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João Pessoa – PB
Fevereiro de 2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA SOCIAL
MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL
BANCA AVALIADORA:
________________________________________________________
Prof. Dr. Valdiney Veloso Gouveia (UFPB, Orientador)
_________________________________________________________
Prof. Dr. Emerson Diógenes de Medeiros (UFPI, Membro Externo)
__________________________________________________________
Profª Drª Patrícia Nunes da Fonsêca (UFPB, Membro Interno)
Agradecimentos
por ter colocado em meu caminho pessoas maravilhosas que muito me ajudaram a
iniciar e concluir esta etapa. Especificamente, agradeço aos meus pais (Manoel e
Regina), por terem feito de tudo para que eu tivesse uma boa educação, além de todo o
apoio e amor que me deram ao longo dos anos, sempre me incentivando e contribuindo
para a realização dos meus sonhos. Agradeço, também, a minha irmã Amanda, um
exemplo que tento seguir, principalmente por seu esforço e dedicação, além de todo o
amor e paciência que tem comigo. Ainda no âmbito familiar, tenho muito a agradecer a
meu tio Marcelo, que sempre esteve presente em momentos marcantes da minha vida e
trazendo uma psicologia, até então, por mim desconhecida, sempre me incentivando a
tenho muito a agradecer por sua amizade preciosa. Obrigado por tudo, professor
Diógenes, sem a sua presença certamente eu não estaria aqui, talvez nem a graduação
tivesse concluído.
Após a euforia, logo chega o momento da mudança, pela primeira vez na minha
vida saí de casa. Não foi fácil superar a saudade, mas tudo foi amenizado com as
amizades que construí em João Pessoa, amigos que me receberam muito bem e logo me
importante, uma pessoa que orienta não apenas no sentido acadêmico, mas também para
sala de aula ou mesmo nos momentos de descontração. Por seu caráter e competência, o
senhor se torna um exemplo para todos que o conhecem, muito obrigado por ter me
aceitado em seu núcleo de pesquisa e por todas as oportunidades que tem me dado.
neste momento de mudança e por sua amizade durante este período de convívio.
No grupo de pesquisas BNCS, tive a sorte de conhecer pessoas que vão além de
meros colegas de trabalho, são amigos de verdade que vou levar para toda vida, pessoas
com quem aprendi e aprendo muito, pessoas que me apoiam e incentivam diariamente:
Ana Isabel de Araújo Silva de Brito Gomes, Ana Karla Silva Soares, Bruna da Silva
Nascimento, Gabriel Lins de Holanda Coelho, José Farias de Souza Filho, Kátia Côrrea
Vione, Larisse Helena Gomes Macêdo Barbosa, Layrtthon Carlos de Oliveira Santos,
Leogildo Alves Freires, Luis Augusto de Carvalho Mendes, Luiz Henrique de Carvalho
Diniz Melo, Maria Gabriela Costa Ribeiro, Patrícia Nunes da Fonsêca, Raffaela de
conhecer.
muito a agradecer. Destaco Tatiana Medeiros Costa, Felipe Sávio Cardoso Teles
Monteiro, Carlos José de Cerqueira Veras Filho e Elba Celestina do Nascimento Sá, a
amizade de vocês é muito importante para mim! Agradeço, ainda, demais amigos e
Abstract. This dissertation aimed at determining the extent to which personality traits,
mediated by human values, predict psychopaths phenotypes. In this sense, three
empirical studies were carried out. Study 1 aimed to adapt to the Brazilian context the
Triarchic Psychopathy Measure (TriPM). Participants were 498 undergraduate students
of public and private universities from João Pessoa (Brazil), with a mean age of 22
years (SD = 7.79), they responded to TriPM and demographic questions. Initially, we
verified the discriminative power of items, item 35 was eliminated for not differentiate
participants with close scores. Subsequently, a Principal Component Analysis was
performed by fixing varimax rotation and extraction of three factors, it was possible to
identify a solution with acceptable reliability indicators and each dimension being
formed by nine items: Disinhibition (α = .73), Boldness (α = .73) and Meanness (α =
.81), together explaining 25.6% of the total variance. Study 2 aimed to test the adapted
version. Participants were 230 people from the general population, with mean age 26.9
years (SD = 8.87), who responded the TriPM version with 27 items and demographic
questions. Alternative models were tested, but the three factors was more acceptable
(e.g., GFI = .81; RMSEA = .05). With preliminary evidences attesting to the adequacy
of TriPM proceeded to the Study 3, aiming to verify the mediating role of human values
in the relationship between personality traits and psychopathy. Participants were 228
undergraduate students of public and private universities from João Pessoa (Brazil),
with a mean age of 25.1 years (SD = 7.51) who answered TriPM, Big Five Inventory,
the Basic Values Questionnaire and demographic questions. The results indicated that
personality traits and values were good predictors of psychopathic phenotypes,
moreover, confirmed the mediating role of values in the relationship between
personality and psychopathy. It is estimated that the objectives were achieved, with the
adaptation of a self-report measure for the estimation of psychopathic traits in general
population, with preliminary evidence for its factorial validity and internal consistency,
and increasing the understanding that has been around psychopathy from the
relationships it establishes with other constructs.
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 15
6.2.3. Valores como mediadores das relações entre personalidade e psicopatia 132
FIGURA 9. MODELO DE MEDIAÇÃO TESTADO PARA O ESCORE TOTAL DA PSICOPATIA. ... 137
INTRODUÇÃO
É perceptível a curiosidade em torno da psicopatia, sendo tema recorrente na
mídia em geral. Por exemplo, é possível listar inúmeros personagens de filmes, novelas
e seriados, rotulados como psicopatas (e.g., Hannibal Lecter, Dexter Morgan, Norman
killer. Portanto, é notável a forte relação estabelecida entre violência e psicopatia, algo
possam apontar (Hauck Filho, Teixeira, & Dias, 2012; Kennealy, Skeem, Walters, &
Camp, 2010).
violência como eventuais correlatos e não como uma condição inerente e necessária
para caracterizar um psicopata (Cooke, Michie, Hart, & Clark, 2004). Sendo assim,
conviver com pessoas que apresentam traços deste transtorno pode ser uma realidade
não tão distante. De fato, atentando para o meio social, é um tanto comum deparar-se,
são manipuladores, agindo sempre de acordo com seus próprios interesses, aplicando
pequenos golpes e enganando os demais (Murray, Wood, & Lilienfeld, 2012). Portanto,
por evidências empíricas. Sendo assim, na década de 1980, surgem estudos pautados em
16
O advento de medidas de psicopatia possibilitou, além de avaliar o transtorno de
um maior entendimento sobre a psicopatia a partir das relações que ela estabelece com
outros construtos (Hauck Filho et al., 2009). Diante desta conjuntura, é relevante
estilos parentais e o histórico de abuso sofrido na infância como potenciais gatilhos para
variáveis de cunho social, possibilitando pensar em alternativas que inibam traços mais
acentuados de psicopatia.
componente genético, é importante ter em conta variáveis mais sociais para o estudo
que estes são princípios guia individuais (Bilsky & Schwartz, 1994; Gouveia, 2013),
17
testou-se o papel mediador dos valores na relação entre personalidade e expressões
comportamentais da psicopatia.
organiza-se em duas partes, teórica e empírica. Na primeira, são expostos três capítulos
Simms, Clark, Livesley, & Widiger, 2010; Walton, Roberts, Krueger, Bloningen, &
Hicks, 2008). Por fim, o Capítulo 3 aborda os valores humanos, trazendo um breve
que vem sendo construído nos últimos 15 anos, denominado de Teoria Funcionalista
A parte empírica, por sua vez, é formada por três estudos, os dois primeiros de
estudos que testam outros instrumentos, além daquelas pesquisas que buscam seus
18
correlatos, por fim, indicam-se potenciais limitações desta pesquisa e direções futuras a
serem abordadas.
19
PARTE I – MARCO TEÓRICO
20
CAPÍTULO 1. PSICOPATIA
21
A psicopatia constitui-se como um dos construtos que mais chama atenção da
população em geral, além de ser tema recorrente em filmes, novelas e seriados, o que
pode contribuir para certo fascínio, curiosidade e confusão que há em torno do perfil
psicopata (Lykken, 2006; Skeem, Polaschek, Patrick, & Lilienfeld, 2011). Contudo, a
comunidade acadêmica também tem se detido nesta temática, como pode ser atestado
em rápida busca realizada na base de dados PsycInfo, onde foram encontrados 470
de outras áreas, estendeu-se a busca ao Scholar Google, que apontou cerca de 44.000
ainda, uma busca integrada considerando quatro bases de dados brasileiras (Index Psi,
Esta busca apontou para cerca de 100 estudos sobre o construto, com diferentes
(Walsh & Wu, 2008). Tais disciplinas centram-se, sobretudo, na testagem de modelos
Levenson, Kiehl, & Fitzpatrick, 1995; Lilienfeld & Adrews, 1996; Patrick, 2010).
sobre a forma mais confiável de estimar o transtorno (Hare & Neumann, 2008;
22
Lilienfeld, 1998; Lilenfeld & Fowles, 2006; Miller, Lynam, Widiger, & Leukefeld,
2001).
entendimento e algumas das vias mais utilizadas para sua mensuração. Em seguida, será
seminais ao estudo do construto não devem ser ignoradas, de modo que nenhum
conhecimento é formado no vácuo. Sendo assim, na seção a seguir, será feito um breve
mais recentes.
sob o alicerce da psicologia forense e da prática clínica (Leistico, Salekin, DeCoster, &
23
confluência de três tradições psiquiátricas: a escola francesa, a alemã e a anglo-
psicopatia, aos interessados por tal percurso, indicam-se alguns textos base, como os de
Davis (2003). Portanto, nesta ocasião, buscou-se trazer um panorama geral, elencando
Tabela 1. Evolução conceitual da psicopatia (Adaptado de Arrigo & Shipley, 2001, pp.
328-329)
1812 Rush Moral alienation of the mind Perversão das faculdades morais
Nota: DSM = Diagnostic and Statistical Manual, PCL = Psychopathy Checklist, TPA = Transtorno de
Personalidade Antissocial.
24
Baseado na tabela anterior percebe-se que as primeiras tentativas em descrever
200 anos (Silva, Rijo, & Salekin, 2012). Tal contexto histórico aponta, frequentemente,
psicopatia.
remorso. Portanto, por meio de sua obra, The Treatise on Insanity, cunhou o termo
“manie sans delire” utilizado para descrever pessoas que, mesmo tendo ciência da
Portanto, Pinel utilizou o termo para descrever um tipo de transtorno das funções
al., 2003; Soeiro & Gonçalves, 2010; Visser, 2010). Pinel advogava, ainda, que as
25
transtorno a manifestações antissociais e imorais (DeLisi, 2009; Herpertz & Sass, 2000;
intelectual, porém, com prejuízos a nível afetivo e volitivo. Por meio do seu livro
Treatise of Insanity and Other Disorders Affecting the Mind, publicado em 1837,
Prichard propôs o termo “moral insanity” (DeLisi, 2009). Tal condição caracterizava
perversão mórbida dos sentimentos naturais, afetos e caráter (Magro & Sanchez, 2005),
pensamento (Arrigo & Shipley, 2001; Beltri & Fuentes, 2008; Vaughn & Howard,
2005).
“moral insanity” de Prichard (Ribeiro, 2005; Silva, Rijo, & Salekin, 2013).
Ludwig Koch, intitulado Psychopathic Inferiorities. Este termo referia-se a sujeitos que
abarcando uma gama de problemas mentais, indicando, assim, que tais distúrbios
26
tinham origem inata, orgânica, decorrente de algum problema físico (Arrigo & Shirpley,
ofereceu uma classificação mais refinada, comparado aos conceitos anteriores, passando
Por meio de sua obra clássica, The Mask of Sanity, Cleckley concebe a
de saúde mental, refletindo, assim, o título de sua obra (Henriques, 2008). Com base em
sua experiência clínica em um hospital psiquiátrico, Cleckley lista uma série de traços
(Skeem et al., 2011). Abaixo são expostos os 16 aspectos, listados por Cleckley (1988),
27
1) Charme superficial e boa inteligência;
4) Não confiabilidade;
5) Falsidade e insinceridade;
2009; Silva, Rijo, & Salekin, 2012). Nesta direção, percebe-se a relevância das
psicopatia. Logo, sua obra constitui-se como referência base no estudo da temática,
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passando a influenciar estudos posteriores (Decuyper, Pauw, Fruyt, Bolle, & Clercq,
Davoglio, Gauer, & Kosson, 2012). Em sua segunda edição, manteve a ênfase nos
antissociais e delitivos, algo que persiste em sua versão mais atual (Lilienfeld, 1998).
de uma base teórica e empírica, algo que contribuiu para a retomada da perspectiva dos
dos principais autores que revitalizaram a perspectiva oriunda dos estudos clássicos de
construto (Hauck Filho et al., 2009; Willians & Paulhus, 2004). A perspectiva de Hare
29
resgata aspectos interpessoais e afetivos, centrais para o entendimento do transtorno,
antissociais e de um estilo de vida impulsivo (Hare & Neumann, 2008), modelo que
obstante, apesar das importantes contribuições, diversas críticas são feitas ao trabalho de
Widows, 2005). Destaca-se, ainda, que, com o avanço da tecnologia, pesquisas que
perceptível que, mesmo tendo longa história, este construto continua a despertar
Entretanto, tal quadro parece algo indefinido, com orientações que divergem quanto aos
aspectos centrais e secundários que atribuem a um psicopata (Lilienfeld, 1998), algo que
30
1.2. Dimensões da psicopatia
vertentes distintas: uma pautada nos traços de personalidade e outra com ênfase nos
alguns dos principais manuais psiquiátricos atuais, ao passo que, no meio acadêmico, é
cada vez mais aceito pensar a psicopatia enquanto uma constelação de traços de
personalidade (Blonigen, Carlson, Krueger, & Patrick, 2003; Murray et al., 2012).
Portanto, o papel das condutas delitivas na psicopatia tem se constituído como um dos
para uma visão criminosa sobre o construto (Lalumière, Harris, & Rice, 2001).
Deste modo, é possível que indivíduos com elevado déficit nos componentes
extrema violência, levem uma vida aparentemente normal, algo que lhes confere a
31
denominação de psicopatas de sucesso (Cleckley, 1988; Gummelt, 2010). Portanto, a
mítica figura do psicopata enquanto serial killer é algo um tanto distante da realidade,
sendo mais corriqueiro deparar-se, no dia-a-dia, com aqueles que apresentam traços
comuns, como charme superficial, que são manipuladores e com tendência a enganar os
outros (Walsh & Hu, 2008). Ademais, as relações entre psicopatia e violência são
tanto comum, nas relações diárias, conviver com psicopatas. Assevera-se, inclusive, que
alguns traços psicopatas são valorizados no mercado de trabalho, sendo, por vezes, pré-
negócios, na carreira política e no direito (Mathieu, Hare, Jones, Babiak, & Neumann,
2013). Portanto, nem todas as pessoas que possuem traços acentuados de psicopatia
Seguindo esta linha, nesta ocasião, assume-se que condutas antissociais e delitivas não
devem ser vistas como sinônimos de psicopatia, de modo que tais fenômenos diferem
em seus processos cognitivos, sendo mais plausível pensar nas condutas delitivas
32
Desta forma, a perspectiva dos traços vem ganhando espaço nos estudos em
Iriguchi, Nomura, & Ura, 2011; Willemsen & Verhaeghe, 2012). Em um nível
sensações, apresentando riscos de violar normas sociais (Decuyper et al., 2009; Hare,
procedimentos empíricos (Cooke, Michie, & Hart, 2006; Hall et al., 2004), oriundos de
estudos de natureza fatorial, não obstante, existem estudos que buscam os mecanismos
compreensão do transtorno.
33
1.3. Modelos neuropsicológicos para a compreensão da psicopatia
explícitas para avaliação e testagem de modelos teóricos (Hare, 2003; Johnson, Turner,
Estes são importantes, sobretudo, para o entendimento dos processos subjacentes aos
com traços acentuados de psicopatia (Koenings et al., 2011). Tais estudos convergem
para alterações em duas áreas cerebrais relacionadas ao distúrbio, amigdala e córtex pré-
34
marcadores somáticos (Damasio, 1994) e o mecanismo de inibição da violência (Blair,
inibição da violência, proposto por Blair (1995), tem em conta a região da amigdala. Tal
não obstante, em psicopatas há um déficit neste mecanismo, algo que pode resultar em
funcionamento hipoativo do lado direito. Tais dados são endossados quando se tem em
conta que o hemisfério direito está relacionado a tendências prossociais, medo e culpa,
por Jeffrey Gray (1970, 1975), um dos mais utilizados para o entendimento da
psicopatia.
proposto por Gray (1970, 1975) propõe o entendimento dos comportamentos a partir de
35
passo que o sistema BAS está associado a aspectos referentes à aproximação e
como alternativa para compreensão da psicopatia, propondo que psicopatas sofrem com
hiperativo do BAS, por outro lado, nos psicopatas secundários o BIS estaria em
2003).
36
Entretanto, tais modelos têm como fim o entendimento de determinados
natureza fatorial, têm em conta a estimação de aspectos psicopatas que possam ser
variáveis latentes que definem a psicopatia (Hare & Neumann, 2005). Portanto, faz-se
necessário apresentar alguns dos modelos mais utilizados, no meio clínico e acadêmico,
Hare (Hauck Filho et al., 2009). No decorrer dos anos, a medida oriunda do trabalho de
Hare passa a sofrer críticas, tanto a nível teórico quanto metodológico, abrindo espaço
para a proposição de outras medidas. Deste modo, nesta seção serão descritos alguns
envolve a psicopatia.
impacto que a definição operacional deste autor tem na literatura e na avaliação clínica
de condutas delitivas, mais congruente com a vertente que emerge nos trabalhos de
Hervey Cleckley.
37
1.4.1. Psychopathy Checklist
Um dos autores proeminentes na avaliação da psicopatia é Robert Hare, que
e, posteriormente, com sua versão revisada PCL-R (Hare, 1991, 2003; Hare &
Neumann, 2005).
iniciaram em 1978, com uma análise fatorial dos traços listados por Cleckley e com o
Hare agrupou cerca de 100 itens, contudo, baseado em aspectos semânticos, alguns
que permanecem até hoje. O zero indica ausência da característica avaliada, ao passo
totais variavam de 0 a 44, com indicadores aceitáveis de validade e precisão (Hare &
Neumann, 2005).
formada por 20 itens, avaliados por meio de uma entrevista semi-estruturada. Tal como
indicado anteriormente, cada item da PCL-R é pontuado em uma escala de três pontos
38
Quanto à estrutura fatorial, inicialmente Hare (1991) propôs um modelo
fatoriais foram encontradas, sendo, atualmente, mais aceito o modelo de quatro fatores,
estadunidense utiliza-se como ponto de corte um escore 30, não obstante, em virtude
inclusive, a ficha criminal, tornando sua utilização inapropriada para fora de contextos
Screening Version (PCL: SV; Cooke, Michie, Hart, & Hare, 1999). Portanto, percebe-
algo que levou Hare e seus colaboradores a criarem medidas outras, como a PCL:SV e a
instrumento composto por 12 itens, derivados diretamente da PCL-R, sendo itens mais
curtos e simples, mas sem perder sua essência (Cooke, Michie, Hart, & Hare, 1999).
Portanto, tal versão configura-se como uma versão reduzida da PCL-R. Tal como a
PCL-R, a PCL: SV também possui escala de resposta de três pontos (0, 1, 2), contudo,
39
Já a PCL:YV possui 20 itens, sendo adaptados a idade dos respondentes. Este
para a PCL: YV quanto para a PCL: SV (Kosson, et al., 2013; Neumann, Kosson, Forth,
& Hare, 2006). Na Tabela 2, a seguir, destaca-se a estrutura fatorial das escalas Hare.
Tabela 2. Estrutura fatorial das escalas Hare (Adaptado de Hare & Neumann, 2008, p.
793).
Afetivo
5.Falta de remorso ou 5.Falta de remorso 4.Falta de remorso
culpa
6.Afeto superficial 6.Afeto superficial 5.Falta de empatia
7.Insensibilidade e falta de 7.Insensibilidade e falta de 6.Não aceitam
empatia empatia responsabilidade
8.Não aceitação de 8.Falha em aceitar
responsabilidade responsabilidade
FATOR 2
Estilo de vida Comportamental Estilo de vida
9.Necessidade de 9.Busca de sensação 7.Impulsividade
estimulação
10.Estilo de vida parasita 10.Orientação parasita 8.Falta de objetivos
11.Falta de metas a longo 11.Falta de objetivos 9.Irresponsabilidade
prazo
12.Impulsividade 12.Impulsivitdade
13.Irresponsabilidade 13.Irresponsabilitdade
40
Antissocial
14.Pobre controle 14.Pobre controle da raiva 10.Pobre controle
comportamental comportamental
15.Problemas 15.Problemas 11.Comportamento
comportamentais precoces comportamentais precoces antissocial na adolescência
16.Delinquência juvenil 16.Sério comportamento 12.Comportamento
criminoso antissocial na idade adulta
17.Revogação de liberdade 17.Sérias violações da
condicional condicional
18.Versatilidade criminal 18.Versatilidade criminal
afetiva avalia aspectos como a falta de remorso, afeto superficial e falta de empatia, ao
Neumann, 2008).
de Hare não são isentas de críticas. Um dos problemas se refere à divergência sobre o
(Hare, 1991), não obstante, estudos recentes indicam a presença de três (Cooke et al.,
2006) ou mesmo quatro fatores, como citado anteriormente (Hare, 2003; Neumann,
semiestruturada, além do tempo exigido para realização desta. Neste sentido, parece
inerente outro problema, o viés do entrevistador, deste modo, para minimizá-lo, a PCL-
41
instrumento (Benning, Patrick, Hicks, Blonigen, & Krueger, 2003; Ostrosky-Solís,
Destaca-se, ainda, que, mesmo tendo por base os estudos de Cleckley, Hare
desconsidera alguns traços listados por ele, tais como os relativos à ansiedade, além de
não considerar itens que avaliem ajustes positivos dos psicopatas. No sentido oposto,
psicopatia compostas apenas por traços de personalidade, com destaque para duas delas,
seguir.
escrita dos itens. Destaca-se que os itens que avaliam comportamentos antissociais
foram evitados, pois os autores tinham em conta fornecer uma medida baseada apenas
seja, menos sujeito à desejabilidade social. Para tanto, em uma das etapas de construção
42
(Crowne & Marlowe, 1964), onde os itens que tendiam para desejabilidade foram
eliminados ou reescritos.
psicopatia. Baseado em tais resultados, foram excluídos alguns sujeitos das análises
posteriores. Uma análise dos componentes principais foi realizada, fixando rotação
varimax, sendo mantido na versão final da PPI os itens que apresentaram cargas
fatoriais acima de |0,30|, sendo que, os itens que não cumpriram tal critério, foram
e normas sociais) e Streess Imunity (avalia o fato dos sujeitos se manterem calmos em
43
nonconformity, blame externalization, machiavellian egocentricity e carefree
traços de ordem afetiva, não saturou em nenhum dos fatores, indicando a essência de
formada por 154 itens, com mesmo número de fatores e estrutura fatorial. Tal escala de
validação (Nikolova, 2013). Contudo, mesmo sendo uma alternativa para avaliação da
questionário, composto por 154 itens, em sua versão revisada, sugerem a consideração
(LSRP).
elaboração da PCL em contexto prisional (Gummelt, Anestis, & Carbonell, 2012). Tais
pontos levaram Levenson, Kiehl e Fitzpatrick (1995) a pensar em uma alternativa para
44
estrutura bifatorial sugerida por Hare (1991). Neste sentido, alguns aspectos
1995).
egoísmo, indiferença, postura manipuladora frente aos demais. Por outro lado, aqueles
Após o estudo piloto, trinta itens foram selecionados para compor o questionário,
fixando a extração de dois fatores, algo endossado pelo critério de Cattel. Neste sentido,
Levenson et al. (1995) utilizaram como critério de inclusão do item no fator aqueles que
apresentassem saturações superiores a |0,30|. Quatro itens foram descartados por não
45
fator nomeado como psicopatia secundária, tais componentes apresentaram,
apesar de não disporem dos melhores índices de ajuste, para uma estrutura bifatorial
posteriores (Cooke, Michie, & Hart, 2006; Gummelt et al., 2012; Lilienfeld & Andrews,
1996). Portanto, parece justificável pensar a psicopatia como um transtorno que envolve
psicopatia. Logo, o modelo objeto desta dissertação foi construído sob o alicerce de uma
46
comportamento na presença de distintas características emocionais e interpessoais. Este
outros sintomas centrais, como a baixa ansiedade, descrita por Cleckley e Lykken
(Venables, Hall, & Patrick, 2013). Nesta direção, a partir de revisão sistemática da
psicopatia.
dominância social, capacidade de persuasão e afeto superficial; e, por fim, Patrick et al.
características emocionais, tais como frieza e falta de remorso. Tais dimensões são
47
planejar o futuro, baixa tolerância à frustração, má regulação do afeto e suscetibilidade a
problemas de uso de substâncias (Venables et al., 2013). Percebe-se, portanto, que esta
al., 2009).
Por fim, a dimensão meanness descreve atributos que envolvem tendências para
autoridade e crueldade (Patrick et al., 2009). Deste modo, tais autores propõem um
Apesar de recente, este modelo teórico tem ganhado espaço nos estudos sobre
psicopatia. Contudo, tal modelo ainda não foi testado empiricamente no Brasil, o que se
pretende nesta dissertação. Portanto, tendo em conta que um dos objetivos deste estudo
48
Triarchic Psychopathy Measure (TriPM), enfatizando suas características e estudos
por 20 itens, boldness, que possui 19 itens, e, meanness, que engloba um conjunto de 19
itens. Estes são respondidos em uma escala tipo Likert de quatro pontos (1 –
Externalizing Spectrum Inventory (ESI; Krueger, Markon, Patrick, Benning, & Kramer,
2007), ao passo que os itens do fator boldness, derivam, em grande parte, da Boldness
Inventory (Patrick, Vaidyanathan, Benning, Hicks, & Kramer, 2010), elaborada para
ampliar a mensuração dos aspectos relativos ao fator 1 da PPI, fearless dominance. Por
escala ESI, especificamente aqueles relativos à agressão e empatia (Stanley, Wygant, &
Sellbom, 2012).
com outras que avaliam o mesmo (Sellbom & Phillips, 2012; Stanley et al., 2012).
49
traços psicopatas (Stanley et al., 2012). Não obstante, tal medida não apresenta qualquer
visto que, atualmente, não existem instrumentos regulamentados pelo Conselho Federal
mais prática, contribuindo para um maior entendimento sobre o construto. Diante desta
Cabe ressaltar a forte influência biológica por detrás da psicopatia, não obstante,
variáveis contextuais não devem ser descartadas, sendo que estas podem contribuir para
50
no desenvolvimento de habilidades de regulação da emoção, auxiliando a criança a
gerenciar suas emoções. Destacam, ainda, a variável do apego seguro, sendo este um
conceito importante que propicia a criança uma base segura para explorar o meio
ambiente e uma fonte de conforto quando aflito ou com medo. A ausência de um bom
suporte parental, aliado a outros fatores, pode resultar em apego inseguro ou mesmo
comportamento evitativo por parte da criança. Portanto, a falta do apego seguro pode
psicopata.
os traços de personalidade antecedem os valores (Bilsky & Schwartz, 1994), e que estes
autores clássicos pautados na concepção dos traços, vertente essa que, somado a
51
CAPÍTULO 2. PERSONALIDADE
52
Enquanto disciplina, o estudo da personalidade é recente, datando da década de
(Pasquali, 2000). Não obstante, tais contribuições localizam-se apenas no nível teórico.
anteriormente não deve ser deixada de lado, pois serviram, por vezes, de referência para
teorias modernas da personalidade. Contudo, foi apenas no fim do século XIX e início
humanistas. Entretanto, cabe delimitar que, nesta ocasião, o marco teórico utilizado para
inserida a teoria tida em conta nesta dissertação, a dos Cinco Grandes Fatores da
Personalidade ou Big Five. Este modelo ganhou espaço nos estudos sobre a
personalidade, principalmente por apresentar uma base empírica sólida, emergindo com
53
diferentes medidas e métodos de extração dos fatores (Espada, Rodríguez-Sutil, &
Sánchez, 2000).
Logo, no presente capítulo, serão descritos alguns precursores do Big Five. Será
psicopatia. Posto isso, a seguir será tratado do modelo dos cinco fatores e de seus
precursores.
2011). Alguns modelos pautados nos traços foram desenvolvidos ao longo do século
XX, com destaque para os estudos de Gordon Allport, Raymond Cattel, Hans Eysenck e
O modelo dos cinco grandes fatores, também conhecido como Big Five,
técnicas estatísticas que surge no início do século XX (Goldberg, 1993; Pasquali, 2012;
54
pesquisadores começaram a ter em conta ainda no século XIX. A análise fatorial, por
como aqueles desenvolvidos por Cattel e Eysenck, desembocando no atual modelo dos
alguns dos principais autores que contribuíram para a emergência dos cinco fatores da
personalidade.
personalidade (Ashton & Lee, 2001; Smederevac, Mitrović, & Čolović, 2007).
construto é central nas relações interpessoais, todos os importantes traços terão sido
vem buscando elaborar uma taxonomia dos descritores da personalidade, tais como
estudos feitos no Brasil (Pinho, 2005), Alemanha (Angleitner, Ostendorf, & John,
1990), Sérvia (Smederevac et al., 2007), dentre outros. Não obstante, apesar de serem
recentes, não são de hoje os estudos desta natureza, iniciando com os trabalhos de Sir
55
Inicialmente, Galton estudou as bases biológicas dos traços de personalidade,
2010; Guillhan, 2001; Plomin & Rende, 1991). Entretanto, as contribuições deste autor
ao campo da personalidade não se limitam a tal questão, de modo que Galton ofereceu
uma base para o início dos estudos pautados na busca por termos que descrevem a
1.000 deles. Entretanto, este trabalho inicial foi relativamente assistemático, tendo
que foi resolvido com advento da análise fatorial, permitindo aos pesquisadores
Odbert (1936). Seguindo esta direção, percebe-se que a linguagem foi ganhando
56
gradativa importância como uma fonte de atributos para uma taxonomia científica (John
(Hutz et al., 1998). Selecionando apenas os termos mais frequentes, de acordo com seu
que descrevem traços de personalidade, bem abaixo dos 4.000 sugeridos por Klages
exerceu forte influência sobre Gordon Allport que em parceria com Henry Odbert
ambiente” (1961, p. 28). Logo, percebe-se que este autor enfatiza a singularidade da
(Cloninger, 2009; Corr & Matthews, 2009). Baseado nesta concepção, os traços podem
57
ser definidos, resumidamente, como: a) sendo reais e não construtos teóricos; b)
primeiros são próprios de um indivíduo, definindo seu caráter, ao passo que os comuns
são compartilhados por diversas pessoas, tais como membros de uma mesma cultura.
influentes afetando quase todos os aspectos da vida; centrais, alguns temas que melhor
fracos, por vezes passam despercebidos (Schultz & Schultz, 2002). Considerando a
importância dos traços, Allport pensa que a melhor forma de identificá-los seria a partir
de termos lingüísticos, algo que reflete em seu estudo léxico (Deary, 2009).
Webster’s New International Dictionary (1925), reunindo 17.953 termos que descrevem
58
metafóricas. Apenas o primeiro grupo seria de interesse dos psicólogos, considerados
por não ter sido testada empiricamente (Waller, 1999). Mesmo com tal limitação, é
estruturas latentes, deste modo, surge uma das mais conhecidas teorias, formulada por
Raymond Cattel, pautada na análise fatorial. Tal análise permite que se identifiquem
estruturas subjacentes às variáveis observadas, deste modo, Cattel foi um dos mais
uma pessoa fará em determinada situação, logo, este autor objetivava predizer o que
uma pessoa faria ou como iria se comportar em resposta a uma dada situação de
pesquisas de Cattel. Para este autor, traço é entendido como uma estrutura mental básica
59
os traços são atributos ou qualidades que foram abstraídos do comportamento (Wiggins,
Renner, Clore, & Rose, 1971). Segundo Cattel, os traços podem ser divididos em
de variáveis manifestas que parecem ocorrer juntas, ao passo que o segundo tipo
rigorosamente científica, sendo comum que um mesmo sujeito fosse submetido a mais
que ele denominou como dados L (registros de vida), dados Q (dados de questionários)
pessoas poderiam falsear suas respostas para esconder traços indesejados, ou mesmo
terem autoconsciência superficial, algo que os impede de informarem com precisão seus
traços de personalidade. Por fim, os dados T envolvem o uso de testes objetivos, onde
as pessoas respondem sem saber que aspecto está sendo avaliado (Hall et al., 2000;
60
dados L, se iniciou a procura para obter informações sobre todos os aspectos do
estratégia básica para tal busca verificar palavras que descrevem a personalidade.
personalidade do estudo de Allport e Odbert (1936), Cattel iniciou suas pesquisas sobre
2000).
pessoas, não obstante, posteriormente, Cattel submeteu estes dados a uma análise
dos sujeitos a esse conjunto de itens, a partir de uma análise fatorial com rotação
fatores. Esses 16 traços são mensurados pelo teste de personalidade mais conhecido de
Cattel, o Sixteen Personality Factor Test (16 PF; Hall et al., 2000).
Tais variáveis usadas por Cattel foram replicadas em diversos estudos. Em uma
destas replicações Donald Fiske (1949), utilizando 22 das variáveis desenvolvidas por
Cattel, encontrou cinco fatores. Em outra replicação, desta vez levada a cabo por Tupes
e Christal (1958), que utilizaram 30 dos itens de Cattel, também chegou a uma estrutura
pentafatorial (Digman, 1990; Goldberg, 1993). Uma possível explicação para diferença
de fatores extraídos no estudo original e nas replicações pode ser atribuído ao método de
61
rotação empregado, sendo que no estudo inicial realizou-se uma rotação obliqua, ao
Odbert (1936), examinando a terceira versão do dicionário analisado por eles. Norman
(1967) extraiu 2.797 traços estáveis, posteriormente reduzidos para 1.600. Considerando
a polaridade das escalas, dividiu esses termos em dez classes amplas. Em seguida,
reduziu para 75 palavras, dividindo os termos em cada uma das dez classes. Portanto,
percebe-se que Norman utilizou, em essência, os cinco grandes fatores (Hall et al.,
2000).
percebe-se que a estrutura de cinco fatores já havia sido observada tendo em conta as 35
variáveis selecionadas por Raymond Cattel, deste modo, evidencia-se o papel central
deste autor no desenvolvimento dos Big Five, mesmo que este criticasse tal modelo,
pontuando que algumas dimensões são redutíveis aos três fatores por ele elaborados,
62
propõe ainda críticas outras, relativas à metodologia empregada (Eysenck, 1997;
Goldberg, 1990).
caráter, temperamento, intelecto e físico de uma pessoa, algo que determina sua
adaptação ao ambiente (Eysenck & Eysenck, 1987). Este autor pensa nos traços de
sobre a personalidade (Schultz & Schultz, 2002). Logo, Eysenck focaliza as dimensões
central predispõe a resposta dos sujeitos aos estímulos do ambiente (Hall et al., 2000).
63
diz respeito à tendência em experienciar emoções negativas, deste modo, os sujeitos que
pontuam alto neste fator tendem a apresentar maior índice de ansiedade e depressão,
caracteriza as pessoas abertas ao mundo exterior e mais sociáveis, por outro lado, o polo
2011).
2010; Dumont, 2010). Esta dimensão recebe tal denominação por sua possível relação
com a esquizofrenia e a psicopatia. Neste sentido, sujeitos com altas pontuações em tal
outros, sendo que tal dimensão tende a um forte componente genético, porém, em
menor grau comparado aos outros dois, algo que aponta para influências ambientais no
personalidade, vide o enfoque genético nos estudos de Eysenck (Schultz & Schultz,
2002). No entanto, foi o Big Two proposto por Eysenck que semeou a base para
Goldberg (1981) nomear os cinco grandes fatores da personalidade como Big Five
64
Pautado nos avanços advindos das teorias dos traços e na falta de consenso
de Hans Eysenck, foi proposto o modelo dos Cinco Grandes Fatores da Personalidade,
que tem se tornado muito popular atualmente, trazendo clareza ao campo de estudos da
personalidade (Araújo, 2013; McCrae, 2011; Stankov, Boyle, & Cattel, 2006).
dos temas que têm gerado mais pesquisa e interesse teórico, revigorando os estudos
personalidade dentro da teoria dos traços. Tais dimensões vêm sendo encontradas
para tanto, usou 60 adjetivos comuns, identificando os cinco fatores. Não obstante,
Thurstone não seguiu adiante com seus estudos sobre a temática, algo que pode tê-lo
impedido de ser reconhecido como pai do modelo (Hall et al., 2000; Nunes, 2005).
Posteriormente, diversos autores (e.g., Fiske, 1949; Norman, 1963; Tupes &
confiabilidade, estabilidade emocional e cultura (McCrae & John, 1992). Pouco tempo
depois Norman (1967) modificou o nome dos fatores para extroversão, estabilidade
65
como Norman’s Big Five (Barrick & Mount, 1991). Deste modo, percebe-se que o
modelo dos cinco grandes fatores emerge a partir de estudos empíricos, seguindo uma
Destaca-se que tal modelo permaneceu escondido nas décadas de 1960 e 1970,
entretanto, a partir dos anos de 1980, com estudos transculturais, reanálises de conjuntos
perspectiva léxica, o que reintroduziu o modelo dos cinco fatores nos estudos sobre a
McCrae e John (1992) pensam o modelo como uma organização hierárquica dos
traços de personalidade. Estes estão dispostos em cinco dimensões que fornecem uma
estrutura em que a maioria dos traços pode ser classificada (McRae, 2010). No Brasil,
encontradas em relação a tais denominações (Silva & Nakano, 2011). Cada um dos
semântica compartilhada pelos traços que formam o fator (Lima, 1997). A seguir, serão
escala de Eysenck (1970). Relaciona-se aos modos como as pessoas interagem com os
demais, os que pontuam alto nessa escala tendem a ser sociáveis, falantes, otimistas,
desenvoltura. Não obstante, sujeitos com pontuações baixas no fator tendem a ser
tímidos, quietos, centrados, voltados para si mesmo e sóbrios (Gomes & Golino, 2012;
66
Fator II: Amabilidade (Agreeableness) – Tal dimensão também é conhecida
Avalia uma dimensão interpessoal, apontando o nível de empatia dos sujeitos e o quão
prestativos são com os demais (Nunes & Hutz, 2007). Reflete uma tendência para a
estabilidade social, neste sentido, pessoas com escores altos nesta dimensão tendem a
indivíduo, logo, pessoas que pontuam alto nesta dimensão tendem a apresentar
ao passo que o outro extremo da escala tem em conta características como negligência,
irresponsabilidade, descuido e preguiça (DeYoung & Gray, 2009; Hutz et al., 1998;
inseguras, nervosas e muito tensas descrevem os que têm alto neuroticismo. No polo
emocionalmente (DeYoung & Gray, 2009; Schultz & Schultz, 2002; Nunes, 2005).
é, talvez, uma das dimensões menos estudadas (DeYoung & Gray, 2009). Esta se refere
à própria percepção acerca de suas capacidades, sendo que, sujeitos com escores
67
pensamento, abertura a novas experiências, criatividade, curiosidade e interesses
convencionais (Benet-Martinez & John, 1998; Hutz et al., 1998; Schultz & Schultz,
2002).
cumprindo uma função integradora (Hutz et al., 1998; Saucier & Ostendorf, 1999).
(Gomes & Golino, 2012; Schultz & Schultz, 2011). Ademais, o Big Five apresenta uma
diversos (Hutz et al., 1998; Nunes, 2005). Logo, argumentos não faltam para a
com distúrbios emocionais. Tal aspecto indica que o Big Five considera os transtornos
Nesta direção, considerando a polaridade das escalas que compõem o Big Five,
estudos têm sido levados a cabo analisando os correlatos dos traços com os transtornos
de personalidade listados no DSM – IV (Austin & Deary, 2000; Saulsman & Page,
68
entendimento da personalidade anormal. Deste modo, na seção a seguir, são descritos
alguns estudos que apontam a dimensionalidade dos cinco fatores, sendo adequados
personalidade normal, pesquisas têm sido levadas a cabo buscando verificar se estes
próprio, separado dos traços normais (Austin & Deary, 2000). A este respeito,
oferecendo uma descrição precisa e abrangente (Widiger, 2005; Widiger & Mullins-
comum com a personalidade normal, onde a relação entre ambas apontam para uma
entendidos como variantes não adaptativas dos traços de personalidade (Distel et al.,
2009; Duijsens & Diekstra, 1996; Haigler & Widiger, 2001; Widiger & Mullins-Sweat,
2010). Ademais, a personalidade anormal pode ser definida como um padrão persistente
69
contextos diversos, tendo início na adolescência ou começo da idade adulta, sendo
estável ao longo do tempo (Deary, 2009; Markon, Krueger, & Watson, 2005).
Por considerar uma polaridade para cada uma das cinco escalas, o que aponta
Schultz & Schultz, 2002). Deste modo, o Big Five inclui desordens mentais que fazem
2008). Por exemplo, Austin e Deary (2000) indicam que alta pontuação na dimensão
histriônica e borderline. Por fim, abertura à mudança apresenta relações negativas com
70
obstante, este fator correlaciona-se positivamente com personalidade histriônica e
Saulsman e Page (2004) foram outros pesquisadores que levaram a cabo estudo
antissocial apresentou baixa relação positiva com neuroticismo e relação negativa com
listados no DSM-IV.
71
Em metanálise reunindo 16 estudos empíricos, com 18 amostras independentes,
Samuel e Widiger (2008) encontraram resultados similares aos de outros estudos, como
os de Austin e Deary (2000) e Saulsman e Page (2004). Sendo que dos cinco grandes, o
personalidade, algo que aponta para pouca utilidade desta dimensão para o
Big Four (Watson, Clark, & Chmielewski, 2008). Ilustrando as relações entre o Big
72
Tabela 3. Relações entre os Big Five e os dez transtornos de personalidade listados no
DSM-IV (Adaptado de Austin & Deary, 2000, p.981).
N E AM A C
Esquiva ++ --
Dependente ++ - - -
Obsessivo-Compulsivo + - --
Passivo-agressivo ++ -- --
Autoderrotado ++ -
Paranoico ++ --
Esquizotípico ++ -- --
Esquizoide + -- -
Histriônico ++ -
Narcisista -
Borderline ++ -- -
Antissocial + -- --
Nota: Adaptado de Austin e Deary (2000). ++, -- indicam correlações fortes; +, – indicam correlações
fracas. Identificação das variáveis: N = Neuroticismo; E = Extroversão; AM = Abertura à mudança; A =
Amabilidade; C = Conscienciosidade.
transtornos listados no DSM – IV, entretanto, tal como apontado no Capítulo 1, neste
entre os cinco grandes fatores e os traços psicopatas desde uma vertente mais voltada
Com esta finalidade Ross, Lutz e Bailley (2004) relacionaram as pontuações nos
fatores da LSRP com os cinco fatores do NEO Personality Inventory Revised (NEO-PI-
R; Costa & McCrae, 1992). Tais autores verificaram, por meio de análises de regressão
73
múltipla, que a psicopatia primária é melhor predita pelos fatores extroversão
psicopatia secundária. Portanto, esta pesquisa aponta para uma adequação do NEO-PI-R
para o entendimento dos dois fatores da escala LSRP, explicando 50% da variância para
Barker (2010) verificaram que a pontuação total da escala Youth Psychopathic Traits
dois últimos.
Poy, Segarra, Esteller, López e Moltó (2013) também buscaram verificar em que
74
relacionando positivamente com neuroticismo e negativamente com amabilidade e
conscienciosidade.
psicopatia via Big Five, como, por exemplo, o estudo de Widiger e Lynam (1998) que
Miller, Lynam, Widiger e Leukefeld (2001) que reuniram juízes especialistas que
al. (2009) trazendo um panorama geral de como os construtos estão relacionados, tal
75
Sentimentos Baixo Baixo
Ações Alto Alto
Ideias
Valores
Amabilidade
Confiança Baixa Baixa
Retidão Baixa Baixa Baixa
Altruísmo Baixo Baixo Baixo
Complacência Baixa Baixa Baixa
Modéstia Baixa Baixa Baixa
Sensibilidade Baixa Baixa Baixa
Conscienciosidade
Competência Alta Baixa
Ordem Baixa
Dever Baixo Baixo Baixo
Esforço de Baixo Baixo
realização
Autodisciplina Baixa Baixa Baixa
Deliberação Baixa Baixa Baixa
2007; Duijsens & Diekstra, 1996; Kotov, Gamez, Schimidt, & Watson, 2010; Widiger
76
papel de construtos de base mais social que contribuem para o agravamento ou mesmo
valores humanos. Deste modo, em contraste ao forte componente biológico dos traços
ser, que servem como princípios guia que orientam os comportamentos individuais
(Oliver & Mooradian, 2003). Portanto, é algo importante verificar como estes
fenótipos psicopatas. Logo, a seguir, serão tratadas das relações entre os traços de
personalidade seja, com frequência, o mais lembrado, ofuscando outros que podem
auxiliar na compreensão de tais diferenças, como podem ser os valores humanos, que,
assim como os traços de personalidade, são relativamente estáveis (Bilsky & Schwartz,
1994; Roccas, Sagiv, Schwartz, & Knafo, 2002). É importante destacar que durante
este panorama um tanto se modifica com o advento do modelo Big Five, demonstrando
ser pertinente pensar em uma convergência entre valores e personalidade (Aluja &
Algo que chama mais atenção e aumenta a utilidade destes dois construtos é a
estabilidade temporal e contextual (Roccas et al., 2002). Nesta linha, mesmo com
77
oposição à disposição inata da personalidade, é importante adotar uma perspectiva
traços de personalidade, algo que pode contribuir para a interação de ambos na predição
de comportamentos (Parks & Guay, 2009). Apesar desta capacidade preditiva, ainda são
valores humanos, contudo, isso não significa uma estrita hierarquia, de modo que os
construtos se influenciam mutuamente (Bilsky & Schwartz, 1994; Roccas et al., 2002).
Por exemplo, uma pessoa que não possuí traços acentuados de amabilidade dará,
provavelmente, pouca importância a valores da subfunção interativa, e esta, por sua vez,
um modelo de mediação, onde os valores atuam enquanto mediadores das relações entre
Trazendo esta hipótese para o presente estudo, pode-se pensar nos traços de
psicopatia, contudo, esta relação pode ser mediada pela presença de determinados
empíricos.
78
CAPÍTULO 3. VALORES HUMANOS
79
Tal como exposto nos capítulos anteriores, diversas manifestações
vem sendo colocado em segundo plano, vide o volume de publicações que buscam os
psicopatia, como, por exemplo, variáveis parentais (e.g., controle parental, baixo afeto,
(e.g., pobreza, tamanho e ruptura familiar), influência dos pares (e.g., agressão e
criminalidade). Por sua vez, Farrington (2006) tem como foco os aspectos familiares
e rejeição, baixo envolvimento parental com o filho); 2) Abuso (físico e/ou sexual) ou
80
(jovens, que abusam de substâncias, estressados ou deprimidos); e 7) Fatores
R, Fallon cita que apresenta pontuações que oscilam entre 18 e 22, abaixo do ponto de
corte estabelecido por Hare, algo que pode ser reflexo de itens relativos a
severas, Fallon cita o ambiente familiar amoroso no qual cresceu, sendo, portanto, um
devem-se atentar para outras que possam auxiliar no entendimento desta complexa
tais indivíduos durante o seu processo de socialização, algo que pode contribuir para um
81
Especificamente, nesta ocasião, considera-se os valores humanos por seu estreito
medida, são reflexo do ambiente onde eles estão inseridos, algo que irá orientar seus
modos de agir no mundo. Portanto, parece algo pertinente conhecer os valores que
Talvez a principal característica dos valores seja o seu caráter preditivo, algo que
dentro da psicologia social. Seguindo esta direção, os valores podem ser conceituados
Rokeach, 1973). Portanto, é perceptível a influência que este construto possui nos mais
Renner, 2003).
sendo despendidos para explicar as prioridades axiológicas que guiam as pessoas, desde
Portanto, neste terceiro e último capítulo teórico, busca-se explanar brevemente sobre o
82
histórico no estudo dos valores, passando pelas principais referências para o
dos Valores Humanos (Gouveia, 2003, 2013; Gouveia, Fonsêca, Milfont, & Fischer,
2011; Gouveia, Milfont, & Guerra, 2013), bem como verificar possíveis subfunções
segunda metade do século XX, ganhando destaque com estudos empíricos e, sobretudo,
com as contribuições de Milton Rokeach, é necessário apontar que o estudo dos valores
é antigo. De fato, tal como aponta Pimentel (2004), os valores humanos são
apesar de ser possível apontar marcos no estudo dos valores, o mesmo não é possível
axiológicos. Portanto, é arbitrário apontar um momento para a origem dos valores, que,
momento em que o homem se percebe como indivíduo, cônscio de suas ações e vendo
culturas. Ilustrando sua concepção, este autor cita as escrituras rupestres que podem
(2012), por outro lado, destaca os povos da antiguidade clássica, que, marcadamente,
83
Um paralelo também pode ser traçado junto à sociedade mesopotâmica, que, a
Portanto, nota-se a estreita vinculação dos valores humanos com os contextos culturais,
citar alguns dos autores que mais contribuíram para o avanço científico do tema valores,
Portanto, podem-se apontar inúmeros autores que tem se detido ao estudo dos
valores, contribuindo para seu desenvolvimento. Não obstante, foge um tanto dos
sendo indicado aos interessados por tal percurso referências como Gouveia (2013) e
Spates (1983). Logo, para descrever alguns dos principais teóricos que auxiliaram no
especificamente a partir da segunda metade do século XX, que o tema dos valores
(Albuquerque et al., 2006; Almeida & Sobral, 2009; Pereira, Camino, & Costa, 2004).
84
Contudo, apesar de ganhar destaque apenas em meados do século passado no âmbito da
Concretamente, tais autores consideram os valores como elo entre a estrutura social e as
atitudes, definindo-os como qualquer dado com conteúdo empírico acessível aos
membros de um grupo social, possuindo significado específico que possa ser objeto
social. Neste sentido, tais autores, apesar de não se aprofundarem na temática e de não
desenvolverem uma tipologia dos valores, são apontados como os pioneiros no estudo
deste construto como hoje ele é concebido (Gouveia et al., 2011; Medeiros, 2011; Ros,
2006).
teoria da ação social (Parsons & Shils, 1951). A relevância deste autor se dá, sobretudo,
enquanto o sujeito busca lograr determinadas metas (Gouveia et al., 2011). Este autor
1959).
oriundas da obra de Parsons, como, por exemplo, a ideia de que sem valores comuns a
85
vida em sociedade dificilmente seria possível, a introdução da noção dos valores
em si estruturada.
Uma terceira contribuição ao campo dos valores é apontada por Gouveia et al.
(2011), constituindo-se como divisor de águas na história dos valores, oriunda dos
estudos de Clyde Kluckhohn. Este autor introduz a noção dos valores enquanto
desejáveis, influenciando os modos, meios e fins das ações. Logo, Kluckhohn concebe
empiricista, deixando um pouco de lado o conceito de valor, algo que vinha sendo
surgiram métodos científicos que possibilitaram, dentre outras coisas, o estudo dos
ambiciosa de trazer os valores para o campo da psicologia tenha sido levada a cabo por
Joseph Clawson, descrevendo as ações humanas a partir de dez valores. Não obstante,
86
Considerando que os valores humanos são refletidos em todas as condutas
humanas, Spranger (1929), em sua obra Types of Men, cria uma tipologia dos valores,
& Schultz, 2011). Tais tipos foram elaborados de modo especulativo, porém, constitui-
se como ponto de partida para a obra de Allport e Vernon (1931), Study of Values.
itens baseavam-se em uma série de situações familiares, divididos em duas partes: 1ª)
Tais autores propuseram que os valores pessoais são a base unificadora da vida,
sendo um dos critérios para uma personalidade madura e saudável. Pensaram, ainda, os
firmemente defendidos (Schultz & Schultz, 2011). Mesmo focando mais nos traços de
personalidade do que nos valores, percebe-se que tal estudo foi um dos pioneiros na
dos valores é Abraham Maslow com sua análise da hierarquia das necessidades
87
algo já aportado por Kluckhohn (1951). Em sua obra Personality and motivation,
Maslow (1954) propõe sua teoria das necessidades humanas, elencando sete
necessidade de aceitação em seu contexto social; estima – obter respeito, tanto próprio
autor destaca, ainda, que a satisfação de uma nova necessidade só tem vez se a de nível
valores e necessidade, sendo Maslow uma importante referência para teorias de valores
posteriormente propostas.
considerado o pai da temática como vem sendo tratada nos últimos 50 anos, que o
construto sofreu um forte impulso, de modo que este autor semeou a base para o
Não obstante, destaca-se outra perspectiva, de base sociológica, pautada nas pontuações
88
dimensões valorativas (Medeiros, 2011). Contudo, Gouveia (2013) aponta que os
valores não são próprios de sociedades, mas sim princípios que guiam os indivíduos.
Milton Rokeach.
de serem pesquisados.
Por valor, Rokeach (1973) entende como uma crença duradoura que um
Rokeach Value Survey (RVS), estabelecendo 18 itens para ambos. Nesta direção,
percebe-se que além de definir conceitualmente os valores, Rokeach propõe uma forma
89
morais (referem-se a formas de se portar; transgredi-los gera sentimento de culpa) e de
medida específica para mensurá-los. Apesar de tais feitos, o trabalho de Rokeach sofre
motivacional dos valores, sendo que estes atendem a metas. Contudo, destaca-se que os
90
trabalhos de Rokeach (1973) serviram de base para a construção do modelo de
social. Nesta direção, destaca que os valores se diferenciam em virtude do tipo de meta
motivacional que expressam. Considera, ainda, que os valores visam à satisfação das
dos grupos (Schwartz, 1992). Da satisfação destas três necessidades básicas, surgem os
tipos motivacionais.
cultura. Segundo Schwartz e Boehnke (2004) o principal aspecto deste modelo teórico
está nas relações dinâmicas entre os valores, onde as ações expressas por qualquer tipo
de valor podem ter consequências, psicológicas e sociais, que podem entrar em conflito
Hedonismo: tem em conta a busca por prazer e gratificação sexual por parte do
91
de acordo com padrões sociais aceitáveis; 5) Poder: envolve a busca de status social e
determinado valor, suas consequências práticas e/ou sociais são compatíveis ou não
92
Figura 1. Estrutura dos tipos motivacionais (Adaptado de Schwartz, 2006, p. 142).
tendo em conta a oposição dos valores, estas podem ser resumidas em duas dimensões
Por fim, destaca-se que o hedonismo se relaciona tanto com abertura à mudança quanto
com a autopromoção.
93
Ressalta-se que, mesmo sendo o modelo valorativo mais empregado no mundo
acadêmico, este não está isento de críticas, a exemplo de: ausência de uma base teórica
subjacente a origem dos valores, o que denota uma variedade no número de tipos
proposto por Schwartz, de natureza ipsativa (Gouveia, 2003; Gouveia, Milfont, Fischer,
& Santos, 2008; Gouveia et al., 2013; Lima, 2012; Medeiros, 2011).
Considerando tais críticas, Gouveia (1998, 2003, 2013; Gouveia et al., 2008;
2011; 2013) vem elaborando, no decorrer dos últimos 15 anos, a Teoria Funcionalista
Portanto, torna-se pertinente expor sobre tal modelo, algo tratado a seguir.
A teoria funcionalista tem como foco as funções dos valores, definindo-os como
necessidades (Gouveia, 2013; Gouveia et al., 2011). Com tal conceituação Gouveia
estáveis.
natureza benévola dos seres humanos, de modo que Gouveia inclui apenas valores
94
valores são os mesmos de sempre, mudam apenas as prioridades atribuídas por
Este modelo, como citado anteriormente, enfatiza as funções dos valores, sendo
que Gouveia (1998, 2003) encontrou, em revisões de literatura, duas que são
em conta os valores que servem como guias do comportamento humano, sendo três
95
tipos: pessoal, central e social. Destaca-se que sujeitos pautados por valores sociais
tendem a ser egocêntricos. Gouveia ainda trata dos valores centrais, constituindo-se
como a base estrutural ou espinha dorsal da organização dos demais. O eixo horizontal
denomina-se, por sua vez, como nível de necessidades, relativo aos valores que
abstratos, sendo que sujeitos pautados por tal orientação tendem a ter um espírito
inovador e uma mente mais aberta; e materialista, relacionado a ideias práticas, onde
busca de satisfação, especificamente sexo e gratificação, tais valores que formam esta
sociais. Destaca-se, ainda, que os sujeitos que endossam tal orientação dificilmente se
96
comportamentos. Destaca-se que os valores de realização são mais aderidos por jovens
mostram a relevância atribuída a ideias abstratas, eles são endossados por indivíduos
manutenção das relações interpessoais por parte da pessoa. Salienta-se que esta
subfunção é típica de sujeitos mais jovens, orientados a terem relações íntimas estáveis.
valorizada acima de qualquer coisa. Comumente, a população mais velha pauta-se por
conflito entre valores. A seguir é mostrada a figura que ilustra a congruência entre as
entre cada par de subfunção, sugerindo três níveis de congruência: baixa, moderada e
alta.
97
Figura 3. Congruências das subfunções valorativas
congruência.
98
positivamente com eles, além da dicotomia pessoal – social ser o fato de maior distinção
Destaca-se que este modelo mais recente dos valores humanos reúne dados de
quase 60.000 pessoas, do Brasil e de outros 19 países, dos cinco continentes. Nesta
adequação deste modelo teórico, tanto intra como interculturalmente. Deste modo,
com os demais.
Tal como exposto no presente capítulo, parece algo um tanto pertinente conhecer
em que medida psicopatas priorizam determinados valores. A partir das descrições das
como, por exemplo, a importância dada aos valores pessoais, caracterizando indivíduos
afetivos com os outros, falta de empatia, remorso e tendência a violar normas, parece
fenótipos psicopatas.
pessoais, atribuindo pouca importância aos sociais, pode ser um fator relevante para o
99
ambientes que atribuem importância a vida em sociedade, pontuando, sobretudo, na
tem se dado aos correlatos entre os valores humanos e psicopatia, principalmente se for
personalidade e psicopatia.
100
PARTE II – ESTUDOS EMPÍRICOS
101
4. ESTUDO 1. PARÂMETROS PSICOMÉTRICOS DA TRIARCHIC
PSYCHOPATHY MEASURE (TRIPM).
4.1. Método
4.1.1. Delineamento
Trata-se de um estudo não-experimental (correlacional), do tipo ex post facto,
4.1.2. Participantes
Para levar a cabo o presente estudo, contou-se com uma amostra não
4.1.3. Instrumentos
Os participantes foram solicitados a responder a TriPM, instrumento elaborado
por Patrick (2010), formado por três dimensões teoricamente propostas (boldness,
medida é composta por 58 itens, respondidos em uma escala tipo Likert de quatro
4.1.4. Procedimento
Inicialmente, entrou-se em contato com as coordenações dos cursos de ambas as
102
dados, realizadas em ambiente coletivo de sala de aula. Assegurou-se o anonimato dos
participantes, destacando que os dados seriam tratados em conjunto, bem como foi
etapa da pesquisa sem que isso lhe acarretasse qualquer ônus, para confirmar a
instrumento não levou mais do que vinte minutos. Por fim, foram asseguradas todas as
383.319/2013).
escala, e, por fim, verificou-se o coeficiente alfa de Cronbach, utilizado para avaliar a
4.2. Resultados
interna da medida.
103
4.2.1. Poder discriminativo dos itens
Primeiramente, procurou-se verificar a qualidade métrica dos itens, isto é, se
realizou-se, para cada fator, o somatório dos itens que o compõe, estabelecendo grupos
inferior e superior, com base na mediana empírica. Posteriormente, por meio de uma
MANOVA, os valores de cada item foram comparados entre os dois grupos. Na Tabela
GRUPOS CRITÉRIO
INFERIOR SUPERIOR CONTRASTE
Boldness
Itens M DP M DP F P ɳ²p
1 2,83 0,91 3,44 0,69 63,653 0,001* 0,123
4 1,91 1,14 2,54 1,25 31,338 0,001* 0,065
7 1,91 0,85 2,52 1,02 47,138 0,001* 0,094
10 2,09 1,00 3,05 0,95 109,098 0,001* 0,194
13 1,77 0,84 2,84 0,90 170,316 0,001* 0,273
16 2,41 0,90 3,07 0,89 60,531 0,001* 0,118
19 1,97 0,92 2,81 0,92 94,577 0,001* 0,173
22 2,39 0,84 3,17 0,73 111,273 0,001* 0,197
25 2,46 1,00 3,10 0,96 48,529 0,001* 0,097
28 2,06 0,95 2,86 0,99 77,525 0,001* 0,146
32 2,11 0,91 3,05 0,85 129,284 0,001* 0,222
35 2,19 1,00 2,20 1,05 0,012 0,914 0,000
38 2,00 0,89 2,86 0,90 105,630 0,001* 0,189
41 1,88 0,96 2,80 1,02 99,492 0,001* 0,180
44 2,35 1,07 3,02 1,01 47,542 0,001* 0,095
47 1,58 0,88 2,14 1,11 34,609 0,001* 0,071
50 2,16 1,05 2,74 1,13 32,186 0,001* 0,066
54 1,44 0,77 1,67 0,99 8,073 0,005* 0,018
57 2,19 1,01 3,11 0,95 97,530 0,001* 0,177
Meanness
2 1,25 0,51 1,71 0,76 55,367 0,001* 0,109
6 1,47 0,90 2,73 1,18 163,593 0,001* 0,266
8 1,51 0,71 2,36 1,03 104,742 0,001* 0,188
11 1,26 0,47 1,87 0,70 116,846 0,001* 0,205
14 1,21 0,54 2,08 1,01 128,707 0,001* 0,222
17 2,22 1,04 3,02 0,95 72,115 0,001* 0,138
20 1,03 0,22 1,53 0,82 80,378 0,001* 0,151
23 1,71 0,92 2,55 1,00 86,092 0,001* 0,160
104
26 1,45 0,78 2,36 1,02 114,933 0,001* 0,203
29 1,08 0,34 1,50 0,78 55,011 0,001* 0,109
33 1,29 0,53 2,08 0,89 130,770 0,001* 0,224
36 1,31 0,72 1,91 0,88 62,440 0,001* 0,121
39 1,15 0,43 1,41 0,65 26,877 0,001* 0,056
40 1,13 0,49 1,47 0,80 30,670 0,001* 0,064
42 1,12 0,41 2,05 1,06 152,756 0,001* 0,253
45 1,94 1,00 3,06 0,93 152,478 0,001* 0,252
48 1,06 0,32 1,54 0,77 77,456 0,001* 0,146
52 1,61 0,79 2,27 0,98 62,326 0,001* 0,121
55 1,03 0,22 1,40 0,67 62,323 0,001* 0,121
Disinhibition
3 3,01 0,73 3,41 0,66 35,487 0,001* 0,073
5 2,57 1,09 3,36 0,91 68,101 0,001* 0,132
9 2,28 1,13 3,42 0,82 147,675 0,001* 0,248
12 1,26 0,60 1,89 1,13 55,017 0,001* 0,109
15 1,83 0,85 2,81 0,94 131,656 0,001* 0,227
18 1,18 0,52 1,79 1,08 57,830 0,001* 0,114
21 1,57 0,63 2,29 0,93 92,114 0,001* 0,171
24 1,41 0,87 1,99 1,23 32,883 0,001* 0,068
27 2,83 1,04 3,38 0,82 38,168 0,001* 0,079
30 1,29 0,51 1,66 0,65 43,544 0,001* 0,089
31 2,68 0,90 3,25 0,82 49,216 0,001* 0,100
34 1,12 0,41 1,65 1,02 51,386 0,001* 0,103
37 1,56 0,82 2,86 0,97 233,768 0,001* 0,343
43 1,04 0,30 1,34 0,77 30,285 0,001* 0,063
46 2,79 0,99 3,48 0,76 67,137 0,001* 0,130
49 1,25 0,65 2,27 1,21 124,399 0,001* 0,217
51 1,21 0,56 2,14 1,12 126,424 0,001* 0,220
53 1,00 0,00 1,06 0,34 6,586 0,011* 0,014
56 1,17 0,49 1,72 1,01 53,437 0,001* 0,107
58 1,00 0,00 1,05 0,32 6,305 0,012* 0,014
Nota: * Item discriminativo (p < 0,05).
[Lambda de Wilks = 0,31; F (19, 435) = 49,781, p < 0,001], com um tamanho do efeito
(ɳ²p) de 0,685, apresentou como melhores itens o 13 (Eu sou um líder nato) e 32
contudo, o item 35 (Preocupo-me em estar em uma situação não familiar, sem saber
105
51,572, p < 0,001], com um valor ɳ²p = 0,693, tendo como melhores itens o 42 (Às
exemplo das duas primeiras, apresentou valores que asseguram a qualidade métrica dos
itens [Lambda de Wilks = 0,31; F (20, 429) = 46,549, p < 0,001], com um ɳ²p = 0,685.
Este fator apresentou como melhores itens o 9 (As minhas decisões impulsivas já
algo melhores para avaliação da psicopatia, considerando seu valor ɳ²p = 0,693.
da estrutura fatorial da escala TriPM, sendo pertinente destacar que todos os itens, com
exceção do item 35, que foi excluído das análises posteriores, apresentaram poder
Bartlett [χ² (1653) = 6837,795; p < 0,001], indicaram a pertinência de se prosseguir com
Uma análise dos componentes principais foi levada a cabo, fixando o número de
três fatores a serem extraídos, com rotação varimax. A solução resultante apresentou
total. Na Figura 4, a seguir, pode ser verificado a representação gráfica dos valores
próprios.
106
Figura 4. Representação gráfica dos valores próprios
107
Tabela 6. Estrutura fatorial da Triarchic Psychopathy Measure
Cargas Fatoriais
Itens
F1 F2 F3
38. Consigo convencer as pessoas a fazer o que eu quero. 0,65 0,05 0,05
19. Tenho um talento especial para influenciar as pessoas. 0,63 -0,05 -0,01
13. Eu sou um líder nato. 0,62 -0,11 -0,17
23. Às vezes, gosto de pressionar as pessoas e fazer com que elas
0,61 0,13 0,21
me obedeçam.
57. Não sou muito bom em influenciar as pessoas. 0,59 -0,03 -0,04
14. Gosto de uma boa briga. 0,53 0,22 0,12
41. Não gosto de assumir a liderança em grupos. 0,52 -0,16 -0,13
32. Consigo superar bem experiências que traumatizariam a
0,47 0,15 -0,28
maioria das pessoas.
45. As coisas são mais divertidas se há um pouco de perigo
0,46 0,21 0,22
envolvido.
6. Gostaria de participar de uma perseguição em alta velocidade. 0,43 0,20 0,14
22. Funciono bem em situações novas, mesmo
0,40 0,00 -0,37
quando surpreendido (a).
42. Às vezes insulto as pessoas de propósito para ver a reação
0,40 0,37 0,24
delas
26. Gozo as pessoas só para “dar um agito” nas coisas. 0,40 0,27 0,19
28. Tenho medo de muito menos coisas que a maioria das
0,36 0,22 -0,24
pessoas.
47. Procuro ficar longe de perigos físicos sempre que possível. 0,32 0,17 0,10
17. Eu revido insultos 0,30 0,14 0,28
4. Não tenho um desejo forte de pular de paraquedas de um
0,26 0,03 0,03
avião.
54. Nunca me importo em fazer papel de bobo para os outros 0,24 0,03 0,08
33. Sou sensível aos sentimentos dos outros. 0,02 0,72 -0,06
48. Não ligo muito se o que faço machuca as demais pessoas. 0,17 0,67 0,09
11. Solidarizo-me com os problemas dos outros. -0,03 0,66 -0,06
55. Não me incomoda quando pessoas ao meu redor estão
0,08 0,59 -0,01
sofrendo.
29. Não vejo porque me preocupar se o que eu faço machuca
0,13 0,59 0,04
alguém.
52. É fácil me identificar com as emoções dos outros. 0,00 0,57 -0,21
2. O modo como os outros se sentem é importante para mim. 0,04 0,56 0,00
20. Não me incomoda ver alguém sofrendo. 0,11 0,54 0,00
36. Não sou muito solidário com as pessoas -0,02 0,50 0,08
8. Não ligo se uma pessoa de quem eu não gosto se machuca. 0,13 0,41 0,17
39. Em minha opinião, a honestidade é a melhor política. -0,11 0,41 0,10
43. Já peguei coisas de lojas sem pagar por elas. 0,10 0,37 0,04
34. Já enganei uma pessoa para ganhar dinheiro dela. 0,26 0,27 0,17
40. Já machuquei (magoei) pessoas para vê-las sofrer. 0,20 0,26 0,15
24. Já peguei dinheiro da carteira ou da bolsa de alguém sem
0,17 0,24 0,12
pedir.
58. Já roubei alguma coisa de um veiculo -0,04 0,14 0,06
21. Tenho um bom controle sobre mim mesmo (a). -0,13 0,07 0,59
15. Precipito-me nas coisas sem muita reflexão 0,11 0,01 0,59
108
37. Envolvo-me em problemas por não pensar nas consequências
0,28 0,17 0,58
de minhas ações.
44. É fácil alguém fazer com que me sinta como um bobo. 0,08 0,01 -0,54
10. Fico com medo facilmente. 0,23 0,20 -0,49
51. As pessoas já me falaram que se preocupam com a minha
0,14 0,12 0,49
falta de autocontrole
9. As minhas decisões impulsivas já causaram problemas a
0,16 0,09 0,47
pessoas queridas.
31. Muitas vezes fico entediado(a) e perco o interesse. 0,12 0,03 0,45
7. Tenho muita capacidade de lidar com o estresse. 0,15 0,03 -0,45
46. Para mim é difícil esperar pacientemente pelas coisas. 0,11 0,03 0,42
16. Tenho dificuldade em fazer com que as coisas saiam do jeito
0,22 -0,10 -0,42
que eu quero.
5. Muitas vezes, perdi eventos aos quais tinha prometido ir. 0,06 -0,08 0,42
50. Não fico bem quando me comparo com a maioria das
0,04 -0,06 -0,38
pessoas.
49. Já perdi um(a) amigo(a) por ter agido de forma
0,19 0,22 0,36
irresponsável.
30. Cumpro os compromissos que eu assumo. -0,08 0,26 0,34
27. As pessoas muitas vezes abusam de minha confiança. 0,09 -0,21 0,33
56. Já tive problemas no trabalho porque fui irresponsável. 0,12 0,23 0,33
18. Já me meti em problemas por faltar muito à aula (ao
0,17 0,19 0,33
trabalho).
25. Não penso em mim como alguém talentoso 0,24 -0,15 -0,32
12. Já faltei ao trabalho sem me importar em avisar. 0,22 0,12 0,32
3. Muitas vezes, ajo de acordo com minhas necessidades
0,24 -0,07 0,31
momentâneas.
1. Sou otimista na maior parte do tempo 0,29 -0,08 -0,30
53. Eu já assaltei alguém 0,06 0,11 0,14
Número de itens 9 9 9
Valores próprios 6,91 4,47 3,49
Variância explicada 11,9% 7,71% 6,01%
Alfa de Cronbach 0,73 0,81 0,73
109
O primeiro fator foi identificado como Boldness, composto, inicialmente, por 18
excluídos, caso dos itens 23, 14, 45, 6, 42, 26 e 17. Foram eliminados, também, aqueles
que apresentaram saturações abaixo do ponto de corte estabelecido |0,30|, caso dos itens
4 e 54. Nesta direção, optou-se pela retenção de 9 itens, com saturações que variam de
0,65 (item 38. Consigo convencer as pessoas a fazer o que eu quero) a 0,32 (item 47.
Procuro ficar longe de perigos físicos sempre que possível). Este componente
= 0,73).
por 16 itens. Adotaram-se os mesmos critérios descritos anteriormente para reter o item
no fator. Portanto, foi excluído um item teoricamente oposto ao conteúdo do fator, além
de terem sido excluídos aqueles que apresentaram saturações abaixo do ponto de corte
estabelecido, caso dos itens 34, 40, 24 e 58. Optou-se, ainda, por reter, pautado na
parcimônia, aqueles itens que apresentaram as nove maiores cargas fatoriais. Nesta
direção, este componente apresenta itens com cargas fatoriais que variam de 0,72 (item
33. Sou sensível aos sentimentos dos outros) a 0,50 (item 36. Não sou muito solidário
total. Este componente apresentou indicadores que atestam sua precisão (α = 0,81).
conta. Concretamente, itens referentes a dimensões outras foram retirados (itens 44, 10,
7, 16, 50, 25 e 1) e um item que apresentou baixa saturação foi excluído (item 53). A
exemplo do componente Meanness, optou-se por reter apenas os nove itens que
110
apresentaram melhores saturações. Portanto, este fator apresenta cargas fatoriais que
variam de 0,59 (item 21. Tenho um bom controle sobre mim mesmo(a) e item 15.
Precipito-me nas coisas sem muita reflexão) a 0,36 (Item 49. Já perdi um(a) amigo(a)
por ter agido de forma irresponsável), com valor próprio de 3,49 e explicando 6,01% da
variância total. Ademais, apresentou evidências que apontam para sua consistência
interna (α = 0,73).
O presente estudo teve como escopo reunir evidências preliminares que atestam
exposto no marco teórico, esta medida apresenta uma série de limitações, algo que
Nesta direção, Patrick et al. (2009), a partir de extensa análise da literatura sobre
psychopathy measure (Patrick, 2010). Apesar de apresentar uma sólida base teórica, este
modelo possui poucas evidências empíricas, algo que reflete sua recenticidade.
estrutura fatorial proposta por Patrick (2010; Patrick et al., 2009), contudo, há relatos
que comprovam a validade da TriPM a partir das correlações que ela estabelece com
outras medidas de psicopatia (Sellbom & Phillips, 2012; Stanley et al., 2012). Apesar de
111
ser importante verificar a validade convergente, parece de igual relevância checar a
validade fatorial da medida, bem como testá-la a nível confirmatório, reunindo, assim,
saturações aceitáveis, acima do que vem sendo recomendado pela literatura (Pasquali,
1999, 2003, 2012). Os três fatores apresentam, ainda, índices aceitáveis de consistência
interna, superiores ao ponto de corte que vem sendo considerado para fins de pesquisa
(Nunnaly, 1991; Pasquali, 2010; Urbina, 2007) e próximos aos encontrados com outras
medidas (Brinkley, Diamond, Magaletta, & Heigel, 2008; Levenson et al., 1995;
Mahmut, Menictas, Stevenson, & Homewood, 2011). Nesta direção, tal como
relacionadas (Cooke et al., 2006; Hall et al., 2004; Masui et al., 2011; Skeem et al.,
Ademais, ressalta-se que a variância explicada pelos três componentes foi algo
aceitável, pautando-se em resultados obtidos com outras medidas, como, por exemplo,
no estudo de Lilienfeld e Andrews (1996) que verificaram que os oito fatores da PPI
número de variáveis.
avaliação da psicopatia fora de contextos prisionais (Hauck Filho et al., 2012), bem
112
por Lilienfeld (1994, 1998) como potencial limitação das medidas explícitas de
psicopatia. Entretanto, cabe ressaltar que o objetivo deste estudo foi averiguar
curta, possuindo 27 itens, nove para cada dimensão, algo favorável comparando a outros
instrumentos, como a PPI (Lilienfeld & Andrews, 1996; Lilienfeld & Widows, 2005).
estimar traços psicopatas na população geral. Nesta direção, a medida objeto desta
for levado em conta que este é o primeiro estudo de natureza fatorial levado a cabo em
Nesta direção, avalia-se que o objetivo proposto por esse estudo foi alcançado,
isto é, a TriPM possui três componentes que se destacam, tal como indicado na
literatura (Cooke & Michie, 2001; Cooke et al., 2004; Patrick et al., 2009). Tendo em
conta esta medida, no estudo seguinte será avaliado a adequação deste instrumento em
113
5. ESTUDO 2. TESTANDO A ADEQUAÇÃO DO TRIARCHIC MODEL OF
PSYCHOPATHY
5.1. Método
5.1.1 Delineamento
Tal como no primeiro, o segundo estudo utiliza-se de um delineamento não
5.1.2. Participantes
Contou-se com uma amostra não probabilística de 230 pessoas da população em
do sexo feminino (77%), prevalecendo aqueles com ensino superior incompleto (47%).
5.1.3. Instrumentos
A exemplo do primeiro estudo, no segundo utilizou-se a TriPM, no entanto, foi
levado em conta a versão adaptada. Esta é composta por 27 itens, nove para cada
demográfico.
5.1.4. Procedimento
Para a realização deste estudo, optou-se por utilizar um questionário online. O
link da pesquisa foi compartilhado em redes sociais, não havendo pré-requisitos para
participante desistir em qualquer etapa, sem que isso lhe acarretasse qualquer prejuízo.
114
5.1.5. Análise de Dados
Os dados foram analisados com os softwares PASW e AMOS, ambos em sua
liberdade (χ²/gl), onde valores entre 2 e 3 indicam um bom ajuste, aceitando-se até 5.
confiança de 90% (IC90%), pautam-se nos residuais; são considerados bons indicadores
de ajuste valores próximos a zero, recomendando-se entre 0,05 e 0,08, admitindo-se até
0,10.
quadrados (χ²) e graus de liberdade (gl) dos modelos respectivos [²(gl)], penalizando
aquele com maior χ², o Expected Cross-Validation Index (ECVI) e o Consistent Akaike
Information Criterion (CAIC). No caso destes dois últimos, entende-se que o modelo
115
Checou-se, ainda, a invariância fatorial da TriPM considerando o sexo dos
o valor do Δχ², não obstante, este indicador é sensível ao tamanho da amostra (Damásio,
2013), sendo recomendado outros índices, como, por exemplo, o ΔRMSEA, levado em
5.2. Resultados
unifatorial (todos os itens saturando em um fator), bifatorial (similar aos dois fatores
χ² (321) = 693,6, p < 0,001; χ²/gl = 2,16; GFI = 0,81; AGFI = 0,78; CFI = 0,77; RMSEA
Figura 5 a seguir.
116
Figura 5. Estrutura fatorial da Triarchic Psychopathy Measure
117
Tabela 7. Indicadores de ajuste dos modelos testados
Modelos ² (gl) GFI AGFI CFI RMSEA (IC 90%) ECVI CAIC ² (gl)
Trifatorial 693,6 (321) 0,81 0,78 0,77 0,071 (0,064 – 0,078) 3,527 ( 3,212–3,875) 1060,551 -
Tetrafatorial 709,174 (319) 0,80 0,77 0,76 0,073 (0,066 – 0,080) 3,612 (3,292 – 3,966) 1089,021 15,5 (2)*
Bifatorial 1034,253 (323) 0,70 0,65 0,56 0,098 (0,091 – 0,105) 4,997 (4,589 – 5,438) 1388,347 340,6 (1)*
Unifatorial 1402,148 (325) 0,60 0,54 0,33 0,120 (0,114 – 0,127) 6,586 (6,096 – 7,108) 1743,366 708,5 (4)*
Nota: N (230); ² = qui-quadrado; gl = Graus de Liberdade; GFI = Goodness-of-Fit Index; AGFI = Adjusted Goodness-of-Fit Index; CFI =
Comparative Fit Index; RMSEA = Root-Mean-Square Error Aproximation, IC 90% = Intervalo de Confiança de 90%; ECVI = Expected Cross-
Validation Index; CAIC = Consistent Akaike Information Criterion; * p < 0,001.
Considerando os resultados previamente expostos, percebe-se que os modelos de
demais. Nota-se, porém, que o modelo de referência mostra-se algo mais adequado,
< 0,05). Conhecido o ajuste marginalmente aceitável do modelo trifatorial, testou-se sua
estrutura proposta por este instrumento é invariante quanto ao sexo dos participantes.
em diferentes grupos; e, por fim, invariância residual, avaliando se o erro dos itens são
iguais entre os grupos (Damásio, 2013). Como índice que atesta a invariância, Byrne
(2010) sugere que se verifique a diferença dos respectivos qui-quadrados (Δχ²), não
obstante, este índice é sensível ao tamanho da amostra (Damásio, 2013). Neste sentido,
alguns autores (e.g., Damásio, 2013; Pai et al., 2007) vem recomendando a consideração
indicando que o modelo é invariante se ΔRMSEA < 0,015, comparando o modelo sem
119
restrição com os demais (Chen, 2007; Wu et al., 2007). Os resultados desta análise são
χ²/gl foram adequados, percebe-se, ainda, que comparando o modelo sem qualquer
restrição com os demais, o valor do ΔRMSEA foi menor que o indicado na literatura
como ponto de corte, algo que indica que a estrutura é invariante considerando o sexo
dos participantes.
Foi possível notar que os modelos de três e quatro dimensões mostraram-se algo
mais adequado em relação aos demais. Não obstante, comparando estes dois modelos
120
algo plausível pensar a psicopatia como um construto formado por três fatores (Cooke
& Michie, 2001; Johansson et al., 2002). Cabe ressaltar que um dos quatro fatores da
contextos não prisionais (Hauck Filho et al., 2012; Lilienfeld & Andrews, 2005). Nesta
direção, para representar o fator foram incluídos itens referentes à falta de controle
Quanto aos resultados encontrados, percebe-se que não são os mais adequados
(Byrne, 2010; Pilati & Laros, 2007), entretanto, devem ser ponderados, principalmente
TriPM.
aceitáveis (e.g., CFI = 0,74; RMSEA = 0,05). Mais recentemente, Neal e Sellbom
(2012) verificaram o ajuste da SRP com uma amostra de 602 estudantes universitários,
verificando pobre ajuste dos dados ao modelo hipotetizado (e.g., CFI = 0,65).
encontrando índices de ajuste inadequados (e.g., CFI = 0,71), próximo aos valores
121
obtidos no estudo de Brinkley et al. (2008) com a mesma medida, sendo reportados
indicadores abaixo do que a literatura recomenda (e.g., CFI = 0,76; NFI = 0,76).
literatura (Byrne, 2010; Pilati & Laros, 2007), mesmo considerando amostras
ajuste do modelo aos dados (e.g., χ²/gl = 6,97; CFI = 0,62; RMSEA = 0,20).
foram um tanto distantes dos ideais (e.g., RMSEA = 0,10; CFI = 0,78), no mesmo
estudo, testaram um modelo unifatorial, que mostrou-se com índices ainda mais pobres
(e.g., RMSEA = 0,10; CFI = 0,68). Posteriormente, tendo em conta um modelo mais
exemplo, CFI = 0,97 e GFI = 0,98 para um modelo com 10 itens. Não obstante,
transtorno, parece um tanto reducionista testar um ajuste com tão poucos itens.
Por outro lado, estudos com amostras carcerárias se mostraram com ajustes mais
encontraram resultados satisfatórios para o modelo de quatro fatores de Hare (e.g., χ²/gl
= 1,71; RMSEA = 0,076; GFI = 0,92). Tais resultados podem ser reflexo do contexto
criminal em que a PCL-R foi construída, e não indicando sua adequação para
representar a psicopatia (Lilienfeld & Andrews, 1996), considerando alguns itens que
122
avaliam o histórico de comportamentos antissociais e delitivos para caracterizar um
psicopata. Portanto, tal como destacam Skeem e Cooke (2010), a utilização da PCL-R
pobre ajuste das medidas de psicopatia, Anestis, Caron e Carbonell (2011) citam que o
algumas medidas foram criadas considerando amostras compostas por homens, além de
das diferenças entre os gêneros e não por ser um problema estrutural da medida por não
Com este fim, Jones, Cauffman, Miller e Mulvey (2006) checaram a invariância
considerando o gênero dos participantes, entretanto, tal como aponta Byrne (2010), este
conta estudos futuros que venham comparar traços psicopatas entre homens e mulheres.
propostos por este estudo foram alcançados, apesar de não disporem dos melhores
123
adequação do modelo com três fatores, sendo compostos por nove itens cada, sendo
utilizado no Estudo 3.
6.1. Método
valores humanos; e o terceiro considera o papel mediador dos valores na relação entre
amabilidade.
correlacionar negativamente.
positivamente.
TriPM.
124
Hipótese 1.6. A dimensão boldness se correlacionará positivamente com extroversão.
negativamente.
mudança.
negativamente.
abertura à mudança.
positivamente.
correlacionarão negativamente.
meanness.
negativamente.
meanness.
125
Hipótese 2.6. A subfunção experimentação se correlacionará positivamente com o fator
meanness.
negativamente.
dimensão boldness.
psicopatia
Hipótese 3.1. Traços de amabilidade predizem a pontuação total da TriPM mediado por
psicopatia.
Hipótese 3.5. Abertura à mudança prediz a pontuação total da TriPM mediado por
126
Hipótese 3.7. Neuroticismo, mediado por valores da subfunção experimentação, irá
predizer boldness.
Hipótese 3.8. Extroversão, mediado por valores da subfunção interativa, irá predizer
boldness.
disinhibition.
6.1.2. Participantes
Contou-se com uma amostra não probabilística de 228 estudantes universitários,
de instituições públicas e particulares, da cidade de João Pessoa (PB). Estes têm idades
6.1.3. Instrumentos
Os participantes responderam aos seguintes instrumentos:
empíricas dos estudos anteriores, formado por 27 itens, nove para cada fator,
foi elaborada por John, Donahue e Kentle (1991) composta por 44 itens. A adaptação
desta escala para o contexto brasileiro foi levada a cabo por Andrade (2008),
encontrando uma estrutura formada por 34 itens, sendo que os fatores apresentaram
evidências de consistência interna, com alfas que variam de 0,76 (Extroversão) a 0,68
127
de outras escalas, optou-se por uma versão reduzida do ICGFP, composta por 20 itens
que questionam como o indivíduo se percebe (Eu me vejo como alguém que...). Tais
itens são estruturados em sentenças (e.g., Gosta de cooperar com os outros; É amável,
tem consideração pelos outros) respondidas em escala tipo Likert de cinco pontos, com
Questionário dos Valores Básicos (QVB). A primeira versão desta medida foi
proposta por Gouveia (1998), sendo formada por um conjunto de 66 itens, entretanto,
em 2003 surge uma versão reduzida com 24, que passou por algumas modificações
dando origem a atual versão do instrumento (Gouveia, Milfont, Fischer, & Santos,
2008), composta por 18 itens/valores específicos (e.g., Apoio social. Obter ajuda
quando a necessite; sentir que não está só no mundo; Prazer. Desfrutar da vida;
satisfazer todos os seus desejos). Tais itens são respondidos em uma escala de sete
medida que os participantes consideram cada valor como um princípio que guia sua
vida.
128
6.2. Resultados
subfunções valorativas.
da escala, somando todos os 27 itens da versão ora adaptada, o mesmo foi feito com os
que a pontuação total da TriPM apresentou correlações com quase todos os fatores,
relações mais fortes com amabilidade (r = -0,24, p < 0,001) e com extroversão (r = 0,23,
129
mais fraca, a pontuação total da TriPM se correlacionou de forma significativa com
(r = 0,14, p < 0,05) e extroversão (r = 0,39, p < 0,001), por outro lado, relacionou-se
negativamente com neuroticismo (r = -0,16, p < 0,05). Nesta direção, as hipóteses 1.6,
1.7 e 1.8 foram corroboradas. Tendo em conta a dimensão meanness, observa-se que
esta estabelece relações negativas com extroversão (r = -0,14, p < 0,05) e amabilidade
(r = -0,41, p < 0,001), confirmando a hipótese 1.9. Disinhibition, por sua vez,
-0,14, p <0,05), mas não o fez com abertura (r = -0,02, p > 0,05) e extroversão (r = 0,11,
p > 0,05). Portanto, a hipótese 1.12 foi confirmada, ao passo que as hipóteses 1.10 e
delas foram rejeitadas, além de relações inicialmente não previstas serem identificadas.
seguir.
130
Tabela 10. Correlatos entre valores humanos e traços psicopatas
Entretanto, não o fez para a hipótese 2.9, pois não houveram relações entre a subfunção
131
0,001), contudo, não o fez para subfunção realização e experimentação, rejeitando as
referentes a relação entre valores e psicopatia foram corroboradas, ao passo que duas
foram rejeitas, encontrando-se, ainda, relações que não eram esperadas. Nesta direção,
conhecidas as relações entre as variáveis, parte-se para o teste dos modelos hierárquicos.
critério.
personalidade e três subfunções valorativas [R = 0,57, R² = 0,32, F (6, 207) = 16,67, p <
0,001]: extroversão (β = 0,32, t = 4,79, p < 0,001), abertura (β = 0,21, t = 3,24, p <
< 0,05), realização (β = 0,28, t = 3,96, p < 0,001) e existência (β = -0,20, t = 2,50, p <
0,05). A dimensão meanness, foi predita por um fator da personalidade e por duas
amabilidade (β = -0,28, t = -4,44, p < 0,001), interativa (β = -0,38, t = -5,64, p < 0,001)
com os valores de realização [R = 0,48, R² = 0,23, F (3, 208) = 21,02, p < 0,05]:
132
neuroticismo (β = 0,41, t = 6,74, p < 0,001), conscienciosidade (β = -0,19, t = -3,05, p <
= 0,57, R² = 0,33, F (6, 201) = 16,65, p < 0,001]: amabilidade (β = -0,33, t = -4,71, p <
0,001), extroversão (β = 0,28, t = 4,14, p < 0,001), abertura (β = 0,17, t = 2,56, p <
0,05), experimentação (β = 0,20, t = 2,76, p < 0,05), interativa (β = -0,35, t = -5,03, p <
90% = 0,08/0,29, p < 0,05), neuroticismo (λ = -0,19, IC 90% = -0,28/-0,09, p < 0,001) e
133
Figura 6. Modelo de mediação testado para Boldness
< 0,05)]. Destaca-se, ainda, que a mediação é parcial, de modo que os efeitos diretos
IC 90% = 0,11/0,31, p < 0,001), Extroversão (λ = 0,35, IC 90% = 0,25/0,46, p < 0,001)
134
sobre esta dimensão (λ = -0,41, IC 90% = -0,50/-0,31, p < 0,001). Posteriormente,
0,001). Ademais, esta mediação foi parcial, de modo que os efeitos diretos dos traços de
(tipo stepwise), desta vez foram incluídas como preditoras deste fator de psicopatia
não se aproxima dos fenótipos de disinhibition. A nova análise permitiu verificar que
mediadora.
135
Verificaram-se efeitos diretos dos traços de conscienciosidade (λ = -0,15, IC
90% = -0,25/-0,05, p < 0,05) e neuroticismo (λ = 0,43, IC 90% = 0,33/0,51, p < 0,001).
0,01, IC 90% = 0,00/0,04, p < 0,05) e Neuroticismo (λ = 0,01, IC 90% = 0,01/0,06, p <
0,40, IC 90% = 0,30/0,49, p < 0,001)], confirmando as hipóteses 3.10 e 3.11. O modelo
136
Por fim, testou-se um modelo em que os traços de personalidade agiram como
137
O modelo de mediação testado aponta para efeitos indiretos dos traços de
efeitos diretos dos traços Abertura (λ = 0,17, IC 90% = 0,07/0,28, p < 0,05),
90% =0,16/0,36, p < 0,001) seguem significativos, indicando uma mediação parcial, ao
passo que o traço Neuroticismo deixou de ter efeitos diretos significativos sobre os
total. Logo, observa-se que as hipóteses 3.1, 3.2 e 3.5 forma confirmadas, ao passo que
Este estudo teve como escopo estimar em que medida os cinco grandes fatores
& Schwartz, 1994; Parks & Guay, 2009), verificou-se o papel mediador dos valores na
personalidade (Levenson et al., 1995; Lilienfeld & Andrews, 1996), foi possível
verificar relações diretas entre os cinco grandes fatores e os fenótipos psicopatas. Nesta
138
Miller, 2013; Miller et al., 2001; Reynolds & Clark, 2001; Schultz & Schultz, 2002;
Tal como hipotetizado, foi verificado que pessoas com baixos traços de
2013; Stanley et al., 2012) e consistente teoricamente, de modo que sujeitos com baixos
escores em Amabilidade tendem a ser egoístas, invejosos e com baixa empatia para com
dos fenótipos que descrevem uma dimensão mais voltada para aspectos afetivos (Hutz
Esta relação era esperada, pois psicopatas tendem a ser comunicativos, expansivos e
sociáveis, algo associado a tal fator da personalidade (Gomes & Golino, 2012; Nunes &
Hutz, 2006; Schultz & Schultz, 2002), podendo refletir em um domínio interpessoal do
charme superficial (Patrick et al., 2009). Considerando, ainda, a dimensão Boldness, que
139
(DeYoung & Gray, 2009), algo que vai de encontro aos descritores de Disinhibition que
indicam para uma tendência geral para falta de controle de impulsos, refletindo em
condutas impulsivas, que demonstram falta de planejamento. Por outro lado, as relações
externalizados e que tendem para a violação de normas (Patrick et al., 2009; Venables et
al., 2013).
sociais. Logo, é possível pensar que psicopatas tendem a ser individualistas, pouco
preocupando-se com o bem comum, sendo buscadores de sensações, que dão pouca ou
interpessoais estáveis e tendendo para a violação das normas sociais (Hare & Neumann,
2008).
2003; Gouveia et al., 2011; 2013; Medeiros et al., 2012). Portanto, tal como exposto no
marco teórico, é pertinente pensar que psicopatas dão pouca importância a tais valores,
normativa, que, mesmo não significativas, foram negativas, podendo indicar uma
140
que estabelece uma dimensão específica que avalia aspectos relativos ao envolvimento
com o crime.
pessoas que buscam a satisfação imediata, não sendo orientados ao alcance de metas
fixas em longo prazo e que dificilmente se conformam com as normas sociais, algo que
planejamento em psicopatas.
apresentaram relações importantes com os fenótipos psicopatas, sendo que tais valores
possível destacar que são pessoas competitivas e que preocupam-se apenas em alcançar
controle sobre os demais (Babiak, Neumann, & Hare, 2010), algo muito próximo a
descrição que Gouveia (2013) faz do valor poder, caracterizando indivíduos que dão
que tal ambiente, em alguma medida, exige alguns aspectos psicopatas para o alcance
al., 2010).
141
Logo, percebe-se que traços de personalidade e valores podem auxiliar no
estabelecidos com base nos resultados indicados nas correlações e regressões, além de
ser levado em conta aspectos teóricos. Tal como apontado por Bilsky e Schwartz
endossados valores de ordem social, poder-se-ia pensar em uma inibição dos sintomas
psicopatas.
partir das relações que ela possui com outros construtos, promovendo o
142
CAPÍTULO 7. DISCUSSÃO GERAL
143
Esta dissertação teve como objetivo geral verificar em que medida a psicopatia é
papel mediador deste último construto. Para tanto, no marco teórico foi possível
verificar que mesmo tendo um forte componente biológico, variáveis contextuais têm
humanos, com maior influência de variáveis sociais (Araújo, 2013), utilizando-os para o
pesquisa.
144
por estudantes universitários. Neste sentido, apresenta pouca variabilidade, sendo
formada por pessoas que apresentam, em média, traços latentes próximos, sendo,
psicopatia, feita por meio de medidas explícitas ou tipo lápis e papel. Alguns problemas
estão associados a esta forma de mensuração da psicopatia, como, por exemplo, a baixa
validade convergente entre medidas, indicando uma falta de consenso sobre a natureza
Fowler, 2006).
mostrar-se algo mais favorável, acentuando seus aspectos mais positivos. Portanto,
parece inerente este viés nas medidas de psicopatia, podendo contribuir para o
145
Por fim, quando se refere a um modelo de predição, tem-se em conta ser
plausível entender uma sequência temporal de influência entre as variáveis, neste caso
à psicopatia (Blonigen et al., 2003; Hall et al., 2004; Masui et al., 2011; Murray et al.,
com outras medidas (Cooke & Michie, 2001; Cooke et al., 2006; Gummelt et al., 2012;
Patrick et al., 2009; Skeem et al., 2003; Willemsen & Verhaeghe, 2012), em que três
1996), e com índices aceitáveis de consistência interna, acima dos preconizados pela
literatura para fins de pesquisa (0,70; Cozby, 2003; Hair, Black, Babin, Anderson, &
Tatham, 2009; Nunnaly, 1991; Pasquali, 1999, 2003, 2010, 2012; Urbina, 2010).
Percebe-se, ainda, que a medida ora adaptada é uma versão relativamente curta, se
comparada a outras (Lilienfeld & Andrews, 1996; Lilienfeld & Widows, 2005),
apresentando nove itens para cada dimensão, de baixo custo para aplicação e que não
146
exige treino para a sua administração, sendo, portanto, uma alternativa interessante para
(Byrne, 2010; Hair et al., 2009, Pilati & Laros, 2007), índices que permitem pensar em
al., 2009), com indicadores superiores aos encontrados com outras medidas (Love,
2010; Neall & Sellbom, 2012; Savard et al., 2005). Comparada diretamente com
modelos alternativos de quatro fatores (Hare, 2003; Neumann et al., 2007), dois fatores
construto unitário, com todos os itens saturando em um fator geral, o modelo trifatorial
psicopatia, checou-se a invariância fatorial da TriPM. Apesar desta medida não ter sido
(Chen, 2007; Wu et al., 2007). Portanto, as possíveis variações se dão em virtude das
147
Considerando os correlatos da psicopatia com os traços de personalidade e
2012; Decuyper et al., 2009; Derifinko & Miller, 2013; Farrington, 2006; Waldman &
Rhee, 2006).
atitudes e julgamentos (Bardi & Schwartz, 2001; Medeiros, 2011; Rokeach, 1973).
(Ross et al., 2004; Salekin et al., 2010), indicando que personalidade normal e anormal
relação entre psicopatia e personalidade. Tal como postulam Bilsky e Schwartz (1994),
os traços de personalidade, por serem mais estáveis e com maior componente genético,
antecedem os valores, que apresentam uma base mais social. Neste sentido, estes podem
predição de comportamentos (Parks & Guay, 2009). Portanto, este estudo constitui-se
como uma evidência em favor desta hierarquia, algo que pode influenciar mais estudos
148
7.3. Direções Futuras e Conclusão
específico, é algo relevante, junto a amostras da população geral, contar com pessoas
judiciários e presídios. De igual relevância seria contar com estudos de replicação com a
dos itens via Teoria de Resposta ao Item (TRI), que oferece informações adicionais
importantes, como a dificuldade e discriminação para cada item. Pode-se pensar, ainda,
Falso).
construção de uma medida implícita, procedimento que reduz o viés de falseamento das
respostas, de modo que tal técnica tem em conta o tempo de reação do participante,
visando captar sua atividade inconsciente, não controlada (Athayde, 2012). Ademais, é
estilos parentais e o apego, sendo algo importante pensar em estudos longitudinais com
149
crianças, verificando, de forma mais controlada, o papel de determinados construtos
150
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ANEXOS
181
Anexo 1. Inventário dos Cinco Grandes Fatores da Personalidade
pessoais. Leia cada uma com atenção e, utilizando a escala de resposta abaixo, indique o
1 2 3 4 5
182
Anexo 2. Questionário dos Valores Básicos
INSTRUÇÕES. Por favor, leia atentamente a lista de valores descritos a seguir, considerando
seu conteúdo. Utilizando a escala de resposta abaixo, indique com um número ao lado de
cada valor o grau de importância que este tem como um princípio que guia sua vida.
1 2 3 4 5 6 7
Totalmente Mais ou
Não Pouco Muito Totalmente
não menos Importante
importante importante importante importante
importante importante
01.____AFETIVIDADE. Ter uma relação de afeto profunda e duradoura; ter alguém para
compartilhar seus êxitos e fracassos.
02.____ÊXITO. Obter o que se propõe; ser eficiente em tudo que faz.
03.____APOIO SOCIAL. Obter ajuda quando a necessite; sentir que não está só no
mundo.
04.____CONHECIMENTO. Procurar notícias atualizadas sobre assuntos pouco
conhecidos; tentar descobrir coisas novas sobre o mundo.
05.____EMOÇÃO. Desfrutar a vida desafiando o perigo; buscar aventuras.
06.____PODER. Ter poder para influenciar os outros e controlar decisões; ser o chefe de
uma equipe.
07.____SEXUALIDADE. Ter relações sexuais; obter prazer sexual.
08.____RELIGIOSIDADE. Crer em Deus como o salvador da humanidade; cumprir a
vontade de Deus.
09.____SAÚDE. Preocupar-se com sua saúde antes de ficar doente; não estar física ou
mentalmente enfermo.
10.____PRAZER. Desfrutar da vida; satisfazer todos os seus desejos.
11.____PRESTÍGIO. Saber que muita gente lhe conhece e admira; quando velho receber
uma homenagem por suas contribuições.
12.____OBEDIÊNCIA. Cumprir seus deveres e obrigações do dia a dia; respeitar aos seus
pais e aos mais velhos.
13.____ESTABILIDADE PESSOAL. Ter certeza de que amanhã terá tudo o que tem
hoje; ter uma vida organizada e planificada.
14.____CONVIVÊNCIA. Conviver diariamente com os vizinhos; fazer parte de algum
grupo, como: social, esportivo, entre outros.
15.____BELEZA. Ser capaz de apreciar o melhor da arte, música e literatura; ir a museus
ou exposições onde possa ver coisas belas.
16.____TRADIÇÃO. Seguir as normas sociais do seu país; respeitar as tradições da sua
sociedade.
17.____SOBREVIVÊNCIA. Ter água, comida e poder dormir bem todos os dias; viver em
um lugar com abundância de alimentos.
18.____MATURIDADE. Sentir que conseguiu alcançar seus objetivos na vida;
desenvolver todas as suas capacidades.
183
Anexo 3. Questionário Demográfico
CARACTERIZAÇÃO DEMOGRÁFICA
184
Anexo 4. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Estamos realizando uma pesquisa no estado da Paraíba com o propósito de conhecer possíveis
fatores contribuintes para a explicação de comportamentos sociais. Para efetivação do estudo,
gostaríamos de contar com sua colaboração respondendo a este questionário. O estudo objetiva verificar
a adequação do Triarchic Model of Psychopathy em contexto brasileiro. Após, será verificado em que
medida os fatores desta medida se relacionam com os cinco grandes fatores da personalidade e com os
valores humanos.
Como benefícios, destaca-se a possibilidade de uma nova medida ser utilizada em contexto
brasileiro para identificação de traços psicopatas, além da possibilidade de maior compreensão sobre o
construto a partir das relações que estabelece com os traços de personalidade e os valores humanos.
Como possíveis riscos, destaca-se que alguns itens dos instrumentos podem causar certo desconforto
psicológico nos participantes.
Assim, solicitamos a sua colaboração para participar desta pesquisa, como também sua
autorização para publicar os resultados deste estudo em revista científica. Esclarecemos que sua
participação no estudo é totalmente voluntária e, portanto, você não é obrigado a fornecer as informações
e/ou colaborar com as atividades solicitadas pelo pesquisador(a), podendo, a qualquer momento, desistir
do mesmo. Caso discorde ou sinta-se constrangido em responder, você pode declinar da pesquisa no
momento que preferir.
Asseguramos, ainda, o caráter anônimo e confidencial de todas as suas respostas. Nesta
direção, antes de prosseguir, de acordo com o disposto nas resoluções 196/96 e 251/97 do Conselho
Nacional de Saúde, faz-se necessário documentar seu consentimento.
Por fim, colocamo-nos à sua inteira disposição no endereço acima para esclarecer qualquer
dúvida que necessite.
_________________________________________
Assinatura do participante da Pesquisa
185
Anexo 5. Carta de Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa
186