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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE


DEPARTAMENTO DE PARASITOLOGIA E MICROBIOLOGIA
DISCIPLINA PARASITOLOGIA MÉDICA

Dípteros muscoides de
interesse médico

Prof. Vagner José Mendonça


Filo Arthropoda

Pés articulados
1.500.000 espécies descritas
Exoesqueleto quitinoso
Classe Arachnida e Insecta
Relação Homem - Artrópode

• Insetos úteis
• Insetos nocivos
– Pragas de plantas cultivadas
– Agentes de Doenças
– Biológicos
Classe Ordem/Família Doença Gênero/Espécie
Insecta Diptera  
  Calliphoridae (moscas varejeiras) Miíases Cochliomyia
  Oestridae (mosca do berne) Deramtobia hominis
  Siphonaptera  
  Tungidae Bicho-de-pé Tunga penetrans
  Anoplura  
  Pediculidae Pediculose Pediculus
  Phthiridae Chato Phthirus pubis
  Hemiptera  
  Cimicidae Dermatose Cimex lecticularius
Arachnida Acarina  
  Sarcoptidae (ácaros) Sarna Sarcoptes scabiei
– Químicos

Classe Ordem/Família Doença Gênero/Espécie


Insecta Hymenoptera  
  Vespidae (vespas) Envenenamento por Gymnopolybia
picadas
Apidae (abelhas) Apix, Bombix
  Formicidae (formigas) Solenopis
Arachnida Araneae  
  Ctenidae (armadeira) Envenenamento por Phoneutria
picadas
Licosydae (tarântula) Lycosa
Theridiidae (viúva-negra) Latrodectus
  Sicariidae (aranha-marrom) Loxosceles
  Scorpionida Cimex lecticularius
Buthidae (escorpiões) Tytus

– Vetores mecânicos

Classe Ordem/Família Doença Gênero/Espécie


Insecta Blattaria  
  Blattidae Infecções intestinais Periplaneta, Blatella
Diptera  
Muscidae Amebíase, giardíase, Musca domestica
ascaridíase
– Vetores biológicos

Classe Ordem/Família Doença Gênero/Espécie


Insecta Diptera  
  Culicidae (mosquitos) Malária Anopheles
  Filariose Culex
Psychodidae (flebotomíneos) Leishmanioses Lutzomyia, Phlebotomus
  Simuliidae (borrachudos) Oncocercose Simulium
  Hemiptera  

Reduviidae (barbeiros) Doença de Chagas Triatoma, Rhodnius, Panstrongylus


Siphonaptera  
  Pulicidae (pulgas) Peste Xenopsylla, Pulex
Classificação
Reino Animalia
Filo Arthropoda
Classe Insecta
Ordem Hemiptera

Ordem Diptera

Subordem Nematocera Subordem Brachycera


Família Culicidae Infraordem Tabanomorpha
Família Psychodidae
Família Tabanidae

Infraordem Muscomorpha
Família Muscidae
Família Calliphoridae
Família Oestridae
Muscidae
Muscomorpha

Moscas domésticas, varejeiras, berne,


mosca tsé-tsé
Calliphoridae

Brachycera
Oestridae

Stratiomyidae
Tabanomorpha Tabanidae
Rhaginonidae
Mutucas Asilidae
- Importância dos dípteros muscoides

• Algumas espécies são hematófagas • Decompositoras de matéria orgânica


• Sinantropia e veiculação de patógenos • Alimento de diversos animais
• Agentes de miíase • Controle biológico
• Entomologia forense e terapia larval
• Polinização
Morfologia Geral (Brachycera)

brachy = curta; cera = antena


Antenas com 3 segmentos
Aparelho bucal:
- picador-sugador/ lambedor/ atrofiado
3 pares de pernas (hexápoda)
Grupos com sutura frontal
Presença de caliptra
Sutura frontal
Calíptera
Dobra da asa (na base) de
cor leitosa que recobre o Cicatriz deixada
balancim após saída do
pupário Antenas

Peças bucais

Picador-sugador
Lambedor
Diferenças entre os dois grupos de moscas

Tabanomorpha Muscomorpha

3º segmento da antena em Presença de arista na base do


forma de estilete 3º segmento da antena
Tabanomorpha (Tabanidae= mutucas)

Picam em diferentes horários

Ovos postos em plantas aquáticas Larvas migram para a água

Maduras, voltam para o ambiente seco

Adulto Pupa
Tabanomorpha (Tabanidae= mutucas)
Até 3 cm

♀hematófagas
♂fitófagos Biologia:
Hábitos diurnos, abundantes durante o verão
Oviposição: rochas ou plantas aquáticas
Desenvolvimento larval lento (1-3 anos)
Tabanomorpha (Tabanidae= mutucas)

Fêmea (dicópticas) Machos (holópticos)


Tabanomorpha (Tabanidae= mutucas)
Picada muito dolorosa

- Peças bucais grossas

- Percepção da fonte alimentar

- Mudança frequente do ponto de sucção:


filetes de sangue escorridos na pele

- Irritação
Tabanomorpha (Tabanidae= mutucas)
- Veiculação e ovos do berne
- Vírus (anemia em equínos)
- Trypanosoma equinum (mal das cadeiras)
- hospedeiro intermediário (Chrysops sp.) de Loa loa na África.
Infraordem Muscomorpha
(=Cyclorrhapha)

o Emergência do invólucro pupal – abertura circular


o Antenas com 3 segmentos: arista
o Cabeça distinta do tórax, grande parte ocupada pelos olhos (omatídeos)
o Posição dos olhos: machos (holópticos) e fêmeas (dicópticas)
o Moscas (dípteros muscóides): vetores mecânicos e biológicos
o 62 Famílias e milhares de espécies
Ciclo
Biológico
Importância médica
Sinantrópicos
Hematófagos
Agentes de miíases

Família Muscidae
Subfamília Muscinae
Musca domestica
Sinantrópico e endofílico
6 a 8 mm
4 faixas no tórax e abdômen amarelado
Lambedora
Disseminação mecânica de patógenos como bactérias, cistos
de protozoários, ovos de helmintos – alimentação
(regurgitação), empódios
75-170 ovos

5 – 8 dias
24 horas

4 – 6 dias
Indicadores de baixa qualidade dos serviços sanitários

Coleta e tratamento do lixo, recolher fezes dos


Como evitar as animais, produção de adubo e manejo com
moscas domésticas? predadores, inseticidas e armadilhas usando iscas
(solução concentrada de açúcar ou outros)

Armadilhas comerciais
+ barbantes embebidos com inseticidas e açúcar
Moscas causadoras de miíases
 Definição: “Infestação/infecção de vertebrados vivos por lavas de dípteros que, pelo
menos por certo período, alimentam-se de tecidos vivos ou mortos do hospedeiro, de
substâncias corporais líquidas, ou do alimento por ele ingerido”.
 Pelo menos parte do desenvolvimento sobre ou dentro do hospedeiro.
 myie = mosca; ase = doença (bicheira).
 Míiases furunculares e traumáticas (zoodermatose)
 - cutânea, subcutânea, cavitárias, ocular, anal, vaginal, etc.
Obrigatórias: miíases primárias (dentro ou sobre o vertebrado vivo)
Facultativas: miíases secundárias (matéria orgânica em decomposição e tecido necrosado de
hospedeiro vivo)
Pseudomiíase: “acidental” (ingestão das larvas – “bicho-da-goiaba”)
OBRIGATÓRIAS FACULTATIVAS PSEUDOMIÍASES

BIONTÓFAGAS NECROBIONTÓFAGAS ACIDENTAL

Família Calliphoridae Família Sarcophagidae Família Tephritidae


Espécie: Cochliomyia Espécie: Sarcophaga sp. Espécie: Anastrepha spp.
hominivorax
Família Oestridae
Espécie: Dermatobia hominis
Família Calliphoridae

- “Varejeiras”
- Arista plumosa
- Corpo metálico
- Peças bucais: lambedor (matéria orgânica)
- Vetores mecânicos de patógenos
- Gêneros Neotropicais importantes: Chrysomya, Cochliomyia, Lucilia e Calliphora
Cochliomyia hominivorax

- “Mosca da bicheira” – 8mm


- Palpos filiformes
- Escudo com 3 faixas pretas longitudinais
- miíase primária

- Larvas: troncos traqueais pigmentados

0,5-1,5cm (maduras)
dois estigmas respiratórios
três espiráculos, além das peças bucais na
extremidade anterior
Cochliomyia hominivorax
Única cópula – postura dos ovos (10-300/dia)
nas aberturas naturais do corpo: narinas,
vulva, ânus e feridas

Miíase é resultante da
destruição dos tecidos pela fase
larval
Miíase Traumática
Miíases Humanas por Cochliomyia hominivorax em
hospitais públicos na cidade do Recife, Pernambuco, Brasil

Nascimento et al., 2005


Quais são os
grupos de
risco?
Conseqüências do parasitismo e Controle de C.hominivorax

Miíase nasal e na
perna provocada por
larvas de
C. hominivorax.
Como é feito o
Após limpar a ferida, anestesiar tratamento?
o local e retirar as larvas com Controle da infestação em
auxílio de pinças Tratar as ovelhas nos EUA: criação e
feridas com assepsia e esterilização de machos no
antibióticos. Cirurgia laboratório e posterior soltura
Coleta e processamento em casos de miíases traumáticas
Lesão

Extração das larvas (éter)

Fixação Criação

Frascos com carne cobertos com


Etanol 75%-80% malha fina

Adultos
Miíase oral: Cochliomyia hominivorax VIDEO 1 E 2
Miíase Vulvar
(Martinez et al 2003)
Relato de caso

- Mulher, 77 anos, com deficiência intelectual, zona rural de Bragança Paulista

- Vivia isolada da família, em péssimas condições de higiene

- Reclamava de úlcera vulvar pruriginosa com secreção purulenta de odor fétido

- Relatava sensação de movimentos larvários no interior da lesão

- Com diagnóstico de miíase vulvar, foi submetida a desbridamento cirúrgico, sob


anestesia. 50 larvas foram retiradas.

- Após a excisão cirúrgica, recebeu antibioticos, antiinflamatório, analgésico. Foram


realizados curativos diários.

- Houve cicatrização completa da ferida cirúrgica e resultado estético satisfatório


Miíase Vulvar
(Martinez et al 2003)
Miíase Vulvar (Martinez et al 2003)
- Mulher, 89 anos, Piauí, 10 filhos, com demência e baixo
nível sócioeconômico

- Vivia em casa sem banheiro e saneamento básico

-Chegou no hospital com prolapso uterino e necrose com


odor fétido

-No exame foram detectadas várias larvas de Cochliomyia


hominivorax

-O útero foi retirado

VIDEO 3
- Homem, 34 anos, morador de rua
(EUA)

- Chegou a emergência do hospital


com infestação nas pernas, pênis,
uretra, escroto e períneo

- VIDEO 4
- 27 anos, homem, Uberlândia, com história de agressão física.

- Exame clínico: fratura mandibular, edema de pálpebras,

- Tomografia: fraturas múltiplas de crânio, atrofia cerebral e fraturas de face e mandibular

- No 8º dia de internação: pneumonia devido à infecção hospitalar

- No 20º dia de internação: miíase oral (+ de 100 larvas)

- Terapêutica: remoção mecânica das larvas, curetagem e antibioticoterapia

- Estabilização do paciente, foi dada alta hospitalar.

- O paciente faleceu em seu domicílio devido ao seu precário estado geral


Família Oestridae

- Peças bucais atrofiadas – formação de reservas


nutritivas na fase larvar

Subfamilia Cuterebrinae

Gênero Dermatobia

- Dermatobia hominis – mosca com abdome azul metálico,


tórax cinza-amarronzado;
- Distribuição no continente americano;
- Miíase obrigatória - “Berne”
Dermatobia hominis Mosca berneira

Morfologia
Gênero Dermatobia

- Odor fétido atrai outros


insetos causdores de miíases
- Larvas podem atingir 2 cm
Miíase Furuncular

VIDEO 5
Controle e Tratamento

- Raspar os pelos da área atingida


- Colar um pedaço de fita esparadrapo
- Aguardar um hora – retirar a fita (a larva deve estar aderida a fita)
- Leve compressão e retirada da larva
- Fumo de corda – nicotina mata a larva
- Nunca retirá-lo vivo – espinhos fortemente aderidos ao tecido
- Tratamento da ferida
Entomologia forense
Uso de insetos em medicina legal: Quando, onde e
como morreu?

Vestígios de insetos (larvas e adultos)


encontrados sobre o cadáver: estimativa do
intervalo pos-mortem de 45 a 51d
Terapia larval
Uso de larvas de moscas para tratamento
de feridas
- Ferimentos de guerra

- Desuso após 1940 (antibióticos)

- Atualmente: casos crônicos de diabetes,


osteomielite, escaras de pressão no leito,
queimaduras infectadas, tumores necrosados.
Método: aplicação de larvas necrobiontófagas (L1) no ferimento (10/cm2)---
cobrir com gaze e vedar---retirada após 1-3 dias (pinças).
Sangramento e prurido podem ocorrer
Espécies usadas: Lucilia sericata
VIDEO 6

Hidrocoloide ou óxido de zinco 5-10 larva/cm2 2-3 dias


Vantagens
Desvantagem
Eliminam o tecido necrótico
Desconforto
Produzem secreções com atividade antimicrobiana
Drenam líquido necrótico
Estimulam a rápida cicatrização

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