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ANTICONVULSIVANTES

Rodrigo Gonçalves
Anticonvulsivantes

“Mestre, peço ao senhor pelo meu filho,


o meu único filho! Um espírito mau o
agarra, e de repente o menino dá um
grito e começa a espumar pela boca. O
espírito o machuca e não o solta de jeito
nenhum”.
História

 "Epilepsia“ é derivado da palavra grega “epilambanein” que


significa “agarrar ou ataque. “

 1870: John Hughlings Jackson propõe primeiro mecanismo


racional para convulsões.

 1912: Primeiro uso clínico de fenobarbital para tratar a epilepsia


História

 1929 - 1938: Hans Berger desenvolveu o EEG e mostrou a


relação entre as descargas no cérebro e as manifestações
clínicas das crises epilépticas.

 1938: Merritt e Putnam estudaram sistematicamente 746


compostos e descobriram a fenitoína como droga
anticonvulsivante eficaz.
Epilepsia
“...desordem episódica do SNC, resultante de uma descarga
excessivamente sincronizada e sustentada de um grupo de
neurônios”

O indivíduo tem convulsões recorrentes.

(Hughlings Jackson, 1890)


Convulsão

Alteração transitória do comportamento devido a


descargas rítmicas, sincronizadas e desordenadas de
uma população de neurônios do SNC.

A convulsão representa uma manifestação somática da


epilepsia, com ou sem abalos tônicos e/ou clônicos .

( Mc Namara, 1894)
Principais causas da Convulsão
• Traumas na cabeça;
• Meningite;
• Desidratação grave;
• Intoxicações ou reações a medicamentos;
• Hipoxemia perinatal;
• Hipoglicemia;
• Epilepsias;
*É ausência ou diminuição de oxigênio
• Febre no cérebro durante o nascimento
Tipos de Convulsões Epilépticas
Convulsão focal com a propagação
para regiões corticais adjacentes e
contralaterais.

Convulsões focais com generalização


secundária. Ativação de centros
subcorticais (A), que em seguida,
ativam o córtex inteiro (B)

Crise de ausência generalizada


primária. Córtex difusamente
hiperexcitado.
Tipos de Convulsões

 Convulsões Parciais e  Convulsões Generalizadas


Focais
 Parcial simples  Crise de ausência
 Parcial complexa  Convulsão mioclônica
 Parcial com convulsão  Convulsão tônico - clônica
secundariamente
 Convulsão atônica
generalizada
Classificação das Convulsões

PARCIAL Frequência Perda de Duração Características


(FOCAL) Consciência
20 - 60 Distúrbios motores focais (grupos
Parcial simples 10 % Não seg musculares específicos), sensorial (p.
ex., sensações de formigamento,
calor ou frio) ou distúrbios da fala
Sintomas complexos; comportamento
confuso, amnésia, frequentemente
Parcial Complexa 35 % Breve 30 seg a associada com automatismos
2 min (movimentos voluntários)

Parcial com crise Epilepsia simples ou parcial


convulsiva tônico- complexa; evolui para perda de
clônica 10 % Sim 1 - 2 min consciência, extensão rígida de
secundariamente tronco e membros (tônica), em
generalizada seguida, contração rítmica dos braços
e pernas (clônicas)
GENERALIZADA Frequência Perda de Duração Características
Consciência
Perda de consciência; forte
contração do músculo
Tônico-clônicas 30 % Sim 1 - 5 min esquelético; extensão rígida de
(Grande mal) tronco e membros (tônicas)
seguida de contrações rítmicas
dos braços e pernas (clônicas)

Abrupto início, breve perda da


Ausência (pequeno consciência, cessação de
mal) 10 % breve < 30 seg atividades e olhar fixo.
Geralmente em crianças (3-15
anos)
Breve contração dos músculos;
pode ser limitada a uma parte das
Mioclônica <3% Não 1 - 5 seg extremidades ou podem ser
generalizadas. Podem ocorrer em
grupos durante vários minutos
GENERALIZADA Frequência Perda de Duração Características
Consciência
Perda repentina do tônus
postural levando a flacidez da
Atônico/Acinético <2% Sim 5 seg - mins cabeça. Congelamento de
movimentos

Estado de atividade
convulsiva contínua de > 5
min, 2 ou mais crises
Estado de Mal 7% Sim >5 min discretas entre as quais a
Epiléptico consciência não é
recuperada. Esta é uma
emergência médica que pode
ser fatal
Registros EEG na convulsão

(frontal) 1: registro normal


2: fase tonica
(temporal) 3: fase clonica
4: coma pós-
(occipital) convulsivo

Eletroencefalograma
Qual é o Tratamento?
Drogas antiepilépticas

 Agentes utilizados para estabilizar membranas neuronais e


reduzir a repetição de estímulos associados a convulsões.

 Usadas para reduzir sinais clínicos.

 Melhoram a qualidade de vida dos pacientes epilépticos

Cada paciente é um caso diferente...


Anticonvulsivantes

Alívio dos
Longo Prazo
sintomas

TERAPÊUTICA POR
ANTICONVULSIVANTES

↑ Efeito
Adversos Baixa adesão
Anticonvulsivantes

 Objetivos da terapia anticonvulsivante

 Reduzir frequência

 Reduzir duração

 Produzir mínimos efeitos colaterais


Anticonvulsivantes

Barbitúricos Benzodiazepínicos

Hidantoinas Dibenzazepinas

Oxazolinodionas Àcido Valproíco e derivados

Derivados do GABA
Succinimidas

Triazínicos
Principais Ações Farmacológicas

Potencialização da Neurotransmissão
GABAérgica

Bloqueio de Canais iônicos (sódio e cálcio)

Antagonismo de Neurotransmissores
excitatórios (GLUTAMATO)
Potencialização GABAérgica
Inibição de Canais Iônicos

Canais de Sódio
Inibição de Canais Iônicos

Canais de Cálcio
Antagonismo dos Receptores de Glutamato

O Glutamato é o principal neurotransmissor excitatório do SNC


Principais anticonvulsivantes e seus efeitos adversos
FENITOÍNA

Mecanismo de Ação
Redução da velocidade de recuperação da inativação dos canais de
Na+ dependente de voltagem
FENITOÍNA

Indicação: crises parciais (com ou sem generalização secundária), crises tônico-


clônicas e estado epilético

NÃO DEVE SER USADA EM CRISES DE AUSÊNCIA


FENITOÍNA

Hiperplasia gengival
Relacionados ao uso prolongado da fenitoína

Hisurtismo
Interação medicamentosa

 Valproato
 Reduz o metabolismo da fenitoína e sua ligação às proteínas
plasmáticas
 Carbamazepina
 Potencializa seu metabolismo
 É um indutor enzimático;
metabolismo do paracetamol
hepatotoxicidade
Orientações

 Escovar os dentes, usar fio dental e cuidar dos dentes


regularmente;

 Diabéticos – determinar a glicemia com maior frequência;

 Perguntar ao médico a necessidade de utilizar suplementos


vitamínicos (cálcio, vitamina D, vitamina K).
Orientações

 Comunicar ao médico se apresentar:


 Vômitos intensos
 Sangramento
 Edema ou dor na gengiva
 Cor amarelada dos olhos
 Aumento dos linfonodos
 Febre inexplicável, dor de garganta
 Gravidez
Orientações

Se estiver utilizando suspensão, agite bem o frasco imediatamente antes


do uso e meça a quantidade com um copo medida calibrado ou colher
medida.

 NÃO utilize colher doméstica.


FENOBARBITAL

Mecanismo de Ação

Potenciação da inibição sináptica através de ação sobre o receptor GABAA


Fenobarbital

Indicação: crises parciais (com ou sem generalização secundária), crises


generalizadas (menos a crise de ausência), estado epilético

Características Farmacocinéticas:

 Biotransformação hepática
 T ½: 3–5 dias (adulto), 1-5 dias (criança)
Fenobarbital
Interação Medicamentosa
Forte indutor enzimático
enzimas da fase II
Diminuição:
vitamina D, fenitoína,
anticoncepcionais orais,
betabloqueadores, antidepressivos
tricíclicos, warfarina, digoxina
• Pode ser usado em associação a
outras drogas (sinergismo com
depressores do SNC)
CARBAMAZEPINA

Mecanismo de Ação

Redução da velocidade de recuperação da inativação dos canais de Na+


dependente de voltagem
Carbamazepina

 Indicação: crises parciais (com ou sem generalização secundária), crises tônico -


clônicas

 Características Farmacocinéticas:

 Biotransformação hepática

 Auto-indutor enzimático

NÃO DEVE SER USADA EM CRISES DE AUSÊNCIA


Uso Clínico

 Crises complexas parciais;

 Crises tônico - clônicas generalizadas;

 Distúrbio convulsivos menores ou parciais;

 Alternativa ou adjuvante ao lítio no transtorno bipolar;

 Dor crônica;

 Síndrome de abstinência do álcool.


OXCARBAZEPINA

Mecanismo de Ação

Redução da velocidade de recuperação da inativação dos canais de Na+


dependente de voltagem
Oxcarbazepina

Indicação: crises tônico - clônicas, monoterapia para crises parciais em


adultos ou coadjuvante para crises parciais em crianças

 Características Farmacocinéticas:

 Biodisponibilidade: 100%

 Biotransformação hepática: não gera metabólito tóxico

Obs: não faz indução enzimática


Precauções

 Realizar contagem de plaquetas e hemograma antes de iniciar o tratamento;

 Alertar o paciente para possíveis sinais de depressão medular (febre, dor de


garganta, infecções)

 Especial atenção a pacientes que fazem restrição dietética de sódio ou


àqueles tratados com diuréticos;

 A suspensão é armazenada em temperatura ambiente e deve ser usada em


7 semanas após a abertura do frasco;
VALPROATO
Valproato (Dekapene)

 Ações: acúmulo de GABA (inibe GABA-transaminase) e


interage com canais de Na+

 T1/2 = 15 horas

 Usos: crises generalizadas e ausência

 Pode ser associado ao fenobarbital, porém induzem


hepatotoxicidade
Valproato (Dekapene)

 Farmacocinética

 Biodisponibilidade de 100%

 Absorção é retardada na presença de alimento

 Metabolismo hepático

 Produz metabólito tóxico


Valproato (Dekapene)
Orientações

 Tomar o ácido valpróico ao deitar pode reduzir a tontura e a sonolência;


 Monitorar o desenvolvimento de dor abdominal, náuseas, vômito e/ou
anorexia – pancreatite
 Realizar hemograma com contagem de plaquetas e provas
de funções hepáticas periodicamente;
 Lembrar que os efeitos colaterais gastrintestinais desaparecem após as
primeiras semanas de uso;
GABAPENTINA

Mecanismo de Ação

Promovem a liberação do GABA


Gabapentina

 Farmacocinética
• Biodisponibilidade: 60%

• Ligação PP: 0%

• Biotransformação: não existe

• Excreção: renal
Gabapentina
Efeitos colaterais:
• Sonolência (20%)
• Tonturas (17%)
• Ataxia (13%)
• Fadiga (11%)
• Ganho de peso
• Indicação: Coadjuvante no tratamento das crises parciais
• Interações Medicamentosas: Não se conhece
TOPIRAMATO
Topiramato

Indicação: Crises parciais e generalizadas (eficácia contra crises de ausência


não comprovada)
 Farmacocinética
 Biodisponibilidade: 80%
 Ligação PP: 13-17%
 Excreção: renal
 Risco de teratogenicidade
Topiramato

 Efeitos colaterais
 Perda de peso
 Sonolência  Disf. Fala
 Tonturas  Lent. Psicomot
 Fadiga
 Disf. Visual
 Confusão
 Disf. Memória
 Náusea
Orientações

 Recomendar uma hidratação adequada para evitar a litíase.

 Não operar máquinas ou dirigir automóveis no período de


estabilização da droga.

 Em pacientes com insuficiência renal deverá ser realizado o


ajuste da dose.
LAMOTRIGINA

Mecanismo de Ação

Redução da velocidade de recuperação da inativação dos canais de Na+


dependente de voltagem
Lamotrigina

É útil em monoterapia e tratamento adjuvante para as crises parciais e tônico-


clônicas secundariamente generalizadas nos adultos
 Farmacocinética
 É absorvida por VO
 Metabolizada principalmente por glicuronidação
 Meia-vida  24-30 horas
 Toxicidade
 Tontura, turvação visual e exantema
Lamotrigina

 Efeitos colaterais:
 Sonolência

 Tonturas

 Ataxia

 Cefaléia

 Rash cutâneo (10%)

Principais efeitos colaterais: reações de hipersensibilidade


BENZODIAZEPÍNICOS
Benzodiazepínicos

 Diazepam

 Clonazepam t 1/2 muito curto

 Clorazepato

 Ação sobre o GABA

Várias administrações ao dia ?


Benzodiazepínicos

 Diazepam

 Usado via e.v. (emergências) , v.o. e via retal (crianças)

 Metabólitos ativos

 t 1/2 = 1h a 24 h
Benzodiazepínicos: Farmacocinética

 Os BZPs e seus metabólitos ativos ligam-se às proteínas plasmáticas


(70 e 90%)

 Capacidade de ligação esta fortemente relacionada à solubilidade


lipídica

 BZPs atravessam a barreira hematoencefálica e são excretados no leite


materno
ETOSSUXIMIDA
Etossuximida

Agente primário para o tratamento de crise de ausência


Propriedades Farmacocinéticas
 Absorção completa ( pico de [ ] no plasma é de 3 horas após adm.
VO)
 Não se liga significativamente a proteínas plasmáticas
 25% do fármaco inalterado é excretado na urina
 T ½  40 a 50 h em adultos ; 30 h em crianças
Etossuximida: Efeitos Colaterais

 Náusea , vômito, anorexia


 Sonolência, letargia, euforia, tonteira, soluço, alterações do
humor, cefaléia
 Parkinsonismo e fotofobia
 Agitação, inquietude, ansiedade, agressividade, incapacidade
de concentração
 Urticária, reação cutânea, síndrome de Steve-Johnson
VIGABATRINA
Vigabatrina

 Atua ao inibir a GABA transaminase

 Eficaz em pacientes que não respondem a fármacos


convencionais

 Principais efeitos colaterais: sonolência, alterações


comportamentais e de humor
Precauções

 Aumentar a dose gradualmente para diminuir o rash cutâneo

 Utilizar protetor solar

 Interromper o uso gradualmente


 TIAGABINA
 Inibidor da recaptação de GABA

 Efeitos colaterais: tonteira e confusão


FARMÁCO CUSTO
Carbamazepina 91-137
Etossuximida 178 - 268
Fenobarbital 4-10
Fenitoína 44 – 59
Valproato 136 - 476
Gabapentina 236 - 601
Lamotrigina 333 - 491
Oxcarbazepina 164 - 608
Tiagabina 168 - 323
Topiramato 149 – 601
Convulsões Crises de Convulsões Convulsões Convulsões em Estado Epiléptico
Parciais simples e Ausência Mioclônicas Febris lactentes e e outras
complexas e crianças menores emergências
tonico-clônicas convulsivas
- Carbamazepina - Etossuximida -Ácido Valproico - Diazepam - Vigabatrina - Diazepam
- Fenitoína - Ácido - Lamotrigina seguido por
Valproico - Topiramato fenitoína,
- Lamotrigina lorazepam,
fenobarbital e
fenitoína isolada
Princípios Gerais e Escolha de
Fármacos para a terapia das Epilepsias

O tratamento deve ser iniciado???

Monoterapia
Efeitos
Eficácia Indesejáveis

Politerapia

Monitoramento
do paciente
Atividade para

 Anexo sobre as Orientações gerais


ao Paciente
Orientações Gerais ao Paciente
Orientações Gerais ao Paciente

 Auxiliar a descobrir fatores precipitantes das crises:

• Consumo de bebidas alcoólicas ou estimulantes

• Febre

• Estresse físico ou emocional

• Estímulos sensoriais (luzes piscando, som alto)


Orientações Gerais ao Paciente

 Discutir com o paciente e familiares sobre o transtorno


epiléptico, o plano para tratamento e a importância da
adesão da terapia prescrita

 Informar que o controle das crises não ocorre


imediatamente após o início da terapia
Orientações Gerais ao Paciente

 Informar a outros médicos, dentistas ou farmacêuticos sobre


o uso de anticonvulsivantes

 Comunicar ao médico se estiver grávida ou pretende


engravidar durante o tratamento

 Orientar os familiares de como proteger o paciente durante


uma crise tônico - clônica generalizada
Medidas Durante a Crise
Medidas Durante a Crise

 Colocar um travesseiro ou uma peça de roupa sob a cabeça

 Não conter os movimentos, pois pode causar fraturas

 Afrouxar roupas apertadas, principalmente em torno do pescoço e tórax

 Virar o paciente de lado para que as secreções acumuladas possam ser


drenadas da boca e garganta quando cessarem os movimentos
convulsivos

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