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Fisiologia do Exercício 10/04/2023

O EXERCÍCIO E OS SISTEMAS
ENDÓCRINO E IMUNITÁRIO
Ano letivo 2022/23

Ricardo Rebelo-Gonçalves Fisiologia do


ricardo.r.goncalves@ipleiria.pt Exercício

Pretende-se que no final da aula, cada aluno


esteja apto a:

• Liste as hormonas da glândula pituitária anterior e posterior,


funções e como a atividade física aguda e crónica afeta a sua
libertação;
• Liste as hormonas da glândula tireoide, funções e como a
atividade física aguda e crónica afeta a sua libertação;

OBJETIVOS ▼
• Liste as hormonas da medula adrenal e do córtex adrenal,
funções e como a atividade física aguda e crónica afeta a sua
libertação;
• Liste as hormonas das células α e β do pâncreas, funções e
como a atividade física aguda e crónica afeta a sua libertação;
• Descreva como o exercício físico afeta a função endócrina;
• Delinear interações entre atividade física de curto prazo,
moderada e exaustiva, treino, suscetibilidade a doenças e
função imunológica;
• Discutir os efeitos do treino no sistema imunitário e o risco de
infeção.

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Estímulo de Exercício Nutrição Ambiente Psicológicos Estímulo

Treino de Força /
Resistência

Sistemas Fisiológico, Cardiovascular, Endócrino, Imunitário, Nervoso, outros…


CASCATA DE EVENTOS

Órgãos Adaptação

Tecidos

Recetores

Células e Sinalização de Eventos


Vias primárias de transdução de sinal no músculo-esquelético: estímulo
mecânico, cálcio, radicais livres, e níveis de fosfato muscular

Aptidão
Interação e Expressão de Genes, Síntese Proteica
Adaptado de Kraemer et al. (2012)

Genoma humano (distribuído


entre 23 pares de cromossomas):
o conjunto completo de material
genético em uma célula humana;
contém cerca de 80.000 a
140.000 genes e de 3,12 a 3,15
biliões de pares de bases de
nucleotídeos [C-G ou T-A]. O n.º
total de pares de bases determina
o tamanho do genoma. As estruturas helicoidais do DNA
(genótipo) contêm o projeto genético
ou “roteiro” de instruções para quase
todos os aspetos do nosso ser
(fenótipo), conferindo a nossa
singularidade individual. O fenótipo
reflete a expressão da nossa pool
genética desde as dimensões físicas,
textura, cor, composição e forma de
cada parte interna e externa do corpo
até nossas personalidades com todas
as suas idiossincrasias.

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INTRODUÇÃO

 A síntese de proteína muscular é de ~0,04% por hora em jejum.


 A síntese de proteínas musculares, particularmente miofibrilares,
é estimulada tanto por exercícios como pela alimentação.
 Após o treino com resistência, a síntese de proteína muscular
CATABOLISMO aumenta de 2 a 5 vezes após o exercício.
DEGRADAÇÃO  Aumentos na síntese de proteínas ocorrem 1–2 horas após o
exercício; no entanto, quando alimentados, eles podem
permanecer elevados por 48-72 horas. Este aumento na síntese
de proteínas pós-exercício também é acompanhado por uma
elevada degradação de proteínas.
ANABOLISMO  No entanto, num estado de alimentação a síntese de proteínas é
maior do que a degradação, que , juntamente com o curso de
SÍNTESE tempo mais curto de quebra de proteína (<24 horas), resulta em
um ganho líquido de proteína.
 O efeito acumulado desse processo ao longo de várias
sessões de exercícios resulta num ganho líquido de proteína e,
portanto, no crescimento muscular.

INTRODUÇÃO

Homeostase

HORMONAS
Tecidos do corpo
↑↓
Papéis regulatórios
As hormonas alteram as reações celulares de células alvo Crescimento e maturação,
específicas de quatro maneiras: reprodução, metabolismo,
1. Modificam a taxa de síntese das proteínas hidratação, ajustes
intracelulares pela estimulação do DNA nuclear. cardiovasculares, resposta
2. Modificam a taxa de atividade enzimática. imune e reatividade ao stress
3. Alteram o transporte pelas membranas plasmáticas
através de um segundo sistema mensageiro.
4. Induzem a atividade de secreção.

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HORMONAL EXERCISE RESPONSE MODEL

1ª Fase | ocorre em alguns segundos. Aumento da


ativação do SNSimpático, que resulta na libertação de
catecolaminas (norepinefrina) diretamente nos tecidos-
alvo, bem como elevações na catecolamina circulante dos
chamados efeitos de "transbordamento" simpático.
Conexão simpática com a glândula medular adrenal que,
por sua vez, aumenta a resposta circulante da catecolamina
(epinefrina). Simultaneamente a essas ações simpático-
adrenais, a secreção pancreática de insulina começa a ser
inibida, enquanto a secreção de glucagon é estimulada.

Hackney, A. C., & Lane, A. R. (2015). Exercise and the regulation of endocrine
hormones. Progress in molecular biology and translational science, 135, 293-311.

HORMONAL EXERCISE RESPONSE MODEL

2ª Fase | começa geralmente em menos de 1’. O hipotálamo


inicia o processo de libertação hormonal, como o fator
libertador de corticotropina (CRF) e o fator libertador de GH na
tentativa de provocar alterações na hipófise anterior para
estimular a libertação de hormonas específicas que, por sua vez,
começam a agir sobre as suas glândulas-alvo periféricas
específicas para estimular a libertação hormonal adicional. Um
dos atores de ação mais rápida nesta cascata de eventos é a
interação hipotálamo-hipófise-adrenocortical, onde o CRF
provoca a liberação da ACTH (corticotrofina) e que, por sua vez,
provoca a libertação de cortisol.

Hackney, A. C., & Lane, A. R. (2015). Exercise and the regulation of endocrine
hormones. Progress in molecular biology and translational science, 135, 293-311.

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HORMONAL EXERCISE RESPONSE MODEL

3ª Fase | a duração continua. Respostas do eixo simpático-


adrenal aumentadas por outras hormonas da hipófise anterior e
posterior (por exemplo, hormona antidiurética, GH, prolactina)
e as glândulas endócrinas periféricas subordinadas à regulação
da hipófise (testosterona, tiroxina, triiodotironina, IGF1). À
medida que os fluidos se deslocam do espaço vascular e os
estoques de água corporal total são comprometidos devido ao
suor para dissipação de calor, o sistema renina-angiotensina-
aldosterona é ativado (induzindo ações vasoconstritivas e
reabsorção de água). Além disso, o músculo esquelético começa a
libertar citocinas selecionadas [e.g., interleucina-6 (IL-6)],
agentes semelhantes às hormonas, na circulação que afetam
outras hormonas a serem libertadas (IL-6) cortisol) que podem
ter ações para sinalizar a mobilização de substrato de energia.

Hackney, A. C., & Lane, A. R. (2015). Exercise and the regulation of endocrine
hormones. Progress in molecular biology and translational science, 135, 293-311.

PA P E L D O S I ST E M A EN D Ó C R I N O N O EX E R C Í C I O

Regulação Hormonal do Metabolismo

• Mobilização de combustível para a produção de energia ATP necessária para apoiar a


contração muscular
• Manter os níveis de glicose no sangue (porque o tecido neural pode usar apenas glicose para
produzir energia)

Regulação Hormonal da Função Cardiovascular

• Melhorar a função cardíaca


• Distribuir sangue para tecidos ativos
• Manter a pressão arterial e função termoregulatória, estabilizando o equilíbrio de fluidos e
eletrólitos

Envolvimento Hormonal no Músculo, Osso, e Tecido Adiposo

• Estrutura e função músculo-esquelética e células adiposas

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R E G U L A Ç Ã O H O R M O N A L D O M E TA B O L I S M O

A quebra de glicogénio em glicose no músculo está sob controle extracelular redundante


da adenosina monofosfato cíclico (cAMP) de epinefrina e controlo intracelular de Ca++-
calmodulina. Este último mecanismo é potencializado durante o exercício devido ao
aumento do Ca++ do retículo sarcoplasmático. Desta forma, a entrega de combustível
(glicose) é paralela à ativação da contração.

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A concentração de glicose plasmática é mantida por quatro processos que:


1. Mobilização da glicose existente das reservas de glicogénio hepático para manter
o nível de glicose no plasma
2. Mobilização dos AGL plasmáticos do tecido adiposo para aumentar o uso de
gordura como combustível e poupar a glicose plasmática
3. Sintetizar nova glicose no fígado (gliconeogénese) a partir de aminoácidos, lactato
e glicerol para tê-la disponível conforme necessário
4. Bloqueia a entrada de glicose nas células (um “efeito anti-insulina”) para forçar a
célula a usar gordura como combustível e, assim, poupar a glicose plasmática

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R E G U L A Ç Ã O H O R M O N A L D O M E TA B O L I S M O

Hormonas Tiroideias
 A T3 e T4 são importantes para estabelecer a taxa metabólica geral e permitir que outras hormonas exerçam o
seu efeito total.
 Durante o exercício, há um aumento de T3 “livre” devido a alterações nas características de ligação da
proteína transportadora. T3 e T4 são removidas do plasma pelos tecidos durante o exercício a uma taxa maior
do que em repouso. Por sua vez, a secreção de TSH da hipófise anterior é aumentada, estimulando a
secreção de T3 e T4 da glândula tiroide para manter o nível plasmático. Baixos níveis de T3 e T4 (estado
hipotireoidiano) interferem na capacidade de outras hormonas mobilizar combustível para o exercício.

Hormona do Crescimento
 Apesar de desempenhar um papel importante na síntese de proteínas
teciduais, os efeitos da GH incluem tanto ações diretas, como efeitos indiretos
através da secreção aumentada de IGFs do fígado.
 Também pode exercer um efeito direto, mas de “ação lenta” sobre o
metabolismo de gorduras e carboidratos: Diminui a captação de glicose pelos
tecidos; Aumenta a mobilização de FFA; Melhora a gliconeogénese no fígado.
 As concentrações de GH são elevadas durante o exercício aeróbio e de força
em proporção à intensidade do exercício e normalmente permanecem
elevadas por algum tempo após o exercício.

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Cortisol
 Estimula a mobilização de AGL do tecido adiposo; Mobiliza a
proteína do tecido para produzir aminoácidos para a síntese de
glicose no fígado (gliconeogénese); Diminui a taxa de utilização de
glicose pelas células. Tem ainda um efeito sistémico.
 Medida de variação diurna, com pico de concentração pela manhã.
 Independentemente da hora do dia em que o exercício é realizado,
os níveis de cortisol no sangue aumentam durante o exercício e
atingem o pico durante o período de recuperação pós-exercício.
 O efeito direto do cortisol é mediado pelo lento processo de
transcrição e tradução do DNA para síntese proteica. Em essência,
o cortisol, como a tiroxina, exerce um efeito permissivo na
mobilização do substrato durante o exercício agudo. Assim,
hormonas de ação rápida, como a epinefrina e o glucagon, exercem
ações mais imediatas na mobilização de glicose e AGL.
 Em algumas modalidades, como triatlo, ultramaratona, ou a
maioria dos desportos coletivos, a influência do cortisol na
reparação tecidual pode ser mais importante do que alterações no
metabolismo.

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R E G U L A Ç Ã O H O R M O N A L D O M E TA B O L I S M O

Epinefrina e Norepinefrina
 A epinefrina, libertada a partir da medula adrenal, é vista como a catecolamina primária na mobilização de
glicose do fígado e AGL do tecido adiposo.
 Uma baixa concentração de glicose no plasma estimula um receptor no hipotálamo a aumentar a secreção de E,
tendo apenas um efeito modesto na NE plasmática. Em contraste, quando a pressão arterial é desafiada, como
durante uma carga de calor aumentada, a catecolamina primária envolvida é a norepinefrina.
 A epinefrina liga-se aos receptores β-adrenérgicos no fígado e estimula a quebra do glicogénio hepático para
formar glicose para libertação no plasma. Por exemplo, quando o exercício de braços é adicionado ao exercício de
pernas existente, a medula adrenal segrega uma grande quantidade de E.

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R E G U L A Ç Ã O H O R M O N A L D O M E TA B O L I S M O

Insulina e Glucagon

Figure 5.27 (a) Percent


change (from resting
values) in the plasma
insulin concentration with
increasing intensities of Figure 5.28 Percent change (from resting
exercise. (b) Percent values) in the plasma glucagon
change (from resting concentration during prolonged exercise
values) in the plasma at 60% ˙ V O 2max. The large increase in
insulin concentration circulating glucagon, during the first 30
during prolonged exercise minutes is exercise, is largely blunted in
at 60% ˙ V O 2 max showing endurance-trained individuals.
the effect of endurance
training on that response.

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R E G U L A Ç Ã O H O R M O N A L D O M E TA B O L I S M O

Insulina e Glucagon

Figure 5.29 Effect of epinephrine and Figure 5.30 Effect of increased


norepinephrine on insulin and sympathetic nervous system activity
glucagon secretion from the on free fatty acid and glucose
pancreas during exercise. mobilization during submaximal

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R E G U L A Ç Ã O H O R M O N A L D O M E TA B O L I S M O

Insulina e Glucagon
 Os aumentos induzidos pelo exercício no n.º de transportadores de glicose na membrana também afetam a
captação de glicose pelo músculo. Além disso, exercícios agudos e crónicos aumentam a sensibilidade de um
músculo à insulina, de modo a que menos insulina seja necessária para ter o mesmo efeito na captação de
glicose no tecido.
 Os efeitos da insulina e do exercício no transporte de glicose são aditivos, sugerindo que dois grupos
separados de transportadores de glicose são ativados ou translocados na membrana.
 Curiosamente, a hipóxia traz o mesmo efeito que o exercício. Parece que a hipóxia e o exercício recrutam o
mesmo pool celular de transportadores, em que o exercício e a hipóxia não produzem efeitos aditivos na
realocação do transportador de glicose para a superfície da célula muscular.
 O sinal celular para ativação do transportador de glicose é a alta concentração
intramuscular de Ca++ que existe durante o exercício. O Ca++ parece recrutar
transportadores de glicose inativos para que mais glicose seja transportada para a
mesma concentração de insulina.
 O transporte de glicose melhorado permanece após o exercício e facilita o
preenchimento das reservas de glicogénio muscular durante a recuperação.
Exercícios repetidos reduzem a resistência à insulina em todo o corpo, tornando o
exercício uma parte importante da terapia para pessoas com diabetes.
 No entanto, está claro que os transportadores de glicose no músculo em contração
são regulados por mais do que mudanças na concentração de cálcio. Fatores como
proteína quinase C, óxido nítrico, proteína quinase ativada por AMP e outros
desempenham um papel.

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O TREINO FÍSICO E A FUNÇÃO ENDÓCRINA

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REGULAÇÃO HORMONAL DA FUNÇÃO CARDIOVASCULAR

 A secreção de epinefrina e norepinefrina tem efeitos


semelhantes à estimulação simpática direta,
induzindo um conjunto de alterações orgânicas que
preparam o indivíduo a enfrentar situações exigentes
associadas a comportamentos de luta ou fuga.
 Facilita a atividade simpática; aumenta o débito
cardíaco; regula os vasos sanguíneos; acelera o
catabolismo do glicogénio e a libertação de ácidos
gordos.
 A ação destas hormonas tem uma curta duração
dado que permanecem no sangue apenas alguns
minutos.

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REGULAÇÃO HORMONAL DA FUNÇÃO CARDIOVASCULAR

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E N V O LV I M E N T O H O R M O N A L N O M Ú S C U L O , O S S O , E T E C I D O A D I P O S O

 Mais que efeitos agudos, as hormonas envolvidas na estrutura e função do


músculo, osso e tecido adiposo (GH, IGF, testosterona, estrogénio, progesterona,
calcitonina, e paratormona), podem ser importantes na recuperação e facilitar as
adaptações ao treino.
 O impacto da GH na síntese proteica no músculo é mediado pela IGF. A GH
estimula a libertação de IGF do fígado, e tanto o músculo como o tecido conjuntivo
produzem IGF. Os efeitos específicos do IGF incluem captação de aminoácidos,
síntese muscular, síntese de tecido conjuntivo (colágeno), crescimento de ossos e
cartilagens e manutenção da massa muscular livre de gordura.
 A testosterona é responsável pela alta proporção de massa muscular em relação à
massa gorda que ocorre em homens na adolescência. A testosterona estimula a
libertação de GH e influencia os fatores neurais que contribuem para os
processos anabólicos.

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E N V O LV I M E N T O H O R M O N A L N O M Ú S C U L O , O S S O , E T E C I D O A D I P O S O

O tecido adiposo como um órgão endócrino:


 Segrega várias citocinas (adipocinas), embora sejam quimicamente
idênticas às citocinas libertadas pelas células imunitárias.
 As adipocinas são peptídeos bioativos libertados do tecido adiposo que
atuam local e sistemicamente por meio de efeitos autócrinos,
parácrinos e endócrinos com múltiplos papéis fisiológicos, incluindo a
mediação do apetite e do balanço energético, influenciando a
sensibilidade à insulina e o metabolismo lipídico, e regulando a função
imunológica e a hemostasia.
 A adipocina mais proeminente é a hormona da saciedade, a leptina. As
deficiências na leptina ou nos receptores de leptina estão associadas à
obesidade.
 A adiponectina é outra adipocina e está associada à resistência à
insulina e à síndrome metabólica.
 Outras adipocinas são importantes mediadores da inflamação.
 O tecido adiposo, portanto, funciona como um órgão endócrino e
desempenha um papel importante na integração das funções do
sistema neuroendócrino, do sistema imunológico e do metabolismo.

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O TREINO FÍSICO E A FUNÇÃO ENDÓCRINA

Complexas interações das secreções endócrinas com o sistema nervoso


 A magnitude da resposta hormonal a uma carga de exercício padronizado em
geral declina com o treino de endurance.

 Por exemplo, quando atletas altamente treinados realizam os mesmos níveis absolutos de atividade física
executados por indivíduos sedentários, as respostas hormonais continuam a ser menores entre os atletas. A
sensibilidade e/ou responsividade aprimoradas dos tecidos-alvo a uma determinada quantidade de
hormona são responsáveis por grande parte dessa baixa resposta.

 Ocorre um nível semelhante de resposta hormonal, independentemente do estado de treino, quando os


indivíduos se exercitam com a mesma intensidade relativa da atividade física [i. e., com o mesmo
percentual do máximo (carga absoluta menor para os destreinados)]. Com o exercício máximo, os indivíduos
treinados evidenciam uma resposta hormonal idêntica ou ligeiramente maior que os indivíduos
destreinados.

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O TREINO FÍSICO E A FUNÇÃO ENDÓCRINA

Uma sessão aguda de exercícios após o treino crónico ainda é um


estímulo para a fisiologia do corpo. No entanto, em todas as intensidades
de exercício, abaixo do nível máximo, tais respostas são tipicamente
atenuadas até certo ponto. Quanto maior for a adaptação ao treino
incorrida devido ao programa de treino, maior será a atenuação da
resposta. A exceção a essa ocorrência é o exercício máximo ou
supramáximo.

Se os programas de treino físico forem excessivos por natureza


(intensidade excessiva, volume excessivo ou ambos), ou se um atleta tiver
muitos stresses adicionais agravando a sua situação durante o treino
apropriado, é possível que ocorram respostas hormonais inadequadas
(desadaptações). Essas respostas geralmente estão associadas a cenários
de overreaching ou overtraining – importância da monitorização da carga
na prescrição do exercício.

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 Ao distinguir o “eu” do não próprio, as defesas


imunológicas (1) protegem contra a infecção por
patógenos - vírus e micróbios, incluindo bactérias,
fungos e parasitas eucarióticos; (2) isolar ou
remover substâncias estranhas; e (3) destruir as
células cancerosas que surgem no corpo, uma
função conhecida como vigilância imunológica.

 A redundância do sistema imunológico (resposta


imunitária) é alcançada pelo trabalho em equipa de
dois ramos do sistema imunológico, conhecidos
como sistema imunológico inato (ou natural) e
adquirido (também chamado de adaptativo ou
específico).

 A principal forma pela qual o sistema imunológico


regula a homeostase é por meio da sinalização
célula a célula.

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Sistema Imunitário Inato

Barreiras Barreiras Componentes


Físicas Químicas Celulares

Membrana Sistema
Pele Fagócitos
Mucosa Complemento

Trato pH dos fluidos Células


Respiratório corporais Natural Killer

Trato Proteínas de
Reprodutivo fase aguda

Trato Outras
Digestivo secreções

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Sistema Imunitário Adquirido

Órgãos linfoides primários


• Correspondem à medula óssea e ao timo. Esses
órgãos são os locais iniciais de desenvolvimento de
linfócitos. Eles fornecem ao corpo linfócitos
maduros, mas ingénuos - isto é, linfócitos que ainda
não foram ativados por um antígeno específico.

Órgãos linfoides secundários


• Incluem os gânglios linfáticos, baço, amígdalas e
acúmulos de linfócitos no revestimento dos tratos
intestinal, respiratório, genital e urinário. É nos
órgãos linfoides secundários que os linfócitos
ingénuos são ativados para participar nas respostas
imunes adaptativas.

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COMPONENTES CELULARES DO SISTEMA IMUNITÁRIO


Granulócitos

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COMPONENTES CELULARES DO SISTEMA IMUNITÁRIO

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COMPONENTES CELULARES DO SISTEMA IMUNITÁRIO

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Inflamação
 É um processo normal da resposta biológica a estímulos nocivos, como bactérias que entram
no corpo. Em suma, o objetivo da inflamação é restaurar a homeostase ajudando o tecido
lesionado a retornar ao seu estado normal. Pode ser classificada como aguda ou crónica.
 Uma bactéria que entre pela ferida resultante de um pequeno corte no dedo resulta numa
resposta inflamatória aguda (ou seja, breve). Os sinais clínicos de inflamação localizada são
vermelhidão, inchaço, calor e dor. A inflamação local ocorre devido a uma cascata de eventos
desencadeados pelo sistema imunológico inato.
 A vermelhidão, o inchaço e o calor ao redor do tecido lesionado resultam do aumento do
fluxo sanguíneo para a área danificada. Esse aumento do fluxo sanguíneo é desencadeado
pela libertação de substâncias químicas dos fagócitos que são convocados para a área
infectada. De facto, tanto os macrófagos como os neutrófilos libertam substâncias químicas
(por exemplo, bradicinina) que promovem a vasodilatação (ou seja, aumento do diâmetro dos
vasos sanguíneos). A vasodilatação resultante aumenta o fluxo sanguíneo e a recolha de
fluido (isto é, edema) ao redor do tecido lesionado. A dor associada a esse tipo de resposta
inflamatória local vem de substâncias químicas (por exemplo, quininas) que estimulam os
receptores da dor na área inflamada.

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Inflamação
 A inflamação sistémica crónica ocorre em situações de infeção persistente (por exemplo,
tuberculose) ou ativação constante da resposta imune como experimentada durante doenças
como o cancro, insuficiência cardíaca, artrite reumatóide ou doença pulmonar obstrutiva
crónica (DPOC). Curiosamente, tanto a obesidade como o envelhecimento também estão
associados à inflamação crónica.
 Independentemente da causa, a inflamação crónica está associada ao aumento de citocinas
circulantes e às chamadas “proteínas de fase aguda”, como a proteína c-reativa. Níveis
cronicamente elevados de citocinas e proteínas c-reativas são prejudiciais porque os níveis
sanguíneos dessas proteínas parecem contribuir para o risco de muitas doenças, incluindo
doenças cardíacas.
 Também é importante perceber que a inflamação sistémica crónica não é “tudo ou nada”, mas
pode existir em diferentes níveis que são frequentemente descritos como inflamação de “alto
grau” ou “baixo grau”. Um nível grave de inflamação de “alto grau” pode ocorrer em pacientes
que sofrem de certos tipos de cancro ou artrite reumatóide. Em contraste, mesmo na ausência
de doenças diagnosticadas, pode existir inflamação de baixo grau tanto em indivíduos mais
velhos como em obesos. Mesmo a inflamação de baixo grau tem sido associada ao aumento
do risco de cancro, doença de Alzheimer, diabetes e doenças cardíacas

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Fisiologia do Exercício 10/04/2023

Resumindo…

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Exercise Immunology

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Fisiologia do Exercício 10/04/2023

EFEITOS AG UDOS E CRÓN ICOS D O EXERCÍCIO N O SISTEMA IMUNITÁRIO

A resposta aguda depende da intensidade e duração do


esforço
 Exercícios moderados e vigorosos são diferenciados por
um limiar de intensidade de 60% do consumo de
oxigénio e FC reserva e um limiar de duração de 60 min.
 O exercício agudo (intensidade moderada a vigorosa,
menos de 60 min) é agora visto como um importante
adjuvante do sistema imunitário para estimular a troca
contínua de subtipos de células imunológicas distintos e
altamente ativos entre a circulação e os tecidos.

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EFEITOS AG UDOS E CRÓN ICOS D O EXERCÍCIO N O SISTEMA IMUNITÁRIO

A resposta aguda depende da intensidade e duração


do esforço
 Em particular, cada sessão de exercício melhora a
atividade antipatogénica dos macrófagos do tecido
em paralelo com uma recirculação aumentada de
imunoglobulinas, citocinas anti-inflamatórias,
neutrófilos, células NK, células T citotóxicas e
células B imaturas.
 Com exercícios quase diários, essas mudanças
agudas operam por meio de um efeito de soma para
aumentar a atividade de defesa imunológica e a
saúde metabólica.

Fig. 3. Acute exercise stimulates the interchange of innate


immune system cells and components between lymphoid tissues
and the blood compartment. Although transient, a summation
effect occurs over time, with improved immuno surveillance
against pathogens and cancer cells and decreased systemic
inflammation.

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EFEITOS AG UDOS E CRÓN ICOS D O EXERCÍCIO N O SISTEMA IMUNITÁRIO

 Em contraste, altas cargas de trabalho de treino, eventos


de competição e o stress fisiológico, metabólico e
psicológico associado estão ligados a perturbações
imunológicas transitórias, inflamação, stress oxidativo,
dano muscular e aumento do risco de doenças.
 O metabolismo e a imunidade estão inextricavelmente
entrelaçados, fornecendo novos insights sobre como
exercícios intensos e prolongados podem causar disfunção
imunológica transitória, diminuindo a capacidade
metabólica das células imunológicas.

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EFEITOS AG UDOS E CRÓN ICOS D O EXERCÍCIO N O SISTEMA IMUNITÁRIO

 O risco de doença pode aumentar quando um atleta compete,


passa por ciclos repetidos de esforços invulgarmente
pesados e experimenta outros fatores de estresse para o
sistema imunológico. 5%
 A riqueza de dados epidemiológicos de doenças agudas
recolhidos durante eventos de competição internacional
revelou que 2–18% dos atletas de elite experimentam
episódios de doenças, com proporções mais altas para
mulheres e aqueles envolvidos em eventos de resistência.
 Outros fatores de risco de doença incluem altos níveis de
depressão ou ansiedade, participação em períodos de treino
incomumente intensivos com grandes flutuações, viagens
internacionais em vários fusos horários, participação em
eventos competitivos especialmente durante o inverno, falta de
sono e baixa ingestão de energia na dieta alimentar.

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Fisiologia do Exercício 10/04/2023

EFEITOS AG UDOS E CRÓN ICOS D O EXERCÍCIO N O SISTEMA IMUNITÁRIO

 O COI também se concentrou na gestão de carga de fatores internos (por exemplo, respostas
psicológicas) e externos (por exemplo, cargas de trabalho de treino e competição) e estratégias
de estilo de vida (por exemplo, higiene, suporte nutricional, vacinação, sono regular) para
reduzir a incidência de doenças e quedas associadas no desempenho do exercício, interrupções
no treino, eventos competitivos perdidos e risco de complicações médicas sérias.

Gestão da carga de treino e competição:


a) Desenvolva um plano de treino e competição detalhado e individualizado que também forneça
recuperação suficiente usando sono, nutrição, hidratação e estratégias psicológicas.
b) Use pequenos incrementos ao alterar a carga de treino (normalmente menos de 10% por semana).
c) Desenvolva um calendário de eventos de competição baseado na saúde do atleta.
d) Monitorize os primeiros sinais e sintomas de overreaching, overtraining e doença.
e) Evite o treino intensivo quando estiver doente ou experienciando os primeiros sinais e sintomas de
doença (que podem tornar a doença mais grave e prolongada).
f) Participe de sistemas de vigilância contínua de doenças por agências desportivas.

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I N F L U Ê N C I A S C L Í N I C A S D A S R E S P O S TA S I M U N O L Ó G I C A S A O E X E R C Í C I O C R Ó N I C O

 Os ensaios clínicos randomizados e os estudos epidemiológicos


sustentam consistentemente a relação inversa entre o treino físico
moderado e a incidência de IVAS. Esses dados levaram ao
desenvolvimento do modelo da curva J que vincula o risco de IVAS com
o contínuo da carga de trabalho do exercício. Vários estudos
epidemiológicos também sugerem que a atividade física regular está
associada à redução das taxas de mortalidade e incidência de influenza
e pneumonia.
 O treino físico regular tem uma influência antiinflamatória geral
mediada por várias vias. Estudos epidemiológicos mostram
consistentemente níveis diminuídos de biomarcadores inflamatórios em
adultos com níveis mais elevados de atividade física e aptidão, mesmo
após o ajuste para fatores de confusão potenciais, como o IMC.
 Há evidências crescentes de que o aumento da circulação nas células
do sistema imunológico inato com cada sessão de exercícios e o efeito
Fig. 5. J-curve model of the relationship between the
antiinflamatório e antioxidante do treino físico têm um efeito de soma exercise workload continuum and risk for upper
ao longo do tempo na modulação da tumorigénese, aterosclerose e respiratory tract infection (URTI). Other factors such
outros processos de doença. as travel, pathogen exposure, sleep disruption, mental
stress, and dietary patterns may influence this
relationship. This figure was adapted from Nieman.95

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Fisiologia do Exercício 10/04/2023

I N T E R A Ç Õ E S N U T R I C I O N A I S N A S A LT E R A Ç Õ E S I N D U Z I D A S P O R E X E R C Í C I O S

 Estudos recentes indicam que o exercício e a aptidão física


diversificam a microbiota intestinal, mas mais pesquisas em
humanos são necessárias para determinar as ligações potenciais à
função imunológica em atletas e indivíduos em boa forma física.

 As estratégias nutricionais mais eficazes para atletas,


especialmente quando avaliadas de uma perspectiva multiómica,
incluem o aumento da ingestão de carboidratos e polifenóis.
 Um achado consistente é que a ingestão de carboidratos durante
exercícios prolongados e intensos, seja de 6% a 8% de bebidas ou
frutas açucaradas, como bananas, está associada à redução das
hormonas de stresse, diminuição dos níveis sanguíneos de
neutrófilos e monócitos e diminuição da inflamação.
 Os fenólicos derivados do intestino circulam por todo o corpo após
o aumento da ingestão de polifenóis, exercendo uma variedade de
efeitos bioativos que são importantes para os atletas, incluindo
efeitos antiinflamatórios, antivirais, antioxidantes e de sinalização
de células imunológicas.

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O EXERCÍCIO INFLUENCIA A IMUNOSENESCÊNCIA

A imunosenescência é definida como desregulação imunológica


com o envelhecimento e está relacionada a um aumento da
suscetibilidade a infeções, doenças autoimunes, neoplasias,
doenças metabólicas, osteoporose e distúrbios neurológicos.

Evidências recentes indicam que a


imunidade pode ser remodelada durante o
▪ Respostas de vacinação aprimoradas
processo de envelhecimento como resultado
▪ Números menores de células T exauridas / senescentes
de interações com o meio ambiente e o
▪ Aumento da capacidade proliferativa de células T
estilo de vida e é fundamental para moldar
▪ Níveis circulatórios mais baixos de citocinas inflamatórias
o estado imunológico na velhice. As
(ou seja, diminuição do "envelhecimento inflamatório")
interações do sistema imunológico com os
▪ Aumento da atividade fagocítica dos neutrófilos
patógenos, o microbioma do hospedeiro, as
▪ Resposta inflamatória reduzida ao desafio bacteriano
influências nutricionais e de exercício, o
▪ Maior atividade citotóxica das células NK
stress mental e muitos outros fatores
▪ Comprimentos mais longos dos telómeros de leucócitos
extrínsecos são considerados moduladores
cruciais do processo de imunosenescência.

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Fisiologia do Exercício 10/04/2023

Fig. 2 Illustration of circulating cytokines released in response to exercise

Exercise induces significant physiological changes in the


immune system, including characteristic cytokine responses.
Most notable is a marked elevation in musclederived IL-6
which, despite being traditionally regarded as a potent pro-
inflammatory cytokine, helps orchestrate an anti-
inflammatory immune response in exercise. Despite IL-6 and
pro-inflammatory cytokines being implicated in various
chronic musculoskeletal conditions, this exercise-induced
increase in IL-6 does not appear to lead to inflammatory
exacerbations in these conditions, with exercise generally
conferring beneficial effects. This interaction raises intriguing
questions about how to best utilize this effect for the
treatment of these conditions and offers.
Docherty, S., Harley, R., McAuley, J.J. et al. The effect of exercise on cytokines: implications
for musculoskeletal health: a narrative review. BMC Sports Sci Med Rehabil 14, 5 (2022).
https://doi.org/10.1186/s13102-022-00397-2

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Fig. 3: Effects of exercise on the immune system.


Chow, L.S., Gerszten, R.E., Taylor, J.M. et al. Exerkines in health, resilience and disease. Nat Rev Endocrinol 18, 273–289
(2022). https://doi.org/10.1038/s41574-022-00641-2

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Fisiologia do Exercício 10/04/2023

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BIBLIOGRAFIA

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