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ANTECEDENTES...................................................................................................... 6
DEPARTAMENTALIZAÇÃO................................................................................. 43
CRIATIVIDADE ...................................................................................................... 71
ORGANOGRAMA ................................................................................................... 80
O SUPRIMENTO ..................................................................................................... 95
A APLICAÇÃO ........................................................................................................ 98
A MANUTENÇÃO .................................................................................................. 99
TESTES................................................................................................................... 142
EQUIPE................................................................................................................... 144
O Sistema Único de Saúde - SUS - foi criado pela Constituição Federal de 1988
e regulamentado pelas Leis n.º 8080/90 (Lei Orgânica da Saúde) e nº. 8.142/90, com a
finalidade de alterar a situação de desigualdade na assistência à Saúde da população,
tornando obrigatório o atendimento público a qualquer cidadão, sendo proibidas
cobranças de dinheiro sob qualquer pretexto.
Do Sistema Único de Saúde fazem parte os centros e postos de saúde, hospitais -
incluindo os universitários, laboratórios, hemocentros (bancos de sangue), além de
fundações e institutos de pesquisa, como a FIOCRUZ - Fundação Oswaldo Cruz e o
Instituto Vital Brasil.
Por meio do Sistema Único de Saúde, todos os cidadãos têm direito a consultas,
exames, internações e tratamentos nas Unidades de Saúde vinculadas ao SUS, sejam
públicas (da esfera municipal, estadual e federal), ou privadas, contratadas pelo gestor
público de saúde.
O SUS é destinado a todos os cidadãos e é financiado com recursos arrecadados
por meio de impostos e contribuições sociais pagos pela população e compõem os
recursos do governo federal, estadual e municipal.
O Sistema Único de Saúde tem como meta tornar-se um importante mecanismo
de promoção da equidade no atendimento das necessidades de saúde da população,
ofertando serviços com qualidade adequados às necessidades, independente do poder
aquisitivo do cidadão.
O SUS se propõe a promover a saúde, priorizando as ações preventivas,
democratizando as informações relevantes para que a população conheça seus direitos e
os riscos à sua saúde. O controle da ocorrência de doenças, seu aumento e propagação
(Vigilância Epidemiológica) são algumas das responsabilidades de atenção do SUS,
assim como o controle da qualidade de remédios, de exames, de alimentos, higiene e
adequação de instalações que atendem ao público, onde atua a Vigilância Sanitária.
O setor privado participa do SUS de forma complementar, por meio de contratos
e convênios de prestação de serviço ao Estado – quando as unidades públicas de
assistência à saúde não são suficientes para garantir o atendimento a toda à população
de uma determinada região.
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HISTÓRIA DO SUS
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Em 1987 é implementado o Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde
(SUDS), como uma consolidação das Ações Integradas de Saúde (AIS), que adota como
diretrizes a universalização e a equidade no acesso aos serviços, à integralidade dos
cuidados, a regionalização dos serviços de saúde e implementação de distritos
sanitários, a descentralização das ações de saúde, o desenvolvimento de instituições
colegiadas gestoras e o desenvolvimento de uma política de recursos humanos.
O capítulo dedicado à saúde na nova Constituição Federal, promulgada em
outubro de 1988, retrata o resultado de todo o processo desenvolvido ao longo dessas
duas décadas, criando o Sistema Único de Saúde (SUS) e determinando que "a saúde é
direito de todos e dever do Estado" (art. 196).
Entre outros, a Constituição prevê o acesso universal e igualitário às ações e
serviços de saúde, com regionalização e hierarquização, descentralização com direção
única em cada esfera de governo, participação da comunidade e atendimento integral,
com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais.
A Lei nº 8.080, promulgada em 1990, operacionaliza as disposições
constitucionais. São atribuições do SUS em seus três níveis de governo, além de outras,
"ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde" (CF, art. 200, inciso III).
ASPECTOS GERAIS
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A direção do SUS, de acordo com o inciso I do art. 198 da Constituição Federal,
é única, sendo exercida em âmbito nacional pelo Ministério da Saúde; em âmbito
estadual e no Distrito Federal, pela respectiva Secretaria de Saúde ou órgão equivalente
e, no âmbito municipal, pela respectiva Secretaria de Saúde ou órgão equivalente.
A Lei Nº. 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que dispõe, entre outros assuntos,
sobre a participação da comunidade na gestão do SUS, estabelece, no seu artigo 1°, que
o SUS, "contará, em cada esfera de governo, sem prejuízo das funções do Poder
Legislativo, com as seguintes instâncias colegiadas: a Conferência de Saúde e o
Conselho de Saúde".
A Conferência de Saúde, pelo menos a cada quatro anos, é convocada para
avaliar a situação de saúde e propor as diretrizes para a formulação da política de saúde
nos níveis nacional, estadual e municipal.
O Conselho de Saúde, órgão colegiado com caráter permanente e deliberativo,
composto por representantes do governo, prestadores de serviço, profissionais de saúde
e usuários, atua na formulação de estratégias e no controle da execução da política de
saúde, sendo que suas decisões requerem a homologação do chefe do poder legalmente
constituído em cada esfera do governo.
A Comissão Intergestores Tripartite – CIT, integrada por representantes dos
gestores municipais (CONASEMS - Conselho Nacional de Secretários Municipais de
Saúde), estaduais (CONASS - Conselho Nacional de Secretários de Saúde), federal
(Ministério da Saúde), a Comissão Intergestores Bipartite - CIB, integrada por
representantes dos gestores municipais (COSEMS - Colegiado de Secretários
Municipais de Saúde) e estadual (Secretaria Estadual de Saúde), criadas pela segunda
Norma Operacional Básica do SUS - a NOB-SUS 01/93, são responsáveis pelo
gerenciamento do Sistema Único de Saúde, apreciando, entre outros assuntos, os pactos
e programações entre gestores, buscando a integração entre as esferas de governo.
Nelas são pactuados, por exemplo, os tetos financeiros possíveis dentro das
disponibilidades orçamentárias conjunturais oriundos dos recursos das três esferas de
governo, capazes de viabilizar a atenção às necessidades assistenciais e às exigências
ambientais.
ANTECEDENTES
Desde o início do século passado, até o final dos anos sessenta, o sistema de
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saúde brasileiro se preocupava, fundamentalmente, com o combate em massa de
doenças, por meio das campanhas de saúde pública. A partir dos anos setenta, passou a
priorizar a assistência médica curativa e individual.
Em 1975, por intermédio da Lei 6.229, foi criado o Sistema Nacional de Saúde,
separando as ações de saúde pública das ações ditas de atenção às pessoas.
Em 1977, se criou INAMPS – Instituto Nacional de Assistência Médica da
Previdência Social, para atender exclusivamente as pessoas que possuíam carteira de
trabalho. O atendimento dos desempregados e residentes no interior era de
responsabilidade das Secretarias Estaduais de Saúde e dos serviços públicos federais.
Somente a partir dos anos oitenta, mudanças econômicas e políticas ocorridas no
país, passaram a exigir a substituição do modelo médico-assistencial privatista por outro
modelo de atenção à saúde.
Os primeiros sinais de mudança do modelo de atenção à saúde no Brasil
surgiram com a criação, em 1979, do PIASS – Programa de Interiorização das Ações de
Saúde e Saneamento a partir de alguns projetos pilotos de medicina comunitária.
Em 1983, se implantou a AIS – Ações Integradas de Saúde, o primeiro desenho
estratégico de cogestão, de desconcentração e de universalização da atenção à saúde.
Em 1986 foi realizada a 8ª Conferência Nacional de Saúde e, no ano seguinte, se
criou o SUDS – Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde, que representou a
desconcentração das atividades do INAMPS para as Secretarias Estaduais de Saúde.
A Constituição Federal de 1988, incorporando, parcialmente, as propostas
estabelecidas pelo movimento da reforma sanitária brasileira criou o Sistema Único de
Saúde, regulamentado dois anos depois pelas Leis 8.080, de 19 de setembro de 1990 e
8.142, de 28 de dezembro de 1990.
Um passo significativo na direção do cumprimento da definição constitucional
de construção do Sistema Único de Saúde, foi a publicação do decreto nº 99.060, de 7
de março de 1990, que transferiu o Instituto Nacional de Assistência Médica da
Previdência Social (INAMPS) do Ministério da Previdência para o Ministério da Saúde.
Em 27 de julho de 1993, quase três anos após a promulgação da lei 8.080, que
regulamentou o SUS, o INAMPS foi extinto pela Lei n° 8.689, sendo suas funções,
competências, atividades e atribuições absorvidas pelas instâncias federal, estadual e
municipal do SUS.
Ao se preservar as funções, competências, atividades e atribuições do INAMPS,
preservaram-se também a sua lógica de financiamento e de alocação de recursos
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financeiros, como, por exemplo, o estabelecimento de limites ou tetos físicos e
financeiros para as Unidades Federadas.
NORMAS DO SUS
O SUS está amparado em uma vasta legislação, cujo tripé principal é formado
pela Constituição Federal de 1988, a Lei 8.080, de 19 de setembro de 1990 e a Lei
8.142, de 28 de dezembro de 1990. Complementarmente existiram as Normas
Operacionais do SUS, das quais se pode fazer o seguinte resumo:
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NOB-SUS Nº.01/96 ➢ Instituiu a Gestão Plena Municipal da Saúde com
Portaria Nº. responsabilidade dos municípios pela saúde;
1.742/1996/MS ➢ O município passa a ser o responsável imediato
pelo atendimento das necessidades do cidadão;
➢ Os estados passam a ser meros mediadores;
➢ A União normaliza e financia e o município gere e
executa.
➢ Criou os níveis de gestão Incipiente, Parcial e
Semiplena;
➢ Instituiu o PAB - Piso da Atenção Básica;
➢ Institui a PPI - Programação Pactuada e Integrada.
PRINCÍPIOS
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pouco tem um momento definido para ser concluído. Ao contrário, resulta de propostas
defendidas ao longo de muitos anos pelo conjunto da sociedade e por muitos anos ainda
estará sujeito a aprimoramentos.
Segundo a legislação brasileira, a saúde é um direito fundamental do ser
humano, cabendo ao poder público (União, Estados, Distrito Federal e Municípios)
garantir este direito, por meio de políticas sociais e econômicas que visem à redução dos
riscos de se adoecer e morrer, bem como o acesso universal e igualitário às ações e
serviços de promoção, proteção e recuperação da saúde.
O acesso universal (princípio da universalidade) significa que ao SUS compete
atender a toda população, seja pelos serviços estatais prestados pela União, Distrito
Federal, Estados e Municípios, seja por serviços privados conveniados ou contratados
com o poder público.
O acesso igualitário (princípio da equidade) não significa que o SUS deva tratar
a todos de forma igual, mas sim respeitar os direitos de cada um, segundo as suas
diferenças, apoiando-se mais na convicção íntima da justiça natural do que na letra da
lei.
CONTROLE SOCIAL
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apresentará trimestralmente, ao conselho de saúde correspondente e em audiência
pública nas câmaras de vereadores e nas assembleias legislativas respectivas, para
análise e ampla divulgação, relatório detalhado, contendo, dentre outros, dados sobre o
montante e a fonte de recursos aplicados, auditorias concluídas ou iniciadas no período,
bem como sobre a oferta e produção de serviços na rede assistencial própria, contratada
ou conveniada”.
FINANCIAMENTO
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O Distrito Federal e os Municípios terão que gastar, no mínimo, 15% do produto
da arrecadação dos impostos próprios e dos que lhes são transferidos pela União e, no
caso dos municípios, também pelos Estados.
Com o advento da EC-29 estimou-se que o gasto público em saúde, em 2001,
chegaria à casa dos 40,4 bilhões de reais. Desses, 22,2 bilhões (55%) gastos pela esfera
federal, 7,7 bilhões (19%) pelos governos estaduais e 10,5 bilhões (26%) pelos
municípios.
São, fundamentalmente, 3 (três) os mecanismos de transferência dos recursos do
SUS da União para os estados, Distrito Federal e Municípios:
DESCENTRALIZAÇÃO
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A formulação e a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) é a resultante
de um expressivo movimento de reforma sanitária, inserido no movimento mais amplo
de redemocratização do país e que teve na VIII Conferência Nacional de Saúde (1986)
um de seus "locus" privilegiados para o estabelecimento das grandes diretrizes para a
reorganização do sistema de saúde no Brasil.
Ao lado dos avanços no campo político-institucional, com a estratégia das Ações
Integradas de Saúde (AIS) e a implantação do Sistema Unificado e Descentralizado de
Saúde (SUDS), houve um trabalho político no campo legislativo na Assembleia
Nacional Constituinte, que estava formulando a nova Carta Magna do país.
Desse modo, a saúde teve um expressivo reconhecimento e inserção na nova
Constituição Federal, promulgada em outubro de 1988, destacando-se sua inclusão
como um componente da seguridade social, a caracterização dos serviços e ações de
saúde como de relevância pública e seu referencial político básico expresso no Artigo
196, no qual é assumido que "a saúde é um direito de todos e dever do Estado, garantido
mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças e de
outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a sua
promoção, proteção e recuperação".
Além disso, foram assumidos também os princípios da universalidade, da
equidade e integralidade às ações de Saúde.
Nesse processo, o país teve, assim, uma política de saúde claramente definida
constitucionalmente no sentido de política pública, como política social, implicando,
portanto, em mudanças substantivas para sua operacionalização nos campos político-
jurídicos, político-institucional e técnico-operativo.
Todavia, a natureza, complexidade e abrangência dessas mudanças e suas
implicações em termos de situações e interesses existentes, associados ao momento
político, processo eleitoral e eleição de um governo não comprometido com as teses
centrais da reforma sanitária, dificultaram a implantação dessa nova política de saúde.
Tanto que a sua regulamentação só foi estabelecida no final de 1990, com as
Leis 8.080 e 8.142, nas quais se destacaram os princípios organizativos e operacionais
do sistema, tais como a construção de modelo de atenção fundamentado na
epidemiologia, o controle social e um sistema descentralizado e regionalizado com base
municipal.
No plano executivo, ocorreram atos normativos e administrativos que têm
relações e implicações com a implantação e operacionalização da política de saúde,
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particularmente quanto ao seu eixo de descentralização/municipalização.
Em 1990, o Ministério da Saúde, incumbiu o INAMPS, por meio da Portaria
GM 1.481, de 31/12/90, de "implantar a nova política de financiamento do SUS para
1991...", surgindo, assim, a Norma Operacional Básica/SUS Nº. 1 NOB SUS 01/91,
aprovada e instituída pela Resolução INAMPS nº. 258, de 07/01/91.
Essa NOB recebeu acentuadas críticas, particularmente por estabelecer o
convênio como mecanismo de articulação e repasse de recursos e por ser centralizadora,
embora se apresentasse como apoio à descentralização e reforço do poder municipal.
No mês de julho de 1991, a NOB SUS-01/91 foi modificada pela Resolução
INAMPS nº. 273, de 17/07/91, com base nas propostas apresentadas, sobretudo, pelo
Conselho Nacional de Secretários de Saúde - CONASS e pelo Conselho Nacional de
Secretários Municipais de Saúde - CONASEMS. Em fevereiro de 1992, foi editada a
Norma Operacional Básica do Sistema Único de Saúde para 1992, NOB-SUS 01/92,
representando, na realidade, o "acordo possível" naquele momento.
Essas regulamentações jurídicas e reformulações institucionais são,
evidentemente, reflexos e instrumentos de decisões políticas maiores, das relações de
poder no aparelho estatal e na sociedade.
De qualquer modo, todo esse processo, com seus avanços e recuos, acordos e
conflitos, foi mudando a realidade política e institucional do SUS, particularmente com
a ampliação e articulação das Secretarias Municipais de Saúde e a revisão dos papéis e
poderes das Secretarias Estaduais de Saúde e do próprio Ministério da Saúde.
Na crise do governo, em 1992, época era de retrocesso na política e
administração pública, com intensa participação da sociedade em denúncias e críticas,
em demandas de mudanças e avanços, incluindo aí a área da saúde, seriamente afetada,
novamente o Movimento Sanitário reivindicou e pressionou pela realização da IX
Conferência Nacional de Saúde já atrasada em dois anos, a qual veio a ser realizada no
período de 9 a 14 de agosto de 1992 tendo como tema central "Saúde: a
Municipalização é o Caminho", explicitando a dimensão e o poder de articulação
acumulados pelos defensores do SUS e de seu processo de descentralização na gestão
dos serviços e ações de saúde.
Organizada a partir de conferências municipais e estaduais, com intensa
participação social (representantes de usuários, associações, movimentos populares e
sindicais, entre outros) a IX Conferência Nacional de Saúde ocorreu praticamente às
vésperas da votação do "impeachment" do presidente Fernando Collor de Melo,
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representando um importante ato político, seja de apoio ao movimento político pela
substituição do governo (Carta da IX Conferência Nacional de Saúde à Sociedade
Brasileira), seja na luta contra o retrocesso, com reafirmação e reforço da defesa dos
avanços e conquistas jurídicas, institucionais e práticas da reforma sanitária e da
implantação do SUS.
Logo após a sua realização, foi destituído o governo e houve a expectativa e
esperança de um novo momento de avanço democrático, reformulação do aparelho
estatal, desenvolvimento econômico e social, com sua especificação na área da saúde.
Assumiu a gestão da saúde um grupo técnico/político do Movimento Sanitário, à
semelhança do início da Nova República, só que, agora, em outra realidade da reforma
sanitária. Essa gestão define e assume a decisão política de continuar a luta pela efetiva
implantação do SUS, que se expressa no documento "A Ousadia de Cumprir a Lei" e na
chamada Norma Operacional SUS 01/93, de maio de 1993.
A terceira Norma Operacional Básica do SUS, NOB-SUS 01/93, como
estratégia, foi o referencial do processo de implantação do SUS desde aquele momento,
tendo procurado sistematizar o processo de descentralização da gestão do sistema e
serviços, em um esquema de transição, com diferentes níveis de responsabilidades para
os Estados e Municípios e, por relação, do próprio Governo Federal.
Nesse sentido, houve alteração no quadro encontrado de 1992 até dezembro de
1994, tendo como eixo central o processo de formulação e implantação da NOB SUS
01/93, expressões práticas de decisão política da "Ousadia de Cumprir a Lei", ou seja, a
Constituição e as Leis do SUS.
Para os Municípios, foram estabelecidas três condições de gestão: Incipiente,
Parcial e Semiplena e para os Estados, duas: Parcial e Semiplena. Para a coordenação,
gerenciamento e controle deste processo foram criados Comissões Intergestoras
Bipartite - CIB e Tripartite - CIT, como foros permanentes de negociação e
deliberações.
Esse processo foi implantado a partir de novembro/dezembro de 1994, sendo
que no Brasil, em fins de 1994, foram habilitados e assumiram esta condição de Gestão
Semiplena 24 (vinte e quatro) municípios. Em fins de julho de 1995, estavam
habilitados 43 (quarenta e três) municípios, perfazendo um total de 0,86% dos
municípios, compreendendo 7,4% da população e 10,07% dos recursos alocados do
sistema financeiro das despesas federais para o custeio (SIA/SIH/SUS) da assistência
médica.
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Ao final de 97, já havia mais de uma centena de municípios no Brasil,
habilitados na Gestão Semiplena, com aproximadamente 12% de população e 20% dos
recursos do teto financeiro.
Dada à complexidade do processo, e a necessidade de seu aprimoramento, e o
momento político de novas gestões federais e estaduais, começou a ser estudada e
formulada a quarta Norma Operacional Básica do SUS, a NOB-SUS 01/96, que avança
o processo de municipalização do setor saúde e, embora com as dificuldades referentes
ao financiamento do SUS, foi implantada no início de 1998.
A NOB-SUS 01/96, publicada no Diário Oficial da União, pela Portaria
GM/MS, de 06/11/96, permite o estabelecimento do princípio constitucional do
comando único em cada nível de governo, descentralizando os instrumentos gerenciais
necessários por meio das formas de gestão propostas, caracteriza as responsabilidades
sanitárias de cada gestor, definindo como principal operador da rede de serviços do SUS
o Sistema Municipal de Saúde, permitindo aos usuários ter visibilidade dos
responsáveis pelas políticas públicas que determinam o seu estado de saúde e condições
de vida.
A NOB-SUS 01/96, estabeleceu duas condições de gestão municipal: Plena da
Atenção Básica - GPAB e Plena do Sistema Municipal - GPSM. Para a gestão estadual
estabeleceu também duas condições: Avançada do Sistema Estadual - GASM e Plena
do Sistema Estadual - GPSM. Para o Ministério da Saúde estabeleceu quatro papéis
básicos:
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mantendo neste último caso a modalidade da Transferência por Convênio.
Por último, aprovou-se a Norma Operacional da Assistência à Saúde - NOAS-
SUS 01/2001, por meio da Portaria Ministerial Nº. 95, de 26 de janeiro de 2001,
ampliando as responsabilidades dos municípios na atenção básica, definindo o processo
de regionalização da assistência, criando mecanismos para o fortalecimento da
capacidade de gestão do Sistema Único de Saúde, atualizando os critérios de habilitação
de estados e municípios.
Em síntese, pode-se dizer que, no encaminhamento do processo de implantação
do SUS, em termos de concretizar ou pôr em prática os seus princípios e diretrizes, o da
descentralização das ações e serviços de saúde foi o que teve maior presença e avanço.
Como diz Nelson Rodrigues dos Santos (in Goulart, F.A.R. Municipalização:
Veredas - Caminhos do Movimento Municipalista de Saúde no Brasil, 1995), “a questão
da municipalização não surgiu de uma visão filosófica doutrinária ou técnica provinda
da União e dos estados. Houve um verdadeiro movimento municipal de saúde no
sentido de as prefeituras assumirem, cada vez mais, o compromisso com a
resolutividade, levando à população a extensão de cobertura, não mais meramente
preventivista e contemporizadora.”
De fato, o Movimento Municipalista vem tendo um progressivo crescimento e
articulação, destacando-se os Encontros Nacionais de Secretários Municipais de Saúde,
que aconteceram em São José dos Campos (1982), Montes Claros (1985) e Londrina
(1987), culminando com a criação do Conselho Nacional dos Secretários Municipais de
Saúde, em 1987 (CONASEMS).
E, desse modo, passou a ter significativa participação do Movimento Sanitário e
no processo de implantação do SUS, ao lado do Conselho Nacional de Secretários
Estaduais de Saúde (CONASS), e outros grupos institucionais e sociais.
A ideia, portanto, da descentralização/municipalização da saúde parece ter um
potencial significativo, no sentido de que o Município pode assumir e atuar como base
da Federação, com maior agilidade para provocar as devidas transformações,
principalmente na área das políticas sociais, particularmente na saúde, enquanto política
pública.
O que não significa isolamento, mas uma progressiva e permanente articulação e
integração com o nível Estadual e Federal, no seu respectivo e competente papel
constitucional e das Legislações Complementares.
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GESTÃO
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equipes, à sua capacidade em termos de estrutura e recursos financeiros, organização
social, conflitos e contradições locais.
Assim, as estratégias para a melhor condução dos sistemas de Saúde terão que se
adequar, necessariamente, a essas diferenças regionais, pois não existe um padrão único
e imutável de gestão.
O caminho comum trilhado pelos gestores da Saúde é a busca por soluções que
os ajudem a viabilizar o planejamento, a melhor aplicação dos recursos e a condução
das equipes, atendendo aos princípios do SUS.
Rompendo com dificuldades herdadas de velhos modelos hierárquicos e
estanques, que devem ser substituídos pela noção de pertencimento e "empoderamento"
dos sujeitos, será possível a construção de um sistema que contemple ampla
participação social e a cogestão.
Um processo de cogestão no qual se pactue a responsabilidade sanitária de cada
um, que deve se expressar no compromisso estabelecido entre os entes no processo de
enfrentamento dos problemas de saúde, na garantia da atenção às necessidades de saúde
da população, em territórios definidos mediante a organização dos serviços e da gestão
do sistema.
Uma etapa importante nesse processo é a construção de um Plano Municipal de
Saúde (PMS), consoante com os planos Estadual e Nacional de Saúde (preservando a
autonomia do gestor local), que seja fruto de pactuação entre os atores em cena no
território e que estabeleça claramente as responsabilidades de cada um, na efetivação do
projeto de saúde.
A área da Saúde contempla articulações dentro da agenda de governo e deve ter
suas prioridades articuladas com os outros setores da administração. O investimento na
equipe de Saúde, que assume junto com o secretário as funções cotidianas de gestão,
deve privilegiar, em sua composição, as capacidades técnicas e, em sua condução, o
trabalho em grupo que potencializa os encaminhamentos e proposições coletivas.
Possibilita, ainda, o "matriciamento" das relações e a responsabilização de cada
técnico envolvido. Essa estratégia tem mostrado resultados positivos, principalmente se
associada à educação permanente dos trabalhadores.
O desenho geral do SUS no território deve orientar as relações entre as unidades
de saúde, a compra de serviços (quando necessária) e fortalecer a função de regulação
do sistema. Isso oferece ao gestor maior controle sobre a utilização dos recursos
disponíveis.
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O reconhecimento dos "espaços de pactuação" entre gestores, como estratégicos,
tem fortalecido o papel das comissões intergestores, em todos os níveis do sistema, e
aponta agora para uma nova etapa: a ampliação e a consolidação dos espaços regionais
de gestão.
Eles são absolutamente necessários porque, para garantir integralidade e
equidade na atenção à saúde de sua população, todo município precisará pactuar trocas e
reciprocidades com outros municípios vizinhos ou próximos. Seja por não dispor de
estrutura suficiente, ou por dispor e acabar, por isso mesmo, sobrecarregado por
demandas vindas de fora de seus territórios.
É fundamental a estruturação e a manutenção de uma sistemática permanente de
avaliação de desempenho que contribua para um redesenho das estratégias, quando
necessário, e que possibilite ao gestor verificar se está alcançando os resultados
pretendidos, no que se refere à melhoria das condições de saúde dos seus munícipes.
Outro grande desafio do gestor municipal é a gestão transparente, incluindo
população e trabalhadores, com o controle social de um Conselho Municipal de Saúde
qualificado, autônomo e representativo.
Os gestores da Saúde precisam construir novos caminhos para a consolidação do
SUS, pois as modificações vivenciadas pelo setor Saúde, nos últimos anos, aconteceram
sob a lógica da descentralização, com o aumento das responsabilidades dos gestores
locais e a possibilidade de cada ente assumir as suas responsabilidades sanitárias, na
construção de novos desenhos de territórios e novas formas de gestão.
Tudo isso, hoje, se expressa no compromisso dos gestores das instâncias federal,
estaduais e municipais com a construção de um novo pacto de gestão, que pode
representar um salto de qualidade tanto na organização do sistema quanto na atenção à
saúde, pela qual tanto se tem lutado.
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O HOSPITAL: CAMPO DE PRÁTICA, ESTRUTURA ADMINISTRATIVA E
FÍSICA
Aparentemente, o hospital dos nossos dias terá muito pouco a ver com o seu
antepassado próximo, cristão e medieval. De qualquer modo, a sua árvore genealógica é
possivelmente mais antiga, remontando no mínimo à Antiguidade Clássica, berço da
civilização europeia.
Por uma questão da economia de análise, vamos também limitarmo-nos aqui a
referir os seus antecessores mais próximos, correndo embora o risco de uma visão
porventura demasiada europocêntrica.
Já no tempo da antiga Grécia, por volta do séc. V a.C., havia santuários como o
grande templo de Epidauro, dedicados a Asclépio (o Esculápio dos romanos).
Para os gregos, Asclépio, herói homérico, fruto lendário dos amores de Apolo
com uma pobre mortal, tornara-se então o semideus da medicina. O seu culto
prolongara-se até o princípio da cristianização do império romano e às primeiras
invasões dos bárbaros (Charitonidou, 1978; Javitt, 1990; Sournia, 1995).
Até que ponto, podemos considerar os templos de Asclépio como precursores
mais ou menos remotos dos nossos hospitais? Em rigor, não, todavia, o seu poder de
atração, mágico-religioso de doentes e peregrinos foi enorme como também, ao que
parece, a sua eficácia simbólica e terapêutica, a avaliar pela popularidade e
permanência, ao longo de séculos, do culto de Asclépio na civilização helênica e
romana.
O poder médico começa por ser um poder mágico-religioso, independentemente
daquele que o exerce (v.g., curandeiro, feiticeiro, sacerdote, físico ou cirurgião), tanto
nas sociedades primitivas como nas sociedades complexas.
Esse poder baseia-se, sobretudo na crença de que a cura da doença, embora
operada por forças divinas, exige a intervenção, de um médium dotado de um dom ou
carisma. Não é por acaso que o termo terapeuta (do grego therapeutés) significava
originalmente "o que cuida, servidor ou adorador de um deus".
Os templos de Asclépio (asclepeions), a avaliar pela reconstituição arqueológica
do maior e mais importante de todos, o de Epidauro, eram constituídos basicamente por:
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a) Uma nave principal (o templo propriamente dito ou cela, onde se erguia
uma imponente estátua da divindade, em ouro e marfim: sentado sobre o trono,
Asclépio segurava com uma mão o ceptro enquanto a outra pousava na cabeça da
serpente, para os gregos um animal sagrado e símbolo da própria arte de curar);
b) A fonte sagrada, em frente ao templo, cujas águas serviam para os rituais
de purificação, bem como os altares, também exteriores, onde os doentes faziam os seus
sacrifícios, pedindo a intervenção do deus;
c) O tholos (uma construção circular, de desenho labiríntico, cuja função é
ainda hoje enigmática: muito provavelmente, destinava-se a abrigar o túmulo do próprio
Asclépio);
d) O abaton, ou seja, o local do templo onde os doentes deviam passar a
noite, já que a cura dos seus males decorria durante o sono (incubatio) (Charitonidou,
1978. 23-34; Lyons e Petrucelli, 1984. 170-177).
O arqueólogo grego Charitonidou (1978. 13-15) descreve-nos com mais
pormenor os rituais e o método terapêutico que então eram usados: O Santuário de
Asclépio pertencia à cidade de Epidauro, a qual nomeava anualmente o dignitário
supremo, o sacerdote de Asclépio, para o desempenho de funções simultaneamente
religiosas e administrativas.
Competia-lhe, no essencial, fazer respeitar os preceitos do culto, tomar conta dos
ex-votos e da caixa das esmolas, além de administrar as finanças. Era ajudado por um
corpo de sacerdotes (os asclepíades), cada um dos quais desempenhava funções
específicas (um que transportava o fogo, a outra que era a servidora do templo, os
outros que eram os guardas dos arquivos sagrados, etc.).
Os preceitos de culto, muito antigos, deviam ser fielmente observados pelos
doentes que procuravam o templo para cura dos seus males. Às mulheres era interdito
dar à luz no interior do santuário, enquanto os moribundos deviam ser afastados para
longe. (Curiosamente, dois interditos que vimos encontrar mais tarde nos hospitais
franceses do Antigo Regime).
Depois dos rituais das orações, das purificações e da oferta de sacrifícios (um
boi ou um galo, para os mais ricos; frutas ou doces, para os mais pobres), o doente era
sujeito a cerimônias que punham à prova a sua fé.
Ao que parece, a autossugestão era estimulada pelos sacerdotes que guiavam os
doentes, de modo a criar as condições propícias ao acontecimento milagroso que se iria
seguir durante o sono, com a aparição da divindade em pessoa.
22
Tudo isso se passava em um ambiente de grande recolhimento, acentuado pelos
hinos cantados, em coro, pelos peanistes.
Como agradecimento pela cura, os fiéis deviam presentear o deus com
oferendas. Havia as de todo o tipo, para além do dinheiro: vasos de barro, utensílios em
bronze, utensílios votivos, estátuas, etc.
As estelas* (ou inscrições votivas) que foram descobertas pelos arqueólogos
constituem hoje uma fonte de informação preciosa sobre o Templo de Epidauro, os
peregrinos que ali recorriam os males de que sofriam e as curas que obtiveram: o
paralítico, a criança muda, o homem de Tessália com manchas no rosto, a mulher de
Messina que queria ter um filho e que, depois de dormir com a serpente, deu à luz duas
crianças, etc.
Conforme o que tem a seguir, não há nenhum documento escrito, ao longo dos
primeiros séculos de vida do templo, que faça alusão à intervenção médica dos
sacerdotes. Esses continuavam a ser terapeutas, no sentido etimológico do termo,
servidores do deus Asclépio que esse, sim, é que operava a cura da doença.
Mas, ao que parece, com o desenrolar do tempo, o santuário de Epidauro terá
começado a sentir a concorrência dos médicos, na sequência do desenvolvimento da
medicina hipocrática.
Houve um processo de adaptação aos novos tempos. Para manter vivo o culto de
Asclépio e conservar a sua clientela, os sacerdotes passaram a inteirar-se dos males de
que sofriam os fiéis e ao mesmo tempo a dar-lhes alguns conselhos.
Tudo indica, a começar pelos achados arqueológicos que estão no Museu de
Epidauro e que incluem alguns instrumentos médicos, que a partir de certa altura os
sacerdotes do templo passaram, também eles, a prestar alguns cuidados médicos.
Há uma Estela, datada do Séc. II d.C., cujo conteúdo é bem revelador das
mudanças que, entretanto, se tinham operado no templo de Epidauro, o qual já não é
apenas um local de peregrinação religiosa, mas também um estabelecimento sanitário a
par de um centro de lazer, cada vez mais mundano, com os seus banhos de águas
quentes e frias, as suas pousadas, os seus ginásios, as suas corridas e os seus jogos, para
além do seu famoso teatro, construído no Séc. IV a.C. e considerado o melhor e o mais
belo da Antiguidade.
Vale citar essa inscrição votiva que nos conta a história de Apellas que “sofria
de hipocondria e de terríveis indigestões”, dois males de que se curou seguramente
depois de uma agradável estadia nas instalações hoteleiras do santuário e dos sábios
23
conselhos médicos dos asclepíades sugerindo-lhe que mudasse de vida, de acordo com
os ensinamentos da medicina hipocrática.
Esses conselhos são espantosamente tão atuais que bem poderiam ter sido dados
pelo nosso médico de família: “Nada de stress, cuidado com as mudanças de
temperatura, faça uma alimentação saudável, variada e equilibrada, beba e coma com
moderação, não se esqueça de dar o seu passeio diário e de fazer exercício físico
regular, corte com o tabaco...”. Em suma, um verdadeiro programa de promoção de
estilos de vida saudável. De fato, está lá tudo (exceto o tabaco, que era desconhecido
dos gregos).
A invasão da Grécia pelos Godos levou à devastação, em 395, do santuário, que
depois seria definitivamente encerrado por ordem do imperador bizantino Teodósio II
(em 426), em nome do proselitismo cristão.
Mas Asclépio, o deus-médico, o seu culto e os seus templos (a começar pelo de
Epidauro, o mais célebre de todos) continuam a exercer ainda hoje um grande fascínio,
sendo uma referência obrigatória para a compreensão da história da medicina e das
instituições de saúde no Ocidente.
De qualquer modo, há que fazer uma distinção entre as práticas médicas “laicas”
e “religiosas” na Grécia Antiga. Como veremos mais à frente, é com a medicina
hipocrática que se fará a ruptura em relação à medicina mágico-religiosa, associada ao
culto de Asclépio.
Em termos escultóricos, a figura mitológica de Ascéplio era simbolizada por um
jovem, de pé, apoiado em um cajado no qual está enroscada a serpente, sozinho ou em
família. Tinha, pelo menos, dois filhos, que também eram médicos, e duas filhas, Higia
e Panaceia. Para os gregos, essas duas figuras personificavam a saúde e a terapêutica,
respectivamente.
De Higia (do grego hygieia, saúde) derivaria a palavra moderna higiene (de
hygieinon, neutro de hygieinos, saudável): práticas ou condições conducentes a uma boa
saúde, a arte relativa à saúde, a salubridade.
De qualquer modo, o vocábulo grego é, em termos semânticos e conceptuais,
mais rico do que o latino salute (estado de robustez física, ausência de doença).
Por sua vez, de Panaceia (do grego panakeia), e por via do latim panacea, deriva
o vocábulo panaceia (remédio para todos os males ou doenças).
Conta à lenda (nas suas várias versões) que Asclépio, na sua juventude, teve por
mestre o Centauro Quíron, que vivia em Tessália.
24
Com ele aprendeu a arte de curar e de reconhecer as plantas medicinais que
cresciam no monte Pélion. Cedo ultrapassou o seu mestre, em saber e experiência, o que
lhe valeu o reconhecimento dos deuses do Olimpo.
De fato, Asclépio não só tinha o poder de curar a doença como inclusive o de
ressuscitar os mortos, graças à serpente sagrada que lhe revelava todos os segredos
escondidos nas entranhas da terra, tanto os da vida como os da morte.
Esse poder, de que usava e abusava por razões talvez nem sempre nobres, ter-
lhe-ia valido ira de Hades, o deus dos infernos, e naturalmente do próprio Zeus. Este
acabou por fulminá-lo por ter cometido hybris (pecado de usurpação dos poderes dos
deuses), e por, ao fim e ao cabo, pôr em causa a ordem natural das coisas e a harmonia
universal, de que a doença e a morte dos humanos faziam parte.
Aos olhos dos gregos, a punição de Zeus era também uma lição para todos os
médicos que já, na altura, se deixariam trair pela ambição do poder, da glória e do
dinheiro.
Desaparecido Asclépio e com ele a crença na possibilidade de superar a morte,
Higia é transformada na deusa da saúde, o símbolo frágil, poético e sedutor da
felicidade possível que o comum dos mortais podia aspirar no decurso de uma vida
efêmera na terra, enquanto Panaceia representará algo de mais prosaico: o tratamento da
doença.
A simbologia não deixa de ser extremamente atual: Higia representa a arte da
saúde, a da prevenção da doença e da promoção da saúde, enquanto Panaceia tem mais
a ver com a arte de curar, a medicina, o tratamento e a cura da doença.
O célebre juramento de Hipócrates (que a lenda diz ser, ele próprio, filho de um
asclepíades, sacerdote de um templo de Asclépio) começava, aliás, pela invocação
destas quatro personagens mitológicas indissociavelmente ligadas à proto-história da
medicina ocidental.
De resto, quase todos os deuses do Olimpo, bem como os semideuses e heróis
gregos têm alguma relação com a saúde e a doença:
25
trabalho manual, prática de uma arte ou ofício), para além de ter chegado a ser o patrono
do ensino médico (Lyons e Petrucelli, 1984).
“Juro por Apolo o médico, por Asclépio, por Higia e Panaceia, e por todos os
deuses e deusas, que de acordo com o melhor das minhas capacidades e entendimento,
manterei este juramento e compromisso:
Colocarei o meu mestre de medicina no mesmo lugar que os autores dos meus
dias, partilharei com ele o meu saber e, se necessário, satisfarei as suas necessidades
(...).
Dirigirei o regime dos doentes em seu benefício (...), abstendo-me de toda a
espécie de mal e de injustiça (...).
Dedicarei a minha vida e exercerei a minha arte na inocência e na pureza (...).
Em qualquer casa que entre, fá-lo-ei para utilidade dos doentes, impedindo-me de
qualquer malefício voluntário e corruptor (...). Seja o que veja e ouça, durante o
exercício da minha profissão ou fora dela, calarei aquilo que não precisar ser divulgado,
considerando a discrição como um dever em casos semelhantes (...).
“Se cumprir este juramento sem infração, que me seja dado gozar a vida e a
profissão com prazer, para sempre honrado entre os homens; se o violar, assim
cometendo perjúrio, possa eu ter a sorte contrária”.
26
FIGURA- INTERIOR DO HÔTEL-DIEU DE PARIS POR VOLTA DO
INÍCIO DO SÉC. XVI
Há quem veja, entretanto, nos valetudinária dos romanos “os primeiros hospitais
conhecidos”, destinados, sobretudo aos feridos e convalescentes de guerra (Sournia,
1995. 62-63).
O valetudinário é fundamentalmente um hospital de campanha, tal como pode
ser observado na reconstituição do Campo Militar de Bona, onde estacionou a Legio I
Germanica (meados do Séc. I da era cristã).
Sabe-se, por outro lado, que Roma preocupava-se com a assistência médica,
prestada aos escravos e aos cidadãos pobres. Mas em geral, os romanos tinham um
grande desprezo pela medicina.
Em cidades como Pompeia e de Herculano, destruídas pela erupção do Vesúvio
no ano de 79, os arqueólogos não descobriram até agora nenhum edifício, público ou
privado, com função similar aos nossos estabelecimentos de saúde, com exceção da
famosa Casa do Cirurgião onde foi encontrada uma fabulosa quantidade de
instrumentos cirúrgicos (cerca de 40), feitos de ferro e bronze, e alguns já altamente
sofisticados como o espéculo usado nos exames ginecológico, o fórceps ortopédico, o
bisturi e as tesouras.
27
Igualmente famoso é o fresco que foi encontrado, mostrando um cirurgião de
joelhos, em pleno campo de batalha, a extrair a sangue frio a ponta de uma seta, alojada
na coxa direita de Eneias, o herói do poema épico de Virgílio, Eneida, sob os olhares de
uma deusa protetora e de um rapaz que chora (Pompeii: The vanished city, 1992. 62-
63).
De qualquer modo, o contributo dos romanos não foi tanto ao nível do
desenvolvimento do conhecimento e das práticas médicas (com exceção para a cirurgia)
nem sequer da organização e administração hospitalar, como, sobretudo no campo da
saúde pública, traduzida em uma civilização urbana em que era obrigatória a limpeza de
ruas, proliferavam os banhos públicos e privados, e havia já uma complexa
infraestrutura de esgotos e abastecimento de água.
A engenharia sanitária era já, de resto, conhecida de outras civilizações mais
antigas, mas forma, sobretudo os romanos quem aperfeiçoou o sistema de saneamento
básico.
No séc. V a.C., em Roma, já havia um escoamento das águas do fórum por meio
de um grande coletor (cloaca máxima). Por outro lado, as casas dispunham de latrinas,
com água corrente, ligada à rede de esgotos. Em 315 a.C. a cidade tinha 144 latrinas
públicas, dotadas de autoclismos.
Além disso, são os romanos que criam a figura do edil, um misto de autoridade
sanitária local e de inspetor das atividades econômicas. Os conceitos romanos de
higiene pública e saneamento básico (água, esgotos, latrinas públicas, etc.) terão
contribuído em muito para a prevenção e o combate das epidemias de então.
Essa tipologia da evolução do sistema hospitalar, inspirada em Steudler (1974),
não é construída a partir de categorias jurídico-normativas (como por exemplo, a
legislação, as regras formais, a propriedade ou o simples organograma do hospital), mas
a partir de variáveis mais propriamente sociológicas.
É um modelo dinâmico que pretende dar conta, em traços muito largos, das
principais transformações históricas por que passou nomeadamente na Europa, em
geral, e Portugal, em particular, o hospital, enquanto instituição e organização de saúde.
Hoje, qualquer análise organizacional ou psicossociológica do hospital (e dos
demais serviços de saúde) terá que ter em conta esse contexto histórico. Convém,
porém, lembrar que se trata de uma tipologia, que a evolução dos hospitais e dos demais
serviços de saúde não é linear, e que há elementos comuns aos três tipos de fases.
De fato, esses elementos persistem ainda hoje em muitos dos hospitais do nosso
28
tempo. Pode-se mesmo dizer que o hospital de hoje conserva certos traços do sistema
tradicional e do sistema profissional liberal.
No caso português, haverá instituições hospitalares que continuam mais
próximas do sistema tradicional: é o caso de alguns hospícios (como o hospital da
Tocha, para leprosos) ou de hospitais psiquiátricos que representam à via da relegação
médica, do abandono médico puro e simples. Da medicalização da loucura, apesar de
algumas tentativas (falhadas) de deitar abaixo os seus muros (físicos, mas, sobretudo
simbólicos e culturais).
Outros estabelecimentos hospitalares conservarão ainda alguns traços fortes do
sistema tradicional e, sobretudo do sistema profissional liberal, dada a sua ligação com
as misericórdias locais, a sua própria arquitetura, o seu subequipamento, a sua fraca
diferenciação, a falta de condições de trabalho, a aliança do poder médico com os
grupos do poder local, o conflito público/privado, a ausência de preocupação dos
próprios profissionais com a eficácia, a eficiência e a equidade, a desarticulação com o
subsistema de cuidados de saúde primários, a fraca ou nula capacidade de negociação
dos utentes, etc..
O mesmo se pode dizer de certos hospitais centrais ou de certos serviços onde o
que conta ainda é a performance médica, desligada de preocupações mais propriamente
de gestão.
O que caracteriza verdadeiramente o hospital da última fase (o sistema técnico),
o verdadeiro hospital moderno, seria - segundo Steudler (1974) - a racionalização, a
preocupação em controlar, prever e dominar a evolução do hospital por meio do
planejamento e da participação dos profissionais nas decisões, bem como da avaliação
da qualidade dos cuidados prestados, das suas implicações econômicas e sociais, etc.
Esse é, de resto, o sentido da expressão "passar a gerir o hospital como uma
empresa" e de algumas inovações (mais no papel) como a departamentalização, os
centros de responsabilidade, os grupos de diagnóstico homogêneo, etc., que se têm
vindo a ensaiar nos últimos anos.
Infelizmente, e no nosso caso, o legislador e a tutela parecem ter uma concepção
redutora de conceitos-chaves como empresa, gestão, inovação, participação, qualidade.
E a tentação é grande, neste país, de tentar mudar as relações sociais e humanas por
decreto!
A lei da gestão hospitalar consagra explicitamente "o princípio de que os
hospitais devem organizar-se e ser administrados em termos empresariais" (preâmbulo
29
do D.L. nº. 19/88, de 21 de Janeiro).
Por seu turno, o Decreto Regulamentar nº. 3/88 aponta como um das seis
tendências que marcaram as décadas de 70 e 80, a "explosão das despesas hospitalares,
associada à especificidade e complexidade da estrutura hospitalar", o que viria a "exigir
que fossem introduzidos critérios de rentabilidade social, associados à maior
seletividade das despesas e os indicadores de eficiência econômica" (preâmbulo do
citado diploma).
Infelizmente, ainda estão por criar os mecanismos que possibilitem a prestação
de contas (no sentido lato do termo) do desempenho do hospital público e demais
organizações de saúde.
No essencial, e ao longo de seis artigos, quisemos pôr em evidência que a
emergência do hospital moderno, em ruptura com o hospital cristão medieval, e o seu
sucedâneo (o hospital do Ancien Regime) não pode ser explicado pelos simples
progressos científicos e técnicos no campo da medicina.
Mas ao recusar uma visão iatrocêntrica (baseada no simples protagonismo dos
médicos e da medicina), para compreender a evolução da organização hospitalar e do
papel da instituição hospitalar, recusamos também igualmente o determinismo
tecnológico que, em termos de senso comum, associa a máquina a vapor à revolução
industrial.
"A história do progresso tecnológico não é a história biológica das máquinas",
diz Chauvenet (1978. 19), comentando por sua vez uma citação do sociólogo Daniel
Bell (1958): "Não é por se terem construídos fábricas que houve industrialização, mas
sim porque passou a ser possível medir o trabalho" (Itálicos nossos).
Neste conjunto de artigos sobre a história da saúde, ("O hospital público, muito
mais que a escola pública, manteve-se pouco tempo, fora do campo social. Domínio da
doença e a morte, isto é, da técnica e do sobrenatural em simultâneo (...). Mas os tempos
mudaram.
O campo social alargou-se consideravelmente. A saúde pública torna-se objeto
do cálculo econômico e da análise sociológica (...). E se tentado explicar esta
transformação, em primeiro lugar pelo desenvolvimento espetacular das técnicas
médicas (...).
30
Não, o que leva o sociólogo ao hospital não é a evolução das técnicas, mas os
problemas da organização. Mesmo se a medicina não é a mesma coisa que a indústria, a
gestão de um hospital não deixa de ter relação com uma fábrica ou um organismo
público.
“Nem tudo, na vida de um hospital tem a ver com a sacralidade com que alguns
quereriam rodear o ato médico". (Touraine, 1974), das profissões de saúde e das
organizações de saúde (com particular destaque para o hospital), interessa-nos
basicamente compreender:
As transformações operadas no subsistema hospitalar, a nível tecnológico,
profissional e institucional, bem como o seu impacto no sistema técnico e
organizacional de trabalho, na estrutura e qualificação dos seus recursos humanos, na
qualidade da prestação dos cuidados, bem como nas suas finalidades e objetivos.
A base histórica em que assenta a especificidade e a autonomia relativa do
hospital vista simultaneamente como organização e como instituição.
E mais especificamente:
31
• Compreender o papel do hospital como instância de produção e reprodução
da(s) ideologia(s) dos prestadores, e em particular dos médicos;
• Compreender o que está em jogo na política de racionalização (econômica,
financeira e organizacional) do hospital contemporâneo.
33
Aplicado ao hospital, o conceito de sistema técnico caracterizaria as condições
atuais do exercício da medicina hospitalar, marcadas não só por sucessivas tentativas de
racionalização (financeira, econômica e organizacional) como, sobretudo por certa
industrialização da produção hospitalar, no sentido que lhe dá Chauvenet (1973 e 1978),
ou seja, o da decomposição do ato médico (entendido como a unidade de um processo
de trabalho que inclui basicamente o diagnóstico, decisão terapêutica e o tratamento),
em uma série de intervenções complementares, efetuadas por pessoal especializado
(médico e paramédico), no seio de unidades técnica e organizacionalmente
diferenciadas.
No caso português, cada uma destas fases poderia ter, em nossa opinião, a
seguinte periodização:
34
Faculdades de Medicina de Lisboa e do Porto (por ex., Lemos, 1991, Pina, 1938, Mira,
1947).
De modo geral, a investigação historiográfica sobre as instituições de assistência
e de saúde é escassa e dispersa, estando por explorar as valiosas fontes documentais que
representam os arquivos de muitos dos nossos hospitais e misericórdias.
Não temos, no entanto, nem o propósito nem a veleidade nem muito menos o
tempo e a formação específica para nos abalançarmos à investigação de arquivo.
Essa nossa incursão pelo passado, revistando sem caráter sistemático nem
exaustivo a literatura existente, não pretende senão retomar e explorar pistas para a
compreensão da evolução do hospital português, como organização e como instituição,
vista de uma perspectiva mais consentânea com a análise sociológica.
Para além da atividade lúdica que é sempre a leitura de material historiográfico,
propusemo-nos ao mesmo atingir um objetivo utilitário, que era o de produzir textos de
apoio para os alunos dos cursos de especialização de administração hospitalar, de saúde
pública e de medicina do trabalho da ENSP/UNL (Escola Nacional de Saúde Pública),
bem como dos cursos de mestrado de saúde pública.
35
sobre a organização e estabelecer o contexto no qual o poder é exercido (em que as
decisões são tomadas e as atividades da organização são executadas). Sobre esta última
função, HALL (1984) destaca que o fluxo de informação que entra em uma decisão é
basicamente determinado pela estrutura.
VASCONCELOS (1989) entende estrutura como o resultado de um processo no
qual à autoridade é distribuída, as atividades são especificadas (desde os níveis mais
baixos até a alta administração) e um sistema de comunicação é delineado, permitindo
que as pessoas realizem as atividades e exerçam a autoridade que lhes compete para o
alcance dos objetivos da organização.
STONER (1985) define estrutura como a disposição e a inter-relação entre as
partes componentes e cargos de uma empresa. Para o autor, a estrutura: especifica a
divisão das atividades mostrando como estão interligadas, apresenta o nível de
especialidade do trabalho e a disposição da hierarquia e da autoridade mostrando as
relações de subordinação.
BOWDICHT (1992) define estrutura genericamente como os padrões de
trabalho e disposições hierárquicas que servem para controlar ou distinguir as partes que
compõem uma organização. Para o autor, a estrutura é concebida em termos da divisão
e especialização do trabalho (diferenciação) e da maneira como é ordenada e controlada
(integração).
MINTZBERG (1983) define estrutura como a soma total de meios pelos qual o
trabalho é dividido em tarefas distintas e como é realizada a coordenação entre elas.
As definições não são uniformes, mas pode-se destacar que em todos os dois
fatores são preponderantes: a divisão de trabalho e a hierarquização com sua respectiva
distribuição de autoridade, presente explicitamente nos conceitos de todos os autores
citados, exceto MINTZBERG (1983) que de forma implícita, considera a hierarquia
como parte integrante da forma como as organizações coordenam a divisão de trabalho.
Dessa forma, pode-se definir estrutura organizacional como um instrumento
gerencial utilizado para atingir os objetivos organizacionais, a estrutura é resultado do
processo de divisão do trabalho e da definição de meios para coordenar esse trabalho.
Esses meios de coordenação da divisão do trabalho são definidos como
elementos, características ou dimensões da estrutura organizacional por diversos autores
e serão aprofundados a seguir.
36
ELEMENTOS DA ESTRUTURA ORGANIZACIONAL
37
(1984) e às dimensões apresentadas por PUGH apud PACHECO (1987), a saber:
38
- Especialização do trabalho, formalização do comportamento,
treinamento e doutrinação, agrupamento das unidades, tamanho das unidades, sistema
de planejamento e controle, dispositivos de ligação, descentralização vertical e
descentralização horizontal.
Considera-se MINTZBERG (1983) o mais completo autor na exploração dos
componentes básicos da estrutura.
HALL (1984) apresenta três aspectos específicos da estrutura, que se
assemelham às dimensões de STONER (1985), PUGH apud PACHECO (1987), e
VASCONCELOS (1989), mas de forma mais condensada, a saber:
39
BOWDITCH (1992) afirma que, na literatura, a estrutura organizacional enfoca
primariamente três dimensões básicas. Essas dimensões são úteis para se caracterizar as
diferenças entre as divisões de uma organização, bem como para diferenciar uma
organização de outra, são elas:
Quanto mais complexa for uma organização, ou seja, quanto maior a sua
diferenciação, maior será a necessidade de mecanismos de controle, coordenação e
40
comunicação, em função do próprio aumento do potencial de dificuldade para efetuar a
coordenação do trabalho dividido. Esse é um consenso entre HALL (1984) e
BOWDITCH (1992).
As três dimensões básicas de BOWDITCH (1992) são semelhantes às de HALL
(1984) diferenciando-se, apenas, no detalhamento da dimensão da complexidade, em
que o primeiro subdivide a diferenciação horizontal de HALL (1984) em diferenciação
horizontal e diferenciação pessoal.
Pode-se afirmar que as dimensões de BOWDITCH (1992) e HALL (1984)
englobam as demais dimensões ou elementos apresentados pelos demais autores, de
forma explícita ou implícita, e que "representam uma forma básica de se descrever e
comparar a estrutura de organizações diferentes (ou suas unidades, departamentos e
divisões), com diferentes graus de centralização, formalização e complexidade."
(BOWDITCH, 1992, P.170).
Outro consenso entre os dois autores, é que cada uma destas dimensões precisa
ser concebida como um contínuo, ou seja, as estruturas não são centralizadas ou
descentralizadas, formalizadas ou informalizadas, e sim, possuem graus de
centralização, formalização e complexidade.
Quanto à inter-relação entre estas dimensões, os estudos apresentados não são
uniformes, sendo inclusive ambíguos e contraditórios. Embora pesquisas tenham
apontado uma relação inversa forte entre a centralização e complexidade, ou seja, que a
descentralização é associada à alta complexidade, as relações entre centralização e
formalização são mais polêmicas e ambíguas, BOWDITCH (1992).
Segundo o autor, as pesquisas sobre a relação entre a centralização e a
formalização trouxeram resultados inconclusivos, havendo, apenas, a indicação de que a
alta formalização está associada tanto com uma estrutura centralizada como
descentralizada.
Por exemplo: em organizações onde predomina o trabalho não qualificado,
pode-se esperar que houvesse muita formalização, com a tomada de decisões
concentradas; mas mesmo em organizações que predomine o trabalho especializado,
onde a tendência é que haja baixa centralização, algumas decisões podem manter-se
centralizadas.
Para BOWDITCH (1992), o relacionamento entre complexidade e formalização
também não está claro, um parecer afirma que estruturas mais complexas apresentam
menor formalização, outro afirma o contrário. Dos estudos realizados pode-se, apenas,
41
concluir que o tipo de diferenciação (complexidade) parece determinar a relação entre
essas duas dimensões.
Uma questão que emerge com a análise dos elementos ou dimensões que
compõem a estrutura, é que esses elementos estão inter-relacionados, e no delineamento
de uma estrutura são combinados de forma sinérgica ou congruente, para que tal
estrutura funcione adequadamente. Esta sinergia depende não só da adequada
combinação destes elementos, mas também de fatores contextuais internos e externos à
organização que influenciam ou determinam esta estrutura.
Assim, pode-se concluir que existem diversos projetos estruturais diferentes com
vários graus de formalização, complexidade e centralização, que a combinação desses
depende de fatores contextuais internos e externos; e que uma determinada combinação
destas dimensões pode ser mais adequada para uma organização do que para outra.
É nessa questão que reside à dificuldade dos estudos que procuram determinar a
relação de causa e efeito entre as três dimensões estruturais apresentadas por HALL
(1984) e BOWDITCH (1992), como a estrutura é uma combinação complexa e
adequada ao contexto de cada organização, sempre haverá múltiplas combinações e
interações entre estas dimensões.
Para MINTZBERG (1983), apesar de serem possíveis diversas combinações, é
necessário haver uma coerência entre os elementos, por exemplo: caso um trabalho que
exija alta qualificação e conhecimento técnico seja formalizado e com autoridade
centralizada tirando a capacidade de discernimento e controle do próprio trabalhador, o
mesmo tenderá a possuir baixo desempenho.
Apesar de serem possíveis inúmeras combinações destas dimensões,
MINTZBERG (1983) afirma que o número das que são efetivas, em muitas
organizações, são poucas, envolvendo, apenas, poucas configurações básicas.
A definição de cada autor sobre os elementos ou dimensões da estrutura,
depende dos objetivos do estudo de cada um, HALL (1984), STONER (1985) e
BOWDITCH (1992) apresentam uma classificação para fins de estudo das
organizações, com pouca preocupação de aplicação da teoria apresentada, já
VASCONCELOS (1989) e MINTZBERG (1983) têm por objetivo possibilitar que sua
teoria seja utilizada para estruturar organizações, por isso, a tendência dos primeiros
apresentarem os elementos estruturais de forma mais condensada, e os segundos
definirem elementos estruturais de forma mais detalhada.
Os estudos de natureza estrutural são desenvolvidos mediante a aplicação de três
42
técnicas específicas:
DEPARTAMENTALIZAÇÃO
44
b) Maximizar os recursos disponíveis: A conformação de unidades
constitutivas da organização, ou a sua reestruturação obedece aos vários recursos
existentes. A maximização desses recursos ocorre justamente no momento do
agrupamento ou reajustamento das atividades da organização.
A melhor forma de departamentalizar será aquela que conseguir alocar com
extrema felicidade os recursos financeiros, humanos e materiais. Daí a responsabilidade
na escolha do melhor critério de agrupamento de atividades.
45
autoridade. Até mesmo se confundem, pois o ato de delegar implica descentralizar.
Delegar é salutar para a organização. Isso em tese. Por esse motivo descentralizar é um
dos objetivos da departamentalização. Contudo, haverá momentos no qual a
descentralização terá de ser restringida, ou mesmo eliminada, se quisermos uma
circunstância radical para a organização.
De qualquer maneira, a descentralização absoluta não é indicada para nenhuma
organização, exceto enquanto a organização se achar em progresso generalizado. Mas a
partir do momento em que começa a encontrar dificuldades de toda sorte, não será
agradável constar que certa unidade, por se achar absolutamente solta na organização,
acabou comprometendo o seu trabalho e naufragou.
f) Integrar ambiente e organização: Os autores clássicos dão enorme
ênfase na departamentalização planejada e executada em uma perspectiva fechada;
alcançar apenas objetivos internos, não mais. Modernamente, a teoria das organizações
sugere a integração ambiental. Isto é, na formulação e reformulação da estrutura
organizacional, o fator ambiente deve compor o elenco de inquietações do estudioso.
Muitas turbulências internas têm como causa imediata as alterações advindas do
ambiente. Por essa razão é conveniente uma análise que, além de incluir as variações
internas, inclua, também, o meio ambiente onde a organização age;
46
objetivos acima. O fundamental é estar o profissional de O&M alerta para a
responsabilidade que assume ao qualificar melhor a estrutura organizacional que estuda.
A departamentalização é uma característica típica das grandes organizações. Ela
é diretamente relacionada com o tamanho da organização e com a complexidade das
operações. Quando a organização torna-se grande, todas as atividades não podem ser
supervisionadas diretamente pelo proprietário ou diretor. A tarefa de supervisão pode
ser facilitada por intermédio de diferentes executivos que se tornam responsáveis pelas
diferentes fases da atividade ou pelos diferentes aspectos dessa atividade.
Tipos de Departamentalização
47
Departamentalização por Funções
Vantagens
48
A departamentalização funcional reflete um dos mais altos níveis de auto-
rientação de uma organização, de introversão administrativa.
Desvantagens
Aplicações
49
obra, permitindo uma intensificação de esforços e concentração que aumentam
sobremaneira a eficiência da organização.
Nas indústrias não industriais o agrupamento das atividades nessas organizações
se fundamenta nos serviços prestados ou executados ao invés de produtos. Os hospitais
costumam departamentalizar suas atividades por serviços, tais como: cirurgia,
radiologia, pediatria.
A departamentalização por produtos divide a estrutura organizacional em
unidades na base dos produtos, projetos ou programas desenvolvidos pela organização.
Geralmente apresenta um ciclo de vida longo, como no caso das indústrias
automobilísticas.
São vantagens:
São desvantagens:
50
• É contraindicada para circunstâncias externas estáveis, para empresas
com poucos produtos diferentes ou linhas reduzidas de produtos, por trazer elevado
custo operacional nestas situações;
• Pode provocar problemas humanos de temores e ansiedades, quando em
situação de instabilidade externa: os empregados tendem a ser mais inseguros com
relação a alguma possibilidade de desemprego ou por retardamento na sua carreira
profissional;
• Enfatiza a coordenação em detrimento da especialização.
Departamentalização Geográfica
São vantagens:
51
• Permite encorajar os executivos a pensar em termos de sucesso de
território;
• Indicada para firmas de varejo;
• O delineamento da organização pode acompanhar adequadamente as
variações de condições e características locais.
São desvantagens:
São vantagens:
• Quando a satisfação do cliente é o aspecto mais crítico da organização;
52
• Quando o negócio depende de diferentes tamanhos ou características de
produtos ou serviços que variam conforme o tipo de cliente;
• Dispõe os executivos e todos os participantes da organização para a
tarefa de satisfazer as necessidades e os requisitos dos clientes;
• Permite a organização concentrar seus conhecimentos sobre as distintas
necessidades e exigências dos canais mercadológicos.
São desvantagens:
53
revolucionários, a ponto de alterar profundamente o processo, este tipo de
departamentalização peca pela absoluta falta de flexibilidade e da adaptação.
Além de intensamente ligado à tecnologia, este tipo de agrupamento está
também ligado ao produto/serviço produzido por meio de processo. Vale dizer que o
processo é uma variável dependente da tecnologia empregada para produzir um dado
produto/serviço.
54
totalmente.
A departamentalização por projeto é, no fundo, uma departamentalização
temporária por produto, quando se assumem proporções enormes, requerendo
investimentos e recursos elevados, tecnologias específicas e períodos prolongados de
tempo para seu planejamento e execução.
Sua principal vantagem é a enorme concentração de diferentes recursos em uma
atividade complexa e que exige pontos definidos de início e término, com datas e prazos
determinados. Cada projeto tem seu ciclo de vida específico. É o tipo de
departamentalização orientado para resultados.
Geralmente, cada projeto é único e inédito e envolve muitas habilidades e
conhecimentos dispersos na empresa, com os quais pode passar de uma fase para outra
dentro do ciclo de vida.
Assim, quando termina um projeto, a empresa pode ser obrigada a dispensar
pessoal ou a paralisar máquinas e equipamentos se não tiver outro projeto em vista.
Além dessa possível descontinuidade, a departamentalização por projeto pode
provocar em muitas pessoas forte dose de ansiedade e angústia pela imprevisibilidade
de futuro no emprego.
O agrupamento por projeto é amplamente utilizado por empresas que se dedicam
por atividades fortemente influenciadas pelo desenvolvimento tecnológico.
Nesse caso, estamos nos referindo às tarefas de pesquisa e desenvolvimento em
empresas do ramo da eletrônica, energia nuclear, Astronáutica, aeronáutica,
farmacêutico etc.; quando o projeto se refere a um novo produto a ser pesquisado e
desenvolvido para ser futuramente colocado em linha de produção. A principal tarefa é
reunir uma equipe de especialistas em diversos campos de atividade.
O desenho organizacional por projeto é particularmente indicado para situações
em que o empreendimento é muito grande e tecnicamente complexo, como indústrias de
construção e em atividades de pesquisa e desenvolvimento.
55
pequeno porte na qual são colocados em departamentos cujas atividades são
completamente diferentes.
Departamentalização Principal
Departamentalização Intermediária
Departamentalização Combinada
56
nível de organização, pois o objetivo da departamentalização não é traçar uma estrutura
rígida e equilibrada em termos de níveis e caracterizada por consistência e critérios
paralelos, mas sim agrupar as atividades de maneira que melhor contribuam para a
obtenção dos objetivos da empresa.
Portanto, a departamentalização combinada é uma aplicação do princípio da
divisão do trabalho. Em face das limitações da amplitude administrativa, criam-se
departamentos para permitir a mais eficiente estruturação das atividades da empresa.
Recomendações Finais
57
O fato de na organização concorrente ter sido aplicada tal técnica de
departamentalização não significa dizer que, necessariamente, a mesma técnica deverá
ser aplicada. Há nuances peculiaridades específicas que fazem com que as soluções não
tenham, muitas vezes, o mesmo valor para todas as organizações.
Esse é o princípio da diferenciação organizacional.
EXPANSIBILIDADE
59
arquiteto considerar as áreas de maior crescimento e deixá-las preparadas para isso,
enquanto os serviços de baixa flexibilidade - salas de raios-X, por exemplo - devem ser
implantados em seu local definitivo.
É preciso que todo o conjunto acompanhe a expansibilidade e a flexibilidade da
planta para se adaptar a diferentes condições de uso. Modulação e previsão de
ampliação de instalações de água, esgoto, ar-condicionado, luz e fluidos mecânicos
(oxigênio, vácuo, ar comprimido etc.), com facilidade de acesso para a abertura desses
novos pontos, são características básicas em qualquer tipo de edifício para a saúde.
Para que tudo funcione conforme o esperado, é fundamental trabalhar com
equipes qualificadas e compatibilizar os diferentes projetos, como os hidrossanitários e
de rede lógica, por exemplo.
Metodologia de trabalho O projeto é consequência direta do tipo de atenção à
saúde que se quer oferecer - ou seja, o arquiteto deve ter informações aprofundadas
sobre as necessidades estruturais e tecnológicas próprias do tipo de assistência médica
que se pretende, explica Bross.
“Não é possível iniciar a elaboração do programa físico sem dispor desse
conhecimento, obtido pela interação com os interlocutores do projeto, como dirigentes
hospitalares, médicos, enfermeiros, nutricionistas e os demais profissionais envolvidos.”
Bross elaborou um roteiro que ajuda a ordenar os passos na hora de iniciar um
projeto (leia o quadro). O primeiro item é saber qual é a atividade-fim do
empreendimento, porque o programa de um hospital-geral não é igual ao de uma
maternidade, por exemplo.
Em seguida, é preciso conhecer cada trabalho que será desenvolvido na
edificação, desde o setor de serviços, como cozinha e lavanderia, passando por
ambulatório e pronto-socorro, até as áreas técnicas, como berçários, salas de cirurgia ou
unidades de tratamento intensivo (UTI).
A etapa seguinte é a esquematização, que pode usar um simples diagrama de
círculos como ferramenta para encadear as atividades qualitativa e quantitativamente,
prevendo sempre serviços proporcionais ao número de leitos.
PESQUISA TECNOLÓGICA
60
invasivos.
Segundo Bross, a partir desse conjunto de informações estabelece-se o programa
operacional que leva ao programa físico. “Só então é possível calcular os custos de
construção e de mobiliário, que devem ser coordenados pelo arquiteto. A partir daí se
tem a viabilidade econômico-financeira do empreendimento”, ele ensina.
A circulação é outro ponto fundamental. Para Karman, os espaços devem ser
hierarquizados, com fluxos segregados para público, equipes e serviços, de modo a
agilizar o trabalho dos funcionários e evitar riscos de infecção. O posto de atendimento
de cada andar o exemplifica, deve ficar o mais próximo possível dos pacientes que
requerem maiores cuidados: “Quanto menor o percurso, mais rápido o atendimento”.
61
“Nesses espaços existe total liberdade para trabalhar com os mais diferentes
materiais, devendo apenas prevalecer o bom-senso”, avalia. “Já nas áreas técnicas, os
acabamentos devem corresponder às necessidades de assepsia, humanização e
resistência a alto tráfego, a produtos de limpeza e à abrasão provocada por macas ou
cadeiras de rodas, por exemplo,”.
Segundo Guelli, os pisos vinílicos em manta, aplicados com solda quente, que
evitam frestas ou reentrâncias e garantem impermeabilidade, é boa opção para os
setores técnicos.
Para cozinhas, banheiros e demais áreas molhadas, ele sugere pisos com
cerâmicas antiderrapantes, que ajudam a prevenir acidentes e são de fácil limpeza. Nas
paredes, ele recomenda pinturas de alta performance ou laminados melamínicos.
Guelli lembra ainda que os rodapés arredondados sejam obrigatórios apenas nas
áreas limpas, como salas de cirurgia, mas podem ser usados de forma generalizada;
quanto aos cantos curvos, eles são necessários apenas nas áreas que exigem assepsia
mais rigorosa.
63
A Teoria Burocrática de Max Weber identifica certas características da
organização formal voltada exclusivamente para a racionalidade e para a eficiência.
Em suas dimensões essenciais muitos dos aspectos do modelo burocrático
podem ser encontrados em Taylor e Fayol:
64
motivação de Maslow e a teoria sobre os fatores que orientam o comportamento das
pessoas de Herzberg.
Essa abordagem ganha impulso no início da década de 80 quando começam a
aparecer um conjunto de ideias, experiências e princípios provenientes do estilo japonês
de administração, que se preconizou chamar Teoria Z da administração.
A teoria Z fundamenta-se nos princípios de: emprego estável; baixa
especialização; avaliação permanente do desempenho e promoção lenta; democracia e
participação nas decisões; valorização das pessoas.
A Teoria dos Sistemas surge de estudos do biólogo alemão Ludwig Von
Bertalanfly publicado entre 1950 e 1968 e busca formulações conceituais passíveis de
aplicação na realidade empírica.
Para este autor “um sistema pode ser definido como um complexo de elementos
em interação”. (6:84) Interação significa que os elementos estão em relação. E que o
comportamento destes elementos modifica-se quando há mudança na relação.
A Teoria do Desenvolvimento Organizacional surge de um conjunto de ideias
a respeito do ser humano, da organização e do ambiente na perspectiva de propiciar o
crescimento e desenvolvimento organizacional, de acordo com suas potencialidades.
Volta-se para estratégias organizacionais planejadas por meio de modelos de
diagnóstico, intervenção e de mudanças envolvendo modificações estruturais ao lado de
modificações comportamentais para melhorar a eficiência e eficácia das empresas.
A busca por modelos de estruturas organizacionais eficazes, relacionando
variáveis ambientais e formas estruturais, dá origem a Abordagem Contingencial e
marca o surgimento de um modelo denominado orgânico nas organizações.
Este modelo, dotado de grande flexibilidade, descentralização e
desburocratização, é colocado como opção para ambientes em constante mutação e
condições instáveis, contrapondo-se, de certa forma, ao modelo mecanicista que
prevalece em situações e ambientes relativamente estáveis.
No que se refere à organização do trabalho esta abordagem privilegia a análise
tecnológica, entre as diversas contingências, no sentido de limites à reorganização do
trabalho.
Está associada à participação do trabalhador, sendo que os estudos
desenvolvidos colocam a participação relacionada às variáveis de condições estruturais,
que facilitam ou dificultam a interação trabalhador/gerência e a propensão dos
trabalhadores para buscar a participação.
65
Desmistifica a administração científica do trabalho e reconhece os fatores
contingências que interferem nas organizações e nas relações funcionais.
De um amplo arranjo de teorias e técnicas das ciências comportamentais surge a
Abordagem Sociotécnico com ênfase nas relações entre o funcionamento dos
subsistemas social (os indivíduos e suas relações, relações sociais no trabalho e cultura),
e técnico (tecnologia, máquinas e equipamentos, procedimentos e tarefas), princípio da
otimização conjunta, escolha organizacional, desenvolvimento de trabalho em grupos
semiautônomos, preocupação com evolução e aprendizado contínuo. Coloca-se em uma
lógica distinta e oposta de organização do trabalho em relação ao modelo taylorista-
fordista.
A partir dos anos 80 foram sendo difundidas, alternativas administrativas, de
gestão e organização do trabalho que estão associadas, frequentemente, à superação dos
modelos taylorista/fordista de organização do trabalho, na medida em que podem
favorecer a participação dos trabalhadores nos processos de tomada de decisão.
Enfatizam a cooperação:
67
As organizações de saúde configuram-se em instituições complexas, em que
convivem projetos políticos bastante diferenciados entre si, influenciando a gestão e
organização do trabalho.
A instituição hospitalar coloca-se como um amplo campo de disputas de grupos
profissionais altamente qualificados e com grande autonomia de trabalho, os quais não
se subordinam às chefias superiores ou a uma direção, no clássico modelo taylorista-
fordista.
Além disso, existe uma forte fragmentação das linhas de mando entre as várias
categorias e as corporações organizam-se, até certo ponto, segundo lógicas próprias.
Estudos recentes realizados no Brasil apontam que nas instituições hospitalares existem
três grupos principais: os médicos, a enfermagem e o corpo administrativo.
Os médicos possuem grande autonomia, rejeitam qualquer projeto gerencial,
organizando-se por uma lógica de acordos e entendimentos baseados em uma ética
coorporativa.
Percebem-se como “clientes” do hospital e dos demais serviços, que funcionam
como “fornecedores de insumos” para o seu trabalho. Resistem a mudanças de gestão e
organização do trabalho, normalmente, por não adesão aos projetos.
A enfermagem constitui um corpo profissional muito fechado, com elevado grau
de autonomia em relação à direção.
Gerencia o dia a dia das unidades assistenciais e possui, internamente, uma linha
de mando vertical formalizada e legitimada, nos moldes taylorista-fordista.
Nessa estrutura as enfermeiras têm grande poder sobre os técnicos e auxiliares
de enfermagem, porém, isto não se observa em relação à categoria médica, com quem
disputa o projeto assistencial e vivencia cotidianamente uma série de conflitos.
A área administrativa funciona de acordo com uma lógica própria,
aparentemente é o grupo mais silencioso dentro do hospital, porém detêm recursos
estratégicos fundamentais para o cotidiano da vida organizacional. É uma área bem
estruturada, regida por normas e rotinas, com linha de mando verticalizada, formalizada
e considerada legítima.
Psicólogos, nutricionistas, assistentes sociais, farmacêuticos, bioquímicos,
fisioterapeutas e outros profissionais encontram-se dispersos na estrutura hospitalar.
Influenciam na gestão da instituição, tem sua lógica de organização do trabalho, porém
como é numericamente menor em relação aos demais, sua influência é mais limitada.
Nos serviços de nutrição, farmácia, laboratório, em que há pessoal com
68
formação técnica de segundo grau, o gerenciamento do serviço é realizado pelo
profissional de nível superior, reproduzindo uma organização interna semelhante à
existente na enfermagem.
A estrutura organizacional dos hospitais segue ainda nos dias de hoje as
diretrizes estabelecidas por organogramas clássicos, as estruturas hierarquizadas
verticais, fragmentação das responsabilidades, formalização das relações, pautando-se
nas lógicas de autoridade legal, herdados da concepção burocrática.
No entanto, atualmente, muitos autores têm desenvolvido estudos em busca de
novos rumos para a gestão e organização do trabalho em saúde utilizando teorias
administrativas mais atuais como a estruturalista, a contingencial e outras, bem como
tem apontado as dificuldades para promover mudanças no modelo de gestão, em
especial nos hospitais públicos brasileiros.
A adoção de modelos mais democráticos e participativos implica em “mexer em
esquemas de poder” e isso envolve uma gama de trabalhadores no meio hospitalar.
“Qualquer mudança na estrutura de gerenciamento destas organizações implica
em negociações com os diversos segmentos para que se concretize”.
A organização do trabalho, a divisão parcelar e a fixação do profissional a uma
determinada etapa do processo terapêutico, tendem a produzir alienação. Para mudar a
realidade do trabalho em saúde “é necessário reaproximar os trabalhadores do resultado
de seu trabalho.
Voltar a valorizar o orgulho profissional. É necessário que as instituições
procurem mecanismos que favoreçam o envolvimento dos trabalhadores para efetuar as
mudanças.
Tornar a reinvenção uma possibilidade cotidiana e garantir a participação da
maioria nesses processos são maneiras de implicar trabalhadores com as instituições e
com os pacientes”.
A perspectiva de construção de organogramas mais horizontais, de um modelo
de gestão mais participativa nestas instituições, implica em reunir os profissionais
naquilo que os mesmos têm em comum: o objeto de trabalho.
A atenção ao usuário é a única proposta capaz de reunir grupos profissionais
com interesses e lógicas de organização do trabalho tão diferenciadas e essa proposta
deve ser amplamente negociada entre os diversos segmentos, com vistas à construção de
uma proposta assistencial o mais consensual possível.
Os modelos clássicos de gerenciamento influenciaram a administração de
69
recursos humanos em saúde o que, nas últimas décadas, têm levado as organizações a
resultados insatisfatórios e ineficientes, pois não respondem as necessidades atuais.
A descentralização promovida pela implantação do SUS, no Brasil, as mudanças
no modelo assistencial, bem como outros fatores como uso intensivo de tecnologia de
ponta, flexibilização das relações de trabalho e outros exigem um gerenciamento
voltado para a realidade atual.
CRIATIVIDADE
72
Essa percepção não está ligada a um objetivo ou a uma vontade consciente, pode
ocorrer durante um devaneio ou durante um sonho.
A tarefa do indivíduo é "esticar" esses momentos, prolongá-los até que eles se
misturem à atividade do dia a dia. Então começará a vivenciar a criatividade como uma
atividade normal na vida.
Vida criativa é seguir o próprio curso, sem o molde estabelecido, envolve um
frágil equilíbrio entre tradição e liberdade pessoal, um frágil equilíbrio entre apegarse
aos próprios princípios e estar aberto a mudanças.
Nesse equilíbrio é que entra o nosso Estilo que é a peculiaridade com que nos
expressamos na nossa natureza original.
No desenvolvimento do indivíduo, ele recebe ensinamentos que se solidificam
como realidade. Construímos o mundo e o ser por meio de percepção, aprendizado e
expectativa.
Quando o mundo e o ser se interligam de uma forma harmônica, esse ser torna-
se um indivíduo "bem ajustado". Mesmo assim, tudo o que fazemos e somos são
sintomas de nossa natureza original.
Portanto, a criação segue as regras de um esquema bastante intrincado, o
esquema da nossa individualidade.
A inspiração é a voz viva da intuição. A intuição é uma soma sináptica, em que
todo o sistema nervoso equilibra e combina multivariadas complexidades
concentricamente.
O pensamento intuitivo tem como base tudo o que sabemos e somos. Em um
único momento, ocorre a convergência de uma pluralidade de fontes e direções - daí a
certeza absoluta que acompanha o pensamento intuitivo.
A percepção invadiu o meu consciente à revelia do raciocínio lógico que eu
estruturava sobre o assunto. Essa percepção não vem por acaso, ela necessita de um
elemento essencial: nosso compromisso. Nasce nos planos do inconsciente, nas áreas
em que a nossa preocupação é mais intensa.
Viver segundo a intuição não é apenas ouvir passivamente essa "voz", mas é agir
de acordo com ela. O surgimento da intuição vem exatamente no momento de transição
entre trabalho e repouso, após um período de trabalho árduo sobre o assunto.
A criatividade brota no divertimento. O divertimento é vital no ciclo de
desenvolvimento humano. A própria técnica nasce da diversão, não apenas por meio da
prática.
73
Brincar expande o campo de ação, possibilita uma maior riqueza de reações e
melhora a nossa adaptação. Portanto, o trabalho criativo é divertimento, é a livre
exploração dos materiais. A mente criativa brinca com os objetos.
A plena criatividade ocorre quando, por meio do talento e da técnica, o adulto é
capaz de entrar em contato com a clara e inesgotável fonte de prazer da criança que
existe dentro dele.
Para que a "arte" apareça, temos que desaparecer. Como? É literalmente "ficar
fora de", libertar-se da dicotomia da maior parte das atividades humanas, a separação
entre sujeito e objeto.
Geralmente, ocorre quando o olho ou o ouvido é atraído por alguma coisa, mente
e sentidos ficam por um momento, inteiramente, presos na experiência. Nada mais
existe. O ser e o ambiente se unem, atenção e intuição se fundem. Tornamonos o que
estamos fazendo quando abandonamos nosso apego ao ego, entramos em um estado que
é ao mesmo tempo de transe e de alerta.
Estado chamado de Êxtase. Esse estado mental tem suas raízes na brincadeira. É
o momento em que o indivíduo se anula e tudo o que existe é o trabalho. O
subconsciente e inconsciente agem em uníssono com o consciente. Não é irracional, é
suprarracional.
Para o ato do trabalho criativo o indivíduo precisa ter técnica e libertar-se da
técnica e para isso precisamos praticar até que a técnica se torne inconsciente. Uma das
armadilhas da criatividade, é que não podemos expressá-la sem a técnica.
Mas, se estamos encurralados no profissionalismo da técnica, não conseguimos
nos entregar ao ocasional, ao acidente, que é essencial à criação.
Quando a técnica atinge certo nível não se consegue percebê-la, ela se oculta no
inconsciente e revela esse mesmo inconsciente. A técnica deve ser uma extensão do
consciente e não uma proteção, um mecanismo de defesa contra a ameaça que o ato
criativo representa à ordem e à uniformidade.
A criatividade oriunda do pré-consciente e do inconsciente é importante não só
para a pintura, a poesia, a música, mas é essencial à ciência.
Todos os tipos de dogmatismo científico, econômico, moral e político, são
ameaçados pela liberdade criativa. Não podemos deixar de sentir angústia ante o fato de
todas as pessoas criativas serem os destruidores em potencial dos nossos sistemas bem
ordenados.
A criatividade é fruto da destruição das formas habituais de pensar, ou seja, é a
74
manufatura de novas formas de pensar, comunicar e relacionar.
A intuição nos oferece inspiração, mas nos dá também a tarefa técnica de
organizar o que criamos ordenar e jogar com as peças até que elas se ajustem. É
essencial que a correção brote da mesma alegria inspirada e do mesmo abandono que
existe na livre criação.
O processo criativo também pode se tornar um círculo vicioso. Pode cair no
vício ou na procrastinação, na obsessão ou na obstrução, deixando-nos em um estado de
confusão e dúvida.
Existe uma linha divisória muito tênue entre o patológico e o criativo, entre o
vício e a prática saudável.
O ritmo cada vez mais nervoso e agitado da sociedade encurta cada vez mais os
períodos de concentração - criando um círculo vicioso.
O que sustenta o círculo vicioso: medo. Medo de crítica - quando o indivíduo
julga seu trabalho antes que haja alguma coisa para julgar: crítica destrutiva. Há também
a crítica construtiva que ocorre paralelamente no tempo da criação e avalia a qualidade
desta criação.
Há também o medo de perder meios de sobrevivência, de perder a reputação,
medo dos estados alterados de consciência, de falar em público, de "fantasmas", de ser
considerado arrogante e medo do sucesso.
A solução para sair do círculo vicioso, é a entrega; a entrega não é uma derrota e
sim uma porta que se abre para um mundo de prazer e criação.
Esta entrega tem que ser genuína, espontânea, sincera, saber que não tem nada a
perder.
Criamos e reagimos a partir desse maravilhoso vazio que é gerado pela entrega.
A livre expressão da criatividade não é a capacidade de manipular arbitrariamente a
vida. É a capacidade de viver a vida como ela é.
Nada pode deter o criativo. Se a vida está cheia de alegria, a alegria alimenta o
processo criativo, se a vida está cheia de dor, a dor alimenta o processo criativo.
Paulo Roberto Motta (1997) relaciona alguns métodos que podem ser utilizados
para estimular a criatividade. São eles:
75
• Análise morfológica – Divide-se o problema em duas ou mais categorias
e, dentro de cada uma, identifica-se as alternativas possíveis. Procede-se a análise
comparando as alternativas, duas a duas, ou em associações maiores. Com a
combinação das soluções parciais procura-se uma solução global. O desafio é conseguir
soluções criativas depois das combinações de soluções.
• Diagramas de causa e efeito – Realizar uma lista do maior número de
causas (remotas e imediatas) do problema. Em seguida, agrupar essas causas por temas
específicos e verificar se existem algumas relações mais claras entre os grupos de
causas ou se variam independentemente. Estabelecer hipóteses sobre relações de causa e
efeito; e usar essas hipóteses para uma discussão aberta sobre soluções e formas
alternativas de ação.
• Análise do campo de forças por meio de diagramas – Descrever, de
forma direta, clara e concisa, o problema. Descreva a situação como se fosse uma
catástrofe; e descreva a solução ideal. Em uma folha grande, faça um quadro dividido
por uma linha central; coloque como título do quadrante esquerdo a situação negativa e
no quadrante direito a descrição positiva. A linha central representa a situação presente.
Identifique fatores conducentes ao ideal, escreva-os à direita e os fatores impeditivos
serão escritos à esquerda. Visualizar as contraposições, ver as reais possibilidades das
ações propostas e tentar mover a linha central na direção do futuro desejado (reforçar
uma força negativa, enfraquecer uma força negativa) ou adicionar uma nova força
positiva.
• Analogias – Analogia é uma forma de comparação, ou o uso do
pensamento metafórico para buscar associações com objetivos ou situações. Na
comparação usam-se fatos paralelos: comparam-se serviços, empresas e problemas para
buscar uma solução. No pensamento metafórico comparam-se situações ou objetos
díspares. O mundo animal, vegetal e as adaptações já realizadas para alcançar o
equilíbrio ecológico oferecem inúmeras ideias sobre soluções já encontradas. "A
analogia é uma forma de melhor compreender ou analisar um problema. Analogia não
prova nada."
• Métodos pictográficos – Este método está baseado na premissa de que
gravuras, desenhos e pinturas provocam a mente. Consiste em apresentar gravuras às
pessoas (aproximadamente seis) por meia hora e estimular um exercício preliminar e
individual de esforço analógico e de produção de ideias. Compartilhamse as conclusões
76
individuais e provoca-se uma discussão, confrontando as pessoas com as ideias
abstratas, incentivando-as a encontrar uma solução apropriada ao problema.
• Provocações ao mundo imaginativo – Manipulação da mente por meio
de combinações entre mensagens recebidas do exterior e as que estão na mente de cada
indivíduo.
Há duas maneiras de realizar esta manipulação:
77
GERENCIANDO NOVAS IDEIAS
Toda energia despendida, para gerar novas ideias, não terá nenhum valor se não
forem implementadas. Portanto, a inovação deve ser o passo seguinte.
Inovação constitui-se no uso prático de uma descoberta ou invenção, que
provoca mudanças positivas na organização. É a aplicação do incomum, é a solução
criativa para problemas que vão sendo detectados.
Recomendações de Motta (1995) para adquirir condições organizacionais e
individuais favoráveis à INOVAÇÃO:
79
Evidencia-se o crescimento, nos últimos anos, do debate acerca das mudanças
necessárias na gestão e organização do trabalho em saúde. A discussão ganha espaço no
bojo das transformações que afetam o mundo do trabalho, as organizações em geral e as
organizações de saúde.
No Brasil merecem destaque às mudanças que vem ocorrendo a partir da
Reforma Sanitária, estimulando intensamente este debate.
Na discussão sobre a gestão e organização do trabalho em saúde percebese que
os autores buscam sustentação em diversas áreas do conhecimento, entre as quais se
destacam as teorias da administração.
As influências e mudanças, no entanto, ainda são embrionárias e insuficientes
para apontar uma direção para a gestão e organização do trabalho em saúde; são pouco
significativas considerando as dificuldades e a hegemonia das teorias clássicas e
burocráticas; mas é muito significativa se considerarmos os avanços das últimas
décadas.
Nesse sentido, resgatar as teorias administrativas em seus aspectos positivos e
negativos contribui para a fundamentação de escolhas e para experimentação de novos
modelos.
ORGANOGRAMA
• Fácil leitura;
• Permitir boa interpretação dos componentes da organização;
• Fazer parte de um processo organizacional de representação estrutural;
• Ser flexível;
• Há um grande número de técnicas de representação;
• Estrutural, circular ou radial, funcional, estrutural-funcional, matricial.
Os objetivos são:
Limitações:
Regras gerais:
ORGANOGRAMA ESTRUTURAL
82
São características:
Linhas:
83
Características:
• Pouco utilizado;
• Suaviza a apresentação da estrutura;
• Economiza espaço;
• A autoridade é representada do centro para a periferia;
• As linhas de autoridade ficam difíceis de serem identificadas;
• Reduz conflitos entre superiores e subordinados;
• Exemplos de organizações: hospitais, universidades (área acadêmica);
• Representação de estruturas mais complexas torna-se difícil;
• Representação de muitos níveis hierárquicos torna-se difícil;
• Pode utilizar letras e números para simplificar;
• Necessita de legendas.
ORGANOGRAMA FUNCIONAL
84
FIGURA – ORGANOGRAMA FUNCIONAL TIPO II
85
Características:
Tipo 1:
Tipo 2:
86
• Em alguns casos, substitui os manuais da organização;
• Só pode ser elaborado por partes (ocupa muito espaço!);
• Retirando-se o prolongamento dos retângulos (as funções),
• Converte-se no Organograma Estrutural.
ORGANOGRAMA MATRICIAL
Características:
87
Recomendações finais:
88
FIGURA - ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DA DIRETORIA DE
ENFERMAGEM
90
fazerem manuais sobre como evitar problemas nessa área.
Nas organizações de saúde, onde se observa grande contingente de mulheres, em
geral subordinadas a homens em posições de poder e de minorias de homens em
terrenos altamente femininos, nota-se terreno fértil para a discussão.
Além disso, com a posição de fragilidade dos pacientes e eventuais fragilizações,
tanto dos pacientes quanto, às vezes, de seus cuidadores, o risco está presente. Essa
mesma realidade traz à baila o assédio moral, ainda mais grave por ser menos explícito
e menos comprovável.
Entre 2000 e 2001 foi objeto de revistas semanais de ampla circulação, a
demonstração do comportamento de alguns superiores em relação a seus subordinados
gerando até problemas de saúde, além de desemprego.
Associada a estas questões surge a noção do prazer, do sofrimento e das diversas
reações implícitas no contato com pessoas doentes ou em risco de adoecer, sempre
presentes nos serviços de saúde.
Os objetos da administração de recursos humanos são as pessoas e suas relações
dentro da organização. No entanto, certamente não é esse o seu objetivo. É sempre
necessário esclarecer o formulador dos objetivos que se quer atingir.
Neste texto, está sendo considerado basicamente o ponto de vista da
organização, aqui entendida como a administração do município (e não os seus
cidadãos).
Nessas condições, pode-se dizer que a administração de recursos humanos serve
para manter a organização produtiva, eficiente, eficaz, a partir da mobilização adequada
das pessoas que ali trabalham.
As pessoas que trabalham na maioria das organizações representam seu recurso
crítico, ou seja, aquele sem o qual elas não conseguem realizar o seu trabalho.
Isso é particularmente verdadeiro nas organizações de saúde que, além de serem
dependentes de tecnologia, não conseguem aplicar essa tecnologia sem contar com
recursos humanos adequados.
Ou seja, a avaliação final do desempenho da área de recursos humanos será dada
em função dos resultados obtidos pela organização. A definição dos resultados
esperados deve ser dada pelos formuladores das políticas da organização, ou seja, pelo
secretário municipal (ou até do prefeito). Assim, a gestão de recursos humanos tem
importante componente estratégico.
Gestão de pessoas deve, na organização, ser objeto de interesse (se não de
91
atuação) de todos os que nela trabalham: gerentes de recursos humanos, de outras áreas
ou com qualquer outro tipo de atividade. Seja por lidar com suas vidas, seja por lidar
com o funcionamento da organização, o setor tem um componente universal não
desprezível.
A administração de recursos humanos pode ser compreendida como um
subsistema de uma organização, pois pessoas realizam o trabalho das organizações.
Mesmo quando existe uma intensa substituição do elemento humano por
máquinas, as pessoas recolhem o produto transformado pelas máquinas, ligam-nas,
desligam-nas, decidem quando acioná-las e quando consertá-las (e até contratos de
manutenção para elas).
O termo "recurso humano" torna-se compreensível em função da utilização do
modelo de teoria geral de sistemas. A Figura 10 mostra a concepção da organização
como sistema e a Figura apresenta uma modificação do mesmo modelo segundo áreas
de preocupação do administrador.
92
O administrador pode ter diversos objetos de interesse. Entre eles, mas sem
esgotá-los, estão os recursos. Entre estes, costuma-se observar grande quantidade de
tempo gasto com gestão de recursos materiais e financeiros, que podem envolver, por
um lado, o orçamento - às vezes, até dinheiro - que será usado, talvez, na compra de
mesas, cadeiras, aparelhos de ar condicionado, seringas, agulhas, vacinas,
medicamentos, papéis e canetas, e, de outro, recursos tecnológicos.
Aqui, começa a aparecer uma questão menos clara: como definir tecnologia?
Trata-se de conhecimento, incorporado a alguma máquina, planta física ou equipamento
(esse é o entendimento geral) ou armazenado na cabeça de trabalhadores, que sabem, ou
não, realizar determinados procedimentos.
Assim, começa-se a perceber que o fator humano ocupa um lugar de destaque
junto ao recurso tecnológico. Nos serviços de saúde, pode-se observar que quem sabe
utilizar determinado equipamento ou quem foi preparado para realizar algum
procedimento específico pode não querer fazê-lo numa ou para uma dada organização,
ao passo que, em outra ou para outra, pode fazê-lo com prazer ou assumir sua função de
fazê-lo.
Faz sentido perceber que a área física - o prédio -, a mesa e as cadeiras, a seringa
e as agulhas, o ar-condicionado serão utilizados por pessoas, trabalhadores (além dos
clientes) daquela organização, na tentativa de atingir os objetivos da empresa.
Parte importante dos recursos financeiros será empregada para pagar os salários
93
dessas pessoas como retribuição pelos serviços prestados. Estas pessoas, que prestam
serviços pelos quais serão remuneradas e se servem dos recursos materiais colocados à
sua disposição, adquiridos e pagos por outras pessoas, podem ser entendidas como
"recursos humanos".
Nas condições de trabalho vigentes a partir de 1990 e pelo menos até 2001, não
necessariamente estes recursos humanos são "empregados" da organização. Podem ser
prestadores de serviço sob as mais diversas formas, mas consegue-se entender como seu
trabalho dá suporte à vida organizacional. Sob este modelo menos tradicional, o papel
da área de recursos humanos também se modifica, mas seu objetivo permanece.
Conclui-se, então, que qualquer trabalho envolve pessoas. Pessoas têm
percepções, emoções, preferências, suscetibilidades. O conceito de recurso humano
assume um modelo que privilegia a produção, o produto, o resultado e não as relações,
as preferências e as percepções. A utilização de outros modelos explicativos levaria a
outros juízos.
O SUPRIMENTO
96
Essa hipótese é relativamente comum para posições gerenciais, a que são
alçados funcionários com currículo talhado para aquelas funções ou aqueles que estão
descontentes com suas situações presentes de trabalho ou inadaptados a elas, ou ainda
quando há mudanças na direção superior da organização.
Por outro lado, as secretarias de governo contam com duas alternativas para
recrutamento: um profissional de fora ou alguém de seus quadros que esteja interessado
em mudar e que tenha em seu currículo a capacitação ou habilitação necessária para o
cargo, muitas vezes, adquirida em cursos realizados pela própria organização.
Há ainda organizações que repartem suas vagas para os "da casa" e outra para os
"de fora" e outras que admitem novos funcionários apenas para cargos gerais, situados
na base da pirâmide. Tudo isso faz parte da chamada "política de recursos humanos da
organização", portanto, fruto de decisões.
A seleção de pessoal, por sua vez, viria - idealmente - após o recrutamento e
teria por finalidade descobrir, entre os que se candidatam, aqueles que "interessam" à
organização, aqueles mais adequados ao trabalho.
A seleção, em geral, ocorre quando há excesso de oferta de candidatos, de modo
a tentar garantir que os melhores ingressem na organização. Seria desejável que essa
circunstância ocorresse sempre, de forma a aumentar a probabilidade de que um nível
mínimo de exigências fosse cumprido.
A definição desse nível mínimo e sua exigibilidade competem, mais uma vez,
aos responsáveis pelas decisões da organização. Por exemplo, a inexistência de um
médico para uma unidade de emergência pode ou não significar a contratação de um
profissional pouco qualificado, se ele for o único candidato.
Também cabe definir qual a situação de menor risco para a organização ou seus
usuários. Devem-se definir os critérios de ingresso e adequá-los, sempre que necessário.
Há diversos tipos de mecanismos de seleção, entre eles há dois casos extremos:
97
Por mais que essas decisões pareçam rotineiras, deveriam ser consideradas como
estratégicas, pois influenciam os rumos e os resultados pretendidos pela organização. O
fato de ser sobrinho do diretor-geral não necessariamente capacita alguém a ser o
responsável por compras ou pelo planejamento. A relação de parentesco tampouco
desqualifica uma pessoa.
Ainda resta considerar os exames médicos e psicotécnicos adicionais, se os
requisitos não se restringirem ao conhecimento. Por exemplo, é desejável que um
técnico de laboratório enxergue bem, mas um operador de câmara escura pode ser cego,
sem que isso interfira negativamente em seu trabalho.
Um motorista de ambulância deveria ter maior tolerância ao estresse que um
datilógrafo, uma telefonista necessita de paciência, embora possa ter problemas
dermatológicos. A possibilidade de o trabalhador se dedicar por um longo período ao
serviço municipal deveria ser levada em conta, bem como sua percepção desse fato.
Um fator relativamente novo no Brasil começa a ser discutido – embora, em
outros países, já seja corriqueiro – o das quotas por gênero e por raça. Embora a
discussão esteja mais presente em função de acesso à educação, cabe prever mais este
objeto de decisão.
A APLICAÇÃO
A MANUTENÇÃO
99
Após o indivíduo ser recrutado, selecionado, socializado, aceito e ter começado
a trabalhar na organização, por uma série de motivos - entre os quais os custos
mencionados anteriormente - passa a ser necessário mantê-lo dentro dela.
O conceito de manutenção (diferentemente do que ocorre na área de
equipamentos, onde se trata de tê-los em condições adequadas de funcionamento o
maior tempo possível, tanto a partir da disponibilidade de insumos básicos e de peças de
reposição quanto da observação de suas condições de operação) valoriza o contrato
psicológico, que começa a assumir a forma de um acordo mais objetivo, mediado por
relações de trabalho.
Contrato pode ser definido como um instrumento por meio do qual, diferentes
partes afirmam formalmente suas vontades, direitos e obrigações. O contrato de trabalho
corresponde a essa definição, embora deixe muitas entrelinhas para serem preenchidas.
Na verdade, a manutenção (e a forma pela qual ele se inserirá nos processos de
trabalho) do trabalhador em qualquer organização depende de uma equação, em que um
dos lados corresponde àquilo que o trabalhador acredita estar oferecendo à organização
(a) e o outro, àquilo que ele percebe estar recebendo dela (b). Continuando o raciocínio
matemático, a equação só será válida se B for percebido como maior ou igual a A.
No momento em que parecer ao trabalhador que ele oferece à organização mais
do que dela recebe, ou ele se retira dela ou deixará de ser um trabalhador interessado em
permanecer vinculado.
Com frequência, a segunda situação é ainda mais grave, pois sua permanência
nessas condições não abre vaga, desperdiça os recursos da organização e eventualmente
mina as condições psicológicas de trabalho dos demais colegas.
Esta condição do trabalho alienado ou desmotivado costuma ser citada como
lugar-comum no setor público – Municipal, Estadual ou Federal – em que as pessoas
podem ter interesse em se manter na organização devido às vantagens percebidas (ou
dificuldades de obter colocação fora), mas sem a intenção de colaborar com ela.
O mito da estabilidade é considerado um dos grandes motores para a
permanência do trabalhador, mesmo que desinteressado, e termina por evitar demissões,
pois forma-se um círculo vicioso em que parece que pouco importa o que ou como se
faz desde que as pessoas estejam bem. Esse parece ser um paralelo com o sistema de
manutenção de equipamentos, que se preocupa em têlos em condições de
funcionamento, mas, às vezes, esquece que alguém deve saber como operá-los.
100
Entre as condições de operação (condições que a organização oferece para o
trabalhador) há aquilo que os teóricos da motivação chamam de "fatores higiênicos do
trabalho". Entre esses fatores, encontram-se os aspectos salários e benefícios, mas há
uma série de outras variáveis a considerar: tipo de tarefa, tipo de chefia e/ou condições
físicas de acesso (e até de trabalho) como calor ou frio excessivos, nível de ruído etc.
Por vezes, as pessoas procuram emprego no setor público não para servir ao
público, não por se interessarem pelo perfil do cargo, não porque pague particularmente
bem, mas em busca de benefícios considerados como importantes.
Frequentemente, o contrato de trabalho menciona função, número de horas e
remuneração. Todo o resto transcende o documento formal, seja porque é mais cômodo
deixar que as circunstâncias se resolvam sozinhas, seja porque ninguém tem certeza se é
conveniente tentar regular as relações de caráter pessoal.
Compete à organização e a seus atores identificar e definir as expectativas, os
padrões e até os prazos de validade de cada definição. No setor público, onde ocorre
alto grau de formalização, costuma haver muitos documentos regulando os mais
diferentes aspectos do relacionamento entre trabalhador e organização. Nesse caso, não
se verifica que os trabalhadores tenham acesso a eles.
Desde os anos 90 se fala de um cenário vinculado ao final dos empregos formais
e à extinção da lealdade "eterna" à organização. Verificam-se relações passageiras,
lealdades efêmeras e a valorização das oportunidades conjunturais. Esse cenário está
ocupando um lugar importante na fantasia dos funcionários de qualquer organização.
Observa-se, a partir do ano 2000, que os empregos formais não terminaram de
fato. Têm ocorrido mudanças no tipo de vínculo, com contratos diferentes,
estabelecendo outras relações.
Esses fatores interferem nos padrões de lealdade entre trabalhador e organização.
E quando se menciona lealdade, cabe lembrar que este tipo de sentimento é bilateral.
Por que ocorreria a lealdade do trabalhador em relação à organização se esta não sente
(ou não demonstra) lealdade em relação a ele?
O DESENVOLVIMENTO
102
necessidade de ampliar os horizontes de qualquer indivíduo.
Existe a crença, com grande probabilidade de estar correta, em alguns serviços,
principalmente nos públicos, de que educação tende a elevar o nível do pessoal e,
portanto, seu desempenho.
Assim, há a expectativa de custear parte de qualquer curso que seus funcionários
venham a frequentar, até mesmo como benefício para compensar os salários em geral
não competitivos com os do mercado.
A parte a ser custeada, a liberação de horários de trabalho e outras facilidades
e/ou incentivos dependem basicamente do interesse e da prioridade que o projeto
pessoal tiver para a organização, mas deve fazer parte da política global da área de
recursos humanos (RH).
O discurso de algumas organizações de saúde de que valorizam treinamento e
competência, mas sem oferecer facilidades para aumentar o grau de conhecimento,
parece incoerente.
Às vezes, não se trata de problema da política da organização, mas de postura de
chefias imediatas, que por necessidade (ou aparente necessidade) do serviço em nada
facilitam as iniciativas dos trabalhadores.
Reciclagem é o eufemismo costumeiramente utilizado para se referir ao
treinamento sem ferir suscetibilidades. De fato, treinamento pressupõe partir de um
nível homogêneo de conhecimento, geralmente próximo de zero. Seria o equivalente da
"ciclagem".
Dessa forma, reciclagem seria atualização, revisão de conhecimentos,
aprimoramento daquilo que, a rigor, já se sabia. Nas organizações públicas, onde o grau
de rotatividade de cargos técnicos não costuma ser elevado, podem-se fazer planos de
médio ou longo prazo de reciclagem como tentativa de garantir ao indivíduo o acesso à
atualização de conhecimento.
Às vezes, porém, nestas mesmas burocráticas e tradicionais organizações
públicas, existe a tendência a descurar do treinamento introdutório, sob a alegação de
que os colegas de trabalho e supervisores diretos suprirão os conhecimentos
necessários.
A premissa não é de todo incorreta, mas presume que:
103
b) Colegas e supervisores terão tempo, vontade e capacidade para ensinar o
recém-chegado a desempenhar suas tarefas;
c) Colegas e supervisores, por serem mais antigos na organização (ou
apesar disso), não terão adquirido nenhuma distorção indesejável voltada à execução da
tarefa, devido à sua própria falta de treinamento formal no assunto ou à falta de
reciclagem periódica ou ainda à falta de supervisão.
104
carreira do indivíduo enquanto progressão funcional também passa por análises
constantes.
Assim, a organização deve descobrir novas possibilidades de atuação ou
aprendizagem para aqueles em que acredita e desenvolver seu potencial, uma vez que se
trata, conforme foi visto, de uma pessoa que interessa à organização,
independentemente de seus conhecimentos.
Na verdade, cabe refletir: se a organização não é capaz de ensinar a seus
membros suas tarefas, de que será ela, de fato, capaz?
Embora, às vezes seja difícil de admitir, há organizações que preferem ter entre
seus quadros pessoas sem grandes arroubos de opinião própria, mas que sejam bastante
flexíveis para lidar com situações novas.
Há outras que querem pessoas que saibam propor e programar mudanças. Não
há porque desejar que os perfis sejam iguais para organizações com culturas, gerências e
missões diferentes.
Entre os grandes temas de discussão da administração nos últimos anos estão as
organizações de aprendizado (learning organizations), consideradas as mais aptas para a
mudança e inovação. Como qualquer organização – até mesmo os municípios – é,
basicamente, constituída por pessoas, cabe perguntar o que se espera que as pessoas
aprendam: Ensinado por quem?
Essa atividade do subsistema da administração de recursos humanos, como todas
as demais, tem seus custos, ou seja, mais uma vez não deveria ser tratada como rotina,
pois alocar nela seus recursos seja da maneira que for, com mais ou menos prioridade,
significa potencialmente interferir nos rumos da organização.
Cabe ainda repetir que não necessariamente as atividades de
desenvolvimento aparecem posteriormente às atividades de entrada e/ou aplicação e/ou
manutenção, pelo contrário, podem ser todas concomitantes.
A AVALIAÇÃO
106
para fazê-lo e contato com as normas mais atualizadas, externas à organização e internas
a ela.
Ao mesmo tempo, o órgão de recursos humanos pode oferecer ajuda por meio de
instrumentos que eventualmente formalizem a avaliação, bem como mediante a
compilação dos diversos resultados de avaliação técnica de cada funcionário no tempo e
a respeito de uma dada atividade pela organização como um todo.
Caso se verifique, por exemplo, que os procedimentos de vacinação não estão
sendo realizados a contento em um determinado centro de saúde, pode-se oferecer um
programa de reciclagem técnica específica para aquela unidade.
Se for observado que grande quantidade dos prontuários está sendo mal
preenchida em todas as repartições do município, cabe descobrir se falta conhecimento
a respeito do preenchimento de prontuários ou se não está pouco clara a finalidade desta
atividade. Qualquer conclusão a que se chegue deve gerar medidas de intervenção
diferentes, sob pena de tornar inócua qualquer ação.
Há outros objetos de avaliação de desempenho que se relacionam com os
comportamentos e atitudes dos trabalhadores. Por meio deles, pode-se descobrir que o
funcionário A é impontual e desatento desde que ingressou na administração municipal,
segundo a opinião de diversos superiores, ao passo que o funcionário B, sempre muito
bem-conceituado, vem baixando seu rendimento. As causas da desatenção e da
impontualidade podem ser encontradas em razões diferentes: o funcionário tem pouco
interesse pela tarefa sob sua responsabilidade; a chefia não informa sobre o valor da
pontualidade; o superior dá muitas ordens de uma vez e esquece-se de cobrar o que
pediu; as ordens recebidas não são claras etc.
A redução no desempenho, circunstancial, se deve desde a insatisfação focada
com as condições de trabalho, até os problemas alheios ao trabalho. O mau desempenho
constante deve ter outro tipo de consequência.
A avaliação de desempenho não deve ser feita apenas por ser descrita como
necessária em qualquer manual de recursos humanos, em tese montando um amplo
arquivo a ser consultado somente quando interessar a alguém. A avaliação se justifica
caso haja o interesse em interferir na realidade apontada por ela. A interferência
desejada sobre a realidade indicará os dados a serem perseguidos.
Por exemplo, caso se queira trabalhar com recrutamento interno, talvez seja útil
dispor de um "censo" periódico, que informe as mudanças ocorridas na vida, nos
conhecimentos e nos interesses dos funcionários.
107
Apenas buscar a informação sobre quem estaria disposto a mudar de função, sem
que haja de fato a possibilidade no curto prazo, pode gerar expectativas que correm o
risco de serem frustrantes.
Há diversos sintomas da tradicional não priorização desse tipo de atividade:
108
avaliador não tinha competência para realizar este tipo de avaliação ou ainda a avaliação
não servia para a organização. Esse tipo de processo já passa a ser discutido em alguns
serviços de saúde.
Assim, verificam-se experiências em que superior avalia subordinado e
subordinado avalia superior, ambos discutem a avaliação e existe a expectativa de um
consenso em cada relação superior-subordinada. Chega-se a propor programas de
treinamento técnico e administrativo com vistas a melhoras na avaliação no período
seguinte.
A Tabela resume pelo menos as grandes áreas do subsistema de administração
de recursos humanos, segundo suas atividades principais.
Como pensar uma unidade de recursos humanos dentro de uma organização, seja
ela um ministério, uma secretaria municipal, um distrito, uma agência nacional, um
hospital etc.?
Entre os pontos sobre os quais decidir está sua localização na estrutura, o papel
que irá desempenhar suas subdivisões, a quem se subordina o responsável por ela, que
decisões poderão tomar, etc.
109
Em primeiro lugar, dentre as atividades realizadas em recursos humanos há
aspectos cujo componente mais importante é de assessoria/consultoria, enquanto outros
são voltados a atividades de execução.
Em virtude disso, explicam-se algumas das discussões relacionadas com a
localização do setor dentro da organização. A assessoria pode estar em dois níveis da
organização: assessoria da administração superior ou assessoria das demais áreas da
organização.
A assessoria da direção superior cuida de criar novas alternativas de trabalho,
discutir o acerto de algumas políticas, conceber a avaliação criada como atividade
realizada por parceiros internos à organização, colocar em discussão os tipos de
contratos existentes, descobrirem áreas que necessitam de maiores estudos (clima
organizacional entre outros). A assessoria das outras áreas se destina a auxiliá-las em
relação a como proceder para contratar, treinar, comprar ou elaborar treinamentos, ao
passo que as atividades de execução são dirigidas ao fornecimento de dados para a
elaboração de folhas de pagamento, à definição de faixas salariais, à preparação de
manuais para a realização de concursos etc.
O modelo mais tradicional sempre foi a existência de um departamento de
pessoal, que se ocupava dos aspectos burocráticos e processuais, como anotação de
frequência, férias, folha de pagamento etc. Logo, esse tipo de unidade, embora
reconhecidamente importante (afinal, é onde se concentra um dos aspectos mais visíveis
e mais sujeitos à reclamação em qualquer unidade de pessoal, o pagamento), devido à
quantidade de "rotinas" envolvidas entre suas tarefas, passou a ser considerada pouco
nobre.
Tornou-se objeto de piadas, foi caracterizado o "Jerubal Paschoal, chefe do
pessoal". Não se mudou sua composição nem sua estrutura, mas sugeriu-se a mudança
de sua denominação, de Departamento de Pessoal para Recursos Humanos.
Eventualmente, esta unidade passou a incorporar alguns aspectos de treinamento
e desenvolvimento (muito mais treinamento que desenvolvimento!), conseguindo ou
não repassar aquelas atividades de menor apelo, consideradas como de menor
especialização, para outras instâncias.
Outro nome atribuído a esse tipo de unidade é "Relações Humanas", mais ou
menos ao mesmo tempo em que se adotava "Relações Industriais". A ideia era infundir
uma característica mais dinâmica à unidade, uma vez que o termo "relações" implica a
existência de duas partes que interagem.
110
Principalmente no setor público na área da saúde, o resultado foi a
dicotomização desta área, colocando a parte menos processual, dita mais nobre e mais
profissional, em níveis mais elevados da organização, perto dos tomadores de decisão,
enquanto o velho "Departamento do Pessoal", burocrático e desvalorizado, continua em
baixos escalões, sem autoridade real no que diz respeito aos rumos da organização, com
funcionários menos especializados e entre os últimos a se beneficiarem das inovações
apropriadas pela organização.
No setor privado, às vezes, há modelos mais próximos dos de organizações ditas
mais competentes, que implantaram práticas já conhecidas na área empresarial e com
maior credibilidade junto aos tomadores de decisão.
Em organizações consideradas mais modernas, já existem nomes como
Departamentos de Pessoas ou outras denominações mais atraentes. No entanto, muito
mais importantes que os nomes são as práticas, não apenas das áreas de recursos
humanos, mas principalmente das organizações em que se inserem.
Até o ano 2001, em geral, não se privilegiava a competência técnica dos que
executam ações da chamada "administração de pessoal". Já se reconhece a necessidade
de advogados, para cuidar de problemas trabalhistas potencialmente envolvidos na
função e da competência de um ou outro gerente especializado, mas o conhecimento
específico está longe de ser privilegiado nas organizações de saúde, principalmente no
setor público.
A consequência disso é clara: quanto menos importante a atividade de
administração de pessoas, menos qualificadas as pessoas que trabalham nesse
departamento e menos adequado o trabalho ali realizado, tornando-o o objeto mais
frequente de reclamações (em geral, bastante justificadas).
Os seus gerentes, quando mais competentes e com maior visão estratégica,
podem melhorar a imagem da área, bem como seu peso específico real. Os salários dos
gerentes de recursos humanos de organizações de saúde, públicas ou privadas,
costumam ser mais baixos que os de gerentes de outros setores da economia.
Ter trabalhado com grandes contingentes de pessoas (como é o caso da
enfermagem), por vezes, é considerado um pré-requisito adequado para ocupar a
posição de gerente de RH em organizações de saúde.
Em secretarias municipais, o conhecimento de leis e a extrema confiança
assumem papéis importantes, porque se trata de área crítica para manter o
funcionalismo, no mínimo, pouco insatisfeito e as atividades em funcionamento.
111
Paradoxalmente, os primeiros esforços dirigidos à administração da qualidade
das organizações com frequência partem do órgão de Recursos Humanos.
"Qualidade" preconiza, teoricamente, a valorização das pessoas, pois depende,
para ser competentemente realizada ou obtida, de técnicos (que podem ou não ser ou se
sentir valorizados).
É fácil compreender que esse tipo de unidade presta serviços, seja para a
organização como um todo, seja para cada uma das unidades, seja para o próprio
funcionário.
Quer essa afirmação seja verdade, quer não, qualquer unidade de RH tem
facilidade (até demais) em se identificar como prestadora de serviços para a
administração (até mais facilmente que para os clientes externos, em última instância a
razão de ser da organização).
Tudo se torna mais obscuro quando entra em questão a prestação de serviços
para os funcionários. Se os trabalhadores não são valorizados, quem, dentro da
organização, quer prestar serviços para eles?
Nas organizações de concepção burocrática, observam-se resistências nos órgãos
de recursos humanos a perceber que lá estão, em primeiro lugar, para servir os seus
pares.
No entanto, não há dúvida de que, se um cálculo errado implicar descontos
indevidos, o único prejudicado é o funcionário cujo salário foi pago a menos, dandolhe
todo o direito de reclamar.
Nessa reclamação, rompe-se todo um pacto construído nas organizações
tradicionais, em que coexistem o corpo operacional e o corpo gerencial, vistos como
razoavelmente uniformes (mais do que o são de fato).
Nas grandes questões, as categorias se unem "umas contra as outras". Considera-
se legítimo reclamar do chefe para um colega ou, mais raramente, de um colega para o
chefe. Mas colocar em xeque a competência de um colega? Os funcionários da
organização visitam os colegas do "pessoal" basicamente por dois motivos: reclamar e
obter informações.
Mesmo que a ideia seja de coleguismo, aparece o estereótipo dos dois lados da
relação, caracterizando um comportamento de cobranças bilaterais em vez do cliente-
fornecedor (preconizado pela administração da qualidade). O mais comum é discutir se
há ou não culpa, de quem e por que.
O primeiro passo para realizar a mudança desta situação é reconhecer a não
112
prioridade, por parte dos decisores, nem em relação ao órgão, nem às atividades de
administração de recursos humanos, talvez por se considerar que esta não costuma estar
diretamente vinculada ao "negócio" das organizações de saúde. O resultado pode desde
aumentar seu grau de prioridade até levar – como já ocorreu – à terceirização da
administração de recursos humanos.
Trata-se de uma decisão estratégica, que tem seus prós e contras. Algumas
organizações privadas já a experimentaram e voltaram atrás; outras a mantém. Por
exemplo, se a atividade de "pessoal" for entregue a especialistas, aumenta a
probabilidade de que os erros diminuam.
Ao mesmo tempo, o fato de os especialistas não pertencerem à organização pode
dificultar as reclamações, pois a eventual solidariedade entre colegas existente tende a
desaparecer. Terceirizar gestão de pessoal implica definir claramente políticas e
diretrizes que devem ser passadas ao prestador de serviços, colocando um importante
requisito para a organização.
Ao mesmo tempo, obriga a organização a dispor de alguém especializado e
situado próximo o suficiente das instâncias de poder, de modo a avaliar as atividades
realizadas externamente à organização sobre seus trabalhadores.
Não se trata de considerar a administração de recursos humanos supérflua.
Trata-se de verificar a melhor maneira de administrar as pessoas da organização, seja
fazendo-o internamente, seja comprando parte dessa atividade, seja numa mescla entre
ambos.
A realização de um processo de seleção costuma ser desencadeada a partir da
constatação de que faltam funcionários para determinadas funções. Uma vez percebido
isso, como executar a seleção?
O órgão de Recursos Humanos pode, no máximo, elaborar questões e propor
provas de caráter genérico, ou coordenar a realização dos componentes específicos.
O mesmo raciocínio vale para a entrevista: o órgão de Recursos Humanos pode
analisar aspectos de apresentação geral e fluência, mas não saberá julgar posturas e
comportamentos necessários para o desempenho de determinadas funções. Se esse tipo
de atividade precisa ser feito na própria organização ou não, é outro objeto de decisão.
Há considerações a respeito do assunto que são específicas à área da saúde,
basicamente em hospitais. Por exemplo, em desenvolvimento de recursos humanos, é
tradicional a existência de estruturas de enfermagem destinadas a esse fim.
Frequentemente, se e quando existe unidade específica, ela se situa na
113
enfermagem e não no órgão de Recursos Humanos; quando é localizada nesta unidade,
é comandada por enfermeiros e, quando nenhuma das alternativas anteriores ocorre,
formal ou informalmente, costuma verificar-se a duplicação da estrutura da
enfermagem.
Profissionais da área de organização se espantam ao constatar que, nas
organizações de saúde, a unidade de enfermagem costuma duplicar aspectos de estrutura
presentes nas demais áreas.
É comum o órgão de Recursos Humanos, seja de municípios, de hospitais, de
ministérios etc., serem dirigidos por um enfermeiro, sob diversas alegações:
114
área da saúde: o corporativismo. Sob esse nome, podem estar abrigados todos os
preconceitos e pontos de vista de defesa de uma categoria e/ou de um grupo
profissional.
A área de gestão de recursos humanos para a saúde é reconhecidamente
corporativa, fenômeno bastante compreensível. Afinal, as pessoas da organização nunca
são valorizadas o suficiente (e a área da saúde não é exceção) e a unidade
organizacional responsável por elas (ou, pelo menos, que as usa como justificativa para
boa parte de suas decisões) pode se sentir tentada a assumir sua defesa.
O problema ocorre se quando algumas das decisões tomadas em seu nome
terminam por não afetá-las ou por não resultar naquilo que elas esperavam.
Outros problemas emergem quando a área de recursos humanos passa a se sentir
como área fim, achando que as decisões organizacionais devem ser tomadas em função
da gestão dos recursos humanos. Considerá-la como fator crítico para a viabilidade de
quaisquer medidas empreendidas é importante, mas, nas organizações, deve prevalecer
a lógica da atividade fim.
Não se compreende mais a área de administração como aquela que deve moldar
os trabalhadores às tarefas; pelo contrário, é aquela que deve se preocupar se as tarefas
destinadas às pessoas estão adequadas.
Essa ponderação sobre "o que cabe onde" se relaciona com situações específicas,
condições de trabalho especiais e será vista de maneira diferente sob o ponto de vista
dos diversos interessados: o gestor da organização, o gerente de recursos humanos, o
dirigente sindical e o trabalhador propriamente dito, além da "razão de ser" de qualquer
organização do setor da saúde: a população.
Observa-se, em uma série de organizações públicas de saúde, frente à realidade
salarial inadequada ou considerada insuficiente, e dada a prática de mais de um
emprego, a contratação das pessoas em regime de plantão.
A continuidade do trabalho, dada basicamente pelas atividades de diaristas, se
perde. Isto é inadequado tanto para administração quanto para assistência. Ou seja, algo
pouco adequado torna-se normal com a justificativa da circunstância.
O Departamento de Recursos Humanos está ligado diretamente ao decisor
máximo da organização e faz pouca diferença se o decisor não considera necessário
ouvir esse subordinado antes de tomar decisões de qualquer espécie. Ao mesmo tempo,
esta unidade pode ser subordinada a um nível hierárquico inferior, mas, se o decisor
final da organização valoriza suas opiniões, ela será ouvida. O resultado final da atuação
115
da unidade tenderá a ser causa e consequência dessas relações.
O quadro qualitativo e quantitativo de pessoal da unidade de RH deverá ser
construído com base nas mesmas questões que qualquer outra: Há mais ou menos
automação na área? Qual a qualificação necessária para trabalhar lá, em que tipo de
função? Quais os trabalhadores necessários sempre e quais os que podem ser
"prestadores de serviços"?
Os parâmetros de cálculo podem ser definidos de acordo com a necessidade de x
funcionários dos recursos humanos para cada y funcionários da organização ou em
consonância com as tarefas a serem de fato realizadas no setor e/ou com a utilização do
modelo próprio ou de terceiro.
Por exemplo, se atividades de treinamento e desenvolvimento forem executadas
por "serviços próprios", serão necessários mais técnicos do que especialistas para a
organização desse tipo de evento. Há que se lembrar da necessidade de supervisão, tanto
menor quanto maior for à qualificação dos trabalhadores da área.
E a atuação dos profissionais de RH como consultores de outras áreas da
organização, se ocorrer, com que distribuição se dará? Com que atribuições?
117
Mudar essa realidade é impossível, mas há outras maneiras de compreendê-la.
Por exemplo, perceber que o que se gasta com os trabalhadores da organização,
frequentemente identificado com itens de "custeio", assim como material de consumo,
na verdade é investimento, pois o salário pode significar permanência e, portanto,
otimização daquilo que já foi investido em alocação, integração, treinamento.
Essa percepção, no entanto, depende de visão de longo prazo, nem sempre
presente. Em casos de terceirização ou de reengenharia, demite-se o funcionário, que se
necessita (ou se gostaria de) recontratar em seguida.
Aqueles que trabalham com recursos humanos também são funcionários da
organização, que podem se ver ou serem vistos como diferentes. Há duas alternativas
básicas a considerar:
118
Trata-se até de identificar os rumos e as necessidades futuras da organização.
Deixar essas decisões sob a responsabilidade única da unidade de Recursos Humanos é
temerário. Parece contraditório, mas frequentemente os trabalhadores dessa unidade se
propõem a assumir essas tarefas, pois definir o quadro implica certo poder e a
necessidade de assumir negociações, que podem levantar recursos de prestígio para
quem o faz e/ou para a sua unidade.
Definir parâmetros organizacionais, mesmo que isso signifique apenas copiá-los
de outra organização, pode dar a impressão de conhecimento. A alternativa extrema é
assumir relações de parceria, em que a cada abertura de "posto de trabalho" deveria ser
revista a necessidade real de preenchê-lo, requerendo conhecimentos, ao mesmo tempo,
dos técnicos de recursos humanos e dos técnicos da área específica.
Se a área de recursos humanos tender a subestimar a área técnica em detrimento
da área administrativa, isto poderá ser considerado normal.
As políticas de recursos humanos quase nunca são produtos ou resultado do
trabalho da unidade que trata deles. Nas unidades de saúde, os executores costumam ser
ouvidos enquanto técnicos para o desenho de novas políticas assistenciais; no entanto, o
desenho de políticas de recursos humanos tem, em geral, um componente muito mais
político.
Seus executores, se e quando são ouvidos, o são enquanto objeto da política e
não como seus sujeitos. No setor público, com frequência, essas políticas não são
decididas dentro da organização pelos seus dirigentes, mas por pessoas alheias à
instituição, que não conhecem as condições de trabalho, os trabalhadores, nem suas
expectativas e/ou necessidades, ou seja, são muito mais voltadas a dar resposta a
condições de contexto que da organização.
Há quem diga que, no setor da saúde, as políticas de recursos humanos são
muito mais um problema que uma solução. Toda a atividade voltada para os recursos
humanos tem forte caráter político, pois permite a quem gerencia explicitar seu modelo
a respeito da natureza humana, gerando as mais diversas reações.
Qualquer tipo de ação empreendida em relação a recursos humanos gera,
automaticamente, uma reação, bem como qualquer falta de ação, introduzindo a noção
de consequência organizacional, que demonstra o resultado das manifestações
gerenciais (ou da percepção do trabalhador a seu respeito).
Uma punição só terá as consequências desejadas se for percebida como tal pelo
trabalhador. O papel potencialmente político desse tipo de atitude é inquestionável, pois
119
limita a função de qualquer gerente da área que se proponha a ter uma atitude
meramente "técnica".
Esta, além de impossível, representa uma visão parcial. A oportunidade de fazer
um curso pode, dependendo do trabalhador a quem ela é oferecida, ser vista como
punição, recompensa ou apenas uma obrigação da organização.
121
FIGURA – MODELO DE ÁREAS DE ATUAÇÃO GERENCIAL
Complexidade
Produtividade
Compromisso Demandas
Qualidade Crescimento
Absenteísmo Múltiplas
Satisfação dos Sobrevivência
Rotatividade Forças
Clientes
Competitivas
A partir deste capítulo, o texto passa a ser estruturado de modo a trabalhar com
os problemas comumente atribuídos à área de recursos humanos, mas cuja solução está
em outras esferas.
Essa linha de raciocínio pode ser útil tanto para os responsáveis pelas unidades
122
de administração de recursos humanos quanto para os que gerenciam as pessoas para
obter êxito em outras atividades.
Assim, o foco se desloca para os grandes problemas atribuídos a recursos
humanos sob a ótica gerencial, de modo a tentar identificar alternativas para estruturar
os problemas e pensar opções para sua solução em diferentes cenários, em que há todo
tipo de atores e jogos de força em ação que podem ser utilizados dependendo das
circunstâncias.
Para iniciar essa análise, faz-se necessário colocar/recolocar algumas
características do setor da saúde e/ou dos recursos humanos em saúde. É necessário
compreender as características e as especificidades do setor da saúde:
123
demais trabalhadores do setor, é porque são quem faz girar o sistema produtivo
relacionado com a saúde.
• Papel fundamental do cliente final no processo de trabalho: já foi
determinado que, da mesma forma que na educação, os processos da saúde dependem
da interação entre receptor e prestador.
• Autoritarismo das instituições: desde os jargões, impermeáveis ao
cidadão comum, até a forma de relacionamento, fazendo com que os receptores se
sintam culpados, pelo menos em parte, por resultados menos satisfatórios.
124
desenvolvimento do trabalho final. Isso se junta com a vontade que esses grupos
profissionais têm de manter seu poder sobre as decisões que influenciam seu trabalho.
Qualquer tentativa de democratização nessas organizações tende a favorecer os
profissionais, pois os demais continuam trabalhando de acordo com aqueles chamados
"nucleares".
Na América Latina, existe uma alta prevalência de médicos na direção de
serviços assistenciais, secretarias etc. No setor da saúde, não se costuma notar que a
democratização atinja de fato os cidadãos, mesmo na vigência de conselhos municipais
de saúde.
Quanto aos aspectos diretamente relacionados com recursos humanos, não custa
repetir que sempre os profissionais nucleares tendem a preservar sua autonomia de ação.
Além disso, observam-se como especificidades:
125
• No setor da saúde, a hierarquia gerencial é frequentemente dissociada da
hierarquia profissional, dependendo da categoria e do nível hierárquico considerado,
criando problemas de duplo comando.
OS PROBLEMAS: CENTRALIZAÇÃO/DESCENTRALIZAÇÃO
CENTRALIZAÇÃO OU DESCENTRALIZAÇÃO
127
FIGURA – CENTRALIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO
128
A análise das vantagens e desvantagens da centralização (ou da
descentralização) deve ser reconhecida não como uma forma de evitar as desvantagens,
mas, sim, conhecendo-as, de tentar minimizar seus efeitos.
Do mesmo modo, quanto às vantagens, não se trata de regozijar-se porque elas
existem: trata-se de maximizá-las, uma vez que não serão surpresas. Prever sucessos ou
insucessos não é garantia de que eles irão ocorrer, pois há limites para a previsão.
Portanto, algumas vantagens previstas não irão ocorrer ou estarão travestidas de
problemas; isso pode ocorrer também com as desvantagens. A priori, não se pode
afirmar que qualquer das situações seja um bem ou um mal: em diferentes
circunstâncias, os resultados de maior ou menor concentração de poder podem ser mais
ou menos adequados.
Outro aspecto a ressaltar é que as percepções a respeito do lugar no continuum
em que se situa a gestão de uma dada organização variam a cada momento de acordo
com a posição relativa do observador.
Inevitavelmente, aquele que descentraliza tem uma percepção a respeito do grau
de descentralização diferente daquele do ator organizacional em cuja direção está
ocorrendo a descentralização.
Para garantir a existência e a eventual unicidade da organização, a
descentralização requer mecanismos de controle eficazes, não apenas formais. Para
quem considera autonomia como sinônima de ausência de controle, qualquer tentativa
nesse sentido será percebida como centralizadora e autoritária.
Por outro lado, sob o ponto de vista do gerente, há alguns deles que, quando não
gostam de uma área ou não a conhecem suficientemente, costumam repassá-la para
outros profissionais.
Deve ficar claro que esse é um caso típico de não responsabilização, e não de
descentralização, pois a intenção desse gerente pode ser entendida como a tentativa de
livrar-se de uma responsabilidade, possibilidade que de fato não existe, nem no setor
público nem no privado.
A tendência à descentralização parece ser um movimento normal para as
organizações, à medida que elas passam a confiar mais em seus trabalhadores e lhes
oferecem condições de desenvolver novas funções.
Na verdade, trata-se de capacitar os trabalhadores situados nos níveis mais
periféricos do sistema, de modo a aumentar sua competência e a confiança que a
organização venha a depositar neles.
129
Repassar atividades sem aumentar os conhecimentos e sem modificar as relações
de confiança entre trabalhador e organização é ilusório e injusto. Esses requisitos,
porém, são atividades que consomem tempo e recursos financeiros.
Sob o ponto de vista das funções do subsistema de administração de recursos
humanos, eles têm a ver com o desenvolvimento e até com a noção de plano de cargos e
planejamento de recursos humanos de modo geral, a rigor, no item suprimento, por
meio do qual se pode prever em quem a organização investirá e com que finalidade.
Decisões súbitas acerca de novas tarefas a serem realizadas por pessoas nos
diferentes níveis hierárquicos tendem ao insucesso e à inviabilização de futuras
tentativas de descentralização, à custa de novas relações de desconfiança e de descrédito
na competência.
Dizem que a importância de um trabalhador (principalmente daquele que atua
em atividades administrativas) pode ser medida por não se sentir sua ausência por um
motivo qualquer – sua qualidade residiria na sabedoria de delegar atividades.
O outro extremo é protagonizado pelo trabalhador que se sente incompetente
quando toma conhecimento de que sua falta não foi notada. Provável comportamento de
combate à insegurança faz com que ele não repasse informações a ninguém que não seja
por ele escolhido, por algum motivo, como seu fiel depositário.
Suas férias são um inferno para os colegas, não necessariamente porque seu
trabalho seja crítico, mas porque ele centraliza tudo. É aquele que se orgulha de não
poder tirar férias porque é consultado diuturnamente sobre telefonemas, papéis e outros
assuntos sem grande importância.
Esse tipo de comportamento, de grande centralização, reflete falta de confiança
e, a rigor, falta de competência situacional. Não é a essa incompetência a que os
gerentes em geral se referem quando se queixam da insuficiência qualitativa de seus
recursos humanos.
No entanto, quando a discussão sobre inteligência emocional obriga a ter em
mente o significado desses comportamentos. Inteligência emocional, medida por um
quociente emocional (QE), demonstra a capacidade de um indivíduo de suportar
situações adversas.
Cada vez mais, mesmo que sob outras denominações, indivíduos são testados em
relação a seu potencial neste sentido nos processos de seleção em quaisquer
organizações.
O continuum que vai da centralização à descentralização é voltado ao grau de
130
autoridade decisória que está concentrada ou dispersa. Em geral, concentração (cujo
extremo oposto é a desconcentração) é um termo relacionado com a alocação de
recursos.
Enquanto centralização/descentralização lida com poder e/ou autoridade,
concentração/desconcentração se ocupa da gestão de recursos. Esses dois pares não são
necessariamente sincrônicos: na vigência de maior tendência à descentralização pode
haver maior ou menor concentração de recursos, e assim por diante.
Na administração municipal, ainda é frequente a secretaria de saúde funcionar de
maneira descentralizada, enquanto as decisões sobre orçamentos e alocação de recursos
estão em outras secretarias, como a da Administração.
132
confiança dos cidadãos no Sistema Único de Saúde (SUS).
134
nem como descentralização. As parcerias representam a tentativa de fuga da linearidade
contida no modelo "ou isto ou aquilo", na tentativa de chegar à síntese mais do que a
soluções muito circunstanciais.
A tentativa de fugir dessa linearidade pode levar à revisão da definição de
centralização e descentralização como relacionada com a dispersão da autoridade
decisória.
Na verdade, trata-se aqui do exercício do poder como categoria compartilhada e
não como um jogo cuja soma final é zero. Portanto, o exercício das parcerias pode
aumentar a quantidade de poder disponível numa organização, caso se pretenda seguir o
raciocínio aritmético.
O primeiro modelo deriva das noções de centralização e descentralização,
admitindo sua linearidade. A grande diferença é que, ao invés de se moverem
constantemente para representar um estado dinâmico, todas as forças convergem e
tendem a zero.
O segundo funciona como somatória de vetores, em que cada trabalhador é vivo
e dispõe de poder. A discussão se resume a verificar se há quem tenha poder e quem não
o tenha.
Na verdade, o conceito é muito mais dinâmico, pois obriga a estudar, a cada
momento, quem tem mais e quem tem menos poder, para depois encontrar a resultante.
No sistema de parcerias, em que o sentido das forças é o mesmo, o poder total
aumenta não de acordo com uma soma aritmética; pelo contrário, existe uma grande
potencialização, em que 2 + 2 > 4, por definição.
Por outro lado, poder só existe se e quando é exercido e, salvo o conceito físico
de força, é praticado por e sobre pessoas. Assim, a área organizacional que comporta
maior discussão desse tema é aquela voltada às pessoas.
O modelo competente de gestão de pessoas para a atualidade é aquele orientado
para solucionar problemas, enfrentar os desafios da organização e apresentar resultados.
Investimentos em recursos humanos devem focalizar a força intelectual, uma vez que a
criação e a manutenção de vantagens competitivas sustentáveis dependem desse ativo.
A alta valorização de ideias, de respostas diversificadas, de inovação e de
resultados esperados decorre da otimização da produtividade cerebral; assim, tem sido
frenética a busca de talentos para atuarem em diferentes campos de trabalho. Por isso,
hoje, os ativos organizacionais mais importantes são as pessoas.
No campo da saúde, existe uma crise resultante de problemas relacionados com
135
seus recursos humanos no que tange ao contexto e ao conteúdo do trabalho, ou seja:
escassez, má distribuição, condições inadequadas de trabalho, conhecimento e
competências limitados, estratégias equivocadas de gestão de recursos humanos face às
realidades dos serviços e demandas da população, redundando em estresse, infelicidade
e baixa autoestima do trabalhador, aliados à assistência insuficiente e de qualidade
muito questionada.
Está em curso um chamamento para ação imediata que dê conta de responder à
crise e valorizar, investir e conferir poder aos recursos humanos da área da saúde. Esse
movimento requer ampla participação e envolvimento no seu planejamento e ações
estratégicas. E, certamente, deve ser adequado a contextos específicos.
Nessa perspectiva, a VII Reunião Regional dos Observatórios de Recursos
Humanos em Saúde, realizada em Toronto, 2005, determinou que o período 20062015
se constitui em "Uma Década de Recursos Humanos em Saúde".
Tal determinação se deve à necessidade de enfrentar os sérios desafios em
relação ao desenvolvimento desses recursos na região das Américas.
Dentre as orientações estratégicas, foram incluídos temas referentes à formação
e capacitação das pessoas; assim, destacaram-se as seguintes questões: fortalecimento
das lideranças, maior valorização e investimento em recursos humanos, coordenação e
integração das ações nos diversos âmbitos, manutenção de políticas e intervenções,
empenho na oferta de informação mais qualificada para subsidiar a tomada de decisões.
Os desafios a serem superados abrangem a adoção de políticas e programas
capazes de:
136
população tenha acesso universal aos serviços qualificados de saúde.
RECRUTAMENTO
137
tendo como finalidade atrair um número satisfatório, e adequado à organização, de
profissionais necessários para uma futura ocupação de um cargo/função na empresa.
Neste processo deve sempre estar atento ao tempo despendido para esta ação, aos custos
e à otimização para a fase posterior que é a seleção.
Muitas organizações não despendem muita atenção e cuidado no processo de
recrutamento e seleção de pessoal, tendo depois que suportar problemas significantes no
futuro da organização, problemas estes que serão discutidos mais adiante. Esta
desatenção é explicada por várias maneiras, uma das mais comuns está baseada na
crença de que os recursos humanos são abundantes, sendo facilmente repostos ou
atraídos (DUTRA, 1990).
O Recrutamento, segundo Chiavenato (1995), pode ser dividido em três formas:
interno, externo ou misto.
Recrutamento interno
Recrutamento externo
139
• Sindicatos e associações de classes;
• Cartazes nos locais de maior tráfego;
• Centros recrutadores; arquivo de propostas anteriormente preenchidas;
• Contatos com outras organizações.
• É mais caro;
• A margem de erro é maior;
• Maior tempo de adaptação;
• Pode trazer atitudes que não estão de acordo com a cultura da
organização;
• Dificuldade de adequação entre empregado e organização (cultura,
hábitos, etc.), havendo a necessidade de um período maior de ajustamento;
• Menor moral e comprometimento dos empregados antigos que se sentem
desvalorizados no desempenho de suas funções e não se esforçam para melhorar seu
desempenho.
Recrutamento misto
SELEÇÃO
ANÁLISE CURRICULAR
141
TESTES
Os testes são considerados como uma das mais importantes fases deste
processo, já que eles definem os poucos candidatos que irão para a fase final da seleção,
que é a entrevista. Os tipos de testes utilizados podem ser:
ENTREVISTA
VERIFICAÇÃO DE REFERÊNCIAS
142
ser levantadas por meio de contato telefônico, pessoalmente ou por carta de referência.
Além desses procedimentos, o candidato selecionado será submetido ao exame
físico, cuja finalidade é:
143
EQUIPE
144
Cálculo da necessidade de pessoal de enfermagem para os diversos serviços:
Índices:
Assistência/cuidado Hora de cuidados enf. /pct. Nas 24h
Adulto Criança
Mínimo 3 horas 4.5 horas
Intermediário 4.9 horas 5.5 horas
Semi-intensivo 8.5 horas 10 horas
Intensivo 15.4 horas 18 horas
Assistência Semi-intensiva:
❖ 40% enfermeiros;
❖ 60% técnicos e auxiliares.
Assistência Intensiva:
145
❖ 55.6% enfermeiros;
❖ 44.4 % técnicos.
Outros setores hospitalares
Centro Cirúrgico:
❖ enfermeiro para 3 ou 4 salas/manhã e tarde;
❖ 1auxiliar por sala, por turno + 1 cobrindo folgas.
RPA:
❖ enfermeiro para cada 5 leitos por turno;
❖ auxiliar para cada 2 leitos por turno;
146
altamente complexas e relações humanas, para elevar ao mais alto nível possível, a
qualidade dos serviços de enfermagem.
Fatores que condicionam a supervisão em enfermagem:
Conceito de supervisão
a) Identificação da realidade:
148
Levantamento e estudo da área de supervisão, incluindo recursos humanos,
materiais de consumo, instalações, equipamento e recursos econômicos;
• Análise dos dados, para diagnóstico da situação;
• Estabelecimento das prioridades em supervisão;
• Determinação dos objetivos a serem atingidos, com base nos programas
da organização e nas necessidades da área e do pessoal a ser supervisionado.
c) Execução do plano:
Entrevistas;
• Observação direta, com registro em; uma ficha anteriormente preparada
para apreciar o progresso e os problemas da pessoa supervisionada;
• Análise das atividades do pessoal de enfermagem por meio de registros
em fichas dos pacientes e das famílias;
150
• Análise dos dados estatísticos e sua relação com as metas estabelecidas;
• Estudo dos relatórios para conhecer o desenvolvimento dos trabalhos de
enfermagem e para identificar os problemas que interferem em suas atividades;
• Reuniões para discussões de problemas;
• Trabalho em equipe para estabelecimento de plano para melhoria dos
cuidados de enfermagem;
• Demonstração de novos métodos de trabalho aplicados em enfermagem;
• Estudos especiais para determinar a qualidade e a quantidade dos
serviços de enfermagem prestados;
• Avaliação do pessoal de enfermagem;
• Preparo de ficha que permita orientá-lo para seu desenvolvimento.
Problemas de supervisão
151
Preparo do supervisor
152
AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO HOSPITALAR E DO SERVIÇO DE
ENFERMAGEM
• Avaliação da qualidade;
• Avaliação tecnológica - eficácia, segurança e efetividade;
• Avaliação econômica (eficiência) - custo-efetividade, custo-utilidade,
custo-benefício.
153
que decisões baseadas em uma mesma evidência científica podem apresentar resultados
diversos quando utilizadas em distintos contextos.
Essa complexidade decorre do fato de que tanto o conhecimento científico
produzido pelas pesquisas admite distintas interpretações, quanto o "processo de tomada
de decisão baseado em evidências" (evidence-based decision-making) é afetado por
múltiplas outras variáveis, além da própria evidência.
Assim, a utilização e o impacto das evidências na tomada de decisão dependerão
de como elas são selecionadas, interpretadas e valorizadas pelas diversas partes
envolvidas, refletindo valores pessoais e interesses dos tomadores de decisão, bem
como seus juízos sobre a qualidade das fontes utilizadas.
DESEMPENHO E QUALIDADE
156
categorias básicas: finanças; clientes; processos internos; aprendizagem e crescimento.
Uma das grandes dificuldades para operacionalizar esse sistema é a obtenção dos
dados, pois envolve a superação de problemas relativos aos sistemas de produção das
informações nas empresas, como a impossibilidade de se obter dados relativos a
períodos de tempo menores.
Pesquisas e relatos de experiências brasileiras também têm mostrado a utilidade
da construção de painéis de controle para avaliar o desempenho das ações desenvolvidas
nos distintos níveis de atenção à saúde, inclusive nas instituições públicas.
Uma dessas experiências, o "Painel de monitoramento das condições de vida e
saúde da população e da situação dos serviços de saúde", da Secretaria Municipal da
Saúde de São Paulo, disponibiliza um panorama sintético para o acompanhamento da
gestão do sistema municipal de saúde, em suas várias instâncias de organização, e para
subsidiar os gestores no acompanhamento e avaliação das ações sob sua
responsabilidade, constituindo ainda um instrumento de democratização da informação
sobre os resultados alcançados pela Secretaria.
Para cada nível de gestão, devem ser selecionados indicadores relativos aos
processos sob sua respectiva responsabilidade, sendo estes indicadores disponibilizados
em intervalos de tempos adequados aos processos de tomada de decisões de cada um
desses níveis.
Este ajuste entre as estratégias de negócio, tecnologias de informação e
estruturas internas da empresa não é um resultado simples de ser obtido, mas sim um
processo dinâmico e contínuo.
O impacto da tecnologia dependerá da capacidade da organização em explorá-la
de forma contínua e o seu sucesso não está apenas relacionado com o hardware e o
software utilizados, ou ainda com metodologias de desenvolvimento, mas com o
alinhamento da TI (Tecnologia Informatizada) à estratégia e às características da
empresa e de sua estrutura organizacional.
Existem diversos estudos mostrando os benefícios da TI para a melhora da
eficácia, segurança e eficiência dos serviços de saúde, embora a incorporação dessas
aplicações varie significativamente de acordo com o porte e os financiadores dos
hospitais, entre outros fatores.
Por outro lado, não existe ainda clareza sobre quais tipos de soluções podem
redundar em melhor qualidade do cuidado e menor custo e, também, sobre quais seriam
as fontes de financiamento da incorporação de TI nas organizações de saúde.
157
USO DA INFORMAÇÃO PARA A TOMADA DE DECISÃO
INDICADORES HOSPITALARES
160
momento em que foi criado; no entanto, a falta de revisão do sistema de classificação e
de incorporação dos avanços tecnológicos tornou o sistema desatualizado diante de
outros que foram desenvolvidos e aprimorados ao longo desse período.
Existem restrições em seu uso para a avaliação da morbidade hospitalar,
podendo-se, entre outras, citar que as informações referem-se ao evento "internação" e
não às "pessoas internadas", o que impede a construção de coeficientes.
Somente na década de 90, observa-se um uso mais abrangente do SIH, o que
talvez tenha sido viabilizado pela maior facilidade de acesso ao banco de dados.
Bittencourt et al. (2006) ressaltam que os maiores problemas nessa base de dados estão
relacionados com a qualidade do diagnóstico da internação, o que leva os pesquisadores
a classificarem os motivos de internação em capítulos ou em grupos de causa da CID,
em vez da categoria específica.
Zanetta considera que o sistema DRG pode servir de base para uma revisão da
tabela de procedimentos e remuneração das internações do SUS que elimine distorções
e diferencie intervenções hospitalares segundo gravidade e complexidade dos casos e
propõe a revisão do sistema de classificação da AIH para que este possa diferenciar os
casos segundo gravidade e complexidade da atenção, incorporando conceitos de
comorbidades, complicações e consumo de recursos hospitalares na sua conformação.
Outro aspecto que limita a comparação de indicadores entre hospitais é o uso de
definições distintas, o que ocorre inclusive entre as diversas áreas de um mesmo
serviço, sendo um exemplo emblemático a dificuldade que se encontra habitualmente
para conhecer, com exatidão, o número de leitos existentes em um hospital, o que
compromete a fidedignidade dos indicadores hospitalares.
A propósito, o Ministério da Saúde, por meio da Portaria nº. 312, de 02 de maio
de 2002, estabeleceu uma padronização da nomenclatura do censo hospitalar, o que
pode contribuir para minimizar esse problema.
As informações existentes nos hospitais brasileiros quase sempre revelam
indicadores clássicos de movimento hospitalar e estes, ainda assim, não são
padronizados para os serviços de uma mesma área de abrangência ou entre hospitais de
mesmo porte.
Além disso, os sistemas de informações gerenciais implantados são,
habitualmente, pouco valorizados e insuficientemente utilizados pelos níveis gerenciais
39.
Uma evidência desta realidade pode ser encontrada na pesquisa de Malik &
161
Teles (2001), que mostra apenas 23% dos hospitais do Estado de São Paulo com
iniciativas para a melhoria de qualidade.
Destaca-se, preliminarmente, que os diretores hospitalares, em sua maioria,
parecem ter pouca familiaridade com as propostas relativas à produção e ao uso de
informações e que não as incorporam no seu cotidiano de trabalho.
Alguns diretores, por exceção, parecem ter uma grande preocupação em
solucionar as dificuldades enfrentadas, mas não conseguem apenas como ato de vontade
individual dar conta dos determinantes institucionais para a melhoria da produção e o
uso de informações na gestão.
Assim, o quadro geral traçado a partir das entrevistas revela desconhecimento e
restrições, verificando-se, no entanto, exceções. Embora boa parte das instituições
compare seus indicadores com os de hospitais similares, esta é uma prática informal e
episódica.
Parece existir pouco investimento no sistema de informação hospitalar e, apesar
do consenso existente na literatura sobre a necessidade de profissionais capacitados para
avaliar, em conjunto com os gestores, as informações e os aplicativos mais eficientes
para a realidade do hospital, não se identificou clareza em relação ao perfil adequado do
profissional que trabalha com gestão de informação dentro dos hospitais.
Os métodos de divulgação de dados e informações nos hospitais revelaramse
insuficientes por referência ao proposto na literatura científica. Entre outras iniciativas,
a melhoria da comunicação entre os gestores e da integração dos sistemas de
informação, aliadas aos investimentos na informatização, são elementos fundamentais
para alcançar progressos nessa área, sendo essencial o envolvimento dos diretores
hospitalares na organização e avaliação regular do sistema de informação.
162
O médico ele mesmo, ou ainda seus pares mais desapaixonados, já nem se fale
do paciente, terão alguma dificuldade em aquilatar o quanto ele conseguiu ou deixou de
fazê-lo com respeito ao que se considera que deveria ter sido feito.
Essa dificuldade em realizar uma avaliação precisa em termos válidos, tem sido
um dos fatores a preservar a relação médico-paciente. No desejo comum de obter o
melhor resultado possível, são obrigados a se associar numa recíproca combinação, a
integridade do médico e a confiança do doente.
Os objetivos são:
163
e lógicas de avaliação que elas determinam.
Proprietários, gestores, profissionais prestadores e usuários/consumidores
protagonizam essas diferenças que, dificultando a identificação de uma medida de
desempenho única (isto é, a mesma quer para os agentes situados do lado da oferta, quer
para os situados do lado da procura) podem mesmo assumir a natureza de conflito de
interesses com eventual subalternização de importantes protagonistas do processo de
saúde. Por isso se percebe a dificuldade em avaliar o desempenho das organizações de
saúde.
Em Portugal, pouco se tem avançado na definição de modelos de avaliação,
tornando-se necessário desenvolver esforços nesse sentido:
➢ Para os consumidores, porque é cada vez mais imperiosa a
disponibilização de informação credível que lhes permita conhecer a atividade das
organizações e proceder as escolhas;
➢ Para os proprietários, já que somente a explicitação de modelos válidos
lhes permitirá incentivar a sua função de utilidade;
➢ Para os profissionais de saúde, porque só a existência de um modelo de
avaliação do desempenho a nível institucional permitirá a sua extensão com segurança
para o plano de avaliação individual;
➢ Para os gestores que tendem a proceder ao constante equilíbrio dos
diferentes interesses em presença, só assim poderão delinear objetivos e estabelecer
referências.
164
Razões que ganham importância no contexto dos projetos de reforma existentes:
criação de um setor público empresarial na rede hospitalar ou com a anunciada
constituição de parcerias público-privada para a construção de novas unidades, que
constituirão pontos críticos para a coesão da oferta e, consequentemente o desempenho
das funções de regulação.
Só depois da definição de um cenário de avaliação será possível uma avaliação
criteriosa da bondade das novas experiências de gestão.
CONCEITOS BÁSICOS
165
conhecimentos, atitudes e comportamentos, implicando, assim, as ações curativas e,
também, as promocionais e preventivas.
A avaliação somente poderá ser conduzida dentro de critérios, padrões e normas
preestabelecidas tendo em vista a notável variabilidade da prática de saúde, o que
implica, por exemplo, que a metodologia desenvolvida para avaliação da atividade
médica num hospital de determinada complexidade não possa ser utilizada para avaliar
o desempenho de uma prática alternativa de saúde. Mesmo as metodologias estruturadas
envolvem um importante componente de subjetividade (DONABEDIAN, 2005).
A avaliação pode ainda ser conduzida segundo critérios implícitos (como, por
exemplo, em algumas circunstâncias, a avaliação por pares) ou explícitos, ou seja,
predeterminados. Este aspecto relaciona-se também à utilização de instrumentos
abertos, envolvendo um componente subjetivo maior, ou fechados, mais objetivos, mas
também mais limitados em seu alcance.
Os critérios podem ainda ser de determinação normativa, e neste caso
corresponder a um ideal desejado, ou ser empiricamente estabelecidos, ou seja,
resultantes do estudo das características observadas numa determinada realidade.
O critério pode ser exógeno à entidade avaliada, endógeno (estabelecido por
pares na mesma organização) e ainda autógeno, quando envolvendo o universo de
decisão de um único indivíduo.
O enfoque da avaliação, por sua vez, pode ser dirigido a um profissional,
originalmente médico, mas podendo ser enfermeiro ou outro, a um diagnóstico, uma
conduta ou situação.
Os esforços de avaliação de serviços aos quais os Estados Unidos foram
pioneiros eram voltados inicialmente e exclusivamente para o trabalho médico, numa
avaliação por pares e num contexto predominantemente qualitativo, subjetivo e pouco
estruturado.
EVOLUÇÃO
166
✓ Ser limitada à medicina científica;
✓ Dar ênfase à prevenção;
✓ Resultar da cooperação inteligente entre o público leigo e os médicos;
✓ Visar ao tratamento do indivíduo como um todo;
✓ Envolver uma relação próxima e contínua entre o médico e seu paciente;
✓ Coordenar as ações visando ao bem-estar social;
✓ Coordenar todos os tipos de serviços médicos;
✓ Envolver todos os recursos da medicina científica, a serviço das
necessidades de toda a população.
167
judiciais sobre a prática médica e hospitalar naquele país (CASSIDY, 1987).
Os aumentos dos custos de saúde têm preocupado tanto os financiadores
privados (seguradoras) como o grande financiador público de serviços nos EUA -
"Medicare" - programa de financiamento do atendimento médico aos idosos. O controle
desses gastos fez com que ambas as entidades passassem a utilizar a remuneração por
critério de grupos diagnósticos homogêneos - DRGs ("diagnose related groups")
associados mais recentemente a indicadores de gravidade dos casos ("severity of
illness") (BROOK, 1987; LOHR, 1988; CAPER, 1988).
Outro fator de complexidade é a mudança da frequência de ações, inicialmente
dirigidas à solução definitiva de problemas médicos ("cure"), cada vez mais substituídos
por aqueles voltados tão somente ao apoio à sobrevida dos doentes ("care").
Esta situação é cada vez mais relevante em função do envelhecimento da
população, do predomínio das afecções crônico-degenerativas e do surgimento de
agravos como a SIDA - AIDS, de elevada gravidade e que absorvem uma parcela
crescente dos serviços de saúde (SCALLY, 1988).
Outro pormenor é que o critério de qualidade pode variar consideravelmente
quando encarado do ponto de vista dos distintos participantes do Sistema. Assim é que
se distingue tradicionalmente o ponto de vista do prestador de serviços (hospital e
médico) daquele do paciente e do financiador (governo ou companhia de seguros)
(SOMMERS, 1969).
ÂMBITO DA AVALIAÇÃO
168
deste, o prosseguimento da investigação clínica e outras (GRACE, 1986).
Observou-se considerável concordância entre o julgamento dos profissionais e
dos doentes sendo que a metade dos estabelecimentos não mereceu o voto de confiança
de 50% de nenhum dos três grupos.
Demonstrou-se uma considerável preferência por hospitais de maior porte e de
ensino. Esse trabalho vem destacar a importância do fator reputação na utilização de
hospitais.
O CASO BRASILEIRO
TENDÊNCIAS
170
de hospitais ainda é uma questão em aberto, e as metodologias utilizadas tanto na
literatura como nesse estudo não podem ser consideradas como definitivas. Há esforços
mais abrangentes buscando medir o desempenho não de estabelecimentos isolados, mas
de microssistemas de saúde.
Assim é que desde 1985 o "National Health Service" britânico programa um
sistema de avaliação computadorizado do tipo "sistema perito" ("expert system") com o
fito de avaliar 14 regionais de saúde que, por sua vez, englobam 191 autoridades
distritais de saúde.
Esse sistema trabalha com 450 indicadores de desempenho, alguns relacionados
com as entradas do sistema a exemplo do número de enfermeiras comunitárias por mil
pessoas idosas; alguns indicadores de processo, como taxas de cirurgias de prótese de
quadril por mil pessoas, como: idosos ou ainda indicadores de resultado como a
mortalidade perinatal.
A perspectiva desse tipo de sistema é a acumulação progressiva de uma base de
dados que promete análises cada vez mais expressivas. Interessante que os autores, à
frente do citado estudo, não o consideram formalmente como de auditoria, já que não há
a preocupação do estabelecimento de padrões (BOWEN, 1987).
A formação de uma vasta base de dados, que possa cada vez mais permitir
estudos visando a esclarecer as práticas vigentes e seus resultados e orientar a
modificação das mesmas, têm sido também o propósito da "Health Care Financing
Administration", do Ministério da Saúde dos EUA, entidade que financia os programas
de assistência médica aos idosos ("Medicare") e aos carentes ("Medicaid").
Essa agência montou um vasto programa de financiamento de estudos de
monitoração de serviços com a finalidade explícita de avaliar o que denomina de
efetividade de tais serviços, que conceitua como uma soma da eficácia (a utilização
correta de uma determinada prática) com a adequação (propriedade do uso de
determinada prática em uma determinada situação de saúde) ("effectiveness = efficacy
+ appropriateness") (ROPER e col., 1988 e AMPRO, 1986).
Há ainda estudos que comparam o desempenho de hospitais públicos versus
privados como é o caso do trabalho de Grosskopf e Valdmanis (1987) realizado em 22
hospitais públicos e 60 privados não lucrativos, na Califórnia, utilizando como medidas
de produção: pacientes-dia em leitos para casos agudos, idosos em terapia intensiva,
número de cirurgias (em internados e em ambulatório) e número de consultas
ambulatoriais e de emergência, parecendo indicar uma utilização mais moderada de
171
recursos nos hospitais públicos.
Os esforços do "National Health Service" britânico, para avaliar o desempenho
de suas diferentes áreas de saúde, ensejaram uma série de trabalhos de caráter
conceitual, alguns sugerindo técnicas mais abrangentes envolvendo desde o
planejamento dos serviços (TALBOT, 1986; MILLS, 1987) à necessidade da análise de
óbitos evitáveis (por eemplo, asma e cetoacidose diabética em pessoas com menos de 35
anos (SANDERSON, 1987), e mesmo indicadores notadamente administrativos a
exemplo de proporção de utilização de horas extras do pessoal, proporção de ausências
não planejadas (por doença ou de outro tipo), entre outros (HAMMOND, 1987).
Outro aspecto a ser considerado é o relativo à avaliação do atendimento
ambulatorial, mais complexo, devido ao maior volume de casos envolvidos e ao menor
tempo dedicado a este tipo de paciente, além do caráter geralmente mais sumário dos
registros (BULMAN, 1985).
AVALIAÇÃO E CUSTOS
172
estruturados, como é o caso da Holanda, tem sido no sentido de seu enfoque em nível
do estabelecimento, embora a responsabilidade pela qualidade seja considerada como
sendo dos profissionais, e a avaliação do sistema realizada em toda sua extensão
(VANDER HORST e col., 1987; REERINK, 1987; KLAZINGA, 1987).
No Brasil, assim como na América Latina, as propostas de avaliação de
desempenho e de qualidade de serviços têm-se limitado aos indicadores tradicionais:
taxa de ocupação, média de permanência, índice de renovação (PABON-LASSO, 1986)
e taxa de cesarianas, entre outros (ROCHA, 1986).
O FUTURO
• A importância da metodologia;
• A necessidade de aprofundar o processo contratual pelo projeto
profissional e seu acompanhamento;
• A simplificação e articulação das várias peças (Projeto, Registros,
Desenvolvimento, Relatório Crítico);
• Melhor planejamento dos momentos de análise de avaliado e avaliador;
174
• A criação de condições para uma prática reflexiva, desenvolvimento
pessoal e reconhecimento do desempenho.
175
Entre os séculos XIX e XX, Florence Nightingale (1820-1910) demonstrou a
importância da aplicação da ciência de administração nos hospitais, visando à melhoria
do atendimento de saúde aos clientes.
De uma forma inovadora, essa grande líder mostrou que atividades destinadas ao
preparo do ambiente, onde o cliente se hospitalizava, proporcionando higiene, aeração e
conforto, tornavam o ambiente terapêutico.
Esse ambiente tinha a finalidade de contribuir para que as forças da natureza
agissem aumentando o potencial de reação humana às diversas situações provocadas
pelas doenças.
Aliadas ao ambiente terapêutico, as ações de cuidado/conforto
desenvolvidas pelo pessoal de enfermagem permitiram que Florence comprovasse, por
meio de seus registros, a redução de 42% para 2,2% do índice de mortalidade nos
hospitais sob seus cuidados.
Tal fato transformou a enfermeira numa pioneira em administração hospitalar e
Florence numa precursora da pesquisa em enfermagem, possibilitando-lhe, àquela
época, lutar pela capacitação do pessoal, hierarquização e a disciplina no âmbito do
serviço de enfermagem.
Desde então, a enfermeira absorveu as funções de administração hospitalar,
centralizando a autoridade e liderança na sua equipe. Entretanto, essas funções têm
consequências discutíveis, sobretudo quanto ao afastamento dessa profissional do seu
objeto de trabalho – o cuidado ao cliente e a orientação e avaliação do desempenho do
pessoal no gerenciamento, ou seja, no desenvolvimento do processo de trabalho da
assistência de enfermagem.
Ressalte-se que, exceto nas unidades hospitalares reservadas aos cuidados
especiais e de tratamento intensivo ao cliente internado, geralmente observa-se a
enfermeira, ao administrar unidades de menor complexidade, se dedicando à previsão,
provisão e controle dos recursos ambientais e materiais, equipamentos, aparelhos e
elaboração de escalas mensais de trabalho para sua equipe e distribuição de atividades
técnico-assistenciais.
Desse modo, ficam em segundo plano os planejamentos, coordenação e
avaliação do cuidar em enfermagem, funções decisivas para o gerenciamento do
cuidado efetivo e com qualidades destinadas ao cliente.
Diante disso, a enfermeira enfrenta, nos nossos dias, no âmbito da administração
de unidades clínicas e cirúrgicas de atendimento à pessoa hospitalizada, o desafio de
176
liderar sua equipe, predominantemente formada por pessoal de nível médio, que
necessita de sua orientação para como cuidar em enfermagem.
Sobreleva-se que o resultado dessa liderança influencia o gerenciamento de
serviços de enfermagem se a enfermeira, além de administrar a unidade de internação,
executa no seu cotidiano laboral determinada atividade direta do cuidar do cliente
hospitalizado, previstas na lei do exercício profissional, implantando, desse modo, uma
nova cultura organizacional.
Se a influência da liderança/gerência for negativa, ela pode levar os liderados a
questionarem seu poder/saber dentro da equipe de enfermagem. Neste caso, podem-se
observar uma mudança de hábitos e formas dessa equipe disciplinar no interagir e se
relacionar socialmente.
Nossa hipótese de trabalho é de que a enfermeira, quanto mais estabelecer
relações de poder administrativo/burocrático com a sua equipe, reduzirá seu poder/saber
de enfermagem a ser com estar compartilhado.
O desafio de gerenciar unidades de internação nos serviços de saúde e a íntegra
do processo de trabalho da assistência de enfermagem tem repercussões entre os
técnicos e auxiliares de enfermagem que, diante das dificuldades enfrentadas no
cotidiano de trabalho questionam a liderança da enfermeira, muitas vezes solicitando o
desempenho do seu papel de supervisora/coordenadora do cuidar, objetivando a
melhoria e o crescimento do ser humano/profissional, aplicando um modelo de
supervisão, que se constitui num processo educativo e contínuo para incentivar e
orientar os supervisionados na execução de suas atividades.
AUDITORIA EM ENFERMAGEM
TIPOS DE AUDITORIA
Auditoria retrospectiva
179
• Pesquisa junto à equipe médica, verificando o cumprimento da
prescrição médica e interferências das condutas de enfermagem na terapêutica médica
(trabalho mais difícil e muito mais criterioso, em vista das questões éticas envolvidas).
CLASSIFICAÇÃO DA AUDITORIA
Quanto ao tempo
180
Quanto à natureza
Quanto ao limite
RECURSOS HUMANOS
FUNÇÕES DA COMISSÃO
181
RECURSOS MATERIAIS
LIMITAÇÕES
RESOLUÇÃO-COFEN Nº 266/2001
182
b. Atuar na elaboração, execução e avaliação dos planos assistenciais de
saúde;
c. Atuar na elaboração de medidas de prevenção e controle sistemático de
danos que possam ser causados aos pacientes durante a assistência de enfermagem;
d. Atuar na construção de programas e atividades que visem à assistência
integral à saúde individual e de grupos específicos, particularmente daqueles prioritários
e de alto risco;
e. Atuar na elaboração de programas e atividades da educação sanitária,
visando à melhoria da saúde do indivíduo, da família e da população em geral;
f. Atuar na elaboração de Contratos e Adendos que dizem respeito à
assistência de
Enfermagem e de competência do mesmo;
g. Atuar em bancas examinadoras, em matérias específicas de Enfermagem,
nos concursos para provimentos de cargo ou contratação de Enfermeiro ou pessoal
Técnico de Enfermagem, em especial Enfermeiro Auditor, bem como de provas e títulos
de especialização em Auditoria de Enfermagem, devendo possuir o título de
Especialização em Auditoria de Enfermagem;
h. Atuar em todas as atividades de competência do Enfermeiro e
Enfermeiro Auditor, de conformidade com o previsto nas Leis do Exercício da
Enfermagem e Legislação pertinente;
i. O Enfermeiro Auditor deverá estar regularmente inscrito no COREN da
jurisdição onde presta serviço, bem como ter seu título registrado, conforme dispõe a
Resolução COFEN Nº 261/2001;
j. O Enfermeiro Auditor, quando da constituição de Empresa Prestadora de
Serviço de Auditoria e afins, deverá registrá-la no COREN da jurisdição onde se
estabelece e se identificar no COREN da jurisdição fora do seu Foro de origem, quando
na prestação de serviço;
k. O Enfermeiro Auditor, em sua função, deverá identificar-se fazendo
constar o número de registro no COREN sem, contudo, interferir nos registros do
prontuário do paciente;
l. O Enfermeiro Auditor, segundo a autonomia legal conferida pela Lei e
Decretos que tratam do Exercício Profissional de Enfermagem, para exercer sua função
não depende da presença de outro profissional;
183
m. O Enfermeiro Auditor tem autonomia em exercer suas atividades sem
depender de prévia autorização por parte de outro membro auditor, Enfermeiro, ou
multiprofissional;
n. O Enfermeiro Auditor para desempenhar corretamente seu papel, tem o
direito de acessar os contratos e adendos pertinentes à Instituição a ser auditada;
o. O Enfermeiro Auditor, para executar suas funções de Auditoria, tem o
direito de acesso ao prontuário do paciente e toda documentação que se fizer necessário;
III O Enfermeiro Auditor, no cumprimento de sua função, tem o direito de
visitar/entrevistar o paciente, com o objetivo de constatar a satisfação do mesmo com o
serviço de Enfermagem prestado, bem como a qualidade. Se necessário acompanhar os
procedimentos prestados no sentido de dirimir quaisquer dúvidas que possam interferir
no seu relatório.
IV Considerando a interface do serviço de Enfermagem com os diversos
serviços, fica livre a conferência da qualidade dos mesmos no sentido de coibir o
prejuízo relativo à assistência de Enfermagem, devendo o Enfermeiro Auditor registrar
em relatório tal fato e sinalizar aos seus pares auditores, pertinentes à área específica,
descaracterizando sua omissão.
186
enfermagem orientado pelos critérios da AH?
188
da excelência.
No atendimento de emergência existem os itens ou padrões de verificação por
níveis, quais sejam:
189
possível, continuamente revisado, da normalização de procedimentos e adequação
constante do seu uso, atendendo às necessidades dos clientes.
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