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MATERIAL

COMPLEMENTAR
FARMÁCIA
CLÍNICA

RESUMOS
SUMÁRIO

1. ATRIBUIÇÕES CLÍNICAS DO FARMACÊUTICO CFF 585/2013....................................... 4


1.1 História da Farmácia Clínica...........................................................................................................4
1.2 Farmácia Clínica.............................................................................................................................4
1.3 Atribuições do Farmacêutico Clínico...............................................................................................5

2. PROBLEMAS RELACIONADOS AOS MEDICAMENTOS.................................................. 8

3. PLANO DE CUIDADO E INTERVENÇÕES FARMACÊUTICAS......................................... 10


3.1 Plano de Cuidado..........................................................................................................................10
3.2 Delineamento de Plano de Cuidado...............................................................................................10

4. ATENÇÃO FARMACÊUTICA E ACOMPANHAMENTO FARMACÊUTICO......................... 13


4.1 Atenção Farmacêutica..................................................................................................................13
4.2 Acompanhamento Farmacêutico...................................................................................................14
4.3 Métodos de Acompanhamento Farmacêutico................................................................................14

5. MÉTODO CLÍNICO E

CONSULTA FARMACÊUTICA..................................................................................... 18
5.1 Método Clínico do Cuidado Farmacêutico.....................................................................................18
5.2 Detecção de Falhas na Farmacoterapia.........................................................................................19
5.3 Consulta Farmacêutica.................................................................................................................20
5.3.1 Coleta de Dados e Investigação do Problema.................................................................................................................................................21
5.3.2 Ações e Soluções.......................................................................................................................................................................................................22
5.3.3 Fechamento da Consulta........................................................................................................................................................................................22

6. INTERAÇÕES E INTERVENÇÕES FARMACÊUTICAS.................................................... 23


6.1 Classificação................................................................................................................................23
6.2 Farmacodinâmica.........................................................................................................................25
6.3 Farmacocinética...........................................................................................................................25
6.3.1 Absorção........................................................................................................................................................................................................................25
6.4 Tratamento com Antiácidos..........................................................................................................25
farmácia clínica 3

6.5 Substâncias Adsorventes .............................................................................................................26


6.6 Interações Relacionadas à Absorção.............................................................................................26
6.6.1 Distribuição...................................................................................................................................................................................................................26
6.6.2 Biotransformação......................................................................................................................................................................................................26
6.6.3 Eliminação.....................................................................................................................................................................................................................27
6.7 Interações entre Fármacos e Alimentos.........................................................................................27
6.8 Farmacoterapia.............................................................................................................................28
6.8.1 Protocolo e Análise de Prescrição........................................................................................................................................................................29
6.9 Elaboração de Perfil Farmacoterapêutico: Fases do Seguimento...................................................29
6.9.1 Acolhimento do Usuário, Coleta e Organização de Dados..........................................................................................................................30
6.9.2 Avaliação e Identificação de Problemas Relacionados com a Farmacoterapia.................................................................................30
6.9.3 Delineamento de um Plano de Cuidado em Conjunto com o Usuário...................................................................................................31
6.9.4 Seguimento Individual do Usuário.......................................................................................................................................................................32

REFERÊNCIAS............................................................................................................... 33
farmácia clínica 4

1. ATRIBUIÇÕES CLÍNICAS DO
FARMACÊUTICO CFF 585/2013

1.1 História da Farmácia Clínica


A Farmácia Clínica, que teve início no âmbito hospitalar, nos Estados Unidos, a partir
da década de 1960, atualmente incorpora a filosofia do Pharmaceutical Care e, como tal,
expande-se a todos os níveis de atenção à saúde. Essa prática pode ser desenvolvida em
hospitais, ambulatórios, unidades de atenção primária à saúde, farmácias comunitárias,
instituições de longa permanência e domicílios, entre outros.
A expansão das atividades clínicas do farmacêutico ocorreu, em parte, como res-
posta ao fenômeno da transição demográfica e epidemiológica observado na sociedade.
A crescente morbimortalidade relativa às doenças e agravos não transmissíveis e à far-
macoterapia repercutiu nos sistemas de saúde e exigiu um novo perfil do farmacêutico.
Nesse contexto, o farmacêutico contemporâneo atua no cuidado direto ao paciente,
promove o uso racional de medicamentos e de outras tecnologias em saúde, redefinindo
sua prática a partir das necessidades dos pacientes, família, cuidadores e sociedade.

1.2 Farmácia Clínica


Existem várias definições para farmácia clínica. Apesar disso, compreendem as mes-
mas características.
A definição a seguir foi estruturada por Robert Miller, em 1968: “A Farmácia Clínica é
a área do currículo farmacêutico que lida com a atenção ao paciente com ênfase na far-
macoterapia. A Farmácia Clínica procura desenvolver uma atitude orientada ao paciente.
A aquisição de novos conhecimentos é consequência do desenvolvimento de habilidades
de comunicação interprofissional e com o paciente”.
Segundo a Sociedade Americana de Farmacêuticos Hospitalares (ASHP), a Farmácia
Clínica pode ser definida como “a ciência da saúde cuja responsabilidade é assegurar, me-
diante a aplicação de conhecimentos e funções relacionadas ao cuidado dos pacientes,
que o uso de medicamentos seja seguro e apropriado; necessita, portanto, de educação
especializada e treinamento estruturado, além da coleta e interpretação de dados, da mo-
tivação pelo paciente e de interações multiprofissionais”8.
É possível verificar que todas as definições enfatizam o caráter multiprofissional da
Farmácia Clínica e colocam o paciente como objeto principal das atividades do farma-
farmácia clínica 5

cêutico clínico. O medicamento passa a ser um instrumento utilizado em benefício do pa-


ciente. A Farmácia Clínica pressupõe que o farmacêutico garanta resultados clinicamente
apropriados para a farmacoterapia, estabeleça relacionamento interprofissional ativo com
médicos e enfermeiros e exerça atividades em ambiente clínico, junto ao paciente.

1.3 Atribuições do Farmacêutico Clínico


As atribuições foram definidas pela Resolução nº 585, 29 de agosto de 2013 e, para
conseguir interpretar esta resolução, deve-se compreender alguns conceitos da farmácia
clínica, tais como:

Cuidado centrado no paciente:


Relação humanizada que envolve o respeito às crenças, expectativas, experiências, atitudes e preo-
cupações do paciente ou cuidadores quanto as suas condições de saúde e ao uso de medicamentos, na
qual farmacêutico e paciente compartilham a tomada de decisão e a responsabilidade pelos resultados em
saúde alcançados.

Uso racional de medicamentos:


A Organização Mundial de Saúde diz que há uso racional de medicamentos quando pacientes recebem
medicamentos apropriados para suas condições clínicas, em doses adequadas às suas necessidades in-
dividuais, por um período adequado e ao menor custo para si e para a comunidade.

Plano de cuidado:
Planejamento documentado para a gestão clínica das doenças, de outros problemas da saúde e da
terapia do paciente, delineado para atingir os objetivos do tratamento. Inclui as responsabilidades e ativi-
dades pactuadas com o farmacêutico, a definição das metas terapêuticas, as intervenções farmacêuticas,
as ações a serem realizadas pelo paciente e o agendamento para retorno e acompanhamento.

Consulta farmacêutica:
Atendimento realizado pelo farmacêutico ao paciente, respeitando os princípios éticos e profissionais,
com a finalidade de obter os melhores resultados com a farmacoterapia e promover o uso racional de me-
dicamentos e de outras tecnologias em saúde.

Consultório farmacêutico:
Lugar de trabalho do farmacêutico para atendimento de pacientes, familiares e cuidadores, onde se
realiza com privacidade a consulta farmacêutica. Pode funcionar de modo autônomo ou como dependên-
cia de hospitais, ambulatórios, farmácias comunitárias, unidades multiprofissionais de atenção à saúde,
instituições de longa permanência e demais serviços de saúde, no âmbito público e privado.

São atribuições clínicas do farmacêutico relativas ao cuidado à saúde, nos âmbitos


individual e coletivo:

 I – Estabelecer e conduzir uma relação de cuidado centrada no paciente;


farmácia clínica 6

 II – Desenvolver, em colaboração com os demais membros da equipe de saúde,


ações para a promoção, proteção e recuperação da saúde, e a prevenção de doenças
e de outros problemas de saúde;

 III – Participar do planejamento e da avaliação da farmacoterapia, para que o


paciente utilize de forma segura os medicamentos de que necessita, nas doses,
frequência, horários, vias de administração e duração adequados, contribuindo
para que o mesmo tenha condições de realizar o tratamento e alcançar os objetivos
terapêuticos;

 IV – Analisar a prescrição de medicamentos quanto aos aspectos legais e técnicos;

 V – Realizar intervenções farmacêuticas e emitir parecer farmacêutico a outros


membros da equipe de saúde, com o propósito de auxiliar na seleção, adição,
substituição, ajuste ou interrupção da farmacoterapia do paciente;

 VI – Participar e promover discussões de casos clínicos de forma integrada com


os demais membros da equipe de saúde;

 VII – Prover a consulta farmacêutica em consultório farmacêutico ou em outro


ambiente adequado, que garanta a privacidade do atendimento;

 VIII – Fazer a anamnese farmacêutica, bem como verificar sinais e sintomas, com
o propósito de prover cuidado ao paciente;

 IX – Acessar e conhecer as informações constantes no prontuário do paciente;

 X – Organizar, interpretar e, se necessário, resumir os dados do paciente, a fim de


proceder à avaliação farmacêutica;

 XI – Solicitar exames laboratoriais, no âmbito de sua competência profissional,


com a finalidade de monitorar os resultados da farmacoterapia;

 XII – Avaliar resultados de exames clínico-laboratoriais do paciente, como


instrumento para individualização da farmacoterapia;

 XIII – Monitorar níveis terapêuticos de medicamentos, por meio de dados de


farmacocinética clínica;

 XIV – Determinar parâmetros bioquímicos e fisiológicos do paciente, para fins de


acompanhamento da farmacoterapia e rastreamento em saúde;

 XV – Prevenir, identificar, avaliar e intervir nos incidentes relacionados aos


medicamentos e a outros problemas relacionados à farmacoterapia;

 XVI – Identificar, avaliar e intervir nas interações medicamentosas indesejadas e


clinicamente significantes;
farmácia clínica 7

 XVII – Elaborar o plano de cuidado farmacêutico do paciente;

 XVIII – Pactuar com o paciente e, se necessário, com outros profissionais da


saúde, as ações de seu plano de cuidado;

 XIX – Realizar e registrar as intervenções farmacêuticas junto ao paciente, família,


cuidadores e sociedade;

 XX – Avaliar, periodicamente, os resultados das intervenções farmacêuticas


realizadas, construindo indicadores de qualidade dos serviços clínicos prestados;

 XXI – Realizar, no âmbito de sua competência profissional, administração de


medicamentos ao paciente;

 XXII – Orientar e auxiliar pacientes, cuidadores e equipe de saúde quanto à


administração de formas farmacêuticas, fazendo o registro destas ações, quando
couber;

 XXIII – Fazer a evolução farmacêutica e registrar no prontuário do paciente;

 XXIV – Elaborar uma lista atualizada e conciliada de medicamentos em uso pelo


paciente durante os processos de admissão, transferência e alta entre os serviços e
níveis de atenção à saúde;

 XXV – Dar suporte ao paciente, aos cuidadores, à família e à comunidade com


vistas ao processo de autocuidado, incluindo o manejo de problemas de saúde
autolimitados;

 XXVI – Prescrever, conforme legislação específica, no âmbito de sua competência


profissional;

 XXVII – Avaliar e acompanhar a adesão dos pacientes ao tratamento, e realizar


ações para a sua promoção;

 XXVIII – Realizar ações de rastreamento em saúde, baseadas em evidências


técnico científicas e em consonância com as políticas de saúde vigentes.

IMPORTANTE!
Os parágrafos em negrito dizem respeito às atribuições mais cobradas.
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2. PROBLEMAS RELACIONADOS
AOS MEDICAMENTOS
O Consenso Brasileiro de Atenção Farmacêutica traz uma definição para Problemas
Relacionados a Medicamentos (PRM): “Um problema de saúde, relacionado ou suspeito
de estar relacionado a farmacoterapia, que interfere nos resultados terapêuticos e na qua-
lidade de vida do paciente”5.
O PRM é real, quando manifestado, ou potencial na possibilidade de sua ocorrên-
cia. Pode ser ocasionado por diferentes causas, tais como: as relacionadas ao sistema
de saúde, ao usuário e seus aspectos biopsicossociais, aos profissionais de saúde e ao
medicamento.
Segundo o consenso brasileiro, a identificação de PRM segue os princípios de neces-
sidade, efetividade e segurança, próprios da farmacoterapia.
Há também o III Consenso de Granada que propôs a substituição do termo “Proble-
mas relacionados a medicamentos” por “Resultados negativos da Medicação”, sendo estes
entendidos como “resultados de saúde não adequados ao objetivo da farmacoterapia e
associados ao uso ou falha no uso de medicamentos”.

Quadro 1. Classificações de PRM/RNM selecionados3

Classificação de Resultados Negativos


Classificação de Problemas Relacionados
da Medicação (RNM), de acordo com
a Medicamentos (PRM)
o III Consenso de Granada

Necessidade Necessidade

PRM 1: O paciente tem um estado de saúde que


requer terapêutica. • Problema de saúde não tratado.
PRM 2: O paciente tem um estado de saúde para • Medicamento desnecessário.
o qual não é necessário nenhum medicamento.

Efetividade Efetividade

PRM 3: O paciente tem um estado de saúde para


o qual toma medicamento inadequado.
• Inefetividade não quantitativa (antibióticos).
PRM 4: O paciente tem um estado de saúde para
• Inefetividade quantitativa (sub. dose).
o qual recebe uma quantidade muito baixa de
medicamento.
farmácia clínica 9

Classificação de Resultados Negativos


Classificação de Problemas Relacionados
da Medicação (RNM), de acordo com
a Medicamentos (PRM)
o III Consenso de Granada

Segurança Segurança

PRM 5: O paciente tem um estado de saúde


• Falta de segurança não quantitativa (alergia,
resultante de uma RAM.
interação).
PRM 6: O paciente tem um estado de saúde para
• Falta de segurança quantitativa (toxicidade
o qual recebe uma quantidade muito elevada de
renal, hepática).
medicamentos.

ADESÃO

PRM 7: O paciente tem um estado de saúde re-


sultante de não tomar o medicamento indicado.

A identificação e resolução desses problemas são território próprio do profissional


farmacêutico, aquilo que os diferencia de outras profissões da saúde e que justifica, so-
cialmente, sua prática. O propósito de identificar os problemas relacionados à farmaco-
terapia é ajudar os usuários a atingirem suas metas terapêuticas e a obterem o máximo
benefício dos medicamentos.
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3. PLANO DE CUIDADO E
INTERVENÇÕES FARMACÊUTICAS

3.1 Plano de Cuidado


Planejamento documentado para a gestão clínica das doenças, de outros problemas
da saúde e da terapia do paciente, delineado para atingir os objetivos do tratamento. Inclui
as responsabilidades e atividades pactuadas com o farmacêutico, a definição das metas
terapêuticas, as intervenções farmacêuticas, as ações a serem realizadas pelo paciente e
o agendamento para retorno e acompanhamento.

3.2 Delineamento de Plano de Cuidado


Deve ser determinado em conjunto com o paciente, como manejar adequadamente
seus problemas de saúde utilizando a farmacoterapia e tudo que deve ser feito para que o
plano seja cumprido.
Elaborar um plano de cuidado requer tomada de decisões clínicas. Nessa fase do
processo de seguimento farmacoterapêutico, o usuário já foi avaliado, todas as informa-
ções relevantes foram coletadas. O farmacêutico estudou o caso suficientemente, revisou
toda a farmacoterapia e identificou problemas relacionados à farmacoterapia presentes e
potenciais. Há uma lista de problemas a serem resolvidos. O próximo passo será construir
um plano de cuidado. É aceitável que todo esse processo inicial leve a mais de uma con-
sulta para casos mais complexos.
Figura 1. Plano de Cuidado

Intervenções
voltadas aos
Metas problemas
Terapêuticas relacionados a
Farmacoterapia

Agendamento das
avaliações de
Seguimento

Fonte: Autoria Própria, 2020.


Figura 1. Plano de Cuidado

Fonte: Elaborado pelo Autor, 2020.


farmácia clínica 11

Definir as metas terapêuticas consiste, portanto, em um trabalho de negociação en-


tre farmacêutico e usuário. Para medicamentos prescritos, pode, ainda, ser necessário
conversar com o prescritor, caso haja dúvida sobre as metas terapêuticas a serem atin-
gidas com algum tratamento. De modo geral, o que o farmacêutico precisa ter em mente
é que devem ser definidas metas claras para toda a farmacoterapia e não apenas para
medicamentos indicados pelo farmacêutico ou para problemas relacionados à farmacote-
rapia. Na prática, há dois componentes essenciais que precisam ser definidos para cada
meta terapêutica:

 Os parâmetros clínicos e/ou laboratoriais mensuráveis, que serão utilizados para


medir o resultado. Esses podem ser sinais ou sintomas observáveis pelo profissional
e pelo usuário e/ou por exames laboratoriais com valores de referência a serem
alcançados;

 O prazo definido para alcance dos resultados. Esse prazo deve levar em consideração
o tempo esperado para que se produzam as primeiras evidências de efeitos e o tempo
necessário para obtenção de uma resposta completa da farmacoterapia.

Uma vez que todas as metas terapêuticas estão claras e definidas, são delineadas
as intervenções farmacêuticas necessárias. Entende-se como intervenção farmacêutica
o “ato planejado, documentado e realizado junto ao usuário e profissionais de saúde, que
visa resolver ou prevenir problemas relacionados à farmacoterapia e garantir o alcance
das metas terapêuticas”7. Cada intervenção deve ser individualizada de acordo com a con-
dição clínica do usuário, suas necessidades e problemas relacionados à farmacoterapia.
O delineamento de uma intervenção deve considerar as opções terapêuticas disponí-
veis e deve ser feito em colaboração com o usuário e, quando apropriado, com seu familiar,
cuidador ou médico responsável. Além disso, todas as intervenções devem ser documen-
tadas. Quando a intervenção envolve modificação de medicamentos prescritos será neces-
sário contatar o prescritor. Em princípio, a substituição, adição ou modificação do regime
posológico de medicamentos prescritos não deve ser feita sem anuência do prescritor.
Esse contato pode ocorrer, basicamente, de três maneiras:

 Contato pessoal ou telefônico;

 Envio de carta escrita ao prescritor;

 Orientação ao usuário para que converse com o médico sobre a necessidade de


alteração.

De modo geral, a maioria dos problemas relacionados à farmacoterapia podem ser


negociados e resolvidos diretamente entre farmacêutico e usuário, por se tratar de proble-
mas ligados ao comportamento do usuário e à necessidade de orientação. Reforçamos a
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importância do contato com o prescritor todas as vezes que o problema exigir modifica-
ções na prescrição.
O último passo na elaboração do plano de cuidado é definir o prazo necessário para
que o usuário volte à consulta farmacêutica e qual será a frequência dessas consultas, a
fim de se avaliar os resultados da farmacoterapia e das intervenções ao longo do tempo.
Esse passo corresponde ao agendamento para as avaliações de seguimento do usuário. O
tempo que deve transcorrer entre as consultas depende de muitos fatores, entre os quais
o prazo necessário para que se observem os resultados da farmacoterapia, em termos
de efetividade e segurança. Para usuários com quadros mais graves ou problemas rela-
cionados à farmacoterapia de maior complexidade, o seguimento deverá ser feito mais
amiúde. Para usuários que não apresentam problemas relacionados à farmacoterapia, o
seguimento deve ter por objetivo manter as condições de alcance das metas terapêuticas
e prover cuidado contínuo ao usuário.
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4. ATENÇÃO FARMACÊUTICA E
ACOMPANHAMENTO FARMACÊUTICO

4.1 Atenção Farmacêutica


Compreende atitudes, valores éticos, comportamentos, habilidades, compromissos
e corresponsabilidades na prevenção de doenças, promoção e recuperação da saúde, de
forma integrada à equipe de saúde. É a interação direta do farmacêutico com o usuário,
visando resultados definidos, uma farmacoterapia racional e mensurável, voltada para ob-
tenção de melhoria da qualidade de vida.
A atenção farmacêutica é definida como uma prática profissional e não como mais
uma atividade do farmacêutico, porque ela é capaz de atender uma demanda social que
nenhum outro profissional, atualmente, assume como sua responsabilidade, isto é, a de
atender a todas as necessidades do usuário, relacionadas à farmacoterapia.
Estas são algumas características da atenção farmacêutica:

Propõe uma filosofa profissional que pode ser incorporada por todos os profissionais,
independentemente do espaço físico onde atuam.

Apresenta um método sistemático e racional de tomada de decisão sobre os medicamentos


e um processo de cuidado do usuário, que pode ser utilizado com todo e qualquer usuário,
em qualquer problema de saúde e utilizando qualquer medicamento.

Determina que todas as decisões e intervenções do profissional devem ser documentadas,


a fim de facilitar o controle de qualidade do exercício profissional e garantir o processo de
cuidado, uma vez que outros profissionais podem ter acesso a decisões tomadas.

Indica um sistema de gerenciamento da prática, já que o oferecimento de um serviço para o usuário


requer a implementação de aspectos logísticos e gerenciais muito diferentes daqueles, usualmente,
utilizados na atividade de dispensação farmacêutica3.
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Figura 2. Atividades do Farmacêutico na Atenção Farmacêutica

Educação
em Saúde

Registro Intervenções
voltadas aos
Orientação
Sistemático problemas
Metas Farmacêutica
das Atividades relacionados a
Terapêuticas
Farmacoterapia

Acompanhamento Atendimento
Farmacoterapêutico Farmacêutico

Agendamento das
Fonte: avaliações de 2020.
Autoria Própria,
Seguimento

4.2 Acompanhamento Farmacêutico


Serviço pelo qual o farmacêutico
Figura 1.analisa
Plano deas condições de saúde e tratamento do
Cuidado
paciente, com o objetivo de prevenir e resolver problemas da farmacoterapia, bem como
Fonte: Elaborado pelo Autor, 2020.
garantir que os resultados terapêuticos sejam alcançados, por meio da elaboração de um
plano de cuidado e acompanhamento do paciente.

Figura 3. Três Fases do Acompanhamento Farmacêutico

Interpretação
Anamnese de dados
Farmacêutica

Processo de
Orientação

Figura 3. Três Fases do Acompanhamento Farmacêutico


Fonte: Autoria Própria, 2020.
Fonte: Elaborado pelo Autor, 2020.
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4.3 Métodos de Acompanhamento Farmacêutico


Os métodos de Seguimento Farmacoterapêutico (SFT) mais citados e conhe­cidos na
literatura internacional e no Brasil são o SOAP, o PWDT, o TOM e o Dáder. Na sequência,
será apresentada a descrição desses métodos para, em seguida, serem elencadas as prin-
cipais vantagens e desvantagens entre eles.

 SOAP (Subjetivo, Objetivo, Avaliação e Plano): Este método é amplamente


empregado por profissionais da saúde, tendo como ponto positivo seu fácil
entendimento por qualquer desses profissionais. Cada termo refere-se a uma parte do
processo de atendimento do usuário, com atividades específicas a serem realizadas.
y Dados subjetivos: Nessa etapa do procedimento, devem ser registradas as
informações obtidas do usuário ou cuidador ou, se for o caso, de históricos de
prontuário, as quais não se constituem conhecimento objetivo. No caso da
abordagem farmacêutica, deve-se buscar informações pertinentes a problemas
com o uso de medicamentos e à relação destes com a enfermidade.
y Dados objetivos: Referem-se à obtenção de dados objetivos, como sinais vitais,
resultados de exames de patologia clínica, achados de testes laboratoriais e de
exame físico realizado pelo profissional habilitado para tal.
y Avaliação dos dados: Com base nos dados subjetivos e objetivos, o farmacêutico
deve identificar as suspeitas de problemas relacionados com medicamentos.
Após, deve verificar o que pode ser realizado para a resolução desses problemas
e quais intervenções farmacêuticas podem ser adotadas.
y Plano: De posse da análise das informações e do planejamento das condutas a
serem realizadas, em conformidade com o perfil do usuário, o farmacêutico deve
apresentá-las a este último, buscando o estabelecimento de um acordo para a
implementação do plano. Caso os problemas relacionados com medicamentos
necessitem da avaliação do prescritor, o usuário deverá ser informado dessa
necessidade. Também deve-se estabelecer, em conjunto, a forma de realizar a
monitorização dos resultados do plano a ser implementado, principalmente se
houver novas modificações em prescrição de medicamento ou no quadro do
usuário, instaurando-se, dessa forma, o ciclo de atendimento.

 PWDT (Pharmacist’s Workup of Drug Therapy) ou Estudo Farmacêutico da Terapia


Farmacológica: Avaliação Sistemática da Farmacoterapia foi desenvolvido por Strand
e colaboradores, da Universidade de Minnesota (EUA), para utilização em farmácias
comunitárias, sendo aplicável a qualquer usuário.
y Possui como objetivos:
a) Avaliação das necessidades do usuário referentes a medicamentos e à
implementação de ações, segundo os recursos disponíveis, para suprir
aquelas necessidades;
farmácia clínica 16

b) Realização de seguimento para determinar os resultados terapêuticos


obtidos.

Para que essas atividades sejam realizadas, é necessário manter uma relação
terapêutica otimizada entre farmacêutico e usuário, bem como considerar o caráter
interativo do processo de cuidado do usuário. Seus principais componentes são:
y Análise de dados: É constituída por coleta de dados e caracterização de adequação,
efetividade e segurança da farmacoterapia em uso. Procura caracterizar se esta é
conveniente para as necessidades do usuário, com relação a fármacos, e identificar
problemas relacionados com medicamentos que interfiram ou possam interferir
nos objetivos terapêuticos.
y Plano de atenção: Levando em consideração os dados obtidos na análise, o
farmacêutico deve resolver os problemas relacionados com medicamentos,
estabelecendo objetivos terapêuticos e prevenindo outros possíveis problemas.
Os objetivos terapêuticos devem ser claros, passíveis de aferição e atingíveis pelo
usuário. Quando apropriado, o plano pode conter também informações sobre
terapêutica não farmacológica.
y Monitorização e avaliação: Quando da monitorização do plano de atenção, o
farmacêutico deve verificar em que nível estão os resultados farmacoterapêuticos
obtidos, reavaliando as necessidades do usuário perante estes e se novas
situações não estão em voga, como novos PRM ou novos problemas de saúde,
tratados ou não.

 DÁDER: Método Dáder de Seguimento Farmacoterapêutico Foi desenvolvido


pelo Grupo de Investigación en Atención Farmacéutica da Universidad de Granada
(Espanha), para ser utilizado em farmácias comunitárias, sendo aplicável a qualquer
usuário.
y Oferta do serviço: Oferta do serviço ao usuário, agendando encontro e esclarecendo
quais atividades o farmacêutico realiza. Caso seja de interesse do usuário,
solicita-se que, no dia aprazado, ele traga todos os medicamentos e documentos
que possui referentes à sua saúde, tais como resultados de exames laboratoriais,
diagnósticos médicos e outras informações.
y Primeira entrevista: Realiza-se coleta de informações sobre a história
farmacoterapêutica do usuário, incluindo dados relacionados a preocupações
e problemas de saúde, perguntas específicas sobre a utilização de cada
medicamento e revisão de sistemas. Finaliza-se o encontro orientando o usuário
quanto ao uso correto de alguns medicamentos, identificando aqueles que estão
mal conservados ou que somente devem ser utilizados mediante prescrição
médica, como, por exemplo, os antimicrobianos.
y Análise situacional: Busca-se identificar a relação entre problemas de saúde e uso
de medicamentos citados pelo usuário. Pode ser dividida em fase de estudo e fase
farmácia clínica 17

de avaliação. Na fase de estudo, o farmacêutico deve obter todas as informações


necessárias para avaliação posterior da utilização de medicamentos e a relação
destes com os problemas de saúde, além das características do usuário. Requer
habilidades de busca e análise de informações técnicas. A fase de avaliação visa
a identificação das suspeitas de problemas relacionados com medicamentos
que o usuário pode estar experimentando. Essa identificação fundamenta-se nos
achados da fase de estudo.
y Fase de intervenção: Tem por objetivos elaborar plano de atuação em acordo
com o usuário e implantar as intervenções necessárias para resolver ou prevenir
problemas relacionados com medicamentos. Esse plano é apresentado ao usuário
em um segundo encontro.
y Resultado da intervenção: Objetiva determinar se o resultado desejado foi atingido.
Funciona como a monitorização da intervenção proposta.
y Nova análise situacional: É realizada quando se verificam mudanças de estado de
saúde do usuário e utilização de medicamentos, após a intervenção.
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5. MÉTODO CLÍNICO E
CONSULTA FARMACÊUTICA

5.1 Método Clínico do Cuidado Farmacêutico


O cuidado farmacêutico tem início com a coleta de dados do usuário, a qual é feita por
meio de uma anamnese farmacêutica em que o usuário é a principal fonte das informações.
Além do relato que o usuário faz sobre sua própria saúde, sobre seus problemas mé-
dicos e tratamentos em curso, outras informações podem ser obtidas de familiares e cui-
dadores ou até mesmo de outros profissionais da saúde. São indispensáveis, ainda, os
dados advindos de exames clínicos, laboratoriais, prescrições médicas, entre outros docu-
mentos pertencentes ao histórico clínico do usuário. Quando o atendimento é agendado,
ajuda muito pedir ao usuário que leve as receitas médicas, os medicamentos que usa e os
exames que fez. A entrevista clínica é focada no perfil do usuário, na história clínica e de
medicamentos, bem como na experiência do usuário com medicamentos. A história clínica
pode incluir o motivo da consulta, a história da doença atual, a história médica pregressa, a
história social, familiar e a revisão por sistemas. A história medicamentosa inclui os medi-
camentos em uso, as plantas medicinais, o uso pregresso de medicamentos, o histórico de
alergias, as reações adversas a medicamentos e a experiência de medicação do usuário. O
farmacêutico deve buscar conhecer todos os medicamentos em uso pelo usuário, incluindo
suas indicações, o regime terapêutico (dose, via de administração, frequência e duração) e
a resposta (efetividade e segurança). Tão importante quanto os medicamentos prescritos
são aqueles usados por automedicação, plantas medicinais, suplementos vitamínicos e
vacinas, normalmente pouco valorizados pelos usuários como medicamentos.
Essa abordagem deve ser feita valorizando o conhecimento do usuário, sua percep-
ção dos problemas, sua cultura e condição social, bem como os medicamentos se encai-
xam em sua rotina de vida, seus horários e seus hábitos. Nessa fase inicial do seguimento
farmacoterapêutico, é essencial ao farmacêutico compreender a experiência de medica-
ção relatada pelo usuário, a qual é fundamental na tomada de decisões clínicas. Nessa ex-
periência, incluem-se as atitudes, os desejos, as expectativas, os receios, o entendimento
e o comportamento do usuário com relação aos medicamentos. A adesão terapêutica só
pode ser entendida de forma segura com essa aproximação e, a partir dela, será possível
orientar o usuário quanto ao melhor uso que pode ser feito dos medicamentos.
As informações sobre o usuário, organizadas pelo farmacêutico durante a entrevista,
devem compor uma “foto” do usuário, conhecida como estado situacional. O estado si-
tuacional, também chamado de perfil farmacoterapêutico, consiste na relação completa
dos problemas de saúde e de toda farmacoterapia, de modo que se conheçam, detalhada-
farmácia clínica 19

mente, os medicamentos em uso e as condições clínicas do usuário, não tratadas. Nessa


“foto” inicial deve ser possível, também, avaliar os resultados terapêuticos obtidos até o
momento. O estado situacional é a base de informações sobre a qual o farmacêutico rea-
lizará a revisão da farmacoterapia e a identificação de problemas do usuário relacionados
à farmacoterapia, fases essas que compõem a próxima etapa do método clínico.

5.2 Detecção de Falhas na Farmacoterapia


A avaliação sistemática da farmacoterapia deve considerar a necessidade, efetivi-
dade e segurança de todos os medicamentos em uso pelo usuário e de sua adesão ao
tratamento. Isto é, deve considerar todas as necessidades ligadas aos medicamentos,
apresentadas pelo usuário.
A avaliação da necessidade do uso de medicamentos pode revelar dois problemas
comuns: o uso de medicamentos desnecessários ou sem indicação clara para os proble-
mas de saúde do usuário, ou a necessidade de utilizar medicamentos para um problema
de saúde não tratado até aquele momento. Indicação e necessidade são conceitos ligei-
ramente diferentes. A indicação diz respeito ao uso aprovado do medicamento, descrito
na bula do produto. A necessidade parte da situação clínica do usuário. Quando as indi-
cações do medicamento e o problema clínico coincidem oportunamente, há necessidade
da farmacoterapia. O uso de um medicamento, portanto, pode ser considerado necessário
quando há um problema de saúde que o justifique e/ou quando há uma prescrição médica
válida para tal. Se não há uma condição clínica que requeira farmacoterapia, então esta é
desnecessária. Por outro lado, se há uma indicação terapêutica que não está sendo trata-
da, então há necessidade de iniciar a farmacoterapia. Nessa fase, o farmacêutico, conti-
nuamente, investiga se o problema de saúde do usuário é causado pela farmacoterapia ou
se é algo que precisa ser tratado com ela.
A efetividade da farmacoterapia é a expressão dos efeitos benéficos do tratamento
sobre o usuário. A farmacoterapia é considerada efetiva quando conduz ao alcance das
metas terapêuticas previamente estabelecidas. A fim de determinar essas metas, o farma-
cêutico deverá considerar a indicação do medicamento, seu regime terapêutico e o tempo
transcorrido do início do uso, necessário para o alcance das metas.
A segurança da farmacoterapia consiste na expressão dos efeitos prejudiciais do
tratamento sobre o usuário. Um medicamento pode ser considerado seguro quando não
causa um novo problema de saúde no usuário, nem agrava um problema de saúde já exis-
tente. As Reações Adversas aos Medicamentos (RAM) e a toxicidade são os problemas
mais comuns relacionados à segurança da farmacoterapia.
A avaliação da adesão terapêutica do usuário também pode revelar dois problemas
comuns: a não adesão involuntária (não intencional) do usuário, que ocorre quando este
farmácia clínica 20

apresenta dificuldade em cumprir o tratamento ou o segue de forma inconsistente com as


instruções do prescritor; e a não adesão voluntária do usuário, situação na qual o usuário
decide, intencionalmente, não utilizar seus medicamentos ou fazê-lo de forma diferente
das instruções do prescritor. Vários fatores podem influenciar a adesão do usuário ao
tratamento, entre eles o acesso aos medicamentos, condições socioeconômicas e cultu-
rais, conhecimento sobre os medicamentos, capacidade cognitiva, complexidade da far-
macoterapia, aspectos religiosos, expectativas e medos ligados ao tratamento, melhora
ou agravamento da condição clínica, entre outros. Na prática do seguimento farmacotera-
pêutico, a adesão terapêutica pode ser, adequadamente, avaliada a partir de uma revisão
detalhada de como o usuário utiliza os medicamentos e de sua experiência medicamen-
tosa. A responsabilidade do profissional, nesse caso, será compreender a dimensão da
adesão do usuário ao tratamento e trabalhar a fim de que ela não seja um problema. Estas
quatro dimensões (necessidade, efetividade, segurança e adesão) permitem ao farmacêu-
tico avaliar os medicamentos habituais do usuário em toda sua complexidade e o condu-
zirão à detecção de riscos ou problemas relacionados à farmacoterapia manifestados. As
quatro dimensões devem ser sistematicamente avaliadas.
É comum aos farmacêuticos entender a necessidade da farmacoterapia e a adesão
terapêutica como dimensões ligadas ao processo do uso dos medicamentos. Por outro
lado, a efetividade e a segurança são a expressão dos efeitos da farmacoterapia sobre o
estado de saúde do usuário, refletindo-se em desfechos de saúde. Na mesma lógica, os
erros de medicação constituem desvios ou falhas ocorridas no processo de uso dos medi-
camentos, principalmente enquanto estes estão sob responsabilidade da equipe de saúde,
e podem conduzir a falta de efetividade ou segurança da farmacoterapia.
Uma boa prática clínica deve se basear nas necessidades específicas dos usuários,
nas melhores evidências disponíveis e na experiência do profissional para a tomada de
decisões, que maximizem as chances de benefícios ao usuário.

5.3 Consulta Farmacêutica


Considere as atividades seguintes a serem desenvolvidas durante a consulta com o
paciente:
y Cumprimentar e acolher o paciente / Apresentar-se ao paciente;
y Apresentar o propósito e a estrutura da consulta (por exemplo, compartilhar com
o paciente o planejamento dessa consulta);
y Solicitar ao paciente que coloque suas questões relacionadas aos medicamentos
e saúde (permitindo que o paciente coloque suas necessidades ou expectativas
em relação à consulta);
farmácia clínica 21

y Negociar com o paciente um planejamento compartilhado para a consulta


(priorizando questões a serem discutidas considerando os objetivos do
farmacêutico e as necessidades do paciente);
y Prestar atenção às questões de conforto e privacidade do paciente.

5.3.1 Coleta de Dados e Investigação do Problema

y Investigar o estado clínico de cada problema de saúde do paciente, por meio da


análise dos sinais e sintomas relatados pelo paciente e resultados de exames
físico, laboratoriais e de imagem;
y Avaliar as novas queixas do paciente, por meio da história da doença atual – HDA –
de cada queixa (tempo – início, frequência e duração –, localização, característica,
gravidade, ambiente, fatores que agravam ou que aliviam, sintomas associados);
y Perguntar como o paciente monitora a doença (por exemplo, glicemia capilar,
medida da PA, sintomatologia etc.);
y Realizar uma avaliação física apropriada (quando indicado) – por exemplo, aferição
de pressão arterial, glicemia capilar, temperatura, entre outros;
y Registrar o estado clínico atual de cada problema de saúde e queixa;
y Avaliar a percepção geral de saúde e a qualidade de vida do paciente, por meio de
Escala Visual Analógica (EVA);
y Avaliar o entendimento (leigo) do paciente sobre sua enfermidade;
y Investigar a história social do paciente (álcool, tabagismo, exercícios físicos e
hábitos alimentares, impacto da medicação no estilo de vida);
y Avaliar os medicamentos prescritos – princípio ativo, concentração, posologia
prescrita, origem da prescrição, posologia utilizada, tempo de uso, se o paciente
sabe para que utiliza e como está funcionando na percepção do paciente;
y Avaliar os medicamentos utilizados por automedicação – princípio ativo,
concentração, posologia utilizada, tempo de uso, se o paciente sabe para que
utiliza e como está funcionando na percepção do paciente;
y Avaliar o entendimento do paciente sobre o propósito de cada medicamento
(por exemplo, o paciente sabe por quê o tratamento foi prescrito e os benefícios
esperados);
y Investigar as terapias alternativas e complementares (por exemplo, homeopatia,
plantas medicinais, acupuntura etc.) – qual? para quê? qual a frequência de
utilização? qual o modo de preparo/utilização?;
y Investigar as alergias conhecidas a medicamentos;
y Investigar os incômodos devido ao uso dos medicamentos;
y Realizar o rastreamento de reações adversas a medicamentos e, se positivo
para um ou mais sinais e/ou sintomas, registrar o medicamento suspeito de estar
farmácia clínica 22

envolvido e avaliar o HDA de cada queixa (tempo – início, frequência e duração


–, localização, característica, gravidade, ambiente, fatores que agravam ou que
aliviam, sintomas associados).

5.3.2 Ações e Soluções

y Elaborar o plano de cuidado para resolução dos problemas da farmacoterapia


identificados, em conjunto com o paciente. Discutir opções, objetivos, metas do
tratamento;
y Sugerir a(s) intervenção(ões) para a resolução dos problemas da farmacoterapia
detectados, envolvendo o paciente na tomada de decisão;
y Verificar a habilidade do paciente em seguir o plano, permitindo que o paciente
antecipe qualquer problema em seguir o plano, por exemplo, em termos de
motivação, recursos, tempo ou habilidades físicas e cognitivas;
y Fornecer orientações sobre o propósito de cada medicamento e a importância de
cada tratamento;
y Fornecer orientações sobre o acesso aos medicamentos.

5.3.3 Fechamento da Consulta

y Explicar ao paciente o que fazer caso tenha dificuldades em seguir o plano e com
quem pode entrar em contato.
farmácia clínica 23

6. INTERAÇÕES E INTERVENÇÕES
FARMACÊUTICAS
A administração de dois ou mais fármacos simultaneamente, com alteração do efei-
to em comparação ao uso isolado do fármaco, é definida como interação medicamentosa.
EsSa associação de medicamentos frequentemente ocorre com o objetivo de melhorar
determinado efeito farmacológico, contudo, muitas interações não são previstas e podem
diminuir o efeito de um dos medicamentos ou provocar efeitos danosos.
Nos dias atuais, existem inúmeros programas computadorizados que conseguem
verificar as interações medicamentosas, porém é necessária a intervenção farmacêutica
para realizar a identificação das interações de maior importância clínica para o paciente.
As principais interações medicamentosas de importância clínica estão apresentadas no
quadro seguinte.

Quadro 2. Interações Medicamentosas de Importância Clínica11

FÁRMACOS MECANISMOS EFEITOS DA INTERAÇÃO

Risco aumentado de
O metabolismo da serotonina é síndrome serotonérgica
Linezolida + Fluoxetina
inibido pela monoaminoxidade. (confusão mental, hipertermia,
hipertensão, entre outros).

A amiodarona pode reduzir


Os efeitos da digoxina são
Digoxina + Amiodarona a excreção da digoxina,
aumentados.
prolongando seu efeito.

O efeito da varfarina é prolongado,


Varfarina + Macrolídeos pois os macrolídeos reduzem
Maior risco de sangramento.
(ex. Azitromicina) a flora intestinal e inibem seu
metabolismo.

Inibem o metabolismo hepático Pode provocar toxicidade


Teofilina + Ciprofloxacino
feito pelas quinolonas. da teofilina.

6.1 Classificação
Podem-se classificar as interações medicamentosas de acordo com o início de efei-
to, gravidade, documentação na literatura e mecanismo de ação.
farmácia clínica 24

Quanto ao início de efeito, são divididas em rápidas ou tardias:

Efeito rápido

y Início da ação deve ocorrer em até Efeito tardio


24h após a utilização dos fármacos.
y Início da ação pode ocorrer após
y Necessário que ocorra monitora-
dias ou semanas
mento ou intervenção para reduzir
ou não os efeitos da interação.

Em relação à gravidade do efeito, as interações podem ser classificadas em graves,


moderadas ou leves:

Figura 3. Efeitos das Interações Medicamentosas3

GRAVIDADE

GRAVES MODERADAS LEVES

O efeito da interação não


A interação pode afetar a
necessariamente afetará
evolução clínica ou causar
o paciente, provocando
danos permanentes no A interação pode interferir
apenas efeitos clínicos
paciente, caso não seja na condição clínica do
inconvenientes, de modo
corretamente monitorada. paciente, podendo exigir
que não é necessário
Devido a isso, requer modificações na terapia.
alterar a terapia ou
intervenção para prevenir
realizar intervenções
ou reduzir os danos.
mais complexas.

No que se refere à documentação na literatura, as interações medicamentosas estão


classificadas segundo o grau de evidência descrita:

Figura 4. Grau de evidência das Interações Medicamentosas3

GRAU DE EVIDÊNCIA

BOM
Bem SUSPEITO OU
IMPROVÁVEL
EXCELENTE documentadas RAZOÁVEL POBRE
e a literatura Requer uma
Muito bem Pouco Muito pouco
indica que existe maior base
documentadas documentadas, documentadas,
a interação, farmacológica
e estabelecidas ocorrendo apenas os estudos são
porém ainda para estabelecer
por estudos a suspeita relacionados a
são necessários a existência de
controlados. de interação relatos de caso
estudos para interação.
medicamentosa.
estabelecer a
evidência.
farmácia clínica 25

Em relação ao mecanismo de ação, as interações podem ser divididas em farmaco-


dinâmicas ou farmacocinéticas.

6.2 Farmacodinâmica
y Acontecem entre dois ou mais fármacos, mediante seus próprios mecanismos de
ação ou competindo com receptores específicos;
y Podem produzir ações de antagonismo (quando um fármaco anula a ação do outro).
São de fácil detecção e usadas para impedir o efeito adverso de algum fármaco,
porém podem ocorrer efeitos desagradáveis quando as drogas apresentam o
mesmo perfil toxicológico, como a associação de vancomicina e gentamicina,
pois os dois antibióticos possuem potencial nefrotóxico;
y Podem produzir ações de sinergismo (quando um fármaco potencializa a ação de
outro). É possível ocorrer adição ou potencialização dos efeitos, além de prováveis
efeitos tóxicos;
y A associação de medicamentos para potencializar a eficácia é muito comum,
alguns exemplos são: sulfametoxazol + trimetroprima: melhora na eficácia
terapêutica devido à interferência em diferentes rotas metabólicas da bactéria;
penicilina G cristalina + procaína: aumento da duração de ação da penicilina.

6.3 Farmacocinética
y De acordo com o sítio de ação, podem estar relacionadas aos processos de
absorção, distribuição, metabolismo e eliminação;
y Podem reduzir o gradiente de concentração dos fármacos, afetando a
biodisponibilidade e a eficácia terapêutica.

6.3.1 Absorção

y A absorção dos fármacos ocorre principalmente no intestino delgado, este


processo pode sofrer alterações se for administrado em associação com
antiácidos, resinas, alimentos ou substâncias adsorventes, pois a alteração do
pH gástrico ou intestinal pode alterar as velocidades de desintegração, dissolução
ou absorção. Além disso, a diminuição da acidez gástrica causada por tratamento
com inibidores da bomba de prótons pode prejudicar a absorção de determinados
fármacos, devido à diminuição da sua lipossolubilidade, o que dificulta o processo
de atravessar a membrana gástrica.

6.4 Tratamento com Antiácidos


y Pode interferir na motilidade gastrintestinal;
y Pode alterar a solubilidade de alguns fármacos, formando compostos com baixa
solubilidade, por exemplo, administração de medicamentos com cálcio, magnésio
ou alumínio juntamente com tetraciclina ou rifampicina;
farmácia clínica 26

y Recomendação: utilizar os fármacos que contêm estes cátions no mínimo duas


horas após a ingestão de outro medicamento, para evitar a diminuição da absorção
e da eficácia terapêutica, que pode ocorrer pois o alumínio reduz o esvaziamento
gástrico e o magnésio aumenta a motilidade gastrintestinal.

6.5 Substâncias Adsorventes


y Pode-se citar como exemplo de substâncias adsorventes o Carvão Ativado;
y Ocorre diminuição da absorção de digitálicos e de certos antimicrobianos, devido
a isso, podem ser utilizadas em casos de intoxicação.

6.6 Interações Relacionadas à Absorção


y Podem afetar a flora intestinal e alterar o efeito de alguns fármacos, um exemplo
é o uso de antibióticos orais em conjunto com contraceptivos, isso ocorre porque
alguns antibióticos diminuem a flora bacteriana no intestino grosso, estas bactérias
têm a função de metabolizar ou realizar a desconjugação de alguns medicamentos
que são absorvidos no intestino durante o ciclo êntero-hepático; no exemplo citado
acima, a falha de desconjugação reduz a reabsorção do contraceptivo para a
circulação, de modo que seus níveis plasmáticos ficam abaixo do limite terapêutico.

6.6.1 Distribuição

y Após o fármaco atingir a circulação sanguínea, sua chegada aos tecidos depende
de vários fatores, tais como características físico-químicas (tamanho molecular,
polaridade, solubilidade aquosa e lipídica) de seu princípio ativo e condições
fisiológicas do paciente. A ligação a proteínas plasmáticas e tissulares é o meio
pelo qual a maioria das interações relacionadas à distribuição ocorre, o processo
se caracteriza por rápido aumento do efeito farmacológico, seguido de redução
após alguns dias de tratamento, devido ao aumento da quantidade de fármaco
livre, disponível para ser excretado;
y Essas interações têm importância clínica principalmente em fármacos com baixo
índice terapêutico (fármacos que apresentam o valor da dose tóxica bastante
próximo do valor da dose eficaz).

6.6.2 Biotransformação

y Apresentam elevada importância clínica e podem ocorrer por dois mecanismos:


inibição ou indução enzimática. É comum que muitos fármacos sejam indutores
do metabolismo hepático por meio do citocromo P450, este aumento do
metabolismo faz com que consequentemente as concentrações plasmáticas e os
efeitos farmacológicos diminuam se os metabólitos forem inativos e, se forem
farmácia clínica 27

ativos, podem ocorrer efeitos tóxicos. O processo de indução enzimática é dose-


dependente e o retorno aos níveis normais pode levar vários dias. Alguns exemplos
de indutores enzimáticos do citocromo P450 são a rifampicina, a carbamazepina,
a fenitoína, o fenobarbital, a progesterona e a testosterona. Resumindo, tanto na
indução quanto na inibição, os principais efeitos resultantes de interações entre
os fármacos são:
Figura 5. Principais Efeitos Resultantes de Interações11

Maiores concentrações Redução de efeito


do fármaco (concentração
(efeito terapêutico plasmática menor
ou tóxico). do que a mínima efetiva).

Menor duração de ação


(devido ao aumento
na velocidade de
biotransformação).

6.6.3 Eliminação

y Substâncias que reduzam o pH urinário (acidificação) podem aumentar a veloci-


dade de excreção de fármacos básicos e reduzir a velocidade de excreção de fár-
macos ácidos. Como exemplo, pode-se citar o bicarbonato de sódio, que é usado
para aumentar o pH urinário (alcalinização), aumentando a excreção de fármacos
ácidos. Essas alterações no pH podem prejudicar os processos de reabsorção;
y A secreção tubular do plasma para a urina é um processo ativo envolvendo
transportadores específicos para ácidos e bases fracos, que podem competir
com outro por esse transporte, diminuindo a velocidade de secreção tubular e a
depuração renal, ao mesmo tempo que as concentrações plasmáticas do fármaco
são aumentadas. A interação da penicilina com a probenicida é um exemplo de
interação muito eficaz, e se caracteriza por redução da excreção de penicilina e
aumento da meia-vida do antibiótico.

6.7 Interações entre Fármacos e Alimentos


Nos hospitais, as interações fármaco-alimento podem prejudicar a eficácia da tera-
pia medicamentosa, pois geralmente muitos pacientes internados são idosos que fazem
uso de diversos medicamentos e/ou apresentam distúrbios metabólicos. Geralmente, as
interações fármaco-alimento são relacionadas aos processos de absorção, mais especifi-
camente pela redução da solubilidade do princípio ativo causada pelo surgimento de com-
farmácia clínica 28

plexos, diminuição do contato do fármaco com as superfícies de absorção devido à for-


mação de barreiras físicas, alterações do fluxo sanguíneo e da motilidade gastrintestinal.
A administração de fármacos junto ou logo após as refeições normalmente preju-
dica a sua absorção, contudo existem algumas exceções em que a presença de carboi-
dratos e gorduras melhora a absorção, é o caso da hidroclorotiazida, teofilina, metoprolol
e diazepam. A ingestão de fármacos com alimentos também pode reduzir os efeitos co-
laterais de determinados fármacos, como alguns anti-inflamatórios e antimicrobianos.
Além disso, é importante lembrar que deve-se evitar a ingestão de sucos de frutas cítri-
cas junto com medicamentos, devido a possível alteração do pH gástrico que prejudicaria
a absorção.
A interação entre as tetraciclinas e alimentos como o leite (ricos em cálcio) é uma
das interações clássicas de fármaco-alimento; ela provoca a formação de quelatos inso-
lúveis que são excretados pelas fezes. Outros exemplos de interações entre fármacos e
alimentos estão descritos na quadro seguinte.

Quadro 3. Exemplos de interações entre fármacos e alimentos11

MEDICAMENTO EFEITO RECOMENDAÇÃO

Pode ocorrer quelação do antibiótico


se for administrado com bebidas Administrar o medicamento duas
Ciprofloxacino
fortificadas com cálcio ou derivados horas após as refeições.
lácteos.

A absorção do medicamento pode Administrar o medicamento de


Levotiroxina ser prejudicada pela presença de estômago vazio, 30 a 60 minutos
alimentos. antes do café da manhã.

A biodisponibilidade das cápsulas de


Utilizar o medicamento no mínimo
liberação lenta é diminuída cerca de
Didanosina 30 minutos antes ou 2 horas após
19% na presença de alimentos e a da
as refeições.
suspensão oral aproximadamente 50%

A ingestão de alimentos,
Deve-se utilizar o fármaco 1 hora
Captopril principalmente os ricos em potássio,
antes ou 2 horas após as refeições.
reduz a absorção em 10 a 50%.

6.8 Farmacoterapia
Seguimento farmacoterapêutico é definido como o serviço profissional que visa de-
tectar problemas relacionados com medicamentos (PRM), para evitar e resolver os resul-
tados negativos associados à medicação (RNM). Este serviço requer comprometimento e
deve ser oferecido de um modo contínuo, sistemático e documentado, com a participação
do paciente e dos profissionais do sistema de saúde, com o objetivo de atingir resultados
concretos que melhorem a qualidade de vida do usuário.
farmácia clínica 29

Os métodos do seguimento farmacoterapêutico são: SOAP (Subjetivo, Objetivo,


Avaliação, Plano), PWDT (Pharmacist’s Workup of Drug Therapy) e Dáder (Seguimento
Farmacoterapêutico).

6.8.1 Protocolo e Análise de Prescrição

A prescrição médica está entre as principais causas para o surgimento de um PRM,


pois possui forte influência sobre esses problemas9, definem PRM como uma falha que
pode ocorrer durante os processos de prescrição ou monitorização da farmacoterapia,
somando-se aos custos que geram.
Desse modo, a análise farmacêutica da prescrição e do uso de medicamentos pode
identificar condições geradoras de PRM, possibilitando a prevenção do resultado clínico
negativo. Essa análise consiste em verificar parâmetros como a existência de duplicida-
des e interações terapêuticas, a presença de subdose ou sobredose e a prescrição de fár-
macos considerados inadequados.
Segundo Farré et al.10, o farmacêutico pode fazer a monitorização terapêutica de uma
prescrição, analisando a posologia; a via; a indicação; a interação medicamentosa com
outros fármacos, com alimentos ou com alguma patologia, realizando uma intervenção
farmacêutica, sem intenção de interferir na conduta médica.
Este processo de avaliar a prescrição pode ocorrer no ato da dispensação, no mo-
mento de revisão da farmacoterapia ou na análise qualitativa e quantitativa dos indicado-
res da prescrição, de modo que a possibilidade de bons resultados é aumentada.

6.9 Elaboração de Perfil Farmacoterapêutico:


Fases do Seguimento
A escolha do método a ser utilizado deve levar em consideração a formação e a prá-
tica profissional. Recomenda-se iniciar com métodos mais detalhados e que ofereçam
suporte à prática do seguimento farmacoterapêutico. Com o passar do tempo e desenvol-
vimento de habilidades, podem-se utilizar processos mais simples, desde que a qualidade
do atendimento seja a mesma. No entanto, os métodos mais detalhados possibilitam uma
melhor condução do processo, provavelmente reduzindo erros de medicação, de ocorrên-
cia mais suscetível em métodos mais flexíveis.
De modo geral, o perfil farmacoterapêutico pode ser dividido em 4 etapas:
farmácia clínica 30

Figura 6. Perfil farmacoterapêutico3

Avaliação e
Acolhimento Delineamento de
identificação Seguimento
do usuário, coleta um plano de cuidado
de problemas individual do
e organização em conjunto com
relacionados com usuário.
de dados. o usuário.
a farmacoterapia.

6.9.1 Acolhimento do Usuário, Coleta e Organização de Dados

O cuidado farmacêutico inicia-se com a coleta de dados do usuário, que é feita por
meio de uma anamnese farmacológica em que o usuário é a principal fonte das informa-
ções. O paciente deve relatar como está sua saúde, seus problemas médicos e tratamen-
tos em curso. Além desse relato, outras informações podem ser obtidas de familiares e
cuidadores ou até mesmo de outros profissionais da saúde. Outra fonte de informação
indispensável são os dados provenientes de exames clínicos, laboratoriais, prescrições
médicas, entre outros documentos pertencentes ao histórico clínico do usuário. Se for
possível, é de grande ajuda que o usuário leve seus medicamentos, suas receitas médicas
e exames.
O foco da entrevista clínica é o paciente, sua história clínica (motivo da consulta,
histórico médico e história social) e medicamentosa (medicamentos utilizados, plantas,
alergias).
O farmacêutico deve buscar conhecer todos os medicamentos utilizados pelo pacien-
te, sabendo suas indicações, dose, via de administração, frequência e duração, além de
avaliar a resposta (efetividade e segurança). Este processo deve valorizar o conhecimento
do usuário, bem como sua cultura, condição social e sua relação com os medicamentos.

6.9.2 Avaliação e Identificação de Problemas Relacionados com a Farmacoterapia

Com base em todas as informações necessárias sobre o usuário, o farmacêutico


deve aplicar um raciocínio clínico sistemático, buscando avaliar e identificar todos os pro-
blemas relacionados à farmacoterapia do usuário.
farmácia clínica 31

Esta avaliação sistemática da farmacoterapia considera a necessidade, efetivida-


de e segurança de todos os medicamentos utilizados pelo paciente e de sua adesão ao
tratamento.
No momento de avaliar a necessidade do uso de medicamentos o farmacêutico
pode se deparar com dois principais problemas: o uso de medicamentos desnecessários
ou a necessidade de utilizar medicamentos para uma patologia ainda não tratada. O uso
de um medicamento é considerado necessário quando existe um problema de saúde que
o justifique.
Para avaliar a efetividade o profissional deve observar se a farmacoterapia propor-
cionou o alcance das metas previamente. Essas metas devem considerar a indicação do
medicamento, seu modo de uso e a duração do tratamento.
Em relação à segurança da farmacoterapia, devem-se avaliar os efeitos prejudiciais
do tratamento sobre o paciente. Um medicamento é considerado seguro quando não cau-
sa um novo problema de saúde no usuário nem agrava um problema de saúde já existente.

6.9.3 Delineamento de um Plano de Cuidado em Conjunto com o Usuário

Nessa etapa o farmacêutico já deve ter estudado todos os aspectos clínicos relevan-
tes e coletado todas as informações necessárias, de modo que provavelmente haverá uma
lista de problemas a serem resolvidos.
O próximo passo é construir um plano de cuidado, que tem como objetivo estabele-
cer com o paciente a maneira de manejar seus problemas de saúde, considerando o uso da
farmacoterapia e todas as medidas necessárias para que as metas sejam atingidas. Para
isso deve-se definir metas claras para toda a farmacoterapia e incluir o paciente nesse
planejamento.
Normalmente o farmacêutico precisa considerar dois componentes essenciais para
definir as metas, são eles: os parâmetros clínicos/laboratoriais mensuráveis e o prazo
estipulado para o alcance dos resultados.
Após definir as metas terapêuticas deve-se estabelecer as intervenções farmacêuti-
cas necessárias. Uma intervenção farmacêutica é um ato planejado, documentado e rea-
lizado com o paciente e os profissionais de saúde, tendo como objetivo solucionar os
problemas relacionados ao uso de medicamentos e garantir que as metas terapêuticas
sejam alcançadas. Essas intervenções devem ser individualizadas para cada paciente e
eventuais modificações na posologia e alterações ou adições da prescrição devem passar
pelo consentimento do prescritor.
A última etapa na elaboração do plano de cuidado é definir o prazo necessário para
que o paciente retorne à consulta farmacêutica e qual será a frequência dessas consultas,
farmácia clínica 32

de modo que seja possível avaliar os resultados da farmacoterapia e das intervenções ao


longo do tempo. Essa etapa deve considerar muitos fatores, entre eles o tempo necessário
para que se observem resultados da farmacoterapia e a disponibilidade do farmacêutico.

6.9.4 Seguimento Individual do Usuário

Essa etapa é considerada a mais importante, sendo composta de três atividades es-
senciais:
y Avaliação dos resultados terapêuticos e evolução clínica do usuário;
y Avaliação do alcance das metas terapêuticas;
y Identificação de novos problemas.
Nas consultas de retorno o farmacêutico terá a possibilidade de avaliar as mudan-
ças de comportamento do usuário, da prescrição médica, dos exames laboratoriais e
dos sintomas.
farmácia clínica 33

REFERÊNCIAS
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et al. UFSC, 2016. p. 240-241.
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cian’s guide. 2. ed. New York: Mc Graw Hill, 2004. 394 p.
4. CIPOLLE R. J.; STRAND L. M.; MORLEY P. C. O exercício do cuidado farmacêutico. Bra-
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6. MACHUCA, M.; LLIMÓS, F. F.; FAUS, M. J. The Dáder Method: guide for pharmacothe-
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MATERIAL
COMPLEMENTAR

BONS ESTUDOS!

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