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MÓDULO 1 – Introdução à Auditoria do SUS 1

AUDITORIA DO SUS
NO CONTEXTO DO SNA

Qualificação do Relatório de Auditoria

Brasília - 2015
© 2015 Ministério da Saúde.
Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que
citada a fonte e que não seja para venda ou qualquer fim comercial.

Organização
Jane Aurelina Temóteo de Queiroz Elias
Kelly Fernandes da Silva

Supervisão técnica
José Antonio Bonfim Mangueira

Elaboração do conteúdo
Almir Serra Martins Menezes Neto
Salvatore Palumbo

Colaboração
Alcinda Hossana de Oliveira
Herlon Francisco dos Santos
Jane Aurelina Temóteo de Queiroz Elias
Maria das Graças Marinho Cardoso
Maria Elena Ribeiro
Silvia de Fátima Alves Dantas

Revisão
Isa Maria Bezerra de Queiroz
José Antonio Bonfim Mangueira
Jozimar Barros Carneiro
Lucia Tavares de Sales

Projeto gráfico
Adriana Palumbo
Sumário
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO À AUDITORIA DO SUS 7
1.1 Processo de auditoria 8
1.2 Processo de auditoria no SUS 12
1.3 Princípios éticos e profissionais do auditor 13

MÓDULO 2 - PROGRAMAÇÃO DE AUDITORIA 18


2.1 Interpretação da demanda 19
2.2 Elaboração da tarefa 21
2.3 Programação da auditoria 24

MÓDULO 3 - FASE ANALÍTICA DA AUDITORIA 25


3.1 Atividades da fase analítica 26
3.2 Levantamento de informações sobre o objeto de auditoria 27
3.3 As matrizes de coleta e de análise de informações 29
3.4 Critérios de auditoria 34
3.5 Coleta de informações em auditoria 36
3.6 Procedimentos de análise 46
3.7 Validação das matrizes 50
3.8 Papéis de trabalho 52
3.9 Relatório analítico 54
3.10 Amostragem 57

MÓDULO 4 - FASE OPERATIVA DA AUDITORIA 72


4.1 Trabalho de campo 73
4.2 Evidências e constatações 77
4.3 Matriz de constatações 83
4.4 Relatório preliminar 86

MÓDULO 5 - FASE DE RELATÓRIO 88


5.1 O relatório de auditoria 89
5.2 Análise de justificativas do auditado 91
5.3 Elaboração de recomendações 94
5.4 Proposição de devolução de recursos 96
5.5 Elaboração de conclusão 97
5.6 Encerramento da auditoria 99

Referências 103
Pesquisa de Imagens 104
Imagens
Figura 1 - Etapas de uma auditoria. 9
Figura 2 - Aspectos tipicamente focalizados em auditorias. 11
Figura 3 - Fases de uma auditoria no SNA. 13
Figura 4 - Princípios éticos e profissionais do auditor. 14
Figura 5 – Questão e possível constatação associadas a um objetivo de auditoria. 23
Figura 6 - Variáveis que afetam a qualidade de uma auditoria. 24
Figura 7 – Atividades da fase analítica de uma auditoria. 26
Figura 8 - Informações que contribuem para obter visão geral do objeto a auditar
e de seu contexto. 27
Figura 9 – Fontes de informação úteis para obter visão geral do objeto a auditar. 28
Figura 10 – Estrutura da matriz de coleta de informações. 31
Figura 11 – Matriz de análise de informações. 31
Figura 12 – Especificação do conteúdo das células das matrizes de coleta e de
análise de informações (números em vermelho indicam ordem de preenchimento). 33
Figura 13 – Exemplo de matrizes de coleta e análise de informações. 34
Figura 14 – Exemplos de critérios de auditoria. 35
Figura 15 – Técnicas de coleta de informações indicadas conforme a finalidade. 38
Figura 16 – Potencialidades e limitações das modalidades de sondagem. 42
Figura 17 – Abordagens possíveis na análise de dados. 46
Figura 18 – Medidas estatísticas frequentemente utilizadas em auditoria. 47
Figura 19 – Estadiamento do câncer no momento do diagnóstico no Brasil em 2010. 48
Figura 20 – Execução orçamentária do Programa Farmácia Popular do Brasil. 49
Figura 21 – Exemplos de abordagens qualitativa e quantitativa utilizadas em auditoria. 49
Figura 22 – Exemplo de cronograma de auditoria. 56
Figura 23 – Exemplo de planilha de custos de uma auditoria. 57
Figura 24 – A fase operativa dentro do ciclo de auditoria. 73
Figura 25 – Elementos da constatação. 78
Figura 26 – Atributos da evidência. 79
Figura 27 – Processo lógico de identificação de constatações e formulação de recomendações. 83
Figura 28 – Matriz de constatações e seu preenchimento. 84
Figura 29 – Transposição de informações da matriz de constatações para o relatório preliminar. 86
Figura 30 – Checklist da qualidade de um relatório de auditoria. 101
APRESENTAÇÃO

Seja bem-vindo ao curso Auditoria do SUS no Contexto do SNA: Qualificação do Relatório de


Auditoria !

Este curso foi desenvolvido em estreita parceria entre a Interlocus e o DENASUS com a fina-
lidade de desenvolver competências que levem à qualificação do processo de auditoria do
SUS, em especial do relatório de auditoria.

A premissa que orienta este projeto é a de que a ênfase na aplicação consistente de méto-
dos e técnicas de auditoria ao contexto do Sistema Nacional de Auditoria aliada ao maior
envolvimento dos servidores na construção de cada trabalho conduz a níveis mais elevados
de qualidade.

O curso intercala a apresentação e o debate de conceitos e aspectos relevantes ao exercício


da responsabilidade de auditar o SUS com atividades práticas.

O desenvolvimento de conhecimentos e habilidades não se esgota com o curso, mas conti-


nua na Comunidade de Práticas dos Trabalhadores do DENASUS (https://novo.atencaobasi-
ca.org.br).

Convidamos você a participar ativamente desta iniciativa!

Equipe Interlocus
MÓDULO 1 – Introdução à Auditoria do SUS 7

MÓDULO 1
INTRODUÇÃO À
AUDITORIA DO SUS

O Sistema Único de Saúde (SUS), que teve suas de controle, desempenha papel fundamental
bases lançadas na Constituição Federal de 1988 para a melhoria da qualidade dos serviços de
e sua implantação iniciada na década de 1990, saúde prestados pelo SUS. Entre as atividades
propõe-se a oferecer atendimento integral à executadas pelo SNA estão as auditorias, ins-
população por meio de gestão descentraliza- trumentos com grande potencial para detec-
da com a participação da União, dos estados tar falhas, irregularidades e oportunidades de
e dos municípios brasileiros. A criação do SUS melhoria na gestão do SUS, desde que realiza-
colocou o Brasil como um dos primeiros paí- das observando-se princípios, métodos e téc-
ses fora da Organização para a Cooperação e nicas apropriados.
Desenvolvimento Econômico (OCDE) a incluir
na legislação o acesso universal aos serviços Este capítulo está organizado para apoiar o de-
de saúde, reconhecendo a saúde como direito senvolvimento do módulo 1 em sala de aula,
do cidadão e dever do Estado (Nações Unidas, cujo objetivo é de preparar os participantes
2013). para descrever o processo de auditoria reali-
zado no contexto do SNA e reconhecer e valo-
O SUS movimenta mais de 170 bilhões de re- rizar os princípios éticos e profissionais essen-
ais por ano, considerando as três esferas da ciais ao exercício da função de auditor do SUS.
federação, e tem contribuído para ampliar o
acesso da população aos serviços básicos de
saúde, com importante impacto na redução
da mortalidade. Contudo, ainda enfren-
ta uma série de desafios relacionados à
aplicação dos recursos públicos visando
obter ganhos de eficiência, eficácia e efe-
tividade e garantir o acesso aos serviços
com equidade.

O Sistema Nacional de Auditoria


(SNA), por meio de suas atividades
8 Introdução à Auditoria do SUS – MÓDULO 1

O capítulo é composto pelas seguintes seções e objetivos de aprendizagem:

Sessão Objetivos de aprendizagem

Os participantes deverão ser capazes de descrever o processo


Processo de auditoria no SUS de auditoria, sua finalidade e seus elementos, bem como de
reconhecer características do processo de auditoria no SUS.

Os participantes deverão ser capazes de reconhecer e valorizar


Princípios éticos e
os princípios éticos e profissionais essenciais ao exercício da
profissionais do auditor
função de auditor.

1.1 Processo de auditoria A observação atenta dessa definição permite


focalizar os seguintes elementos essenciais à
Auditar significa emitir uma opinião conclusi- compreensão do que é auditoria:
va sobre uma dada situação encontrada em
relação a um critério disponível ou inferido, a) Auditoria é um processo sistemático, pois
dentro dos limites permitidos pelo conjunto se estrutura em três etapas consecutivas,
de exames empregados. Ou seja, o objetivo que são o planejamento da auditoria, sua
de uma auditoria é sempre verificar em que execução e a comunicação de seus resulta-
medida uma situação encontrada se distan- dos por meio de relatório formal. Além dis-
cia do que deveria ser segundo algum critério so, cada fase vale-se de procedimentos es-
estabelecido nas leis, normas, ou princípios. pecíficos que devem ser aplicados de forma
rigorosa.
As Normas de Auditoria do TCU definem au-
ditoria nestes termos: b) Auditoria é um processo documentado,
pois todos os seus procedimentos e produtos
Auditoria é o processo sistemático, documentado e in- (papéis de trabalho, relatórios) devem ser re-
dependente de se avaliar objetivamente uma situação gistrados segundo determinados padrões de
ou condição para determinar a extensão na qual cri- modo a assegurar sua revisão e a organização
térios são atendidos, obter evidências quanto a esse das constatações e evidências obtidas.
atendimento e relatar os resultados dessa avaliação a
um destinatário predeterminado (TCU, 2011). O órgão de auditoria deve formalizar um
MÓDULO 1 – Introdução à Auditoria do SUS 9

Planejamento Execução Relatório

Figura 1 - Etapas de uma auditoria.

método para executar suas auditorias, estabe- f) A eventual discrepância entre a situação
lecendo os padrões que elas deverão observar, existente e o critério originará a constatação
incluindo regras claras quanto à documentação. de auditoria. Evidências são elementos de
comprovação da discrepância (ou não) entre
c) Auditoria requer atitude de independência a situação encontrada (real) e o critério de
por parte do auditor, de modo a assegurar a auditoria (ideal).
imparcialidade do seu julgamento, nas fases de
planejamento, execução e emissão de seu pare- g) Os resultados de uma avaliação de audito-
cer, bem como nos demais aspectos relaciona- ria são relatados a um destinatário predeter-
dos com sua atividade profissional. minado, que normalmente é quem solicitou
a auditoria, sem prejuízo de outros interessa-
d) Auditoria é um processo de avaliação ob- dos. Por meio de um relatório formal e técni-
jetiva, o que significa que na execução de suas co, o auditor comunica o objetivo, o escopo, a
atividades, o auditor se apoiará em fatos e evi- extensão e as limitações do trabalho, as cons-
dências que permitam o convencimento razoá- tatações de auditoria, as avaliações, opiniões,
vel da realidade ou a veracidade dos fatos, do- recomendações e conclusões.
cumentos ou situações examinadas, permitindo
a emissão de opinião com bases consistentes. A ausência de qualquer um desses elementos
pode tornar sem efeito o processo de audito-
e) A avaliação objetiva é feita comparando-se ria. Não é possível, por exemplo, assegurar a
uma situação real, encontrada na gestão ou qualidade da auditoria se o auditor não está
atividade auditada, com uma situação ideal, numa posição de independência ou se não
chamada de critério de auditoria. O critério, faz uma avaliação baseada em evidências.
portanto, é o referencial utilizado pelo audi- Não é possível revisar ou comunicar os re-
tor para fazer seus julgamentos em relação à sultados da auditoria se o processo não for
situação ou condição existente. Critérios de documentado.
auditoria são encontrados em leis, normas e
padrões relativos ao objeto da auditoria. Como visto, o objetivo da auditoria é comparar
10 Introdução à Auditoria do SUS – MÓDULO 1

uma determinada situação real (encontrada) limitações na obtenção das informações.


com uma situação desejada (critério), e dizer
de maneira inequívoca o quão distante elas Se o planejamento for bem feito, a execução
estão. Trata-se de identificar o critério, obter consistirá em aplicar os instrumentos dese-
a melhor descrição possível da situação atual nhados no planejamento. A realização dos
que permita essa comparação, e então con- exames permitirá a obtenção das informa-
frontar situação e critério. ções que permitiram avaliar em que medi-
da a situação encontrada está adequada ao
Assim, o processo de auditoria é voltado para critério.
a obtenção das evidências suficientes e neces-
sárias que permitam a comparação com o cri- O relatório consiste da exposição completa,
tério obtido. Antes de se buscar as evidências, objetiva e clara das constatações, evidências
deve-se definir quais informações são suficien- e conclusões obtidas. Nesse sentido, deve
tes para caracterizar a situação encontrada, explicitar não apenas a situação encontrada,
onde e como essas informações serão obtidas, mas também os critérios e o conjunto de evi-
que tipo de análise a comparação com o cri- dências. Seja qual for o resultado dos exames,
tério exige e quais as possíveis limitações que o relatório deve conter todos os elementos
podem surgir nesse processo. Uma vez obti- necessários para que o leitor seja conduzido
das as informações e o critério e realizado o às mesmas conclusões da equipe de audito-
confronto entre eles, parte-se para elaborar as ria, não deixando espaços para imprecisões,
conclusões e, por fim, o relatório de auditoria. suposições e elucubrações. Para tanto, deve
explicitar a metodologia utilizada para obten-
Resumidamente, o processo de auditoria en- ção e análise das informações, de modo a ga-
volve (a) um planejamento, que procura ante- rantir que os procedimentos e resultados da
cipar os exames necessários para descrever a auditoria possam ser reproduzidos.
situação encontrada; (b) a realização dos exa-
mes propriamente ditos, que é a fase de exe- Vale ressaltar que a qualidade de um relató-
cução; (c) e por fim a elaboração do relatório, rio de auditoria não se deve à boa escrita do
que apresenta as constatações e conclusões. auditor, embora isso possa contribuir para a
clareza e capacidade comunicativa do relató-
Um bom planejamento parte da determinação rio. O que vai garantir a qualidade do relató-
precisa dos objetivos da auditoria para iden- rio é a robustez metodológica dos procedi-
tificar quais as informações necessárias para mentos, fator essencial para a objetividade e
caracterizar suficientemente os critérios e as suficiência dos exames, a confiabilidade e ra-
situações encontradas, e ainda como essas in- zoabilidade das conclusões e determinações,
formações serão obtidas. Além disso, deve-se e a veracidade das informações.
ainda considerar as possíveis dificuldades e
MÓDULO 1 – Introdução à Auditoria do SUS 11

Percebe-se que a qualidade do relatório de- a regularidade dos atos de gestão praticados
pende da qualidade das constatações, evi- com foco em legalidade e legitimidade dos
dências e conclusões obtidas, a qual resulta atos é chamada de auditoria de regularidade
de uma boa execução, assim entendida a que ou de conformidade. É por meio da audito-
fornece as evidências necessárias e suficien- ria de conformidade que se busca identificar
tes para sustentarem logicamente as consta- fraudes e desvios de recursos.
tações. Uma boa execução, por sua vez, de-
pende de um bom planejamento, pois é no Quando o objetivo é avaliar o desempenho da
planejamento que a equipe se prepara para gestão de um órgão, processo ou serviço, a
a execução. Portanto, uma auditoria bem su- auditoria é denominada auditoria operacional
cedida começa no planejamento, que para ou de desempenho. Os aspectos tipicamente
ser eficaz deve ser detalhado e metodologica- focalizados numa auditoria de desempenho
mente suportado. são eficácia, qualidade, equidade e efetivida-
de. Há aspectos que podem estar presentes
Uma distinção comum entre tipos de auditoria tanto num quanto noutro tipo de auditoria,
se dá em razão dos aspectos focalizados nos como mostrado na figura 2.
trabalhos. Uma auditoria que busque verificar

AUDITORIA DE CONFORMIDADE AUDITORIA DE DESEMPENHO

LEGALIDADE EFETIVIDADE
ECONOMICIDADE
LEGITIMIDADE EQUIDADE
EFICIÊNCIA
DESVIO DE QUALIDADE
RECURSOS DESPERDÍCIO

EFICÁCIA
FRAUDE

Figura 2 - Aspectos tipicamente focalizados em auditorias.


12 Introdução à Auditoria do SUS – MÓDULO 1

É importante ressaltar que pode haver aspec- Esse novo paradigma de auditoria, compro-
tos de conformidade e de desempenho em metido com o fortalecimento da gestão,
uma mesma auditoria. Nesse caso, sua classi- requer profissionais trabalhando na lógica
ficação será definida pelo foco principal. Por de um observatório social das questões de
exemplo, em uma auditoria para avaliar o de- resolutividade do SUS, visando contribuir
sempenho de um serviço de saúde, pode-se efetivamente para a construção do modelo
pretender verificar a legalidade de determina- de saúde voltado para qualidade de vida e
dos atos de gestão. Trata-se de uma auditoria cidadania (BRASIL, 2011).
predominantemente de desempenho.
Nesse contexto, as finalidades da auditoria do
1.2 Processo de auditoria no SUS SUS consistem em:

Auditorias no âmbito do SUS, em princí-


pio, são realizadas pelos componentes do Finalidades da auditoria do SUS
Sistema Nacional de Auditoria do SUS (SNA),
que se estrutura de forma descentralizada,
sendo suas ações desenvolvidas em três ins- Aferir a observância dos padrões
tâncias de gestão: Ministério da Saúde, por estabelecidos de qualidade, quantidade,
custos e gastos da atenção à saúde;
meio do DENASUS; Secretarias Estaduais de
Saúde; e Secretarias Municipais de Saúde.
Avaliar os elementos componentes dos
A auditoria, na concepção trazida pelo SNA, processos da instituição, serviço ou sistema
auditado, objetivando a melhoria dos
é um instrumento de qualificação da gestão procedimentos, por meio da detecção de
que visa fortalecer o Sistema Único de Saúde desvios dos padrões estabelecidos;
(SUS) por meio de recomendações e orien-
tação ao gestor para a alocação e utilização
adequada dos recursos, a garantia do aces- Avaliar a qualidade, a propriedade e a
so e a qualidade da atenção à saúde ofere- efetividade dos serviços de saúde prestados
à população;
cida aos cidadãos. Auditoria é vista como
um meio para que o SNA possa ampliar o
diálogo com as políticas públicas de modo a
Produzir informações para subsidiar o
gerar melhoria dos indicadores epidemioló- planejamento das ações que contribuam
gicos e de bem-estar social, e no acesso e na para o aperfeiçoamento do SUS.
humanização dos serviços (BRASIL, 2011).
MÓDULO 1 – Introdução à Auditoria do SUS 13

O processo de auditoria do SUS obedece à lógica apresentada na seção 1.1, com o uso de alguns
termos próprios. As fases da auditoria no âmbito do SNA recebem nomes específicos, indicados
na figura 3.

Fase Analítica Fase Operativa Relatório

Figura 3 - Fases de uma auditoria no SNA.

A fase analítica tem por objetivo organizar in- constatações, recomendações e a conclusão
formações de maneira a facilitar execução do do trabalho. É peça de comunicação do resul-
trabalho de campo. O produto dessa fase é tado da auditoria ao demandante, ao órgão/
o relatório analítico, que traz uma síntese da instituição auditada e ao público, mediante
coleta de dados sobre o objeto da auditoria e publicação na internet.
indica a natureza, a extensão e a profundidade
dos exames. Um bom relatório analitico orien- As auditorias no DENASUS são realizadas por
ta a equipe e otimiza o tempo da verificação equipes lideradas por coordenador e acompa-
in loco. nhadas por supervisor técnico.

A fase operativa consiste no trabalho de cam- 1.3 Princípios éticos e profissionais


po propriamente dito. O produto dessa fase é do auditor
o relatório preliminar, o qual descreve as cons-
tatações preliminares da equipe de auditoria e Para que o órgão de auditoria e o auditor pos-
presta-se a embasar a notificação do auditado sam desempenhar bem sua missão, é essen-
para que apresente justificativas em caso de cial observar os princípios éticos e profissio-
falhas ou irregularidades. nais apresentados na figura 4. Tais princípios
devem ser assegurados tanto pelo órgão de
A terceira fase, de elaboração do relatório fi- auditoria, quanto pela atitude e comporta-
nal de auditoria, faz a análise das justificati- mento do auditor.
vas dos responsáveis (se houver) e apresenta
14 Introdução à Auditoria do SUS – MÓDULO 1

Princípios Éticos e Profissionais com integridade, o auditor pode lidar adequada-


mente com as pressões, priorizando suas respon-
1. Comportamento ético sabilidades para com o interesse público.

2. Independência Independência

3. Imparcialidade Ser independente significa manter-se livre de in-


fluências ideológicas, partidárias, ou situações que
4. Objetividade possam enviesar o julgamento. Significa também
manter-se afastado da influência do auditado ou
5. Competência e capacidade profissional de interesses de terceiros que possam afetar seu
julgamento. Portanto, não basta manter uma pos-
6. Ceticismo e julgamento profissional tura independente, mas é necessário fazer com
que os interessados na auditoria percebam essa
7. Zelo profissional condição.

8. Uso de informações de terceiros Imparcialidade

9. Sigilo O auditor deve se abster de intervir em casos


onde haja conflito de interesses que possam
10. Cortesia influenciar a imparcialidade do seu trabalho,
especialmente participar de auditorias nas si-
Figura 4 - Princípios éticos e profissionais do auditor. tuações em que o responsável auditado seja
cônjuge, parente consanguíneo ou afim, em
Comportamento ético linha reta ou colateral, até o terceiro grau, ou
pessoa com quem mantenha ou manteve laço
O auditor deve, como servidor público, compro- de amizade ou inimizade ou que envolva en-
meter-se a proteger os interesses da sociedade e tidade com a qual tenha mantido vínculo pro-
a respeitar as normas de conduta que regem os fissional nos últimos dois anos.
servidores públicos.
O auditor deverá declarar impedimento ou
O auditor, no curso de suas atividades, pode se suspeição nas situações que possam afetar,
deparar com interesses conflitantes de gestores e ou parecer afetar, o desempenho de suas fun-
autoridades governamentais e de outros possíveis ções com imparcialidade, comunicando o fato
interessados e, em virtude disso, sofrer pressões a seus superiores.
para violar princípios éticos e, de forma inadequa-
da, obter ganho pessoal ou organizacional. Agindo
MÓDULO 1 – Introdução à Auditoria do SUS 15

Objetividade Competência e capacidade profissional

Na execução de suas atividades, o auditor Auditoria é um trabalho multidisciplinar e com-


deve adotar métodos e procedimentos reco- plexo. Em razão disso, os membros da equipe
nhecidos e aceitos para obter e organizar evi- de auditoria devem possuir, coletivamente, o
dências, formar convicção sobre as situações conhecimento, as habilidades e a competên-
examinadas e emitir opinião tecnicamente cia necessários para concluir com êxito uma
fundamentada. Isso exige que os trabalhos se- auditoria.
jam realizados por profissionais competentes
que detenham os conhecimentos necessários. Atuar em uma auditoria requer compreensão
e experiência prática acerca do tipo de audi-
As constatações e conclusões de auditoria de- toria que está sendo realizada, familiaridade
vem estar sustentadas em sua totalidade pelas com as normas e a legislação aplicáveis, en-
evidências coletadas. Qualquer afirmação para tendimento das operações da entidade audi-
além do que as evidências permitem deve ser tada e habilidade e experiência para exercer
evitada, pois compromete a objetividade e julgamento profissional. Também requer do
confiabilidade desses resultados. auditor competência na aplicação de méto-
dos e técnicas de auditoria e conhecimentos
As análises devem estar bem documentadas, contábeis, financeiros, de gestão pública e, no
a ponto de poderem ser reproduzidas. Aqui caso de auditores do SNA, de saúde pública.
vale a analogia com as ciências naturais: os re-
sultados obtidos devem, em princípio, serem O auditor não deve fazer análises e julgamen-
obtidos por qualquer pessoa que aplique os tos que não sejam amparados pela melhor téc-
mesmos métodos, aos mesmos objetos, em nica e conhecimento disponível, sob pena de
situações semelhantes. comprometer a confiabilidade dos resultados.
Não significa que o auditor deva ser um espe-
cialista em todos os assuntos, mas que deve
buscar se certificar de que suas ações estão
Importante embasadas nas melhores práticas.

Não existe “achismo” na De toda forma, a atuação do auditor exige a


auditoria. Ou existem atualização constante de suas competências
evidências ou não há e conhecimentos técnicos. O auditor do SNA
constatação. deve acompanhar a evolução das normas, pro-
cedimentos e técnicas aplicáveis ao Sistema
Nacional de Auditoria e ao SUS.
16 Introdução à Auditoria do SUS – MÓDULO 1

membro da equipe ou do supervisor. A na-


Importante tureza coletiva de uma auditoria requer que
os argumentos sejam expostos ao contradi-
O auditor não deve tório com o objetivo de testar sua validade e
realizar um trabalho para garantir a consistência do trabalho.
o qual não disponha das
competências necessárias.
Zelo profissional

Os auditores devem exercer devido zelo


Ceticismo e julgamento profissional visando assegurar que seu comportamen-
to profissional é apropriado. O auditor de-
A atitude do auditor deve ser caracterizada monstra zelo profissional ao planejar e exe-
pelo ceticismo profissional e pelo julgamen- cutar auditorias de uma maneira diligente,
to profissional, utilizados quando tomam focada nos objetivos estabelecidos, e ao evi-
decisões sobre o curso de ação apropriado, tar qualquer conduta que possa desacredi-
como, por exemplo, no planejamento dos tar seu trabalho.
seus exames, na seleção e aplicação de pro-
cedimentos técnicos e testes de auditoria, Atuar com zelo implica observar normas e
na definição de suas conclusões e na elabo- procedimentos que se aplicam à sua função
ração dos seus relatórios e pareceres. de auditor público agir com prudência, habi-
lidade e atenção de modo a reduzir ao míni-
Ceticismo profissional significa manter dis- mo a margem de erro.
tanciamento profissional e uma atitude aler-
ta e questionadora ao avaliar a suficiência e Uso de informações de terceiros
adequação da evidência obtida ao longo da
auditoria. Também significa manter a mente O auditor pode valer-se de informações
aberta e receptiva a todos os pontos de vista anteriormente produzidas pelos profissio-
e argumentos. nais do Sistema Nacional de Auditoria, não
necessitando reconfirmá-las ou retestá-las,
O julgamento profissional significa a aplica- pois foram obtidas com as mesmas técnicas
ção coletiva de conhecimentos, habilidades e a observação das mesmas normas no âm-
e a experiência dos membros da equipe ao bito do Sistema. Ao utilizar informações pro-
processo de auditoria. A prerrogativa do jul- duzidas fora do SNA, o auditor deve obter
gamento profissional não dá ao auditor o evidência da competência e independência
direito de manter opiniões que não se sus- dos outros auditores ou especialistas e da
tentam diante de argumentos válidos de um qualidade do trabalho que realizaram.
MÓDULO 1 – Introdução à Auditoria do SUS 17

Sigilo Credibilidade

O auditor é obrigado a utilizar os dados e as in- A credibilidade dos auditores do SNA não é um
formações que obteve no desempenho de sua princípio, mas o resultado da percepção de
função somente na execução dos serviços que que os trabalhos são conduzidos em conformi-
lhes foram confiados. Salvo determinação legal dade com todos os princípios éticos e profis-
ou autorização expressa da alta administração, sionais aqui listados.
nenhum documento, dado ou informação po-
derá ser fornecido ou revelado a terceiros, nem Em auditoria no setor público, vale a máxi-
deles poderá utilizar-se o auditor, direta ou indi- ma que diz que não basta apenas ser fiel aos
retamente, em proveito pessoal ou de terceiros. princípios éticos e profissionais, mas deve-se
também parecer; ou seja, a equipe de audi-
Cortesia toria deve se comportar de acordo com esses
princípios, e exemplificar essas qualidades no
O auditor deve manter atitude serena e tratar dia-a-dia. Importa destacar que a confiança e
com cortesia, de forma justa e equilibrada, a o respeito públicos de um auditor depende em
todos com os quais se relaciona profissional- grande parte da impressão deixada por outros
mente (superiores, subordinados, pares e re- auditores, do presente e do passado.
presentantes das entidades auditadas). Deve
agir com cortesia sem, contudo, abrir mão das
prerrogativas de sua função.

Na sua relação com o auditado, o auditor deve


ser cortês, respeitando o interlocutor e evitan-
do o pedantismo de achar que sabe mais do
que o gestor. Lembre-se de que é fundamental
para o trabalho do auditor saber ouvir. Não se
pode ouvir sem a devida atenção e verdadeiro
interesse, coisas incompatíveis com a postura
de que se sabe tudo.

Uma atitude cortês estimula a cooperação en-


tre as partes e favorece a troca de informações
entre auditor e auditado, o que contribui para
a qualidade do trabalho.
18 Programação de Auditoria – MÓDULO 2

MÓDULO 2
PROGRAMAÇÃO DE
AUDITORIA

As atividades de controle no âmbito do SNA importantes no processo de auditoria serão


nascem de demandas apresentadas por cida- abordados em seguida, tais como questão de
dãos e órgãos públicos, e de demandas criadas auditoria e escopo da auditoria.
por algum componente do Sistema, como é o
caso do DENASUS, ou pelas áreas técnicas do Este capítulo está organizado para apoiar o de-
Ministério da Saúde. A demanda é interpre- senvolvimento do módulo 2 em sala de aula,
tada e dá origem à tarefa, que é a tradução cujo objetivo é de preparar os participantes
da demanda em termos de orientações para para interpretar uma demanda por ação de
nortear o trabalho da equipe de auditoria. controle e elaborar a respectiva tarefa definin-
Uma tarefa pode dar origem a uma ou mais do objetivos, prazos e escopo da ação.
auditorias, que são programadas individual-
mente de modo a definir onde, como, quan- O capítulo é composto pelas seguintes seções
do e por quem serão executadas. Conceitos e objetivos de aprendizagem:

Sessão Objetivos de aprendizagem

Interpretação da Dada uma demanda, os participantes deverão ser capazes de


demanda interpretá-la e de propor um objetivo de auditoria compatível.

Dada uma demanda e o respectivo objetivo de auditoria, os


participantes deverão ser capazes de, em equipes, formular questões
Elaboração da a serem respondidas e hipóteses sobre possíveis constatações;
tarefa delimitar o escopo da auditoria especificando, na tarefa, localidades,
organizações, processos, atividades e período de abrangência; e
estimar o prazo da ação.
MÓDULO 2 – Programação de Auditoria 19

2.1 Interpretação da demanda Se a CGU solicita uma auditoria e espera a


resposta, a CGU é o demandante. Se um ci-
O conceito de demanda corresponde a solici- dadão faz uma denúncia à CGU que, com
tação de atividade de controle dirigida a um base na denúncia, formula uma demanda ao
componente do SNA feita por um demandan- DENASUS e indica que a resposta deve ser en-
te, que pode ser cidadão, órgão público ou o viada ao cidadão, então o cidadão é o deman-
próprio componente. Deste ponto em dian- dante. Caso uma demanda originada da de-
te, faremos referência ao componente fede- núncia de um cidadão seja enviada pela CGU
ral do SNA – o DENASUS, ressaltando que as ao DENASUS com indicação de que a resposta
afirmações feitas em relação a esse compo- deve ser encaminhada à própria CGU, então
nente guardam analogia com componentes esse órgão será, aos olhos do DENASUS, o
estaduais e municipais do Sistema. Também demandante.
daremos ênfase ao foco deste curso, que são
as auditorias, em vez de tratarmos do gênero Certos elementos são necessários para carac-
atividade de controle. terizar uma demanda:

Entre os órgãos públicos que demandam au- • demandante;


ditorias estão órgãos do próprio Ministério • objeto da auditoria;
da Saúde, Advocacia-Geral da União (AGU), • teor da demanda; e
Departamento de Polícia Federal (DPF), • documentos que dão origem e suporte
Justiça Federal e entidades de classe. à demanda (p.ex. expediente, parecer,
Também figuram entre os demandantes de acórdão).
auditorias no SUS órgãos de controle, tais
como Controladoria-Geral da União (CGU), Quem recebe e registra a demanda deve, no
Tribunal de Contas da União (TCU), Ministério mínimo, certificar-se de que a demanda apre-
Público Federal (MPF), Tribunais de Contas senta os elementos suficientes para possibili-
dos Estados (TCEs) e Ministério Público dos tar a elaboração da tarefa.
Estados (MPEs).
O objeto da auditoria indica o que deve
Quando uma demanda chega ao DENASUS ser auditado. São exemplos de objetos a
por meio de um expediente e documentos de Estratégia Saúde da Família, uma Unidade de
suporte, vem acompanhada da informação Pronto Atendimento, a gestão de um hospital
de quem deve ser o destinatário da resposta e recursos repassados pelo Fundo Nacional
quanto ao resultado da auditoria. Considera- de Saúde.
se esse destinatário como o demandante,
que nem sempre coincide com o agente que, O teor da demanda deve ser significati-
de fato, originou a demanda. vo a ponto de ensejar a realização de uma
20 Programação de Auditoria – MÓDULO 2

auditoria. Normalmente deve apontar fatos, Hospital São Joaquim no Município de Rio
indícios ou caracterizações de falhas, irregulari- Seco”. O teor dessa demanda não aponta fa-
dades ou problemas de desempenho na opera- tos ou indícios de irregularidades ou impro-
cionalização do SUS, ou ainda recomendações priedades que indiquem a necessidade de
ou determinações de órgãos de controle que uma auditoria, o que impede que se faça um
devem ser monitoradas a fim de verificar seu planejamento da ação de controle, uma vez
cumprimento. que não se sabe o quê, nem por que auditar.
A menos que o órgão seja mais específico, o
Por ser a demanda insumo básico desencadea- DENASUS não tem condições adequadas para
dor de uma atividade de controle, o seu enten- ser eficaz e eficiente em uma eventual tentati-
dimento e cadastro fidedigno no SISAUD/SUS, va de atender a demanda.
qualifica a auditoria a ser realizada.
Tomemos, agora, o caso de uma demanda
A demanda deve ser interpretada visando ob- vinda da Secretaria de Ciência, Tecnologia
ter as seguintes especificações para o desenho e Insumos Estratégicos (SCTIE/MS), cujo
da atividade de controle: teor diz que o Departamento de Assistência
Farmacêutica (DAF) verificou que a maioria
• tipo de atividade de controle (auditoria, ve- das receitas apresentadas ao estabelecimento
rificação de TAS ou visita técnica, entre ou- Décio Brasso Ltda no Município de Porto dos
tros); e Milagres foi emitida pelo mesmo médico com
• objetivo da atividade de controle. grafias diferentes. Os fatos se verificaram no
contexto do Programa Farmácia Popular do
Tais especificações conferem foco à demanda Brasil. São tais elementos suficientes para que
e são o primeiro passo para a delimitação de a demanda possa ser interpretada em termos
escopo. Quando falta algum elemento impor- de tipo e objetivo de atividade de controle?
tante na demanda apresentada, a qualidade
dessas especificações fica prejudicada. Nesse Com base nas informações trazidas pela de-
caso, o ideal é devolver a demanda ao deman- manda, é possível fazer tal interpretação:
dante para que ele forneça os elementos res-
tantes e seja mais preciso. Quando a demanda • Tipo de atividade de controle: auditoria;
não apresenta materialidade que justifique a • Objetivo: verificar a regularidade das dis-
realização de uma auditoria, deve ser devolvida pensações realizadas pelo estabelecimen-
sem necessidade de registro no SISAUD/SUS. to Décio Brasso Ltda em Porto dos Milagres
no âmbito do Programa Farmácia Popular
Tomemos, como exemplo, uma demanda fic- do Brasil.
tícia vinda de um Ministério Público Estadual
que solicita “auditoria de amplo escopo no Uma informação que poderia complementar
MÓDULO 2 – Programação de Auditoria 21

essa especificação seria o período em que tais relatório de auditoria e se pronunciar sobre se
fatos foram verificados pelo DAF, o que daria o resultado atendeu ao que foi demandado.
melhor foco à auditoria. Obviamente uma tarefa mal elaborada preju-
dica essa revisão por terceiros.
2.2 Elaboração da tarefa
São exemplos de tarefas formuladas de modo
Conceitua-se tarefa como o conjunto de infor- incompleto:
mações que permite à equipe nortear a rea-
lização da auditoria demandada. A principal • “Realizar Auditoria no Município de
finalidade da tarefa é delimitar o escopo da Santana do Agreste com a finalidade de
auditoria e estimar o prazo de execução. verificar se os recursos da Atenção Básica
estão sendo remanejados para outro blo-
Define-se escopo como a indicação da abran- co de financiamento, proibido pela PT/GM
gência e dos limites da auditoria. O escopo in- nº 204, de 29/01/2007. Período de realiza-
clui as questões a responder, bem como loca- ção: 11/2 a 31/3/2014”.
lidades, organizações, processos, atividades e
períodos que serão alcançados pela auditoria. • “Por solicitação do Ministério Público
Escopo refere-se ao que será feito na auditoria. Federal, realizaremos auditoria para veri-
Para deixar claro o que não será realizado no ficar a aplicação dos recursos da Dengue
curso da auditoria, pode-se especificar o cha- pela Secretaria Municipal de Saúde de
mado não escopo, como é usual na gestão de Ouro Negro. Período de realização: não
projetos. Uma auditoria pode mesmo ser vista previsto”.
como um projeto, visto que é uma empreitada
de tempo limitado e objetivos definidos. Em ambos os exemplos, faltou indicar o pe-
ríodo abrangido pela auditoria, bem como a
É recomendável que a tarefa seja elaborada abrangência do que será examinado (ativida-
em equipe. A participação de auditores com des, localidades).
experiências distintas aumenta a chance de
que a tarefa elaborada seja coerente com a Ao elaborar tarefas, pode-se apoiar na experi-
demanda e que traga as informações necessá- ência construída pelo DENASUS. Examinando-
rias para orientar a equipe na execução da au- se o planejamento e o resultado de auditorias
ditoria. Envolver a equipe desde cedo também realizadas anteriormente em objetos e com
melhora a eficiência da fase analítica. escopos semelhantes, pode-se obter informa-
ções úteis para a especificação da tarefa, tais
Um dos usos da tarefa é servir de parâmetro como:
para que, ao final, seja possível a um auditor
que não tenha participado do trabalho ler o • questões investigadas;
22 Programação de Auditoria – MÓDULO 2

• constatações mais frequentes; metodologia a adotar. Questões de auditoria


• existência de modelos de papéis de traba- podem ser de quatro tipos (BRASIL, 2010):
lho que podem ser aproveitados;
• número de localidades visitadas; a) Questões descritivas: São formuladas de ma-
• suficiência do prazo planejado. neira a descrever condições de implementação
ou de operação de um programa ou atividade,
Se uma equipe vai realizar pela primeira vez mudanças ocorridas, problemas e áreas com
uma auditoria sobre um objeto diversas vezes potencial de aperfeiçoamento. Exemplo: “como
auditado pelo DENASUS, pode ganhar tempo os gestores hospitalares estão operacionalizan-
e qualidade na elaboração da tarefa ao tomar do o atendimento aos pacientes?”;
conhecimento de quais questões nortearam
auditorias similares, como outras equipes pro- b) Questões normativas: tratam de compara-
cederam e o que encontraram. ções entre a situação existente e aquela esta-
belecida em norma, padrão ou meta, tanto
Formulando questões de auditoria de caráter qualitativo quanto quantitativo.
Exemplos: “o programa tem alcançado as metas
Questões de auditoria, elemento fundamen- previstas?”; “os contratos de prestação de ser-
tal do escopo, devem ser formuladas e regis- viços ao SUS firmados pela Secretaria Municipal
tradas na tarefa. Questões de auditoria for- de Saúde de atendem aos requisitos legais e
muladas na elaboração da tarefa podem ser normativos?”;
aperfeiçoadas e desdobradas em subquestões
durante a fase analítica, após o levantamento c) Questões avaliativas (ou de impacto): refe-
de informações sobre o objeto a auditar e seu rem-se à efetividade do objeto de auditoria e
contexto. buscam saber que diferença fez a intervenção
governamental para a solução do problema
As questões de auditoria estabelecem o foco da identificado. Exemplo: “em que medida a redu-
investigação. Questões de auditoria bem for- ção da mortalidade infantil no município pode
muladas possuem as seguintes características: ser atribuída ao Programa Saúde da Família?”;

• são claras e específicas; d) Questões exploratórias: voltadas a revelar as


• apresentam viabilidade investigativa; razões de ocorrência de um determinado re-
• o conjunto de questões apresenta articula- sultado. Exemplo: “que fatores explicam o au-
ção e coerência entre si e é capaz de escla- mento expressivo nos gastos com manutenção
recer o problema apontado na demanda. preventiva das unidades móveis do Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência – SAMU 192
O tipo de questão formulada terá uma re- ao longo da última década?”.
lação direta com a natureza da resposta e a
MÓDULO 2 – Programação de Auditoria 23

A formulação das questões de auditoria é um Para cada questão, deve-se formular uma hi-
processo interativo, que parte das informações pótese sobre a possível constatação, que indi-
oferecidas pela demanda e torna-se mais acura- ca a resposta mais provável a se obter conside-
da conforme se obtém informações sobre o ob- rando-se informações trazidas pela demanda
jeto na fase analítica. É usual empregar a técnica e por auditorias similares realizadas anterior-
de brainstorming na equipe de auditoria para mente. Tal procedimento contribui para au-
gerar opções de questões, seguida por arranjos mentar o foco da auditoria e facilita a identifi-
lógicos entre o problema a examinar e as ques- cação das informações requeridas, suas fontes
tões e subquestões de auditoria até se alcançar e procedimentos de coleta e análise.
uma configuração satisfatória de questões.

Verificar a regularidade das dispensações realizadas pelo


Objetivo de auditoria estabelecimento Décio Brasso Ltda em Porto dos Milagres no
âmbito do Programa Farmácia Popular do Brasil.

A empresa está dispensando medicamentos em conformidade


Questão de auditoria com a legislação aplicável do Programa Farmácia Popular do
Brasil?

Existe irregularidade na dispensação dos medicamentos no citado


Possível constatação estabelecimento no âmbito do Programa Farmácia Popular do
Brasil.

Figura 5 – Questão e possível constatação associadas a um objetivo de auditoria.

Restrição tripla em auditorias qualidade da auditoria. Assim, se se deseja


aumentar o escopo da auditoria e assegurar
A qualidade de uma auditoria pode ser vista qualidade, deve-se aumentar a equipe e/ou o
como a medida em que as questões de audito- prazo.
ria selecionadas cobrem a demanda apresenta-
da e são respondidas com consistência. Se o escopo e o prazo estão dados, o super-
vidor apenas tem a liberdade de selecionar o
A qualidade da auditoria depende de três va- tamanho e o perfil da equipe necessários para
riáveis principais: escopo definido (abrangên- assegurar qualidade. Caso não estejam dispo-
cia do que será investigado); equipe alocada níveis pessoas no número e perfil requeridos,
(tamanho e competência); e prazo para sua o supervidor tem duas opções: adiar a audito-
realização. O grau de liberdade para lidar com ria até o momento em que possa contar com
essas variáveis define qual o nível possível de equipe suficiente para a tarefa ou realizar a
24 Programação de Auditoria – MÓDULO 2

auditoria com a equipe disponível no momento, 2.3 Programação da auditoria


correndo o risco de não alcançar qualidade, isto
é, não conseguir responder às questões com Como visto, uma tarefa pode originar uma
consistência. ou mais auditorias. Programar uma audito-
ria consiste em especificar informações bási-
cas sobre cada uma das atividades em que se
desmembrou uma tarefa. As informações que
devem ser registradas no SISAUD/SUS são as
seguintes:
ESCOPO
• equipe designada, com indicação de coor-
QUALIDADE denador. A composição deve ser adequada
ao objeto da atividade, nível de complexi-
dade e extensão dos trabalhos. A equipe
pode contar com técnicos de outras unida-
EQUIPE PRAZO des desconcentradas , de outros compo-
nentes do SNA e outros;
Figura 6 - Variáveis que afetam a qualidade de • finalidade da auditoria especificada de for-
uma auditoria. ma coerente com a demanda;
• objetos da auditoria definidos de forma ali-
Se houver uma restrição de prazo, a equipe nhada ao escopo de auditoria;
deverá propor um escopo reduzido de modo a • período de abrangência da auditoria (inter-
assegurar qualidade. Contudo, se o escopo re- valo de tempo em que ocorreram os atos a
duzido não for compatível com a demanda apre- serem examinados);
sentada, a restrição de prazo exige a alocação de • entidade principal onde será realizada a
mais pessoas à equipe. Um escopo que pode ser auditoria, bem como as unidades visitadas
coberto por uma equipe de dois auditores em para fim de verificação suplementar; e
um mês provavelmente não será realizado em • demandante.
metade do tempo por uma equipe de quatro
auditores porque há atividades que não podem Se a interpretação da demanda e a elaboração
ser abreviadas proporcionalmente ao incremen- da tarefa forem bem feitas, a programação de
to da equipe (fase analítica, por exemplo). uma auditoria torna-se simples porque as prin-
cipais decisões terão sido tomadas.
Em suma, para que se possa decidir sobre a au-
ditoria e elaborar adequadamente a tarefa, é Ao término da programação, é salutar a verifi-
necessário que as restrições de prazo, equipe e cação da coerência entre auditorias programa-
escopo sejam explicitadas. das e a respectiva tarefa.
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 25

MÓDULO 3
FASE ANALÍTICA DA
AUDITORIA
Este capítulo está organizado para apoiar o desenvolvimento do módulo 3 em sala de aula, cujo
objetivo é de preparar os participantes para discutir com propriedade os procedimentos neces-
sários para a condução da fase analítica de uma auditoria. O capítulo é composto pelas seguintes
seções e objetivos de aprendizagem:

Sessão Objetivos de aprendizagem

Visão geral da fase Os participantes deverão ser capazes de descrever e valorizar os


analítica passos para realizar a fase analítica de forma consistente.

Uso de matrizes de
Os participantes deverão ser capazes de valorizar a importância do
coleta e de análise de
uso das matrizes de coleta e de análise de informações em uma
informações em audi-
auditoria.
toria

Os participantes deverão ser capazes de identificar as informações


Procedimentos de co-
necessárias e suficientes, e respectivas fontes, para responder as
leta e análise de infor-
questões de auditoria, bem como de escolher procedimentos de
mações em auditoria
coleta e análise de informações adequados.

Validação das matri- Os participantes serão capazes de construir e de avaliar a consis-


zes de coleta e análise tência das matrizes de coleta e de análise de informações de uma
de informações auditoria e de propor ajustes.

Os participantes deverão ser capazes de sintetizar, no relatório ana-


Relatório analítico lítico, informações e papéis de trabalho necessários à realização da
auditoria.

Os participantes deverão ser capazes de identificar os diferentes


Amostragem em au- métodos de amostragem aplicáveis à auditoria e as vantagens e
ditoria desvantagens de cada método, bem como calcular amostras alea-
tórias simples para casos específicos.
26 Fase Analítica da Auditoria – MÓDULO 3

A fase analítica, em essência, corresponde ao tarefa, a fase analítica tendis e a fluir melhor
planejamento da ação de controle de modo porque seus membros já estarão sintonizados
que possa ser adequadamente executada com o que é esperado da auditoria. Quando a
pela equipe dentro do prazo estabelecido. tarefa é definida previamente pelo supervisor
Iniciaremos a exploração desse assunto com sem a participação da equipe, cabe a ele apre-
uma visão geral das atividades que compõem sentar a tarefa à equipe. Em ambos os casos,
a fase analítica para, em seguida, tratarmos de supervisor técnico e equipe devem verificar
cada uma delas. em que medida os elementos da tarefa permi-
tem orientar a ação e o que deverá ser melhor
3.1 Atividades da fase analítica especificado durante a fase analítica.

A fase analítica da auditoria tem por objetivo Para que a fase analítica possa agregar valor
criar as condições necessárias para que a equi- substancial à auditoria, recomenda-se que to-
pe designada possa conduzir com qualidade as das as atividades apresentadas na figura 7 se-
fases subsequentes – em especial a fase ope- jam realizadas.
rativa e a de elaboração do relatório final. Tais
condições consistem em conhecer suficiente-
mente bem o objeto da auditoria e dispor de
um plano de ação e dos instrumentos necessá-
rios para realizar o trabalho.

A tarefa, elaborada previamente, é insumo


fundamental da fase analítica. Caso tenha sido
bem elaborada, a tarefa indicará com clareza o
objetivo da auditoria; as questões que devem
ser respondidas para alcançar esse objetivo;
as possíveis constatações; o período abran-
gidopela auditoria; as localidades e unidades
organizacionais a visitar; e os processos e ati-
vidades a examinar. Contudo, às vezes as in-
formações disponíveis no momento de se ela-
borar a tarefa podem não ser suficientes para
bem definir o escopo da auditoria. Nesse caso,
uma melhor delimitação do escopo deve ser
feita na fase analítica.

Quando a equipe participa da elaboração da Figura 7 – Atividades da fase analítica de uma auditoria.
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 27

Como ficará demonstrado ao longo do capítu- o foco e delimitar a extensão dos trabalhos.
lo, as atividades previstas na fase analítica são Estamos falando, portanto, de revisar e apri-
suficientes para responder as perguntas que morar a definição de objetivos e do escopo da
o planejamento de uma auditoria deve bus- auditoria, construídos durante a elaboração
car responder, a saber: o que será auditado? da tarefa. Além disso, deve-se procurar infor-
Como, quando, onde e por quem? A que cus- mações que indiquem os critérios que podem
to? Por quê? ser usados para avaliar a situação do objeto de
auditoria em termos de conformidade ou de
3.2 Levantamento de informações desempenho.
sobre o objeto de auditoria
Quando o objetivo da auditoria é definido de
Após tomar conhecimento da tarefa, a equipe forma precisa, o levantamento de informações
deve levantar informações sobre o objeto da pode ser realizado de forma mais objetiva, pois
auditoria de modo a obter o conhecimento su- se sabe o que se está buscando. Ao contrário,
ficiente para executar as fases subsequentes. quando o objetivo é estabelecido de modo ge-
Pode ser que a equipe tenha tido condições de nérico, o levantamento de informações deve
fazer uma pesquisa sobre o objeto a auditar ser mais extenso para que se possa conferir
por ocasião da elaboração da tarefa. Agora a foco ao trabalho.
equipe deve se aprofundar mais, procurando
caracterizar bem o objeto da auditoria. Afinal, que tipo de informações devem ser
buscadas? Basicamente aquelas informações
A principal finalidade do levantamento de in- que permitem estabelecer uma visão geral so-
formações na fase analítica é procurar definir bre o objeto e seu contexto (figura 8).

Setores responsáveis, Desempenho recente –


competências e atribuições indicadores e resultados
INFORMAÇÃO
ÚTEIS
SOBRE O OBJETO

Pontos fracos e
Legislação aplicável deficiências de controle

Objetivos do órgão ou
programa de governo

Figura 8 - Informações que contribuem para obter visão geral do objeto


28 Fase Analítica da Auditoria – MÓDULO 3

Conhecer a finalidade do órgão ou programa qualquer vulnerabilidade organizacional que


de governo a auditar, bem como os setores prejudique a capacidade de gerar resultados
responsáveis, suas competências e atribui- ou de atender ao prescrito pela legislação, tais
ções, é o primeiro passo. Essas informações, como objetivos pouco claros, déficit de pesso-
que descrevem aspectos estruturais do obje- al para realizar as atividades com qualidade e
to, podem ser encontradas na legislação apli- presteza, processos não padronizados, siste-
cável e em documentos emitidos pelo próprio mas de informação inadequados e controles
órgão. A legislação aplicável também é útil internos fracos ou inexistentes.
para se identificarem critérios que prescrevem
o que é esperado do objeto. Diversas são as fontes que o auditor pode
consultar para obter informações sobre o ob-
Aspectos do funcionamento do objeto tam- jeto a auditar (figura 9). A escolha das fontes
bém devem ser compreendidos, pois é por a consultar depende do objetivo da auditoria
meio de processos e atividades que órgãos e e das questões que se pretende responder, e
programas produzem resultados para a socie- do fato de o objeto ser relativamente conhe-
dade. Nesse sentido, deve-se levantar indica- cido ou desconhecido da equipe. Em regra,
dores e resultados que revelem o desempenho toda auditoria requer a consulta a bases de le-
recente, assim como pontos fracos do órgão gislação e normas aplicáveis ao objeto. A con-
ou programa. Considera-se um ponto fraco sulta a auditorias anteriores realizadas sobre

Figura 9 – Fontes de informação úteis para obter visão geral do objeto a auditar.
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 29

o mesmo objeto pelo próprio DENASUS e por Por isso, a equipe deve ter bem claro, antes de
outros órgãos de controle (TCU, CGU) é reco- ir a campo, que informações serão necessárias
mendável, visto que tal procedimento pode para produzir evidências que irão sustentar
revelar informações importantes para a audi- possíveis constatações. Quando a equipe, na
toria que está sendo planejada. A busca em fase operativa, não sabe bem o que está pro-
sistemas de informação é relativamente usual curando, a tendência é recolher informações
para verificar transações que possam vir a ser desnecessárias, o que torna ineficiente a fase
alvo da auditoria. de análise.

Em auditorias de objetos complexos ou pou- A motivação para realizar uma auditoria surge,
co conhecidos, em especial os que não te- em geral, de sinais de que um órgão ou progra-
nham sido alvo de ação de controle anterior, ma de governo pode não estar gerando o de-
pode ser necessário convidar alguns servido- sempenho esperado ou não estar atendendo a
res e gestores do órgão ou entidade audita- requisitos de leis, normas e padrões. Assim, com
da e especialistas que possam contribuir com base nesses sinais, a equipe propõe questões a
diagnóstico preliminar que auxilie a equipe a serem respondidas com a auditoria, bem como
focalizar com mais precisão a auditoria. Entre possíveis respostas, que nada mais são do que
as técnicas de diagnóstico mais usadas estão hipóteses sobre as constatações que podem vir
o mapeamento de processos, a identificação e a se confirmar com o correr da auditoria. Para
avaliação de riscos, e a análise SWOT (forças, que possíveis constatações possam ser vislum-
fraquezas, oportunidades e ameaças). bradas, necessário se faz conhecer os critérios
que servirão de referência para confirmá-las.
3.3 As matrizes de coleta e de
análise de informações Considerando as questões e possíveis constata-
ções que nortearão o trabalho, a equipe deve
Planejar é um exercício sistemático de an- identificar que informações são necessárias e
tecipar os elementos necessários para ca- suficientes para responder as questões, onde
racterizar as constatações, e então definir o podem ser obtidas (quais as fontes de informa-
que a equipe deve fazer para que, ao final da ção) e como podem ser coletadas.
fase de execução, as constatações possam
estar sustentadas com base em evidências. Dando sequência ao raciocínio, a equipe deve,
Como as evidências são fruto da análise das imaginando-se de posse das informações re-
informações coletadas durante a auditoria, queridas, traçar um caminho lógico que leve
percebe-se que a forma como informações à confirmação ou rejeição das constatações
são obtidas e tratadas desempenha papel hipotéticas. Para tanto, deve propor como as
fundamental para a qualidade da auditoria. informações serão analisadas para sustentar
30 Fase Analítica da Auditoria – MÓDULO 3

as conclusões relativas a cada questão de Visando sistematizar a obtenção e o tratamento


auditoria. de informações em uma auditoria, recomenda-
se utilizar dois instrumentos de forma articulada
Por fim, a equipe deve examinar a forma vis- entre si: a matriz de coleta de informações e a
lumbrada para realizar a auditoria em busca matriz de análise de informações. O poder de tais
de fatores que possam limitar a qualidade do matrizes reside na sua capacidade de explicitar a
trabalho. Tais fatores, denominados limita- lógica que une questões de auditoria, possíveis
ções, podem estar relacionados à estratégia constatações, critérios, informações requeridas
metodológica adotada, ao acesso a pessoas e suas fontes, procedimentos de coleta e de aná-
e informações, à qualidade das informações lise de informações e limitações do trabalho.
e às condições operacionais de realização do
trabalho. A matriz de coleta de informações é o instru-
mento que indica quais são as informações re-
queridas pela auditoria, onde podem ser obtidas
(fonte) e por meio de qual procedimento de co-
leta. Recomenda-se que todas as informações
vindas de uma mesma fonte sejam apresentadas
de forma agrupada na matriz, tal como mostra-
do na figura 10. Quaisquer limitações relativas a
informações requeridas, fontes e procedimentos
de coleta devem ser anotadas imediatamente
abaixo da matriz, na forma de notas.

Um exemplo de limitação metodológica é não


poder generalizar resultados quando se avalia
o desempenho de algumas unidades de saú-
Importante
de valendo-se da técnica de estudo de caso.
Outro exemplo de limitação é ter dados pouco
Limitações severas
confiáveis em um sistema de informação para podem pôr a perder uma
realizar cálculos sobre tempo de espera em fila auditoria ou restringir
para transplante de órgãos. Mais um exemplo, muito a possibilidade de
este relativo a uma limitação operacional se- que o trabalho produza
vera, é ter de realizar uma auditoria da cons- conclusões úteis para a
trução de um hospital público sem contar com melhoria do SUS.
um engenheiro na equipe.
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 31

Fontes Informações requeridas Procedimentos de coleta


(i1) Informação 1 Procedimento de coleta 1
Fonte 1
(i2) Informação 2 Procedimento de coleta 2
(i3) Informação 3 Procedimento de coleta 3
Fonte 2 (i4) Informação 4 Procedimento de coleta 4
(i5) Informação 5 Procedimento de coleta 5
Fonte 3 (i6) Informação 6 Procedimento de coleta 6
...
Fonte N (ik) Informação K Procedimento de coleta K

LIMITAÇÕES:
Figura 10 – Estrutura da matriz de coleta de informações.

A matriz de análise de informações, por sua vez, indica, por meio dos procedimentos descritos,
como as informações serão tratadas visando revelar a situação real do objeto e compará-la à
situação ideal (critério). Essa comparação permitirá confirmar ou não possíveis constatações
e, assim, responder as questões de auditoria (figura 11). Repare que uma questão de auditoria
pode ter uma ou mais constatações associadas e que cada constatação, via de regra, apoia-se
em um único critério.

De modo análogo à matriz de coleta de informações, as limitações relativas a procedimentos de


análise, critérios e possíveis constatações devem ser anotadas imediatamente abaixo da matriz
de análise, na forma de notas.

Procedimentos de Possíveis Questões de


Critérios
análise constatações auditoria
Procedimento 1.1 (i1, i3) Critério 1.1 Constatação 1.1 Questão 1

Procedimento 2.1 (i4) Critério 2.1 Constatação 2.1

Procedimento 2.2 (i1, i5) Critério 2.2 Constatação 2.2 Questão 2

Procedimento 2.3 (i3, i6) Critério 2.3 Constatação 2.3


Procedimento 3.1 (i2, i4) Critério 3.1 Constatação 3.1
Questão 3
Procedimento 3.2 (i6) Critério 3.2 Constatação 3.2

LIMITAÇÕES:
Figura 11 – Matriz de análise de informações.
32 Fase Analítica da Auditoria – MÓDULO 3

As matrizes de coleta e de análise de informa- Definidas as questões, as constatações e os


ções se conectam por meio das informações critérios, passa-se a listar, na matriz de coleta,
requeridas. Note que cada procedimento de as informações requeridas para cada possível
análise na matriz de análise vem acompanha- constatação, juntamente com a fonte onde
do pelos códigos das informações que são ana- pode ser obtida. Listadas as informações e suas
lisadas usando esse procedimento. Tais códi- fontes, o próximo passo é indicar qual o proce-
gos (i1, i2 etc.) são estabelecidos na matriz de dimento mais adequado para coletar cada in-
coleta. formação. Procedendo-se dessa forma, tem-se
a matriz de coleta preenchida.
O preenchimento das matrizes deve observar
determinada sequência lógica. Inicia-se o pre- Por fim, deve-se especificar os procedimentos
enchimento pela indicação, na matriz de aná- de análise, completando-se assim a matriz de
lise, das questões de auditoria e das possíveis análise de informações. Cada procedimento,
constatações, informações que constam da ta- anotado na linha da correspondente constata-
refa elaborada e que podem ser melhor espe- ção, deve indicar as informações de que se utili-
cificadas com o levantamento de informações za, o que assegura a articulação entre as matri-
realizado na fase analítica. Em seguida, indi- zes de coleta e de análise.
cam-se os critérios que servirão de referência
para embasar as constatações.

7 3 2 1
Procedimentos Critérios Possíveis Questões de
de análise constatações auditoria
Identificar as Especificar os Indicar as escopo:
técnicas a serem critérios que constatações que - período de
empregadas na servirão de poderão ser obtidas. abrangência;
análise de dados base para as - abrangência
e descrever constatações. geográfica;
os respectivos - atores e atividades
procedimentos. envolvidos.

Limitações: Especificar as limitações referentes a constatações, critérios e procedimentos de análise.


MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 33

5 4 6
Informações Procedimentos
Fontes
requeridas de coleta
Identificar a fonte de cada Identificar as informações Identificar as técnicas de
item de informação. necessárias para responder coleta de dados que serão
à questão de auditoria. usadas e descrever os
respectivos procedimentos.

Limitações: Especificar as limitações referentes a acesso às fontes de informação, qualidade das


informações, procedimentos de coleta e condições operacionais de realização do trabalho.

Figura 12 – Especificação do conteúdo das células das matrizes de coleta e de análise de informações
(números em vermelho indicam ordem de preenchimento).

A figura a seguir mostra um exemplo de estruturação da coleta e da análise de infor-


mações adaptado de uma auditoria de desempenho na área de saúde. O exemplo se
restringe a uma das possíveis constatações relativa à questão de auditoria.

Informações Procedimentos
Fontes
requeridas de coleta
Datasus (Sistema SIA/ Dados das Apacs referentes aos Extração de dados.
SUS) tratamentos de radioterapia e
quimioterapia de 2010:
(i1) datas de diagnóstico e de
início de tratamento;
(i2) estadiamento da doença.
INCA (SisRHC) Dados do Registro Hospitalar Requisição de informações.
de Câncer:
(i3) datas de diagnóstico e de
início de tratamento;
(i4) estadiamento da doença.

Pacientes em tratamento (i5) Percepção de pacientes Entrevista com amostra de


sobre tempestividade e pacientes em tratamento
dificuldades de acesso ao nos hospitais visitados.
atendimento.

Limitações: 1) Inconsistência e desatualização de dados mantidos nos sistemas SisRHC e SIA/


SUS; 2) Impossibilidade de se fazer uma amostra aleatória de pacientes.
34 Fase Analítica da Auditoria – MÓDULO 3

Possíveis Questões de
Procedimentos de análise Critérios
constatações auditoria
Análise quantitativa dos O paciente com O diagnóstico A estrutura da
lapsos temporais entre o neoplasia maligna e o início do rede de atenção
diagnóstico e o início dos tem direito de tratamento oncológica tem
tratamentos (i1; 13) e do se submeter não têm sido possibilitado aos
estadiamento dos tumores no ao primeiro tempestivos. doentes de câncer
diagnóstico (i2; i4). tratamento no acesso tempestivo
Analise qualitativa das SUS em até 60 e equitativo ao
percepções de pacientes dias contados do diagnóstico e ao
sobre a tempestividade de diagnóstico em tratamento?
atendimento (i5). laudo patológico
(Lei 12.732/2012,
Triangulação dos art. 2º).
dados quantitativos de
tempestividade com as
percepções dos pacientes.

Fonte: adaptado do relatório de auditoria sobre a Política Nacional de Atenção Oncológica (TCU, 2011).

Figura 13 – Exemplo de matrizes de coleta e análise de informações.

A utilização das matrizes de coleta e análise é O uso dessas matrizes também é vantajosa
vantajosa, em primeiro lugar, para a própria para o supervisor. Ao ver detalhada a lógica
equipe, que pode explicitar a forma como se que a equipe propõe para executar a audito-
pretende obter e utilizar informações para po- ria, o supervisor pode identificar falhas e lap-
der responder às questões de auditoria. Sem sos no planejamento da coleta e análise de
instrumentos desse tipo, pode ocorrer de a informações e propor correções. Desse modo,
equipe ir a campo sem ter um entendimento ele pode se assegurar de que a equipe sabe o
uniforme sobre como o trabalho será desen- que vai fazer e de que a maneira como o traba-
volvido, o que, certamente, prejudicará a qua- lho foi planejado é adequada para se alcançar
lidade da auditoria. o objetivo e o escopo estabelecidos na tarefa.

A construção conjunta das matrizes também 3.4 Critérios de auditoria


permite que os membros da equipe partici-
pem e que suas melhores ideias sejam incor- Critério é o referencial utilizado pelo auditor para
poradas ao trabalho. A participação aumenta fazer seus julgamentos em relação à situação ou
a compreensão do que virá a ser realizado na condição do objeto de auditoria. Corresponde à
fase operativa e favorece o comprometimento situação ideal esperada desse objeto.
de todos com a auditoria.
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 35

A comparação entre a situação existente e o critério dá origem à constatação de auditoria. Em caso de


discrepância entre critério e situação, tem-se uma constatação de não-conformidade. Se a situação
do objeto estiver de acordo com o critério, diz-se que se trata de uma constatação de conformidade.

Critérios de auditoria podem ser encontrados em diversas fontes. Fontes usuais de critérios são as leis
e os regulamentos que regem o funcionamento da entidade, projeto ou programa auditado. Normas
e valores expressos em códigos de ética da instituição ou profissional indicam condutas apropriadas e
vedadas aos servidores e funcionários e, por isso, também são fontes de critérios.

Quando se trata de opinar sobre desempenho, indicadores de eficiência, eficácia e efetividade, além
de metas estabelecidas pela entidade auditada, são os principais critérios de comparação. Se a orga-
nização não estabeleceu metas e padrões de desempenho a alcançar ou se existem razões para crer
que esses valores estão aquém do que se poderia esperar, então deve-se adotar como critério os
resultados obtidos anteriormente por instituição ou programa similar.

Na ausência de critérios estabelecidos ou se esses forem pouco claros, especialmente em situações


tecnicamente complexas, deve-se buscar a opinião de especialistas independentes e consultar biblio-
grafia especializada a fim de obter argumentos visando construir critérios plausíveis.

Natureza Critério Fonte


Conformidade Para a comercialização Portaria MS 971/12, art. 23.
e a dispensação dos
medicamentos e/ou correlatos
no âmbito do PFPB [requer-se]
apresentação de prescrição
médica (…) com as seguintes
informações: número de
inscrição do médico no CRM,
assinatura e carimbo médico e
endereço do estabelecimento
de saúde.
Desempenho Alcançar, em pelo menos 70% Caderno de Diretrizes,
dos municípios, as coberturas Objetivos, Metas e
vacinais (CV) adequadas do Indicadores 2013-2015,
Calendário Básico de Vacinação Ministério da Saúde
da Criança.

Figura 14 – Exemplos de critérios de auditoria.


36 Fase Analítica da Auditoria – MÓDULO 3

Critérios de auditoria orientam a coleta de interpretações uniformes quando aplicados


dados, visto que apontam que tipo de infor- por diferentes auditores e estar livres de viés;
mação sobre a situação ou condição do objeto
deve ser buscada. No exemplo de conformi- c) confiáveis, de forma a levar a conclusões
dade mencionado na figura 14, a norma diz consistentes independentemente de quem o
que as informações requeridas são número de aplica nas mesmas circunstâncias;
inscrição do médico no CRM, assinatura e ca-
rimbo médico, e endereço do estabelecimen- d) úteis por gerar conclusões que atendem ne-
to de saúde. Em razão disso, a análise a ser cessidades de informação de interessados;
feita numa auditoria que envolva prescrições
médicas passa por verificar se cada prescrição e) comparáveis, isto é, consistentes com crité-
contém essas informações. No exemplo sobre rios utilizados para auditar programa ou ativi-
desempenho, a informação a obter também dade similar e com aqueles usados previamen-
é clara: cobertura vacinal de cada município. te para auditar o mesmo objeto de auditoria; e
Tais dados podem ser obtidos no Sistema
de Informações do Programa Nacional de f) aceitáveis por parte de especialistas, audita-
Imunizações (SIPNI), mantido pelo DataSUS. dos, legislativo, mídia e público em geral.

Uma característica essencial dos critérios de 3.5 Coleta de informações em


auditoria é que servem de referência para a auditoria
elaboração de recomendações. Ao se empre-
gar determinado critério para obter uma cons- Numa auditoria, como já visto, busca-se res-
tatação de não conformidade, esse mesmo ponder às questões de auditoria definidas na
critério torna-se o parâmetro para construir a elaboração da tarefa e eventualmente aper-
recomendação que levará o auditado a imple- feiçoadas na fase analítica. Para responder as
mentar medidas que promovam a adequação questões, deve-se obter informações acerca
da situação do objeto ao que deve ser. do objeto auditado de modo a poder avaliar em
que medida a situação desse objeto atende ao
A seleção de critérios é um ponto crucial para critério aplicável. Portanto, as informações a
o desenvolvimento de uma auditoria. Critérios serem coletadas são aquelas necessárias para
definidos pela equipe de auditoria devem ser satisfazer o objetivo da auditoria. Mas como
(BRASIL, 2010a): identificar as informações requeridas?

a) razoáveis, exequíveis e relevantes para os Para se identificar as informações necessárias


objetivos da auditoria; para responder a uma questão de auditoria,
deve-se identificar os termos-chave dessa
b) claros e objetivos, de modo a levar a questão e suas dimensões (BRASIL, 2010a).
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 37

Tomemos como exemplo uma questão sobre de informação; imprensa. Descobrir a melhor
a correta aplicação de recursos destinados à fonte de cada informação contribui para a agi-
saúde repassados fundo a fundo a um municí- lidade na coleta de dados.
pio. Um termo central da questão é a expres-
são “correta aplicação”, cujas dimensões são A experiência do servidor em auditorias no
aplicar o recurso dentro da finalidade a que SUS é o principal recurso para descobrir a fon-
se destina, dentro do objeto (bloco de finan- te de cada informação requerida. De fato, co-
ciamento) e de forma regular, de modo a não nhecer o funcionamento do SUS, os principais
causar dano ao Erário. Sendo ampla a questão, atores e suas responsabilidades, e os princi-
deve-se olhar para as possíveis constatações pais sistemas de informação é fundamental.
para poder descobrir as informações necessá- Sendo a fase analítica realizada em equipe, as
rias. Supondo que uma possível constatação experiências de seus membros podem se com-
seja pagamento de consultoria prestada por plementar para bem realizar a tarefa de identi-
servidor público do quadro do próprio municí- ficar informações e fontes.
pio, então as informações requeridas seriam:
relação de servidores do município; nota de A segunda pergunta envolve decidir qual é a
empenho dessa despesa; cópia do contrato técnica de coleta mais adequada para obter a
de prestação de serviço, se houver; cópia de informação de determinada fonte. Para res-
recibo assinado pelo servidor ou de nota fiscal pondê-la, deve-se considerar o uso que se pre-
emitida por empresa por meio da qual atuou tende fazer da informação, bem como carac-
o servidor; ordem bancária que efetivou o terísticas das fontes. O quadro a seguir oferece
pagamento. subsídios para isso.

Definidas as informações a coletar, duas per-


guntas devem ser respondidas: a) onde ou
com quem cada informação pode ser obtida?; Importante
b) como a informação pode ser obtida?

O Conass mantém em seu


A primeira pergunta diz respeito à fonte de
sítio na internet página
informação. As informações requeridas numa
com Guia de Acesso a
auditoria podem vir de diversas fontes: órgãos Informações para a Gestão
e entidades auditados; pessoas (gestores, ser- do SUS, rica fonte para
vidores, beneficiários, pacientes etc.); presta- apoiar a fase analítica
dores de serviço, ONGs; órgãos de pesquisa
(p. ex., universidades, Fiocruz, IPEA); docu-
mentos (relatórios, notas fiscais, planilhas de
cálculo, prontuários médicos etc.); sistemas
38 Fase Analítica da Auditoria – MÓDULO 3

Finalidade da coleta Exemplo de questão Técnica de coleta


Verificar informações O processo de habilitação Requisição de informações
registradas em documentos da UNACON atendeu ao
estabelecido na portaria nº
140/2014?
Caracterizar a dinâmica de Os enfermeiros executam Observação direta
uma atividade. adequadamente os
procedimentos?
Descrever aspectos físicos Os medicamentos estão Inspeção física
de um objeto. armazenados em local e
condições adequadas?
Conhecer em profundidade Quais os principais entraves Entrevista
a percepção e a opinião de operacionais enfrentados
pessoas pelos coordenadores das
UPAs?
Explorar a diversidade Que fatores limitam a Grupo focal
de pontos de vista de capacidade operacional
representantes de um grupo das centrais de regulação?
acerca de um assunto (segundo os técnicos;
segundo os médicos)
Descrever quantitativa- Qual é o nível de satisfação Sondagem
mente a percepção de grupo dos pacientes quanto ao
amplo de pessoas atendimento de urgência
prestado?
Descrever quantitativamente Quais os locais e horários Extração de dados de
aspectos de uma atividade mais frequentes de onde se sistema
originam chamados para o
SAMU 192?
Confirmar com terceiros As notas fiscais de Confirmação externa
informação obtida por outro compra de equipamentos
meio hospitalares foram emitidas
de forma regular?
Melhorar a confiabilidade Em que extensão a Triangulação (no caso,
dos dados coletados percepção dos paciente utilizando entrevistas e
acerca do tempo de extração de dados)
atendimento confirma
os dados registrados no
sistema?
Figura 15 – Técnicas de coleta de informações indicadas conforme a finalidade.
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 39

Requisição de informações por pessoas autorizadas e possuem informa-


ções úteis à auditoria.
A técnica consiste em solicitar ao auditado ou
a terceiros informações que sirvam para sus- O exame dos documentos requisitados deve
tentar constatações ou documentos que con- ser apoiado por papel de trabalho construído
tenham essas informações. Em geral são infor- pela equipe visando sistematizar a análise das
mações registradas como parte das atividades informações.
da unidade auditada ou informações compi-
ladas para atender a equipe de auditoria. É o Entrevista
procedimento mais usado em auditorias.
A entrevista é uma técnica de conversação
A equipe deve procurar antecipar a solicitação com indivíduos ou grupos estruturada como
de informações para minimizar o risco de que uma sessão de perguntas e respostas utiliza-
os documentos cheguem tarde demais, con- da para coletar informações segundo deter-
siderando o cronograma estabelecido. Assim minados objetivos. É uma técnica qualitativa
que a equipe constrói a matriz de coleta, o co- de coleta de dados usada para obter informa-
ordenador pode emitir comunicado de audito- ção em profundidade de pessoas que detêm
ria requisitando as informações e os documen- conhecimento sobre o tema de interesse. Em
tos necessários e estabelecendo prazo para o trabalhos de auditoria, as informações busca-
auditado entregá-los. Normalmente o prazo das devem ser relevantes para responder às
coincide com a data de apresentação da equi- questões de auditoria.
pe para iniciar os trabalhos de campo. Caso o
auditado não consiga os documentos nessa Numa auditoria, a entrevista apresenta di-
data, pode-se conceder novo prazo, preferen- versas aplicações. Pode ser usada para cole-
cialmente dentro do prazo da fase operativa. tar informações preliminares sobre o objeto
a auditar, ainda na fase analítica, ou ampliar
A requisição de informações deve ser escolhi- o conhecimento existente na equipe. Serve
da apenas se for a melhor opção para eviden- para obter informações dos atores envolvidos
ciação, e não por desconhecimento de outras com a situação auditada, tais como gestores,
técnicas. Por exemplo, se a equipe necessi- especialistas e beneficiários. É especialmente
ta conhecer o ponto de vista do Secretário útil para ouvir pessoas com pouca instrução
Municipal de Saúde sobre determinado assun- formal, que não poderiam ser consultadas por
to, requisitar informações não é a técnica re- outros meios.
comendada, mas sim a entrevista.
Uma entrevista pode ser útil para auxiliar na
Ao receber documentos, o auditor deve certifi- interpretação de dados obtidos por outros
car-se de que são autênticos, foram aprovados métodos, como, por exemplo, para melhor
40 Fase Analítica da Auditoria – MÓDULO 3

compreender um mapa dos processos de uma gestor. Os tipos de perguntas mais utilizadas
unidade hospitalar obtido pela equipe de audi- em entrevistas são as abertas, que podem ser
toria ou interpretar dados registrados no pro- respondidas de forma livre.
jeto básico de uma aquisição.
Na condução da entrevista, o auditor deve
Na fase operativa, pode-se usar entrevista para buscar estabelecer uma relação de confiança
obter do auditado sua avaliação sobre possí- com o entrevistado. Assim, após a equipe se
veis recomendações, o que auxilia a equipe na apresentar, deve relembrar os objetivos co-
tarefa de propor recomendações exequíveis e municados quando do agendamento e dar iní-
relevantes. cio à entrevista. O roteiro deve ser observado,
porém de forma flexível, visto que informa-
A realização de uma entrevista divide-se nas ções importantes não previstas podem surgir
etapas de planejamento, condução e transcri- e a equipe pode se permitir explorá-las.
ção. No planejamento, a equipe deve definir:
Durante a entrevista, um integrante da equipe
• os objetivos da entrevista; faz as anotações. No caso de temas complexos,
• a forma de seleção dos entrevistados; pode-se optar por gravar a entrevista, desde
• as informações a obter, elaborando o ro- que o entrevistado concorde. Deve-se cuidar
teiro de perguntas; para evitar comportamentos que possam ini-
• os documentos a solicitar; bir o entrevistado e interromper o fluxo natu-
• as atribuições de cada integrante da equi- ral da conversação, tais como: anotar tudo o
pe (quem pergunta, quem anota, quem que é dito, escrever sem parar e anotar quan-
observa); do o entrevistado fala de pontos delicados.
• local, segundo a conveniência do entrevis-
tado; e Antes do encerramento da entrevista, o en-
• horário de início e término. trevistador deve verificar se todas as pergun-
tas foram respondidas e resumir os principais
Um fator importante para o sucesso da entre- pontos abordados, dando a oportunidade para
vista é o preparo da equipe, que deve estudar que o entrevistado preste algum esclareci-
bastante o tema a ser abordado. Ao planejar o mento adicional. Se for o caso, pode recolher
roteiro, deve-se formular perguntas que con- os documentos entregues e solicitar a indica-
tribuam para fornecer as informações necessá- ção de outras pessoas para entrevistar.
rias à auditoria. As perguntas devem estimular
o auditado a falar; portanto, deve-se ordená Após a entrevista, o conteúdo deve ser transcri-
-las das mais simples para as mais complexas e to num papel de trabalho denominado extra-
evitar perguntas tendenciosas que expressem to de entrevista. O registro deve ser feito logo
ideias preconcebidas ou possam constranger o depois do encerramento do encontro, quando
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 41

se acrescentam informações complementares adicionar perguntas durante o processo de


eventualmente não anotadas. Dependendo da aplicação. Por isso, a preparação de um ques-
natureza das informações e da sensibilidade tionário exige bom conhecimento prévio do
do tema, pode-se solicitar a assinatura do en- fenômeno que se vai pesquisar, de modo a for-
trevistado no extrato da entrevista. mular perguntas pertinentes, a maioria delas
fechadas (com opções de resposta predefini-
Quando informações provenientes de entre- das). Um questionário bem construído requer
vistas forem usadas para suportar constata- mais tempo de elaboração e validação do que
ções, é recomendável buscar informações adi- um roteiro de entrevista, visto não haver to-
cionais e de outra natureza. lerância a perguntas que comportem alguma
ambiguidade.

Para saber mais Se a sondagem é aplicada a uma amostra alea-


tória da população pesquisada, então é possí-
Para saber mais sobre o uso vel generalizar os resultados obtidos para toda
de entrevistas em auditoria, a população. Todavia, as limitações operacio-
consulte o documento Técnica nais enfrentadas pelos auditores, tais como
de entrevista, produzido pelo tempo reduzido para a auditoria e dificuldade
TCU (BRASIL, 2010b). de acesso aos dados da população, muitas ve-
zes impedem que se faça uma amostra alea-
tória. Esse assunto será melhor discutido na
Sondagem seção 3.8.

Sondagem consiste na aplicação de ques-


tionários para obter informações de forma
padronizada sobre um grande número de
unidades de pesquisa, sejam indivíduos ou Para saber mais
organizações. Presta-se a descrever aspec-
Para saber mais sobre o
tos do tema pesquisado de forma quantita-
tiva usando Estatística, como, por exemplo, uso de sondagens, consulte
obter o percentual de usuários que aprovam o documento Técnica de
o serviço prestado e as reclamações mais pesquisa para auditorias,
frequentes. publicado pelo TCU (BRASIL,
2010d).
O que distingue a sondagem das entrevistas
é que os pesquisadores, mesmo pessoal-
mente, não podem ajustar o questionário ou
42 Fase Analítica da Auditoria – MÓDULO 3

Sondagens podem ser realizadas via contato pessoal, por telefone, via postal e por meio eletrôni-
co. Cada uma dessas modalidades apresenta potencialidades e limitações (figura 16), que devem
ser consideradas ao se desenhar uma sondagem para uso em auditoria.

Modalidade Potencialidades Limitações


Contato Comunicação direta. Custo muito alto (contratação, treinamento
pessoal Acesso a pessoas de baixa e deslocamento de pessoal).
escolaridade. Demorado (pesquisa e digitação das
respostas).

Telefone Rapidez. Custo alto (contratação e treinamento de


Acesso a pesquisados pessoal).
dispersos geograficamente. Questionário deve ser curto para o
respondente não desistir (menos de 10
minutos)

Postal Baixo custo. Necessidade de tratamento da não-


Acesso a pesquisados resposta por reenvio de questionários ou
dispersos geograficamente. contato telefônico.

Segurança, liberdade Demorado (impressão, postagem e


e privacidade para o digitação das respostas).
pesquisado responder. Depende do correto preenchimento por
parte dos pesquisados.

Meio Custo muito baixo. Restrito a pesquisados que possuem


eletrônico Elimina a digitação. endereço eletrônico ou àqueles cujos
endereços foram obtidos.
Acesso a pesquisados
dispersos geograficamente. Problemas tecnológicos (bloqueio do
questionário por firewall).
Segurança, liberdade
e privacidade para o Necessidade de tratamento da não-
pesquisado responder. resposta por reenvio de questionários ou
contato telefônico.
Depende do correto preenchimento por
parte dos pesquisados.

Figura 16 – Potencialidades e limitações das modalidades de sondagem.


MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 43

Grupo focal podem ser usados em outras atividades de


controle, como o monitoramento de reco-
Grupo focal é uma técnica qualitativa de pes- mendações. Nesse caso, serviria para detectar
quisa que tem como fonte de dados as inte- a extensão em que as recomendações foram
rações e discussões entre participantes de um implementadas e os efeitos obtidos.
determinado grupo sobre tema de interesse e
questões relevantes (ISSAI 3000/Apêndice 1,
2004).
Para saber mais
Pequenos grupos de pessoas (5 a 10) se reú-
nem em lugar previamente definido, na forma Para saber mais sobre o
de sessões, seguindo um guia elaborado por uso de grupo focal, consulte
um facilitador e alguns assistentes, para discu- o documento Técnica de
tir conceitos ou avaliar problemas. As sessões grupo focal para auditorias,
podem ser registradas por meio de notas dos publicado pelo TCU (BRASIL,
assistentes ou ser gravadas. 2013b).

Em auditorias, grupos focais são úteis para


investigar as razões pelas quais uma organi-
zação, programa ou ação apresentam baixo
desempenho, bem como para aprender so- Observação direta
bre o funcionamento de programas, órgãos e
entidades (BRASIL, 2013b). Pode-se investigar Observação é uma técnica em que se busca
percepções e opiniões de gestores e usuários apreender a realidade de uma situação dinâ-
de um serviço de saúde que seja objeto de mica por meio dos sentidos. Tipicamente, a si-
auditoria. tuação observada em auditorias é a prestação
de um serviço ou a execução de um processo,
O potencial da técnica está em revelar espec- cuja dinâmica é registrada utilizando-se rotei-
tro de percepções sobre o tema de interesse. ros desenhados previamente na fase analítica.
Realizam-se grupos focais com representantes
de um mesmo grupo até o ponto em que não A potencialidade da técnica está no fato de ser
surgem mais novas percepções e opiniões. Em um método de coleta de informação contex-
situações de auditoria, pode não ser viável re- tualizada sobre a forma de funcionamento do
alizar o número necessário de grupos focais. objeto auditado. A observação direta é indica-
da nos casos em que as pessoas que vivenciam
Ainda que a aplicação típica da técnica seja a situação de interesse da auditoria não têm
em auditorias de desempenho, grupos focais plena consciência de determinados aspectos
44 Fase Analítica da Auditoria – MÓDULO 3

ou estão envolvidos emocionalmente a ponto inspeção física. Uma inspeção física requer
de não ter condições de falar a respeito com menos habilidade para ser aplicada adequada-
propriedade. Nesses casos, alguém externo mente, porém o cuidado metodológico deve
ao processo pode observar o que se passa de estar presente, seja no momento de desenhar
uma forma neutra e imparcial. o roteiro de inspeção, seja no momento de re-
alizá-la de forma criteriosa.
A principal limitação dessa técnica é que a pre-
sença do observador no ambiente em estudo
pode alterar o comportamento do indivíduo e
levar a um resultado distorcido da realidade Para saber mais
observada. Além disso, o custo da aplicação
da técnica pode ser alto, visto que a observa- Para preparar um roteiro de
ção de uma situação pode levar horas, e que observação e saber mais sobre
podem ser necessárias diversas observações a técnica, consulte o documento
para se poder extrair alguma conclusão sobre Técnica de observação direta em
o fenômeno. auditoria, publicado pelo TCU
(BRASIL, 2010c).
Quando a observação de uma situação física
é decisiva para alcançar os objetivos da audi-
toria, ela deverá ser confirmada por meio da
observação de dois ou mais auditores e, se Extração de dados
possível, por representantes do órgão audita-
do (ISSAI 3000, 2004). A técnica consiste na identificação e extração
de dados úteis aos propósitos da auditoria de
A qualidade das evidências coletadas por meio sistemas de informação. Para que o auditor
da observação direta requerem que os proces- possa se decidir por essa técnica, deve con-
sos ou atividades observados sejam represen- firmar que determinado sistema armazena as
tativos do objeto auditado, que o roteiro de informações necessárias. Isso requer conhecer
observação seja bem planejado e que a equipe a estrutura das bases de dados, o que pode ser
seja criteriosa no registro. Para robustecer as feito tendo acesso ao dicionário de dados ou
evidências obtidas com a observação, podem lendo relatórios emitidos pelo sistema.
ser usadas gravações de vídeo e áudio e regis-
tros de declarações de usuários, por exemplo. Há várias maneiras de se obter dados arma-
zenados num sistema. Há sistemas que ex-
Quando a observação se dá sobre situações portam dados ao comando do usuário, como
estáticas (equipamentos, instalações e infra- o SIA/SUS, disponível no site do DATASUS.
estrutura em geral), a técnica é denominada Quando isso não é possível, é usual fazer uma
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 45

requisição ao auditado para que providencie a usados frequentemente para confirmar ter-
extração dos dados e os apresente ao auditor mos de acordos, contratos e transações, como
na forma de uma planilha eletrônica. Outra nos casos de confirmação de pagamento a for-
possibilidade, para auditores habilitados, é necedores, confirmação de saldos em bancos,
utilizar softwares especializados de auditoria se os licitantes mencionados foram convida-
para identificar e extrair os dados que procura. dos e se procedimentos ambulatoriais foram
realizados (carta SUS).
Normalmente dados extraídos em grandes
volumes de sistemas de informação prestam- A equipe deve avaliar se o resultado de um
se a análises quantitativas. Softwares estatís- procedimento de confirmação externa forne-
ticos ou mesmo planilhas eletrônicas como o ce evidência relevante e confiável, ou se ou-
MS Excel facilitam a manipulação e a análise tras fontes de evidência são requeridas.
dos dados.
No caso em que o auditor avalia que a res-
Exemplos de aplicação da técnica são a extra- posta a uma solicitação de confirmação não é
ção de dados de infraestrutura dos estabele- confiável, deve verificar se existe forma alter-
cimentos de saúde, armazenados no CNES e nativa de obtenção de evidências. Se o auditor
dados de Autorização de Internação Hospitalar entender que a confirmação é necessária para
do SIA/SUS. Outro exemplo é a requisição de obter evidência de auditoria, e a confirmação
dados do funcionamento de uma central de não é fornecida, o auditor deve avaliar as im-
regulação do SAMU 192 armazenados em sis- plicações para o resultado da auditoria.
tema próprio do município.
Triangulação
Confirmação externa
Corresponde ao uso de diferentes métodos de
Segundo as Normas Brasileiras de pesquisa ou de coleta de dados para estudar a
Contabilidade, mesma questão, com o objetivo de fortalecer
as conclusões finais (PATTON, 1987, citado por
Confirmação externa é a evidência de auditoria obtida BRASIL, 2010a).
como resposta por escrito direta para o auditor de um
terceiro (a parte que confirma), em papel, no formato Em auditoria, a triangulação visa fortalecer a
eletrônico ou outro meio (NBC-TA-505). consistência das evidências, podendo assumir
as seguintes formas (BRASIL, 2010a):
A técnica, também conhecida como circulari-
zação, presta-se a confirmar, junto a terceiros, • coletar dados de diferentes fontes sobre a
fatos apresentados pela entidade auditada, de mesma questão;
modo a fortalecer as evidências obtidas. São • empregar diferentes entrevistadores e
46 Fase Analítica da Auditoria – MÓDULO 3

pesquisadores de campo para evitar vieses 3.6 Procedimentos de análise


na coleta de dados;
• usar múltiplos métodos de pesquisa. A análise de informações em auditoria é um
dos pilares da qualidade de uma auditoria,
Ao decidir sobre as técnicas de coleta de informa- pois responde pela qualificação das evidências
ções para responder a uma questão de auditoria, que sustentarão as constatações. Ao decidir
a equipe deve avaliar se as evidências que se es- como as informações devem ser analisadas, a
peram obter serão suficientes para confirmar as equipe deve revisitar o objetivo, as questões
possíveis constatações ou não. Constatações insu- de auditoria e as possíveis constatações visan-
ficientemente evidenciadas não se sustentam, daí do a garantir o foco da análise.
a importância de lançar mão da triangulação.

A análise de informações pode ser quantitativa ou qualitativa, o que depende basicamente dos
tipos de informações a coletar, definidas com foco nas questões de auditoria.

ABORDAGEM QUANTITATIVA ABORDAGEM QUALITATIVA

Útil para quantificar e comparar Auxilia na compreensão de


dados, fatos ou opiniões significados, experiências e
relacionados ao onbjeto pontos de vista das pessoas
da auditoria. envolvidas.

Figura 17 – Abordagens possíveis na análise de dados.

Usa-se análise qualitativa para obter uma b) Como os pacientes avaliam sua experiência
compreensão mais profunda de percepções, ao buscar atendimento nessa unidade?
razões e motivações acerca de um problema e
seu contexto. No âmbito do SUS, estas seriam c) Como se dá o relacionamento entre a UPA e
questões apropriadas para o uso de aborda- a Secretaria Municipal de Saúde?
gem qualitativa:
Técnicas usadas para obter dados de natu-
a) Que fatores afetam o desempenho da UPA reza qualitativa em auditorias são menos es-
24h do município? truturadas, como é o caso de entrevistas em
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 47

profundidade e grupos focais, e mais apro- regulação é adequado?


priadas para obter detalhes e uma visão mais
ampla sobre um problema. Análise qualitativa c) Quais os principais fatores que dificultam
vale-se das informações concretas que o au- o acesso de pacientes ao tratamento segun-
ditor tem em mãos; não existe a possibilidade do os próprios pacientes (entre os listados no
de generalizar conclusões para situações não questionário)?
examinadas.
As respostas a essas questões podem ser des-
A abordagem quantitativa, por sua vez, é uti- critas utilizando-se as medidas estatísticas mé-
lizada quando se pretende descrever numé- dia, mediana, moda, intervalo e desvio-padrão
rica ou estatisticamente um fenômeno. São (figura 18). A questão (b), por exemplo, pode
exemplos de questões apropriadas à análise ser respondida obtendo-se uma planilha com
quantitativa: todos os pacientes inscritos no TFD no exer-
cício anterior e respectivas datas de inscrição
a) O consumo de combustível por ambulâncias e de referenciamento. A média e o desvio-pa-
é compatível com os atendimentos realizados drão sinalizam se o tempo de espera é razoável
no primeiro trimestre? ou não. Pode-se calcular o percentual de pa-
cientes com tempo de espera excessivo (crité-
b) O tempo para que pacientes da alta com- rio temporal deve ser definido). A análise pode
plexidade sejam encaminhados para trata- ser enriquecida classificando-se os pacientes
mento fora de domicílio (TFD) pela central de segundo as doenças que os acometem.

Medida Significado Utilidade


Soma de todas as observações
Quando os valores estão simetricamente
Média divida pela quantidade de
distribuídas (p.ex.: peso e altura).
observações.
A observação que fica no meio
Quando um valor extremo pode distorcer
Mediana quando todas as observações são
a média (p.ex.: renda).
colocadas em ordem crescente.
Para descrever valores “típicos” (p.ex.:
Moda A observação mais frequente.
número de filhos numa família)
Para complementar a compreensão da
A diferença entre a maior e a
Intervalo média e mediana quando os valores estão
menor observação.
distribuídos de forma ampla.
Para complementar a compreensão da
Desvio- É uma medida de dispersão dos média. Numa distribuição normal, 68%
padrão valores em relação à média. dos valores estão a menos de um desvio-
padrão da média.

Figura 18 – Medidas estatísticas frequentemente utilizadas em auditoria.


48 Fase Analítica da Auditoria – MÓDULO 3

Dados numéricos podem ser analisados por séries temporais da execução orçamentária
meio do uso de gráficos, tais como histogra- do Programa Farmácia Popular do Brasil, reve-
mas e gráficos de dispersão, que revelam la que a execução direta do FNS cresceu bem
tendências, regularidades, descontinuidades, mais do que as demais modalidades no perío-
desempenhos extremos (bons e ruins), desi- do de 2006 a 2009.
gualdades na distribuição de bens e serviços
públicos. O gráfico mostrado na figura 19 re- Na figura 21, são apresentados três exemplos
vela que a maioria dos pacientes de câncer de situações de auditoria a fim de ilustrar a co-
diagnosticados em 2010 tinham a doença erência que deve existir entre questão de au-
em estágio avançado (estadiamento 3 e 4). ditoria, informação requerida, procedimento
Já o gráfico seguinte (figura 20), que mostra de coleta e procedimento de análise.

Figura 19 – Estadiamento do câncer no momento do diagnóstico no Brasil em 2010.


MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 49

Figura 20 – Execução orçamentária do Programa Farmácia Popular do Brasil.

Exemplo 1 Exemplo 2 Exemplo 3


Quais são os fa- Estão regulares oscon-
Qual o nível de satisfação
tores que dificul- tratos assinados pela
dos pacientes sobre os
Questão tam a atuação Secretaria Municipal de
serviços prestados pelo
dos médicos no Saúde de Amendoeiras
hospital e seus motivos?
hospital X? em 2014?
Opinião dos pacientes (sa-
Rol de cláusulas contra-
Informação Opiniões dos tisfação com os serviços
tuais que serão objeto
requerida médicos. e motivos de satisfação e
de análise.
insatisfação).
Procedimento Entrevista ou Requisição de cópias dos
Sondagem
de coleta grupo focal. contratos celebrados.
Calcular o percentual de Verificar se os contratos
avaliações em cada nível cumprem os requisitos
Identificar e
de satisfação, calcular o legais e normativos, clas-
classificar em
Procedimen- nível médio de satisfação sificá-los como confor-
categorias os
to de análise e identificar os motivos mes ou não conformes,
fatores aponta-
mais frequentes para sa- quantificar a frequência
dos.
tisfação e insatisfação com das razões de não con-
o serviço. formidade.
Abordagem Qualitativa Quantitativa Qualitativa-quantitativa

Figura 21 – Exemplos de abordagens qualitativa e quantitativa utilizadas em auditoria.

É recomendável que os procedimentos de análise sejam descritos na matriz de análise de infor-


mações de modo a ser facilmente compreendido por outro auditor.
50 Fase Analítica da Auditoria – MÓDULO 3

Caso a descrição do procedimento seja longa para sustentar uma possível constatação
para ser descrita na matriz, pode-se indicar ou contribuir para responder uma questão
o título do procedimento e fazer referência de auditoria, elas devem ser eliminadas da
ao papel de trabalho destinado a registrar a matriz;
análise.
• quando as informações previstas não fo-
3.7 Validação das matrizes rem suficientes para responder as ques-
tões de auditoria, deve-se identificar e
As matrizes construídas devem ser submetidas acrescentar as informações que faltam;
a validação, primeiramente pela própria equi-
pe e, em seguida, pelo supervisor. • quando a equipe não souber ao certo onde
e como cada informação pode ser obtida,
Na revisão de cada questão de auditoria, a deve consultar auditores que possam ter
equipe deve se perguntar: utilizado esse tipo de informação anterior-
mente ou fazer uma prospecção de possí-
• se as informações previstas na matriz de veis fontes para verificar se a informação
coleta são necessárias e suficientes para existe e como pode ser acessada;
responder as questões de auditoria;
• quando a equipe acreditar que as informa-
• se está claro onde e como cada informação ções previstas não podem obtidas dentro
pode ser obtida; do prazo da auditoria e com os recursos
disponíveis, ou que não haverá tempo para
• se a obtenção das informações previstas é se fazer todas as análises previstas, deve
factível dentro do prazo da auditoria e com restringir as questões de auditoria àquelas
os recursos disponíveis; que sejam as mais urgentes ou relevantes
ou modificar a estratégia de coleta e análi-
• se está claro como cada informação obtida se planejada;
será usada na construção da constatação;
• finalmente, quando não estiver claro como
• se haverá tempo para se fazer todas as cada informação obtida será usada na
análises previstas. construção da constatação, mas se acredi-
tar que a informação é necessária, deve-se
Cada um desses pontos de verificação enseja procurar a orientação de auditores que já
uma ação por parte da equipe, a saber: enfrentaram a mesma situação.

• quando houver informações previstas na A validação das matrizes pelo supervisor técni-
matriz de coleta que não serão usadas co, além de repassar esses pontos que foram
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 51

alvo de revisão pela equipe, deve enfatizar a O painel de referência é um mecanismo bara-
consistência lógica da matriz, a capacidade to e rápido para se ouvir especialistas visando
desse instrumento de levar a equipe a alcan- focalizar melhor a auditoria e construir crité-
çar os resultados esperados com a auditoria e rios. Os pontos de vista trazidos pelo painel
a exequibilidade do trabalho. Eis algumas per- auxiliam a equipe a sustentar ou alterar suas
guntas que o supervisor técnico deve fazer: premissas e decisões. Deve-se cuidar para
que a seleção de convidados e a condução
• As questões, quando respondidas, permi- das discussões sejam feitas de modo a não
tem alcançar o objetivo da auditoria? privilegiar determinado grupo, evitando-se o
risco de viés.
• As informações requeridas são suficientes
para responder as questões? As fontes de Um painel de referência também funciona
informação estão corretas? como ferramenta de controle de qualida-
de, pois possibilita conferir a relevância das
• Os procedimentos de coleta são adequa- questões de auditoria, verificar o rigor e a
dos segundo o tipo de informação? suficiência do método proposto, e colher va-
riado conjunto de opiniões especializadas e
• Os procedimentos de análise são suficien- independentes sobre a estratégia de coleta e
tes para conduzir às constatações? análise de informações.

• As possíveis constatações são compatíveis Representantes do órgão ou programa audi-


com as questões de auditoria? tado podem ser convidados para participar
de painéis de referência. Contudo, alguns as-
O supervisor técnico deve fazer o papel de pectos devem ser considerados. A favor da
cético, questionando a equipe de modo a ser participação dos auditados no painel estão os
convencido da qualidade do planejamento. seguintes fatores:

Quando a auditoria for considerada complexa • normalmente os auditados detêm co-


ou tiver como objeto uma atividade pouco co- nhecimento dos detalhes do programa/
nhecida pela equipe, a validação das matrizes política;
pode ser feita por meio de um painel de re-
ferência. Trata-se de um fórum de escuta de • possuem experiência e sensibilidade das
especialistas, gestores e demais atores sociais dificuldades de implantação;
que visa explorar diferentes pontos de vista
sobre o tema alvo da auditoria. Pode ter o for- • às vezes, podem ser os únicos especialis-
mato de seminário ou de oficina de trabalho. tas disponíveis.
52 Fase Analítica da Auditoria – MÓDULO 3

Contra a participação do auditados no painel articulados no bojo do relatório de auditoria,


pesam os seguintes aspectos: onde deve ficar demonstrada a conexão entre
evidências, constatações e recomendações.
• os auditados podem inibir os outros parti- Porém, o relatório é somente o produto final
cipantes, sobretudo no caso de beneficiá- de uma auditoria que, para ser elaborado,
rios ou terceiros que possuam alguma re- contou com documentos obtidos ou produzi-
lação de dependência com o órgão gestor; dos durante o trabalho.

• podem monopolizar a discussão, empo- Tais documentos, denominados papéis de


brecendo o resultado; trabalho, devem ser mantidos organizados e
à disposição de quem necessite certificar-se
• podem direcionar a abordagem evitando da correta obtenção de evidências. Os papéis
aspectos desfavoráveis à gestão. de trabalho constituem a documentação que
evidencia o trabalho desenvolvido pelo audi-
Se houver risco de que esses aspectos negati- tor em todas as fases da auditoria. Devem ser
vos possam prevalecer, uma solução possível completos e detalhados o suficiente para que
seria convidar os auditados para uma reunião um auditor experiente que não tenha partici-
em separado na qual terão a oportunidade de pado da auditoria possa, com base na docu-
conhecer e opinar sobre o que a equipe pre- mentação, compreender os procedimentos
tende realizar na auditoria. Esse tipo de ini- adotados, as evidências obtidas, as consta-
ciativa contribui para se obter o comprometi- tações e as conclusões alcançadas (BRASIL,
mento dos auditados com o objetivo e a forma 2010a).
de condução da auditoria.

A validação das matrizes de coleta e análise de


informações pela equipe, pelo supervisor téc-
nico e, quando cabível, por um painel de refe-
rência é medida fundamental para assegurar Importante
que as fases operativas e de elaboração de re-
latório sejam realizadas com qualidade.
Papel de trabalho é todo
documento relevante para
3.8 Papéis de trabalho
a auditoria preparado por
terceiros ou pela própria
A sustentação das constatações por meio de
equipe de auditoria.
evidências suficientes, adequadas e pertinen-
tes é a base de um trabalho de auditoria. Essa
sustentação se dá por meio de argumentos
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 53

Segundo os Padrões de Auditoria de seguinte (adaptado de BRASIL, 2010a):


Conformidade do TCU, papéis de trabalho for-
mam a • objetivo, escopo, cronograma e metodo-
logia do trabalho;
documentação que constitui o suporte de todo o tra-
balho desenvolvido pelo auditor, contendo o registro • matrizes de coleta e de análise de
de todas as informações utilizadas, das verificações a informações;
que procedeu e das conclusões a que chegou, inde-
pendentemente da forma, do meio físico ou das ca- • instrumentos de coleta de dados;
racterísticas. Consideram-se papéis de trabalho, entre
outros, planilhas, formulários, questionários preenchi- • resultados das técnicas de diagnóstico
dos, fotografias, arquivos de dados, de vídeo ou de áu- aplicadas;
dio, ofícios, memorandos, portarias, cópias de contra-
tos ou termos de convênio, matrizes de planejamento, • resultados de questionários, entrevistas,
de achados e de responsabilização. Ao final da audi- inspeções físicas e exames documentais
toria, todos os papéis de trabalho obtidos devem ser realizados;
classificados em transitórios ou permanentes (BRASIL,
2009, p.22). • resultados de análises estatísticas e de
banco de dados;
Um papel de trabalho é considerado perma-
nente se a informação nele contida foi utiliza- • matriz de constatações;
da para comprovar ou definir as questões e os
procedimentos de auditoria; para controlar, • análise da justificativa do auditado.
auxiliar ou documentar a execução da audito-
ria; ou ainda para evidenciar os achados. Se o Papéis de trabalho devem ser mantidos orga-
papel de trabalho não foi utilizado para nenhu- nizados e documentados porque oferecem su-
ma dessas finalidades, é transitório (BRASIL, porte a todo o processo de planejamento, exe-
2009). O órgão de auditoria deve definir se cução e supervisão da auditoria, contribuindo
os papéis transitórios devem ser descartados para a qualidade e a eficiência da auditoria,
imediatamente à aprovação do relatório de bem como subsidiam a elaboração do relatório
auditoria ou se devem ser armazenados por e a resposta a questionamentos do auditado
determinado tempo. ou de outras partes interessadas. Além disso,
favorecem a revisão da qualidade da auditoria
A equipe de auditoria tem a responsabilidade por terceiros, subsidiam a realização de novos
e a liberdade para definir a quantidade, o tipo trabalhos e contribuem para o desenvolvimen-
e o conteúdo da documentação. Entretanto, to profissional do auditor (BRASIL, 2010a).
recomenda-se documentar principalmente o
54 Fase Analítica da Auditoria – MÓDULO 3

A utilidade dos papéis de trabalho depende da Ao desenhar um papel de trabalho, o auditor


capacidade do órgão de auditoria de garantir a deve indicar no cabeçalho: órgão ou entidade
segurança, integridade, acessibilidade e recu- auditado; número da demanda registrada no
perabilidade das informações, seja em papel, SISAUD/SUS; título e código do papel de traba-
meio eletrônico ou outras mídias. A documen- lho; objeto auditado; período de realização da
tação de auditoria deve ser armazenada duran- auditoria; numeração da página no formato nº
te o tempo necessário para satisfazer exigên- folha/total de páginas. No rodapé, deve ser
cias legais e administrativas. indicado: nomes do executor e do revisor; e
data de preenchimento.
Projeto de papéis de trabalho
Todo papel de trabalho deve indicar: as fontes
Papéis de trabalho devem ser projetados par- dos dados; os documentos analisados e pes-
tindo-se da finalidade pretendida. A finalidade soas entrevistadas, conforme a finalidade do
do instrumento de coleta de dados que deve papel de trabalho; notas explicativas com es-
ser projetado pode ser verificada observando- clarecimentos sobre o conteúdo, quando ne-
se a matriz de coleta de dados, que sinaliza a cessário; e campo para referenciar outro papel
informação a obter, bem como o uso previsto de trabalho, quando for o caso.
na matriz de análise de informações. Pode-se utilizar folha mestra e folhas subsidiá-
rias quando cabível. A folha mestra serve para
A qualidade da documentação é fator essencial sintetizar o trabalho de análise realizado e as
da qualidade da auditoria como um todo. Nesse folhas subsidiárias registram detalhes da ma-
sentido, bons papéis de trabalho devem ser: téria objeto da folha mestra.

• completos, com início, meio e fim, de modo a 3.9 Relatório analítico


registrar os passos que o auditor planejou ou
utilizou para coletar e analisar informações; O relatório analítico é o principal produto da
fase analítica, e servirá de guia para a ação
• concisos, indicando registros sucintos, porém da equipe na fase analítica. Propõe-se, neste
suficientes para produzir evidências e emba- curso, ampliar o conceito de relatório analíti-
sar constatações; co vigente no DENASUS visando aumentar sua
capacidade de apoiar a equipe no trabalho de
• lógicos, construídos conforme a sequência campo.
natural dos fatos e o objetivo visado com o
respectivo procedimento; e Nesse sentido, o relatório analítico será consi-
derado como o agregado dos seguintes produ-
• precisos, isto é, não apresentar imperfei- tos gerados durante a fase analítica:
ções e incorreções.
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 55

a) visão geral do objeto e do problema de ser inapropriadas ou irregulares, permitindo


auditoria; à equipe elaborar hipóteses sobre possíveis
constatações a serem confirmadas ou não
b) matrizes de coleta e de análise de informa- com as verificações in loco.
ções validadas;
As matrizes de coleta e de análise de informa-
c) papéis de trabalho desenhados e testados; ções validadas, juntamente com o cronogra-
ma, são os instrumentos essenciais para guiar
d) cronograma detalhado da fase operativa o trabalho de campo e devem ser elaboradas
com indicação de responsáveis pela aplicação conforme discutido na seção 3.3. As matrizes
dos procedimentos de auditoria previstos; e servem para lembrar a equipe da estratégia
metodológica escolhida para obter evidências
e) estimativa de custos com diárias, passagens e construir constatações que responderão às
e outras despesas. questões de auditoria.

Preparar a visão geral do objeto a auditar O cronograma, além de indicar prazos para as
pressupõe fazer uso das informações levan- atividades, cumpre a função de indicar a me-
tadas preliminarmente, conforme descrito na lhor sequência para realização das atividades
seção 3.2. A visão geral permite compreender durante a fase operativa. Ao listar as ativida-
as características principais do que será audi- des, deve-se indicar o membro da equipe res-
tado, seja um órgão ou entidade, um processo ponsável por executar cada uma delas e se ha-
de trabalho, um serviço; a legislação e normas verá outro membro prestando apoio.
aplicáveis, que serão fontes de critérios; pro-
blemas de desempenho, impropriedades e ir- Quanto mais complexa e longa for a auditoria,
regularidades detectadas anteriormente; pon- mais importante será o uso de um cronograma.
tos fracos e deficiências de controle. Contudo, mesmo auditorias com fases operati-
vas reduzidas (menos de duas semanas) podem
Um mecanismo para compartilhar, no âmbito se beneficiar de um cronograma simplificado.
do DENASUS, o levantamento de informações
de auditorias com objetos similares pode en- A experiência em auditoria mostra que quan-
riquecer e agilizar a tarefa de construir a visão do a equipe se encontra no trabalho de campo,
geral. O texto da visão geral servirá para com- surgem fatos novos e imprevistos que exigem
por a versão final do relatório de auditoria. que os planos sejam alterados. A equipe deve
ter flexibilidade para, mantendo o foco no ob-
Deve-se atentar para o fato de que o levanta- jetivo da auditoria, fazer ajustes ao cronogra-
mento preliminar em sistemas de informação ma. (figura 22)
do SUS pode revelar transações que pareçam
56 Fase Analítica da Auditoria – MÓDULO 3

Auditoria: Operação da UPA 24h no Município de Abelhas.


Tarefa Responsável Colaborador Data Local
Receber documentos solicitados João 26/10/15 SMS
pelo CA nº 2
Entrevistar Secretário Municipal João Carlos Augusto 26/10/15 SMS
de Saúde
Entrevistar coordenador da UPA Ana Maria Janaína 26/10/15 UPA de Abelhas
24h
Realizar observação direta da Janaína João 27/10/15 UPA de Abelhas
recepção de pacientes
Realizar sondagem com Carlos Augusto Ana Maria 27/10/15 UPA de Abelhas
pacientes
Inspecionar instalações João Janaína 28/10/15 UPA de Abelhas

Examinar demonstrativo de Carlos Augusto 28/10/15


despesas da UPA

Figura 22 – Exemplo de cronograma de auditoria.

A preparação e validação de papéis de trabalho papéis de trabalho desenhados indicando


na fase analítica possibilitará à equipe condu- nome e finalidade e colocar todos os papéis
zir as fases subsequentes com maior qualida- como anexos do relatório analítico.
de e agilidade. O papel de trabalho mantém a
equipe focada nas informações que devem ser Por fim, deve-se estimar os custos com a audi-
buscadas, facilita sua coleta e organização e fa- toria de modo a contribuir para a gestão orça-
vorece a análise e a elaboração dos relatórios mentária do órgão de auditoria. A estimativa
preliminar e final. de custos é importante pois representa um fa-
tor de restrição à realização da auditoria.
Por outro lado, ir a campo sem papéis de tra-
balho torna caótica a coleta e a análise de da- Se o custo for maior do que a disponibilidade
dos. A falta de tempo para elaborar papéis de de recursos, deve-se rever o escopo do traba-
trabalho pode ser um dificultador quando não lho, reduzindo-se, por exemplo, o número de
existe um banco de papéis de trabalho na or- localidades visitadas. A disponibilidade redu-
ganização. Porém, se os papéis desenvolvidos zida de recursos pode reduzir o escopo a ponto
pelas equipes forem colocados à disposição de de a equipe não conseguir atender à demanda
todos os demais auditores, o órgão de audito- e à respectiva tarefa. O supervisor deve, por-
ria ganha em produtividade. tanto, tomar sua decisão buscando equilibrar
prazo, custo e escopo da auditoria. (figura 23)
Recomenda-se preparar um sumário dos
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 57

Auditoria: Operação da UPA 24h no Município de Abelhas.


Responsável Passagens Diárias Desconto Indenização Suprimento Adicional Outros Custo
(R$) (R$) Aux- Transporte de Fundo de custos Total
Aliment. (R$) (R$) Embarque (*) (R$)
(R$) (R$) (R$)
João Batista 1.200,00 1.650,00 (140,00) - 200,00 280,00 - 3.190,00

Ana Maria 1.200,00 (140,00) - - 280,00 - 2.990,00


Magalhães 1.650,00
Janaína - (140,00) 330,00 - - - 1.840,00
Barros 1.650,00
Carlos - (140,00) 330,00 - - - 1.840,00
Augusto 1.650,00
Feijó
-
TOTAL 9.860,00

Figura 23 – Exemplo de planilha de custos de uma auditoria.

O intenso envolvimento de toda a equipe na informações sobre um determinado conjunto


fase analítica, além de redundar num relatório de elementos com base na observação de ape-
analítico mais completo e apropriado, prepara nas alguns dos exemplares desse conjunto. As
os auditores para o trabalho de campo ao pro- técnicas de amostragem são utilizadas em dis-
piciar o desenvolvimento de uma compreen- tintos contextos, como quando uma empresa
são mais acurada sobre o que será feito. testa a sua linha de produção, observando a
qualidade de alguns produtos dentro de um
Não há qualquer ganho para a equipe e para o lote, ou quando institutos de pesquisas con-
órgão de auditoria encarar a elaboração do re- sultam um grupo de eleitores para antever o
latório analítico como uma tarefa pró-forma, resultado de uma disputa eleitoral, dentre ou-
a ser cumprida como obrigação anterior ao tras inúmeras situações.
início dos trabalhos de campo. O investimento
de tempo e de labor criativo na construção do Em vez de verificar a condição de apenas parte
relatório analítico traz ótimo retorno na forma do grupo estudado, por meio de uma amos-
de agilidade e qualidade na fase operativa e na tra, pode-se optar por observar todos os ele-
elaboração do relatório final. mentos constantes do grupo avaliado (100%).
Nesse caso, fala-se de censo, que é a obser-
3.10 Amostragem vação de todos os elementos existentes ou
acessíveis.
A amostragem é utilizada para produzir
58 Fase Analítica da Auditoria – MÓDULO 3

Os censos são vantajosos quando a população menor escala, realizadas por amostragem, em
é pequena o suficiente para permitir a análi- geral, permitem a contratação de profissionais
se de todos os elementos, quando o tamanho com maior experiência e, também, maior in-
amostral necessário para permitir a inferência vestimento em sua capacitação. Com isso, há
estatística é muito próximo ao tamanho da uma tendência de melhor qualidade dos dados
própria população, ou quando uma caracte- coletados em levantamentos amostrais.
rística particular que se está estudando é tão
rara, que não permitiria um número mínimo As técnicas de amostragem podem ser divi-
de casos para análise caso se utilizasse uma didas em dois grandes grupos: a amostragem
amostra. Existem situações, ainda, em que probabilística, também denominada estatís-
os elementos que compõem a população são tica; e a amostragem não probabilística. A
importantes por si mesmos e o levantamento amostragem probabilística prevê a seleção de
dos dados relacionados a todos são essenciais indivíduos por meio de métodos aleatórios, de
aos objetivos do trabalho. forma a assegurar que a amostra é represen-
tativa da população da qual foi retirada e, por
Na prática, em auditoria, em função da limita- isso, permite a generalização dos resultados
ção de recursos, a realização de censos torna- amostrais. A amostragem não probabilística,
se possível apenas quando a população de in- por sua vez, não permite a generalização au-
teresse é pequena. Nesse caso, a equipe tem tomática dos resultados. É adequada ao enfo-
condições de analisá-la por completo. que de avaliação qualitativo, sendo mais con-
veniente quando se requer escolha controlada
Por outro lado, os levantamentos amostrais de indivíduos com determinadas característi-
podem apresentar vantagens sobre os cen- cas, como criminosos, pacientes etc.
sos. Por exemplo, os censos possuem fortes
requisitos técnicos e administrativos. Esses Amostragem não probabilística
requisitos nem sempre são perfeitamente se-
guidos em grandes populações em função da A amostragem não probabilística é desenvolvi-
dificuldade em se manter o adequado nível de da com o objetivo de analisar um grupo de ele-
qualidade em todos os testes aplicados. Isso mentos pertencentes a uma população, mas
significa que a qualidade e a confiabilidade dos não obedece a regras estatísticas de seleção
dados coletados em um censo mal executado dos elementos que permitam que as conclu-
podem vir a ser menores do que aquelas ob- sões observadas na amostra possam ser esten-
tidas em um trabalho menor e mais manejá- didas automaticamente ao restante da popu-
vel como a amostragem. Normalmente, nos lação. Na amostragem não probabilística ou
levantamentos censitários necessita-se a con- não estatística, a seleção dos elementos para a
tratação de uma grande quantidade de pes- análise ocorre de forma não aleatória e segun-
quisadores. Por outro lado, as pesquisas em do critérios definidos caso a caso. Portanto,
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 59

amostra não probabilística é um subgrupo da para compor uma amostra. Essa forma de se-
população no qual a escolha dos elementos leção geralmente é feita em função de limita-
não depende da probabilidade de seleção, e ções de tempo ou de recursos impostos aos
sim das características da pesquisa. trabalhos de pesquisa. Assim, processos de
uma mesma unidade ou com localização ge-
A amostragem não probabilística pode ser uti- ográfica acessível podem ser priorizados por
lizada em diversas situações, como, por exem- serem menos onerosos, mesmo com o conhe-
plo, quando a pesquisa não tem interesse em cimento de que eles podem não refletir a re-
estudar todo o universo e a amostra não pre- alidade que se apresenta em todo o universo
cisa ser representativa da população; os obje- desses processos. Os elementos são incluídos
tos podem ser raros ou difíceis de localizar; a na amostra por conveniência. A vantagem da
pesquisa precisa se basear em respondentes amostragem por conveniência é a facilitação
voluntários; a pesquisa busca identificar al- da seleção amostral e da coleta de dados.
guns casos individuais que são materiais ou
relevantes por si próprios; os pesquisadores Outra técnica não probabilística é a amostra-
entendem que alguns elementos precisam gem por julgamento. Nela, o conhecimento e
ser analisados por possuírem indicativos de a experiência dos profissionais envolvidos na
irregularidade; ou quando os pesquisadores pesquisa orientam a escolha dos itens. Neste
desejam apenas descrever uma determinada método a seleção dos elementos é funda-
questão, sem quantificá-la. mentada apenas no juízo, na capacidade e
na experiência do pesquisador ou de um es-
A amostragem não probabilística não impli- pecialista, que julgam quais elementos mais
ca, necessariamente, no abandono de abor- apropriados para o estudo ou exame em ques-
dagens sistemáticas de seleção para permitir tão. Por exemplo, em uma auditoria, o auditor,
a escolha de elementos específicos. Para ser com base no seu conhecimento sobre o tema,
bem executada, ela demanda o tratamento pode optar por investigar aqueles elementos
das informações e conhecimento suficiente considerados mais típicos do universo pesqui-
acerca da população para identificar os casos sado, mais materiais ou, ainda, que tenderiam
capazes de fornecer informações relevantes a apresentar os maiores problemas.
para o alcance dos objetivos da auditoria.
Na amostragem bola de neve o pesquisador
Nesse sentido, duas alternativas de ação co- identifica, inicialmente, apenas alguns ele-
muns em auditorias são a seleção de itens com mentos populacionais e entra em contato
base na conveniência ou no conhecimento e com eles. Nesse primeiro contato, solicita-se
experiência dos profissionais envolvidos. A aos elementos selecionados que indiquem ou-
amostragem por conveniência ocorre quando tros possíveis membros da população, e assim
os elementos mais acessíveis são escolhidos sucessivamente. Dessa forma, os elementos
60 Fase Analítica da Auditoria – MÓDULO 3

entrevistados indicam novos elementos re- desse tipo de amostragem como substituto
petidamente até que seja obtido um “ponto da amostragem aleatória é tema controverso
de saturação”, o que ocorre quando novos entre especialistas no tema. Os defensores ar-
entrevistados passam a repetir opiniões ou gumentam que é eficiente e barato e permite
informações já levantadas por participantes estudos que poderiam ser impossíveis de ou-
anteriores. tra forma. Os críticos, incluindo a maioria dos
estatísticos, argumentam que os resultados
Esse tipo de seleção é bastante utilizado para não são significativos, pois não podem ser es-
a realização de entrevistas com pessoas parti- tatisticamente generalizados.
cipantes de grupos não formais, sobre os quais
os pesquisadores encontram dificuldade em O método dos casos críticos é utilizado quando
definir um contorno adequado para a popu- o pesquisador busca conhecer casos essenciais
lação e em identificar todos os seus elemen- ou chave para compreender como ou por que
tos. Um exemplo de utilização de amostragem um determinado fenômeno ocorreu de forma
bola de neve é a realização de pesquisas sobre diferente daquela que se esperava que ele ti-
o uso de drogas, em que se procura entrevis- vesse ocorrido. Ou seja, os elementos são es-
tar grupos de usuários de drogas e se solicita colhidos dentre aqueles que apresentam com-
que indiquem outros usuários para a continui- portamento não usual, ou raro. Esse seria o
dade da pesquisa. caso de escolher objetos de auditoria em que
já há indícios de irregularidades, ou denúncias.
Na amostragem por cotas, busca-se obter uma
amostra que se assemelhe à população no que Nesses casos, faz-se necessário que a equipe
diz respeito a um determinado conjunto de fa- explicite essa limitação em seu relatório, para
tores. São consideradas várias características evitar generalizações inadequadas por parte
da população, tais como sexo, idade, nível de do leitor e para evidenciar o verdadeiro alcan-
renda, localização geográfica, dentre outros. ce das conclusões obtidas.
Ou seja, as amostras são preenchidas por quo-
tas de acordo com a proporção de certas vari- Auditorias que utilizam amostragem não pro-
áveis demográficas na população. Isso significa babilística, mesmo não podendo fornecer
que se faz necessário um conhecimento prévio conclusões definitivas sobre o universo estu-
das características da população ao se empre- dado, podem produzir informações e indicati-
gar esta técnica. vos relevantes para a compreensão dos itens
observados e gerar evidências qualitativas im-
A amostragem por quotas é considerada não portantes, que podem ser corroboradas por
probabilística em função de os elementos que outras evidências, ou pela confirmação dos
irão compor a amostra não serem seleciona- gestores.
dos de forma aleatória. A validade da utilização
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 61

Amostragem probabilística a partir do qual possa ser realizado o sorteio


aleatório dos elementos.
Na amostragem probabilística a seleção dos
elementos que irão compor a amostra deve As principais vantagens da amostragem alea-
ocorrer de forma aleatória. O pressuposto tória simples são:
para que isso ocorra é que uma amostra de ta-
manho adequado retirada aleatoriamente de a) produz estimativas confiáveis para a
uma população conterá, em regra, caracterís- população;
ticas muito similares às observadas na popu-
lação, funcionando como uma representação b) é simples de calcular e de interpretar os
adequada da mesma. resultados;

Amostras selecionadas de forma aleatória c) é a base para estratégias de amostragem


têm como objetivo evitar a produção de con- mais complexas e sofisticadas.
clusões enviesadas. Um estudo é considera-
do enviesado se, de alguma forma, favorece Uma das limitações dessa técnica é que ela de-
o aparecimento de determinados resultados. pende da existência de um cadastro atualizado
Por exemplo, quando se deseja avaliar uma com dados de toda a população que permita
determinada característica na população de a realização da seleção aleatória. Além disso,
um município, mas são selecionados elemen- a amostragem aleatória simples pode não ser
tos situados apenas em um único bairro, tais exequível em levantamentos amostrais abran-
elementos refletem apenas a realidade daque- gentes, por exemplo, de caráter nacional, que
la região e não de todo o município. requerem a aplicação de muitos questionários
em campo. Os custos com deslocamentos se-
Existem diversas técnicas para obtenção de riam enormes, já que haveria grande probabi-
uma amostra probabilística. Nesse curso vere- lidade de grande número de municípios com
mos apenas a amostragem aleatória simples. apenas um elemento selecionado.
A amostragem aleatória simples é uma técni-
ca em que a seleção é realizada de maneira Qual técnica é a mais adequada? O que é ne-
aleatória e cada elemento da população tem cessário para calcular o tamanho da amostra
a mesma chance de ser selecionado para com-
por a amostra. A primeira pergunta a ser respondida é se a
equipe pretende generalizar as conclusões
Para que a amostragem aleatória simples pos- dos exames. Caso a questão de auditoria exi-
sa ser realizada, é necessário que o pesquisa- ja o exame de casos específicos ou a gene-
dor disponha de um cadastro que relacione ralização não traga nenhum ganho real para
todos os elementos existentes na população, os achados, deve-se optar por amostras não
62 Fase Analítica da Auditoria – MÓDULO 3

probabilísticas. Contudo, se a pretensão for Por exemplo, se o nível de confiança deter-


emitir um juízo sobre a situação da popula- minado for de 95%, isso significa que o parâ-
ção, como por exemplo “as unidades móveis metro populacional estará verdadeiramente
do SAMU ficaram em média 38 dias paradas contido no intervalo de confiança estimado
para algum tipo de conserto”, então deve-se com base em 95% das amostras possíveis de
buscar uma amostra probabilística. tamanho “n” para aquela população. Contudo
esse parâmetro não estará contido no interva-
Outro componente do delineamento amos- lo encontrado com base em 5% das amostras
tral é a definição do grau de tolerância a erro possíveis, por serem elas insuficientemente
que a equipe de auditoria estará disposta a representativas da população. Caso uma des-
assumir. sas amostras não representativas tenha sido
escolhida ao acaso, seus dados não produzirão
Em levantamentos amostrais, as conclusões inferências corretas.
obtidas sempre contêm alguma imprecisão,
ou seja, sempre estarão sujeitas a algum nível Sendo assim, ao se fazer uma inferência esta-
de erro. A vantagem das amostras estatísticas tística, é sempre necessário deixar claro que
é que elas permitem que tal imprecisão seja aquela afirmação tem apenas um determina-
definida e seja transparente. Assim, uma vez do nível de confiabilidade, e que sempre esta-
que se optou por uma amostra probabilística, rá sujeita a erros.
a equipe deve definir que nível de impreci-
são vai adotar para o cálculo do tamanho da Níveis de confiança muito próximos de 100%
amostra. Quanto maior o nível de precisão, exigirão amostras muito grandes, enquanto
maior o tamanho da amostra necessário para níveis inferiores podem não satisfazer o grau
garanti-lo. Por outro lado, não se deve admi- de segurança requerido. Observe que caso se
tir níveis de erro muito elevados, sob pena de deseje reduzir o tamanho de uma amostra, va-
enfraquecimento das conclusões do trabalho riando margem de erro ou nível de confiança,
ou da opinião a ser emitida. do ponto de vista matemático, é preferível fi-
xar o nível de confiança e aumentar a margem
Para a definição dos níveis aceitáveis de erro, de erro. Isso porque o tamanho da amostra
deve-se considerar os recursos humanos, fi- é bem mais sensível a essa última medida.
nanceiros e de tempo disponíveis. Além de Pequenos aumentos na margem de erro pro-
uma margem de erro definida, a equipe tam- vocam reduções consideráveis no tamanho da
bém deve definir um determinado nível de amostra.
confiança. O nível de confiança é expresso em
termos percentuais e representa a proporção Por fim, para determinar o tamanho da amostra
de amostras cujo intervalo de confiança deve- é preciso saber o grau de variabilidade de cada
rá conter o valor do parâmetro populacional. informação que será coletada ou a variância
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 63

da população. Como essa informação dificil- suficientemente representativos da popula-


mente estará disponível, uma vez que não se ção e permitam a realização de inferências.
dispõe de informações sobre toda população, Por outro lado, uma população mais homogê-
a equipe precisará ser capaz de estimar a vari- nea, com baixa variância, necessitará de uma
ância das variáveis a serem coletadas. menor quantidade de elementos para compor
uma amostra que represente adequadamente
A variância é uma medida de dispersão que in- a população.
dica o quão distante estão os diversos dados
em relação ao valor médio da variável estu- Uma das formas de se estimar a variância da
dada. Alta variância indica que os elementos população de interesse é pesquisar estudos
assumem valores muito diferentes entre si; anteriores sobre o mesmo assunto. Caso es-
enquanto uma variância baixa indica que os tudos anteriores não estejam disponíveis, ou-
valores apresentados encontram-se mais con- tra opção a que se pode recorrer é procurar
centrados, especificamente, em torno do valor estimar a variância da população por meio da
médio. aferição dos dados para uma amostra piloto
de tamanho reduzido. O procedimento con-
A variância pode ser calculada pela seguinte siste em testar uma quantidade de elemen-
fórmula: tos amostrais sorteados aleatoriamente. Com
base nos valores observados, calcula-se a vari-
ância desses elementos e adota-se a variância
obtida como uma aproximação para a variân-
cia populacional a ser utilizada no cálculo da
dimensão amostral. Para que possa ser consi-
derada válida, a amostra piloto deve conter,
ao menos, trinta elementos.

Onde: Os elementos testados por meio da amostra


σ2 = variância populacional piloto, desde que tenham sido selecionados
xi = valores observados de forma aleatória, podem ser aproveitados
μ = valor médio na amostra final. Ou seja, a equipe pode con-
N = total de observações siderar a quantidade de elementos analisados
na amostra piloto na contagem total de ele-
A variância impacta diretamente no tama- mentos que deverão compor a amostra.
nho da amostra, pois uma população com
alta variância irá gerar amostras de tamanhos Outra alternativa para a estimativa da vari-
maiores, uma vez que será preciso selecio- ância para ser utilizada no cálculo da dimen-
nar diversos elementos para que eles sejam são amostral, é a adoção da chamada solução
64 Fase Analítica da Auditoria – MÓDULO 3

conservadora. Nesse caso, utiliza-se o máxi-


mo valor que a variância pode assumir, para
obter o tamanho de amostra necessário
para realizar inferências para quaisquer po-
pulações, mesmo aquelas com alta variabi-
lidade. Entretanto, essa solução somente é
válida quando se pretende estimar propor-
ções, por exemplo, o percentual de irregu- Onde:
laridades em convênios, em que se admitem n = tamanho da amostra;
apenas duas alternativas como resposta, z = fator “z”,
“conforme” ou “não conforme”. Na solução σ2= variância populacional;
conservadora assume-se que a variabilidade e = margem de erro.
é máxima, que ocorre quando metade dos
casos examinados assume uma resposta e a Observe que a fórmula não faz referência
outra metade a resposta oposta. Isso equi- ao tamanho da população. Essa fórmula é
vale a uma a variância de 0,25. usada para populações muito grandes em
relação ao que se espera do tamanho da
Calculando o tamanho da amostra amostra. Caso a população seja pequena
em relação ao tamanho da amostra espe-
Para o cálculo do tamanho da amostra além rado, ou seja, a população é finita, usa-
do erro amostral, do nível de confiança e da mos uma outra fórmula apresentada mais
variância da população, também importa abaixo.
saber se a população é finita ou não. Para
populações infinitas e, para fins práticos, O fator “z” está relacionado com o nível de
populações muito grandes em relação ao confiança. Tecnicamente, ele representa
tamanho da amostra que se pretende sele- a quantidade de desvios-padrão distantes
cionar, o tamanho da população não é leva- do ponto médio de uma distribuição nor-
do em conta. mal. Quanto maior o fator “z” maior a área
Além disso, a forma de calcular o tamanho sob a curva normal até “z”. Cada nível de
da amostra depende se o que se pretende confiança define uma determinada área, e,
obter do conjunto de dados é uma média portanto, um determinado fator “z”. Para
ou uma proporção. Vejamos cada caso. fins práticos, na maioria dos casos utiliza-
mos os seguintes valores:
Cálculo da amostra aleatória simples
para médias

A fórmula básica a ser empregada é a seguinte:


MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 65

Tabela 1 - Fator “z” relativo aos níveis de


No caso da solução conservadora, teremos:
confiança mais usuais.

Nível de confiança z p = 0,5 e p.(1-p) = 0,25.


90% 1,64
95% 1,96 Da mesma forma que para o cálculo de estima-
99% 2,58 tivas para a média, pode ser necessário corri-
gir o valor final do tamanho da amostra para
Para outros níveis de confiança o fator “z” populações finitas. Nesse caso, a fórmula para
equivalente é obtido por meio do uso de uma cálculo do tamanho da amostra adquire a se-
tabela construída com essa finalidade. guinte configuração:

Se a amostra esperada é significativa, maior


que 5% do tamanho da população, devemos
usar um fator de correção para populações fi-
nitas, que considera o tamanho da população. Cálculo da amostra aleatória simples para
Então, a fórmula a ser usada passa a ser a se- proporções múltipla
guinte, sendo que “N” representa o número
de indivíduos da população: Esse é o caso quando a população pode ser
dividida em mais de dois subgrupos em fun-
ção dos valores assumidos por determinada
variável. Por exemplo, suponha que se deseje
saber a opinião dos diretores clínicos dos hos-
pitais sobre determinada política do Ministério
da Saúde, e para isso, elabora-se uma questão
que permite que os entrevistados escolham
Cálculo da amostra aleatória simples para uma entre as seguintes alternativas: “concor-
proporções simples do”, “concordo parcialmente”, “não concor-
do”, ou, ainda, “não conheço a medida”. Nesse
Toda a análise realizada para cálculo do tama- caso, a variável poderia assumir uma das qua-
nho das amostras também é válida quando tro opções para cada indivíduo da população.
se realiza a estimação de proporções simples.
Contudo, nesse caso precisamos realizar uma Considere que quanto maior o número de
pequena mudança nas fórmulas utilizadas: alternativas possíveis, maior o tamanho da
amostra. Portanto, ao se aumentar o núme-
ro de categorias, para se obter uma estimação
com a mesma margem de erro e intervalo de
confiança, será preciso uma amostra maior.
66 Fase Analítica da Auditoria – MÓDULO 3

A fórmula empregada para calcular mais de duas proporções, utiliza um fator z’ que é obtido a
partir do fator “z”. Esse ajuste é uma função da quantidade de categorias utilizadas, representa-
das por “k”.

Assim, a fórmula para se calcular o tamanho da amostra em proporções múltiplas passa a ser:

Para calcular “z’ ” é preciso, antes, calcular a área crítica relativa ao nível de confiança desejado,
por meio da seguinte fórmula:

Onde:
k = número de categorias;
(1-α) = nível de confiança.

A fórmula acima fornece o valor da área crítica. Esse valor deve ser, então, subtraído da área da
metade da curva normal, que, como vimos, é 0,5. O valor resultante permite achar o valor de “z’
” numa tabela específica construída para facilitar o uso.

Por exemplo, para 95% de nível de confiança e supondo k = 4, teremos:

Então, a área que define “z’ ” será: 0,4915 (0,5 – 0,00848). Pela tabela abaixo essa área corres-
ponde a um fator “z’ ” de 2,39.
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 67

Tabela 2 – Áreas de uma distribuição normal padrão

Fonte: ANDERSON; SWEENEY; WILLIAMS, 2007. p. 531

É interessante observar que, para o mesmo nível de confiança, 95%, obtivemos um fator “z’ ”
maior que o fator “z” habitual, o que implicará, também, uma amostra maior, uma vez que o
tamanho da amostra é diretamente proporcional a “z”.

Como decorrência disso, ao se utilizar questionário com várias perguntas, o tamanho da amostra
deverá ser calculado considerando a questão com maior quantidade de opções de resposta, que
é a que exigirá um tamanho de amostra maior.

Como nos casos anteriores, a fórmula para o cálculo do tamanho da amostra pode necessitar
ser ajustada, considerando o tamanho da população. Nesse caso, a fórmula a ser utilizada é a
seguinte:
68 Fase Analítica da Auditoria – MÓDULO 3

Finalmente, obtendo a amostra

Para gerar uma lista aleatória, a forma mais fácil é utilizar o Excel. Abaixo segue um passo a passo.

1. Insira uma coluna antes da coluna que contém os dados (selecione a coluna com os dados,
clique com o botão direito do mouse e clique em “inserir”)

2. Na primeira célula dessa nova coluna insira a função de aleatoriedade:

Atenção ao segundo número do par ordenado. Ele deve ser muito maior que o tamanho da
população para evitar repetições.
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 69

3. Arraste a fórmula para as outras linhas (selecione a célula, clique com o botão esquerdo do
mouse no canto inferior direito da célula e arraste até a última linha com dados). O resultado
ésemelhante ao mostrado na tela a seguir:
70 Fase Analítica da Auditoria – MÓDULO 3

4. Selecione a coluna com os números gerados, clique com o botão direito e depois em “Copiar”
na janela que vai aparecer. Selecione novamente a mesma coluna, clique com o botão direito
e depois em “Colar Especial” na janela que vai aparecer. Selecione “Valores” e clique em “OK”.
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 71

5. Selecione novamente a coluna com os números aleatórios, clique em “Classificar e Filtrar”, e


depois em “Classificar do menor para o maior”

No quadro aviso de classificação, selecione “Expandir a Seleção” e clique em “ Classificar”.

6. Pronto, agora use os n primeiros números como os elementos da sua amostra de tamanho n.

Importante
É desejável que os auditores tenham noções de estatística
para poderem tomar decisões sobre como utilizar amostragem
em trabalhos de auditoria. Ainda assim, recorrer ao apoio de
um especialista em estatística pode ser útil para assegurar a
qualidade da amostragem.
72 Fase Operativa da Auditoria – MÓDULO 4

MÓDULO 4
FASE OPERATIVA
DA AUDITORIA
Este capítulo está organizado para apoiar o desenvolvimento do módulo 4 em sala de aula, cujo
objetivo é de preparar os participantes para discutir com propriedade os procedimentos neces-
sários para a condução da fase operativa de uma auditoria. O capítulo é composto pelas seguin-
tes seções e objetivos de aprendizagem:

Sessão Objetivos de aprendizagem


Os participantes deverão ser capazes de discutir como proceder
durante o trabalho de campo, em especial quanto a emitir comunicado
Trabalho de
de auditoria, guiar a ação com base no cronograma e nas matrizes de
campo
coleta e de análise e informações, lidar com fatos alheios ao escopo da
auditoria descobertos in loco e relacionar-se com o auditado.
Os participantes deverão ser capazes de caracterizar a constatação
Evidências e com base no confronto entre evidências e critérios de auditoria, bem
constatações como de identificar as limitações impostas pelas evidências para a
sustentação da constatação.
Matriz de Os participantes deverão ser capazes de construir uma matriz de
constatações constatações, avaliar sua consistência e propor ajustes.

Dada uma matriz de constatações, os participantes deverão ser capazes


Relatório
de sintetizar, no relatório preliminar, as constatações preliminares
preliminar
obtidas nos trabalhos de verificação in loco.


A fase operativa corresponde à execução do que foi planejado na fase analítica. O objetivo
central nessa fase é obter evidências para caracterizar as constatações de forma consistente.
Evidenciação insuficiente compromete seriamente a qualidade da auditoria.

Para que possa ser bem-sucedida nesse intento, a equipe de auditoria deve pautar sua ação pelas
matrizes de coleta e análise de informações e executá-la dentro do cronograma desenvolvido. Os
principais produtos dessa fase da auditoria são a matriz de constatações e o relatório preliminar,
que sistematizam as constatações de auditoria e suas evidências.
MÓDULO 4 – Fase Operativa da Auditoria 73

Figura 24 – A fase operativa dentro do ciclo de auditoria.

A interação com o auditado é um ingrediente e focalizadas em questões de auditoria bem


fundamental para o sucesso do trabalho, daí formuladas contribuem sobremaneira para o
a importância de manter relacionamento co- sucesso do trabalho de campo. Papéis de tra-
operativo baseado no profissionalismo e cor- balho desenhados para viabilizar os procedi-
dialidade, desde a reunião de abertura até o mentos indicados nas matrizes são outro fator
encerramento da auditoria. fundamental para a agilidade e qualidade do
trabalho.
4.1 Trabalho de campo
Antes de a equipe ir a campo, o órgão de au-
O desenvolvimento do trabalho de campo é ditoria deve emitir um ofício de comunicação
bastante influenciado pelo que a equipe con- para informar ao gestor que será realizada
seguiu realizar na fase analítica. Um relatório auditoria em seu estado, município ou uni-
analítico que proporcione uma visão geral sufi- dade de serviço em determinado período.
ciente do objeto a auditar aliado a matrizes de Normalmente o ofício é acompanhado de um
coleta e análise de informações consistentes comunicado de auditoria (CA) por meio do
74 Fase Operativa da Auditoria – MÓDULO 4

qual se solicitam informações e documentos pessoa de contato. O agendamento deve se


previstos na matriz de coleta. dar antes da equipe se deslocar, visando asse-
gurar que as pessoas estarão disponíveis.
O CA deve ser enviado previamente para que
a documentação solicitada seja providenciada Ao chegar à unidade auditada para iniciar o
com antecedência. Esse prazo deve ser razo- trabalho de campo, realiza-se reunião de aber-
ável para o auditado. Se a quantidade de in- tura. Nesse encontro com o auditado, o coor-
formações e documentos permitir prever que denador comunica o início da auditoria, apre-
o auditado necessitará de certo tempo para senta a equipe e descreve o trabalho que será
levantar as informações e copiar documentos, realizado, especificando objetivos, escopo e
não adianta mandar o CA estabelecendo prazo critérios da auditoria.
exíguo para a resposta.
A equipe deve sempre esclarecer ao auditado
Para ir a campo, a equipe deve levar o essen- que a finalidade última da auditoria é a melho-
cial para orientar e apoiar sua ação: ria da gestão do SUS, quer seja a auditoria de
desempenho ou de conformidade. Essa decla-
a) cópia do ofício de comunicação e do comu- ração visa deixar o auditado menos desconfor-
nicado de auditoria emitidos; tável diante da iminência de os pontos fracos
de sua gestão virem a ser revelados, já que es-
b) matrizes de coleta e de análise de ses pontos fracos serão objeto de análise e de
informações; recomendações de modificação.

c) cronograma; A reunião de abertura também é aproveitada


para recolher documentos que o coordenador
d) papéis de trabalho desenvolvidos (roteiros possa ter solicitado previamente por meio de
de entrevista, planilhas para exame documen- um CA e solicitar recursos para a realização da
tal, roteiros de inspeção física etc.); auditoria. Entre os recursos que podem ser so-
licitados estão:
e) gravador e máquina fotográfica, cujas fun-
ções são facilmente substituídas por um bom a) local para trabalhar com telefone e internet,
celular com aplicativo de gravação de voz e fo- se necessário;
tografia. Assegure-se de que os equipamentos
sempre estejam com bateria carregada e me- b) apoio logístico da entidade auditada, como,
mória livre para novas gravações; por exemplo, para distribuir questionários de
pesquisa e acompanhar os auditores;
f) agenda de locais a visitar e de pessoas a en-
trevistar, com endereço, nome e telefone da c) indicação de pessoa de contato para as
MÓDULO 4 – Fase Operativa da Auditoria 75

demandas de auditoria; e para violar princípios éticos e demonstrar in-


dependência e imparcialidade são indicativos
d) indicação de pessoas-chave nos processos de comportamento ético e profissional essen-
de trabalho estudados que podem vir a ser ciais para cultivar a credibilidade junto ao au-
consultadas ou entrevistadas. ditado e a terceiros.

O relacionamento com o auditado deve es- Mantendo o foco


timular a atitude de cooperação entre as
partes, em prol dos objetivos da auditoria. A fase operativa deve ser conduzida
Profissionalismo e cortesia favorecem a coope- com objetividade e eficiência. Muitas vezes,
ração e devem ser demonstrados em todos os o tempo disponível em campo é reduzido, e
momentos em que o auditor se relaciona com deve ser bem aproveitado para coletar as in
o auditado. O auditor demonstra profissiona- formações conforme o que foi planejado.
lismo sendo claro com o auditado a respeito
dos objetivos e procedimentos de auditoria,
bem como preparando-se adequadamente Importante
para realizar a auditoria de forma a conhecer
sobre o que vai auditar e como o fará.
Quando se sai a campo sem saber
A atitude de cortesia também contribui para exatamente o que se está buscan-
um bom relacionamento com o auditado. O do, a tendência é de recolher infor-
auditor deve manter atitude serena e tratar de mações desnecessárias e deixar de
forma justa e equilibrada a todos com os quais obter informações importantes.
se relaciona profissionalmente. Deve evitar
tanto manter-se demasiadamente próximo a As matrizes de coleta e de análise
ponto de desenvolver uma relação de intimi- de informações contribuem para
dade com o auditado, quanto se colocar em manter o foco no que é importante
posição de superioridade, com arrogância. para a auditoria.

Uma habilidade importante na condução da


auditoria é saber ouvir com atenção e evitar Os instrumentos desenvolvidos para assegurar
falar mais do que o necessário. O auditor deve objetividade e eficiência no trabalho de cam-
evitar falar de suas impressões pessoais ou po são as matrizes de coleta e de análise de
emitir qualquer juízo de valor sobre o que está informações, os papéis de trabalho e o crono-
sendo abordado. grama. A matriz de coleta contribui para man-
ter o foco porque indica que informações de-
Agir com integridade a fim de evitar pressões vem ser buscadas, em quais fontes e por quais
76 Fase Operativa da Auditoria – MÓDULO 4

meios. Toda informação não prevista nessa


matriz, em princípio, não seria de interesse da Importante
equipe. Contudo, isso deve ser analisado caso
a caso, visto que a capacidade de previsão do
Utilizar um cronograma permite
que pode ser útil para responder às questões
delegar atividades, evitando sobre-
de auditoria é limitada.
carga do coordenador, e assegurar
que o que é importante não deixe
Nem sempre as condições de execução do
de ser feito.
trabalho de campo imaginadas pela equipe na
fase analítica se confirmam. A realidade en-
contrada em campo pode mostrar que a ob- informações que requerem contato com re-
tenção de alguma informação não é possível presentantes do auditado ou que interfiram
segundo o procedimento de coleta planejado. nas rotinas da unidade devem ser comuni-
Nesse caso, cabe à equipe identificar se há ou- cadas previamente. Se houver impedimento
tra forma de obter a informação, especialmen- a que as atividades se realizem do modo pro-
te se a informação for essencial para caracteri- gramado, isso deve ser ajustado na reunião de
zar uma possível constatação abertura ou imediatamente após, de comum
acordo com o auditado.
Os papéis de trabalho desenhados têm o poder
de conferir eficiência ao processo de coleta ao Imprevistos que ocorrem durante a fase ope-
indicar como as informações devem ser obti- rativa podem levar a equipe a alterar o cro-
das (perguntas de uma entrevista, por exem- nograma. Deve-se cuidar para que eventuais
plo) e organizadas. Não contar com papéis de alterações não afetem o prazo previsto para o
trabalho para coletar e organizar informações trabalho de campo nem ameacem o alcance
torna o processo confuso e ineficaz. do objetivo da auditoria.

Ao lado das matrizes e dos papéis de trabalho, Um tipo de imprevisto ocorre quando a equi-
o cronograma é outro instrumento que auxilia pe se depara com fatos alheios ao escopo do
a equipe a manter o foco no que foi planeja- trabalho, porém relevantes. O que fazer? Duas
do ao indicar a sequência de atividades e os opções se apresentam. A primeira seria regis-
responsáveis por elas. É importante mesmo trar sucintamente o fato por meio de notas e
quando a auditoria é simples e o período de fotografias e relatá-lo ao supervisor, que irá
verificação in loco é reduzido. Em auditorias decidir se isso poderá ser abordado em outra
complexas e mais demoradas, cronograma é ação de controle.
imprescindível.
A segunda opção é abordar o fato inesperado
A realização das atividades de coleta de na auditoria em curso, desde que as seguintes
MÓDULO 4 – Fase Operativa da Auditoria 77

condições estejam presentes: 4.2 Evidências e constatações

a) se o fato estiver muito próximo do escopo O foco de uma auditoria está em obter evi-
previsto e puder se constituir no núcleo de uma dências de que a situação do objeto auditado
nova constatação; atende ou não ao critério aplicável. Segundo a
publicação Auditoria do SUS,
b) se houver tempo para recolher evidências
que permitam confirmar essa constatação; e A essência da fase operativa é a busca de evidências
que permitem ao auditor formar convicção sobre os
c) se isso não prejudicar a coleta de evidências fatos. As evidências são as informações que funda-
já planejada. mentam os resultados de um trabalho de auditoria. A
obtenção e a análise de dados é um processo con-
No caso de incorporar o fato novo à auditoria, tínuo, que inclui a coleta e a reunião de documentos
as matrizes de coleta e de análise devem ser comprobatórios dos fatos observados, cuja análise e
atualizadas. interpretação têm como objetivo fundamentar o posi-
cionamento da equipe de auditoria sobre os fatos au-
Terminado o período das verificações in loco, é ditados. As evidências validam o trabalho do auditor,
recomendável realizar reunião de encerramen- sendo consideradas satisfatórias quando reúnem as
to para informar ao auditado sobre os próximos características de suficiência, adequação e pertinência
passos, inclusive o envio de relatório preliminar (BRASIL, Ministério da Saúde, 2011, p.22).
para que ele tome conhecimento do que foi en-
contrado pela equipe de auditoria e a possibili- Ao resultado da comparação entre critério e
dade de ele oferecer justificativas para o caso situação encontrada dá-se o nome de consta-
de não conformidades. tação. Uma constatação pode ser conforme,
quando a situação atende ao critério, ou não
Possíveis constatações podem ser apresentadas conforme, quando há discrepância entre situ-
nessa reunião verbalmente, dando ao auditado ação e critério. São elementos da constatação
a oportunidade de prestar algum esclarecimen- a situação do objeto, carcaterizada por evidên-
to útil às análises da equipe. Deve-se deixar cla- cias, o critério que define a situação ideal do
ro que as constatações são preliminares e que objeto, a causa que levou à situação e o efeito
poderão vir a ser confirmadas ou excluídas em gerado (figura 25).
virtude de análise mais aprofundada.

A depender da gravidade da constatação, prin-


cipalmente se envolver devolução de recursos,
deve-se optar por não relatá-la nessa ocasião,
deixando isso para o relatório preliminar.
78 Fase Operativa da Auditoria – MÓDULO 4

Figura 25 – Elementos da constatação.

Durante a fase operativa, a equipe de audito- c) estar devidamente fundamentado em evi-


ria deve aplicar os procedimentos previstos dências; e
nas matrizes de coleta e de análise de infor-
mações visando confirmar ou não possíveis d) mostrar-se convincente a quem não partici-
constatações vislumbradas na fase analítica, pou do trabalho.
bem como encontrar outras constatações que
surjam com as verificações in loco. As consta- As evidências, como elementos essenciais
tações devem ser desenvolvidas na matriz de para comprovar as constatações, também de-
constatações, que será vista na próxima seção. vem atender a requisitos próprios para que
Uma constatação de auditoria deve ser desen- mereçam fazer parte do conteúdo de uma au-
volvida de forma consistente para embasar as ditoria. Evidências devem ser suficientes, ade-
recomendações e a conclusão do trabalho, e quadas e pertinentes de forma a permitir ao
atender necessariamente aos seguintes requi- auditor obter constatações e fundamentar sua
sitos (adaptado de BRASIL, 2011): conclusão.

a) ser relevante para os objetivos da auditoria; A adequação é uma medida da qualidade da


evidência, dada por sua relevância e confiabili-
b) ser apresentado de forma objetiva; dade. Evidência relevante é aquela obtida por
MÓDULO 4 – Fase Operativa da Auditoria 79

testes ou exames apropriados à natureza e ca- conclusões e recomendações de auditoria.


racterísticas dos fatos examinados, que devem
ter relação clara com o critério de auditoria. Enquanto suficiência é uma medida de quanti-
Evidência confiável possui autenticidade e fi- dade, adequação é uma medida de qualidade
dedignidade, o que depende da fonte de infor- da evidência. Evidências adequadas podem ser
mação e das circunstâncias em que as infor- insuficientes; nesse caso, deve-se obter mais
mações foram obtidas. evidências de qualidade. De outro lado, evi-
dências inadequadas nunca serão suficientes,
Evidência pertinente é a que se relaciona de visto que lhes falta qualidade para respaldar a
forma lógica e coerente com as observações, constatação.

Figura 26 – Atributos da evidência.



Evidências classificam-se em evidência física, documental, oral (testemunhal) e analítica.

Evidência física: obtida por inspeção física; deve ser documentada por meio de amostras, foto-
grafias e filmes.

Evidência documental: a mais comum em auditoria, constitui-se de informações contidas em


documentos fornecidos pelo auditado ou terceiros, tais como ofícios, cartas, relatórios, notas
fiscais, contratos, extratos bancários e certidões.
80 Fase Operativa da Auditoria – MÓDULO 4

Evidência testemunhal: declarações tais como as obtidas em entrevistas e grupos focais. Esse
tipo de evidência deve ser registrada em documentos, sejam de áudio, vídeo ou textuais, de
modo a permitir sua análise.

Evidência analítica: obtida por meio de cálculos, comparações e raciocínio lógico utilizando-se in-
formações coletadas. Podem ser apresentadas em planilhas de cálculo e quadros comparativos,
por exemplo.

Evidências podem estar sujeitas a limitações Caso 1 – Auditoria realizada para apurar irre-
que afetam sua suficiência e adequação. gularidade na execução de convênios.
Evidências testemunhais tendem a não ser su-
ficientes, o que requer, para sua utilização em Constatação: A porta de entrada dos pacien-
auditoria, sejam corroboradas por documento tes ao tratamento oncológico na Fundação do
ou observação. Câncer não ocorre pela Central de Regulação
de Alta Complexidade.
Evidências provenientes apenas do gestor ou
da equipe da unidade auditada podem não 
Evidência: A organização da porta de entra-
ser adequadas devido a problemas de viés, o da dos pacientes ao tratamento oncológico na
que afeta a confiabilidade. O mesmo ocorre Fundação, não ocorre a partir da Central de
quando a única fonte consultada tem interes- Regulação de Alta Complexidade do Estado.
se no resultado do trabalho. Nesses casos, o Essa ferramenta existe, mas o tratamento de
auditor deve procurar obter uma outra fon- Oncologia não está sendo regulado pela mes-
te de evidências para melhor fundamentar a ma, em desacordo com a Portaria GM/MS
constatação. no.1559/2008 artigo 8o paragrafo 1o incisos
I,II,V,VI e as orientações do INCA/MS.
Evidências obtidas de amostras não-represen-
tativas ou relacionadas a ocorrência isolada Fonte da Evidência: No SCNES, sob o nº
não permitem fazer afirmações em relação 99999, está cadastrado, no Estado X, o
ao conjunto de casos, o que representa uma Complexo Regulador, tendo como um dos ní-
limitação. veis de atenção a Central de Regulação de Alta
Complexidade.
A seguir, são analisadas evidências apresenta-
das em relatórios de auditoria do DENASUS. Conformidade: Não Conforme
MÓDULO 4 – Fase Operativa da Auditoria 81

Análise: A afirmação de que a regulação para de auditoria, é evidência adequada e perti-


tratamento oncológico não é feita pela Central nente para sustentar a constatação. Pode ser
de Regulação de Alta Complexidade não é corroborada por declaração de representante
acompanhado de nenhuma comprovação de da unidade, o que aumenta a suficiência da
que isso ocorre. Não há, portanto, evidência evidência.
da situação; consequentemente, a constata-
ção não se sustenta como tal. Caso 3 – Auditoria em licitações

Caso 2 – Auditoria sobre a execução do Plano Constatação: As aquisições de medicamen-


Operativo Estadual de Sistema Prisional. tos e material de consumo odontológico
para suprir as necessidades da Atenção à
Constatação: Estrutura física da Unidade de Saúde no Sistema Penitenciário foram efetu-
Saúde da Colônia Penal Feminina do Município adas mediante licitação na modalidade Pregão
Y é inadequada.
 Eletrônico.


Evidência: A Unidade de Saúde apresenta Evidência: A aquisição de Medicamento e


estrutura física de construção antiga e inade- Material de Consumo Odontológico para
quada para atender às necessidades de aten- Atenção à Saúde no Sistema Penitenciário
ção no nível básico. Não atende o disposto na foi efetuada pela Comissão Permanente
legislação vigente no que se refere à padro- de Licitação da Secretaria Executiva de
nização física dos seguintes ambientes (…). Ressocialização do Estado X. Foi realizado um
Verificou-se a ausência dos seguintes ambien- Pregão Eletrônico no exercício de 2012, con-
tes: sala de coleta de material para laborató- forme dados a seguir:
rio, sala de vacina, central de material e este-
rilização, em desacordo com o preconizado no Processo nº 019/2012

Anexo A da Portaria Interministerial nº 1.777 Modalidade: Pregão Eletrônico nº 003/2012
de 09/09/2003, em vigor à época dos fatos. - Menor Preço

Objeto: Aquisição de material médico
Fonte da Evidência: Registro de inspeção física hospitalar para as Unidades Prisionais
realizada na Unidade de Saúde da Colônia Penal sob a responsabilidade da Secretaria de
Feminina do Município Y no dia 13/08/2014. Ressocialização - SERES por um período de
12 meses.

Conformidade: Não Conforme Pedido: Comunicado Interno nº 101, de
11/02/2012 - Gerente de Apoio Psicossocial,
Análise: A informação de que ambientes re- Saúde e Nutrição.

queridos na unidade de saúde não existem, Valor: R$ 918.744,50 (novecentos e dezoito
obtida por meio de inspeção física pela equipe mil setecentos e quarenta e quatro reais e
82 Fase Operativa da Auditoria – MÓDULO 4

cinquenta centavos)
. dispositivos foram verificados pela equipe?


Recursos: Ministério da Saúde - Incentivo Como regra geral, o critério de auditoria sem-
para Atenção à Saúde no Sistema pre deve ser explicitado.
Penitenciário, recebidos pelo Fundo
Estadual de Saúde e repassado a Secretaria Caso 4 – Auditoria na base descentralizada do
Executiva de Ressocialização. SAMU 192 no Município Z.

Os procedimentos licitatórios estavam em con- Constatação: Falta de caracterização visual


formidade com a Lei Federal nº 10.520/2002.
 para o atendimento pré-hospitalar de urgên-
cia SAMU 192 na Base Descentralizada no
Fonte da Evidência: Pregão Eletrônico no Município Z.
009/2012, Pregão Eletrônico no 012/2012 e
Pregão Eletrônico no 013/2013. Evidência: Em visita à Base Descentralizada do
SAMU 192, localizada na Rodovia Tucuruvi, Km
Conformidade: Conforme. 19, que se encontrava fechada, observou-se a
falta de identificação visual do logotipo SAMU
Análise: Dado o enunciado da constatação, 192 na fachada do prédio, em desacordo com
depreende-se que a equipe buscou verificar a padronização estabelecida pelo Ministério
se a compra de medicamentos e de material da Saúde no Parágrafo Único, do Art. 5º, da
odontológico foi feita por meio de pregão Portaria/GM/MS nº 1.010, de 21/05/2012.
eletrônico, como deve ser no caso de bens
e serviços comuns, conforme prevê a Lei nº Fonte da Evidência: Relato de inspeção física
10.520/2002. Nesse sentido, identificar o pro- do prédio da Base Descentralizada do SAMU
cesso licitatório do pregão realizado é evidên- 192, no Município Z, no dia 12/11/2013. Fotos
cia pertinente, mas não suficiente, pois pode no anexo II.
ter havido outras aquisições de medicamentos
por meio de outras modalidades licitatórias, Conformidade: Não Conforme.
ou até mesmo com dispensa de licitação. Para
verificar essas possibilidades, a equipe deve- Análise: A constatação está bem evidencia-
ria verificar a lista de desembolsos da unidade da: a equipe visitou a Base Descentralizada do
gestora, bem como o controle de estoque. SAMU, declarou ter observado a inexistência
de identificação visual do serviço e documen-
A afirmação de que os procedimentos licita- tou o fato com fotos.
tórios estavam em conformidade com a Lei
Federal nº 10.520/2002 é vaga, pois a referi-
da lei traz uma série de dispositivos que regu-
lam os pregões eletrônicos. Como saber quais
MÓDULO 4 – Fase Operativa da Auditoria 83

4.3 Matriz de constatações

Trata-se de ferramenta utilizada para organizar informações necessárias à sustentação das cons-
tatações obtidas. O processo lógico para identificação de constatações e formulação de reco-
mendações traz os elementos fundamentais envolvidos com uma constatação.

Critério de auditoria
(o que deveria ser)

Evidência (o que é)

Constatação (comparação entre


o que é e o que deveria ser)

Determinação de
causas e efeitos

Formulação da recomendação

Figura 27 – Processo lógico de identificação de constatações e formulação de recomendações.

O ponto de partida é o critério de auditoria, que pois há maior eficácia quando a recomendação
indica a situação ideal do objeto, definida por é dirigida à eliminação da causa de uma situação
norma ou padrão. Em seguida, toma-se a situa- não conforme. Explicitar o efeito dá a dimensão
ção real do objeto, encontrada na auditoria. Da da gravidade de uma situação não conforme.
comparação do critério com a evidência, surge
a constatação, que pode ser conforme ou não A organização dos elementos da constatação
conforme. no contexto de uma auditoria é feita por meio
de matriz de constatações, que, para cada
Uma constatação tem causas e efeitos, cuja ex- constatação, apresenta os respectivos crité-
plicitação contribui para sua caracterização. A rios, evidências e suas fontes, causas, efeitos e
causa da constatação é o alvo da recomendação, recomendações.
84 Fase Operativa da Auditoria – MÓDULO 4

QUESTÃO DE CONSTATA- CRITÉRIO EVIDÊNCIAS FONTES DE CAUSAS EFEITOS RECOMENDAÇÕES


AUDITORIA ÇÃO EVIDÊNCIA

Enunciado Enunciado Legislação, Informações FFontes de Eventos ou Conse- Propostas da equi-


da questão da constata- norma, coletadas informação fatores que quências ou pe de auditoria
que se busca ção, deixan- ou ou obtidas por meio deram causa possíveis para resolver a
responder do clara a padrão ado- como resul- das quais fo- à constata- conse- situação objeto
com a audi- irregularida- tado como tado da aná- ram obtidas ção. quências da da constatação e
toria. de, a impro referência. lise dessas as evidên- constatação. introduzir melho-
-priedade ou informações cias. rias que impeçam
o problema que indicam a repetição desse
de desem- a situação tipo de constata-
penho. encontra- ção.
da e Se cabível, deve
sustentam identificar os
as constata- responsáveis.
ções.

Figura 28 – Matriz de constatações e seu preenchimento.

A matriz de constatações é útil numa audito- Ao elaborar e revisar matrizes de constata-


ria porque dá suporte ao desenvolvimento das ções, deve-se procurar evitar erros que fragi-
constatações de maneira estruturada e evi- lizam o trabalho, tais como os mostrados na
ta lacunas de informações. A matriz propicia página seguinte. A revisão da matriz de consta-
à equipe manter o foco da análise no que foi tações pela própria equipe, seguida da revisão
planejado e uniformizar o entendimento da do supervisor técnico, reduz bastante a pos-
equipe sobre o que foi constatado. sibilidade de que erros como esses venham a
acontecer.
Outra vantagem do uso de matriz de consta-
tações é facilitar a discussão dos resultados da
auditoria com supervisores, gestores e espe-
cialistas. O instrumento permite realizar re-
visão do trabalho de maneira a assegurar que
todas as constatações estejam solidamente
suportadas por evidências, que erros, defi-
ciências e questões relevantes tenham sido
resolvidos e que as recomendações estejam
fundamentadas.
MÓDULO 4 – Fase Operativa da Auditoria 85

Possíveis erros no uso de matriz de constatações

Constatações

• não identificar objetivamente a discrepância entre situação encontrada e critério


• propor constatações irrelevantes para o objetivo da auditoria
• propor constatações que não respondam às questões e estejam fora do escopo da
auditoria
• propor constatações sem critério correspondente
• manter constatação sem evidência suficiente

Evidências

• não identificar claramente a situação encontrada


• indicar evidências inúteis ou irrelevantes ao cumprimento dos objetivos da auditoria
• não obter evidências suficientes para dar suporte às constatações, ou sem confiabilidade
ou validade
• descrever como os procedimentos foram realizados (isso cabe na seção de metodologia)
• descrever a situação sem dar a perspectiva de sua natureza, extensão, importância e
período de ocorrência
• não especificar de forma precisa a fonte da evidência

Critérios

• não indicar todos os que se aplicam à situação


• não explicitar adequadamente
• indicar o normativo, sem localizar e comunicar o aspecto do normativo que é usado como
critério
• transcrever trechos das evidências documentais

Recomendações

• não formular recomendações para todas as constatações


• formular recomendações que não decorram logicamente das constatações
• formular propostas com intensidade ou amplitude desproporcional aos efeitos
• não identificar os responsáveis adequadamente
86 Fase Operativa da Auditoria – MÓDULO 4

4.4 Relatório preliminar

O relatório preliminar é elaborado pela equipe com base nas constatações preliminares resul-
tantes dos trabalhos de verificação in loco. Trata-se de instrumento exclusivo de notificação ao
órgão, instituição ou unidade verificada, e aos agentes indicados como responsáveis. Com base
no relatório preliminar, o auditado apresenta justificativas para as constatações não conformes.

fonte de evidências

recomendações
constatação

evidências
}

QUESTÃO DE CONSTATA- CRITÉRIO EVIDÊNCIAS FONTES DE CAUSAS EFEITOS RECOMENDAÇÕES


AUDITORIA ÇÃO EVIDÊNCIA

A estrutura - O paciente O tempo Dados das A capacida- Diminuição Recomendar


da rede de co e o início com neoplasia médio de Apac de de da rede das chances
atenção on- do trata- maligna tem espera entre quimiote de atenção de cura e do desenvolva plano
cológica tem mento dos direito de a data do -rapia e de oncológica é tempo de para sanar as
possibilitado doentes de se submeter radioterapia sobrevida carências exis-
aos doentes câncer não ao primeiro e o início dos de 2013. para atender dos pacien- tentes na rede de
de câncer têm sido tratamento no tratamentos a demanda. tes tratados. atenção oncológi-
acesso tem- SUS em até 60 é de 62 e 95 ca, que contem-
dias contados dias, respec- Deterio- ple a aquisição
tratamento? do diagn - 110 equipa- ração da e instalação de
co em laudo mentos de qualidade equipamentos
patológico (Lei Apenas 39% radioterapia. de vida dos ou contratação
12.732/2012, dos pacien- - pacientes éa
art. tes iniciam to gover- durante os completa solução
tratamento namental tratamen- das carências
em até 60 tos. existentes.
dias. para a de-
manda.

Figura 29 – Transposição de informações da matriz de constatações para o relatório preliminar.


MÓDULO 4 – Fase Operativa da Auditoria 87

O cerne do relatório preliminar é a seção de


constatações. Tendo elaborado e validado a
matriz de constatações, a elaboração do rela-
tório preliminar fica muito facilitada, pois to-
dos os elementos da constatação estão na ma-
triz, bastando realizar uma transposição das
informações (figura 29).

Eventualmente pode haver a necessidade de


desenvolver no corpo do relatório preliminar
algum tópico que requeira mais informações
do que a que consta na matriz de constatações.

Conforme orientação do CTA nº 11/2014, a


fundamentação legal deve ser citada no cam-
po destinado para descrição da evidência. O
SISAUD/SUS está alinhado com essa orienta-
ção ao não dispor de campo específico para o
critério, que deve ser apresentado juntamente
com as evidências.

O relatório preliminar é a base do relatório fi-


nal, elaborado após a análise das justificativas
do auditado. Deve-se evitar ao máximo enviar
ao auditado relatório preliminar sem a devida
revisão para solicitar justificativas do audita-
do. O auditado deve compreender facilmente
o que a equipe de auditoria encontrou, qual
a fundamentação de cada constatação e quais
os pontos sobre os quais deve se pronunciar.
88 Fase de Relatório– MÓDULO 5

MÓDULO 5
FASE DE RELATÓRIO
Este capítulo está organizado para apoiar o de-
senvolvimento do módulo 5 em sala de aula,
cujo objetivo foi o de preparar os participantes
para discutir com propriedade as característi-
cas de um relatório de auditoria eficaz e proce-
dimentos para encerramento da auditoria. O
capítulo é composto pelas seguintes seções e
objetivos de aprendizagem:

Sessão Objetivos de aprendizagem

Qualidade do relatório de Os participantes deverão ser capazes de reconhecer as


auditoria características de um relatório de auditoria eficaz.

Os participantes deverão ser capazes de discutir como


proceder no encerramento de uma auditoria, em especial
Encerramento da auditoria quanto a organização dos papéis de trabalho utilizados na
auditoria, revisão e validação pelo supervisor, e revisão pelo
órgão de controle de qualidade (CMAUD/CGAUD).
MÓDULO 5 – Fase de Relatório 89

5.1 O relatório de auditoria Supondo que a equipe fez o dever de casa e


conseguiu constatações relevantes e bem
O relatório é o instrumento formal e técnico construídas, é hora de relatar o trabalho.
utilizado para comunicar o objetivo e as ques- Alguns cuidados são importantes para manter
tões de auditoria, a metodologia utilizada, as a qualidade do trabalho. Primeiramente, é bom
constatações de auditoria, as recomendações lembrar que se trata de um trabalho técnico.
e a conclusão. Assim, deve-se usar linguagem impessoal.

A construção de um bom relatório começa O conteúdo do relatório deve ser de fácil en-
com a interpretação da demanda e a elabora- tendimento, utilizando-se uma linguagem di-
ção da tarefa, quando se definem as questões reta, com períodos curtos e vocabulário ade-
de auditoria e o escopo. Ter um foco bem de- quado, e respeitando-se os aspectos técnicos
finido favorece o planejamento da auditoria, o do objeto da auditoria. Os termos técnicos,
que, por sua vez, favorece uma execução obje- desde que necessários, devem ser definidos
tiva buscando obter um conjunto de constata- em notas de rodapé ou glossário. Além disso,
ções relevantes, suficientemente apoiadas em as constatações devem ser apresentadas de
evidências bem documentadas. maneira direta e objetiva, demonstrando a
convicção da equipe de auditoria nos resulta-
Se as fases analítica e operativa foram bem dos do seu trabalho. Expressões que denotam
sucedidas e redundaram em constatações re- incerteza, tais como “parece que” ou “enten-
levantes apoiadas em evidências suficientes, demos”, enfraquecem a argumentação.
adequadas e pertinentes, organizar esse mate-
rial em um texto bem cuidado e organizado é o O relatório não é uma peça literária. Por isso,
passo seguinte. Porém, nem a melhor retórica deve-se eliminar o supérfluo, o floreio, as me-
vai resolver um problema de inconsistência na táforas e analogias desnecessárias. Sobretudo,
análise ou insuficiência de evidências. deve-se evitar clichês. Se for transcrever algum
texto, deve-se fazê-lo somente quando neces-
sário ao entendimento do raciocínio. O relató-
rio deve ater-se apenas a aquilo que é relevan-
Importante te, que tem importância dentro do contexto,
que contribui para as conclusões ou reforça as
Relatório depende fundamen- evidências.
talmente de um bom planeja-
mento da auditoria (fase ana- A análise das evidências envolve argumentação
lítica) e de uma boa execução lógica baseada em fatos (evidências). Por isso,
(fase operativa). deve-se evitar inferências descabidas, precon-
ceitos e opiniões não embasadas em fatos.
90 Fase de Relatório– MÓDULO 5

Recomenda-se ser comedido, parcimonioso ou outro fator. Em especial, mencione audi-


no conteúdo e no tom do texto. Mais do que torias anteriores recentes que influenciaram
uma qualidade de relatório, esse aspecto de- na definição de escopo ou nas constatações e
corre diretamente da postura de equilíbrio e conclusões do trabalho.
serenidade exigida de um auditor. Apresentar
as evidências de forma imparcial, evitando O objetivo e o escopo da auditoria devem ser
adjetivos e superlativos que desconfigurem a apresentados de forma clara e justificada.
descrição dos fatos, contribui para a credibi- Aqui, o importante é que o leitor do relatório
lidade do trabalho. Parte da credibilidade do saiba exatamente o que foi auditado, porque e
auditor decorre da sua postura isenta e justa, em que medida. Os objetivos da auditoria, ex-
não apenas no comportamento, mas no seu plicitados pelo problema e pelas questões de
texto. auditoria, devem ser enunciados claramente
para que se possa avaliar os resultados alcan-
Há dois elementos fundamentais no relató- çados pelo trabalho.
rio de auditoria que costumam receber pou-
ca atenção na elaboração do relatório, mas Ao descrever os objetivos e o escopo da au-
que contribuem enormemente para a cla- ditoria, a equipe está, ao mesmo tempo, de-
reza e qualidade do mesmo: introdução e finindo os limites do trabalho desenvolvido
metodologia. e especificando os temas, as unidades ou os
processos que foram auditados. Sempre que
Introdução a equipe julgar conveniente, para evitar ambi-
guidades, devem ser mencionados os aspec-
A introdução é fundamental para contextuali- tos que não foram abordados pela auditoria, o
zar a auditoria. Sem ela, fica difícil entender o que é conhecido como não escopo.
conjunto do trabalho, a origem, o escopo e o
objeto auditado. Portanto, deve-se dar a de- Ao informar o escopo da auditoria, a equipe
vida importância à introdução, apresentando deve mencionar a abrangência do trabalho,
todos os elementos que uma boa introdução especificando, quando for o caso, a relação
deve conter: origem, antecedentes, objetivos, entre o universo e as unidades efetivamente
escopo, e visão geral do objeto. auditadas. Também devem ser identificadas
as organizações, os locais visitados e o período
A origem da demanda deve ser apresentada, abrangido pela auditoria.
assim como ela foi interpretada para chegar
ao escopo da auditoria. Deve-se mostrar as Na seção introdutória, deve-se descrever as-
razões que levaram a esse escopo, tais como, pectos do objeto importantes para a audito-
materialidade, relevância e risco do objeto da ria apresentando-se uma visão geral concisa,
auditoria, limitações da equipe de auditoria, que mostre com suficiente detalhe o que está
MÓDULO 5 – Fase de Relatório 91

sendo objeto de auditoria. A visão geral deve 743/2012 dispõe sobre o procedimento de no-
trazer uma descrição do objeto auditado que tificação e oitiva de agentes públicos, órgãos e
permita ao leitor compreender a sua relevân- entidades públicas e pessoas físicas e jurídicas
cia e as suas principais características. privadas, além de outros interessados, a res-
peito de resultados de auditorias e outras ati-
Metodologia vidades de controle realizadas pelo DENASUS.

A equipe deve informar as estratégias meto- Toda constatação de não conformidade implica
dológicas e os métodos de coleta e análise de a audição do auditado em função do princípio
dados empregada, e descrever o modo como do contraditório e da ampla defesa, previsto
foram utilizados. É fundamental indicar os na Constituição Federal (art. 5º, inc. LV). Mas
procedimentos adotados para estabelecer os não é somente em função do princípio do con-
critérios de auditoria, os métodos emprega- traditório que devemos ouvir o auditado a res-
dos na coleta de evidências e na definição de peito das nossas constatações. Por melhor que
achados e recomendações. tenha sido o planejamento da auditoria, por
melhores que sejam os instrumentos de coleta
Sempre que forem utilizados métodos estatís- e por mais que os auditores sejam cuidadosos
ticos ou outras abordagens quantitativas de na análise das evidências e interpretações dos
análise de dados, esses métodos devem ser normativos, haverá sempre certo risco de que
devidamente detalhados. Da mesma forma, se as constatações obtidas não retratem adequa-
as constatações e conclusões basearem-se no damente a realidade, ou de que as conclusões
exame de uma amostra, a equipe deve infor- e recomendações apontem para a direção er-
mar a técnica de amostragem utilizada e justi- rada. Para minimizar esse risco, deve-se sub-
ficar a sua escolha. meter o relatório preliminar aos auditados.

Por fim, também devem ser mencionadas as É razoável pressupor que o auditado, na condi-
limitações impostas ao trabalho de auditoria ção de gestor do objeto da auditoria, conhece
associadas à confiabilidade ou à dificuldade na com razoável profundidade esse objeto, ou,
obtenção de dados, assim como as limitações pelo menos, conhece mais do que o auditor.
relacionadas ao próprio escopo do trabalho, Assim, se houver alguma imperfeição na cons-
ou seja, as áreas e os aspectos não analisados. tatação, é o olhar crítico do auditado que me-
lhor pode evidenciá-la. Ou seja, ouvir o audita-
do, além de dever em função do princípio do
5.2 Análise de justificativas do contraditório, é uma ótima oportunidade para
auditado qualificar o trabalho de auditoria.

Do ponto de vista formal, a Portaria GM/MS nº Evidentemente, quanto mais claro e completo
92 Fase de Relatório– MÓDULO 5

for o relatório preliminar encaminhado para a sim contrarrazões que podem alterar a análise
manifestação do auditado, melhor será a qua- ou interpretações das evidências, ou mesmo do
lidade desses comentários. De nada adianta critério de auditoria (por exemplo, uma nova
enviar um relatório incompleto ou confuso, regulamentação), o esforço da equipe deve ser
que dificulte o entendimento do auditado do em considerar a plausibilidade dos argumen-
que está em questão. tos apresentados. Mesmo que os novos argu-
mentos não sejam suficientes para convencer a
Análise das justificativas equipe, a mera dúvida, se não resolvida tempes-
tivamente, já é suficiente para alterar o teor da
Em função do princípio do contraditório, todas constatação. Lembre-se de que o compromisso
as alegações apresentadas pelo auditado de- do auditor é com a verdade, ou com a melhoria
vem ser objeto de análise. De fato, não exami- do serviço público, e não com as próprias ideias.
nar alguma das alegações pode se configurar
numa violação ao princípio do contraditório, o Caso o auditado apresente uma alegação que
que pode levar o auditado a contestar o rela- não esteja relacionada a qualquer constatação,
tório final. a equipe deve explicitar isso na análise de jus-
tificativas. Seja como for, deve ficar claro que
Na análise das justificativas apresentadas, a houve manifestação do auditado, mas que es-
equipe de auditoria deve ficar especialmente sas não dizem respeito ao conteúdo do relató-
atenta às situações que contestem ou pro- rio. Nesse caso, a justificativa do auditado tam-
blematizem as constatações. Há duas situa- bém deve ser anexada ao relatório, para que
ções típicas que podem provocar a revisão da possíveis leitores possam se certificar da inter-
constatação. Primeiramente, o auditado pode pretação dada pela equipe de auditoria.
apresentar evidência nova, ou contestar a ve-
racidade de uma evidência apresentada pela Do ponto de vista da organização do relatório,
equipe. Nessa situação, a equipe deve se per- a melhor prática é colocar a justificativa do au-
guntar se a novidade está diretamente relacio- ditado no respectivo campo. Contudo, se o tex-
nada a constatação. Será que ela pode ser con- to for muito grande, ou contiver documentos
siderada uma exceção ou é forte o suficiente anexos, deve ser apresentada uma síntese ob-
para rever ou colocar em dúvida a constata- jetiva dos argumentos ou novos fatos. Nesses
ção? Há elementos suficientes para compro- casos, deve-se colocar o texto original como
var a veracidade dessa nova evidência? Em al- anexo, e referenciá-lo no corpo da justificativa.
guns casos, pode ser que seja necessário obter O mesmo deve se dar se a justificativa não for
elementos complementares, que permitam clara ou objetiva. A equipe deve fazer um es-
decidir a questão. forço de entendimento e reescrevê-la da for-
ma mais clara possível, colocando a justificativa
Caso o auditado não apresente fatos novos, mas original em anexo.
MÓDULO 5 – Fase de Relatório 93

Vamos analisar alguns exemplos: Nesse caso, embora o auditado conteste a evi-
dência, não apresenta elementos suficientes
Exemplo 1 para corroborar seu ponto de vista. Portanto,
a equipe não acatou a justificativa. Contudo,
Constatação: O Núcleo da Vigilância epide- em função da forma como foi redigida a cons-
miológica da MEAC não apresentou registro tatação, o que realmente aconteceu não ficou
de investigação de óbitos maternos. claro. Antes de tudo, observe que a equipe
não explicitou o critério. A evidência também
Evidência: Os relatórios de epidemiologia não está clara, ela apenas repete o texto da
produzidos pela maternidade registram 12 constatação.
óbitos maternos no ano 2013 e 5 óbitos ma-
ternos até agosto/2014, sem apresentação Exemplo 2
de registro de investigação de óbitos mater-
nos durante os períodos de 2013 e 2014. Constatação: A maternidade não dispõe de
Centro de Parto Normal (CPN).
Fonte da Evidência: Cópia dos mapas com
os indicadores produzidos pelo o Núcleo da Evidência: A maternidade apresenta 09(nove)
Vigilância Epidemiológica da maternidade. quartos PPP (pré-parto, parto e pós-parto),
sendo 08 apartamentos com um leito por
Conformidade: Não Conforme. quarto e um apartamento com dois leitos
para observação da paciente, em áreas des-
Justificativa: “O Núcleo de Vigilância tinadas ao pré-parto, parto e pós-parto, não
Epidemiológica da Maternidade Escola Assis configurando um Centro de Parto Normal, em
Chateaubriand (MEAC) informa que os 12 desacordo com o que determina o Art.4º da
óbitos maternos de 2013 e os 5 óbitos ma- Portaria GM/GM nº 985, 05 de agosto de 1999
temos ocorridos até agosto de 2014 foram e Art. 1º da Portaria GM/MS nº 904, de 29 de
100% investigados, conforme documento em maio de 2013.
anexo (Anexo 1).”
Fonte da Evidência: Visita à maternidade, em
Análise da Justificativa: O Núcleo de 08/09/14.
Vigilância Epidemiológico não encaminhou as
cópias das investigações dos referidos óbitos Conformidade: Não Conforme
maternos, apenas foram encaminhados os in-
dicadores epidemiológicos. Justificativa: “A MEAC possui atualmente um
Centro de Parto Humanizado que atende pa-
Acatamento da Justificativa: Não cientes de baixo e alto risco, sendo os partos
realizados por médicos e enfermeiros. Existe
94 Fase de Relatório– MÓDULO 5

projeto de construção de um Centro de Parto e identificar não conformidades, e nesse últi-


Normal de baixo risco, como determina o Art. mo caso, corrigi-las.
4º da Portaria GM/MS N° 985, de 05 de agosto
de 1999, e Art. 1º da Podaria GM/MS N° 904, Portanto, o propósito das recomendações é a
de 29 de maio de 2013, com quarto PPP para melhoria do objeto auditado. Isso pode signifi-
realização de partos apenas de baixo risco, car três coisas:
realizados por enfermeiro obstétrico, com a
paciente permanecendo nesse ambiente até 1. Deixar de fazer algo que se fazia;
o momento da alta (previsão: final de 2015) Exemplo: ” Solicitar da Secretaria Municipal de
Segue anexada cópia da planta do referido Saúde que deixe de atrasar os repasses e pro-
Centro de Parto Normal (anexo 3).” mova a atualização dos que se encontram em
atraso, a fim de cumprir o disposto no inciso II,
Análise da Justificativa: O Diretor da do artigo 37, da Portaria/GM/MS nº 204, de 29
Maternidade apresentou a planta do Centro de janeiro de 2007.”
de Parto Normal, com previsão de conclusão
até o final de 2015. 2. Fazer de uma forma melhor algo que se fazia
de forma insuficiente;
Acatamento da Justificativa: Sim Exemplo: “Adequar dentro do possível as enfer-
marias e demais ambiências, em atendimento
Nesse caso, embora a equipe tenha acata- ao subitem 2, do item V, do anexo I, da Portaria
do a justificativa do auditado, o único dado GM/MS N° 1016, de 26 de agosto de 1993.”
novo apresentado pelo auditado foi a planta
do Centro de Parti Normal, e a afirmação de 3. Fazer algo que deveria ser feito e que não
previsão de conclusão até o fim de 2015. Mas se fazia;
observe que esses elementos por si só não “Manter os dados do CNES atualizado, em con-
contradizem o que foi constatado. A não con- formidade com o subitem 4.3 do item 4 do
formidade continua. Ao aceitar a justificativa, anexo I da RDC nº 36, de 03 de junho de 2008 e
o problema apontado sai do radar do controle, atender a determinação da Portaria nº 511, de
sem que o problema tenha de fato sido resol- 29 de dezembro de 2000”.
vido, ou mesmo que se tenha garantias sufi-
cientes para isso. Como o objetivo das recomendações é melho-
rar o objeto auditado, alguns cuidados devem
5.3 Elaboração de recomendações ser considerados. Primeiramente, a recomen-
dação deve estar bem fundamentada na cons-
As recomendações são comandos que visam tatação. Não se pode recomendar o que não
melhorar dada situação. Uma auditoria é feita foi objeto de análise conclusiva e pautada em
com dois propósitos: atestar as conformidades evidências suficientes.
MÓDULO 5 – Fase de Relatório 95

Além disso, a recomendação deve ser clara com o inciso II, do artigo 37, da Portaria/GM/
e objetiva, em especial sobre o que e como MS nº 204, de 29 de janeiro de 2007.
deve se dar a mudança desejada. E se possí-
vel, uma estimativa dos resultados esperados Fonte da Evidência: Processos de pagamentos
com essa mudança. analisados, do período 2013 a 2014.

Por fim, a recomendação deve ser factível, Conformidade: Não Conforme.


deve considerar a disponibilidade de recur-
sos, prazos, legislação e outros fatores que Recomendação: Solicitar da Secretaria
possam estar envolvidos na sua implantação. Municipal de Saúde de Fortaleza a atualização
Recomendações não factíveis são inúteis. dos repasses e sua continuidade em tempo há-
Procurar se colocar no lugar do gestor e ser ra- bil, a fim de cumprir o disposto no inciso II, do
zoável no que se espera auxilia na formulação artigo 37, da Portaria/GM/MS nº 204, de 29 de
da recomendação. janeiro de 2007.

Do ponto de vista formal, deve-se evitar re- Destinatários da Recomendação:


comendações que façam apenas referência Maternidade Escola Assis Chateabriand
ao critério, sem explicitar do que se trata. Por CNPJ: 07.206.048/0001-08
exemplo, “Cumprir o preconizado no Art 17 da
Seção III- Das Condições Organizacionais e Arts. Nesse exemplo, a recomendação deixa claro
30, 31 e 32 da Seção V - Da Gestão de Pessoal o que deve ser feito e por que deve ser feito.
- DC/ANVISA nº 63/2011, que dispõe sobre os Além disso, ela é direcionada às causas da evi-
Requisitos de Boas Práticas de Funcionamento dência, o que é uma boa prática sempre que
para os Serviços de Saúde.” Nesse exemplo, for possível identificá-las.
seria importante explicitar o que deve mudar,
e não apenas porque deve mudar (fundamen- Exemplo 2
to legal). No exemplo dado, o que exatamente
preconiza o art. 17? Constatação: Dispensações de medicamentos
pelo Programa Farmácia Popular do Brasil-
Exemplo 1 PFPB não comprovadas.

Constatação: Os pagamentos das despesas da Evidência: A Comercial Farmacêutica Barra da


MEAC estão sendo efetuados com atraso. Estiva Ltda.-ME, não apresentou comprovan-
tes das dispensações realizadas pelo PFPB no
Evidência: Os processos de pagamento de- mês de agôsto de 2014, contrariando o § 2º
monstram que as despesas da maternidade art. 23 da Portaria GM/MS nº 971/2012 e art.
vem sendo pagas com atraso, em desacordo 11 do Decreto Federal nº 1651/95. Outrossim
96 Fase de Relatório– MÓDULO 5

informamos que se encontram gravadas em por quanto tempo e em que local. E ainda, se
midia eletrônica os anexos, da citata impro- for os casos, as consequências de não cumprir
priedade. Ressalta-se que o pagamento do exatamente o que se pede.
valor de R$ 18.257,03 (Dezoito mil, duzentos
e cinquenta e sete reais e três centavos), re-
gistrados nas dispensações ficará condicio- 5.4 Proposição de devolução de
nado ao encaminhamento da documentação recursos
comprobatória.
A proposição de devolução de recursos decor-
Fonte da Evidência: Autorizações consolida- re de uma constatação de não conformidade
das no mês de agosto de 2014. na utilização de recursos destinados a ações e
serviços de saúde, sejam recursos repassados
Conformidade: Não Conforme. fundo a fundo a Estados e Municípios, sejam
recursos repassados a entidades privadas por
Acatamento da Justificativa: Não apresentou meio de convênios, contratos ou instrumentos
justificativa. congêneres.

Responsável: ALBERTO MIRABELLI MACEDO A devolução de recursos é devido nas seguin-


CPF: 999.573.555-91. tes hipóteses (BRASIL, 2014):

Recomendação: Cumprir o que determina § a) utilização de recursos transferidos fundo a


2º art. 23 da Portaria GM/MS nº 971/2012 e fundo fora da finalidade, isto é, aplicados fora
art. 11 do Decreto Federal nº 1651/95, no que da ações e serviços públicos de saúde, confor-
se refere ao arquivamento dos comprovantes me definido no art. 3º da Lei Complementar nº
das dispensações realizadas pelo PFPB. 141/2012);

Destinatários da Recomendação: COMERCIAL b) utilização de recursos transferidos fundo


FARMACEUTICO BARRA DA ESTIVA LTDA. - ME a fundo fora do objeto, isto é, aplicados em
CNPJ: 11.145.008/0001-62 ações e serviços públicos de saúde, porém fora
do objeto ou bloco de financiamento;
No exemplo acima, observe que a recomen-
dação não deixa claro o que se espera do res- c) utilização de recursos transferidos fundo a
ponsável. Para a recomendação ser efetiva é fundo que resultou em prejuízo ao Erário; e
necessário que se comunique de maneira ine- d) utilização indevida de recursos transferidos
quívoca o que se espera em termos de cum- por meio de convênios, contratos e instrumen-
primento do dispositivo legal. Por exemplo, tos congêneres.
que documentos devem ser armazenados,
MÓDULO 5 – Fase de Relatório 97

Dentro de cada uma dessas hipóteses, existem devolução, que constituem fontes de evidências;
diversos motivos que ensejam uma proposi-
ção de devolução de recursos, como indicado g) documentos administrativos da auditoria:
na publicação Devolução de recursos em au- demanda e tarefa; ofício de apresentação da
ditorias do SUS (BRASIL, 2014). Os motivos in- equipe e comunicado de auditoria; AR do rela-
dicados constituem o núcleo da constatação, tório preliminar e ofício do auditado com a jus-
que deve ser construída desta forma: tificativa; relatório de auditoria e ofício de enca-
minhamento da auditoria.
“Constatou-se (motivo da devolução), contrariando a
(fundamentação legal)”. Caso a proposição de devolução elaborada pelo
auditor não seja cuidadosamente fundamenta-
Exemplo: da de modo a observar esses requisitos, ela po-
derá ser derrubada administrativamente a par-
Constatou-se que o responsável não apre- tir da justificativa do auditado ou judicialmente.
sentou comprovação da entrega dos medica-
mentos adquiridos, contrariando o previsto no 5.5 Elaboração de conclusão
artigo 63, § 2º, inc. III da Lei 4.320/1964, que
estabelece que a liquidação da despesa por for- A conclusão do relatório de auditoria tem por
necimentos feitos terá por base os comprovan- objetivo oferecer uma visão global e sintética
tes da entrega de material. dos aspectos tratados em cada um de seus
capítulos, de maneira a se obter um quadro
Para que a proposição de devolução de recur- geral compreensível das principais constata-
sos seja consistente, os seguintes requisitos são ções e das recomendações cabíveis. A conclu-
necessários: são deve conter a síntese das constatações e
suas recomendações, a indicação de dificul-
a) especificação do objeto: tipo de recurso (blo- dades enfrentadas pelos auditados e de suas
co de financiamento, recurso do TAS, repasse iniciativas positivas para superá-las.
por convênios e congêneres);
b) motivo da devolução;

c) fundamentação legal; Importante

d) data do fato gerador; A conclusão deve apresentar


as respostas às questões de
e) valor original; auditoria com base em evidên-
cias suficientes e apropriadas.
f) documentos comprobatórios referentes à
98 Fase de Relatório– MÓDULO 5

A equipe deve destacar os possíveis bene- A conclusão não deve ser uma exposição ex-
fícios esperados com a implementação das tensa de fatos ou argumentações detalhadas.
recomendações feitas. Sempre que possí- Além disso, ela não deve conter nenhum fato
vel, deve quantificá-los em termos de eco- ou argumento novo, que não tenha sido trata-
nomia potencial de recursos ou de melhoria do no corpo do relatório. Deve-se evitar opini-
no desempenho do objeto auditado. Nesse ões que extrapolem o conteúdo das análises e
sentido, a factibilidade das recomendações constatações.
sugeridas deve ser objeto de uma análise
criteriosa por parte da equipe de auditoria, Exemplo
incluindo o exame do impacto dos proble-
mas identificados e de como tais recomen- “O SAMU 192 do Município de Imperatriz foi
dações podem gerar melhorias. habilitado pelo Ministério da Saúde na Rede
Nacional de Atenção às Urgências em 2005,
É recomendável, que a equipe adote uma contando atualmente com uma Central de
abordagem equilibrada, reconhecendo as Regulação e três Bases Descentralizadas no
dificuldades enfrentadas pelo gestor e des- próprio município, regulando mais 14 Bases
tacando as iniciativas importantes por ele Descentralizadas em outros municípios. A
empreendidas para melhorar o desempenho Central de Regulação encontrava-se de acor-
e superar as deficiências apontadas. do com os parâmetros preconizados quanto à
divisão e dimensionamento dos ambientes, e
Por fim, a equipe deve incluir no relatório as Bases Descentralizadas no município pos-
quaisquer temas ou questões que conside- suíam localizações adequadas e instalações
re relevantes, mas que não façam parte dos com as áreas mínimas necessárias. A frota
objetivos da auditoria, para que sejam exa- de veículos em operação está formada por
minados oportunamente. duas Unidades de Suporte Avançado - USA,
sete Unidades de Suporte Básico - USB e uma
motolância, devidamente caracterizadas com
o logotipo padronizado pelo Ministério da
Saúde.
Importante
Foram identificadas não conformidades, tan-
Não se pode concluir so- to na Central de Regulação quanto nas três
bre o que não foi objeto Bases Descentralizadas, destacando-se: desa-
de análise suficiente! tualização cadastral; quantidade de médicos
reguladores e TARM insuficiente; inexistência
de vínculo empregatício formal com os médi-
cos; unidades móveis com recursos materiais
MÓDULO 5 – Fase de Relatório 99

e equipamentos incompletos; as estruturas destinado à locação de duas kombis, e a


físicas disponíveis necessitam de maior con- Dispensa de Licitação nº 127/2013, para lo-
servação e organização de serviços, de forma cação de dois veículos para o Serviço de
a melhorar o desenvolvimento das atividades Atendimento Móvel de Urgência - SAMU 192
e proporcionar um atendimento resolutivo de Imperatriz.
aos usuários e o conforto da equipe.
Não foram apresentadas justificativas pela
Foi constatada a existência de 17 unidades Secretaria Municipal de Saúde e Coordenação
móveis, doadas pelo Ministério da Saúde Geral do SAMU 192, sendo emitidas as re-
para o SAMU 192 de Imperatriz, que não mais comendações para cada justificativa não
possuem condições de uso; entretanto, não conforme, que deverão ser implementadas,
foi apresentada documentação referente ao de acordo com as diretrizes emanadas pela
processo de baixa definitiva das ambulâncias Política de Urgência e Emergência.”
sem condições de uso ou irrecuperáveis.
Em relação ao exemplo acima, podemos afir-
Os recursos financeiros para o custeio do mar que a principal oportunidade de melho-
SAMU 192 de Imperatriz foram regularmente ria diz respeito ao fato de que os resultados
repassados Fundo a Fundo, no período audi- estão excessivamente detalhados. Não é ne-
tado, para a conta corrente da Média e Alta cessário, por exemplo, identificar cada pregão
Complexidade, sendo movimentados de for- analisado. O melhor seria fazer referência a
ma global. eles de maneira mais sintética: “quanto aos
procedimentos licitatórios, foram identifica-
Os recursos da contrapartida estadual para das irregularidades em dois pregões examina-
o SAMU 192 foram depositados em con- dos e deixaram de ser apresentados proces-
tas específicas, não sendo comprovada a sos administrativos referentes a duas outras
Contrapartida Municipal para o exercício de licitações”.
2014.
Como aspecto positivo, destaca-se o fato de
Quanto aos procedimentos licitatórios, fo- a conclusão apresentar uma boa contextua-
ram identificadas irregularidades nos Pregões lização do objeto auditado. O segundo pará-
Presenciais nº 033/2014, realizado visando a grafo também apresenta uma boa síntese das
locação de veículos para o SAMU 192 e con- constatações.
sultório de rua, e nº 065/2014, para compra
de marmitex para atender ao SAMU 192 e 5.6 Encerramento da auditoria
Vigilância em Saúde. Não foram apresenta-
dos para análise os processos administrativos Antes de encerrar a auditoria, a equipe ainda
referentes ao Pregão Presencial nº 057/2013, possui uma tarefa importante: revisar toda a
100 Fase de Relatório– MÓDULO 5

documentação que apoia a auditoria. Ofícios, e elaboração da tarefa, passando pela carac-
documentos, papéis de trabalho, evidên- terização consistente das constatações, até
cias materiais, tudo deve estar organizado e a produção de um texto claro e objetivo que
armazenado adequadamente para futuras comunique adequadamente ao leitor o que foi
consultas. feito na auditoria e quais os resultados.

A pergunta que a equipe deve se fazer é: Todos Para facilitar a verificação de requisitos es-
os papéis de trabalho e fontes de evidência ne- senciais de um relatório de auditoria, foi ela-
cessários e citados no relatório estão disponí- borado o checklist mostrado na figura 30.
veis e armazenados para utilização da equipe, Recomenda-se que tanto a equipe quanto o
supervisor, órgão de controle de qualidade e supervisor revisem os relatórios considerando
terceiros com a qualidade e tempestividade esses itens.
adequada?
A primeira linha de defesa da qualidade é feita
Pode-se traçar um paralelo entre uma audito- pela própria equipe. É comum que cada parte
ria e uma pesquisa científica: do relatório tenha sido feita por um membro
da equipe. Assim, uma boa prática é que cada
• Ambas devem ser suficientemente bem membro da equipe leia todo o relatório uma
documentadas, de modo que seja possível vez mais e aponte erros de redação, trechos
verificar todas as informações! ambíguos ou pouco claros e pontos fracos na
fundamentação das constatações.
• Ambas devem ser completas, no sentido
de que com todos os elementos que con-
tribuíram para as conclusões estão presen- Importante
tes. Assim, qualquer um poderia recons-
truir passo a passo o caminho percorrido Recomenda-se que os
pela equipe até os resultados obtidos. membros da equipe re-
leiam o relatório e veri-
Uma vez finalizado o relatório de auditoria e fiquem os itens de qua-
organizada a documentação, é preciso ainda lidade relacionados no
fazer uma última checagem com o objetivo checklist.
de obter a máxima qualidade. A qualidade de
um relatório de auditoria vai muito além da
linguagem e de aspectos formais de redação.
Ela se manifesta na observância de um con-
junto de aspectos construídos ao longo da
auditoria, desde a interpretação da demanda
MÓDULO 5 – Fase de Relatório 101

Item de verificação Atendido?

1. A visão geral do objeto auditado é suficiente para se compreender o contexto


do problema de auditoria.

2. A metodologia utilizada está descrita e se mostrou adequada ao objetivo da


auditoria.

3. As questões de auditoria são apresentadas.

4. Os critérios de auditoria são apresentados de forma explícita e são adequados


para avaliar a situação do objeto auditado.

5. A situação encontrada é descrita com base em evidências suficientes, adequa-


das e pertinentes.

6. As evidências estão referenciadas e bem documentadas nos papéis de traba-


lho.

7. As constatações são bem construídas com base no confronto da situação evi-


denciada e dos critérios aplicados.

8. As justificativas do auditado foram integralmente analisadas.

9. As recomendações são relevantes e fundamentadas nas constatações.

10. As recomendações são claras, objetivas e factíveis.

11. A conclusão é clara, objetiva e responde à questão fundamental da auditoria.

12. A conclusão limita-se ao conteúdo apresentado no relatório.

13. Os anexos contêm as informações necessárias complementares para com-


preender as análises feitas, inclusive o texto integral das justificativas do gestor.

14. O texto do relatório é claro, objetivo e sucinto, sem ser incompleto.

15. O relatório atende à demanda e à tarefa.

Figura 30 – Checklist da qualidade de um relatório de auditoria.


102 Fase de Relatório– MÓDULO 5

Em seguida, cabe ao supervisor técnico, ainda Muitas vezes, estar a uma certa distância do
que tenha acompanhado de perto todo o de- processo permite uma leitura mais objetiva
senvolvimento da auditoria, fazer uma revisão do relatório. É bastante comum que a equi-
minuciosa, considerando: pe de auditoria, e mesmo o supervisor técni-
co, quando atua mais próximo da equipe du-
- a forma, a qualidade da escrita, e sobretudo rante a execução, acabe por se esquecer de
a correção e a clareza; explicitar algum elemento essencial da sua
argumentação.
- a estrutura lógica do relatório, verificando se
todas as constatações estão devidamente evi- Considerando a importância dos relatórios de
denciadas, se as recomendações estão ampa- auditoria, é fundamental que haja diferentes
radas nas constatações e se a conclusão não níveis de verificação de qualidade. Se o obje-
extrapola as constatações. tivo é fazer com que as auditorias contribuam
com a melhoria da gestão do SUS, deve-se
O supervisor é responsável pela segunda linha buscar a qualidade do processo como um todo
de defesa da qualidade. Um trabalho bem fei- e, em especial, do relatório de auditoria, seu
to de revisão pelo supervisor diminui bastante principal produto.
a chance de erros graves nos relatórios. Uma
boa prática é usar o check list apresentado
acima para orientar a revisão por parte do
supervisor.
Importante
A última verificação de qualidade é feita pela Quando tudo estiver
CMAUD em Brasília, o que deve ser visto pela pronto, leia o relatório
equipe como mais um nível de segurança, que mais uma vez!
visa a garantir a qualidade do trabalho de audi-
toria. Embora possa parecer redundante, essa
última etapa é muito importante, pois propicia
uma revisão ao mesmo tempo técnica e com
uma razoável distância do processo de audi-
toria. A CMAUD analisa o relatório com base
unicamente nos elementos nele contidos, o
que geralmente permite observar se todos os
elementos necessários para caracterizar cons-
tatações, recomendações e conclusão estão,
de fato, presentes.
103

Referências

ANDERSON, D. R.; SWEENEY, D. J.; WILLIAMS, T. A. Estatística Aplicada à


Administração e Economia. 2 ed. São Paulo: Thomson, 2007.

BRASIL. Tribunal de Contas da União. Padrões de auditoria de conformidade. Brasília: TCU, 2009.

BRASIL. Tribunal de Contas da União. Manual de Auditoria de Natureza Operacional. Brasília:


TCU, 2010.

BRASIL. Tribunal de Contas da União. Técnica de entrevista para auditorias. Brasília: TCU, 2010.

BRASIL. Tribunal de Contas da União. Técnica de observação direta em auditoria. Brasília: TCU,
2010.

BRASIL. Tribunal de Contas da União. Técnica de pesquisa para auditorias. Brasília: TCU, 2010.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Sistema Nacional


de Auditoria. Departamento Nacional de Auditoria do SUS. Auditoria do SUS : orientações bási-
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BRASIL. Tribunal de Contas da União. Normas de Auditoria do Tribunal de Contas da União.


Brasília: TCU, 2011.

BRASIL. Tribunal de Contas da União. Painel de referência em auditorias. Brasília: TCU, 2013.

BRASIL. Tribunal de Contas da União. Técnica de grupo focal para auditorias. Brasília: TCU,
2013.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Sistema Nacional


de Auditoria. Departamento Nacional de Auditoria do SUS. Devolução de recursos em auditoria
do SUS : orientações técnicas. Brasília : Ministério da Saúde, 2014.
104

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