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RESUMO DA UNIDADE

A presente unidade, “Humanização da Assistência em Saúde”, tem como base


os Princípios e Diretrizes da Política Nacional de Humanização e seu
Desenvolvimento nos Serviços e nas Práticas de Atenção à Saúde em
Diversas Esferas. Busca-se apresentar, no primeiro capítulo, a Definição do
Conceito de Humanização e o Processo de Construção deste Modo de Cuidar,
Gerir e Trabalhar na Área. Para compreender o sentido desta política – que
também é uma postura diante do trabalho em saúde é preciso recorrer a outros
Conceitos Fundamentais, por exemplo, o Princípio da Transversalidade e o
Paradigma Ético-Estético-Político. O segundo capítulo tem como temática
central a Política Nacional de Humanização (PNH) e algumas de suas
Principais Diretrizes, tais como: Acolhimento, Ambiência, Gestão Participativa,
e Valorização do Trabalhador. O terceiro e último capítulo pretende destacar
outros Princípios da PNH: Protagonismo, Autonomia e Corresponsabilidade; e
a forma como estes Conceitos são Desenvolvidos nas Práticas do Trabalho em
Saúde. Por fim, busca-se compreender os desafios Inerentes à Relação entre
Psicologia e Humanização e a importância da Reflexão Constante em torno
deste Novo Modo de Fazer e Pensar o Campo.

Palavras-chave: Humanização, Cuidado, Acolhimento, Protagonismo e Saúde.


ÍNDICE

CAPÍTULO 1 - HUMANIZAÇÃO: UM OLHAR ÉTICO – ESTÉTICO -


POLÍTICO

1.1. O que é Humanização em Saúde?

1.2. Cuidado Humanizado

1.3. O Princípio da Transversalidade

1.4. A Indissociabilidade entre Atenção e Gestão

1.5. Paradigma Ético-Estético-Político

CAPÍTULO 2- POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO (PNH)

2.1. Método Paideia

2.2. Acolhimento

2.3. Ambiência

2.4. Gestão Participativa e Cogestão

2.5. Valorização do Trabalhador

2.5.1. Saúde do Trabalhador da Saúde: alguns Apontamentos

CAPÍTULO 3- PROTAGONISMO E PRODUÇÃO DE SAÚDE

3.1. Protagonismo e Corresponsabilidade

3.2. Psicologia e Humanização

3.3. Saúde da Mulher

3.4. Humanização Hospitalar

3.5. Práticas Humanizadas

CONSIDERAÇÕES FINAIS

REFERÊNCIAS
APRESENTAÇÃO DO MÓDULO

A Humanização da Saúde é uma temática que envolve o compromisso


dos profissionais com as pessoas, a partir de uma relação de cuidado,
acolhimento e empatia. Essa atitude humana diante do outro é considerada
uma Postura Ética-Estética-Política que transforma e potencializa as relações
dentro de um serviço de saúde. É a partir da Política Nacional de Humanização
(PNH), criada em 2003, que este novo modo de fazer saúde passa a ser
reconhecido. Esse novo olhar para a saúde pressupõe que, em primeiro lugar,
o usuário é um sujeito que necessita ser cuidado integralmente, respeitado em
sua singularidade e reconhecido como parte ativa do processo de produção e
promoção da saúde.

A Humanização é descrita, no campo da saúde, como


uma aposta Ético-Estético-Política. É uma aposta ética
porque envolve a atitude de usuários, gestores e
profissionais de saúde comprometidos e corresponsáveis.
É estética porque se refere ao processo de produção da
saúde e de subjetividades autônomas e protagonistas. E é
política porque está associada à organização social e
institucional das práticas de atenção e gestão na rede do
SUS. (PenseSuS/ FIOCRUZ).

Nesse sentido, é importante ressaltar que a PNH é “uma Política Pública


no SUS voltada para ativação de dispositivos que favoreçam Ações de
Humanização no âmbito da atenção e da Gestão da Saúde no Brasil” (Rede
Humaniza SUS). De acordo com esta definição, entende-se que é uma política
que não se restringe somente os trabalhadores, mas deve orientar todos
aqueles que participam do processo de trabalho e da tomada de decisões.
Assim, trabalhadores e gestores se alinham aos princípios e diretrizes da PNH
para a construção de um trabalho coletivo que seja eficiente e eficaz; que
compreenda a vida em sua complexidade e respeite a todos sem qualquer tipo
de discriminação.

CAMPOS (2005) traz uma importante reflexão acerca da humanização


através da problematização do conceito e de uma análise do contexto
contemporâneo baseado na lógica a produtividade, do desenvolvimento
econômico que pouco se atenta às questões humanas e sociais, o que
contribui para o esquecimento das pessoas. Segundo o autor:

A ordenação do espaço urbano há muito deixou de lado a


preocupação com o bem-estar das pessoas. Em saúde é
comum à redução de pessoas a objetos a serem
manipulados pela clínica ou pela saúde pública. O
humano diz respeito ao Sujeito e à centralidade da vida
humana. (CAMPOS, 2005, p. 399).
Essa é uma questão de grande relevância no campo da Psicologia, que
trabalha diretamente com os conteúdos subjetivos e os desdobramentos das
condições de vida, dificuldades e sofrimentos relacionados a uma sociedade
desigual e excludente. Humanizar a saúde pode parecer uma obviedade, mas
é um processo complexo que exige uma abertura das pessoas enquanto
agentes da mudança. É uma postura ética que implica na forma como as
relações são tecidas no cotidiano do trabalho; é uma transformação na forma
de entender a saúde, o funcionamento das instituições e as práticas de
trabalho e gestão. Não é uma ação isolada, mas um conjunto de princípios que
visam reconhecer a autonomia, o valor e a importância que tem cada neste
processo.
CAPÍTULO 1 - HUMANIZAÇÃO: UM OLHAR ÉTICO – ESTÉTICO
- POLÍTICO
CAPÍTULO 1 - HUMANIZAÇÃO: UM OLHAR ÉTICO-ESTÉTICO-POLÍTICO

“Tornar-se humano pode se transformar em


um ideal, e sufocar-se de acréscimos... Ser
humano não deveria ser um ideal para o
homem que é fatalmente humano, ser humano
tem que ser o modo como eu, coisa viva,
obedecendo por liberdade ao caminho do que é
vivo, sou humana”.

(Clarice Lispector)

1.1. O que é Humanização em Saúde?

A Humanização da Assistência em Saúde é uma temática que abarca


desde os conceitos que embasam teoricamente seus princípios e diretrizes até
sua aplicabilidade nos serviços orientados pela Política Nacional de
Humanização (PNH), através, por exemplo, da Transversalidade e
Indissociabilidade entre Atenção e Gestão. A discussão em torno do tema tem
suas bases teóricas e metodológicas no cuidado humanizado que orienta os
caminhos possíveis para a construção de um trabalho responsável com a vida
do outro; e no Paradigma Ético-Estético-Político baseado na Filosofia da
Diferença e nas formas de produzir uma vida potente, saudável e criativa.
Nesse sentido, é importante compreender quais são as mudanças
necessárias no enfrentamento do Modelo Hegemônico de Fazer/Pensar a
Saúde e quais os desafios a ser superado o processo de implantação deste
novo modo de atenção. Assim, compreende-se o sentido da Humanização
além de uma politica por representar um conjunto de posturas e ações que
visam à desconstrução de um modelo cristalizado pautado em práticas
despontecializadoras. Humanizar a saúde transcende as técnicas e
procedimentos, pois consiste no ato de sensibilizar o trabalho que é coletivo,
nunca isolado, compartilhar os saberes e, principalmente, colocar-se em
relação com o outro – reconhecendo suas potencialidades e estimulando sua
autonomia.
Imagem 1. Humanização

Fonte: Rede Humaniza SUS, 2015

Entende-se por Humanização a valorização dos usuários, trabalhadores


e gestores que participam dos processos de produção de saúde. Valorizar os
sujeitos é priorizar e estimular a sua autonomia, ampliar sua capacidade de
transformação e compartilhar a responsabilidade através da criação de
vínculos, da participação coletiva dos modos de fazer e pensar a saúde.
Produzindo mudanças nos modos de gerir e cuidar, a PNH estimula a
comunicação entre gestores, trabalhadores e usuários para construir processos
coletivos de trabalho. A Humanização é um caminho para a desconstrução de
práticas desumanizadoras que não contribuem para a autonomia e o
protagonismo dos trabalhadores de saúde e dos usuários no cuidado de si.
(MINISTÉRIO DA SAÚDE 2013/2019)1.
Nesse sentido, Humanização é muito além de um conceito dentro de
qualquer arcabouço teórico-metodológico é, antes de tudo, postura, olhar,
forma de fazer e cuidar. É um movimento de repensar práticas cristalizadas no
cotidiano dos serviços, que muitas vezes atrapalham o desenvolvimento de um
trabalho crítico e potencializado.
BENEVIDES e PASSOS (2005, p.390-391) ressaltam a importância de
redefinir o conceito de humanização com base na realidade concreta, a partir
de uma crítica à idealização do humano. Nesse sentido, entende-se que as
1
Fonte: Site do Ministério da Saúde.
definições pautadas exclusivamente em dados estatísticos enquadram e
limitam a diversidade subjetiva da experiência humana. A ideia de normalidade
que essa padronização gera descarta a possibilidade de entender a
humanização em toda a complexidade de suas práticas. Segundo os autores:

O humano não pode ser baseado ali onde se define a


maior incidência dos casos ou onde a curva normal atinge
sua cúspide: o homem normal ou o homem-figura-ideal,
metro-padrão que não coincide com nenhuma existência
concreta (...). Investir na produção de outras formas de
interação entre os sujeitos que constituem os sistemas de
saúde, deles usufruem e neles se transformam,
acolhendo tais atores e fomentando seu protagonismo.

Pensar em humanização é escolher atuar através da sensibilidade, do


respeito ao direito do outro, da responsabilidade de fazer parte de um coletivo,
e não trabalhar isoladamente. De acordo com a Política Nacional de
Humanização, este método consiste na “Inclusão das diferenças nos processos
de gestão e de cuidado para estimular a produção de novos modos de cuidar e
novas formas de organizar o trabalho”. (BRASIL, 2013, p.4).

SAIBA MAIS!

Conheça o Acervo Digital de Humanização disponível na Rede


Humaniza SUS.

Acesse: http://redehumanizasus.net/acervo-digital-de-humanizacao/

Todas as atitudes que fazem parte da política de humanização


possibilitam um conjunto de olhares e ações voltados para a produção de
saúde, a começar pelo próprio serviço. Muitas vezes o trabalho torna-se
desorganizado, desumanizado, insensível e já não produz saúde em seu
espaço de criação. Essa insatisfação passa a atingir todas as esferas do
serviço, que vai do usuário à equipe e pode culminar em processos totalmente
fragmentados, sem vida, estagnados. Todos os envolvidos se
despotencializam, pois a prática se transforma em uma operação mecânica,
cheia de vícios e limitações.
Dessa forma, a PNH é uma política que visa à inclusão e através de
seus princípios e diretrizes busca produzir novas formas de singularidades,
assim como ampliar as redes de comunicação, suavizando as fronteiras dos
saberes e das forças de poder que incidem sobre o trabalho no campo da
saúde. A partir desta premissa, compreende-se que:

As diretrizes dos processos de formação da PNH se


assentam no princípio de que a formação é inseparável
dos processos de mudanças, ou seja, que formar é,
necessariamente, intervir, e intervir são experimentar em
ato as mudanças nas práticas de gestão e de cuidado, na
direção da afirmação do SUS como política inclusiva,
equitativa, democrática, solidária e capaz de promover e
qualificar a vida do povo brasileiro. (BRASIL, 2010, p.8).

A Humanização, portanto, vai de encontro com o enfrentamento às


diversas formas de desigualdade que assolam a sociedade brasileira e, por
esta razão, sua relevância está muito além da institucionalização de uma
política. É uma construção coletiva que transpassa as relações cotidianas em
quaisquer serviços, práticas ou ações que atravessam os sujeitos por meio de
uma experiência subjetiva, social, ativa e produtora de afetos. Humanizar é
valorizar tudo o que o outro traz: história, conhecimentos, vivências, anseios,
dúvidas. É reconhecer a capacidade, a potência, mas também as limitações, os
erros e medos e acolhê-los, num movimento de reciprocidade e respeito às
diferenças.

DICA DE VÍDEO/ CORDEL

Recomendamos o vídeo: “CORDEL Humaniza SUS”, uma reflexão


- em forma de música - sobre o a importância da construção
coletiva do SUS.

Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=QE8LGFcgshU
1.2. CUIDADO HUMANIZADO

Imagem 2. Cuidado humanizado

Fonte: Tribuna do Ceará, 2018

O conceito de Cuidado pode ser compreendido aqui a partir de uma


perspectiva reflexiva, que constrói valores que orientam positivamente a vida e,
principalmente, produção de sentido na relação terapêutica que vai além dos
diagnósticos e que se forma na presença das partes envolvidas. Assim, o
cuidado não é construído somente por técnicas e conceitos, mas sim na
sabedoria prática que busca promover e estimular o cuidado de si a partir de
um sentido existencial. (AYRES, 2004).
O Cuidado não deve ser pensado a partir de uma relação vertical, na
qual o usuário deposita sua “cura” no profissional que, por sua vez, fica
responsável pelo processo de restabelecimento da saúde. Ao contrário, o
cuidado que humaniza também abre possibilidades para o compartilhamento
deste processo de resgate da saúde e do bem estar. A relação equipe-usuário
deve ser construída de forma a garantir a autonomia e a responsabilidade de
cada um. Dessa forma, o paciente entende que também é um agente de seu
próprio cuidado e, por isso, está ativo nesse processo.
Humanizar a forma de cuidar, de gerir e trabalhar na saúde é um ato de
respeito ao outro, de reconhecer que cada um tem seu espaço e sua
importância. O profissional deixa de ser um “oráculo” para se tornar um
aprendiz, um facilitador do processo. Isso não significa deixar seu saber de
lado ou inferiorizar o aparato científico, ao contrário, é preciso que este saber –
antes considerado a verdade absoluta - esteja aberto ao novo, ao imprevisível
e ao conhecimento do usuário, que não deve ser descartado. De acordo com
MOTA et. tal. (2006, p.324) a humanização pode ser compreendida como:
(...) estratégia de interferência no processo de produção
de saúde, levando em conta que sujeito social, quando
mobilizados, é capaz de modificar realidades,
transformando-se a si próprio neste mesmo processo. É
uma rede de construção permanente de laços de
cidadania, de um modo de olhar cada sujeito em sua
especificidade, sua história de vida, mas também de olhá-
lo como sujeito de um coletivo, sujeito da história de
muitas vidas.

Imagem 3. Componentes fenomenológicos essenciais da vulnerabilidade em saúde

Fonte: CESTARI et al., 2017.

Nesse sentido, humanizar o cuidado em saúde é ocupar uma posição


ativa na transformação e reinvenção de vidas na medida em que cuidar
pressupõe também criar formas diversas de olhar para si tanto o usuário
quanto o profissional ambos são atores nessa construção de sentido acerca
dos modos de viver e entender toda a complexidade presente no processo de
produção de saúde. Dentro desta perspectiva, entende-se que:

Os processos de produção de saúde se fazem numa rede


de relações que, permeadas como são por assimetrias de
saber e de poder e por lógicas de fragmentação entre
saber/práticas, requerem atenção inclusiva para a
multiplicidade de condicionantes da saúde que não cabem
mais na redução do binômio queixa-conduta. (BRASIL,
2010).

Desconstruir esse binômio da queixa-conduta é um dos grandes


desafios no campo da saúde, uma vez que não é somente o serviço que se
transforma, mas também os sujeitos atuantes que fazem parte desta mudança:
usuários, trabalhadores, gestores. É preciso compreender que a humanização
do cuidado não é constituída por práticas e ações isoladas, baseadas na
obrigatoriedade, mas sim, parte de uma transformação em todos os níveis dos
serviços de saúde e em cada parte do processo de trabalho.

FIQUE LIGADO!

Assista ao Vídeo do Canal Humaniza SUS Sobre Práticas de


Humanização.

“Nove experiências bem sucedidas e inovadoras de humanização


no SUS foram reconhecidas pelo Ministério da Saúde por meio do
Prêmio #HumanizaSUS. E para mostrar esses casos de sucesso,
cinco cineastas foram convidados para viajar pelo Brasil e contar
essas histórias”.

Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=CygobCIwKIU

Dessa forma, a humanização está além de uma ação específica, pois


representa uma desconstrução dos modelos tradicionais de cuidado e
tratamento para a reconstrução de um olhar que atenda às complexidades da
vida em sociedade. Diante disso, PASCHE & PASSOS (2008, p. 94) faz uma
reflexão muito relevante quanto à humanização no Sistema Único de Saúde e
expressam:
Eis a aposta: reconhecimento da diferença; diferença que
fortalece, mas não uma diferença que não difere. Uma
diferença que combina, sendo ao mesmo tempo a norma
e o desvio dela. Hibridismo, maca contemporânea que
reconhece a complexidade dos fenômenos sociais e,
portanto, a deficiência e insuficiência de modelos lineares
de pensamento, reflexão e intervenção.
Para a Política Nacional de Humanização: “Humanizar é construir
relações que afirmem os valores que orientam nossa política pública de saúde”,
e, sobretudo, reconhecer o outro como agente produtor de saúde e
corresponsável por seus processos de vida.

1.3 O PRINCÍPIO DA TRANSVERSALIDADE

A Transversalidade é um princípio da Política de Humanização que


remete ao cruzamento dos diferentes modos de saber/fazer saúde a partir de
uma relação transversal que visa cruzar as especialidades numa tentativa de
quebrar os modelos hegemônicos baseados no serviço fragmentado em que a
figura de um profissional pode ser entendida como mais ou menos importante.
Dessa forma, a PNH sustenta que:

Transversalizar é reconhecer que as diferentes


especialidades e práticas de saúde podem conversar com
a experiência daquele que é assistido. Juntos, esses
saberes podem produzir saúde de forma mais
corresponsável. (BRASIL, 2013).

Compartilhar os saberes e os modos de fazer é também abrir espaço


para o diálogo, para a troca de conhecimentos e, principalmente, romper com
as barreiras do tecnicismo das práticas que, muitas vezes, são impostas às
pessoas em forma de tratamentos que pouco auxiliam no exercício da
autonomia. Sendo assim, é importante ressaltar que o saber trazido pelo
usuário é parte fundamental desse mosaico construído coletivamente em torno
do processo de saúde-doença.
Nas palavras de Boaventura de Sousa Santos: “A complexidade do
mundo da vida faz com que o que, de modo relevante, se sabe dele seja
sempre uma constelação de saberes. Todo conhecimento é interconhecimento,
ecologia de saberes”. A partir dessa ideia entende-se que a Transversalidade
orienta o trabalho humanizado e fornece recursos para a construção de
saberes que contemplem a diversidade e a pluralidade de todos os sujeitos
implicados neste processo.
É essa constelação, portanto, que constrói o conhecimento através de
uma multiplicidade que possibilita a troca no processo coletivo de
aprendizagem, no compartilhamento de ideias, pensamentos e ações em
saúde. Veja abaixo a ilustração sobre temas transversais e as conexões
existentes e possíveis entre eles:

Imagem 4: Temas Transversais

Fonte: E-sanar, 2017

1.4. A INDISSOCIABILIDADE ENTRE ATENÇÃO E GESTÃO

O princípio da Indissociabilidade entre Atenção e Gestão está


fundamentado nas ações que visam superar a fragmentação do trabalho no
campo da saúde e, principalmente, aproximar os setores que participam de
todos os processos do cuidado. A humanização passa também pelo
trabalhador e pela gestão, pois sem a integração destes, o trabalho continua
fragmentado. É preciso que atenção e gestão estejam sintonizadas e
compartilhem sua atuação de forma horizontal. De acordo com a PNH:

No processo de trabalho os trabalhadores ‘usam de si’, ou


seja, utilizam suas potencialidades de acordo com o que
lhes é exigido. A cada situação que se coloca, o
trabalhador elabora estratégias que revelam a inteligência
que é próprio de todo trabalho humano. Portanto, o
trabalhador também é gestor e produtor de saberes e
novidades. (BRASIL, 2004, p.7).
Dentro desta perspectiva colaborativa e transversal, atenção e gestão
são igualmente importantes para um trabalho humanizado, assim como a
participação do usuário e seu conhecimento dos outros processos inerentes ao
serviço. Assim, o Ministério da Saúde esclarece que “As decisões da gestão
interferem diretamente na atenção à saúde. Por isso, trabalhadores e usuários
devem buscar conhecer como funciona a gestão dos serviços e da rede de
saúde, assim como participar ativamente do processo”. (BRASIL, 2013/2019).
CAMPOS (2000, p.1) faz uma análise da gestão como instância, lugar e
tempo a partir de uma crítica ao modelo hegemônico que legitima a
centralização dos modos de gerir. Em suas palavras: “A gestão clássica
sempre trabalhou a dimensão do gerir. O gerir como ação sobre as ações dos
outros. Assim sendo, fortemente amarrado exercício do poder a gestão tem
sido a disciplina do controle, por excelência”.

FIQUE ATENTO!

“O cuidado e a assistência em saúde não se restringem às


responsabilidades da equipe de saúde. O usuário e sua rede sócio
familiar devem também se corresponsabilizar pelo cuidado de si nos
tratamentos, assumindo posição protagonista com relação a sua
saúde e a daqueles que lhes são caros”.

Fonte: BRASIL (2013, p. 6)

Nesse sentido, é importante que o trabalho da gestão não seja separado


e distante dos trabalhadores e/ou usuários, a fim de romper com a visão
centralizadora, na qual gestor, trabalhador e usuário não dialogam entre si.
Assim, a articulação entre atenção e gestão é necessária para que todos os
atores sociais se reconheçam no processo e entendam que também é parte
dessa construção. Exemplo disso são as reclamações constantes de que o
‘SUS não funciona’, o que forma um pensamento coletivo de que os serviços
são insuficientes e precários. O Sistema de Saúde Brasileiro é um avanço
social, fruto de um processo marcado por mobilização e engajamento daqueles
que dele participaram. Faz parte de um longo processo e, por esta razão, ainda
está em construção, no sentido de transformar-se cotidianamente pelo contexto
no qual está inserido ou pelas pessoas que utilizam o serviço e trabalham no
sistema.

1.5. PARADIGMA ÉTICO-ESTÉTICO-POLÍTICO

Pensar as práticas e os serviços de saúde a partir de novos modos de


produção e criação da vida faz parte da construção de olhares e posturas
críticas aos modelos dominantes de compreender a ciência e o conhecimento.
Dessa forma, a Política de Humanização propõe a reconstrução de saberes
diversos que dialogam entre si e possibilitem o trabalho em torno de um novo
paradigma. De acordo com GUATTARI (1990 apud MUYLAERT, 2012, p.126):
“O Paradigma Ético-estético-político coloca-se a serviço das problematizações
que os modos de subjetivação instauram na atualidade, nos agenciamentos
clínicos inclusive”.

IMPORTANTE!

“Trabalhar é gerir. É gerir junto com os outros”.

(Cartilha PNH, 2004)

A partir deste paradigma pretende-se compreender a complexidade das


relações tecidas através dos múltiplos encontros, assim como buscar enxergar
o sujeito e suas potencialidades. Assim, ao humanizar as relações no serviço
de saúde seja qual for é possível criar novas formas de relacionar-se com o
campo gerador de afetos. Nesse sentido, o diálogo não se dá somente entre os
sujeitos envolvidos, mas também entre estes e os espaços através de novas
configurações, novos olhares e recriam o sentido daquele campo social. Com
relação a esse paradigma, é possível afirmar:

Podemos então, nos deslocar de um paradigma numérico


de eficiência, para colocar-se à disposição dos encontros
convidativos em devir; desfocar as problemáticas do
indivíduo, para a construção de problematizações,
coletivas, atentos aos movimentos das singularidades que
o compõem instituindo, ao mesmo tempo, suas questões
e projetos de ação (...). (MUYLAERT, 2012, p.123).

É a responsabilidade ética e política que atravessa o trabalho clínico que


deve sustentar-se pelo amor à alteridade, pelo devir e a incerteza criadora que
se contrapõe a uma “Clínica da agonia do homem moderno”, segundo ROLNIK
(1995, p.60). Dessa forma, afirma a autora: “Não há defesa eficaz da vida sem
esta mudança em nosso modo de subjetivação, sem esta ruptura com a
modernidade sem esta abertura para o estranho- em nós”.

Imagem 5. Félix Guattari (1930-1992)

Fonte: Clinicand, 2019

Fundamentado a partir do pensamento de GUATTARI (1992), o


paradigma ético-estético-político é um posicionamento ativo e criativo diante
dos modos de subjetivação que se constituem através do campo das
afetações. Estético, pois seus processos de criação atuam como fonte
existencial, como “máquina autopoiética”, ou seja, como produção de si e não
reprodução de formas pré-estabelecidas. Nas palavras do autor:
Assim o paradigma estético processual trabalha com os
paradigmas científicos e éticos e é por eles trabalhado.
Ele se instaura transversalmente à tecnociência. (...) O
novo paradigma tem implicações ético-políticas porque
quem fala em criação, fala em responsabilidade da
instância criadora em relação à coisa criada (...) em
bifurcação para além de esquemas pré-estabelecidos.
GUATTARI (1992, p.137).

De acordo com MUYLAERT (2012, p.128-129), a ética está relacionada


com “A vida para qual dizemos sim” e faz parte das “Possibilidades de formas
de existencialização que ela pode tomar em seu processo de expansão”. A
estética diz respeito à existência enquanto possibilidade de criação e recriação,
pois: “É a estética que investe o corpo de potência para o acolhimento da
alteridade”. A política é entendida aqui como “As forças que atuam num campo
de subjetivação” e estão diretamente relacionadas com as “Políticas de viver”.
(Ibidem, p.130).

INDICAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

Para saber mais sobre o Paradigma Ético-estético-político e


outros conceitos da Filosofia da Diferença, indicamos a seguinte
leitura:

Caosmose, de Félix Guattari

Bons estudos!

Para VERDI; FINKLER e MATIAS (2015) as dimensões éticas, estéticas


e políticas referem-se, respectivamente, à escuta e transformação como
possibilidade de abertura a outros modos de ser; à invenção dos modos de
fazer e produção de subjetividades e realidades através dos fluxos criativos; e,
por fim, pela luta das forças que atuam no campo social e subjetivo as relações
de poder, muitas vezes desumanizantes e as intervenções possíveis
construídas pelas problematizações das práticas cotidianas. A existência é
compreendida, portanto, não como sujeito, mas como obra de arte, o que faz
emergir um pensamento – artista. (DELEUZE, 1992).
FERNANDES (2017, p. 18) analisa o pensamento Deleuziano e ressalta
o Conceito de Devir como sinônimo dos seguintes termos: linha de fuga e
desterritorialização. Para ele, tais termos são “Pensados em contraposição à
imitação, à reprodução, à identificação ou à semelhança. Eles não desejam
uma forma, mas, sim são escapes de uma forma dominante”. O Conceito de
Devir, proposto em Deleuze, sugere uma fuga ativa, isto é, um posicionamento
ético, estético e político, um ato revolucionário. Dessa forma, é possível
compreender que:
Aos que dizem que fugir não é corajoso, responde-se: (...)
Só se pode escolher entre dois polos: a contrafuga
paranoica que anima todos os investimentos
conformistas, reacionários e fascistizantes e a fuga
esquizofrênica convertível em investimento revolucionário.
(DELEUZE; GUATTARI, 2011, p. 453 apud FERNANDES,
2017, p.19).

Em suma, para compreender a humanização é preciso estar atento à


importância de desconstruir o pensamento cristalizado em torno da produção
das subjetividades do encontro com o outro. No dia a dia das práticas de
trabalho no campo da saúde, muitos desafios ainda estão colocados a todos os
atores que participam desse tecido social de relações diversas e singulares. É
importante colocar-se como “Nômade”, numa postura ativa e criativa, que
permanece nos lugares e contribui para seu florescer. Conforme DELEUZE &
GUATTARI (1997 pp. 43-45): “O Nômade se distribui num espaço liso, ele
ocupa, habita, mantém esse espaço, e aí reside seu princípio territorial. O
nômade cria o deserto tanto quanto é criado por ele”.

SAIBA MAIS!

Se você quiser saber mais sobre a Filosofia da Diferença,


indicamos uma fala de Luis Fuganti, filósofo, pensador nômade
da filosofia da diferença e clínico. Nesta palestra ele desenvolve a
ideia da criação de si como obra de arte. Vale a pena conferir!

Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=8jMcywa-HUE
A Transversalidade, o Cuidado Humanizado, o Olhar Crítico e Ético
são possibilidades construídas a partir do trabalho coletivo. Não há receita
pronta, tampouco manual de instruções, pois é no percurso que a vida se
constrói. É através do diálogo, portanto, que é construído o processo de
humanização da saúde, em níveis macro e micropolítico, cujas práticas,
saberes e ações atravessam as relações humanas e propiciam os encontros.
Para um trabalho humanizado é fundamental a reflexão constante dos modos
de pensar/fazer saúde a fim de compreender as dimensões múltiplas da
existência humana.
É preciso se reinventar enquanto sujeito artista e repensar
cotidianamente as formas de ser/estar na vida e nos espaços socialmente
compartilhados. Para concluir, algumas questões destacadas abaixo podem
ser problematizadas no dia-a-dia do trabalho na área da saúde, sobretudo com
relação à atuação do (a) psicólogo (a), a fim de repensar as práticas e produzir
possibilidades e caminhos novos, potencializadores de vidas saudáveis.

 Quais os ‘possíveis’ que habitam em suas práticas?


 Como fazer das práticas cotidianas uma obra de arte?
 Quais são as brechas possíveis para a construção do novo?
 Como construir uma vida criativa e inventiva?
 Quais encontros atravessam meu dia a dia, meu trabalho e minha vida
pessoal?

Imagem 6. Deleuze
Fonte: Psicouniverso, 2018
RECAPITULANDO - CAPÍTULO 1

Questões de concursos

Questão 1

Ano: 2019 Banca: CEPUERJ Órgão: UERJ Prova: CEPUERJ - 2019 - UERJ -
Técnico em Enfermagem

De acordo com o caderno Humaniza SUS, volume 3 (2011), a central de


acolhimento em um pronto-socorro destina-se a:
A) Oferecer informações, além de disponibilizar equipamentos, como cadeiras
de rodas e macas.
B) Direcionar o atendimento, conforme a ordem de chegada, além de restringir
o acesso ao médico.
C) Organizar o fluxo através de uma avaliação primária, além de acolher os
usuários e familiares nas demandas por informações.
D) Realizar de imediato a classificação de risco com as cores vermelho,
amarelo, verde e azul, além de direcionar para a sala vermelha.

Questão 2

Ano: 2016 Banca: UFU-MG Órgão: UFU-MG Prova: UFU-MG - 2016 - UFU-
MG - Técnico em Enfermagem

Por dispositivo, entende-se a atualização das diretrizes de uma política em


arranjos de processos de trabalho. Assinale a alternativa que apresenta
dispositivo desenvolvido pela Política Nacional de Humanização.
A) Visita Aberta e Direito à Acompanhante.
B) Ordem de chegada do usuário ao serviço de saúde como critério para
priorização do atendimento.
C)Trabalho em equipe uniprofissional com coordenação de ações centralizadas
no gestor municipal de saúde.
D) Fluxos de referência para especialidades médicas, com ênfase em medidas
curativas e prescritivas.

Questão 3

Ano: 2010 Banca: CEPUERJ Órgão: UERJ Prova: CEPUERJ - 2010 - UERJ
- Técnico de Enfermagem

Um paciente está internado em um hospital e seus familiares sofrem por não


conseguirem obter informações sobre seu diagnóstico e tratamento,
considerando a Política Nacional de Humanização (PNH), a diretriz específica
para o nível de atenção hospitalar mais adequada com o fato acima exposto, é:

A) Definir protocolos clínicos, garantindo intervenções necessárias e


promovendo acesso à estrutura hospitalar.
B) Ampliar o diálogo entre os profissionais, ou seja, entre a enfermagem e a
administração, promovendo a gestão participativa.
C) Propor mecanismos de escuta para a população, visando ao
encaminhamento do paciente e sua família para outras unidades hospitalares.
D) Criar equipe multiprofissional de atenção à saúde, para seguimento dos
pacientes internados, com horário pactuado para atendimento à família e/ou à
sua rede social.

Questão 4

Ano: 2018 Banca: Prefeitura de Fortaleza - CE Órgão: Prefeitura de Fortaleza


- CE

O Cuidado Humanizado deve estar presente em todos os momentos da vida.


Em 2000, foi proposta a construção do Programa Nacional de Humanização
Hospitalar com o objetivo de, exceto:

A) Melhorar a qualidade e a eficácia da atenção dispensada aos usuários dos


hospitais públicos no Brasil.
B) Conceber e implantar novas iniciativas de humanização nos hospitais, que
venham beneficiar os usuários e os profissionais de saúde.
C) Implantar iniciativas de humanização nos hospitais, que venham beneficiar
os usuários e controlar as ações assistenciais dos profissionais de saúde.
D) Capacitar os profissionais dos hospitais para um novo conceito de
assistência à saúde, que valorize a vida humana e a cidadania.
Questão 5

Ano: 2014 Banca: FUNDEP (Gestão de Concursos) Órgão: HRTN - MG


Prova: FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2014 - HRTN - MG - Enfermeiro

Entre os itens abaixo, assinale o que não é considerado pelo Manual Humaniza
SUS como marca específica e prioritária na implantação do Programa Nacional
de Humanização dentro dos serviços:

A) Reduzir filas tempo de espera com ampliação do acesso e atendimento


acolhedor e resolutivo, baseado em critério de risco.
B) Garantir que todos os usuários do SUS saibam quem são os profissionais
que cuidam de sua saúde, e os serviços de saúde se responsabilizará por suas
referências territoriais.
C) Garantir informação ao usuário, o acompanhamento de pessoas e sua rede
social de livre escolha e os direitos de código dos usuários SUS.
D) Garantir uma gestão competente, com um grupo fechado em que serão
definidos critérios com requisitos mínimos de especialização para cada cargo.
E) Nenhuma das alternativas.

QUESTÃO DISSERTATIVA

(ADAPTADA) Ano: 2017 Banca: CONSULPLAN Órgão: TRF - 2ª REGIÃO


Prova: CONSULPLAN - 2017 - TRF - 2ª REGIÃO - Analista Judiciário -
Enfermagem

Em 2003, o Ministério da Saúde criou a Política Nacional de Humanização com


o objetivo de efetivar os princípios do Sistema Único de Saúde. Sobre essa
política, aponte seus principais objetivos.

TREINO INÉDITO

De acordo com o Paradigma Ético-estético-político, a Saúde deve ser


Compreendida como:

A) Uma rede de complexidade das relações tecidas através dos múltiplos


encontros, assim como buscar enxergar o sujeito e suas potencialidades.
B) Um fator biológico e orgânico.
C) A base de um sistema centralizado e excludente.
D) Apenas fruto de ações isoladas, que não consideram as coletividades.
E) Todas as afirmativas estão corretas.
NA MÍDIA

ALIAR HUMANIZAÇÃO E TECNOLOGIA É DESAFIO PARA O


MERCADO DE SAÚDE

Enquanto caminha para a modernização de suas atividades, setor aposta no


humano como novo padrão de assistência médica.

“Ao que tudo indica, a contradição tem sido marca constante do setor de saúde
brasileiro. De um lado, a recente integração da telemedicina às rotinas
médicas, bem como as novas terapias, aponta para o uso crescente da
tecnologia dentro do segmento. Em outra direção, estruturas precárias, filas
enormes e uma gestão distante do paciente refletem um cenário que clama por
mais acolhimento”.

Fonte: Terra
Data: 19 mar. 2019
Disponível em: https://www.terra.com.br/noticias/dino/aliar-humanizacao-e-
tecnologia-e-desafio-para-o-mercado-de-
saude,47b4f5f2e0ad0a2c7635c3e31400f7f90cggfkw5.html

NA PRÁTICA

O atendimento a pacientes com algum tipo de sofrimento psíquico traz uma


demanda que exige do profissional, especificamente do (a) psicólogo (a) uma
Postura Ética-estética-política que abrange desde o processo de acolhimento
até o desenvolvimento do tratamento específico. Em casos de depressão, por
exemplo, algumas intervenções podem ser pensadas de acordo com a
singularidade de cada usuário. Entre elas, destaca-se a importância do trabalho
multiprofissional entre a equipe da Saúde da Família e a equipe de Saúde
Mental para que juntas elaborem uma proposta que pode ser contextualizada
dentro do território em que o usuário está inserido. Um exemplo disso é trazê-lo
para o convívio social e despertar seu interesse em alguma atividade. É
possível, por exemplo, valorizar seus saberes e propor uma oficina que o
estimule a ter uma rotina e, principalmente, valorize sua capacidade criativa.
Com essa nova perspectiva, o usuário pode melhorar sua condição de vida,
reduzir suas queixas e, em alguns casos, diminuir as repetidas visitas à
unidade básica de saúde. Em geral, conclui-se que o sujeito com sintomas
depressivos pode se beneficiar muito da convivência com outras pessoas, além
de sentir-se vivo e incluído em sua comunidade, o que contribui para o
sentimento de pertencimento e para o fortalecimento de vínculos.

DICA DE DOCUMENTÁRIO

Recomendamos um documentário sobre o Protagonismo na Saúde


Mental.

Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=nxu8bfRMvpc

DICA DE VÍDEO – ENTREVISTA

Entrevista com Félix Guattari, filósofo e um dos pensadores da


Esquizoanálise.

Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=E9jwK0_eDds

FIQUE LIGADO!

Recomendamos a palestra: O SUS e a humanização da saúde, por


Júlia Rocha | TEDxLaçador.

Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=GE2v0GmESdg
CAPÍTULO 2 - DIRETRIZES DA POLÍTICA NACIONAL DE
HUMANIZAÇÃO
CAPÍTULO 2- DIRETRIZES DA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO

“Reinventamos maneiras alegres de viver e


modos afirmativos de pensar, expressões
imediatas de autonomia e liberdade, sem
precisar sair do lugar ou imaginar um não
lugar, utopos”.

(Luis Fuganti)
2.1 Método Paideia em Saúde

O trabalho humanizado requer um enfrentamento cotidiano das práticas


dessubjetivantes e alienantes que afastam os atores envolvidos no processo do
cuidado. A partir de uma visão humanizada, trabalhador, usuário e gestor se
colocam em relação uns com os outros, numa tentativa de aproximação e
integração de seus saberes. Compartilhar é também compreender que o outro
possui um conhecimento que também importa e deve fazer parte da construção
coletiva que permeia todas as práticas em saúde. Nesta perspectiva, a
humanização é muito mais do que uma política do Sistema Único de Saúde.
Faz parte de um conjunto de ações e práticas para promover saúde da forma
mais justa possível, através de um movimento constante de incentivo à
autonomia e coletividade. O trabalho humanizado não deve ser fragmentado,
nem partir de sujeitos isolados e fechados em suas especialidades, ao
contrário, humanizar pressupõe integrar e transversalizar as experiências para
que todos os participantes sejam parte ativa nas relações de cuidado.

FIQUE LIGADO!

Recomendamos o vídeo “Trabalho em Saúde”, do programa Espa SUS


(Canal TVT). Confira:

“É no cotidiano acelerado das unidades básicas, ambulatórios e hospitais,


que profissionais de diversas áreas, envolvidas no cuidado à saúde,
podem identificar problemas e criar soluções para que, através do SUS,
qualquer um e todos, tenham direito à saúde”.

Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=KfTP99HfVJA
De acordo com o Ministério da Saúde, o Método Paideia é uma forma de
trabalho que reconhece a diversidade dos saberes, os afetos e os poderes que
permeiam o campo da saúde, com o objetivo de reduzir os efeitos das
desigualdades e diferenças nas relações de poder que atravessam as práticas
cotidianas, os modos de fazer e gerir o cuidado. Nesta concepção, todos
participam das decisões que devem ser compartilhadas e não construídas por
um ou outro setor isoladamente. O método, além de valorizar as questões
subjetivas, as tensões e resistências que atravessam o campo, parte do
enfrentamento às relações de trabalho de inclinação taylorista, que consiste na
divisão e fragmentação dos processos de trabalho, no treinamento, na
padronização e no controle dos trabalhadores.

CARACTERÍSTICAS GERAIS DO MÉTODO PAIDEIA (BRASIL, 2016):

- Trabalha-se para o outro, para si mesmo e para a instituição.

- Todos devem pensar as questões do trabalho gestores, trabalhadores e


usuários.

- O trabalho como produção de uma obra: o Neoartesanato.

- O reconhecimento dos poderes, saberes e afetos que estão em jogo


nas relações de trabalho.

- A valorização da singularidade e da autonomia.

Para FIGUEIREDO e CAMPOS (2014) o Método Paideia tem como


objetivo interferir não só na instituição, mas também na consolidação de uma
gestão democrática e na capacidade dos sujeitos de decidir, agir e transformar
a realidade que os cerca. Dessa forma, espera-se que todos os atores deste
processo participem ativamente desta construção coletiva. Assim, afirmam os
autores:

A consolidação de políticas para garantia de cidadania


exige outro modelo de educação, que estimule a
construção da consciência crítica, da curiosidade criativa
e indagadora de um sujeito que reconheça a realidade
como mutável e busque transformá-la. (Ibidem, p.932).
A ideia de transformação passa, primeiramente, por uma mudança nas
formas de pensar e compreender a importância do fazer junto, da construção
coletiva, do cuidado humanizado. Para realizar tais mudanças é imprescindível
uma postura reflexiva que reveja o modelo de trabalho e, sempre que possível,
modifique aquilo que já não cabe mais naquele espaço e/ou que não faça mais
sentido para aquelas pessoas.
Nesta perspectiva, o trabalho é feito por pessoas e para pessoas, de
forma a priorizar a potência que os encontros produzem: afetos, vínculos,
criação, resistência, e também resignificar as tensões, as queixas, e as
relações arbitrárias de poder. Assim, é possível afirmar que: “O trabalho em
saúde se dá essencialmente por meio da relação entre as pessoas. Portanto, a
visão de mundo, os valores, a postura ético-política e os afetos do profissional
comparecem em suas intervenções”. (CAMPOS e FIGUEIREDO, 2014, p. 932).

2.2 Acolhimento

De acordo com o dicionário Michaelis, a palavra Acolher significa:

1. Admitir (alguém) em seu convívio;

2. Dar crédito a; dar ouvido a; levar em consideração.

Uma das principais discussões em torno do tema consiste na


importância de diferenciar acolhimento de triagem. O primeiro termo está
relacionado às práticas humanizadas que contribuem para a produção e
promoção da saúde dos sujeitos, levando em conta sua demanda e
contribuindo para um cuidado mais humano e atento às necessidades do
usuário. O segundo termo pode ser entendido como um atendimento inicial,
não necessariamente preocupado em desenvolver uma relação de cuidado e
convívio. Segundo o Portal do Ministério da Saúde:
Acolher é reconhecer o que o outro traz como legítima e
singular necessidade de saúde. O acolhimento deve
comparecer e sustentar a relação entre equipes/serviços
e usuários/populações. Como valor das práticas de
saúde, o acolhimento é construído de forma coletiva, a
partir da análise dos processos de trabalho e tem como
objetivo a construção de relações de confiança,
compromisso e vínculo entre as equipes/serviços,
trabalhador/equipes e usuário com sua rede sócio
afetiva2.

Diante dessa definição, entende-se que o Acolhimento desmistifica a


ideia de atendimento prescritivo e/ou baseado na fragmentação do trabalho,
pois sua prática multiprofissional objetiva a valorização dos diversos saberes
que formam o campo. Assim, é importante ressaltar que não há local e nem
profissional específico para realizar o Acolhimento. O trabalho é coletivo, e
deve ser pensado e repensado constantemente por todos os envolvidos, pois:

A proposta do Acolhimento tem como principal foco


atender as necessidades do usuário dos serviços de
saúde, privilegiando a organização das ofertas dos
serviços a partir das demandas de saúde apresentadas.
E, a partir das pessoas que procuram os serviços,
vivenciar o cuidado em uma disposição singular, em que
profissional e usuário se encontram no cuidado para
construir a inclusão, um cuidado compartilhado e indo
além, abrindo espaços inclusive para partilhar sobre a
organização do próprio serviço. (BRASIL, 2016, p. 8).

IMPORTANTE!

“Acolhimento é uma diretriz da Política Nacional de


Humanização (PNH), que não tem local nem hora certa para
acontecer, nem um profissional específico para fazê-lo: faz
parte de todos os encontros do serviço de saúde”.

(Biblioteca Virtual em Saúde – Ministério da Saúde, 2008)

2
Fonte: Portal do Ministério da Saúde. Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/167acolhimento.html
É de suma importância entender que o Acolhimento em saúde
pressupõe mudanças não somente na organização do trabalho, mas,
sobretudo, nas pessoas. São elas que estão cotidianamente construindo
estratégias e formas de intervir na realidade, sejam trabalhadores, gestores ou
usuários. Todos é parte fundamental na criação de possibilidades de ação no
campo da saúde, e junta, podem contribuir para um trabalho mais justo e
humano.
Acolhimento é, portanto, um ato de inclusão, no sentido de “estar com” e
“estar perto”, construído através de uma postura ética – estética – política.
Ética por ter o compromisso com o outro; estética, pois produz, cria, inventa
estratégias e formas de cuidar, gerir e fazer saúde; e, por fim, política que é a
base para o trabalho coletivo e o engajamento com a potencialização da vida
(BRASIL, 2010). “O acolhimento está presente em todas as relações e os
encontros que fazemos na vida, mesmo quando pouco cuidamos dele”.
(Cartilha PNH).

Imagem 7. Diagrama Saúde Todo Dia

Fonte: Aracaju, 2003/ Rede Humaniza SUS

Refletir o Acolhimento é também entender o coletivo como plano de


produção de vida, o cotidiano como invenção de modos diversos de viver, e
reconhecer que a forma como os sujeitos se produzem está relacionada com
os diversos modos de ser/estar na vida (BRASIL, 2010). Dessa forma, é
preciso desenvolver uma postura crítica de enfrentamento aos modos de
trabalho alienantes, principalmente aqueles que reduzem o acolhimento a uma
simples recepção desprovida de cuidado. Portanto, é fundamental que o ato de
Acolher seja parte de um conjunto de práticas humanizadas e responsáveis,
que respeitem a vida do outro e contribuam para a sua autonomia.
Todos os princípios que regem a Política de Humanização visam ao
desenvolvimento de um trabalho crítico, criativo, inventivo, que estimule o
encontro entre as pessoas e não a dependência. O usuário deixa de ser mero
receptor de laudos e receitas médicas para ser protagonista em seu processo
de recuperação. O Acolhimento como uma prática integrada à Política de
Humanização pressupõe alguns posicionamentos que orientam o cotidiano do
serviço e as relações interpessoais construídas no trabalho da área da saúde.
De acordo com BRASIL (2016), é possível destacar alguns elementos
importantes que auxiliam na assistência em saúde e possibilitam um
acolhimento humanizado, tais como demonstrado no quadro abaixo:

1. Protagonismo;
2. Valorização da rede social que permeia profissional e usuário;
3. Cuidado;
4. Problematização dos processos de trabalho;
5. Construção de projetos individuais e coletivos;
6. Horizontalização da atenção em saúde;
7. Democratização dos espaços de debate e decisões;
8. Escuta;
9. Trocas;
10. Coletividade;
11. Diferenciação entre acolhimento e triagem;
12. Mudanças na forma de gestão;
13. Compromisso com o outro.
(BRASIL, 2016)
Imagem 8. Acolhimento

Fonte: CONASEMS, 2017

2.3 Ambiência

Ambiência é uma das diretrizes da Política Nacional de Humanização


(PNH) e está relacionada ao tratamento do espaço físico entendido como
“Espaço social, profissional e de relações interpessoais que deve proporcionar
atenção acolhedora, resolutiva e humana” (BRASIL, 2010, p.5). É a criação de
espaços saudáveis e humanizados que contribuem para a realização dos
encontros e do cruzamento dos diversos saberes que ocupam o território. De
acordo com a PNH:

(...) é importante que, ao criar essas ambiências, se


conheçam e, respeitem os valores culturais referentes à
privacidade, autonomia e vida coletiva da comunidade em
que está se atuando. Devem-se construir ambiências
acolhedoras e harmônicas que contribuam para a
promoção do bem-estar, desfazendo-se o mito desses
espaços que abrigam serviços de saúde frios e hostis.
(Ibidem, p.12).

A constituição dessa diretriz se dá por três grandes eixos: a relação do


espaço com a Confortabilidade, Privacidade e Individualidade dos sujeitos; o
espaço que possibilita a produção de subjetividades; e, por último, o espaço
como ferramenta que facilita o trabalho. Todas essas características são
baseadas em diversos elementos que auxiliam nessa construção: morfologia,
luz, cheiro, tratamento das áreas externas, privacidade, etc. (BVS, 2009).
Dessa forma, a ambiência não se limita a um espaço somente, mas às formas
como o ambiente é preparado para também atuar como um dos pilares da
humanização das práticas em saúde, assim, entende-se que:

O modo de produção coletiva dos espaços se relaciona


ao método da inclusão adotado pela PNH como um
dispositivo de transformação, que propicie a criação de
espaços coletivos (oficinas, rodas) para discussão e
decisão sobre as intervenções no espaço físico dos
serviços de saúde. (BVS, 2009).

A construção de novas ambiências possibilita uma abertura à reflexão do


próprio trabalho que habita o espaço e oferece novas formas de olhar, pensar e
agir diante das práticas desenvolvidas. É importante salientar que ambiência
não se limita ao espaço físico somente, mas relacionam-se com todo o sentido
produzido neste lugar dotado de multiplicidades, sentimentos, memória,
potência, angústias, queixas, pertencimento. Segundo SANTOS (2006, p.38) o
conceito de espaço transcende a materialidade territorial, uma vez que:

“A configuração territorial não é o espaço, já que sua


realidade vem de sua materialidade, enquanto o espaço
reúne a materialidade e a vida que a anima. A
configuração territorial, ou configuração geográfica, tem,
pois uma existência material própria, mas sua existência
social, isto é, sua existência real, somente lhe é dada pelo
fato das relações sociais”.

IMPORTANTE!

“Sabemos que não há saber neutro, mas que todo saber é político
(...). O conhecimento é produtor de realidade e não está em um
sujeito que aprende e um mundo a ser descoberto. Não. O
conhecimento produz sujeitos e mundos”.
(BRASIL, 2004, p. 11)
Portanto, a ambiência reúne todos os aspectos vivos que o espaço
compõe, produz, transforma. Ela atravessa as pessoas, pois é parte também
do cuidado e das relações, e por isso deve viabilizar a construção de um
trabalho humanizado, reflexivo e criativo que seja desenvolvido em um lugar
agradável, prazeroso e que contribua para a promoção da saúde e o bem-estar
das pessoas. De acordo com a BVS (2009): “A produção do projeto
arquitetônico para as mudanças nos espaços deve ser pautada na discussão
coletiva e problematização do processo de trabalho”.

Imagem 9. Projeto “Amigos do coração”


Espaço da criança – Hospital das Clínicas – UFU

Fonte: Rede Humaniza SUS, 2015

2.4 Gestão Participativa e Cogestão

A Cogestão é uma diretriz da Política Nacional de Humanização que tem


como foco principal a construção de relações mais democráticas, que visam à
administração coletiva e a gestão compartilhada na área da saúde (BRASIL,
2010c). Nesse sentido, essa é uma nova forma de gerir que busca romper com
os modelos tradicionais de hierarquia e centralização. Segundo o Ministério da
Saúde: “Cogestão expressa tanto a inclusão de novos sujeitos nos processos
de análise e decisão quanto a ampliação das tarefas da gestão - que se
transforma também em espaço de realização de análise dos contextos”.
A ruptura com os modelos de gestão centralizadores possibilita outra
visão dos processos de administração dos serviços de saúde, que passam a
ser amparados no trabalho em equipe, na tomada coletiva de decisões e no
poder compartilhado. Assim, entende-se por gestão participativa:

“Uma gestão mais compartilhada, portanto mais


democrática, nos serviços de saúde, no cotidiano das
práticas de saúde, que envolvem as relações, os
encontros entre usuários, sua família e rede social com
trabalhadores e equipes de saúde, necessita alterações
nos modos de organização do trabalho em saúde”.
(BRASIL, 2010, p.9).

Nesse sentido, a Cogestão é definida como “Um modo de administrar


que inclui o pensar e o fazer coletivo, para que não haja excessos dos
diferentes corporativismos e também como uma forma de controlar o Estado e
o Governo” (BRASIL, 2009, p. 8). Para a efetivação dessa diretriz são
necessários espaços como os colegiados, compostos por gestores,
trabalhadores e usuários para o debate e a construção de caminhos e decisões
que estejam de acordo com todos aqueles que participam do processo. O
Ministério da Saúde aponta algumas estratégias e modos de operar essa
diretriz 3:

A organização e experimentação de rodas é uma


importante orientação da cogestão. Rodas para colocar as
diferenças em contato de modo a produzir movimentos de
desestabilização que favoreçam mudanças nas práticas
de gestão e de atenção. A PNH destaca dois grupos de
dispositivos de cogestão: aqueles que dizem respeito à
organização de um espaço coletivo de gestão que permita
o acordo entre necessidades e interesses de usuários,
trabalhadores e gestores; e aqueles que se referem aos
mecanismos que garantem a participação ativa de
usuários e familiares no cotidiano das unidades de saúde.
(Portal do Ministério da Saúde).

Para viabilizar a democratização da gestão nos serviços de saúde são


necessários alguns arranjos e dispositivos que organizam o espaço coletivo,
tais como: colegiados gestores, mesas de negociação, contratos internos de
3
Portal do Ministério da Saúde. Disponível em: http://portalms.saude.gov.br/saude-de-a-z/projeto-
lean-nas-emergencias/693-acoes-e-programas/40038-humanizasus
gestão, Câmara Técnica de Humanização (CTH), Grupo de Trabalho de
Humanização (GTH), gerência de porta aberta, entre outros. Há ainda outros
mecanismos que garantem uma maior participação da rede sóciofamiliar nos
serviços. Entre eles se destacam: a visita aberta e o direito a acompanhante
equipe de referência com horários abertos, ouvidoria descentralizada, família
participante, grupo de pais, etc. Esses dispositivos contribuem para a
manutenção dos laços afetivos, principalmente no caso de usuários
hospitalizados. É uma forma de trazer a rede social do sujeito para dentro das
unidades de saúde, a fim de propiciar uma comunicação que fomente a o
compartilhamento e a responsabilização do tratamento.

DICA DE VÍDEO

Você pode conferir o vídeo Gestão Participativa no SUS, do canal


Conexão SUS, através do link abaixo.

Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=469_Al42wjQ

2.5 Valorização do Trabalhador

De acordo com a Política Nacional de Humanização, o trabalhador atua


como uma “porta de entrada” dos serviços na área da saúde. Dessa forma,
busca-se estimular o protagonismo e o empoderamento daqueles que tanto
trabalham pela saúde no Brasil, pela manutenção da vida, bem estar e
legitimação dos direitos dos cidadãos. Para tanto, é necessário que haja uma
superação de modelos fragmentados de trabalho para a criação de novas
configurações baseadas no trabalho coletivo, no espaço para o diálogo, no
acolhimento das necessidades e limitações do trabalhador. De acordo com
MERHY & FRANCO (2009):

A produção na saúde realiza-se, sobretudo, por meio do


trabalho ‘vivo em ato’, isto é, o trabalho humano no exato
momento em que é executado e que determina a
produção do cuidado. (...). O trabalhador de saúde é
sempre coletivo: o ‘trabalho em saúde’ é sempre realizado
por um trabalhador coletivo. Não há trabalhador de saúde
que dê conta sozinha do mundo das necessidades de
saúde. (MERHY & FRANCO, 2009, p. 282-283).

Para SANTOS-FILHO (2007), muitos são os problemas que rodeiam o


cotidiano do trabalhador da saúde que impedem e/ou dificultam a superação
dos modelos tradicionais, principalmente no que se refere à falta de
conhecimento e pouca governabilidade na tomada de decisões. Para o autor, a
Política Nacional de Humanização (PNH) contribui para a reorganização dos
processos de trabalho em dois eixos: o primeiro, referente à atenção, é
marcado pela transformação nas formas de produzir e prestar serviços à
população; o segundo - eixo da gestão- é constituído pelas relações sociais
tecidas entre trabalhadores e gestores.

Imagem 10. Unidade Pan-americana (1940) - Mural de Diego Rivera

Fonte: ABRASCO, 2019

Assim, percebe-se que, ao mesmo tempo em que as novas propostas de


trabalho trazem mudanças e melhorias no sistema, o trabalhador sente as
exigências, porém, muitas vezes, pode não receber um apoio adequado para
tais ações. O Ministério da Saúde aponta como ferramenta importante para a
consolidação da diretriz que valoriza o Trabalhador da Saúde o Programa de
Formação em Saúde e Trabalho e a Comunidade Ampliada de Pesquisa, que
podem gerar:

Possibilidades que tornam possível o diálogo, intervenção


e análise do que gera sofrimento e adoecimento, do que
fortalece o grupo de trabalhadores e do que propicia os
acordos de como agir no serviço de saúde. É importante
também assegurar a participação dos trabalhadores nos
espaços coletivos de gestão. (Humaniza SUS. Ministério
da Saúde).

CAMPOS (2010) aponta para uma relação entre a cogestão e o


neoartesanato e traz uma discussão acerca da necessidade de uma
reconstrução crítica no plano político, sociabilidade, gestão e até mesmo da
epistemologia. O autor também enfatiza a necessidade em superar o mal estar
histórico entre gestão e clínica, pois o distanciamento entre essas instâncias
prejudica toda e qualquer tentativa de interação para a construção de um
trabalho compartilhado. Em suas palavras: “A prática em saúde assemelha-se,
portanto, mesmo quando realizada em equipe ou em rede, ao trabalho
artesanal, um neoartesanato ainda a ser desenvolvido em sua plenitude”.
(Ibidem, p.762)

FIQUE LIGADO

Na pagina da Plataforma Renast você pode conferir um vídeo sobre


Saúde Mental e Trabalho, além de indicações bibliográficas e outros
conteúdos.

Acesse: http://renastonline.ensp.fiocruz.br/temas/saude-mental-trabalho

2.5.1. Saúde do Trabalhador da Saúde: alguns Apontamentos

A Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador


(RENAST) foi criada em 2002, por meio da Portaria n° 1.679/GM, com objetivo
de estimular e propagar ações de saúde do trabalhador, vinculadas às demais
redes do Sistema Único de Saúde (SUS). Com a definição da Política Nacional
de Saúde do Trabalhador em 2005, a Renast passou a ser a principal
estratégia da organização da ST no SUS, sob a responsabilidade da então
Área Técnica de Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde, hoje
4
Coordenação Geral da Saúde do Trabalhador (CGSAT) . A Plataforma
RENAST também oferece um panorama da saúde dos trabalhadores da saúde
e afirma que:
A abrangência e o objeto da Política Nacional de
Promoção da Saúde do Trabalhador do SUS vinculam-se
às áreas de Saúde do Trabalhador e da Gestão do
Trabalho e da Educação na Saúde, estabelecendo uma
articulação estratégica para o desenvolvimento do SUS e
o compromisso dos gestores, trabalhadores e
empregadores com a qualidade do trabalho e com a
valorização dos trabalhadores.

Falar na qualidade de vida do trabalhador é também atentar-se para a


própria saúde daqueles que promovem a saúde e investigar os indicadores que
contribuem para essa situação, tais como: carga horária, falta de
amparo/respaldo, ausência de autonomia, centralização dos serviços,
dificuldade de reinventar o trabalho, etc. Esses fatores devem parte do debate
coletivo que visa à produção de um sentido maior no cotidiano do trabalho, a
fim de proporcionar encontros mais potentes e maiores níveis de satisfação do
trabalhador. A partir dessa estratégia que visa o bem estar e a saúde dos
trabalhadores e trabalhadoras, é válido ressaltar a importância do trabalho no
campo da saúde, que muitas vezes gera o adoecimento do próprio trabalhador.

Imagem 11. Saúde do trabalhador

Fonte: ASSUFBA, 2018

4
Fonte: FIOCRUZ. Disponível em: https://renastonline.ensp.fiocruz.br/temas/rede-nacional-atencao-
integral-saude-trabalhador-renast
Nesse sentido, o processo de humanização e todas as suas diretrizes
apontam para uma nova forma de olhar e construir as práticas na área, a fim de
evitar que o trabalho gere problemas e diminua a potência dos sujeitos. Diante
desta perspectiva, o Portal do Ministério da Saúde afirma: “É importante dar
visibilidade à experiência dos trabalhadores e incluí-los na tomada de decisão,
apostando na sua capacidade de analisar, definir e qualificar os processos de
trabalho”. O trabalho em saúde precisa ser inventivo, criativo e potencializador
de novas formas de ser/agir no mundo. Essa não é uma tarefa fácil, pois, de
certa forma, obriga a saída da zona de conforto e o enfrentamento das ações e
posturas já cristalizadas no sistema. Entretanto o trabalhador não deve estar
sozinho nessa desconstrução, que é coletiva e envolve todos os participantes
do processo de trabalho. Dessa forma, compreende-se que:

Nos processos de trabalho, os trabalhadores “usam de si”


por si. A cada situação que se coloca, o trabalhador
elabora estratégias que revelam a inteligência que é
próprio de todo trabalho humano. Portanto, o trabalhador
também é gestor e produtor de saberes e novidades.
(BRASIL, 2008, p. 7).

SAIBA MAIS!

Para saber mais sobre o tema da Saúde do Trabalhador acesse


o site da Biblioteca Virtual em Saúde.

Acesse:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/trabalhador/pub_destaques.php

Ainda de acordo com a Política Nacional de Humanização (BRASIL,


2008, p.8): “Promover saúde nos locais de trabalho é aprimorar a capacidade
de compreender e analisar o trabalho de forma a fazer circular a palavra,
criando espaços para debates coletivos”. Nesse sentido, é importante salientar
que os espaços de trabalho na área da saúde ou em qualquer outra área
devem propiciar a promoção de saúde e atuar na melhoria das condições de
vida daqueles que trabalham. O trabalho também deve gerar bem-estar e não o
contrário; a saúde precisa ser debatida e priorizada mesmo fora dos ambientes
“formais” de cuidado.

INDICAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

Sobre o tema da Saúde no Trabalho, recomendamos a leitura:


“Panorama da Saúde dos Trabalhadores da Saúde” - Jorge Mesquita
Huet Machado e Ada Ávila Assunção (organizadores). Ano: 2012

Boa leitura!
CAPÍTULO 2 – RECAPITULANDO

Questões de Concursos

Questão 1
Ano: 2019 Banca: IADES Órgão: AL-GO Prova: IADES - 2019 - AL-GO -
Técnico em Enfermagem do Trabalho

Lançada em 2003, a Política Nacional de Humanização (PNH) busca por em


prática os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) no cotidiano dos
serviços de saúde, produzindo mudanças nos modos de gerir e cuidar. A PNH
estimula a comunicação entre gestores, trabalhadores e usuários para construir
processos coletivos de enfrentamento de relações de:

A) Responsabilização, humanização e autonomia.


B) Inovação, tecnologia e ciência.
C) Articulação, descentralização e corresponsabilidade.
D) Poder, trabalho e afeto.
E) Cultura, construção social e cuidado.

Questão 2
Ano: 2018 Banca: Prefeitura de Fortaleza - CE Órgão: Prefeitura de Fortaleza
- CE

O cuidado humanizado deve estar presente em todos os momentos da vida.


Em 2000, foi proposta a construção do Programa Nacional de Humanização
Hospitalar com o objetivo de, exceto:

A) Melhorar a qualidade e a eficácia da atenção dispensada aos usuários dos


hospitais públicos no Brasil.
B) Conceber e implantar novas iniciativas de humanização nos hospitais, que
venham beneficiar os usuários e os profissionais de saúde.
C) Implantar iniciativas de humanização nos hospitais, que venham beneficiar
os usuários e controlar as ações assistenciais dos profissionais de saúde.
D) Capacitar os profissionais dos hospitais para um novo conceito de
assistência à saúde, que valorize a vida humana e a cidadania.

Questão 3

Ano: 2018 Banca: FUMARC Órgão: COPASA Prova: FUMARC - 2018 -


COPASA - Analista de Saneamento - Enfermeiro Trabalho

O conceito adotado atualmente na Política Nacional de Humanização da


Atenção e Gestão no SUS, a PNH, define que “Ambiência na Saúde se refere
ao tratamento dado ao espaço físico entendido como espaço social,
profissional e de relações interpessoais que deve proporcionar atenção
acolhedora, resolutiva e humana” (BRASIL, 2006). Considerando esse
contexto, assinale a afirmativa verdadeira:

A) A Ambiência é a “Diretriz Espacial” para as demais diretrizes da PNH,


apontando-se um único desafio que é o organizar “o que fazer”.
B) A diretriz da Ambiência propõe uma ampliação do olhar sobre a produção do
espaço físico na saúde.
C) A diretriz da Ambiência possibilita afirmar que poucos fatores atuam na
composição de territórios de encontros no SUS.
D) Ao adotar a diretriz da Ambiência para a produção dos espaços na saúde,
atinge-se um retrocesso qualitativo no debate da humanização dos serviços.
E) Nenhuma das alternativas.

Questão 4
Ano: 2018 Banca: FUMARC Órgão: COPASA Prova: FUMARC - 2018 -
COPASA - Analista de Saneamento - Enfermeiro Trabalho
Nas Unidades Básicas de Saúde, o Acolhimento, além de entendido enquanto
processo que permeia toda a abordagem do usuário/comunidade, também é
um espaço onde se realiza a primeira escuta e onde a necessidade do usuário
é identificada (BRASIL, 2017). Sobre a PNH e sua aplicabilidade nos diferentes
espaços, as afirmativas abaixo são verdadeiras, exceto:

A) A Humanização como uma política transversal supõe, necessariamente, a


transposição das fronteiras, muitas vezes rígidas, dos diferentes
saberes/poderes que se ocupam da produção da saúde.
B) Humanizar é um processo ativo e sistemático de inclusão.
C) Na diretriz da Ambiência, para efeitos didáticos de implementação, destaca-
se entre os eixos principais o espaço como ferramenta facilitadora do processo
de trabalho.
D) Para a construção de uma política de qualificação do SUS, a humanização
pode ser entendida como um programa a mais a ser aplicado aos diversos
serviços de saúde.
E) Nenhuma das alternativas.

Questão 5

Ano: 2010 Banca: CEPUERJ Órgão: UERJ Prova: CEPUERJ - 2010 - UERJ -
Técnico de Enfermagem

Uma das diretrizes de maior relevância política, ética e estética da Política


Nacional de Humanização (PNH) do SUS é o Acolhimento. A opção que melhor
define o entendimento da PNH para o Acolhimento nas Práticas de Produção
de Saúde, é a:

A) Ação pontual e isolada, com os processos de produção de vínculo e


responsabilização.
B) Recepção administrativa e ambiente confortável, ou seja, um significado de
dimensão espacial.
C) Ação de aproximação, um “estar com” e um “estar perto de”, ou seja, uma
atitude de inclusão.
D) Ação de triagem administrativa e repasse de encaminhamentos para
serviços especializados.
E) Nenhuma das alternativas.

QUESTÃO DISSERTATIVA

(ADAPTADA) Ano: 2018 Banca: CESGRANRIO Órgão: Transpetro Prova:


CESGRANRIO - 2018 - Transpetro - Enfermeiro do Trabalho Júnior

Uma das diretrizes da PNH é a Ambiência. Explique os principais objetivos


dessa diretriz.

TREINO INÉDITO

Sobre a Indissociabilidade entre Atenção e Gestão assinale a alternativa


correta.

A) A Gestão não interfere no cotidiano das práticas em saúde.


B) Os campos da Gestão e da Atenção não conversam entre si e cada um faz
seu trabalho de forma isolada.
C) Cabe à Gestão direcionar todas as decisões a serem tomadas nos serviços.
D) Gestão e Atenção não se separaram, mas a primeira se sobrepõe à
segunda.
E) As decisões da Gestão interferem diretamente na atenção à saúde.

NA MÍDIA

NO PARTO HUMANIZADO, O PROTAGONISMO É DA MULHER - MAS


ACESSO ESBARRA EM PROBLEMAS DE GESTÃO.

“O Parto Humanizado tem sido cada vez mais debatido, porém o tema ainda
causa dúvidas e preconceito em muita gente e, na prática, ainda está distante
de ser uma opção para a maioria das mulheres, as escolhas ainda são entre o
parto normal e a cesariana. De acordo com dados do Ministério da Saúde, 55%
dos partos realizados no Brasil são cesarianas. Na rede privada, o
procedimento representa 84,6% dos partos e, na rede pública, 40%. A
Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o índice não ultrapasse
15%, fazendo com que o Brasil seja recordista desse tipo de parto no mundo”.
Fonte: O Estado de São Paulo
Data: 21/03/2017
Disponível em: https://emais.estadao.com.br/noticias/bem-estar,no-parto-
humanizado-o-protagonismo-e-da-mulher-mas-acesso-esbarra-em-problemas-
de-gestao,70001708419

NA PRÁTICA

O papel do (a) psicólogo (a) é muito importante no acolhimento a


pacientes hospitalizados. Em casos de hospitalização frequentes, em que o
paciente solicita o atendimento da psicologia, não é a ausência de palavra do
psicólogo, e sim sua capacidade de permitir as palavras do paciente como
sendo tudo que pode ser feito em alguns momentos difíceis, pois certas horas
não admitem palavras. Muitas vezes, o paciente se encontra em estado de
profunda angústia, desorientado e, dependendo da gravidade do caso,
desiludido. Assim, o cuidado humanizado e a ambiência hospitalar podem
contribuir de forma decisiva em seu tratamento, proporcionando um alívio no
sofrimento através de um amparo cuidadoso e comprometido com a melhoria
da qualidade de vida daquele paciente. É importante, neste caso, fortalecer o
vínculo, trabalhar o acolhimento e a escuta ativa, e valorizar a demanda do
atendimento feita pelo próprio paciente.

SAIBA MAIS!

Na rede Humaniza SUS você pode ler e compartilhar experiências


criativas que fazem a diferença no dia-a-dia do trabalho. Confirma o
relato “Roda de Conversa no Refeitório do Hospital”.

Acesse:http://redehumanizasus.net/64344-roda-de-conversa-no-
refeitorio-do-hospital/
CAPÍTULO 3 - PROTAGONISMO E PRODUÇÃO DE SAÚDE
CAPÍTULO 3 - PROTAGONISMO E PRODUÇÃO DE SAÚDE

“Só existe saber na invenção, na


reinvenção, na busca inquieta,
impaciente, permanente, que os homens
fazem no mundo, com o mundo e com os
outros”.

(Paulo Freire)

3.1 Protagonismo, Autonomia e Corresponsabilidade

O processo de humanização tem como objetivo produzir uma nova


forma de interação entre os sujeitos que compõe os serviços de saúde. Além
de estimular a coletividade e a interdisciplinaridade, fomenta o protagonismo de
todos os envolvidos no trabalho: usuários, trabalhadores e gestores. De acordo
com a Política Nacional de Humanização (PNH) existem duas versões deste
processo: a Versão Social, marcada pela inclusão dos coletivos e pela luta dos
movimentos sociais; e a Versão Subjetiva, pautada nas relações através de
sensibilidade, percepção e afetos (BRASIL, 2012). Segundo a Carta dos
direitos dos usuários da saúde, aprovada em 2009 e publicada na Portaria
1.820, de 13 de agosto de 2009:

Art. 5. Toda pessoa é responsável para que seu


tratamento e sua recuperação sejam adequados e sem
interrupção.
Art. 6. Toda pessoa tem direito à informação sobre os
serviços de saúde e as diversas formas de participação
da comunidade.
Art. 7. Toda pessoa tem direito a participar dos conselhos
e das conferências de saúde e de exigir que os gestores
federal, estaduais e municipais cumpram os princípios
desta carta.

O cuidado humanizado deve estar em consonância com a proposta de


trazer aos serviços de saúde uma sensibilidade e um engajamento que
permitem o desenvolvimento do protagonismo e da autonomia dos usuários e
também dos trabalhadores. Dessa forma, o termo “paciente” por apresentar
uma determinada carga de passividade é substituído pela palavra usuário, que
pressupõe a utilização do serviço e sugere uma maior atividade aquele que
procura e usufrui, mas também participa e constrói o campo da saúde. Essa
mudança na forma de nomear já apresenta uma ruptura com o modelo
tradicional no qual o sujeito é colocado numa posição doente, passivo e
submisso às decisões impostas pelo saber médico. Todos são responsáveis
pelo processo de trabalho e pela recuperação da saúde, uma vez que:

A atividade de trabalho é sempre marcada pela relação


dramática entre autonomia e heteronomia. Trabalhamos
sempre em meio a negociações, escolhas e arbitragens,
nem sempre conscientes, que consideram o tipo de
inserção de cada um e de todos que compartilham aquele
meio de trabalho, mas, também, as políticas de saúde, os
valores e as práticas de saúde instituída, as relações de
forças e de poderes presentes em cada situação de
trabalho. Enfim, todos nós somos corresponsáveis pela
gestão das situações de trabalho e temos o potencial de
ajudar a transformá-las ou mantê-las como estão.
(SANTOS FILHO et al., 2009, p. 610).

Uma das formas de compreender o protagonismo e seu


desenvolvimento nas práticas cotidianas está na atitude de transformar o que
outrora foi instituído e promover rupturas com a lógica alienante que retirava do
usuário, por exemplo, o direito de também fazer parte da organização do
serviço. O protagonismo está diretamente relacionado ao empoderamento dos
sujeitos, que consiste na importância de uma participação ativa e na
responsabilidade de construir espaços democráticos que viabilizem as ações
coletivas.

Imagem 12. Protagonismo no SUS

Fonte: PENA, 2010 - Rede Humaniza SUS


É preciso uma articulação comprometida com o reconhecimento dos
direitos de todos, independentemente do papel ou cargo de ocupação para
que, gradativamente, sejam rompidas as práticas centralizadoras e excludentes
que diminuem a potência do fazer coletivo. Dessa forma, as práticas se abrem
para propostas que estejam alinhadas aos princípios da Política de
Humanização e vinculadas aos interesses da coletividade. Para realizar tal
tarefa, existem algumas propostas de ações e intervenções possíveis, tais
como:

As rodas de conversa, o incentivo às redes e movimentos


sociais e a gestão dos conflitos gerados pela inclusão das
diferenças são ferramentas experimentadas nos serviços
de saúde a partir das orientações da PNH que já
apresentam resultados positivos. Incluir os trabalhadores
na gestão é fundamental para que eles, no dia a dia,
reinventem seus processos de trabalho e sejam agentes
ativos das mudanças no serviço de saúde. Incluir usuários
e suas redes sóciofamiliares nos processos de cuidado é
um poderoso recurso para a ampliação da
corresponsabilização no cuidado de si. (Ministério da
Saúde – Humaniza SUS).

Para que o princípio do protagonismo e da corresponsabilidade não


fique apenas no papel, é preciso uma forte mobilização de todos os setores
envolvidos para fortalecer a participação social através dos vínculos criados
entre usuários, equipe e gestão. De acordo com esta perspectiva, “Os usuários
não são só pacientes, os trabalhadores não só cumprem ordens: as mudanças
acontecem com o reconhecimento do papel de cada um”, conforme consta no
Portal do Ministério da Saúde.

FIQUE ATENTO!

“Tomar a saúde como valor de uso é ter como padrão na atenção o


vínculo com os usuários, é garantir os direitos dos usuários e seus
familiares, é estimular a que eles se coloquem como atores do
sistema de saúde.”

(BRASIL, 2012)
3.1.1. Rodas de Conversa: a Autonomia Começa pela Fala

Imagem 13. Rodas de conversa

Fonte: Humaniza SUS, 2014

Os modos de fazer e pensar a saúde foram construídos, historicamente,


com base em normatizações e práticas centradas na redução do sintoma, da
queixa, ou seja, com foco na doença. Este paradigma ainda não totalmente
superado suprime toda e qualquer tentativa de fomentar a autonomia dos
indivíduos, pois divide o campo da saúde em dois polos: de um lado, aquele
que detém o saber predominância do médico e do outro, aquele que
supostamente nada sabe sobre si mesmo.
O paciente, ao procurar o serviço, fica condicionado a obter respostas
prontas, diagnósticos precisos, tratamento adequado e se isenta da
responsabilidade sobre seu próprio bem estar. Para desmontar esse sistema
hierarquizado é necessário repensar os papeis exercidos em cada nível de
atenção à saúde, conforme propõe a PNH, que:

(...) aposta no reposicionamento dos sujeitos, ou seja, no


seu protagonismo, na potência do coletivo, na importância
da construção de redes de cuidados compartilhados: uma
aposta política. Destaca os ‘direitos das pessoas’ usuários
e trabalhadores de saúde com a potencialização da
capacidade de criação que constitui o humano,
valorizando sua autonomia em uma configuração coletiva
dos processos de atenção e gestão. (PASHE e PASSOS,
2008, p. 95)
A partir desta reflexão, percebe-se a importância da criação de caminhos
que possibilitem a troca no lugar da ordem e/ou prescrição indiscriminada.
Nesse sentido, as rodas de conversa se apresentam como uma ferramenta de
poder de fala para todos, independentemente da função exercida naquele
determinado espaço. As rodas podem fortalecer os vínculos, dar voz a um
número maior de pessoas e estimular a participação coletiva na construção de
novos caminhos. Em linhas gerais, é possível afirmar que:

As rodas de conversa nos grupos são um excelente


momento em que o acolhimento e a escuta são possíveis.
Cada grupo constrói a sua forma de se encontrar com
suas regras de acordo com suas necessidades (...). O que
importa são as possibilidades oferecidas para a restituição
do grau de potência dos sujeitos, para que possam voltar
a fazer laços sociais e a viver suas vidas com algum grau
de corresponsabilidade. (BRASIL, 2012, p. 87).
Humanizar a assistência em saúde significa dar espaço tanto à palavra
do usuário quanto à palavra dos profissionais da saúde, a fim de contribuir para
a formação de uma “Rede de diálogo, que pense e promova as ações,
campanhas, programas e políticas assistenciais a partir da dignidade ética da
palavra, do respeito, do reconhecimento mútuo e da solidariedade” (OLIVEIRA
Et al., 2006, p. 282). Ainda segundo as autoras, a reciprocidade marca o
processo de humanização, pois:

Apenas quando se corre o risco de não pretender tudo


saber é que se pode compreender o outro, aceitando que
ele tem algo a dizer, com toda a dimensão de falta que
coloca a palavra, mas também de um saber que, por não
ser total, pode se expandir infinitamente. (Ibidem).

Nesta perspectiva, os usuários e trabalhadores podem aprender uns


com os outros e decidirem juntos as estratégias mais adequadas para cada
situação especifica. Além disso, as decisões passam a ser de responsabilidade
não só dos trabalhadores ou gestores, mas também dos usuários que se
apropriam dos outros processos de trabalho antes destinados apenas à equipe.
Assim, é criado um espaço que promove o protagonismo, o fortalecimento do
vínculo e a valorização de um trabalho mais autônomo e criativo.
QUADRO 1
5
O HUMANIZASUS E SUAS PRINCIPAIS PROPOSTAS

1. Defesa de um SUS que reconhece a diversidade do povo brasileiro e


a todos oferece a mesma atenção à saúde, sem distinção de idade, etnia,
origem, gênero e orientação sexual;

2. Estabelecimento de vínculos solidários e de participação coletiva no


processo de gestão;

3. Mapeamento e interação com as demandas sociais, coletivas e


subjetivas de saúde;

4. Valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de


produção de saúde: usuários, trabalhadores e gestores;

5. Fomento da autonomia e do protagonismo desses sujeitos e dos


coletivos;

6. Aumento do grau de corresponsabilidade na produção de saúde e de


sujeitos;

7. Mudança nos modelos de atenção e gestão em sua


indissociabilidade, tendo como foco as necessidades dos cidadãos, a
produção de saúde e o próprio processo de trabalho em saúde,
valorizando os trabalhadores e as relações sociais no trabalho;

8. Proposta de um trabalho coletivo para que o SUS seja mais


acolhedor, mais ágil e mais resolutivo;

9. Qualificação do ambiente, melhorando as condições de trabalho e de


atendimento;

10. Articulação dos processos de formação com os serviços e práticas


de saúde;

11. Luta por um SUS mais humano, porque construído com a


participação de todos e comprometido com a qualidade dos seus serviços
e com a saúde integral para todos e qualquer um.

5
Fonte: Portal do Ministério da Saúde.
3.2 Psicologia e Humanização

O papel da Psicologia na consolidação dos princípios e diretrizes da


PNH é de extrema relevância uma vez que através da articulação do saber
psicológico e os demais saberes que compõem o campo da saúde, é possível
fornecer um atendimento mais humanizado e acolhedor. A partir disso,
entende-se que o (a) psicólogo (a) possa atuar no acolhimento da demanda do
usuário, entender sua dor e as dimensões biopsicossociais, além de ser um
importante aliado na constituição do vinculo entre usuário e o serviço. De
acordo com estes pressupostos, ao refletir a Psicologia no campo da saúde, é
importante considerar que:

A clínica do sofrimento-político tem como ética o sentido


de ‘morada, abrigo, refúgio’, lugar onde somos autênticos
e despidos de defesas, onde estamos protegidos,
abrigados, e podemos receber o outro. Ela valoriza a
capacidade que cada sujeito tem para introduzir, a
qualquer momento, um desvio no curso de sua vida que
permita desencadear a criação de uma nova ordem.
(BRASIL, 2012, p. 90).

TORRE e AMARANTE (2001) colocam a questão da autonomia como


um eixo central no trabalho com usuários da saúde mental, sobretudo quando a
questão é superar a “Condição do sujeitado, um corpo marcado pelo exame
clínico e pelo diagnóstico psiquiátrico”, até a transformação em um usuário do
sistema de saúde que luta para produzir cidadania para si e seu grupo. (p. 81)

FIQUE ATENTO!

“A Humanização tende a lembrar de que necessitamos de


solidariedade e de apoio social. É uma lembrança permanente sobre
a vulnerabilidade nossa e dos outros. Um alerta contra a violência”.

CAMPOS (2005)

Dessa forma, a psicologia deve transcender as técnicas


psicoterapêuticas e atuar diretamente nos aspectos sociopolíticos que
constituem o campo da saúde pública. O (a) psicólogo (a) tem um papel
fundamental junto ao trabalho multiprofissional que coloca em prática a política
de humanização, pois atua como um articulador de ideias e práticas que visam
à melhoria da qualidade de vida de todo cidadão que utiliza os serviços de
saúde, através de uma postura comprometida com a vida e com a liberdade do
outro. Dessa forma, CAMPOS (2005, p. 399-400) afirma que:

O trabalho em saúde se humaniza quando busca


combinar a defesa de uma vida mais longa com a
construção de novos padrões de qualidade da vida para
sujeitos concretos (...). A humanização depende ainda de
mudanças das pessoas, da ênfase em valores ligados à
defesa da vida, na possibilidade de ampliação do grau de
desalienação e de transformar o trabalho em processo
criativo e prazeroso.

O trabalho da Psicologia no processo de humanização deve ser baseado


em práticas contextualizadas que priorizem a formação do vínculo e auxiliem
na consolidação dos princípios e diretrizes da PNH nos serviços de saúde.
Para tanto, é necessário que o trabalho do (a) psicólogo (a) seja orientado
pelos preceitos do SUS, sobretudo no que se refere à questão do
compartilhamento de saberes através do desenvolvimento de um trabalho
multiprofissional que proporcione a troca entre as diferentes áreas de atuação.
Dentro deste pressuposto, algumas atitudes importantes podem ser
destacadas, segundo SOUZA et. al. (2005), tais como: postura ética,
confidencialidade, respeito às diferenças, receptividade, valorização da
participação do usuário, etc. Todos esses aspectos reforçam não só o papel da
psicologia, como também de todas as especialidades que atuam na área da
saúde.

SAIBA MAIS

No site do CRP/SP você pode conferir a exposição fotográfica “Saúde


Mental para Todos”, realizada por pessoas ligadas ao serviço.

Acesse:
http://www.crpsp.org.br/portal/comunicacao/exposicoes/saude_mental/sa
udemental.aspx
3.3 Humanização na Atenção à Saúde da Mulher

O enfoque dado à saúde da mulher foi acompanhado durante muito


tempo pelo viés biológico, cujo foco principal era a função reprodutiva do corpo
feminino. Nesta perspectiva, a saúde da mulher é restrita à saúde materna e a
questão de gênero é desconsiderada. Outros aspectos são importantes quando
se trata da atenção à saúde da mulher, como por exemplo, as questões
sociais, históricas e culturais que permeiam as relações e marcam a vida das
mulheres na sociedade brasileira (BRASIL, 2004). Assim, afirma-se:

O gênero, como elemento constitutivo das relações


sociais entre homens e mulheres, é uma construção
social e histórica. É construído e alimentado com base em
símbolos, normas e instituições que definem modelos de
masculinidade e feminilidade e padrões de
comportamento aceitáveis ou não para homens e
mulheres. (BRASIL, 2004, p.12).

Imagem 14. Luta das mulheres

Fonte: UNA-SUS, 2017

Segundo o Ministério da Saúde, as mulheres estão mais suscetíveis a


viver em situação de pobreza, além de trabalhar mais horas do que os homens
e podem ter seu tempo mais reduzido em função de atividades não
remuneradas. Dessa forma, abordar o tema da saúde da mulher é também
reconhecer os problemas que resultam das desigualdades de gênero
enraizadas no cotidiano. É neste contexto que as práticas humanizadas da
saúde têm um papel fundamental na diminuição dessas disparidades e,
principalmente, no reconhecimento da mulher por ela mesma, no acolhimento
de suas demandas e no fortalecimento de seu papel enquanto pessoa
autônoma.

FIQUE LIGADO!

Para complementar o debate sobre saúde e a questão da violência


doméstica, recomendamos o documentário: “Enfrentamento da
Violência Doméstica pela Estratégia de Saúde da Família”,
desenvolvido pelo Ministério Público de São Paulo, em parceria com
as Secretarias Municipais de Saúde e Assistência Social de São
Paulo.

Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=QSQekx-xY-8

3.3.1 Violência Contra a Mulher: o que isso tem a ver com saúde?

A violência contra a mulher é um fenômeno que merece ser analisado e


debatido constantemente, pois gera inúmeras consequências do ponto de vista
psíquico e social. Atualmente a violência contra as mulheres é entendida não
como um problema individual, mas como uma questão estrutural, de
responsabilidade de toda a sociedade. Apesar de os números relacionados à
violência contra as mulheres no Brasil serem alarmantes, muitos avanços
foram alcançados em termos de legislação, sendo a Lei Maria da Penha Lei n°
11.340/2006 considerada pela ONU uma das três leis mais avançadas de
enfrentamento à violência contra as mulheres do mundo 6.
Fruto de uma sociedade patriarcal, centralizada no poder do homem e,
muitas vezes, no abuso de poder exercido pela figura masculina seja familiar
ou não, a violência contra a mulher têm gerado muitas discussões em torno de
um problema ainda maior: o Feminicídio – crime cometido contra o gênero

6
Fonte: Senado Federal.
feminino e praticado, na maioria das vezes, pelo homem mais próximo à
mulher: marido/ex, namorado/ex.

Imagem 15. Violência contra a mulher

Fonte: Senado Federal, 2018

No caso da violência, de acordo com a pesquisa Data Senado/2013,


65% das mulheres entrevistadas são agredidas pelo próprio parceiro, 13%
pelos ex- companheiros/namorados e 11% relatam a violência por parte de
parentes. Ainda de acordo com a pesquisa, o Brasil ocupa o 7º lugar no ranking
de 84 países em que mais se matam mulheres 7.
Dentro desse cenário ainda existem os determinantes sociais que
interferem na incidência da violência doméstica, como classe social, cor, idade,
etc. Todos esses fatores estão diretamente ligados à produção de saúde da
mulher e também aos riscos aos quais estão expostas cotidianamente, uma
vez que a violência afeta física e psicologicamente e gera marcas difíceis de
serem apagadas. Essa é uma luta que precisa ser de todos (as) e estão
relacionados à garantia de vidas saudáveis e autônomas, preceitos que
permeiam os objetivos gerais da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde
da Mulher que busca, principalmente:
Promover a melhoria das condições de vida e saúde das
mulheres brasileiras, mediante a garantia de direitos
legalmente constituídos e ampliação do acesso aos meios
e serviços de promoção, prevenção, assistência e
7
Outra pesquisa revela que o Brasil é o 5º país no mundo – em um grupo de 83 – em que se matam
mais mulheres, de acordo com o Mapa da Violência de 2015, organizado pela Faculdade Latino-
Americana de Ciências Sociais (Flacso). Fonte: Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP.
recuperação da saúde em todo território brasileiro;
Contribuir para a redução da morbidade e mortalidade
feminina no Brasil, especialmente por causas evitáveis,
em todos os ciclos de vida e nos diversos grupos
populacionais, sem discriminação de qualquer espécie;
Ampliar, qualificar e humanizar a atenção integral à saúde
da mulher no Sistema Único de Saúde. (BRASIL, 2004,
p.67).
E suma, o objetivo aqui é trazer à tona essa discussão que pertence ao
campo da saúde pública e de tantas outras esferas da sociedade. É preciso
compreender, antes de qualquer coisa, o sentido e a natureza da violência que
diariamente submete as mulheres a diversos riscos e problemas. Esta é uma
temática que reafirma com veemência a influência dos determinantes sociais
nos processos geradores de adoecimento, assim como tantos outros debates
urgentes racismo, homofobia, etc. que ameaçam não só a saúde, mas a
dignidade e a vida do ser humano.
É importante ressaltar que a violência não se manifesta somente na
agressão física, mas em diversas outras situações que inferiorizam,
constrangem e ameaçam a integridade da mulher ou da pessoa em situação de
violência. Conheça algumas formas de agressões que são consideradas
8
violência doméstica no Brasil : humilhar, falar mal, xingar e diminuir a
autoestima; tirar a liberdade de crença; fazer a mulher achar que está ficando
louca; controlar e oprimir a mulher; expor a vida íntima; atirar objetos, sacudir e
apertar os braços.

SAIBA MAIS!

Recomendamos o vídeo “Saúde da Mulher- Linha do tempo das


conquistas”. A Linha do tempo retrata a evolução das políticas
públicas para atenção integral à saúde das mulheres. Vale a pena
conferir!

Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=VmIVkWhd0H8

3.4 Humanização na Atenção Hospitalar

8
Fonte: Governo Federal – Cidadania e Justiça. Disponível em: http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-
justica/2015/12/violencia-contra-mulher-nao-e-so-fisica-conheca-10-outros-tipos-de-abuso
Imagem 16. Mural de ações realizadas pelo grupo humanização do
Hospital Divina Providência de Frederico Westphalen

Fonte: Rede Humaniza SUS, 2014

Um dos grandes desafios da atenção hospitalar consiste em discutir o


papel dos hospitais brasileiros dentro da rede de serviços. Para isso, é
necessário considerar a complexidade do serviço e suas dimensões:
organizacional, assistencial, política, social, ensino e pesquisa e financeiro
(BRASIL, 2011). A partir desta análise, vem à tona a discussão acerca do da
estrutura que permeia o serviço hospitalar, muitas vezes ainda muito rígida e
vinculada ao modelo centralizado e burocratizado. Dessa forma, é possível
afirmar que:

(...) o hospital produz e convive com relações de poder


que conformam uma realidade paradoxal, pois enquanto
alguns são bem remunerados, outros nem tanto; para
alguns os espaços de autonomia e liberdade são amplos,
para outros – a maioria – a força do poder administrativo e
seus instrumentos de controle e submissão são a principal
forma de interação com a organização. (BRASIL, 2011, p.
35).
De acordo com estes pressupostos, a humanização na área hospitalar é
um processo de enfrentamento a esse modelo verticalizado de organização e
assistência que visa a descontruir a imagem fria e “doente” que o ambiente
hospitalar pode transparecer. É importante ressaltar que, diferente de outros
serviços, o hospital abriga os usuários e seus familiares que, de certa forma,
acabam sendo hospitalizados.
Segundo a Política Nacional de Humanização faz-se necessária uma
reorganização das práticas hospitalares de cuidado, modos de gerir, acolher,
trabalhar. Nesse sentido, dada à complexidade do setor, são pontuadas pelo
Ministério da Saúde (2011) algumas ações que podem contribuir neste
processo e fazer emergir novas relações de trabalho, tais como:

 Ampliação da construção de sentido do trabalho.


 Gestão compartilhada.
 Horizontalização da estrutura organizacional e das relações de poder.
 Comunicação e trabalho em equipe.
 Linhas que viabilizem o diálogo e a construção de espaços coletivos.
 Complexidade do adoecimento.
 Acolhimento à diversidade, pluralidade e multiplicidade social e subjetiva
dos sujeitos.
 Produção e ampliação da autonomia do outro (usuário, família,
comunidade).
 Compreensão da singularidade do cuidado e valorização da qualidade
dos encontros.

FIQUE LIGADO!

“Incentivados por programas do Governo, o hospitais vêm


implantando projetos que visam tornar as enfermarias menos hostis
e mais acolhedoras. As pediatrias têm sido as maiores beneficiadas
com esse tipo de ação. E são algumas dessas ações que você
confere nesta edição do programa ‘O Assunto É’, que tem como
tema a Humanização Hospitalar”.

Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=p4VVdpprnig

3.4.2 Práticas Humanizadas: entre Vidas, Sons e Cores


Imagem 17: Palhaçoterapia

Fonte: Blog da Saúde - Ministério da Saúde, 2016

Diante dessa sensibilização que o hospital tanto demanda, além das


mudanças estruturais de gestão, administração, etc., vale salientar algumas
práticas construídas para aliviar o sofrimento daqueles que se encontram
hospitalizadas e, assim, proporcionar um pouco mais de vida no tratamento.
Exemplos muito significativos são destaques em hospitais brasileiros, como
uma forma de agregar mais sensibilidade e bem estar a pacientes
hospitalizados.
Algumas dessas práticas consistem em trabalhos recreativos com
crianças, por exemplo, a chamada Palhaçoterapia que promove uma
experiência de interação e acolhimento lúdico com crianças. De acordo com o
Ministério da Saúde, a figura do palhaço dentro do hospital surgiu em 1980 a
partir da iniciativa do oncologista infantil Patch Adams, que buscou desenvolver
melhores condições no tratamento às crianças hospitalizadas.
Atividades ligadas à música também têm sido grandes aliadas no
processo de humanização, uma vez que a música também é uma ferramenta
terapêutica e potencializadora de bem-estar, alegria, tranquilidade, além de
gerar encontros e vínculos sócioafetivos. A partir dessas considerações,
entende-se que o espaço hospitalar também pode produzir saúde, oferecer
acolhimento, proporcionar mais vida, cores, sons, afetos às pessoas que
vivenciam momentos de dor e sofrimento.
CAPÍTULO 3 – RECAPITULANDO
Questões de Concursos

Questão 1
Ano: 2017 Banca: FEPESE Órgão: SES-SC Prova: FEPESE - 2017 - SES-SC -
Enfermeiro

A Política de Humanização da Assistência Hospitalar aponta diferentes


parâmetros distribuídos em três grandes áreas:
A) Grupo de voluntariado; acolhimento e atendimento dos usuários; e interação
com os gestores.
B) Trabalho dos profissionais; interação com os gestores; e acolhimento e
atendimento dos usuários.
C) Acolhimento e atendimento dos usuários; trabalho dos profissionais; e
lógicas de gestão e gerência.
D) Lógicas de gestão e gerência; acolhimento e atendimento dos usuários; e
grupos de voluntariado.
E) Estratégias de comunicação entre os setores; trabalho dos profissionais; e
padrões de atendimento ao usuário.

Questão 2
Ano: 2014 Banca: FUNDEP (Gestão de Concursos) Órgão: HRTN - MG Prova:
FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2014 - HRTN - MG - Enfermeiro

No Programa Nacional de Humanização, são considerados parâmetros de nível


A na atenção hospitalar, exceto:

A) Grupo de Trabalho de Humanização (GTH) com plano de trabalho


implantado.
B) Visita cinco vezes ao paciente com tempo mínimo de 10 minutos.
C) Ouvidoria em funcionamento.
D) Equipe multiprofissional minimamente com médico e enfermeiro de atenção
à saúde para o seguimento dos pacientes.
E) Nenhuma das alternativas.

Questão 3
Ano: 2017 Banca: UFMT Órgão: UFSBA Prova: UFMT - 2017 - UFSBA -
Enfermeiro

Em 2013, o SUS completou 25 anos de criação com grandes avanços


relacionados à humanização do atendimento, mas também grandes problemas,
dentre os quais a relação conflituosa entre diferentes profissionais de saúde,
bem como entre estes e os usuários. (CORDOBA, 2013.)
Em relação à temática abordada no texto, assinale a afirmativa incorreta.
A) Humanizar o atendimento significa ofertar prestação de serviços de
qualidade, oferecendo avanços tecnológicos, ambientes de cuidado e
condições de trabalho adequado aos profissionais.
B) Os problemas de humanização do SUS estão associados aos seguintes
fatores: sistema de saúde burocratizado e verticalizado, fragmentação do
processo de trabalho e das relações entre os diferentes profissionais, baixo
investimento na qualificação dos profissionais, controle social frágil e modelo
de atenção voltado na relação queixa versus conduta.
C) Acolhimento é a relação solidária e de confiança entre profissionais da
saúde que atendem na Unidade Básica de Saúde.
D) A Humanização do SUS não pode e não deve ser entendida como um
programa a mais a ser aplicado, mas como uma política operante na rede SUS.
E) Nenhuma das alternativas.

Questão 4
Ano: 2018 Banca: UEM Órgão: UEM Prova: UEM - 2018 - UEM - Psicólogo I

Na Atenção Hospitalar, são parâmetros de adesão à PNH:

I) Garantia de visita aberta por meio da presença do acompanhante e de sua


rede social, respeitando a dinâmica de cada unidade hospitalar e as
peculiaridades das necessidades do acompanhante.
II) Existência de mecanismos de desospitalização, visando a alternativas às
práticas hospitalares, como as de cuidados domiciliares.
III) Ouvidoria em funcionamento.
IV) Existência de Grupos de Trabalho de Humanização (GTH) com plano de
trabalho definido e/ou implantado.

A) I e IV apenas.
B) II e III apenas.
C) I II e IV apenas.
D) I, II, III e IV.
E) II, III e IV apenas.

Questão 5
Ano: 2017 Banca: IBFC Órgão: EBSERH Prova: IBFC - 2017 - EBSERH -
Psicólogo - Área Hospitalar (HUGG-UNIRIO)

Assinale a alternativa correta. Humanização na área da saúde refere-se à


transformação dos modelos de atenção e de gestão nos serviços e sistemas de
saúde, com vistas a melhorar as relações humanas nestes espaços sociais. O
princípio da política de humanização que busca reconhecer que as diferentes
especialidades e práticas de saúde podem conversar com a experiência
daquele que é assistido, e que juntos, esses saberes podem produzir saúde de
forma mais corresponsável é o (a):

A) Ambiência.
B) Indissociabilidade.
C) Protagonismo.
D) Autonomia.
E) Transversalidade.

Questão Dissertativa
(ADAPTADA) Ano: 2014 Banca: FGV Órgão: DPE-RJ Prova: FGV - 2014 -
DPE-RJ - Técnico Superior Especializado - Psicologia

No ano de 2007, a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da


Presidência da República lançou o Pacto Nacional pelo Enfrentamento à
Violência contra a Mulher. Descreva esse tipo de fenômeno.

TREINO INÉDITO
A Humanização na atenção hospitalar consiste em:
A) Legitimar a centralização e hierarquia da administração.
B) Aumentar as relações de poder que reforçam o trabalho fragmentado.
C) Excluir os familiares das decisões tomadas.
D) Produzir saúde, oferecer acolhimento, proporcionar mais coletividade.
E) Nenhuma das alternativas.

NA MÍDIA
CAI O Nº DE MULHERES VÍTIMAS DE HOMICÍDIO, MAS REGISTROS DE
FEMINICÍDIO CRESCEM NO BRASIL.

São 4.254 homicídios dolosos de mulheres em 2018, uma queda de


6,7% em relação a 2017. Apesar disso, houve um aumento de 12% no número
de registros de feminicídios. Uma mulher é morta a cada duas horas no país. O
Brasil teve uma ligeira redução no número de mulheres assassinadas em 2018.
Mas, ainda assim, os registros de feminicídio cresceram em um ano. É o que
mostra um levantamento feito pelo G1com base nos dados oficiais dos 26
Estados e do Distrito Federal.

Fonte: G1 Notícias
Data: 08/03/2019

Veja a matéria na íntegra: https://g1.globo.com/monitor-da-


violencia/noticia/2019/03/08/cai-o-no-de-mulheres-vitimas-de-homicidio-mas-
registros-de-feminicidio-crescem-no-brasil.ghtml
NA PRÁTICA
Os casos de violência contra a mulher requerem um atendimento muito
cuidadoso e delicado. Por um lado, o profissional precisa criar um espaço
protegido para a mulher, onde ela possa confiar e se sentir segura. Por outro
lado, em casos de violência já constatada, o profissional não deve se omitir,
pois também é uma tarefa dos serviços de saúde contribuir para o
enfrentamento da violência, pois é parte de um quadro muito mais complexo.
De acordo com o Conselho Regional de Psicologia de SP: “O profissional de
saúde que identificar os sinais, visíveis ou não, de agressões deverá preencher
uma ficha de notificação da violência para a Vigilância Epidemiológica de
Doenças e Agravos Não Transmissíveis”. Trata-se da Notificação Compulsória
(Lei 10.778 de 2003 9) cujo objetivo é “contribuir com estatísticas que podem
orientar a definição de políticas públicas, é muito importante para a/o
psicóloga/o estar por dentro desse tema”.
O profissional não deve se omitir em casos de violência, mas é muito
importante preservar a relação de confiança com a vítima. Assim, o trabalho
psicoterapêutico humanizado, o acolhimento, a escuta ativa e atenta, o
encaminhamento a grupos de apoio e a discussão com a equipe
multiprofissional e com os demais serviços da rede de atenção são estratégias
relevantes para o desenvolvimento do caso.

SAIBA MAIS
Para complementar o debate sobre a saúde e o enfrentamento à
violência contra a mulher, recomendamos este vídeo elaborado pelo
Conselho Federal de Psicologia: “Violência contra as mulheres: o que
os profissionais de saúde têm a ver com isso?”.

Acesse:

https://www.youtube.com/watch?v=084Z58rI8rE&feature=youtu.be

9
Fonte: Governo Federal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.778.htm
Sugestões de Vídeos

1. Sobre o tema da Humanização nos hospitais, recomendamos o vídeo:


Música nos Hospitais da Santa Marcelina Cultura, realizada em parceria com
os Doutores da Alegria.
Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=_-HBJb8Y_hw

2. Sobre o tema da Atenção à Saúde da Mulher e a questão da violência,


assista “A violência contra a mulher no âmbito familiar” com a juíza Adriana
Mello, no programa Café Filosófico.
Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=VVjIHP_L-o8

INDICAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

Deslocamentos do feminino: A mulher freudiana na passagem para a


modernidade. – 2 ed. – Rio de Janeiro: Imago, 2008.
Autora: Maria Rita Kehl
FECHANDO A UNIDADE
GABARITOS
CAPÍTULO 1

Questões de concursos

01 02 03 04 05
C A D C D

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE


A Política de Humanização tem como objetivo produzir uma nova forma de
interação entre os sujeitos que compõe os serviços de saúde. Além de
estimular a coletividade e a interdisciplinaridade, fomenta o protagonismo de
todos os envolvidos no trabalho: usuários, trabalhadores e gestores.

TREINO INÉDITO
GABARITO: A

CAPÍTULO 2
Questões de concursos

01 02 03 04 05
D C B D C

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE


A Ambiência, de acordo com a Política de Humanização está relacionada ao
processo de construção de espaços saudáveis, acolhedores e confortáveis,
que respeitem a privacidade, propiciem mudanças no processo de trabalho e
considerem todas as dimensões humanas implicadas no processo de
ocupação dos espaços, para que estes sejam de fato produtores de saúde.

TREINO INÉDITO
GABARITO: E
CAPÍTULO 3
Questões de concursos

01 02 03 04 05
C B C D E

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE

A violência contra a mulher é um fenômeno que se expressa nas relações


interpessoais na qual majoritariamente o agressor é conhecido pela vítima. É
importante compreender que esta é uma questão estrutural que não diz
respeito somente à vítima, mas sim a toda a sociedade. Dessa forma, é
necessário que toda a rede de proteção à mulher esteja muito bem articulada a
fim de possibilitar, inicialmente, amparo e acolhimento.

TREINO INÉDITO
GABARITO: C
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AYRES, José R. de Carvalho Mesquita. O cuidado, os modos de ser (do)


humano e as práticas de saúde. Saúde e Sociedade v.13, n.3, p.16-29, set –
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modismo? Interface - Comunic, Saúde, Educ., v.9, n.17, p.389 – 406, 2005.

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Brasília, 2013.

_________________________. Trabalho e redes de saúde – Valorização dos


trabalhadores da saúde. Brasília, 2008.

_________________________. HumanizaSUS – Gestão participativa e


cogestão. Brasília, 2009.

_________________________. Política Nacional de Humanização. Formação


e intervenção. Cadernos HumanizaSUS – Brasília, 2010a.

__________________________. Gestão Participativa e Cogestão. Brasília,


2010b.

__________________________. Cadernos HumanizaSUS, vol. 2. Atenção


Básica. Brasília, 2012.

__________________________. Cadernos HumanizaSUS, vol. 3. Atenção


Hospitalar. Brasília, 2011.

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Figura 2. Cuidado Humanizado. Tribuna do Ceará, 2018. Disponível em:


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Figura 3. Componentes fenomenológicos essenciais da vulnerabilidade


em saúde. Extraído de: CESTARI, Virna Ribeiro Feitosa et al . A essência do
cuidado na vulnerabilidade em saúde: uma construção heideggeriana. Rev.
Bras. Enferm., Brasília , v. 70, n. 5, p. 1112-1116, Oct. 2017. Disponível
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-
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http://redehumanizasus.net/88713-projeto-amigos-do-coracao-espaco-da-
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http://redehumanizasus.net/83051-roda-de-conversa-no-ministerio-da-saude-
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Figura 14. Luta das mulheres. UNA – SUS, 2017. Disponível em:
https://www.unasus.gov.br/noticia/aten%C3%A7%C3%A3o-%C3%A0-
sa%C3%BAde-da-mulher-em-situa%C3%A7%C3%A3o-de-viol%C3%AAncia-
%C3%A9-o-tema-do-novo-curso-da-una-susufmg. Acesso em: Julho/2019.
Figura 15. Violência contra a mulher. Observatório da Mulher contra a
Violência - Senado Federal, 2018. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/institucional/omv. Acesso em: Agosto/2019.

Figura 16. Mural de ações realizadas pelo grupo humanização do Hospital


Divina Providência de Frederico Westphalen. Rede Humaniza SUS, 2014.
Disponível em: http://redehumanizasus.net/83215-mural-da-humanizacao/.
Acesso em: Agosto/2019.

Figura 17. Palhaçoterapia. Blog da Saúde - Ministério da Saúde, 2016.


Disponível em: http://www.blog.saude.gov.br/index.php/promocao-da-
saude/51970-dia-da-gentileza-conheca-a-palhacoterapia-e-saiba-como-ela-
contribui-para-melhorar-a-humanizacao-no-sus. Acesso em: Agosto/2019.

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