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FACULDADE IELUSC

PSICOLOGIA
PSICOLOGIA JURÍDICA
Docente: Profa. Ma. Luana Taina Mesquita Costa
Discente: Franciele Lagos Ribeiro dos Santos

A PSICOLOGIA JURÍDICA E A VIOLÊNCIA DE GÊNERO

“Que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a
nossa própria substância, já que viver é ser livre.”

SIMONE DE BEAUVOIR, filósofa e escritora francesa (1908-1986)

A Psicologia Jurídica no Brasil tem seu início no reconhecimento da


profissão, na década de 1960, de forma lenta, algumas vezes de maneira informal e
através de trabalhos voluntários. A história revela que a atuação do psicólogo
brasileiro é bem anterior à década de 1960. Existia muito antes a preocupação com
a avaliação do criminoso, principalmente quando se trata de um doente mental
delinquente. Os primeiros trabalhos dos psicólogos foram no campo do Direito
Penal, reforçando a aproximação da Psicologia e do Direito através da área criminal
e a importância dada à avaliação psicológica, como também no nos processos de
Direito Civil. Diante do exposto, percebe-se a aproximação da Psicologia e do
Direito, evidenciado, o Direito e a Psicologia se aproximaram em razão da
preocupação com a conduta humana, atrelado a questões envolvendo os direitos da
criança e do adolescente, a demanda pelo trabalho do psicólogo em áreas como
Direito da Família, Direito da Criança e do Adolescente, Direito Civil, Direito Penal e
Direito do Trabalho vêm crescendo, como outras possibilidades de participação do
psicólogo em questões judiciais estão surgindo.
Há uma predominância das atividades na Psicologia Jurídica através de
confecções de laudos, pareceres e relatórios, atribuindo à Psicologia uma atividade
de cunho avaliativo e de subsídio aos magistrados. O psicólogo, ao concluir o
processo da avaliação, pode recomendar soluções para os conflitos apresentados,
mas jamais determinar os procedimentos jurídicos que deverão ser tomados. Ao juiz
cabe a decisão judicial. É preciso deixar clara esta distinção, reforçando a ideia de
que o psicólogo não decide, apenas conclui a partir dos dados levantados mediante
a avaliação e pode, assim, sugerir e indicar possibilidades de solução da questão
apresentada pelo litígio judicial. Contudo, nem sempre o trabalho do psicólogo
jurídico está ligado à questão da avaliação e consequente elaboração de
documentos.
A atuação de psicólogos no Sistema de Justiça, em especial no Poder
Judiciário, como observamos, é uma prática recente no Brasil. A Psicologia Jurídica
reconhecida pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) como uma área
especializada da Psicologia em 2000, por delimitar um campo de saber próprio de
atuação do psicólogo no âmbito das questões e dos problemas jurídicos. Entre as
diversas áreas de atuação do psicólogo jurídico, destacam-se as ações no âmbito
das varas de família, enfocadas especialmente pelo Centro de Referências Técnicas
em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP) do Conselho Federal de Psicologia
(CFP), com base em levantamento realizado em 2010.
A natureza das questões conflitivas das relações familiares, aliada à
complexidade das relações humanas contemporâneas, exigiu que o exercício do
Direito pudesse ser auxiliado por outras disciplinas, como a Psicologia e o Serviço
Social para compreender as manifestações subjetivas, culturais e contextuais de um
tempo que redefine as famílias, as funções parentais e suas formas de exercer a
proteção, educação e cuidado com os filhos.
A violência de gênero se define como qualquer tipo de agressão física,
psicológica, sexual ou simbólica contra alguém em situação de vulnerabilidade
devido a sua identidade de gênero ou orientação sexual.
É pela perspectiva de gênero que se entende o fato de a violência contra
as mulheres emergir da questão da alteridade, enquanto fundamento distinto de
outras violências, esse tipo de violência não se refere a atitudes e pensamentos de
aniquilação do outro, que venha a ser uma pessoa considerada igual ou que é vista
nas mesmas condições de existência e valor que o seu perpetrador. Pelo contrário,
tal violência ocorre motivada pelas expressões de desigualdades baseadas na
condição de sexo, a qual começa no universo familiar, onde as relações de gênero
se constituem no protótipo de relações hierárquicas. Porém, em outras situações,
quem subjuga e quem é subjugado pode receber marcas de raça, idade, classe,
dentre outras, modificando sua posição em relação àquela do núcleo familiar.
Violências contra as mulheres são a manifestação extrema de diversas
desigualdades historicamente construídas, que vigoram, com pequenas variações,
nos campos social, político, cultural e econômico da maioria absoluta das
sociedades e culturas. Sob diversas formas e intensidades, a violência doméstica e
familiar contra as mulheres é recorrente e presente no mundo todo, motivando
crimes hediondos e graves violações de direitos humanos.
No contexto nacional a Lei Maria da Penha, lei n.o 11.340/2006,
representa um reconhecimento do Estado brasileiro de que, em nossa realidade, os
papéis associados ao gênero feminino e o lugar privilegiado do gênero masculino
nas relações geram vulnerabilidades para as mulheres, que acabam sendo mais
expostas socialmente a certos tipos de violência e violações de direitos. Ela define,
em seu artigo quinto, cinco formas de violência doméstica e familiar contra as
mulheres que acontecem de modo combinado: violência psicológica (humilhar,
insultar, isolar, perseguir, ameaçar), violência física (empurrar, chutar, amarrar,
bater), violência sexual (Estuprar – forçar sexo não consentido), violência patrimonial
(não deixar trabalhar, reter dinheiro, destruir objetos, ocultar bens) e violência moral
(caluniar, injuriar, difamar), qualquer ação ou omissão das formas citadas, é definida
como fator de violência de gênero.
A mulher deve ser considerada como protagonista da sua própria vida,
mas na sua grande maioria quando sofrem violência domésticas elas sentem
vergonha, medo das ameaças e represarias, dependem financeiramente do
agressor, não tem para onde ir. Os dos maiores desafios da Lei Maria da Penha,
não é o saber da sua existência, mas sim, o que diz a Lei Maria da Penha, quais
direitos são a elas assegurados.
No âmbito das varas de família, os fenômenos de violência doméstica
contra mulheres, crianças e adolescentes se expressam nos processos judiciais,
muitas vezes, como o motivo principal para a dissolução conjugal e, outras, como o
pano de fundo de inúmeras queixas embutidas nos pedidos de guarda, incluindo
vitimizações físicas, psicológicas e sexuais, também, para com os filhos menores.
As violências contra as crianças e adolescentes por parte de um dos pais são,
muitas vezes, apontadas como as razões para a dissolução das relações afetivas do
casal e da ruptura das relações familiares. Em outras, essas violências ficam
mascaradas e só podem ser observadas no contato direto com as crianças ou
adolescentes envolvidos na trama familiar em questão. O risco da naturalização da
violência de gênero e de idade ocorre, tanto nas relações sociais e familiares,
quanto nos processos judiciais, exigindo do profissional cuidados técnicos e éticos
para não perpetuar tal naturalização.
Para lidar com a complexidade dos dilemas humanos e com os
fenômenos sociais expressos nas questões jurídicas, o psicólogo é chamado para
assessorar as decisões judiciais, isto é, emprestar o seu saber para que os
problemas endereçados ao Poder Judiciário possam ter respostas singularizadas e
justas. Para tanto, o psicólogo planeja a intervenção viável para cada caso,
utilizando-se das ferramentas da disciplina, do conhecimento acumulado na área e,
principalmente, da compreensão dos limites de suas ações neste campo. A partir da
escuta cuidadosa das pessoas em litígio e da leitura das demandas psíquicas
atreladas às solicitações jurídicas, o profissional pode administrar com eles, os
jurisdicionados, as ações desejáveis e possíveis. Nesta direção, a atuação do
psicólogo não fica restrita ao modelo pericial estrito senso, avançando para outras
estratégias de manejo das demandas, entre elas, a mediação de conflitos. Como
toda e qualquer atuação psicológica, os psicólogos jurídicos deve ser respaldada
pelos princípios éticos da profissão, considerando em especial, as relações de poder
no contexto em que atua e os impactos dessas relações sobre as suas atividades
profissionais, posicionando-se de forma crítica e em consonância com os demais
princípios do Código de Ética Profissional da Psicologia, para promover a saúde e a
qualidade de vida das pessoas, contribuindo para a eliminação de quaisquer formas
de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

REFERÊNCIAS
1. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA: SAF/SUL. Referências
técnicas para a atuação de psicólogas(os) em varas de família.
Brasília/DF, Impresso no Brasil – agosto de 2013.
2. LAGO, Vivian de Medeiros; AMATO, Paloma; TEIXEIRA, Patrícia
Alves; ROVINSKI, Sonia Liane Reichert; BANDEIRA, Denise Ruschel.
Um breve histórico da psicologia jurídica no Brasil e seus campos de
atuação. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/estpsi/a/NrH5sNNptd4mdxy6sS9yCMM/?
lang=pt&format=pdf Acesso em: 02 out. 2021.
3. DOCUMENTÁRIO SOZINHAS. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=XEuJ9XT2yX8 Acesso em: 14 set.
2021.

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