...]. [A profissão farmacêutica ficou exposta a esta disputa entre facções e às
fragmentações delas decorrentes] e, em função destes fatos, continuava a ser uma
profissão em busca de seu papel, incapaz de escolher entre uma desorientada
variedade de funções e de transpor uma variedade de barreiras para exercer a
prática clínica [...].”
Esse era o cenário da profissão farmacêutica na década de 1980 e as
discussões críticas levantadas nesse período foram responsáveis pela construção
de um novo conceito de prática profissional: a Atenção Farmacêutica.

ETAPA DE CUIDADO AO PACIENTE

O elemento que ficou esquecido quando o papel do farmacêutico foi definido


na etapa de transição foi à concepção de responsabilidade do farmacêutico para
com o paciente. Alguns farmacêuticos não identificaram as responsabilidades
relacionadas ao cuidado do paciente que surgiam proporcionalmente à expansão de
suas funções profissionais, e a profissão em seu conjunto não estava conseguindo
refletir na sociedade o compromisso de sua atividade clínica. Muitos farmacêuticos
permaneceram espelhando-se na etapa adolescente de transição, quando muitos
outros atravessaram essa barreira e seguiram em direção à etapa mais madura de
cuidado do paciente.
Em contrapartida, nesse cenário foi introduzido um componente que começou
a despertar maior interesse de investigação, de grande impacto na área médica, que
requeria atenção especializada urgente, denominado morbidade e mortalidade
relacionadas a medicamentos.
44

ATENÇÃO FARMACÊUTICA – PRINCIPAIS CONCEITOS

Segundo Lyra Jr, a Atenção Farmacêutica surgiu nos Estados Unidos como
um método de aprofundamento da prática da Farmácia Clínica, com a inserção de
componentes de forte caráter humanístico.
Nas publicações de ciências farmacêuticas, a primeira definição de atenção
farmacêutica apareceu em 1980 em um artigo publicado por Brodie et al: “em um
sistema de saúde, o componente medicamento é estruturado para fornecer um
padrão aceitável de atenção farmacêutica para pacientes ambulatoriais e internados.
Atenção Farmacêutica inclui a definição das necessidades farmacoterápicas do
indivíduo e o fornecimento não apenas dos medicamentos necessários, mas
também os serviços para garantir uma terapia segura e efetiva. Incluindo
mecanismos de controle que facilitem a continuidade da assistência”.
Hepler; Strand (1990, p.539), no trabalho Opportunitiesand responsabilities in
pharmaceutical care, realizaram uma abordagem abrangente discutindo a
oportunidade que se apresentava aos farmacêuticos de reprofissionalização por
meio da aceitação da responsabilidade de garantir a segurança e a efetividade da
terapia medicamentosa do paciente individualmente. Esse trabalho deu origem ao
conceito clássico de atenção farmacêutica “a provisão responsável da
farmacoterapia com o objetivo de alcançar resultados definidos que melhorem a
qualidade de vida dos pacientes”. Essa definição engloba a visão filosófica de Strand
sobre a prática farmacêutica e o pensamento de Hepler sobre a responsabilidade do
farmacêutico no cuidado ao paciente. Os resultados concretos são:
1) cura de uma doença;
2) eliminação ou redução dos sintomas do paciente;
3) interrupção ou retardamento do processo patológico, ou
prevenção de uma enfermidade ou de um sintoma.

Esse novo conceito de prática profissional reafirmou-se em 1993 com a


Declaração de Tóquio (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1993), que afirmou
que: “Atenção Farmacêutica é um conceito de prática profissional, no qual o paciente
é o principal beneficiário das ações do farmacêutico. É o compêndio de atitudes,
comportamentos, compromissos, inquietudes, valores éticos, funções,
conhecimentos, responsabilidades e destrezas do farmacêutico na prestação da 45

farmacoterapia, com o objetivo de alcançar resultados terapêuticos definidos na


saúde e qualidade de vida do paciente”.
Esse conceito estabelece uma relação recíproca de compromisso e de
responsabilidade, tanto por parte do farmacêutico, quanto por parte do paciente.
Em 1997, Linda Strand afirmou que conceito de atenção farmacêutica estava
incompleto passando a defender a seguinte definição “prática na qual o profissional
assume a responsabilidade pela definição das necessidades farmacoterápicas do
paciente e o compromisso de resolvê-las”. Ela enfatiza que a atenção farmacêutica é
uma prática como as demais da área de saúde. Possui uma filosofia, um processo
de cuidado ao paciente e um sistema de manejo. É diferente do conceito de 1990
que foca os resultados. Mas, para Strand, resultados não têm significados fora do
contexto de uma prática assistencial (PHARMACEUTICAL, 1997).
Uma divisão clara é identificada a partir do momento que Strand preconiza
uma atenção farmacêutica global com aplicação sistemática em todos os tipos de
situações e Hepler uma atenção farmacêutica orientada para doenças crônicas
como asma, diabetes, hipertensão e outras (CIPOLLE et al 2000, HEPLER et al
1995).
CIPOLLE; STRAND; MORLEY (2000, p.13) definem: “Atenção Farmacêutica
é um exercício no qual o profissional assume a responsabilidade das necessidades
de um paciente em relação aos medicamentos e adquire um compromisso a esse
respeito”.
Em entrevista concedida ao Jornal do Conselho Regional de Farmácia do
Estado de Minas Gerais, disponível no site do CRFMG, a farmacêutica norte-
americana Linda Strand conceituou: “Atenção Farmacêutica é simplesmente lidar
com toda a farmacoterapia do paciente. Verifica-se se a medicação indicada é
apropriada à sua condição médica, se é efetiva, segura, qual a dose correta, se o
paciente tem condições de seguir as instruções médicas. A definição é “tenho
responsabilidade com meu paciente, lido com toda a sua farmacoterapia e incluo
este cuidado no processo”. Parte da definição, ainda, detalha os problemas
específicos com a farmacoterapia”.
Quando questionada sobre a diferença entre Farmácia Clínica e Atenção
Farmacêutica, Strand responde que: “a Farmácia Clínica, tradicionalmente, refere-se
a serviços que provemos ao médico. Passamos a ele os medicamentos com as
respectivas informações. Fazemos a farmácia clínica somente quando o médico nos 46

permite, e da maneira que ele quer. Diferentemente, a Atenção Farmacêutica é um


serviço oferecido ao paciente, individualmente. É um serviço exclusivo para o
paciente, em que não trabalhamos para o médico, mas com ele”.
Nesse modelo, os farmacêuticos, em cooperação com os pacientes
melhoram, os resultados da farmacoterapia ao prevenir, detectar e resolver os
problemas de saúde relacionados com medicamentos, antes que estes deem lugar à
morbidade e mortalidade relacionadas com medicamentos.
Ao analisar as funções do farmacêutico no sistema de atenção à saúde, a
Organização Mundial de Saúde – OMS – estende o benefício da atenção
farmacêutica para toda comunidade reconhecendo a relevância da participação do
farmacêutico junto com a equipe de saúde na prevenção de doenças e promoção da
saúde. Na ótica da OMS, a atenção farmacêutica é “um conceito de prática
profissional na qual o paciente é o principal beneficiário das ações do farmacêutico.
A atenção farmacêutica é o compêndio das atitudes, os comportamentos, os
compromissos, as inquietudes, os valores éticos, as funções, os conhecimentos, as
responsabilidades e as habilidades dos farmacêuticos na prestação da
farmacoterapia com o objetivo de obter resultados terapêuticos definidos na saúde e
na qualidade de vida do paciente” (OMS, 1993).
Os objetivos fundamentais, processos e relações da atenção farmacêutica
existem independentemente do lugar que seja praticada (HEPLER & STRAND,
1990).
É importante ressaltar que o conceito de Atenção Farmacêutica de Hepler e
Strand, formulado em 1990, difundiu-se pelo mundo, e os diferentes países têm
promovido discussões aprofundadas com o objetivo de adotar esse novo modelo de
prática farmacêutica, adaptando-o às suas particularidades específicas.
Essas discussões têm sido responsáveis pela construção de uma série de
definições diferentes para a mesma prática profissional, mas que mantém a ideia
filosófica original de Hepler e Strand.
Apesar disso, Strand relata a falta de uma definição universal de atenção
farmacêutica. Enfatiza a necessidade de, na prática profissional, aplicar a mesma
uniformidade de definições como ocorre com a terminologia clínico-farmacológica
(APHA, 2002).
Os seguidores mais puristas da Atenção Farmacêutica entendem que sua
definição não deve afastar-se de seu conceito original. 47

Ao longo da última década, a Atenção Farmacêutica propagou dos Estados


Unidos para diversos países.
Na Espanha, a Atenção Farmacêutica desenvolveu-se intensamente. O
Consenso de Granada definiu atenção farmacêutica como: “a participação ativa do
farmacêutico na assistência ao paciente na dispensação e seguimento do tratamento
farmacoterápico, cooperando com o médico e outros profissionais de saúde, a fim de
conseguir resultados que melhorem a qualidade de vida dos pacientes. Também
saúde e prevenção de doenças” (CONSENSO 2001).

ATENÇÃO FARMACÊUTICA NO BRASIL

Segundo Witzel (2008), ao final da década de 1990, começaram a ser


observadas as primeiras iniciativas brasileiras no sentido de colocar em prática a
Atenção Farmacêutica, partindo dos modelos propostos nos trabalhos americanos e
espanhóis, além do intercâmbio de experiências que estavam sendo implementados
em países latino-americanos, como o Chile e a Argentina.
Em 2002, foi publicado um relatório intitulado Atenção Farmacêutica no Brasil:
trilhando caminhos, que representa o registro do caminho trilhado até o momento
para a promoção da Atenção Farmacêutica no Brasil proposto pelo grupo
coordenado pela Organização Pan- Americana da Saúde (OPAS)/Organização
Mundial da Saúde (OMS) e com a participação de profissionais de várias partes do
País, a finalidade de divulgar os trabalhos realizados até a presente data com um
instrumento para a ampliação da participação de entidades e profissionais
interessados.
O grupo de trabalho que elaborou o relatório teve o objetivo geral de
promover a Atenção Farmacêutica no Brasil e os objetivos específicos de elaborar
uma proposta de pré- consenso para a promoção da Atenção Farmacêutica no
Brasil, de propor a harmonização dos conceitos inerentes às práticas farmacêuticas
relacionadas à promoção da Atenção Farmacêutica, de elaborar e implementar
recomendações e estratégias de ação e de incentivar a criação de mecanismos de
cooperação e fórum permanente.
Nas discussões, foram utilizados documentos produzidos pela Organização
Mundial da Saúde – OMS – e pela Organização Pan-americana de Saúde – OPAS.
Um dos conceitos utilizados na discussão trata da missão da prática farmacêutica, 48

que é definida como “prover medicamentos e outros produtos e serviços para a


saúde e ajudar as pessoas e a sociedade a utilizá-los da melhor forma possível.”
Existe uma série de recomendações internacionais com o propósito de
promover a qualidade, o acesso, a efetividade e o uso racional de medicamentos. No
encerramento da Conferência sobre Uso Racional de Medicamentos, realizada em
1985, o diretor geral da OMS chamou a atenção para as responsabilidades dos
governos, da indústria farmacêutica, dos prescritores e farmacêuticos, das
universidades e de outras instituições de ensino, das organizações profissionais não
governamentais, do público, dos usuários e das associações de consumidores, dos
meios de comunicação e da própria OMS para a promoção do uso racional de
medicamentos. 54
Entre as estratégias e recomendações propostas estão àquelas voltadas para
a formulação de políticas nacionais de medicamentos e o repensar do papel do
farmacêutico no sistema de atenção à saúde, ilustrado pelos informes das reuniões
promovidas pela OMS em Nova Deli, Tóquio, Vancouver e Haia, além do Fórum
Farmacêutico das Américas.
Utilizando referenciais internacionais, análise do contexto sanitário e
buscando a promoção da prática da Atenção Farmacêutica de forma articulada com
a Assistência Farmacêutica, no marco da Política Nacional de Medicamentos, foi
definido pelo Consenso Brasileiro de Atenção Farmacêutica, no relatório “Atenção
Farmacêutica no Brasil: trilhando caminhos” que: “atenção farmacêutica é modelo de
prática farmacêutica, desenvolvida no contexto da assistência farmacêutica.
Compreende atitudes, valores éticos, comportamentos, habilidades, compromissos e
co- responsabilidades na prevenção de doenças, promoção e recuperação da
saúde, de forma integrada à equipe de saúde. É a interação direta do farmacêutico
com o usuário, visando uma farmacoterapia racional e a obtenção de resultados
definidos e mensuráveis voltados para a melhoria da qualidade de vida. Esta
interação também deve envolver as concepções dos seus sujeitos, respeitada as
suas especificidades biopsicossociais sob a ótica da integralidade das ações de
saúde” (OPAS 2002).
O conceito brasileiro destaca por considerar a promoção da saúde, incluindo
a educação em saúde, como componente da Atenção Farmacêutica, o que constitui
um diferencial marcante em relação às definições adotadas em outros países
(OPAS, 2002). 49

Também é importante ressaltar que, segundo o conceito brasileiro,


assistência e atenção farmacêutica são distintas. Esta última refere-se a um modelo
de prática e às atividades específicas do farmacêutico no âmbito da atenção à
saúde, enquanto o primeiro envolve um conjunto mais amplo de ações, com
características multiprofissionais (OPAS, 2002). Esse entendimento que esclarece
as diferenças entre os dois termos e ao mesmo tempo contextualiza a Atenção
Farmacêutica como uma atividade especializada da Assistência Farmacêutica é
fundamental para que se possa desenvolver um projeto de Atenção Farmacêutica
para o país.
Assim, a Assistência Farmacêutica tem sido concebida como um conjunto de
ações com características multiprofissionais, destinadas a apoiar as ações de saúde
demandadas por uma comunidade, sendo, portanto, responsabilidade de todos e de
cada um dos membros da equipe de profissionais envolvidos direta ou indiretamente
com o uso de medicamentos pela sociedade. A Assistência Farmacêutica é,
portanto, uma atividade essencial que possibilita que os vários processos que
envolvem o fármaco, desde sua pesquisa até sua utilização, ocorram de forma
segura e racional, beneficiando individual e coletivamente os usuários de
medicamentos no país.
Enquanto que o conceito de Atenção Farmacêutica direciona o exercício
profissional do farmacêutico para o atendimento das necessidades
farmacoterapêuticas do paciente e este passa a ser seu foco principal de atenção.
Dessa forma, o farmacêutico assume a responsabilidade de buscar que o
medicamento esteja produzindo no paciente o efeito desejado pelo médico que o
prescreveu e, ao mesmo tempo, que, ao longo do tratamento, não apareçam, ou
apareçam de modo mínimo, problemas indesejados possíveis e, em caso de
manifestação desses problemas, que eles sejam solucionados.
Portanto, a atividade de atenção farmacêutica faz também parte do conceito
de assistência farmacêutica, enquanto atividade especializada, realizada pelo
farmacêutico, que passa a compartilhar os resultados de seu exercício profissional
clínico com os demais profissionais envolvidos no atendimento ao paciente.
A proposta de Consenso Brasileiro de Atenção Farmacêutica é um elemento
de grande significância para a promoção e implantação desse novo modelo de
prática profissional. O consenso é resultado do Grupo de Trabalho “Atenção
Farmacêutica no Brasil” nucleado pela Organização Pan-Americana de Saúde – 50

OPAS – com apoio de diversas instituições farmacêuticas.


Segundo Witzel (2008), embora a Atenção Farmacêutica esteja sendo muito
discutida no Brasil, especialmente nos últimos cinco anos, e seja tema presente em
praticamente todos os eventos científicos farmacêuticos promovidos no país, ainda
há muita controvérsia, entre os próprios farmacêuticos, acerca da conceituação
dessa nova atividade profissional, o que tem atrasado seu processo de implantação.
Os termos Assistência e Atenção Farmacêutica são frequentemente confundidos,
gerando falhas na interpretação e dificuldades de comunicação da atividade para os
demais profissionais da saúde, organismos governamentais e entidades prestadoras
de assistência à saúde.
Nesse sentido, com o objetivo de demonstrar à sociedade e aos gestores
públicos e privados que a ação do farmacêutico tem um impacto positivo na
qualidade de vida do paciente, no uso racional do medicamento e nos gastos
sanitários, foi estruturado o Projeto-Piloto de Atenção Farmacêutica em Hipertensão
Arterial, uma iniciativa envolvendo o Fórum farmacêutico das Américas (FFA), o
Conselho Federal de Farmácia, o Programa de Doenças não Transmissíveis da
Organização Pan-Americana de Saúde e a Escola de Farmácia de Ouro Preto,
contando com o apoio da Secretaria Municipal de Saúde de Ouro Preto. O projeto foi
desenhado com a intenção de ser desenvolvido em vários países das Américas de
forma coordenada e multicêntrica. A cidade de Ouro Preto no Brasil foi escolhida
para sediar a fase piloto desse projeto que foi levado adiante no ano de 2002, e, a
partir dessa primeira experiência, estão sendo feitas reuniões para definir as
estratégias de expansão dessa experiência no Brasil (PROJETO, 2003).
Paralelamente, outros países que fazem parte do FFA, como Argentina e Chile,
começam também a incorporar-se ao referido projeto.
Segundo Witzel (2008), a participação brasileira nesse projeto do FFA
constitui outro marco importante para a implementação da prática da Atenção
Farmacêutica no Brasil. Um modelo estruturado, testado e validado certamente
produzirá informações valiosas sobre os impactos da morbidade e mortalidade
relacionadas a medicamentos no Brasil e fortalecerá a importância do farmacêutico
para a sociedade brasileira.

ATENÇÃO FARMACÊUTICA – O PACIENTE COMO FOCO


51
Conforme Bisson (2007), na maioria das vezes o farmacêutico possui uma
gama enorme de tarefas burocráticas, que o afastam do paciente e, assim como
ocorreu em outros países, o farmacêutico brasileiro precisa gerenciar melhor seu
tempo, diminuindo as tarefas administrativas e aumentando as atividades clínicas.
Para isso acontecer, é necessário saber delegar serviços aos colaboradores
diretos e informatizar processos de rotina. Portanto, o farmacêutico deve mudar sua
postura e enxergar o paciente como foco de seu trabalho.
Existem muitas situações em que o farmacêutico exerce cargos de gerência e
é responsável pela compra, planejamento, armazenamento de insumos, comissões,
escalas de trabalho, entre outras tarefas. Segundo Bisson (2007), nessas situações,
o farmacêutico deve buscar a contratação de outros farmacêuticos para trabalharem
na área da Atenção Farmacêutica, pois ninguém consegue desenvolver
perfeitamente as duas atividades concomitantemente.
Com isso, nem sempre é possível o farmacêutico conseguir direcionar suas
atividades, ficando frustrado, porém pode-se traçar um plano de médio prazo para
adequação das funções. Não adianta o farmacêutico possuir um direcionamento
clínico se a instituição onde ele trabalha ainda não enxergou os benefícios dessa
prática. Para isso, ele deve convencer as pessoas que têm o poder em sua
organização de que realmente vale à pena investir na Atenção Farmacêutica.
Também é importante para o farmacêutico brasileiro sentir-se apto a
desenvolvê-la, o que exige o desenvolvimento de seus conhecimentos e habilidades.
A atenção ao paciente requer a integração de conhecimentos e habilidades,
conforme a seguinte lista, elaborada por Bisson (2007):

- conhecimento de doenças;
- conhecimentos de farmacoterapia;
- conhecimentos de terapia não medicamentosa;
- conhecimento de análises clínicas;
- habilidades de comunicação;
- habilidades de monitoração de pacientes;
- habilidades em avaliação física;
- habilidades em informação sobre medicamentos;
- habilidades em planejamento terapêutico.
52

A prática focada no paciente baseia-se no fato de o farmacêutico colocar


como centro de seu trabalho o cuidado do paciente, deixando de lado todas as
outras funções (manipulação, logística e administração, entre outras). Além da
dispensação de medicamentos, o farmacêutico deve conferir todas as prescrições
que chegam até ele e, utilizando os conhecimentos farmacoterapêuticos e relativos
às reações adversas a medicamentos, dados farmacocinéticos e perfil clínico do
paciente, deve buscar o melhor para este. Eventuais intervenções devem ser
anotadas em fichas próprias ou arquivos informatizados.
Conforme Djenane Ramalho de Oliveira, no artigo Atenção Farmacêutica
como Contracultura, disposto no site do Conselho Regional de Farmácia de Minas
Gerais (CRFMG), a Atenção Farmacêutica valoriza o trabalho direto com as pessoas
e o envolvimento com a comunidade, a construção de relacionamentos
multiprofissionais e a responsabilização pela farmacoterapia. Surge um novo modelo
profissional que visa à resolução de problemas específicos: os problemas
relacionados com o uso de medicamentos. A partir daí surge a necessidade de
novos conhecimentos. Além dos conhecimentos técnicos sobre o produto
farmacêutico, surge a necessidade do conhecimento humano, que vai além do
enclausuramento da estatística, da lógica e da busca incessante da objetividade.
O profissional necessita adquirir conhecimentos sobre seres humanos e sobre
suas experiências singulares com as diferentes doenças e com os medicamentos.
Somente assim ele poderá contextualizar suas ações e, consequentemente, realizar
intervenções que tenham um impacto positivo na vida das pessoas.
A subjetividade única de cada indivíduo entra em cena e o profissional precisa
lidar com uma condição do ‘não saber’, de não possuir todas as respostas. O
farmacêutico passará a auxiliar o paciente no processo de tomada de decisões
sobre sua farmacoterapia. Em outras palavras, o modelo da Atenção Farmacêutica
exige transformações profundas no ser e no fazer profissional que contrapõem
vários valores atuais da profissão.
ATENÇÃO FARMACÊUTICA – RESPONSABILIDADES

Conforme Bisson, o conceito central de atenção ou cuidado (care) é o de


propiciar bem-estar aos pacientes. No contexto amplo de saúde, podemos ter o
cuidado médico, o de enfermagem e o farmacêutico ou atenção farmacêutica. 53

Os profissionais de saúde em cada uma de suas especialidades devem


cooperar para o pronto restabelecimento da saúde dos seus pacientes, bem como
melhorar seu cuidado global. No caso específico do farmacêutico, este deve utilizar
seus conhecimentos e habilidades para propiciar ao paciente um resultado otimizado
na utilização de medicamentos.
O farmacêutico como especialista do medicamento deve exercer o papel
fundamental na sociedade em prol do uso racional dos medicamentos. A sua
presença nos estabelecimentos farmacêuticos deve oferecer aos usuários uma
atenção de qualidade, que assegure o acesso aos medicamentos essenciais com
equidade, universalidade e integridade. Essa postura exige do farmacêutico o
desenvolvimento de novas habilidades, não só no campo do conhecimento como
também de atitudes e comportamentos. No entanto, os farmacêuticos ainda não têm
consciência dessas suas funções e regras na assistência à saúde. Isso pode
explicar porque os sistemas de saúde não o reconhecem como prestador de
cuidados, tampouco estabelece forma clara de reembolso dos farmacêuticos por
esses serviços. A filosofia de exercício profissional é um conjunto de valores que
orienta os comportamentos associados a determinados atos. Nesse caso, os atos
relacionados ao cuidado farmacêutico são específicos para profissão farmacêutica e
não para o profissional. A filosofia da Atenção Farmacêutica inclui diversos
elementos. Inicia com uma afirmação da necessidade, continua com um método
centrado no paciente para satisfazer essa necessidade, tem como núcleo central o
cuidado para com outros por meio do desenvolvimento e manutenção de uma
relação terapêutica e finaliza com uma descrição das responsabilidades específicas
do profissional, conforme site http://www.revistas.ufg.br/index.php/REF/article/
viewArticle/2113/2059).
Por outro lado, apesar de todo o trabalho realizado, há uma grande barreira
imposta pelos profissionais farmacêuticos. Os farmacêuticos, como uma categoria
profissional, não aceitam atuar frente a essas responsabilidades. A profissão está
evoluindo lentamente frente às demandas desse modelo. É necessário que haja
mudanças drásticas nos currículos das faculdades de Farmácia. Os currículos
devem ter um enfoque direcionado na prática farmacêutica, onde os estudantes de
graduação terão contatos com os usuários desde o primeiro ano do curso. Devemos
criar uma cultura onde o cuidado aos pacientes seja um padrão de comportamento
profissional. 54

Nesse contexto, ocorre a necessidade do estímulo aos acadêmicos e


profissionais recém-formados, os quais possuem íntegra a energia e o anseio de
colaboração com a saúde da comunidade, de modo que ultrapasse as barreiras para
realização de programa de Atenção Farmacêutica.
O farmacêutico, além de produtos de medicamentos, passou também a ser
co- responsável pela terapia medicamentosa, promovendo o uso racional de
medicamentos, adquirindo maior ênfase no seu papel. O surgimento dessa nova
filosofia de prática profissional, a Atenção Farmacêutica, veio estruturar,
complementar e permitir esse novo papel do farmacêutico na atenção à saúde.
Muito além de ser um simples dispensador de remédios, o farmacêutico está
envolvido no processo de pesquisa de novas drogas, no estudo de efeitos colaterais
e de reações adversas dos medicamentos já existentes, na fabricação de
cosméticos, na medicação de doentes hospitalares, na fiscalização sanitária e em
outras atividades que asseguram a qualidade de vida.
Arcar com tamanha responsabilidade não é tão simples como possa parecer.
Mais do que boa vontade e alguns anos de estudos universitários, um bom
farmacêutico necessita estar a par dos avanços medicinais, das novidades de sua
área e das mudanças da sociedade (POLAKIEWICZ, 2002).
A informação, assessoramento e orientação ao paciente, prestados pelo
farmacêutico fazem com que se aplique na prática um resgate da verdadeira função
do farmacêutico (COSTA, 2001).
Dispensar um medicamento não é vender, mas conhecer seus clientes ou
pacientes e orientá-los da melhor maneira possível sobre como usar o produto
comprado (POLAKIEWICZ, 2002).
O farmacêutico é um parceiro privilegiado do sistema de saúde, da indústria
farmacêutica e do consumidor. O farmacêutico é o único profissional que conhece
todos os aspectos do medicamento e, portanto, pode dar uma informação
privilegiada às pessoas que o procuram na farmácia.
A farmácia é uma instituição de saúde de acesso fácil e gratuito, onde o
usuário, muitas vezes, procura em primeiro lugar o conselho amigo, desinteressado,
mas seguro, do farmacêutico (ZUBIOLI, 2000).
A Atenção Farmacêutica é o componente da prática farmacêutica que implica
direta interação do farmacêutico com o paciente com o propósito de atender às
necessidades relacionadas com os medicamentos e demais produtos terapêuticos 55

(PERETTA E CICCIA, 2000).


A responsabilidade do farmacêutico praticamente triplicou com a globalização.
Hoje, o farmacêutico que trabalha em farmácia é visto como o profissional do
paciente. A Atenção Farmacêutica exigida e dispensada aos pacientes dentro das
farmácias legou ao farmacêutico mais importância e também mais responsabilidade
(SANTOS, 2001a).
Torna-se imprescindível para o farmacêutico ter a noção exata de sua
competência e dos limites de sua intervenção no processo saúde-doença (ZUBIOLI,
2000).
O desenvolvimento científico e tecnológico que entrega, para o uso clínico,
medicamentos cada vez mais potentes em sistemas de administração de maior
complexidade, novas formas farmacêuticas, aliada às mudanças sociais, que
tendem a se ampliar, aprofundar e modificar a atenção à saúde, indica que o
farmacêutico intensificará suas funções clínicas nos próximos anos.
Consequentemente, assumirá maiores compromissos nos cuidados do paciente,
especialmente no que se refere ao uso racional dos medicamentos que conduzam a
bons resultados terapêuticos e ao provisionamento de informações à equipe de
saúde, ao paciente e à comunidade (HAUBER, 1995).
O termo Atenção Farmacêutica significa o processo pelo qual o farmacêutico
atua com os profissionais e com o paciente na planificação, implementação e
monitorização de uma farmacoterapêutica que produzirá resultados específicos. O
aconselhamento ao paciente é um dos instrumentos essenciais para a realização da
Atenção Farmacêutica, sendo imprescindível o desenvolvimento das habilidades de
comunicação para assegurar a boa relação farmacêutica – usuário (LYRA JR. et al.,
2000).
A Atenção Farmacêutica baseia-se, justamente, na capacidade do
farmacêutico de assumir novas responsabilidades relacionadas aos medicamentos e
aos pacientes por meio da realização de um acompanhamento sistemático e
documentado com o consentimento dos mesmos. Nessa perspectiva, a preparação
de futuros farmacêuticos habilitados para o desempenho com destreza,
conhecimentos técnicos e compromisso social de suas atribuições exige do ensino
de farmácia e das suas universidades uma ênfase no desenvolvimento de todas as
habilidades necessárias para a formação de profissionais pautados pela qualificação
e excelência. Exige também uma visão e uma postura interdisciplinar, integradora e 56

informadora (ALBERTON, 2001).


Na Atenção Farmacêutica, os farmacêuticos devem dispor do tempo
necessário para determinar os desejos, as preferências e as necessidades do
paciente relacionadas com a sua saúde, comprometer e continuar a atenção uma
vez iniciada (PERETTA E CICCIA, 2000).
Ainda segundo os autores, a Atenção Farmacêutica é o que faz o
farmacêutico quando:
a) avalia as necessidades do paciente relacionadas com os
medicamentos;
b) determina se o paciente tem um ou mais problemas reais ou
potenciais relacionados com os medicamentos;
c) trabalha com o paciente para promover a saúde, prevenir as
doenças e iniciar, modificar e controlar o uso dos medicamentos com o fim de
garantir que o tratamento farmacoterapêutico seja seguro e eficaz.
O farmacêutico presta atenção farmacêutica quando executa os três passos
com êxito em todos e a cada um dos seus pacientes.
Segundo Hepler & Strand (1990), a bibliografia sobre a prevenção da
mortalidade relacionada a medicamentos e o potencial da farmácia para preveni-la
justifica a reivindicação da farmácia de uma obrigação formal de auxiliar o paciente a
obter a melhor terapia medicamentosa possível, e especialmente a protegê-lo do
dano. Se as pessoas soubessem sobre a morbi- mortalidade devida aos fármacos,
não somente pediriam aos farmacêuticos que estabelecessem medidas preventivas,
mas exigiriam tais ações.
Conforme os autores, nos tempos do boticário talvez fossem suficientes
dispensar o fármaco correto, corretamente etiquetado. Hoje se precisa mais dos
farmacêuticos. O primeiro princípio da assistência médica é primum no nocere
(primeiro não causar dano). O código de ética da Associação Farmacêutica Norte-
Americana (AphA), adotado em 1969, declara que “um farmacêutico deve sustentar
que a saúde e a segurança do paciente são prioritárias e deve sujeitar a cada
paciente o total de sua capacidade profissional, como profissional de saúde
essencial”.
Ainda, segundo os autores, aceitar essa função incrementará uma grande
medida no nível de responsabilidade dos farmacêuticos aos seus pacientes, e
aceitar esta responsabilidade requer alterações filosóficas, organizacionais e 57

funcionais na prática da farmácia.


Hepler e Strand afirmam ainda que a missão da prática farmacêutica não seja
somente a chamada Farmácia Clínica. As pesquisas e artigos dos últimos 20 anos
sugerem que os conhecimentos e habilidades clínicas não são suficientes por si
mesmos para maximizar a efetividade dos serviços farmacêuticos. Deve, segundo os
autores, existir, também, uma filosofia da prática e uma estrutura organizada dentro
da que se exerça. Assim, foi denominada a filosofia da prática que se necessita
“Atenção Farmacêutica” e a estrutura organizacional que facilita a provisão dessa
assistência “Sistema de Atenção Farmacêutica”. A missão da prática farmacêutica
que é consistente em sua função é a de promover a Atenção Farmacêutica.

ATENÇÃO FARMACÊUTICA – PLANEJAMENTO, ESTRUTURA E


IMPLEMENTAÇÃO

Segundo Bisson (2007), para implantar a Atenção Farmacêutica é necessário


realizar um planejamento bem feito, que é o segredo para conseguir resultados
efetivos. O primeiro passo é realizar um diagnóstico do local onde se pretende
implantar o projeto.
Esse diagnóstico consiste em algumas perguntas básicas:
- âmbito de atuação (ambulatorial, hospitalar, farmácia pública,
domiciliar);
- perfil dos pacientes (socioeconômico, escolaridade, idade, sexo,
religião etc.);
- perfil epidemiológico de patologias na região (diabetes,
hipertensão, asma, câncer, osteoporose, doenças reumáticas etc.);
- farmacêuticos envolvidos no projeto (perfil, formação, número,
carga horária);
- instalações físicas (salas, consultórios etc.);
- fontes de informação (computadores, Internet, Medline, livros,
guias, bibliotecas);
- protocolos de trabalhos dos farmacêuticos.

Segundo Cipolle e colaboradores (1998), para a realização da Atenção


Farmacêutica são necessários requisitos físicos e humanos. Como requisitos físicos 58

entendem-se espaço físico adequado, telefone, computadores, acesso à bibliografia,


mobília adequada (principalmente a mesa de atendimento ao cliente). Segundo
Machuca e colaboradores (2003), são importantes que a mesa seja arredondada
para permitir uma aproximação maior do farmacêutico com o paciente.
Como requisitos humanos, têm-se o farmacêutico, agente que desenvolve o
processo de atenção farmacêutica que necessita, primeiramente querer realizar o
processo de atenção farmacêutica e estar treinado para isso. Contudo, não se
podem desconsiderar os outros funcionários da farmácia, que também deverão
entender essa nova atividade do farmacêutico e garantir a privacidade do mesmo e
do paciente durante as visitas, sem prejuízo das demais atividades desenvolvidas na
farmácia.
Após o levantamento de todas as informações necessárias, o farmacêutico
precisará definir quais atividades ele exercerá e elaborar um projeto bem detalhado,
conforme podemos visualizar a seguir:
1. nome do projeto;
2. exposição de motivos (Por que fazer? Quem faz? Quem fez?
Resultados?);
3. atividades a serem desenvolvidas (descrevendo como fazer):
a. quais pacientes serão acompanhados (gestantes, idosos, crianças,
adolescentes, mulheres);
b. patologias (asma, diabetes, hipertensão, dislipidemia, distúrbios de
coagulação);
c. drogas (neste caso, deve ser levado em consideração o custo, a
incidência de reações adversas, a taxa de utilização);
d. local onde será realizado;
e. impressos a serem utilizados (ou sistemas informatizados);
f. frequência das visitas do paciente ou do farmacêutico (no caso de
atenção domiciliar);
g. arquivamento dessas informações;
h. confidencialidade das informações.

4. Recursos:
a. humanos (farmacêuticos, auxiliares, escriturários e recepcionistas);
b. materiais (salas, móveis, computadores, livros, assinaturas de bases de 59

dados como Drugdex/Poisindex);


c. financeiros.
5. Cronograma de Implantação;
6. Monitoração da implantação:
a. indicadores a serem medidos (diminuição de custos, diminuição de
consultas de emergência, diminuição das internações, aumento de sobrevida,
aumento da qualidade de vida etc.);
b. apresentação de resultados (como serão apresentados, tabelas, gráficos
etc.).
7. Bibliografia de referência (é importante ressaltar que cada projeto deve
ser elaborado individualmente, observando-se as características e peculiaridades de
cada instituição. Na internet e no Medline, é possível encontrar uma enorme gama
de modelos de trabalho de Farmácia Clínica e Atenção Farmacêutica, porém cada
país e instituição têm suas próprias peculiaridades).
É importante salientar que, segundo Plaza Pinol e Diez Rodrigues (2000),
existem dificuldades encontradas pelos farmacêuticos para a implementação da
Atenção Farmacêutica. Entre elas, destacam-se o medo de assumir novas
responsabilidades, a necessidade de uma formação específica, a limitação da
estrutura física da farmácia e o medo de não ter disponível recursos bibliográficos
adequados (fontes de informação).

A ATENÇÃO FARMACÊUTICA – RESULTADOS

Conforme Hepler e Strand (1990), a Atenção Farmacêutica é a provisão


responsável do tratamento farmacológico com o propósito de alcançar resultados
concretos que melhorem a qualidade de vida do paciente. Esses resultados são:
- a cura da doença do paciente;
- a redução ou eliminação de uma sintomatologia do paciente;
- controle ou diminuição do progresso de uma doença;
- a prevenção de uma doença ou de uma sintomatologia.
O que se deve ter em mente quanto a esse modo de exercício profissional é
que a qualidade dos resultados mede-se diretamente pela melhora da qualidade de
vida fornecida ao paciente. E essa melhora deve ser obtida pela otimização da
terapia medicamentosa e resolução dos problemas relacionados aos medicamentos. 60

O que se propõe não é o exercício do diagnóstico ou da prescrição de


medicamentos considerados de responsabilidade médica, mas a garantia de que
esses medicamentos venham a ser úteis na solução ou no alívio dos problemas do
paciente.

PROBLEMAS RELACIONADOS A MEDICAMENTOS

Conforme Bisson (2007), a Atenção Farmacêutica não envolve somente a


terapia medicamentosa, mas também decisões sobre o uso de medicamentos para
cada paciente. Apropriadamente, pode-se incluir nessa área a seleção de drogas,
doses, vias e métodos de administração; a monitoração terapêutica; as informações
ao paciente e aos membros da equipe multidisciplinar de saúde; e o aconselhamento
de pacientes.
A resolução e prevenção de problemas relacionados a medicamentos levam
ao planejamento, execução e seguimento de um plano terapêutico que será
cumprido otimamente pelo farmacêutico (Hepler; Strand, 1990).
Um problema relacionado a medicamento (PRM) é definido como um
problema de saúde relacionado ou suspeito de estar relacionado à farmacoterapia
que interfere nos resultados terapêuticos e na qualidade de vida do usuário.
Segundo Hepler e Strand (1990), a Atenção Farmacêutica implica três
funções primordiais em nome do paciente:
- identificar problemas potenciais e reais relacionados a medicamentos;
- resolver problemas reais relacionados a medicamentos;
- prevenir problemas potenciais relacionados a medicamentos.

Segundo Bisson (2007), um PRM é dito real ou atual quando manifestado, e


potencial na possibilidade de sua ocorrência. Pode ser ocasionado por diferentes
causas, como as relacionadas ao sistema de saúde, ao usuário e aos seus aspectos
biopsicossociais, aos profissionais de saúde e ao medicamento.
A identificação de PRM segue os princípios de necessidade, efetividade e
segurança, próprios da farmacoterapia.
Os problemas relacionados a medicamentos apresentam-se mais comumente
da seguinte maneira:
1. Indicações sem tratamento: ocorrem quando o paciente possui um 61

problema médico que requer terapia medicamentosa, mas não está recebendo um
medicamento para esta indicação;
Circunstâncias comuns desenvolvem situações em que o paciente necessita
de um tratamento, mas não o está recebendo. Por exemplo, um paciente que está
sendo apropriadamente tratado para uma doença vascular periférica, mas não está
recebendo tratamento para a consequente anemia. Aqui, o objetivo do tratamento é
o estado primário e o novo problema não foi identificado ou tratado (STRAND et al.,
1990).
2. Seleção inadequada de medicamentos: ocorre quando o paciente faz
uso de um medicamento errado para a indicação de certa patologia.
Às vezes, o tratamento usado para tratar o estado de saúde do paciente
torna-se inefetivo ou existe um fármaco que provavelmente fosse mais efetivo, mas
não está sendo utilizado. (STRAND et al, 1990);
3. Dosagem subterapêutica: ocorre quando o paciente está recebendo o
medicamento correto, porém em uma dosagem menor do que seria necessário para
seu estado clínico.
Ainda que seja um dogma fundamental para a medicina homeopática,
subdoses de medicamentos podem ser classificados como PRM quando os
resultados desejados para o paciente não foram alcançados (p.ex. a infecção não
está respondendo ao tratamento com antibiótico em subdose) (STRAND et al, 1990);
4. Fracasso no recebimento da medicação: ocorre quando o paciente
possui um problema médico, porém não recebe a medicação que precisa (por
questões financeiras, sociais, psicológicas ou farmacêuticas);
5. Sobredosagem: ocorre quando o paciente tem um problema médico,
mas recebe uma dosagem que lhe está sendo tóxica.
Por exemplo, um aumento súbito de dose de ácido nicotínico é associado ao
aparecimento de reações cutâneas graves (STRAND et al, 1990);
6. Reações adversas a medicamentos (RAM): ocorrem quando o paciente
possui um problema médico resultante de uma reação adversa ou efeito adverso.
Por razões que não são inerentemente óbvias, os farmacêuticos têm
definições descritas e quantificadas para as reações adversas a medicamentos
(RAM) mais extensivamente que o restante dos PRM. De fato, numerosos artigos e
livros tratam desse tema.
Rawlings classificou os efeitos adversos em tipo A e tipo B. As reações do 62

tipo A são consistentes com as ações farmacológicas do fármaco ocorrem


habitualmente e, geralmente, são dose-dependentes. As reações do tipo B
representam reações alérgicas e idiossincrásicas que são independentes da
farmacologia do medicamento. Estas não são relacionadas com a dose.
7. Interações medicamentosas: ocorrem quando o paciente possui um
problema médico resultante de uma interação droga-droga, droga-alimento ou
droga-exame laboratorial.
Por exemplo, o leite inibe a absorção de preparados de ferro e o ácido
ascórbico, os antibióticos beta-lactâmicos, a levodopa e os salicilatos, possuem
interferência bastante documentada com os exames de glicose na urina;
8. Medicamento sem indicação: ocorre quando o paciente faz uso de um
medicamento que não tem uma indicação médica válida para aquele quadro clínico
apresentando por ele.

SEGUIMENTO FARMACOTERAPÊUTICO

Segundo Bisson (2007), o processo de seguimento farmacoterapêutico de um


paciente é a principal atividade da Atenção Farmacêutica. Esse processo é
composto de três fases principais: anamnese farmacêutica, interpretação de dados e
processo de orientação.
O farmacêutico que deseja acompanhar os pacientes submetidos à
farmacoterapia deverá possuir as habilidades e os conhecimentos necessários para
sua execução.
A principal ferramenta de trabalho do farmacêutico no seguimento
farmacoterapêutico é a informação (de drogas, da patologia envolvida e
especificidade do paciente). O seguimento de pacientes pode ser realizado tanto no
âmbito ambulatorial como em hospitais, farmácias públicas e no domicílio do
paciente (home care).
Estima-se que mais de 30% dos pacientes não cumpram os tratamentos
medicamentosos prescritos pelos médicos.
O Seguimento Farmacoterapêutico (SFT) requer um método de trabalho
rigoroso por múltiplas razões. Apesar de ser uma atividade clínica e, portanto, sujeita
à decisão livre e responsável de um profissional, essa intervenção deve ser
realizada com o máximo de informação possível; ou seja, desejar que algo tão pouco 63

previsível, como a resposta do doente e o benefício de uma ação no próprio, ocorra


com a maior probabilidade de êxito. Os profissionais de saúde necessitam de
protocolos, de normas de atuação, consensos etc. para sistematizar a parte do seu
trabalho que pode realizar-se desse modo.
O SFT, como qualquer outra atividade de saúde, necessita de procedimentos
de trabalho protocolados e validados por meio da experiência para ser realizado com
a máxima eficiência e permitir avaliar o processo e, sobretudo, os resultados.
Seguir um paciente significa acompanhá-lo; portanto, o trabalho de
seguimento envolve documentação, consultas de retorno nos casos ambulatoriais e
vínculo profissional farmacêutico-paciente, que somente se concretiza com
confiança adquirida ao longo do tempo.
Para o paciente internado, utiliza-se o prontuário médico, que contém os
seguintes dados:
- dados do paciente;
- formulário de consentimento;
- prescrição médica;
- controles diversos (pressão arterial (PA), temperatura, ingestão hídrica,
diurese etc.);
- dados laboratoriais;
- procedimentos diagnósticos;
- consultas e interconsultas;
- registros do centro cirúrgico;
- história clínica e exames físicos;
- registro da administração de medicamentos;
- diversos (por exemplo: registro da sala de emergência).

Para o paciente da farmácia pública ou ambulatorial, o farmacêutico deverá


buscar as informações necessárias por meio da anamnese farmacêutica realizada
em uma consulta, objetivando traçar um histórico do uso de medicamentos.
Após obter as informações necessárias, o farmacêutico interpretará os dados
colhidos e partirá para o processo de orientação farmacêutica.
O farmacêutico da farmácia de dispensação é o último e, no caso dos
medicamentos de venda livre, o único integrante dos profissionais de saúde que está
em contato com o paciente antes que este tome a decisão de consumir os 64

medicamentos; daí sua responsabilidade ética e profissional.


O preenchimento da ficha farmacoterapêutica e o acompanhamento do
paciente permitem relacionar os problemas deste com a administração dos
medicamentos. É possível que um medicamento seja responsável pelo
aparecimento de determinados sintomas ou patologias, ou ainda a causa de uma
complicação da enfermidade. A análise do perfil farmacoterapêutico poderá permitir
ao profissional adverti-lo.
Ele também poderá coletar dados para documentar as reações adversas a
medicamentos, que podem ser a causa da hospitalização de pacientes em 5% dos
casos. Alguns autores afirmam que 27% das enfermidades não cirúrgicas que levam
às internações apresentam problemas com medicamentos: reações adversas,
interações, utilização errada, tratamento inadequado etc. Outros autores
encontraram uma porcentagem maior (42%) de reações adversas nas internações
de pacientes psiquiátricos. Esses resultados não são tão surpreendentes levando
em consideração a constatação de que pacientes hospitalizados utilizam, em média,
seis medicamentos no mês anterior à sua internação (Bisson, 2007).
É possível ter o registro das reações adversas a medicamentos (RAM)
anteriores, como ototoxicidade produzida por aminoglicosídeos, acidez ou ardor
estomacal ocasionado por algum anti-inflamatório não esteroidal ou
hipersensibilidade a algum medicamento. O conhecimento dessas reações ajuda a
preveni-las.
A ficha farmacoterapêutica é o instrumento operacional que torna viável o
acompanhamento da terapia medicamentosa de um paciente na farmácia, Nela
devem estar registradas todas as informações necessárias sobre o paciente, o seu
plano terapêutico, a meta terapêutica e a resposta do paciente à terapia em vários
momentos ao longo do tratamento. O plano farmacêutico está, portanto, em
constante avaliação pelo farmacêutico.
A consulta farmacêutica deve ser realizada em local privativo, que pode ser
chamado de consultório farmacêutico ou consultório de orientação farmacêutica.
Esse consultório deve oferecer algumas características básicas, como ambiente
tranquilo, mesas e cadeiras confortáveis para o paciente e acompanhante,
microcomputador (com unidade de CD-ROM e acesso à internet) para arquivamento
de fichas farmacoterapêuticas dos pacientes e informações sobre drogas e
patologias. 65

Outra característica, segundo Bisson (2007), do consultório farmacêutico


envolve a decoração singela, pois o excesso de adereços como quadros ou figuras
pode desviar a atenção do paciente no processo de orientação. No caso de executar
o seguimento dos pacientes com base em fichas manuscritas, é importante dispor de
arquivo com chave para garantir a confidencialidade das informações.
Sempre que possível, as consultas devem ser previamente agendadas,
principalmente nos casos de acompanhamento de patologias crônicas, como
hipertensão e diabetes.
A primeira etapa do processo de anamnese farmacêutica envolve a
apresentação do farmacêutico e os motivos do acompanhamento, sempre se
lembrando na primeira consulta de solicitar a autorização por escrito do paciente
para evitar contratempos judiciais no futuro, como ocorre em outros países, como os
Estados Unidos, onde é frequente o paciente alegar constrangimento legal.
O propósito da entrevista deve ser esclarecido mostrando ao paciente que
essa consulta não tem o caráter de diagnóstico médico e sim de traçar um histórico
do uso de medicamentos para garantir a segurança e o aumento de eficácia dos
tratamentos farmacológicos.
Determinadas condutas, como sempre se referir ao paciente como
senhor/senhora e pelo nome, são fundamentais para estabelecer uma relação de
cordialidade e educação, que culminará no estabelecimento de um elo de confiança
com o paciente.
Durante o processo de anamnese e orientação, a linguagem deve ser sempre
clara e adaptada ao nível cultural e educacional do paciente. As questões em aberto
devem ser esclarecidas, e o paciente deve ter tempo de responder as questões e
não ser interrompido, salvo se o assunto estiver sendo demasiadamente desviado
do foco principal da consulta.
O tom de voz deve ser ajustado conforme as necessidades do paciente. Por
exemplo, um indivíduo idoso pode ter dificuldades auditivas, o que obrigará o
farmacêutico a elevar o tom. Se o paciente não estiver colaborando, dando
respostas lacônicas, é importante procurar obter feedback dele.
A consulta sempre deve ser dirigida dos tópicos gerais para os específicos,
lembrando- se sempre de anotar as informações e orientações mais importantes e
passá-las ao paciente ao final da entrevista, que deve ser encerrada com um
agradecimento pela atenção e, se for o caso, marcação de uma nova consulta para 66

continuação do processo de seguimento farmacoterapêutico.


Segundo Bisson (2007), um assunto que vem sendo discutido em vários
países diz respeito à cobrança de honorários por esse processo de seguimento. Nos
Estados Unidos, temos relatos de planos de reembolso efetuados por empresas de
medicina de grupo para farmacêuticos que acompanham seus pacientes. Em países
como o Brasil e outros da América Latina, as empresas e os pacientes não têm
hábito de arcar com o custo do acompanhamento, porém essa realidade parece
estar mudando com o rápido processo de globalização pelo qual o mundo está
passando e a abertura dos mercados de saúde a empresas americanas
acostumadas a trabalhar dentro dos princípios da Atenção Farmacêutica, fato que
tem reduzido os custos com a saúde. Entretanto, em países que não cobram pelo
processo de seguimento farmacoterapêutico, os farmacêuticos conseguem
ganhos indiretos, como fidelidade de seus clientes e consequente incremento de
faturamento de suas farmácias.

SELEÇÃO DE PACIENTES E ENTREVISTA

Antes de iniciar um programa de acompanhamento de pacientes, é importante


definir aqueles que serão acompanhados e que devem ser selecionados com base
no projeto de Atenção Farmacêutica estabelecido.
Segundo Bisson (2007), normalmente, os farmacêuticos não têm tempo e
oportunidade de entrevistar e fazer seguimento farmacoterapêutico de todos os
pacientes que vêm à farmácia ou passam pelo ambulatório. É comum que o
farmacêutico, em uma rápida observação dos medicamentos consumidos pelo
paciente e em uma breve conversa, dimensione as necessidades de
acompanhamento do mesmo. Isso permite realizar uma seleção inicial dos pacientes
que possam exigir um acompanhamento mais minucioso. Para a seleção, podem-se
utilizar diferentes critérios, que incluem os pacientes que:
- apresentamsinais ou sintomas que sugerem problemas
relacionados a medicamentos: reações adversas a medicamentos ou resposta
terapêutica inadequada;
- recebem medicamentos com uma estreita margem entre a ação
terapêutica e a tóxica e que podem exigir a monitoração da concentração no sangue
(p. ex: fenobarbital); 67

- consomem diversos medicamentos (polifarmacoterapia) ou


padecem de várias enfermidades;
Na prática profissional, outros critérios de seleção podem ser considerados
pelo farmacêutico, de acordo com a avaliação de cada caso e as necessidades do
paciente, como segue:
- características do paciente: idosos, portadores de insuficiência renal ou
hepática e crianças são mais sensíveis a intervenções farmacológicas e, por isso,
mais suscetíveis a complicações no plano e adesão terapêuticos.
- pacientes em uso continuado de medicamentos: esses, geralmente
portadores de enfermidades crônicas, necessitam de aconselhamento quanto ao uso
de medicamentos e sua patologia, além de acompanhamento que avalie o plano
terapêutico.

Entrevista de Histórico de Uso de Medicamentos

Para iniciar o processo de anamnese farmacêutica, as seguintes informações


devem ser obtidas dos pacientes e anotadas nas chamadas fichas
farmacoterapêuticas, que podem ser manuscritas ou digitadas.
Para fins de organização, Bisson (2007) sugere que as perguntas devem ser
formuladas em blocos de questões, iniciando-se sempre pelas informações
demográficas (idade, peso, altura, raça, residência, educação, ocupação), sociais
(uso de tabaco, álcool ou drogas ilícitas) e dietéticas (restrição dietética, uso de
suplementos alimentares, uso de estimulantes ou supressores do apetite) do
paciente, obtendo também dados de histórico de patologias, bem como suas queixas
e de seus familiares. Essas informações permitem ao farmacêutico verificar os riscos
ao qual o paciente está suscetível, pois muitas vezes a profissão, o tipo de
residência e o estilo de vida do paciente acabam por interferir no resultado da
terapêutica, quase sempre negativamente.
A seguir, são efetuadas questões relativas a medicamentos utilizados
atualmente e prescritos por médicos e dentistas, aos prescritos no passado e aos
sem prescrição, utilizados atualmente e no passado (nome, dosagem, esquema
posológico, indicações, data início e, no caso do passado, data e razão de término
da utilização da medicação, resultado da terapia).
Após as questões sobre medicamentos, devem ser registrados os dados do 68

histórico de alergias do paciente, que podem direcionar a seleção de drogas mais


seguras para serem utilizadas por ele (nome e descrição do agente causador,
dosagem, data, descrição da reação, modo de tratamento da alergia).

EXAMES LABORATORIAIS E DIAGNÓSTICOS

Para o perfeito desenvolvimento do segmento farmacoterapêutico, conforme


Bisson (2007), é necessário utilizar os conhecimentos da área de análises clínicas,
que, sem dúvida, alguns são mais fáceis de serem utilizados por profissionais que se
habilitaram nessa especialidade.
São exames que, na maioria das vezes, permitem acompanhar a resposta ao
tratamento farmacoterapêutico, auxiliando também na correção de dosagem e
posologia e até na troca de medicações. Esses exames podem ser divididos para
efeitos práticos em sistemas orgânicos, como: sistema cardiovascular, endócrino,
gastrintestinal, hematológico, imunológico, neurológico, renal, respiratório, doenças
infecciosas e acompanhamento nutricional.

PLANEJAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO

Após a fase de anamnese farmacêutica, começa a interpretação dos dados


levantados, representada pelo planejamento farmacoterapêutico, que é o centro do
processo de tomada de decisão.
O planejamento eficaz facilita a seleção apropriada do medicamento correto e
sua dosagem e posologia, estruturando a monitoração do paciente em relação à
resposta da terapia.
Esse plano terapêutico consiste em identificação, priorização e seleção de
alternativas terapêuticas para cada paciente Identificação do Problema:
- identificação de parâmetros objetivos (peso, altura, sinais vitais,
parâmetros bioquímicos, hemograma etc.);
- identificação de parâmetros subjetivos (ansiedade, depressão,
fadiga, insônia, dores gerais);
- agrupamento desses parâmetros;
- avaliação e determinação dos problemas específicos do paciente.
Priorização do problema: 69
- identificação de problemas ativos;
- identificação de problemas inativos;
- classificação (ranking) dos problemas.
Seleção de regimes terapêuticos específicos:
- listagem das opções terapêuticas;
- eliminação de drogas incompatíveis com o perfil ou quadro do
paciente;
- seleção de dosagens, via e duração da terapia;
- identificação de regimes terapêuticos alternativos;
- planejamentos da monitoração;
- monitoração e modificações necessárias dos protocolos.

Assim, para a realização do seguimento farmacoterapêutico, é necessário que


o farmacêutico elabore o plano de seguimento.
O plano de seguimento é o programa de visitas acordado entre o doente e o
farmacêutico para assegurar que os medicamentos que o doente toma são apenas
aqueles dos quais necessitam e que continuam a ser os mais efetivos e seguros
possíveis.
Na elaboração do plano, devem estar previstos os itens apresentados a
seguir:

Descrição dos objetivos terapêuticos


A definição dos objetivos é essencial para o seguimento farmacoterapêutico e
pode ser comparado ao destino de uma viagem. Se não se sabe para aonde se vai,
como definir os melhores caminhos?

Estabelecer parâmetros de monitoramento


Ao estabelecer parâmetros de monitoramento, é necessário que se responda
às seguintes questões: “O que fazer?” “Quando fazer?” “Quem faz?” “Onde fazer?”.
As respostas a essas questões fornecerão a forma de avaliar os objetivos
terapêuticos.

Estratégia de intervenção sobre medicamentos, prescritor, paciente


Deverá ser adotada baseando-se no perfil do paciente e no conteúdo da 70

intervenção.

Critérios de sucesso
O sucesso será baseado no desaparecimento dos sintomas, melhora do
quadro ou no controle de uma patologia. Para cada situação, o sucesso deverá ser
avaliado, confrontando-se com os resultados esperados traçados pelos objetivos e
medidos por meio dos parâmetros de monitoramento.

Avaliação dos resultados


É importante salientar que o resultado no seguimento farmacoterapêutico não
é apenas ter a intervenção aceita. É preciso avaliar a realização desse ato
farmacêutico sobre a situação do paciente.
Nesse caso, pode-se ter o problema de saúde resolvido ou não resolvido.
Uma observação quanto aos critérios para considerar o problema de saúde resolvido
é necessária de ser realizada, pois, muitas vezes, não temos como acabar com o
problema (ex. câncer, AIDS etc.), porém, pode-se considerar o controle da patologia
ou uma melhora do quadro como problema resolvido.
Assim, o planejamento terapêutico, em muitos países chamados de Consulta
Farmacêutica, consiste na otimização dos regimes posológicos, de forma que se
minimize a interação fármaco-fármaco e otimize-se a ação do medicamento de
acordo com o plano terapêutico.
O planejamento terapêutico deverá será ser feito por escrito e entregue ao
paciente assinado e carimbado pelo farmacêutico. Além de conter instruções sobre
posologia, podem conter explicações didáticas sobre a indicação de todos os
medicamentos, medidas alimentares que serão associadas ao tratamento e
instruções no caso de problemas ou emergências.

O MÉTODO DÁDER
71

MÉTODO DÁDER (MACHUCA, FERNÁNDEZ-LLIMÓS, FAUS, 2003).

O Método Dáder de Seguimento Farmacoterapêutico (SFT) foi elaborado pelo


“Grupo de Investigación en Atención Farmacéutica de la Universidad de Granada” no
ano de 1999, e atualmente é utilizado em diversos países por centenas de
farmacêuticos em milhares de doentes.
O Método Dáder baseia-se na obtenção da história farmacoterapêutica do
doente, isto é, nos problemas de saúde que este apresenta, nos medicamentos que
utiliza e na avaliação do seu estado de situação numa determinada data, de forma a
identificar e resolver os possíveis problemas relacionados com medicamentos (PRM)
que o doente apresenta. Após essa identificação, realizam-se as intervenções
farmacêuticas necessárias para resolver os PRM e, posteriormente, avaliam-se os
resultados obtidos.
O Método Dáder de SFT tem um procedimento concreto em que se elabora
um estado de situação objetivo do doente, e a partir do qual vão resultar as
correspondentes intervenções farmacêuticas, em que cada farmacêutico, em
conjunto com o doente e o seu médico, decide a ação a tomar em função dos seus
conhecimentos e das condições particulares de cada caso.
A Intervenção Farmacêutica (IF) define-se como a ação do farmacêutico que
visa melhorar o resultado clínico dos medicamentos mediante a alteração da
utilização dos mesmos. Essa intervenção enquadra-se dentro de um plano de
atuação acordado previamente com o doente.
O procedimento do seguimento farmacoterapêutico contém as seguintes
fases:
Oferta do Serviço

O momento mais adequado para oferecer o serviço ocorre quando o


farmacêutico suspeita que possam existir problemas relacionados com os 72

medicamentos. Como exemplos, apresentam-se os seguintes motivos de consulta:


- medição de um parâmetro fisiológico ou bioquímico na farmácia do qual
resulte um valor desviado do normal;
- queixa do doente durante o ato de dispensação sobre algum medicamento
prescrito;
- consulta sobre algum problema de saúde;
- consulta sobre algum medicamento;
- consulta sobre algum parâmetro bioquímico.
Contudo, não se poderá afirmar que existe algum PRM até que seja efetuada
a fase de avaliação do estado de situação e que se constate a existência do
resultado clínico negativo revelado pelo PRM.
De qualquer modo, o farmacêutico poderá oferecer o serviço a qualquer
doente, sempre que considere necessário.

Primeira Entrevista

Se o doente aceitar, programa-se uma visita na farmácia, em uma hora


cômoda para ambos, que permita conversar durante um período de tempo suficiente
(aproximadamente quinze minutos), sem interrupções, sobre os seus problemas de
saúde e os seus medicamentos.
Para essa visita, denominada Primeira Entrevista, o doente deve trazer:
- uma sacola com todos os medicamentos que tem em sua casa, com
especial atenção para os que estão tomando no momento;
- todos os documentos referentes à sua saúde (relatórios médicos, análises
clínicas) que tenha em casa, para que se possa obter informação objetiva relativa
aos seus problemas de saúde.
Se a data marcada para a visita demorar algum tempo, pode-se telefonar ao
paciente para relembrá-lo.
A primeira entrevista está estruturada em três partes claramente
diferenciadas:

 Fase de Preocupações e Problemas de Saúde

O objetivo desta fase é conseguir que o doente relate os problemas de saúde


73
que o preocupam mais. Para atingir esse objetivo, começa-se com uma pergunta
aberta, que permita ao doente expor esses problemas na sua própria linguagem.
Pode-se começar desta forma: “Agora vamos falar, se concordar, dos aspectos que
mais o preocupam sobre a sua saúde. Quero recordar-lhe que o que vamos
comentar ficará entre nós e o restante da equipe da farmácia. Se em qualquer
momento for necessária a comunicação com o seu médico, para melhorar qualquer
aspecto da sua medicação, faremos um informativo e será o/a senhor ou a senhora,
se achar conveniente, que o levará à consulta. Se me permite, vou tomando notas
das coisas que me vai dizer para não me esquecer de nada. Queria agora que me
dissesse o que é que mais o/a preocupa sobre a sua saúde.”
Nessa fase, é muito importante:
- escutar, prestando muita atenção, sem intervir nem emitir opiniões ainda
que sejam solicitadas. Deve-se transmitir confiança, tentando entender o doente
mais do que julgá-lo;
- deixar o doente falar sem o interromper, o que tornará essa fase mais
eficaz. A entrevista só deve ser reconduzida se o doente desviar-se do objetivo
desta e divagar de modo excessivo;
- não esquecer que a postura corporal do farmacêutico é uma forma de
linguagem não verbal muito importante. Devem-se evitar inclinações do corpo para
trás, que podem dar a sensação ao doente de desinteresse ou de superioridade.
É muito importante identificar os problemas de saúde que mais preocupam o
doente, já que este vai condicionar, em grande parte, a intervenção do farmacêutico.
Ainda que exista solução médica para resolver esses problemas, o doente não deve
evitar falar deles se lhe causam grande preocupação, pois a forma como o faz, como
os exprime e interioriza-os na sua vida diária e a influência do seu meio, poderão
ajudar o farmacêutico a delinear um plano de atuação para resolver os PRM.
Pontos importantes nesta fase:
- Nos primeiros doentes, deve-se atuar com prudência, especialmente se
não dominamos as técnicas de entrevista clínica, pois em caso de dúvida, é melhor
aprender com a experiência, já que qualquer informação que o doente forneça pode
ajudar a conhecer melhor o seu ambiente social e a sua cultura, o que irá ser crucial
no momento de resolver os problemas relacionados com a sua medicação.
- Nesse processo, o mais complicado é manter a capacidade de prestar
atenção numa dupla vertente, ou seja, anotar dados e perceber atitudes e 74

sensações, assim como escrever e simultaneamente comunicar-se com o doente.


Ainda que tudo isso se consiga com a prática, se tivermos que escolher o mais
importante é, sem dúvida, comunicar-se com o doente, estabelecer vínculos afetivos
e transmitir-lhe, mediante uma comunicação não verbal, a sensação de cumplicidade
e objetivos comuns.
-
 Medicamentos que o doente utiliza

O objetivo que se pretende atingir nesta fase é obter informação sobre o grau
de conhecimento que o doente possui acerca dos medicamentos que utiliza e do
grau de cumprimento da terapêutica. Esta fase também deve começar, dentro do
possível, por uma pergunta aberta, que permita ao doente expressar-se livremente,
o que aumentará a sua confiança. Pode-se iniciar com uma frase indicativa, como a
que se segue: “Bem, agora vamos falar sobre os medicamentos que traz e me conte
se está utilizando, como os utiliza, para quê, se está melhor ou se nota algo de
estranho...”.
Pretende-se realizar dez perguntas para cada medicamento que o doente
toma, tendo cada uma delas um objetivo definido:
- Está tomando? Se o toma o medicamento atualmente;
- Quem o receitou? Quem foi que prescreveu ou o aconselhou a tomar o
medicamento;
- Para quê? Para que o paciente acha que está tomando o medicamento;
- Está melhor? Se o paciente acha o medicamento efetivo;
- Desde quando? Há quanto tempo que o paciente toma o medicamento. É
útil para estabelecer relações causais entre problemas e medicamentos;
- Quanto? Posologia do medicamento;
- Como? Modo de tomar o medicamento ao longo do dia (com ou sem
alimentos, há alguma hora determinada );
- Até quando? Durante quanto tempo deve tomar o medicamento;
- Alguma dificuldade na utilização? Aspecto relacionado com a forma
farmacêutica (dificuldade em engolir, mau sabor, medo da injeção );
- Algum problema? Se o paciente relaciona a administração do
medicamento a algum efeito indesejável;
Ao final, o farmacêutico anotará se o doente conhece e cumpre 75

adequadamente o tratamento com cada medicamento.


Pontos importantes dessa fase:
- Há uma dupla finalidade para o fato de o doente trazer todos os
medicamentos à entrevista (incluindo os que não tomam e os outros que têm em
casa). Por um lado, podemos averiguar se algum medicamento que o doente tenha
tomado, em tempos, causou algum problema, quer seja uma falta de segurança ou
de efetividade. Essa informação poderá ser útil no futuro. Por outro lado, reduzir o
armazenamento de medicamentos em casa que não devem existir, tais como
antibióticos, pelo fato de necessitarem de prescrição médica ou outros
medicamentos que possam estar fora do prazo de validade. Com esse
procedimento, o farmacêutico poderá encontrar resposta à dúvida inicial que levou o
doente à primeira visita.
- De modo geral, recomendam-se registrar o mais rápido possível todas as
informações para ter bem presente todos os aspectos que o doente transmitiu. Se
verificarmos que existe alguma informação que nos esquecemos de registrar,
poderemos obtê-la, quer nas visitas seguintes, quer por um telefonema. É
conveniente anotar toda a informação que falta, podendo-se ou não esperar até o
final da fase de estudo para comprovar se há mais algum dado que seja necessário
obter.
- É importante guardar o papel original onde os dados da Primeira Entrevista
foram anotados, pois pode conter informação que, inicialmente, parece irrelevante e
mais tarde se torne importante, ou, inclusive, informação sem significado aparente,
como a ordem de prioridades das preocupações do doente e que pode revelar
informação sobre aspectos da sua personalidade e cultura, que poderão ser úteis a
qualquer momento.

 Fase de Revisão

Nesse momento, pode dizer-se ao doente que a entrevista já terminou e que


se vai fazer uma revisão para verificar se toda a informação obtida está correta.
Esta fase tem os seguintes objetivos:
- aprofundar alguns aspectos já mencionados na primeira fase da entrevista
e sobre os quais faltam completarem alguma informação, uma vez que na primeira
parte era mais importante estabelecer uma relação afetiva, evitando as interrupções; 76

- descobrir novos medicamentos e novos problemas de saúde não


mencionados antes, provavelmente porque não preocupavam tanto o paciente;
- dar a entender ao doente que se ouviu tudo com interesse.

A fase de revisão faz-se seguindo uma ordem que começa na cabeça e


termina nos pés.
 cabelo;
 cabeça;
 ouvidos, olhos, nariz, garganta;
 boca (úlceras, secura);
 pescoço;
 mãos (dedos, unhas);
 braços e músculos;
 coração;
 pulmão;
 aparelho digestivo;
 rim (urina);
 fígado;
 órgãos genitais;
 pernas;
 pés;
 músculo esquelético (gota, dores nas costas, tendinite);
 pele (secura, erupções);
 psicológico (depressão, epilepsia).

Essa fase é realizada com perguntas fechadas, uma vez que se pretende
melhorar a informação obtida.
Pode-se começar com frases deste tipo:
“Usa algum medicamento para a cabeça, algum xampu especial. ?”
Quando se chega a alguma parte em que é preciso aprofundar a informação
que foi mencionada numa fase anterior, pode-se utilizar uma frase como a seguinte:
“Disse que lhe dói à cabeça com frequência. Como é essa dor de cabeça?
Passa ao fim de quanto tempo?” 77

Também se anotam outros dados, tais como:


 Parâmetros fisiológicos que podem não estar controlados, como o
colesterol, ácido úrico, pressão arterial etc. e que não foram mencionados
anteriormente. Se o paciente segue alguma dieta especial ou toma algum complexo
vitamínico que possa não considerar como medicamento, vacinas...
 Hábitos de vida do doente, como o consumo de tabaco, álcool, outras
drogas, chá e outras bebidas e exercício físico.
Na primeira entrevista, toda a informação veiculada pelo doente deve ser
documentada e registrada. Para tal, utiliza-se o modelo da História
Farmacoterapêutica do Paciente. Contudo, não se recomenda utilizar esse modelo
para realizar a primeira entrevista, uma vez que dificulta a comunicação com o
doente, cuja maneira de se expressar dificilmente se cingirá ao modelo desenhado.
Dessa forma, o farmacêutico desviaria a sua atenção do essencial da entrevista para
se focar no preenchimento do formulário, uma vez que teria de procurar
persistentemente onde anotar cada dado revelado.
O mais aconselhável é escrever todos os dados num papel branco, durante a
entrevista, e logo que possível transcrevê-los para o Formulário da História
Farmacoterapêutica. Esse procedimento pode servir para o farmacêutico fazer a sua
autoavaliação, no que respeita à forma de realização da entrevista.
O Formulário da História Farmacoterapêutica preenche-se uma só vez, depois
da primeira entrevista, e serve de pasta para todos os documentos que se vão
arquivando sobre o doente.
Finaliza-se a entrevista com o registro dos dados demográficos do doente,
morada e telefone, data de nascimento, nome dos médicos que o assistem etc.
Todas essas informações devem ser registradas na História Farmacoterapêutica
normalizada do doente. Nesse momento termina verdadeiramente a primeira
entrevista com o doente e é conveniente transmitir-lhe uma mensagem sincera e de
esperança: “A entrevista já terminou. Se concordar, lhe telefonarei daqui a alguns
dias, quando tiver estudado o seu caso. Estou certo que vai valer a pena
trabalharmos juntos”.

Estado de Situação

O Estado de Situação (ES) de um paciente define-se como a relação entre os 78

seus problemas de saúde e os medicamentos que toma, numa data


determinada.Representa a “fotografia” do doente em relação a esses aspectos.
91
90
89
88
87
O primeiro ES resulta da obtenção dos dados da primeira entrevista e,
portanto, as datas coincidem.
A parte superior do documento é a que se denomina propriamente “fotografia
do paciente”. Dela constam os aspectos e características próprias do paciente que
individualizam o Estado de Situação como a idade, o sexo, as alergias a
medicamentos e o Índice de Massa Corporal (IMC), que podem influenciar a sua
avaliação. Se houver algum outro aspecto a realçar, pode utilizar-se do espaço
“Observações” situado na zona inferior do documento.
O corpo central do documento é o estado de situação propriamente dito, no
qual se apresentam os problemas de saúde face aos medicamentos que os tratam,
de forma que, por exemplo, para um doente com diagnóstico de hipertensão, os
medicamentos que o tratam situam-se na mesma linha à direita.
O corpo central do documento tem quatro zonas, da esquerda para a direita:

Problemas de Saúde
 Problema de saúde;
 Data do início;
 Grau de controle do PS (Problema de Saúde): escreve-se “S”(de SIM) se o
problema está controlado e “N” (de NÃO) se não está. Se existe alguma
unidade de medida quantitativa para refletir o controle do PS, pode anotar-se
esse valor. Se necessitar de efetuar mais registros, como é o caso dos
valores de hipertensão arterial ou de glicemia, pode-se utilizar o quadro
“Parâmetros” que aparece na zona inferior do ES;
 A preocupação que o problema causa ao doente (pouco, regular,
bastante).

Medicamentos
 Data de início;
 Medicamentos que tratam os PS. Recomenda-se registrá-los como
princípios ativos, em vez do nome das especialidades farmacêuticas;
 Posologia;
 Grau de conhecimento e cumprimento (bem, regular ou mal). 79

Avaliação
95
94
 Utiliza-se para anotar as suspeitas de Problemas Relacionados com os
Medicamentos (PRM) que possam existir. É constituída pelas seguintes
colunas:
 N (Necessidade), E (Efetividade) e S (Segurança) onde se anota S (Sim) ou N
 (Não);
 Coluna para anotar o PRM suspeito.

Intervenção Farmacêutica
Anotam-se as datas das intervenções, segundo o plano de atuação previsto,
para assim as ordenar por prioridades.
É conveniente colocar os problemas de saúde que possam estar relacionados
entre si, o mais perto possível uns dos outros (em linhas adjacentes), já que pode
existir uma relação entre eles e também irá ajudar a perceber possíveis estratégias
terapêuticas delineadas pelo médico.
A partir desse momento, o Estado de Situação do paciente é o documento
mais importante para estudar a sua evolução. É um documento absolutamente
dinâmico, que vai evoluindo de acordo com as alterações da saúde do paciente.
Pode dizer-se que, a partir daqui, o paciente é uma sucessão de Estados de
Situação. O aparecimento e desaparecimento de problemas de saúde e
medicamentos poderão dar lugar a um Estado de Situação muito diferente. Como
tal, mediante cada variação, é conveniente realizar outra fase de estudo, embora a
maior parte da informação possa já ter sido recolhida previamente.

Fase de Estudo

O objetivo da fase de estudo é obter informações necessárias acerca dos


problemas de saúde e medicamentos evidenciados no estado de situação para
avaliação posterior.
Devem-se analisar as duas partes diferenciadas do estado de situação:
- Os problemas de saúde
Para analisar os problemas de saúde relacionados, é importante ter em conta 80

que:
- é conveniente começar por estudar os problemas de saúde do doente,
especialmente os que estão diagnosticados pelo médico;
- o farmacêutico é um profissional que conhece os medicamentos, mas não
as doenças, e como tal, ao estudá-las em certos aspectos, entenderá o porquê e a
finalidade de cada medicamento, assim como a sua utilidade e as suas limitações no
controle do problema.
Para o farmacêutico, os aspectos mais interessantes de cada doença serão
basicamente:
- sinais e sintomas a controlar ou parâmetros de controle normalizados que
podem imediatamente fomentar uma suspeita relativamente a uma falta de
efetividade do tratamento;
- mecanismos fisiológicos de aparecimento da doença, para assim entender
como atuam os medicamentos que intervêm e prever o que poderá ocorrer com
outros que o doente administre ou, inclusive, relacioná-los com outros problemas de
saúde que possam surgir devido aos medicamentos;
- causas e consequências do problema de saúde do paciente, para assim
entender como realizar prevenção e educação para a saúde e, por outro lado,
conhecer quais são os seus riscos.
Em suma, entendendo os problemas de saúde do doente, melhora-se o
conhecimento da evolução do mesmo. Ao examinar a origem do problema de saúde
e as suas consequências, estabelecendo relações com outros, melhorar-se-á a
intervenção de forma a resolver os possíveis problemas relacionados com os
medicamentos que o doente possa apresentar.

- Os medicamentos
Para a análise dos medicamentos, é importante ter em conta que:
- é necessário realizar um estudo eficaz dos medicamentos que o doente
utiliza para que a intervenção tenha as maiores garantias de utilidade para a sua
saúde;
- o estudo dos medicamentos deve ser realizado partindo das características
gerais do seu grupo terapêutico e analisando, posteriormente, as particularidades do
princípio ativo. Esse aspecto é importante quando se trata de medicamentos novos
de um grupo, já que podem apresentar os mesmos problemas que os fármacos 81

anteriores, embora, devido ao tempo escasso de utilização, não estejam ainda


descritos na literatura.
Quanto aos medicamentos, os aspectos mais importantes que devem ser
levados em consideração são os seguintes:

 indicações autorizadas - representam o uso aprovado do


medicamento e explicam o porquê do seu aparecimento no estado de
situação. Ajudam a interpretar a forma como o médico aborda o
tratamento da doença. Também podem explicar os efeitos obtidos,
desejados ou não, no paciente;
 ação farmacológica e mecanismo de ação - indica a forma como o
medicamento combate a doença. Permite ao farmacêutico perceber o
que ocorre quando um medicamento é efetivo, e o que deveria ocorrer
e não ocorre quando este é inefetivo. Também pode explicar a forma
como se manifesta uma possível insegurança do medicamento, o que
pode ser a chave para ajudar o farmacêutico a encontrar a melhor
intervenção possível, procurando sempre o benefício do paciente tanto
a curto como em longo prazo. Também pode explicar em forma de
reação química o balanço entre a efetividade desejada e a insegurança
previsível evitável, ou justificar uma intervenção em que se preserva o
medicamento porque a insegurança manifestada é explicável pelo seu
mecanismo de ação habitual. Conhecendo o mecanismo de ação do
medicamento, entendem-se os efeitos deste no organismo, tanto os
desejados como os indesejados; posologia;
 intervalo de utilização – vem definido na literatura como aquele
onde se produz a efetividade do medicamento, ou seja, o intervalo
entre a dose mínima efetiva e a dose máxima segura habitual. A
“janela terapêutica” é o intervalo de utilização aplicado ao paciente
individual, e que por vezes é muito distinta da margem habitual de
utilização do medicamento. Cipolle enunciou que são os pacientes e
não os medicamentos que têm doses. Dessa forma, uma determinada
quantidade de medicamento, dentro do seu intervalo habitual de uso,
pode ultrapassar a dose máxima segura em determinados pacientes e
em outro ser efetiva ou mesmo nunca chegar a sê-lo. Os intervalos de 82

utilização descritos na literatura devem apenas servir como orientação,


sendo mais importante conhecer o que se passa com o paciente.
Assim, há que ter em conta os indícios reais de efetividade e
segurança que este apresente;
 farmacocinética (Tmax, meia-vida de eliminação...) – fornece
informação que permite reconhecer quando se deve medir parâmetros
clínicos de efetividade e segurança e avaliar a possibilidade de
interações ou interferências analíticas, além de sinergismos de ação e
duração do efeito dos medicamentos;
 interações - é importante conhecê-las e poder explicá-las por
meio do mecanismo de ação dos medicamentos, para assim entender
como aparecem e manifestam-se, se têm significado clínico e,
inclusive, se devem ser pesquisadas, uma vez que podem resultar
de sinergismos de ação;
 interferências analíticas - determinam a importância clínica de
cada caso, indicando se o valor é biológico, pois surge como
consequência do mecanismo de ação, ou patológico, o que poderá ter
relação com a evolução da doença. Um caso típico é a elevação dos
valores das transaminases induzido pelas estatinas. É lógico que um
medicamento (estatina) que atua na síntese do colesterol no nível
hepático possa elevar as enzimas que indicam que o fígado está
funcional. Uma elevação discreta das transaminases pode indicar que
o medicamento está atuando e em conjunto com o valor de colesterol
comprovará a sua efetividade e não um problema de segurança;
 precauções;
 contraindicações - são situações nas quais não se deve usar o
medicamento. Deve-se analisar no contexto do mecanismo de ação do
medicamento ou de alguma situação de risco, concluindo-se que o
risco de utilização do medicamento supera o benefício do mesmo. Em
todo o caso, é necessário diferenciar claramente as contraindicações
dos efeitos secundários e de outros problemas de insegurança;
 problemas de segurança - englobam todos os efeitos não
desejados do medicamento. É importante diferenciar se o efeito é 83

consequência do mecanismo de ação do medicamento, ou se, ao


contrário, não se encontra relação causa-efeito para aumentar as
possibilidades de atuação sobre eles. Permitem estabelecer relação
entre os problemas de saúde: os que se tratam com medicamentos e
os que aparecem como consequência da utilização dos mesmos. Com
frequência, aparecem problemas de segurança que podem ser
imputáveis a vários medicamentos que o doente toma. É interessante
ter esse aspecto em conta: mesmo que se pense logicamente que se
deveria imputá-lo apenas a um medicamento concreto, por vezes não é
o que se passa na realidade, e há que prever todas as possibilidades.

Conhecer os problemas de saúde e os medicamentos em profundidade


ajudará a resolver muitas dúvidas, embora nunca se possa assegurar nada até que
o PRM desapareça como consequência da intervenção efetuada.
Metodologicamente é aconselhável realizar um estudo horizontal, ou seja, não
estudar, por um lado, todos os problemas de saúde e, por outro, todos os
medicamentos, mas sim, estudar cada problema de saúde com os medicamentos
que o tratam e assim sucessivamente.
Dessa forma, com as características que adiante se destacam estabelecem
relações entre eles e com outros problemas de saúde relacionados.
Também é útil, em primeiro lugar, relacionar os problemas de saúde
diagnosticados para posteriormente anotar os restantes.

Fase de Avaliação

O objetivo desta fase é estabelecer as suspeitas de PRM que o doente possa


apresentar.
Nesta fase, é conveniente ter em conta que:
- é primordial ter uma visão de conjunto, efetuando uma revisão externa
sucinta do estado de situação do doente para, assim, poder interiorizar de que tipo
de doente se trata e estabelecer prioridades no balanço efetividade/segurança, ou
seja, na altura de estabelecer um plano de atuação, o farmacêutico deve ter a
capacidade de escolher, em um determinado momento, qual das características
deve prevalecer sobre a outra; 84

- é importante anotar tudo o que se pensa que esteja relacionado. É


evidente que nem tudo o que foi anotado é efetuado, mas é aconselhável ter em
conta todos os aspectos para depois delinear a melhor sequência de intervenções
no plano de atuação. Uma vez efetuada a visão de conjunto, começa-se a trabalhar
cada linha do estado de situação, que corresponde a uma estratégia
farmacoterapêutica para um determinado problema de saúde, com perguntas que
contestam as três propriedades fundamentais da farmacoterapia: necessidade,
efetividade e segurança.
 O doente necessita do(s) medicamentos(s)?
 O(s) medicamento(s) é/são efetivo(s)?
 O medicamento é seguro?
No caso de estratégias terapêuticas, tanto as perguntas sobre necessidade
quanto as relacionadas à efetividade devem ser efetuadas, cada uma delas, para o
conjunto de medicamentos e não isoladamente. Se, por um lado não se questiona a
necessidade de um medicamento que se relacione e está autorizado para tratar um
determinado problema de saúde, por outro uma falta de efetividade não poderá
relacionar-se com um medicamento concreto, mas sim com toda a estratégia
terapêutica conjunta. No entanto, no caso dos problemas de segurança, que são
próprios de cada medicamento, a pergunta deve efetuar-se isoladamente para cada
um deles.

Fase de Intervenção

O objetivo desta fase é elaborar um plano de atuação de acordo com o


paciente e desencadear as intervenções necessárias para resolver os PRM que este
possa estar sofrendo.
No início do processo de intervenção, é muito importante levar em
consideração:
- quais problemas preocupam mais o doente e quais são as prioridades que
se colocam ao profissional de saúde;
- é necessário conciliar as preocupações do paciente, que é quem sofre com
os problemas e possui uma visão mais pessoal da situação, com a do farmacêutico,
que é quem detectou os possíveis problemas e possui uma visão mais objetiva;
- tentar resolver primeiro aqueles problemas que preocupam mais o 85

paciente.
No caso de ambas as estratégias serem inicialmente contraditórias, deve-se
“negociar” com o paciente o caminho mais adequado a seguir de forma a oferecer-
lhe uma estratégia mais lógica de resolução.

Por isso, é essencial esclarecer o paciente, relatando os possíveis desvios


encontrados e expor a opinião profissional mostrando uma estratégia coerente de
resolução dos PRM para chegar a acordos lógicos sobre o caminho a seguir.
Devem-se levar em consideração diversos aspectos que, dependendo das
circunstâncias particulares, terão menor ou maior importância. Todas essas opções
podem ser válidas ou não segundo a situação, e, portanto a escolha de uma delas
dependerá da situação concreta:
 casos em que a efetividade prevaleça sobre a segurança;
 prevalência da segurança face à efetividade;
 efetividade em longo prazo;
 segurança em longo prazo;
 começar pelo mais fácil para ganhar confiança;
 começar pelo mais rápido para ganhar tempo;
 eliminar circunstâncias graves, mas pouco prováveis;
 executar soluções fáceis pouco arriscadas;
 estratégias conservadoras assegurando o terreno conquistado;
 estratégias arriscadas pela urgência;
 começar por aquelas que não necessitam da intervenção do
médico;
 começar por aquelas que vão derivar para especialistas.

Em todo caso, acertar à primeira na solução do problema não deve ser


prioritário. Às vezes é melhor avançar pouco a pouco resolvendo primeiramente
situações de maior gravidade. Por isso, a estratégia a seguir deve ser acordada,
conhecida e assumida pelo paciente, que entenderá esse processo como o caminho
necessário a percorrer para resolver os seus problemas. Nessa fase, a comunicação
é crucial, e cada um dos implicados deve entender perfeitamente o objetivo da
mesma em cada momento. 86

Pode então começar o preenchimento a folha de Intervenção Farmacêutica. A


intervenção pode ser de duas formas:
- Farmacêutico – Paciente: se o PRM se deve a causas derivadas do uso do
medicamento por parte do paciente;
- Farmacêutico – paciente-médico: se a estratégia delineada pelo médico
não atinge os efeitos esperados, ou se se trata de um problema de saúde que
necessite diagnóstico médico.
A intervenção farmacêutica – paciente realizar-se-á de uma forma verbal ou
escrita, conforme decisão do farmacêutico, com o intuito de obter o maior êxito
possível. Contudo, a intervenção farmacêutico–paciente-médico realizar-se-á com
uma comunicação escrita, que deve conter os seguintes itens:
a. apresentação do doente: referindo todos os dados do doente (problemas
de saúde e medicamentos) imprescindíveis para abordar o problema;
b. motivo da comunicação: causa pela qual se remete ao médico. Devem- se
referir dados dos problemas de saúde que possuem parâmetros quantitativos, sinais
e sintomas que o doente apresente, sem utilizar palavras que levem a pensar que o
farmacêutico possa fazer diagnóstico ou prognóstico de algum problema de saúde;
c. juízo farmacêutico: relação possível do problema com os medicamentos,
uma vez estudados todos eles;
d. despedida: realçando o papel de decisão do médico e a importância da
intervenção, bem como oferecendo colaboração para o seu êxito.
Uma vez combinada a intervenção com o paciente, elabora-se a informação
escrita que será apresentada e entregue, com uma cópia para ele e outra para levar
à consulta médica.

Resultado da Intervenção

O objetivo desta fase é determinar o resultado da Intervenção Farmacêutica


para a resolução do problema de saúde estabelecido. Não se pode afirmar que
existe um PRM até o problema de saúde desaparecer ou ficar controlado após a
intervenção.
O resultado da Intervenção dará lugar a um novo estado de situação do
paciente. Os resultados das intervenções podem ser:
- intervenção aceita, problema de saúde resolvido; 87

- intervenção aceita, problema de saúde não resolvido;


- intervenção não aceita, problema de saúde resolvido;
- intervenção não aceita, problema de saúde não resolvido.
Considera-se uma intervenção aceita, quando o paciente (no caso de
intervenções entre farmacêutico-paciente) ou o médico (no caso de intervenções
farmacêutico-paciente- médico) modificam o uso do medicamento para tratar o
problema em consequência da intervenção efetuada pelo farmacêutico.
O problema de saúde está resolvido quando, em consequência da
intervenção do farmacêutico, desaparece o motivo da mesma.
Uma vez obtido o resultado da intervenção, pode-se acabar de completar a
folha de intervenção.

Novo Estado de Situação

O objetivo desta fase é recolher as alterações existentes desde a intervenção,


relativas aos problemas de saúde e medicamentos.
Para esta fase é importante considerar o seguinte:
- no caso do médico ter optado por seguir a mesma estratégia, o estado de
situação aparentemente não muda, embora se tenha que controlar a medicação
para verificar novamente se é necessário uma nova intervenção;
- a partir daqui, com as alterações que existem, iniciar-se-á uma nova fase
de estudo.

Entrevistas sucessivas

Os objetivos desta fase são:


- continuar resolvendo os PRM pendentes segundo o plano de atuação
acordado;
- cumprir o plano de seguimento para prevenir o aparecimento de novos
PRM;
- obter informação para poder documentar os novos estados de situação e
melhorar a fase de estudo.

ATENÇÃO FARMACÊUTICA EM GRUPOS ESPECÍFICOS E PROMOÇÃO 88

DA SAÚDE

ATENÇÃO FARMACÊUTICA AO PACIENTE HIPERTENSO

A hipertensão arterial é uma patologia que se caracteriza por uma desordem


crônica, geralmente assintomática, onde os pacientes por esse motivo interrompem
o tratamento por nada sentirem e somente retornar a fazer uso do medicamento
quando alguns sintomas reaparecem.
Segundo Bisson (2007), a hipertensão é um dos principais problemas de
saúde no Brasil. Elevam o custo médico-social, principalmente pelas suas
complicações, como as doenças cerebrovascular, arterial coronariana e vascular de
extremidades, além da insuficiência cardíaca e da insuficiência renal crônica. Desde
1963, as doenças cardiovasculares superaram as outras por causa de morte, sendo
responsáveis, atualmente, por 27% dos óbitos. As tendências de risco de morte por
doenças cardiovasculares são diferentes nas diversas regiões, com queda no
Sudeste e no Sul, aumento no Centro-Oeste e Nordeste e estabilidade no Norte.
Na hipertensão, temos a elevação da pressão arterial, com pressões
diastólicas acima de 90 mmHg e/ou sistólicas acima de 140 mmHg. Calcula-se que
25% da população adulta sejam hipertensas (CAMARGO, 2007).
Conforme Castro e colaboradores (2004), avanços na terapêutica propiciados
pela medicina baseada em evidências e epidemiologia podem levar a uma melhor
prática profissional possibilitando, no caso da hipertensão, redução da incidência de
desfechos primordiais, tais como o infarto do miocárdio e o acidente vascular
encefálico. Independentemente da disponibilidade de tratamentos medicamentosos
e não medicamentosos apresentados em numerosos consensos e guias de
tratamento, o controle populacional da hipertensão encontra- se longe do ideal.
Alguns fatores desse insucesso estão relacionados a eventos adversos de
medicamentos anti-hipertensivos, às atitudes e às crenças do paciente em relação
ao tratamento e à própria doença, à inércia dos prescritores frente à pressão não
controlada e à ausência de serviços de saúde estruturados e eficientes para
sobrepujar esse problema de saúde pública. Uma possibilidade de abordagem que
venha a contribuir para a solução desses problemas é o trabalho inter e
multidisciplinar dos membros da equipe de atenção à saúde.
Conforme a Organização Pan-Americana de Saúde (2004), sabe-se que a 89

hipertensão somente é diagnosticada em dois em cada três indivíduos hipertensos


(68,4%). Destes, 53,6% recebe o tratamento adequado, mas o controle adequado da
hipertensão somente se consegue em 27% dos casos diagnosticados.
Foi demonstrada que a falta de adesão ao tratamento que ocorre entre os
pacientes crônicos, implica uma maior probabilidade de agravamento da doença,
aumento dos gastos em saúde e diminuição da qualidade de vida dos pacientes.
Entende-se como adesão ao tratamento o processo colaborativo estabelecido para
otimizar os resultados clínicos.
O farmacêutico é o profissional que possui o conhecimento e a habilidade
necessários para colaborar na correta utilização do tratamento farmacológico e
otimizar a adesão do paciente. A farmácia é o local em que, frequentemente, a
população busca conselhos para seus problemas de saúde. Incluir o farmacêutico no
cuidado do paciente hipertenso é, além disso, importante, em função do contato com
o paciente antes do início do tratamento e a manutenção de forma regular durante o
mesmo. Esse compromisso do farmacêutico com a atenção ao paciente e a
preocupação por alcançar os objetivos terapêuticos representa o processo de
Atenção Farmacêutica.
Um dos estudos que avaliaram o impacto da Atenção Farmacêutica é o
projeto TOMCOR (Therapeutic Outcomes Monitoring in Coronary patients), estudo
multicêntrico elaborado pela Universidade da Flórida e desenvolvido na Espanha
que possuiu como objetivo avaliar os efeitos da Atenção Farmacêutica sobre
pacientes com doenças coronárias. Os resultados evidenciaram uma diminuição na
taxa anual de reinfartos no grupo de intervenção e uma menor utilização de recursos
de saúde.
A proposta de atenção farmacêutica ao paciente hipertenso surge como uma
maneira de amparar o prescritor e o paciente junto aos complexos fatores envolvidos
com a hipertensão arterial. Considerando as variáveis que envolvem a hipertensão e
a necessidade de vários profissionais em conjunto para reatá-la, o farmacêutico
pode atuar de diversas maneiras para auxiliar o paciente:
- Facilitador da adesão ao tratamento – A adesão ao tratamento pode ser
definida como o grau de coincidência entre a prescrição e o comportamento do
paciente (NOBRE et al., 2001). Segundo os mesmos autores, a falta de adesão ao
tratamento anti-hipertensivo é um fator inegável que os profissionais da área da
saúde evidenciam na prática clínica. 90

Cabe ao farmacêutico avaliar a prescrição médica e reforçar os conselhos do


prescritor ao paciente e aconselhar para a necessidade do cumprimento das
medidas farmacológicas e não farmacológicas.
- Auxiliar o paciente junto aos fatores de risco – a prevenção dos fatores
de risco pode diminuir a mortalidade da população hipertensa associada ao uso de
medicamentos (GIORGI, 1998).
Entre os fatores mais importantes associados à hipertensão, pode-se citar:
a) obesidade;
b) tabagismo;
c) colesterol elevado.
- Auxiliar o prescritor no controle o tratamento: estudo realizado
por Camacho et al. (2001) demonstrou que 65% da população estudada estavam
sem controle da hipertensão. O acompanhamento do paciente é importante.
Pacientes hipertensos tendem a ignorar as indicações da prescrição quanto aos
hábitos e controlam a doença com periodicidade inadequada (GAGLIARDINO,
1995).
- Agente elaborador de campanhas junto à comunidade: com o
avanço da hipertensão, a necessidade de campanhas é de extrema importância para
conter a doença (BARBOSA et al., 1999), particularmente diante do quadro de
sedentarismo, consumo de frituras e tabagismo que atinge nossa população. No
Brasil, pouco tem sido feito, visando à prevenção de doenças e promoção da saúde,
principalmente por meio de atividades de caráter coletivo (OLIVEIRA et al., 2000).
- Auxiliar para minimizar os fatores que dificultam o tratamento:
trabalho realizado por Resende (1998) mostrou que alguns fatores que dificultam o
tratamento são: dificuldades de acesso ao atendimento ambulatorial do SUS,
desconhecimento de fatores de risco da doença, insatisfação com o atendimento
prestado pelos profissionais da saúde e limitação da capacidade física.

- Articulação com outros profissionais de saúde: como


enfermeiros, nutricionistas, médicos etc.
- Descrição de reações adversas.
Segundo Bolognesi e colaboradores, a hipertensão arterial é uma doença de
alta prevalência que pode levar a sérias complicações se não controlada. Por ser
uma patologia crônica que requer, na maioria das vezes, associação medicamentosa 91

de uso contínuo, é alta também a prevalência de Problemas Relacionados a


Medicamentos – PRM, o que torna este grupo de pacientes importantes para o
acompanhamento farmacoterapêutico.

Tratamento não medicamentoso para hipertensão

a) Medidas de Maior Eficácia


- Redução do peso corporal e manutenção do peso ideal: índice corporal
(IMC) entre 20 e 25, pois, conforme já sinalizado, existe relação direta entre peso
corporal e pressão arterial (PA).
- Redução da ingestão de sódio: é saudável ingerir até 6g/dia de sal, que
correspondem a quatro colheres de café rasas de sal (4g) e 2 g de sal presente nos
alimentos naturais, reduzindo o sal adicionado aos alimentos e evitando o saleiro à
mesa e alimentos industrializados.
- Maior ingestão de potássio: uma dieta rica em vegetais e frutas, contendo 2
a 4g de potássio/dia e pode ser útil na redução da pressão e prevenção da
hipertensão arterial. Os substitutos do sal com cloreto de potássio e menos cloreto
de sódio (30 a 50%) são úteis para reduzir a ingestão de sódio e aumentar a de
potássio.
- Redução do consumo de bebidas alcoólicas: para os consumidores de
álcool, a ingestão da bebida alcoólica deve ser limitada a 30g álcool/dia, contidas em
600 ml cerveja (5% álcool), 250ml de vinho (12% de álcool), ou 60ml de destilados
(whisky, vodca, aguardente 50% de álcool). Esse limite deve ser reduzido à metade
por pessoas com baixo peso, mulheres e indivíduos com sobrepeso e/ou triglicérides
elevados.
- Exercícios físicos regulares: há relação inversa entre o grau de atividade
física e a incidência de hipertensão; exercício físico regular reduz a pressão.
b) Medidas sem avaliação científica definida:
- Suplementação de cálcio, magnésio, dietas vegetarianas e medidas
antiestresse.
c) Medidas associadas:
- abandono do tabagismo;
- controle do diabetes e das dislipidemnias;
- evitar medicamentos que elevem a pressão arterial. 92

TRATAMENTO MEDICAMENTOSO

Princípios gerais:
- O medicamento deve ser eficaz por via oral, bem tolerado e permitir o
menor número possível de doses diárias;
- Em pacientes em estágio 1, iniciar o tratamento com as menores doses
efetivas. Em pacientes nos estágios 2 e 3, considerar o uso associado de anti-
hipertensivos para início de tratamento;
- Respeitar no mínimo quatro semanas para aumentar a dose, substituir
monoterapia ou mudar associação de fármacos;
- Instruir o paciente sobre a doença, planificação e objetivos terapêuticos,
necessidade do tratamento continuado e efeitos adversos dos fármacos.

Medicamentos Anti-Hipertensivos

- Diuréticos

O mecanismo anti-hipertensivo dos diuréticos está relacionado, numa primeira


fase, à depleção de volume e, a seguir, à redução da resistência vascular periférica
de mecanismos diversos.
São eficazes como monoterapia no tratamento da hipertensão arterial, dando-
se preferência aos diuréticos tiazídicos e similares. Diuréticos de alça são
reservados para situações de hipertensão associada à insuficiência renal e cardíaca.
Os diuréticos poupadores de potássio apresentam pequena potência
diurética, mas quando associados à tiazídicos e diuréticos de alça, são úteis na
prevenção e no tratamento de hipopotassemia.
Entre os efeitos indesejados dos diuréticos, ressalta-se fundamentalmente a
hipopotassemia, por vezes acompanhada de hipomagnesemia, e a hiperuricemia.
É ainda relevante o fato de que os diuréticos podem provocar intolerância à
glicose. Podem, também, promover aumento dos níveis séricos de triglicérides, em
geral dependente da dose. Em muitos casos, provocam disfunção sexual.

Inibidores Adrenérgicos 93

 Ação Central
Atuam estimulando os receptores alfa-2-adrenérgicos pré-sinápticos
(alfametildopa, clonidina e guanambezo) e/ou os receptores imidazolidínicos
(monoxidina) no sistema nervoso central, reduzindo a descarga simpática.
Esses fármacos podem ser úteis em associação com medicamentos de
outras classes terapêuticas, particularmente quando existem evidências de
hiperatividade simpática.
Entre os efeitos indesejáveis, destacam-se sonolência, sedação, boca seca,
fadiga, hipotensão postural e impotência.

 Alfa-1 bloqueadores
Apresentam baixa eficácia como monoterapia, devendo ser utilizados em
associação com outros anti-hipertensivos. Eles podem induzir o aparecimento de
tolerância farmacológica, que obriga o uso de doses crescentes, mas têm a
vantagem de propiciar melhora do metabolismo lipídico (discreta) e da urodinâmica
(sintomas) de pacientes com hipertrofia prostática. Os efeitos indesejáveis mais
comuns são: hipotensão postural, palpitação e, eventualmente, astenia.

 Betabloqueadores
O mecanismo anti-hipertensivo complexo envolve diminuição do débito
cardíaco, redução da secreção de renina, readaptação dos barorreceptores e
diminuição das catecolaminas nas sinapses nervosas.
Esses medicamentos são eficazes como monoterapia. Aqueles com atividade
simpatomimética intrínseca são úteis em gestantes hipertensas e em pacientes com
feocromocitoma. Constituem a primeira opção na hipertensão arterial associada à
doença coronariana e arritmias cardíacas. Entre as reações adversas desse grupo,
destacam-se: broncoespasmo, bradicardia excessiva, distúrbios da condução
atrioventricular, depressão miocárdica, vasoconstrição periférica, insônia, pesadelos,
depressão psíquica, astenia e disfunção sexual.
Do ponto de vista metabólico podem acarretar intolerância à glicose,
hipertrigliceridemia e redução do HDL-colesterol.

- Vasodilatadores Diretos 94

Os medicamentos desse grupo, como a hidralazina e o minoxidil, atuam


diretamente sobre a musculatura da parede vascular, promovendo relaxamento
muscular com consequente vasodilatação e redução da resistência vascular
periférica. Em consequência da vasodilatação arterial direta, promove retenção
hídrica e taquicardia reflexa, o que contraindica seu uso como monoterapia, devendo
ser utilizados em associação com diuréticos e/ou betabloqueadores.

- Antagonistas dos Canais de Cálcio


A ação anti-hipertensiva decorre da redução da resistência vascular periférica
por diminuição da concentração de cálcio nas células musculares lisas vasculares.
Não obstante, o mecanismo final comum, esse grupo é dividido em quatro
subgrupos, com características farmacológicas diferentes: fenilalquilaminas
(verapamil), benzotiazepina (diltiazem), diidropiridinas (nifedipina, anlodipina etc.) e
antagonistas do canal T (mibefradil).
São medicamentos eficazes como monoterapia.
Os efeitos adversos desse grupo incluem: cefaleia, tontura, rubor facial e
edema periférico, dentre outros.

- Inibidores da enzima conversora de Angiotensina

O mecanismo de ação dessas substâncias é fundamentalmente dependente


da inibição da enzima conversora, bloqueando, assim, a transformação da
angiotensina I em II no sangue e nos tecidos. São eficazes como monoterapia.
Também reduzem a morbidade e a mortalidade de pacientes hipertensos com
insuficiência cardíaca e de pacientes com infarto agudo do miocárdio.
Entre os efeitos indesejáveis, destaca-se: tosse seca, alteração do paladar e
reações de hipersensibilidade (erupção cutânea, por exemplo).
Seu uso é contraindicado na gravidez.
- Antagonistas do receptor da Angiotensina II

95

<http://dtr2001.saude.gov.br/sas/cnhd/noticias/campanha/campha.htm>.

Essas drogas antagonizam a ação da angiotensina II por meio do bloqueio


específico de seus receptores AT-1. São eficazes como monoterapia.
Eles apresentam bom perfil de tolerabilidade, sendo os efeitos colaterais
relatados tontura e, raramente, reação de hipersensibilidade cutânea (rash).

PROMOÇÃO DA SAÚDE AO PACIENTE HIPERTENSO

ATENÇÃO FARMACÊUTICA AO PACIENTE DIABÉTICO


Segundo Bisson (2007), o diabetes melito (DM) é uma doença de elevada
prevalência no Brasil e estimativas epidemiológicas indicam uma elevação desses
índices na próxima década. Como consequências de suas complicações crônicas
vasculares e neurológicas, são observadas alterações em diferentes órgãos e 96

sistemas que se traduzem em uma piora acentuada da qualidade de vida do


paciente diabético e geram um número acentuado de consultas e procedimentos
médicos.
Estima-se que, no Brasil, existam mais de 5 milhões de diabéticos, dos quais
metade conhece o diagnóstico. De acordo com o Censo de Diabetes, realizado pela
Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), a prevalência da doença na população
brasileira de 30 a 69+ anos era de 7,6%, magnitude semelhante verificada em
países desenvolvidos.
A doença acomete igualmente homens e mulheres e aumenta de modo
considerável com a idade. O DM implica em altos índices de morbidade e
mortalidade: é a quarta causa de morte no Brasil.
O DM é a segunda doença crônica mais comum na infância e adolescência.
Além disso, na gravidez, é uma causa importante de complicações materno-fetais.
O diabetes é uma das principais causas de mortalidade, insuficiência renal,
amputação de membros inferiores, cegueira e doença cardiovascular. Após 15 anos
da doença, 2% dos indivíduos desenvolverão cegueira; 10% deficiência visual grave;
30-45% algum grau de retinopatia; 10-20% de nefropatia, 20-35% de neuropatia e
10-25% de doença cardiovascular. Mundialmente, os custos diretos para o
atendimento ao diabetes variam de 2,5% a 15% dos gastos nacionais em saúde,
dependendo da prevalência local e da complexidade do tratamento disponível. Além
dos custos financeiros, acarreta dor, ansiedade, inconveniência e menor qualidade
de vida para o doente e suas famílias. Representa, também, carga adicional à
sociedade pela perda produtiva no trabalho, aposentadoria precoce e mortalidade
prematura (OMS, 2002).
Embora o diabetes possa ocorrer em qualquer idade, há aumento dramático
de sua prevalência na população de pessoas idosas, sendo uma das doenças
crônicas mais comuns na população de indivíduos dessa faixa etária – 80% dos
diabéticos têm idade superior a 45 anos (MARCONDES et al., 2005).
A Sociedade Brasileira de Diabetes recomenda o uso da classificação da
Organização Mundial da Saúde-OMS (1985/1994). Os DM insulinodependentes
(IDDM) incluem pacientes anteriormente conhecidos como portadores de diabetes
juvenil ou tipo 1. O termo tipo 1 refere-se a um processo patológico em particular,
caracterizado pela destruição imunológica das células beta de indivíduos
geneticamente suscetíveis. 97

Pacientes com IDDM geralmente são jovens (essa forma é mais comum em
crianças e adolescentes) e magros. O início do quadro é abrupto, com tendência à
cetoacidose, e há absoluta dependência de insulina exógena. Esse tipo de DM
corresponde à cerca de 5% do total de casos de DM.
O DM não insulinodependente (NIDDM) refere-se a uma condição em que
indivíduos não dependem da administração de insulina exógena para a sua
sobrevivência. Nesses casos, a maioria dos pacientes pode ser tratada somente
com dieta e antidiabéticos orais. Porém, em condições de estresse e com o decorrer
dos anos, a administração de insulina pode ser necessária para se obter um bom
controle metabólico.
Esse tipo de DM, também denominado tipo 2, corresponde à cerca de 90%
dos casos.
Faz-se necessário ressaltar que a classificação que está sendo mais utilizada
é DM tipo 1 ou 2, pois conforme citado no texto, o diabético que não depende de
insulina pode passar a depender com o passar do tempo, o que inviabiliza a
classificação relacionada a dependência de insulina.
O DM gestacional é definido como uma intolerância a carboidratos de
intensidade variável, diagnosticado pela primeira vez durante a gestação, podendo
ou não persistir após o parto.
O interesse de implantar um serviço de Atenção Farmacêutica que atenda a
esses pacientes baseia-se no fato de que esta doença é um dos mais importantes
problemas de saúde pública, além de sujeitar as pessoas a Problemas Relacionados
a Medicamentos – PRM, pela carência de orientações quanto ao uso racional de
medicamentos, complicações, controle da doença e interações medicamentosas e
alimentares (MACEDO et al., 2005).

Medicamentos Utilizados no Tratamento do Diabetes


- Antidiabéticos Orais

O controle glicêmico é fundamental para a prevenção de complicações micro


e macrovasculares e pode ser realizado pela administração de hipoglicemiantes
orais ou insulina.
98
Os antidiabéticos orais estão reservados para o tratamento da diabetes tipo 2,
sem complicações por cetoacidose. De um modo geral, nos diabéticos desse tipo
consegue-se um controle regular da glicemia com os antidiabéticos orais. Além do
controle da glicose, são também importantes na prevenção das complicações
associadas a essa doença, tais como: doença cardiovascular, cegueira, IR e
gangrena dos membros inferiores.
As sulfonilureias exercem a sua ação hipoglicemiante por estimulação da
secreção da insulina residual endógena e são eficazes em doentes com um mínimo
de função pancreática. Está também associada uma ação em longo prazo,
aumentando a resposta metabólica à insulina circulante. A hipoglicemia é o acidente
mais grave nos pacientes idosos que seguem esta terapêutica e está associada ao
uso das sulfonilureias de longa duração de ação, por isso, devem-se preferir, nesse
grupo etário, fármacos de ação curta como a glicazida em vez da cloropropamida ou
da glibenclamida.
Os novos fármacos orais atuam por um efeito estimulante sobre as células
beta, aumentando a produção de insulina endógena, caso da glimepirida,
sulfonilureia com eficácia semelhante à da glibenclamida, gliclazida e glipizida.
A ação hipoglicemiante desses fármacos pode ser potencializada pelo esforço
físico, estresse, álcool ou por medicamentos que promovam alteração na ligação às
proteínas plasmáticas.
Todas as sulfonilureias são contraindicadas na presença de cetoacidose.

As biguanidas, tais como metformina, não modificam a secreção de insulina;


inibe a absorção gastrintestinal de glicose, a neoglicogênese hepática e aumentam a
utilização periférica da glicose. Atuam na presença de insulina endógena, por isso,
semelhante às sulfonilureias, só são eficazes em diabéticos com pâncreas endócrino
ainda funcionante. São fármacos úteis nos doentes obesos em que tenha ocorrido
falência terapêutica das sulfonilureias
ou em complemento destas, por possuírem um mecanismo de ação diferente.
A metformina reduz a insulina circulante sem causar hipoglicemia e diminui as
complicações macrovasculares do diabetes em 30%. É geralmente bem tolerada,
mas os pacientes podem apresentar desconforto gastrintestinal e náuseas.
Existe ainda a classe das tiazolidinedionas, denominadas glitazonas, cujo
mecanismo de ação aumenta ou parcialmente minimiza, de forma seletiva, certos 99

efeitos da insulina no metabolismo dos hidratos de carbono e dos lipídios; usa-se no


diabetes tipo 2 e em outras situações acompanhadas de resistência à insulina.
Dentro deste último grupo, existem com interesse terapêutico a rosiglitazona e a
pioglitazona.
Os inibidores da alfa-glicosidase, tais como a acarbose, retardam a
digestão do amido e da sacarose de uma refeição que contenha hidratos de
carbono, reduzindo a sua absorção e condicionam, consequentemente atraso e
redução nos níveis de glicemia pós- prandial. O seu efeito resulta da ação local no
intestino, motivo pelo qual a acarbose só é ativa se administrada por via oral e
ingerida antes das refeições. Apesar de permitir a redução das doses de outros
antidiabéticos quando se lhes associa, não os substitui. Nos efeitos adversos,
referem-se situações gastrintestinais (flatulência, aerofagia, diarreia e distensão
abdominal) e hepáticas (aumento das transaminases). Há ainda referências
ocasionais a sonolência, tonturas, cefaleias e redução da triglicemia.
A nateglinida, um derivado da fenilalanina, química e farmacologicamente
diferente dos outros fármacos antidiabéticos, é um secretagogo da insulina, usado
por via oral, de ação rápida e cujo efeito depende do funcionamento das células beta
dos ilhéus pancreáticos. Está indicada para administração cerca de 15 a 20 minutos
antes das refeições e recomendada para a terapêutica em associação com a
metformina.
Os medicamentos hipoglicemiantes de qualquer tipo não devem ser
administrados durante a gravidez ou aleitamento. A insulina é o único medicamento
indicado nestas situações, sempre com cuidado e acompanhamento rigoroso.

- Insulina

A insulina é um hormônio polipeptídico de estrutura complexa, extraído,


principalmente, do pâncreas de porco e purificado por cristalização. Pode ser obtido,
também, biossinteticamente por tecnologia de DNA recombinante a partir da
Escherichia coli ou semissinteticamente por modificação enzimática.
As preparações disponíveis diferem quanto à sua duração de ação, podendo
essa ser prolongada por meio do recurso a artifícios de cristalização ou à fixação
sobre uma proteína, como a protamina. De acordo com as características
farmacocinéticas, ou seja, consoante o seu início de ação, a sua duração de ação e 100

o tempo necessário para atingir a sua concentração máxima, as insulinas são


classificadas em:
 insulinas de ação ultrarrápida ou ultracurta;
 insulinas de ação rápida ou de curta duração de ação;
 insulinas de ação intermédia;
 insulinas de longa duração de ação ou de ação lenta;
 insulinas de ação ultralenta.
As insulinas de ação rápida existem em solução cristalina, de absorção
subcutânea (SC) rápida e com um início de ação 30 a 45 minutos após a
administração.
As insulinas de ação mais prolongada existem sob a forma de suspensão,
adicionadas de protamina (por exemplo), com o objetivo de retardar sua absorção.
Os efeitos adversos da insulina podem ser metabólicos, imunológicos e
locais. Para obter um aumento na eficácia terapêutica da insulina e diminuir os riscos
da sua utilização, o paciente deve estar devidamente informado sobre os cuidados e
preocupações com a sua medicação.
Deve ocorrer uma preocupação especial com a administração de insulina em
pacientes predispostos à hipoglicemia, nos submetidos à terapêutica com
betabloqueadores e nos indivíduos com doença coronariana ou cérebro-vascular,
bem como nos alcoólicos.
Nas recomendações de utilização sobre o medicamento, é importante
informar sobre as condições de conservação e sobre as exigências de controle da
glicemia. Como consequência de um mau seguimento da terapêutica pode surgir
situações de hiperinsulinemia, hipoglicemia ou hiperglicemia.

Educação do Paciente Diabético

A educação é parte essencial do tratamento. Constitui um direito e dever do


paciente e também num dever dos responsáveis pela promoção da saúde.
O processo educativo deve motivar o indivíduo diabético a adquirir
conhecimentos e desenvolver habilidades para a mudança de hábitos, com o
objetivo geral do bom controle metabólico e melhor qualidade de vida.
A educação em diabetes deve alcançar os pacientes, a família, os 101

profissionais da saúde, a sociedade em geral e os poderes públicos e as entidades


privadas. A educação, de maneira geral, dever ser prática, gradativa, contínua,
interativa, adequada com objetivos e critérios de avaliação bem definidos.
Devem-se levar conhecimentos sobre os sintomas do diabetes e sua
importância.

ATENÇÃO FARMACÊUTICA AO PACIENTE DISLIPIDÊMICO

Dentro do contexto da ampla gama de condições patológicas na qual a


Atenção Farmacêutica faz-se necessária, detaca-se as dislipidemias, em função da
alta prevalência desse distúrbio na população. Designam-se dislipidemias as
alterações metabólicas lipídicas decorrentes de distúrbios de qualquer fase do
metabolismo lipídico, que ocasionem principalmente um aumento da concentração
sérica das lipoproteínas.
Quando essas concentrações estão aumentadas, recebem a denominação de
Hiperlipidemias, que são classificadas em hipercolesterolemia e hipertrigliceridemia.
Os objetivos do tratamento das dislipidemias incluem a prevenção da doença
arterial coronariana e da pancreatite aguda (nas hipertrigliceridemias graves). Dessa
forma, o tratamento encontra-se direcionado pela utilização de medicamentos para
combater a dislipidemia, dieta alimentar e também o tratamento de doenças de base,
que também podem ser responsáveis pelo desenvolvimento da doença.
Assim, a Atenção Farmacêutica nas dislipidemias torna-se extremamente
fundamental para uma terapêutica eficiente, não só pela orientação a respeito dos
medicamentos utilizados pelo paciente, como também em relação à dieta alimentar
atribuída e a repercussão que uma doença de base possa acarretar tanto no
tratamento como no agravamento da doença dislipidêmica.
O ideal é que a dislipidemia seja tratada por uma equipe multiprofissional,
porém a maioria dos serviços no Brasil não oferece atendimento satisfatório. Diante
disso, o papel do farmacêutico torna-se ainda mais importante e abrangente. Além
disso, a grande maioria dos indivíduos portadores de dislipidemias não apresenta
sinais ou sintomas decorrentes diretamente da alteração lipídica, sendo o
diagnóstico exclusivamente laboratorial.
O farmacêutico, dessa forma, torna-se muito importante, não somente em
relação à orientação medicamentosa, mas podendo orientar o paciente em relação à 102

dieta, na triagem de pacientes de risco, bem como na prevenção do agravamento da


doença.
Segundo o Consenso Brasileiro sobre Dislipidemia, o tratamento inicial
baseia-se sempre nas modificações no estilo de vida como: adequação da dieta,
redução de peso e prática regular de exercícios físicos, além da interrupção do
tabagismo, que devem ser mantidos para toda a vida. Merece ser enfatizado o
estímulo a exercícios físicos aeróbicos, programados, como medida terapêutica
adicional.
Na hipercolesterolemia, uma dieta adequada deve incluir a redução de
gorduras saturadas e colesterol (carnes vermelhas, gema de ovo, leite integral,
queijos, manteiga de origem animal, frituras, vísceras, torresmo) e sua substituição
por gorduras monoinsaturadas e poli-insaturadas (encontradas principalmente nos
óleos vegetais e peixes). Na hipertrigliceridemia, deve-se reduzir a ingestão de
bebidas alcoólicas e de carboidratos (sacarose, batata e massas em geral). Além
disso, como regra, deve-se consumir maior quantidade de frutas, verduras e
legumes.

Medicamentos Utilizados no Tratamento das Dislipidemias

- Vastatinas ou estatinas ou inibidores da HMG-CoA redutase

São os medicamentos de escolha para reduzir o LDL-C em adultos. Sua ação


ocorre por inibição da HMG-CoA redutase, enzima-chave na síntese do colesterol,
fato que leva à menor síntese de colesterol hepática e ao aumento da expressão dos
receptores da LDL na superfície do fígado. As vastatinas também elevam o HDL-C e
reduzem as triglicérides em 7- 30%, podendo assim ser utilizadas também nas
hipertrigliceridemias leves a moderadas.
Como exemplo de fármacos desse grupo, temos: lovastatina, sinvastatina,
pravastatina, fluvastatina e atorvastatina.
São administradas por via oral e seus efeitos podem ser observados após
duas semanas de uso. Devem ser administradas após o jantar e, no caso de doses
mais elevadas, podem ser divididas pela manhã e à noite.
Em geral são bem toleradas, mas pode ocorrer efeito colateral em alguns
pacientes, como, por exemplo: sintomas gastrintestinais e dores musculares. São 103

contraindicadas em mulheres grávidas ou em fase de aleitamento e nos casos de


doença hepática.

- Resinas de troca

As resinas de troca (colestiramina e colestipol) são fármacos não absorvidos


que diminuem a absorção de sais biliares e, consequentemente, do colesterol.
Os efeitos colaterais relacionam-se ao aparelho digestivo, por interferir na
motilidade intestinal, como dores abdominais, náuseas e obstipação intestinal.
A colestiramina é apresentada em envelopes de 4 g na forma de grânulos,
podendo ser ingerida diluída em água e sucos.
É o fármaco de escolha em crianças e mulheres no período reprodutivo, não
deve ser utilizada na hipertrigliceridemia.
Deve ser utilizada como adjuvante às vastatinas no tratamento das
hipercolesterolemias graves.

- Fibratos

São fármacos derivados do ácido fíbrico, indicados no tratamento da


hipertrigliceridemia endógena sempre que houver falha na intervenção dietética
específica. São absorvidos rapidamente pelo intestino e secretados pela urina, com
ação verificada após o quinto dia de tratamento.
Fazem parte desse grupo: clofibrato, bezafibrato, fenofibrato, genfibrosila,
etofibrato e ciprofibrato.
Os fibratos, que geralmente devem ser administrados durante as refeições,
são, em geral, bem tolerados. Porém, podem causar efeitos colaterais, como:
náuseas, vômitos, dores abdominais, diarreia, tontura, cefaleia, prurido, dores
musculares, etc.
Não podem ser utilizados com pacientes com alteração renal ou hepática,
com litíase biliar ou em mulheres grávidas.

- Ácido Nicotínico

Diminui o LDL-C em 5-25%, aumenta o HDL-C em 15-35% e diminui as


104
triglicérides em 20-50%.
As limitações ao uso desse fármaco são frequentes efeitos colaterais, como
rubor facial, hiperglicemia, hiperuricemia e alterações no trânsito intestinal.
ESTRATÉGIA – Como um primeiro passo, cabe ao farmacêutico dispor de
um conhecimento mínimo sobre dislipidemia (etiopatogenia, diagnóstico,
classificação e formas de tratamento). Além desses conhecimentos, são
apresentadas, a seguir, algumas medidas úteis ao profissional que atua na farmácia
comunitária:
- Sendo a dislipidemia uma “doença assintomática”, cabe ao farmacêutico
estimular o paciente a persistir no tratamento;
- O farmacêutico será o profissional que estará em contato com o paciente
durante todo o período que separa o paciente entre cada consulta médica. Portanto,
pode-se concluir que qualquer estratégia de tratamento elaborada pelo médico
dependerá em parte da atuação do farmacêutico como educador.
- Não cabe ao farmacêutico diagnosticar a dislipidemia, mas, sim estimular
o paciente a procurar o médico para confirmar a existência ou não dessa doença.
Esse papel, embora pareça secundário, é de fundamental importância, porque
grande parte da população ainda não foi diagnosticada. Assim, o diagnóstico e o
início imediato do tratamento são de grande relevância, considerando que as
maiores incidências de complicações ocorrem em pacientes diagnosticados
tardiamente.
- O papel do farmacêutico na detecção das dislipidemias poderá ser
reforçado se for viabilizada em farmácias a avaliação da colesterolemia a partir do
sangue capilar. Esse exame, embora insuficiente para um diagnóstico definitivo, é de
grande relevância no sentido de se realizar uma triagem de pacientes
potencialmente dislipidêmicos.
- O paciente deve ser educado com ênfase no fato de que o tratamento
restrito ao uso isolado de medicamentos hipolipemiantes pode não ser eficaz. Faz-se
necessária a prática concomitante de dieta e exercícios físicos.
- O farmacêutico deve estar consciente que seu papel no tratamento do
paciente dislipidêmico é no sentido de complementar a orientação médica.
- O farmacêutico nunca deverá propor mudanças no curso do tratamento
da doença. Caso esteja definitivamente convencido que o paciente não está
recebendo um tratamento satisfatório, é seu dever orientá-lo a procurar outro 105

médico.
- Deverá existir, por parte do farmacêutico, uma “boa dose de bom senso”
para lidar com as peculiaridades de cada situação. A começar pela linguagem a ser
adotada na entrevista, que deverá adaptar-se às condições socioeconômicas do
paciente.
- O farmacêutico deve estar consciente de que o tratamento é individual, ou
seja, para cada paciente dislipidêmico o tipo de hipolipemiante, dose, horário de
administração pode ser diferente. Além disso, para um mesmo paciente, a forma de
tratamento não é fixa. Podendo existir modificações em função do agravamento ou
abrandamento da doença.

ATENÇÃO FARMACÊUTICA AO PACIENTE ASMÁTICO

http://www.farmacia.com.pt/index.php?name=News&file=article&sid=4942

A asma é uma doença grave que afeta pessoas de todas as idades, culturas e
localizações geográficas. Embora cada pessoa possa apresentar sintomas
diferentes, a definição de asma é muito específica.
A asma é um distúrbio inflamatório crônico dos pulmões, caracterizada por
chiado, falta de ar, opressão torácica e tosse, a qual se estima afetar mais de 100
milhões de pessoas em todo o mundo. É por vezes uma doença grave e
potencialmente fatal. Apesar dos esforços para reduzir a morbidade e a mortalidade
associadas à asma, a doença parece estar em ascensão, especialmente entre
crianças. A asma é uma afecção grave que pode ter um impacto significativo na
qualidade de vida de uma pessoa, e pode resultar em falta às aulas ou ao trabalho,
bem como visitas não programadas ao médico ou ao hospital. Embora não haja cura
para a asma, ela é uma doença que pode ser controlada, permitindo que a maioria
das pessoas leve uma vida produtiva e ativa. 106

Inflamação crônica das vias aéreas é um componente básico da asma. Está


associada com hipersensibilidade das vias aéreas a uma variedade de estímulos,
que podem causar recorrência das crises.
A asma é, na maioria dos casos, uma doença relacionada à alergia que causa
inflamação das vias aéreas. O problema começa quando o sistema imunológico fica
sensibilizado com substâncias que induzem alergia (alérgicos) devido à exposição
intensa. Assim sempre que o organismo entra em contato com esses alérgenos, ele
reage respondendo com a inflamação.
Em um paciente normal, as vias aéreas maiores e menores, também
conhecidos como "brônquios" e "bronquíolos", respectivamente, formam uma ligação
essencial entre o meio ambiente gasoso e as células, tecidos e órgãos de nosso
corpo. Vias aéreas sadias ajudam o transporte de oxigênio para as células do
organismo e de gás carbônico das células do organismo.
Em um paciente asmático, as vias aéreas estão cronicamente inflamadas.
Isso significa que o revestimento no interior das vias aéreas está frequentemente
avermelhado, edemaciado e excessivamente sensível a certas substâncias inaladas,
tais como fumaça de cigarro, pólen e ácaros de pó doméstico.
Durante uma crise de asma, os músculos que envolvem as vias aéreas se
enrijecem ou contraem, limitando o fluxo de ar para dentro e fora dos pulmões. As
vias aéreas podem também se tornar ainda mais inflamadas e obstruídas com muco.
Quando a pessoa com asma tenta respirar, podem ocorrer sintomas de opressão
torácica, falta de ar e chiado.
Há cada vez mais pessoas com asma, os números são altos: 15 milhões de
asmáticos no Brasil, 400.000 internações hospitalares e 2.500 óbitos anuais.

Medicamentos para Tratamento da Asma

Ainda que não exista a cura, existem, atualmente, tratamentos eficazes que
permitem controlar adequadamente os sintomas da asma.
Os medicamentos podem ser encontrados na forma de pílulas, comprimidos,
líquidos para nebulização ou inaladores. Alguns medicamentos contêm corticoides.
Algumas pessoas precisam utilizar mais que um tipo de medicamento para tratar de
sua asma.
Os medicamentos para a asma dividem-se principalmente em duas 107

categorias: de resgate e de controle. Utiliza-se um medicamento de controle para o


tratamento em longo prazo da doença, porém é importante ter disponível o
medicamento de resgate para ser administrado no caso de uma crise.
- Medicamentos de resgate (ou medicamentos de alívio):
Os medicamentos chamados “de resgate” são utilizados para dilatar os
brônquios de forma rápida quando se apresenta uma exacerbação ou ataque de
asma. Eles são aplicados na forma de inalação (“bombinhas”) e os mais usados são
os denominados agonistas - ß2 de corta- efeito (como salbutamol e fenoterol). O uso
frequente desse tipo de medicamento é um sinal de falta de controle da asma e
possível piora da doença, podendo, além disso, estar associado a efeitos colaterais
que podem afetar a qualidade de vida: taquicardia, tremores, excitação e
irritabilidade.
Ao contrário do que se pensam, as medicações liberadas em spray são
bastante seguras. Ao inalar uma dose, o medicamento é liberado diretamente nos
pulmões e seu efeito muito mais rápido. Por estarem rapidamente disponíveis nos
locais de ação (os pulmões), são necessárias doses menores de medicamentos
inalatórios em relação às doses que seriam necessárias caso o medicamento fosse
administrado em comprimidos ou xaropes.
O uso de medicação broncodilatadora é destinado somente para o alívio dos
sintomas da asma. Assim, toda vez em que houver necessidade de sua utilização
em intervalos menores do que 4 horas é sinal de que a crise de asma é intensa,
sendo então recomendado procurar assistência médica.
- Medicamentos de controle (ou medicamentos de prevenção):
São utilizados diariamente de forma prolongada e ajudam a reduzir os
sintomas da asma e o número de ataques ou agravamentos. Esses medicamentos
incluem os antagonistas aos receptores de leucotrienos como montelukast ou o
zafirlulkast, os corticosteroides inalatórios (como beclometasona, budesonida,
fluticasona) os corticosteroides orais (como metilprednisolona e prednisona) e os
agonistas ß2 de ação prolongada (como formoterol, salmeterol).
Os medicamentos de controle ajudam a controlar e reduzir os sintomas. Eles
se apresentam em diferentes formas de administração: oral, inalatória e parenteral.
Os corticosteroides podem ser utilizados quer seja por via oral
(metilprednisolona e prednisona) ou por via inalatória (beclometasona, budesonida,
fluticasona), e devem ser administrados duas ou mais vezes ao dia. Por via oral são 108

utilizados somente quando forem esgotadas as demais alternativas, uma vez que
podem surgir efeitos colaterais sérios, tais como: osteoporose, hipertensão arterial,
diabetes, e nas crianças atraso no crescimento. Por sua vez, a via inalatória
apresenta menor quantidade de efeitos adversos. Pode se tornar difícil de ser
administrado em alguns casos, o que poderia dificultar um cumprimento correto do
tratamento. Nas crianças, por exemplo, é necessária uma máscara nebulizadora
para administração dos medicamentos. Os corticosteroides inalatórios podem afetar
o crescimento, por isso é importante monitorar a taxa de crescimento de toda criança
que esteja sendo tratada com esse tipo de medicamento.
Os corticoides inalatórios são antiinflamatórios recomendados para a
prevenção e controle da asma. Seu uso diário traz os seguintes benefícios:
 redução dos sintomas diurnos e noturnos;
 redução das exacerbações;
 redução do uso de medicação de resgate;
 melhora da função pulmonar;
 redução da inflamação;
 redução das faltas à escola e ao trabalho por causa da asma;
 redução das hospitalizações;
 melhor qualidade de vida.
Dois fatores são muito importantes para que estes benefícios sejam
alcançados: uso correto do dispositivo e uso diário regular dos corticoides
inalatórios.
Os tipos de inaladores presentes no mercado são:

 nebulizadores;
 aerossol dosimetrado spray ou “bombinha”;
 inaladores de pó-seco.
Os agonistas ß2 de ação prolongada (como formoterol, salmeterol) pertencem
ao grupo de medicamentos denominado “broncodilatadores”, que abrem as vias
aéreas obstruídas.
Possuem um efeito de pelo menos 12 horas de ação e são utilizados para
tratar a asma moderada ou severa. São contraindicados para crianças menores que
quatro anos. Em geral, são utilizados em conjunto com algum outro medicamento de 109

controle.
Os antagonistas dos receptores de leucotrienos bloqueiam a ação dos
chamados leucotrienos, que são substâncias que liberam as células dos pulmões
durante um ataque de asma. Os leucotrienos produzem inflamação da parede das
vias aéreas, o que desencadeia sintomas tais como chiados, falta de ar e
mucosidade.
O montelukast é um medicamento aprovado para o controle da asma em
adultos e crianças a partir dos seis meses de idade. O medicamento, a partir de uma
única ingestão diária, permite controlar os sintomas durante 24 horas. Ele é
apresentado em quatro formas: pílulas para crianças entre seis meses e cinco anos;
tabletes mastigáveis com sabor de cereja para crianças entre dois e cinco anos;
tabletes mastigáveis com sabor de cereja para crianças de seis a quatorze anos; e
tabletes para adultos e adolescentes a partir dos quinze anos.

O papel do farmacêutico

A asma é uma doença que pode ser grave e incapacitadora, e pode causar
desde sérios inconvenientes à qualidade de vida do paciente como internações ou
dias de repouso em casa, com consequente ausência trabalhista, perdas de
escolaridade para as crianças e visitas não programadas ao médico. Todavia, hoje a
asma tem tratamento, seus sintomas são controláveis e o paciente pode levar uma
vida mais normal.
Os sintomas da asma podem ser reduzidos com o tratamento adequado e um
trabalho feito em conjunto entre médico, paciente e farmacêutico. Juntos irão
desenvolver um plano adequado para a prevenção e combate das crises,
melhorando assim a qualidade de vida do asmático. Como se trata de uma doença
alérgica respiratória, é muito importante saber quais os fatores que desencadeiam a
asma. Os mais comuns são: alérgenos (poeira, mofo, pelos de animais) e fatores
irritantes como infecções virais, infecções dos seios da face, determinados tipos de
exercício, doenças do refluxo gastresofágico, fatores emocionais como a ansiedade
e alguns tipos de medicamentos e alimentos.
Os medicamentos possuem a finalidade de reduzir o processo inflamatório.
Eles são usados para impedir a crise, e em muitos casos são consumidos
diariamente e, por isso, o acompanhamento do farmacêutico torna-se imprescindível. 110

A Atenção Farmacêutica, aliada à conduta médica, é muito importante nos casos de


asma por ser uma doença crônica que precisa de cuidados constantes.
Cabe ao farmacêutico contribuir para a educação dos doentes, fornecendo-
lhes informações sobre a doença, as medicações e outras medidas para controlar a
asma, ensiná-los a utilizar corretamente os diversos dispositivos para administrar
medicação por via inalatória, monitorizar o uso dos medicamentos, identificarem os
asmáticos mal controlados, encorajando- os a procurar auxílio médico, ajudá-los a
compreender o plano de tratamento e promover a adesão à terapêutica.
Quanto aos inaladores, é muito importante que o paciente aprenda a forma
correta de utilizá-los, caso contrário o medicamento será pulverizado para o fundo da
garganta e não para os pulmões. A maior parte dos inaladores é feita de uma caixa
de metal, dentro de um estojo de plástico com um bocal. E deve ser utilizado como
segue: boca; primeiramente, deve-se agitar a caixa, expirar e colocar o bocal a
7,5cm da se o inalador não possuir uma câmara de retenção (ou espaçador), não se
deve fechar a boca em torno do bocal. Manter a boca aberta dá espaço ao
medicamento para se transformar em vapor ou pó fino antes da inalação;
- a seguir, segurando a caixa na vertical, deve-se pressionar a parte de cima
da caixa, inspirando profundamente ao mesmo tempo;
- não respire durante alguns segundo e, depois, expire;
- é importante limpar regularmente o inalador e a câmara de retenção
(espaçador) de acordo com as instruções da embalagem.
A prevalência elevada e crescente da asma faz dessa doença crônica um
importante problema de saúde pública. Atualmente, face às normas de orientação
internacionais para o diagnóstico e tratamento dessa afecção e dispondo-se de
medicamentos capazes de controlarem a grande maioria dos doentes, seria
previsível que a asma estivesse controlada, mas não está. doente, baixas
expectativas dos doentes, aceitação da má qualidade de vida e a má aderência à
terapêutica são os motivos pelos quais a asma continua mal controlada.
Por isso, para inverter o cenário, aponta-se como fundamental a existência de
“uma parceria estreita entre médico/farmacêutico e doente”, concretizando que,
desse modo, poder- se-á reduzir-se a falta de adesão ao tratamento, aumentar o
grau de satisfação do doente, fornecer-lhe mais certezas sobre as decisões tomadas
e reduzir a ansiedade.
111

ATENÇÃO FARMACÊUTICA AO PACIENTE ONCOLÓGICO


O câncer é uma doença caracterizada pelo crescimento, ou reprodução,
desordenado de células com caráter maligno, que podem disseminar pelo
organismo, o que as torna muito agressivas e, até mesmo, incontroláveis. Quando
estas se agrupam em determinados pontos do corpo, formam os tumores.

Tratamento Medicamentoso do Câncer

Para o tratamento medicamentoso do câncer, é possível utilizar-se quatro


tipos de quimioterapias:
 neo-adjuvante: diminui a área tumoral para uma cirurgia menos
invasiva e radioterapia mais eficiente;
 adjuvante: utilizada, geralmente, após a retirada cirúrgica ou
depois da radioterapia – diminui a formação de micrometástases;
 curativa: considerada seletiva – utilizada somente em alguns
tipos de tumores;
 paliativa: aumenta a sobrevida do paciente e/ou sua qualidade
de vida.
A cinética da população celular das células cancerosas e o ciclo dessas
células são determinantes importantes na ação e no uso clínico de agentes
oncológicos. Algumas drogas agem especificamente no ciclo de divisão dessas
células (drogas ciclo celular específicas), enquanto outras agem no tumor em várias
fases do ciclo celular (ciclo celular não específicas).
As drogas citotóxicas agem com cinética de primeira ordem, pois determinada
dose de uma droga elimina uma proporção constante de células doentes.
A resistência a drogas oncológicas é um dos maiores problemas na
quimioterapia do câncer. Em muitos casos, os mecanismos de resistência envolvem
mudanças na expressão de genes em células neoplásicas, o que resulta na
resistência tanto individual à droga como a múltiplas drogas. Esses mecanismos de
resistência incluem:
 aumento na reparação do DNA (cisplatina);
 mudanças em enzimas-alvo (metotrexato e vinca);
 diminuição de ativação de pró-drogas (mercaptopurina, citarabina,
fluorouracil). 112

Agentes Alquilantes
Os agentes alquilantes incluem as mostardas nitrogenadas (clorambucil,
ciclofosfamida, mecloretina), nitrosoureias (carmustina, lomustina) e alquilsulfonatos
(busulfan). Outras drogas que agem em parte como alquilantes incluem cisplatina,
dacarbazina e procarbazina.
Os agentes alquilantes são drogas não ciclo-específicas que formam uma
molécula reativa que alquila os grupos nucleofílicos das bases de DNA,
particularmente a posição N-7 da guanina, ocasionando quebra do DNA.
Agentes antimetabólitos
Os agentes antimetabólitos assemelham-se estruturalmente a compostos
endógenos e são antagonistas de ácido fólico (metotrexato), purinas
(mercaptopurina, tioguanina) ou pirimidinas (flouracil, citarabina). São agentes ciclo-
específicos na fase S do ciclo celular. Em adição ao efeito antineoplásico, também
são imunossupressores.
- Alcaloides
Os alcaloides são drogas ciclo-específicas. Os agentes mais importantes são
os alcaloides da vinca (vimblastina e vincristina), as podofilotoxinas (etoposido e
teniposido) e os axanos (paclitexel e docetaxel).
Antibióticos
Esta categoria de agentes antineoplásicos apresenta uma variada gama de
estruturas químicas diferentes e inclui doxorrubicina, daunorubicina, bleomicina,
dactinomicina, mitomicina e mitramicina.
Agentes hormonais e miscelâneas
 Hormônios e antagonistas de hormônios
 Glicocorticoides: a prednisona é muito utilizada em leucemias
crônicas, linfoma de Hodgkin e outros linfomas.
 Hormônios sexuais: estrogênios, progestagênicos e
androgênios.
 Antagonistas de hormônios sexuais: tamoxifeno (inibidor da
ligação estrogênio- receptor da célula cancerosa) e flutamida
(antagonista androgênico, utilizado em câncer de próstata).
 Análogos de hormônio liberador de gonadotropina: leuprolide,
goserelina e nafarelina são utilizados em câncer de próstata.
 Inibidores de aromatase: anastrasol e aminoglutetimida. 113

 Agentes miscelânicos:
 Asparaginase;
 Mitoxantrona;
 Interferon.

Atuação do Farmacêutico em Oncologia

A atuação do farmacêutico está relacionada com a manipulação de


quimioterápicos, com a adequação de suas atividades e espaço físico conforme as
portarias vigentes, participando do Plano de Gerenciamento de Resíduos,
qualificando fornecedores, atuando na gestão de estoque, desenvolvendo trabalhos
científicos, acompanhando prescrições e queixas técnicas, devendo ter
conhecimento dos fármacos e buscando novas informações sobre reações
adversas, tempo de infusão, estabilidade e armazenamento. Na realização de suas
atividades há importante preocupação com Equipamento de Proteção Coletiva
(EPC’s) e Equipamento de Proteção Individual (EPI’s).
O farmacêutico está inserido na Equipe Multidisciplinar e Interdisciplinar do
serviço, observando reações adversas, participando de consultas interdisciplinares e
prestando a atenção farmacêutica aos pacientes em tratamento.
A oncologia desenvolve-se a passos rápidos e o farmacêutico é desafiado a
manter-se informado sobre as novas terapias. Conhecer em detalhes os aspectos
farmacológicos das drogas em uso, assim como aprender sobre novas terapias, é
essencial para o desenvolvimento da atenção farmacêutica.
O farmacêutico deve acompanhar todo o processo de utilização de drogas
citotóxicas e adjuvantes. Os aspectos operacionais como avaliação de fornecedores
e condições adequadas de manipulação são essenciais para assegurar a qualidade
dos produtos, mas a qualidade do serviço será assegurada pelo acompanhamento
clínico dos pacientes. Esse acompanhamento pode ter um caráter preditivo
(identifica problemas antes de ocorrerem) ou corretivo (estabelece critérios para
resolução de problemas).
A análise da prescrição é o momento de maior interferência do farmacêutico,
principalmente pela possibilidade de atuar em caráter preditivo. Ele não deve ter
como objetivo o exercício do diagnóstico ou da prescrição de medicamentos, 114

consideradas atribuições exclusivas do médico, mas a garantia de que esses


medicamentos venham a ser úteis na solução ou alívio dos problemas do paciente.
Os principais pontos a serem verificados pelo farmacêutico designado para
análise de prescrições de antineoplásicos são descritos a seguir:
- o protocolo deve estar especificado na prescrição;
- todos os medicamentos antineoplásicos devem ser prescritos sem
abreviações e de forma clara;
- medicamentos de suporte (antieméticos, formadores de colônia,
hidratação) que fazem parte do protocolo devem ser checados;
- O dia de administração da droga deve estar de acordo com ciclo
quimioterápico preconizado;
- a dose de cada droga deve estar de acordo com a dose especificada no
protocolo;
- a altura e o peso descritos em prontuário devem ser os valores mais
recentes, possibilitando o cálculo adequado da superfície corpórea e conferência de
doses;
- as razões para desvios maiores entre a dose calculada pelo farmacêutico e
a dose prescrita devem ser determinadas;
- os valores mais recentes dos testes laboratoriais devem ser satisfatórios de
acordo com o protocolo. Nesse ponto, a atuação conjunta de uma enfermeira
especializada é muito importante;
- as fichas individuais de acompanhamento dos pacientes em quimioterapia
devem ser checadas quanto a quaisquer observações relacionadas a modificações
anteriores da dose, dose cumulativa (por exemplo, para doxorrubicina), mudanças
esperadas no tratamento, ou outras informações;
- via de administração; diluente; tempo, velocidade e esquema de infusão
devem estar consistentes com as especificações do protocolo;
- o número apropriado de doses ou dias da terapia deve ser informado;
- quaisquer desvios das especificações do protocolo, que não tenham sido
previamente aprovados, deverão ser confirmados com o responsável pela
prescrição.

ATENÇÃO FARMACÊUTICA À PACIENTE GESTANTE


115
A gestação é uma situação especial na qual a administração de um fármaco
atinge dois organismos, a mãe e o feto, e pode causar malformações e anomalias
congênitas ao feto, bem como riscos à saúde da própria mulher (EFFTING, 2003).
A utilização de medicamentos por gestantes e seus efeitos sobre o feto
passou a ser objeto de grande preocupação após a tragédia da talidomida ocorrida
entre 1950 e 1960 (MELLIN & KATZENSTEIN, 1962). Acreditava-se até então, que
a placenta funcionava como uma barreira, protegendo o feto de qualquer agressão
farmacológica.
Para a maioria dos medicamentos o potencial teratogênico é desconhecido
(SHEHATA & NELSON-PERCY, 2001). Sabe-se que a maioria dos fármacos
contidos nos medicamentos utilizados por gestantes atravessa a placenta e atinge a
corrente sanguínea do feto (BERGLUND et al., 1984). Os efeitos sobre o feto
dependem do fármaco ou substância, da paciente, da época de exposição durante a
gestação, da frequência e da dose total, resultando potencialmente em teratogenia
ou em consequências farmacológicas e toxicológicas diversas (OSORIO-DE-
CASTRO et al. 2004).
No Brasil, há uma carência de estudos no que se refere à quantificação e
avaliação do uso de medicamentos na gestação. Os estudos de utilização de
medicamentos são reduzidos e voltados apenas para a avaliação em caso de
introdução de uma nova tecnologia ou da utilização de fármaco específico para a
indicação também específica (OSORIO-DE-CASTRO et al. 2004).
A atenção farmacêutica faz-se necessária no período gestacional, uma vez
que a placenta não exerce um efeito de barreira, o que não protege o feto das mais
variadas substâncias químicas ingeridas durante a gestação. O uso de
medicamentos em gestantes é um evento frequente.
A atenção farmacêutica para o grupo em questão não envolve somente a
terapia medicamentosa, mas também se incluem nesta área a monitoração
terapêutica, informações e aconselhamento às pacientes que visem à otimização de
resultados e que garantam a saúde e o bem-estar da mãe e do feto.
Uso de medicamentos durante a gestação

O uso de medicamentos durante a gestação constitui um problema de grande


magnitude para a saúde pública. A despeito dos claros avanços, há ainda 116

importantes lacunasde conhecimento sobre as consequências ao feto e à gestante


do uso de substâncias teratogênicas (MENGUE et al., 2001).
Quase todos os fármacos entram pela circulação materna passando através
da placenta, com exceção dos fármacos com alto peso molecular, podendo produzir
ao feto efeitos farmacológicos não desejados.
Estes efeitos não desejados podem ser produzidos por quatro razões: efeito
diretamente ao embrião, letal tóxico ou teratogênico; efeito sobre a placenta
(constrição dos vasos) que afeta a troca gasosa e de nutrientes entre a mãe e o feto;
alteração da atividade miometrial, que pode causar uma hipertonia uterina
provocando uma lesão anóxica fetal; e efeitos diversos sobre a dinâmica bioquímica
da mãe que, indiretamente, afetam o feto (MANI & FERNANDEZ, 2006).
Os primeiros três meses são os mais críticos em termos de malformações
(CENTRO DE INFORMAÇÕES SOBRE MEDICAMENTOS, 2006). Nos outros
períodos, os problemas mais frequentes são relativos ao desenvolvimento e
crescimento fetais (McELHATTON, 2003), portanto, se houver a necessidade da
administração de medicamentos, a mais baixa dose efetiva deve ser prescrita pelo
mais curto tempo de duração possível (CENTRO DE INFORMAÇÕES SOBRE
MEDICAMENTOS, 2006).
A gestação compreende situação única, na qual a exposição a determinado
medicamento envolve dois organismos. A resposta fetal, diante da medicação é
diferente da observada na mãe, podendo resultar em toxicidade fetal, com lesões
variadas, algumas irreversíveis (GOMES et al., 1999).
Segundo MEADOWS (2001), enquanto há certeza do uso e segurança ao feto
para alguns medicamentos, na maioria dos casos o conhecimento é limitado,
transformando a prescrição medicamentosa na gravidez num grande dilema que
deve ser avaliado entre o médico e o paciente.
As más formações congênitas têm maiores riscos de acontecer quando o
medicamento com potencial teratogênico é utilizado no primeiro trimestre de
gravidez (período de diferenciação embriológica). Nos outros períodos, podem
ocorrer danos fetais decorrentes de alterações na fisiologia materna, efeitos
farmacológicos sobre o feto e interferência no desenvolvimento fetal (NIEBYL, 1989).
De acordo com o Guía de Actuación Farmacêutica en la Gestante (MANI
&FERNANDEZ, 2006), faz-se necessária uma avaliação de cinco aspectos para que
haja a administração de fármacos durante a gravidez, incluindo os riscos para o feto, 117

as alterações farmacocinéticas, propriedades físico-químicas do fármaco,


características da placenta e fase de desenvolvimento embrionário.

- Riscos para o feto

Existem algumas classificações de medicamentos conforme o risco associado


ao seu uso durante a gravidez. A classificação adotada pelo Food and Drug
Administration (FDA – Estados Unidos) enquadra os medicamentos em cinco
categorias, conforme quadro abaixo:
Classificação dos medicamentos quanto aos riscos à gestação.

Categoria A Os estudos em seres humanos não demonstraram qualquer risco.

Os estudos em animais não demonstraram qualquer risco, mas


não existem estudos em seres humanos, ou os estudos em
Categoria B animais revelaram riscos, mas os estudos em seres humanos,
não.

Não foram realizados estudos em animais nem em seres


Categoria C humanos ou os estudos em animais revelaram risco, mas não
existem estudos disponíveis realizados em seres humanos.

Os estudos em seres humanos revelaram riscos, mas o uso pode


Categoria D ser justificado em alguns casos (risco de vida ou doença grave
para a qual não existe uma droga mais segura).

Categoria X A droga jamais deve ser utilizada durante a gravidez; os riscos


humanos conhecidos suplantam qualquer benefício.

FONTE: MEADOWS (2001); MENGUE et al. (2001).


- Alterações farmacocinéticas
As alterações farmacocinéticas presentes na gravidez que podem alterar a
resposta da mãe aos fármacos são:
 absorção: é aumentada nos fármacos de caráter básico e os de 118

liberação lenta;
 distribuição: é diminuída a concentração por unidade de volume,
exceto para fármacos que apresentam uma elevada taxa de
união às proteínas plasmáticas, sua concentração ativa
aumenta;
 metabolismo: a gestação aumenta a velocidade de metabolismo
de alguns fármacos;
 excreção: a gestação aumenta a excreção.

Propriedades físico-químicas dos fármacos


As propriedades físico-químicas dos fármacos relacionadas à capacidade dos
mesmos atravessarem ou não a placenta são:

Peso Molecular:
 500 Daltons, não atravessam a placenta;
 < 500 Daltons, atravessam a placenta (maioria dos fármacos).

Afinidade às Proteínas Plasmáticas:


 Fármacos unidos às proteínas não atravessam a placenta:
 Fármacos unidos às proteínas atravessam a placenta.

Grau de Dissociação:
 Fármacos ionizados não atravessam a placenta;
 Fármacos não ionizados atravessam a placenta.

Lipossolubilidade:
 os fármacos mais lipossolúveis possuem mais facilidade de atravessar a
placenta;
 Gradiente de concentração: os fármacos atravessam por difusão passiva,
da zona de maior para a zona de menor concentração.

Características da placenta
As características da placenta podem interferir na ação dos fármacos como
demonstrado abaixo: 119

Características da placenta

Quanto menos espessa, melhor a difusão de fármacos (é mais


Espessura
espessa no início da gestação).

Quanto maior a superfície, melhor a difusão (a superfície aumenta no


Superfície
decorrer da gravidez).

139 pH 0,1 mais ácido que o materno, portanto maior penetração dos
Fluxo sanguíneo
fármacos básicos.

FONTE: MANI & FERNANDEZ (2006).

Fase de desenvolvimento embrionário em que se administra o fármaco

As alterações e riscos que o feto pode vir a sofrer quanto se dá a ação de


fármacos nas diferentes etapas de período de desenvolvimento embrionário são
pontuados abaixo:
 Etapa de Embrião (até o 20º dia após a concepção): o embrião ou morre ou
não sofre nada. Muito resistente à teratogênese.
 Etapa de organo-formação (da terceira a oitava semana): é uma etapa
crítica de teratogenicidade para o feto, podendo ocasionar aborto, defeito
anatômico teratogênico, defeito metabólito funcional permanente que
poderá se manifestar mais adiante, durante a vida, com efeitos sobre o
metabolismo, fisiologia ou comportamento do indivíduo.
 Segundo e Terceiro Trimestre: comprometimento do crescimento ou das
funções dos órgãos e tecidos na formação do feto.
 Parto: Não é propriamente uma fase, mas deve-se dispensar atenção
especial uma hora antes, pois depois de cortar o cordão umbilical do
recém-nascido, este deverá eliminar o fármaco do seu organismo ainda
que os órgãos para a função sejam imaturos.

Classes farmacológicas utilizadas durante a gestação

Em alguns casos, torna-se necessário o uso de alguns medicamentos durante 120

a gestação. O quadro abaixo, exposto por Mani & Fernandez (2006), apresenta a
listagem de diferentes classes farmacológicas que podem ser utilizadas ou evitadas,
140
bem como algumas cujo uso deve ser avaliado com cautela e avaliado o
risco/benefício.
Classes farmacológicas utilizadas durante a gestação

Classe Podem ser usados Deve-se avaliar Devem ser evitados


farmacológica
Vitaminas Ferro, ácido fólico e.
vitaminas

Analgésicos Paracetamol Codeína Ac. Acetilsalicílico e


Dextropoxifeno

Fármacos para Propranolol Ergotamínicos


Enxaqueca

Anti-inflamatórios Ibuprofeno, Corticoides e Salicilatos e


Flurbiprofeno, Sulfasalasina Indometacina
Cetoprofeno e
Diclofenaco
Antihistamínicos e Metoclopramida
Antieméticos Piridoxina + Doxilamina Fenotiazinas (1º trim.)

Antiulcerosos Sais de Alumínio e de Anti-H2 Carbenoxolona e


Magnésio e Sulcrafato Omeprazol

Laxantes De massa Parafina Estimulantes

Oxazepan, Lorazepan e Diazepam e Barbitúricos e


Sedativos Temazepan Clordiazepóxio Meprobamato

Antidepressivos Tricíclicos IMAO e Litio


Fenitoína
Fenobarbital Trimetadiona
Antiepiléticos Carbamazepina Primidona Politerapia
Valproato

121

Metildopa e
Anti-hipertensivos Betabloqueadores Prazosina Diuréticos (3º
Trimestre)

Anticoagulantes Heparina Anticoagulantes orais


(1º trim.)

Digoxina, Quinidina Procainamida e Amiodarona e


Antiarrítmicos
e Bloqueantes- Lidocaína Disopiramida
beta
Teofilina,
Broncodilatadores Beta 2- inalatórios e Corticoides
corticoides inalatórios sistêmicos e
Cromoglicat
o

Antidiabéticos Antidiabéticos orais


Antidiabéticos Insulina
orais (Parto)

Febre amarela e Rubéola,


Vacinas
Sarampo e
Poliomielite
Varicela

Antitireoidianos Betabloqueadores Tiouracil Iodo radiativo

Agentes
Antineoplásicos Isótopos radiativos,
alquilantes,
Radioterapia e
Vinblastina
Aminopterina
e
Metotrexato

Aminoglucósidos,
Infecções bacterianas Beta-lactâmicos, Vancomicina
Tetraciclinas,
sulfamidas, , Lincosidos
Quinolonas,
nitrofurantoína e e
Sulfamidas (3º trim.) e
Eritromicina Metronidazol
Cloranfenicol

Ampicilina, Amoxicilina Clotrimoxazol (3º


Infecção urinária Nitrofurantoína trim.)
e Cefalexina

Sulfonamidas (3º
trim.)
Faringite/ Pneumonia Penicilina Eritromicina
Pneumonia atípica Eritromicina Cefuroxima Clotrimoxazol (3º trim)

Tuberculose
Rifampicina e Etionamida e
Isoniazida e Etambutol
Pirazinamida Estreptomicina

122

Amoxicilina,
Gonorreia Ceftriaxona Espectinomicin
a Eritromicina

Sífilis Penicilina Tetraciclinas

FONTE:
Tricomoníase MANI & FERNANDEZ (2006).
Clotrimazol tópico Metronidazol (1º trim)

Clamídia Eritromicina Tetraciclinas

Anfotericina B,
Micoses Nistatina e Clotrimazol Flucitosina e
Cetoconazol e
Griseofulvina
Miconazol

Paludismo Cloroquina e Proguanilo Primetamina Quinina e Primaquina

Verminoses Piperazina Mebendazol

Infecções Virais Aciclovir tópico Aciclovirsistêmico Amantadina, Vidarabina


e Cidovudina

REFERÊNCIAS

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