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DIREITO CONSTITUCIONAL: TEORIA

DA CONSTITUIÇÃO
- direito constitucional: natureza de direito público, que trata dos princípios e normas do
Estado, que estuda a constituição. Seu objeto é a constituição do estado.
- direito civil-constitucional: o direito privado é lido a luz dos direitos fundamentais; vide
eficácia privada dos dfs.
- pan-constitucionalização: qualquer disciplina jurídica contate com a Constituição.
- fontes: constituição, tratados com força de EC (art. 5º p3), jurisprudência, doutrina e
costume como fonte complementar (aplica-se o secundum legem e praeter legem, mas não
o contra legem; ex: ADI 644).
- constituição: norma de maior hierarquia em ordenamento jurídico; organiza o Estado e
garantias individuais.
- neoconstitucionalismo: superioridade da constituição, absorção de valores
morais/políticos pela CF, pessoa é posta no centro (dignidade da pessoa humana fortalecida).

. Sentidos da CFs:
- sentido sociológico: Ferdinand Lassalle; somatória dos fatores reais de poder numa
sociedade (vontade popular); sem isso, não é constituição.
- sentido político: Carl Schmitt; decisão política fundamental. Apenas a constituição reflete
a decisão, o aspecto material (as demais normas são apenas leis constitucionais).
- sentido jurídico: Hans Kelsen; a CF está no mundo do deve ser (e não do ser); é fruto da
vontade racional, e não das leis naturais; é norma pura sem cunho
sociológico/político/filosófico.
. sentido lógico-jurídico: norma fundamental hipotética, pressuposto de validade da CF.
. sentido jurídico-positivo: norma suprema, fundamento de validade das demais normas.
- sentido normativo: Konrad Hesse; é a ordem jurídica fundamental da sociedade, dotada de
força normativa para impor comandos.
- sentido culturalista: J. H. Meirelles Teixeira; é produto do fato cultural da sociedade, que
nela pode influir; conceitua a “constituição total”, por apresentar diversos aspectos.
. Classificação das CFs:
- quanto à origem: promulgada (origem de assembleia constituinte democrática; ex:
brasileiras de 1891/1934/1946); outorgada (imposta por governador; brasileiras de
1824/1937/1967-1969); cesarista/bonapartista (participação por reverendo, que retifica a
vontade do governante; ex: constituição chilena de Pinochet); pactuada/dualista (pacto
entre o executivo e legislativo; ex: Magna Carta de 1215).
. A Magna Carta do Rei João Sem Terra (Inglaterra, 1215) é importante por criar: 1º) O
Habeas Corpus; 2º) O devido processo legal; e 3º) A classificação da Constituição, baseada no
pacto entre duas forças (Rei + Legislativo).
- quanto à forma: escrita/instrumental (ex: brasileiras) ou costumeira (ex: inglesa).
- quanto à elaboração: dogmática (escrita e elaborada em momento específico por
assembleia constituinte, segundo dogmas/ideias; ex: CF/88); histórica/costumeira (provem
de lenta formação histórica das tradições; ex: inglesa).
- quanto à extensão: analítica/dirigente (extensa e costuma trazer regras que deveriam ser
infraconstitucionais; ex: CF/88); sintética/negativa (princípios essenciais; ex: americana).
- quanto ao conteúdo: material/substancial (apenas matéria constitucional; organização do
Estado, em sentido amplo; ex: americana); formal (qualquer regra do texto é constitucional;
ex: CF/88).
. sentido estrito de constituição material: estrutura do Estado, a organização de seus órgãos
e os direitos fundamentais.
- quanto a estabilidade/alterabilidade: imutável (veda-se qualquer tipo de alteração; ex:
brasileira de 1824); rígida (exige processo legislativo complexo de alteração; CF/88);
semirrígida (apenas para algumas matérias; para outras, não); super-rígida (posição
minoritária de Moraes; a brasileira seria mais do que rígida, por conta das cláusulas pétreas);
flexível (não possui processo de alteração mais rigoroso que as normas infraconstitucionais);
fixa/silenciosa (apenas pode ser mudada pelo poder que criou, sem prever procedimentos
de modificação em seu texto; ex: espanhola de 1876).
- quanto ao conteúdo ideológico: liberal/negativa (preocupasse em limitar a atuação do
Estado; direitos de 1ª dimensão); social/dirigente (também incorpora direitos de 2ª
dimensão; direciona ações governamentais; ex: CF/88).
- quanto à ideologia: ortodoxa (reflete um pensamento ideológico; ex: chinesa);
eclética/compromissória (conjunção de diferentes ideologias; ex: CF/88).
- quanto à correspondência c/ a realidade (critério ontológico, provinda de Karl Lowestein):
normativa (há correspondência entre teoria e prática; respeito do texto pelos governantes;
ex: CF/88, por corrente majoritária de concursos); nominal (não há correspondência entre o
deve ser e a realidade; ex: CF/88, por Novelino e Fernandes); semântica/de fachada (não
corresponde com a realidade, usada de instrumento pelos governantes; ex: brasileira de
1937).
. outra definição de semântica: o texto não é claro por si, exigindo métodos de
interpretação além do gramatical.
- quanto à finalidade: garantia (negativa, de 1ª dimensão); balanço (espelha período político,
temporária deste; ex: constituições da URSS); dirigente (texto extenso, com normas
programáticas; ex: CF/88).
- quanto aos sistemas: principiológica (tem como base princípios constitucionais, embora
podem existir regras; ex: braisleira); preceitual (tem como base as regras constitucionais,
embora também possuam princípios; ex: mexicana de 1917).
- quanto à unidade documental: orgânica/unitextual/codificada (escrita em um documento;
ex: CF/88); inorgânica/legal (composta por vários documentos; ex: israelense).
- quanto à origem de decretação: homoconstituição/autoconstituição (redigida e aplicada
no mesmo país; ex: CF/88); heteroconstituição (imposta por outro Estado; ex: constituições
da Namíbia de 1990 e do Camboja de 1993, impostas pela ONU).
- quanto à função: provisória/revolucionária/pré-constituição (estrutura no intervalo entre
regimes); definitivas (pretendem ser produto final do constituinte; ex: CF/88).
- outras: constituição.com/crowdsourcing (elaboradas tendo como ponto de partida a
opinião popular colhida em redes sociais); em branco (sem limitação ao poder de emenda;
reforma à discricionariedade do governante); suave/dúctil (Gustavo Zagrebelsky; sem
exageros ou preceitos impossíveis); chapa-branca (Carlos Ari Sundfeld sobre a CF/88; muitas
regras p/ atender o lobby/privilégios de setores público); ubíqua/onipresente (Daniel
Sarmento; explicita que a referência a normas e valores constitucionais é um elemento
onipresente no direito brasileiro pós-CF/88, o pan-constitucionalismo); subconstitucional
(Uadi Lammêgo Bulos/Hild Krüger; conjunto de normas elevadas ao patamar constitucional;
excesso de temas constitucionalizados, sendo que a constituição deveria ter apenas o que
interessa a sociedade, sem inutilidades); liberal-patrimonialista (Soraya Lunardi/Dimitri
Dimoulis; a CF/88, mesmo com aparências e proclamações, objetiva majoritariamente
direitos individuais e limita a intervenção estatal econômica; já os direitos sociais seriam
programáticos).
- resumo da CF/88: promulgada (origem); escrita (forma); dogmática (modo de elaboração);
analítica (extensão); formal (conteúdo); rígida (estabilidade); social (conteúdo ideológico);
eclética (ideologia); normativa (correspondência com realidade); dirigente (finalidade);
principiológica (sistemas); orgânica (unidade de documentação); autoconstituição (modo de
decretação); e definitiva (função).
. O papel da constituição no ordenamento jurídico:
- constituição-lei (conjunto de normas comum); constituição-fundamento/total (lei
fundamental; a atividade legislativa é mero instrumento de sua realização); constituição-
moldura/quadro (é limite a atuação do legislador); constituição dúctil/suave (assegura
condições possíveis para uma vida comum, sem promover engessamento; a constituição
seria o ponto de convergência, e não de partida).

. Elementos das Constituições:


- classificação de José Afonso de Silva.
1. elementos orgânicos: normas que regulam a estrutura do Estado/Poderes.
2. elementos limitativos: limitam a ação dos poderes estatais (ex: direitos de 1ª dimensão).
3. elementos socioideológicos: ligados aos direitos sociais (arts. 6º a 11) e à ordem social
(arts. 193 a 232); de 2ª dimensão (welfare state/Estado do bem-estar social).
4. elementos de estabilização constitucional: como estado de sítio/defesa, intervenção
federal/estadual, ADI.
5. elementos formais de aplicabilidade: como o preâmbulo, ADCT e art. 5º, § 1º.

. Bloco de constitucionalidade: Junção de normas materialmente constitucionais que estão


fora da CF com o texto formal da CF.
- conceito restrito (adotado pelo STF): servem de parâmetro para a análise de
compatibilidade de leis ou atos normativos em relação à nossa CF o texto e os tratados
internacionais sobre direitos humanos aprovados no rito previsto pelo § 3º do art. 5º.

. Constitucionalismo e neoconstitucionalismo:
- constitucionalismo: segundo Canotilho, “é a teoria que ergue o princípio do governo
limitado indispensável à garantia dos direitos em dimensão estruturante da organização
político-social de uma comunidade. Neste sentido, o constitucionalismo moderno
representará uma técnica específica de limitação do poder com fins garantísticos.”
- neoconstitucionalismo: superioridade da constituição; absorção de valores
morais/políticos pela CF; pessoa é posta no centro (dignidade da pessoa humana fortalecida).
É uma releitura moral da constituição.
. marcos do Barroso: histórico (constitucionalismo europeu pós-guerra); filosófico (pós-
positivismo, confluência do jusnaturalismo e positivismo); teórico (reconhecimento de força
normativa constitucional, expansão da jurisdição constitucional e nova intepretação
constitucional).
. também pressupõe postura ativa do Magistrado (ativismo/construtivismo judicial). Vide
RE 684.612, onde o STF fixou parâmetros para a intervenção do Judiciário em políticas
públicas.
. críticas: supervalorização de normas-princípio em detrimento de normas-regra; do
judiciário em detrimento do legislativo; do critério hermenêutico da ponderação sob a
subsunção (Humberto Ávila diz em “não constitucionalismo”).
. vide neoprocessualismo: o processualismo é o reconhecimento da autonomia da ação, e
o neoprocessualismo (ou formalismo-valorativo) é o direito processual de acordo com as
normas e princípios constitucionais, semelhante ao neoconstitucioanalismo. Tem-se uma
visão do processo p/ efetivar direitos fundamentais, ascendendo os princípios da
colaboração/cooperação (reforço nos aspectos éticos).

. Princípios e regras:
- para Humberto Ávila: Diz que existem dois tipos de normas: as normas de primeiro grau
(normas-objetos da aplicação) e as de segundo grau (normas-métodos de aplicação). Na
concretização do direito, haveria a aplicação das normas de primeiro grau, por meio das
normas de segundo grau. As normas de primeiro grau, por sua vez, se subdividiriam em
regras (imediatamente descritivas) e princípios (imediatamente finalísticas) e as normas de
segundo grau se subdividiriam em postulados hermenêuticos (normas necessárias para a
compreensão interna e abstrata do ordenamento jurídico) ou postulados normativos
aplicativos (normas imediatamente metódicas; instituem os critérios de aplicação de outras
normas situadas no plano do objeto da aplicação; normas de aplicação de outras normas, ou
metanormas).
* os postulados podem ser inespecíficos (utilizados em qualquer caso, como
proporcionalidade e razoabilidade) ou específicos (apenas cabem em determinados casos
concretos, como proibição de excesso e concordância prática).
- critérios diferenciadores: generalidade/abstração e determinabilidade dos casos aplicáveis;
os princípios tem caráter multifuncional.
- conflito de normas: Dworkin e Alexy dizem que regras são ou não aplicáveis (em conflito,
usa-se critérios clássicos de hierarquia, especialidade e cronologia), mas em conflito de
princípios, deve haver ponderação.
* distinção entre ambos (Virgílio Afonso da Silva): Alexy diz que princípios são mandados
de otimização (Dworkin não diz isso), e Dworkin alega o “tudo ou nada” na aplicação de
regras (que Alexy discorda, podendo uma regra se tornar exceção de outra, por ex.)

- superabilidade/derrotabilidade/defenseability: é a não aplicação das regras válidas ante


as circunstâncias específicas do caso concreto, devido a conflito com princípio; somente deve
ocorrer em caso de manifesta injustiça inconstitucional.
- pamprincipiologismo: constitui no fenômeno de produção de princípios sem normatividade
(em excesso), normalmente com o fim de fundamentar decisões judiciais. Pode ser associado
a hermenêutica neoconstitucional. Crítico: Lênio Streck.

. Poder constituinte:
- é o poder de elaborar ou atualizar a Constituição. Nasceu da obra “Que é o Terceiro
Estado?”, de Sieyès, na Revolução Francesa.
- hiato constitucional (Ivo Dantas): separação do conteúdo da Constituição política da
realidade social.
- versões/momentos/agrupamentos teóricos da dogmática-constitucional constituinte
(Bernardo Gonçalves Fernandes):
. versão clássica (o poder constituinte é o poder de fato de criar nova ordem jurídica, de
titularidade da nação, ilimitado e incondicionado); versão moderna (transfere a titularidade
para o povo, século XX); leitura contemporânea (liga o poder constituinte ao patriotismo
constitucional, que é o reconhecimento de um constitucionalismo intercultural e inclusivo).

- poder constituinte originário (PCO): Também chamado de inicial/inaugural/de primeiro


grau/genuíno/primário. É o poder de criar uma Constituição, quando o Estado é novo (poder
constituinte originário histórico/fundacional, como a CF/1824), ou quando uma Constituição
é substituída por outra em um Estado já existente (poder constituinte revolucionário, como
a CF/88).
. CF/88 vs. PCO: a CF/88 foi convocada mediante a EC 26/85. Por ter sido convocada pelo
poder de reforma, doutrina minoritária alega que a CF atual não é resultado do poder
originário. Corrente majoritária discorda (p. ex., Gonet/Mendes), alegando ter ocorrido
rompimento com a CF anterior, material e formalmente.
. características: inicial (origem de novo ordenamento jurídico), autônomo/ilimitado (não
se vincula a normas anteriores, mas é teoricamente limitado pelos titulares e seus valores);
incondicionado/soberano (não se submete a qualquer forma prefixada de manifestação).
* Gonet diz que há limitação intrínseca do PCO: não há espaço para decisões autoritárias,
já que o PCO existe para ordenar juridicamente o poder do Estado; portanto, instituirá um
Estado com poderes limitados.
* há doutrina moderna que aponta vedação ao retrocesso (efeito cliquet).
* Jorge Miranda aponta 3 limites do PCO: transcendentes (quanto a essência/valores da
sociedade); imanentes (manter o conceito e unidade de Estado); heterônomos (aplicáveis
apenas a integrantes de comunidades internacionais, como a UE).
. PCO material (movimento rompe com ordem política e cria nova CF, com status
constitucional) e formal (força revolucionária jurídica, o ato de criação do novo complexo
normativo em si).
. procedimento direto (texto aprovado diretamente pelo povo) e indireto/representativo
(a participação do povo é apenas em eleger representantes). Há casos que poderia ser exigida
sua ratificação pelos Estados-membros (ex.: EUA em 1787).
. direito adquirido vs. CF superveniente: caso o direito adquirido seja incompatível pela
nova CF não recebe o status de direito, a menos que tratado especificamente (silêncio =
incompatibilidade).
* o próprio constituinte pode excepcionar tal regra, desde que expressa. P. ex., quando
minora os efeitos da proibição da União de conceder isenção tributária de outras entidades
federativas (art. 151, III), conforme art. 41, ADCT.
* as normas do poder constituinte possuem, em regra, eficácia retroativa mínima (atingem
efeitos futuros de fatos passados); excepcionalmente, quando previsto expressamente,
eficácia retroativa média (alcança prestações pendentes vencidas anteriormente a essas
normas) ou eficácia retroativa máxima ou restituidora (alcança fatos consumados no
passado).
. revogação vs. inconstitucionalidade superveniente: o STF decidiu que a CF anterior é
considerada revogada (ab-rogação), e não inconstitucional, com a sobrevinda de nova CF.
Exceções:
* desconstitucionalização: a nova CF recebe expressamente a antiga como lei
infraconstitucional (ex.: Estado de São Paulo, quando a CE/SP/67 disse: “consideram-se
vigentes, com o caráter de lei ordinária, os artigos da Constituição promulgada em 9 de julho
de 1947 que não contrariarem esta Constituição”.
* recepção material: normas da CF anteriores são expressamente recebidas como
constitucionais por prazo determinado (ex.: art. 34, ADCT:
. retroatividade: as normas constitucionais do PCO têm retroatividade mínima (serão
aplicadas a fatos posteriores, mesmo que relativos a negócios passados), excepcionalmente
possuindo, quando previsto expressamente, eficácia retroativa média (p. ex., prestações
vencidas anteriormente) ou máxima (atinge todos os fatos pretéritos).
. vacatio constitucionis: a incidência de nova CF é imediata, ou no momento que fixar.
Portanto, é possível, desde que conste na Constituição. A CF/67 e a EC 1/69 (ou CF/69)
estabeleceram um momento posterior para a entrada em vigor de ambas. José Afonso da
Silva destaca que a norma infraconstitucional editada no período de vacatio constitucionis
deve ter sua constitucionalidade aferida de acordo com a CF da época (a quase-morta), e se
a lei editada no período de vacatio for incompatível com a nova CF, será revogada por
ausência de recepção.
. inconstitucionalidade: normas do PCO nunca serão inconstitucionais (em caso de conflito,
haverá ponderação).
. repristinação: é o reestabelecimento de vigência de norma revogada pela revogação da
norma que a tinha revogado. É incompatível com o ordenamento jurídico brasileiro.

- Poder Constituinte Derivado (PCD): Também chamado de poder constituído, instituído,


secundário, de 2º grau ou remanescente, é criado pelo PCO, que deve obedecer a limites
estabelecidos pelo mesmo (portanto, é limitado e condicionado). Pode ser decorrente,
revisor ou reformador.
- PCD decorrente: possibilidade de os Estados-membros terem constituições próprias.
. Devem respeitar os seguintes princípios (Uadi Lammêgo Bulos):
a) princípios constitucionais sensíveis (forma republicana, sistema representativo e
regime democrático; direitos da pessoa humana; autonomia municipal; prestação de contas
da administração pública, direta e indireta; aplicação do mínimo exigido da receita resultante
de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e
desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde);
b) princípios constitucionais estabelecidos/organizatórios (podem ser limites explícitos
vedatórios ou mandatórios, inerentes ou decorrentes);
c) princípios constitucionais extensíveis (dizem respeito a organização da união, mas
devem ser repetidos pelos Estados).
. Municípios não possuem PCD decorrente; já o DF, sim (inclusive, conflito entre lei distrital
x lei orgânica distrital configura controle de constitucionalidade, enquanto lei municipal x lei
orgânica municipal configura controle de legalidade).
- PCD revisor: Também chamado de “recall constitucional”, está no art. 3º, ADCT: “A revisão
constitucional será realizada após cinco anos, contados da promulgação da Constituição, pelo
voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sessão unicameral.”
. Nas ECR também incidiam as limitações materiais (cláusulas pétreas).
. O STF disse que a janela para editar ECRs já se fechou, e que não podem mais ser
promulgadas, bem como as que foram editadas (6, todas em 1994) estão sujeitas a controle
judicial (ADI 981); isso pois estariam ligadas ao plebiscito do art. 2º, ADCT: “No dia 7 de
setembro de 1993 o eleitorado definirá, através de plebiscito, a forma (república ou
monarquia constitucional) e o sistema de governo (parlamentarismo ou presidencialismo)
que devem vigorar no País.” (data alterada pela EC 2/92, que mudou a data para 21/04/1993,
no qual foi realizado)
- PCD reformador: realizada por ECs. Possuem limitações explícitas (procedimentais,
materiais e circunstanciais), previstas no art. 60, e implícitas (doutrina e jurisprudência).
. l. circunstanciais (art. 60, § 1º): “A Constituição não poderá ser emendada na vigência de
intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio.”
. l. procedimentais/formais: 2 turnos em ambas as casas legislativas e 3/5 (ou 60%) de
aprovação (inclusive nas estaduais); inobservância leva a inconstitucionalidade por vício
formal (ex.: EC 19/98, na ADI-MC 2135).
* vide princípio da irrepetibilidade absoluta (art. 60, § 5º): a EC ou MP rejeitada ou
prejudicada por casa legislativa será arquivada e a matéria de que ela se trata não poderá ser
objeto de nova EC na mesma sessão legislativa (todavia, o STF entenda que,
rejeitado/prejudicado projeto substitutivo, a proposta original não sofre com a
irrepetibilidade absoluta; vide MS 22503). [a irrepetibilidade é relativa em LO e LC; se houver
proposta da maioria absoluta dos membros de qualquer das Casas, a matéria constante de
projeto de lei rejeitado poderá ser objeto de novo projeto na mesma sessão legislativa]
. l. materiais: cláusulas pétreas explícitas (art. 60, § 4º ) e implícitas (ex.: arts. 1º ao 4º, os
princípios fundamentais). Art. 60, § 4º: “Não será objeto de deliberação a proposta de
emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado; II - o voto direto, secreto,
universal e periódico; III - a separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias individuais.”
* tramitação de EC que viole clausula pétrea é passível de MS no STF pelos parlamentares
para controle preventivo jurisdicional de constitucionalidade (ex.: MS 32033).
* voto impresso é inconstitucional (ADI 4543); nas eleições indiretas, o voto pode ser
aberto (ADI 4298).
* teoria dos freios e contrapesos (check and balances ou checks and counterchecks); a
Defensoria, Parquet e Tribunal de Contas são entes independentes dos 3 poderes (embora o
último seja auxiliar do legislativo), dotados de autonomia administrativa, funcional e
orçamentária; e inconstitucional a criação estadual de órgão de semelhante ao CNJ (Súmula
649/STF).
* direitos e garantias fundamentais (art. 5º ao 17; individuais, sociais, de nacionalidade
etc); individuais (art. 5º, 16, 150, 195, § 6º). Fundamentais é gênero, e individuais é espécie.
Há divergência se os fundamentais também são cláusulas pétreas, ou apenas individuais.
* há críticas a essa limitação (afinal, o povo a fez; por que não pode altera-la?)
. l. implícitas: tudo aquilo ínsito a identidade básica da constituição ideada, mas não
previsto expressamente. Inclui-se direitos fundamentais e a impossibilidade de alteração do
titular do poder constituinte.
* veda-se a dupla revisão (realizar a extração de regras vedatórias para depois alterar o
que era vedado).
. l. temporais: não existem mais (existiu na CF/1824).
- poder constituinte difuso: também chamado de mutação constitucional ou procedimento
de mudança informal da Constituição, é a modificação da interpretação da norma
constitucional sem alteração do texto, devido a fatores sociais, políticos e econômicos.
- poder constituinte supranacional: Constituição de caráter comunitário; o titular é o cidadão
universal. Ex.: UE (movimento de constitucionalização do Direito Comunitário Europeu).
. fundamentos: cidadania universal; pluralismo de ordenamentos jurídicos; vontade de
integração; soberania remodelada.
. transconstitucionalismo: tese de Marcelo Neves; diálogo entre constituições diversas.
Também há a interconstitucionalidade e a globalização do direito constitucional.

. Princípio da hierarquia das normas:


- pirâmide de Kelsen: CF + EC + TIDH com rito especial (princípio da supremacia da
constituição) > normas supralegais (TIDH antes da EC 45/04 ou após, mas sem rito especial)
> atos normativos primários (LCs, Los, lei delegadas, MPs, resoluções/decretos legislativos,
tratados internacionais, decretos autônomos, resoluções do CNJ/CNMP) > atos normativos
secundários (portarias, decretos reguladores, instruções normativas).
* ao STF, Tis que versem sobre direito ambiental são TIDH (ADPF 708).
* em 2021, o Congresso aprovou Projeto de Decreto Legislativo confirmando a adesão do
Brasil à Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas
Correlatas de Intolerância (se completou em janeiro de 2022, com o Decreto Presidencial
10.932/22). Com isso, as cotas raciais passaram a ser normas constitucionais, uma vez que o
TIDH foi aprovado com status equivalente ao das ECs (art. 5º da Convenção).
* não há hierarquia entre Los e LCs. LO pode revogar LO; LC pode revogar LC; LC pode
revogar LO; e, em regra, uma LO não pode revogar uma LC (exceto caso essa LC seja, em
essência, uma LO, por tratar de assunto de LO; ex.: LC 70/91 revogada pela LO 9430/96 e RE
509.300).
* atos normativos primários se validam da CF (sofrem controle de constitucionalidade
perante a CF e de convencionalidade perante normas supralegais; os secundários, dos atos
primários (fala-se em controle de legalidade).

. Eficácia e aplicabilidade de normas constitucionais:


- normas de eficácia plena: aplicabilidade direta/imediata/integral, apta a produzir sozinha
seus efeitos (ex.: remédios constitucionais).
- normas de eficácia contida/restrita: possuem originalmente eficácia direta, mas há
restrição posterior que a restringe (ex.: art. 5º, XIII, “é livre o exercício do trabalho [...]” vs.
leis que requerem exigências especiais; caso apenas admitido pelo STF quando necessário
para evitar lesões). São normas também chamadas de “normas com eficácia relativa
restringível”, ou “de eficácia redutível/restringível”.
- normas de eficácia limitada: aplicabilidade indireta/mediata, que necessita de
regulamentação para ser plenamente efetiva (ex.: art. 37, VII, greve de servidor público).
Também chamadas de “normas com eficácia relativa complementável”. Mesmo assim,
possuem eficácia jurídica imediata (diferente de aplicabilidade).
- normas programáticas: aplicabilidade indireta/mediata, trazem comandos valores;
veiculam programas de governo (ex.: art. 3º e 4º, 205 etc).
* José Afonso da Silva considera as essas normas de eficácia limitada e programáticas como
subespécies de um gênero “normas de eficácia limitada (de princípio institutivo e de caráter
programático, respectivamente).
* Diniz menciona as normas de eficácia absoluta/supereficazes (não modificáveis por ECs
e de força paralisante contra normas que as contrariar).
* Celso Bastos e Ayres Britto dividem normas de aplicação (aptas a produzirem todos os
efeitos) das de integração (dependem de atuação infraconstitucional).
* Uadi Lammêgo fala nas normas constitucionais de eficácia exaurida (ex.: ADCT,
especialmente o art. 2º).
* Pontes de Miranda fala em normas bastantes em si e não bastantes em si, semelhantes
às normas autoexecutáveis (self-executing) e as não autoexecutáveis (not self-executing) de
Rui Barbosa (de Thomas Cooley).
* Barroso: normas constitucionais de organização (direcionadas aos Poderes do Estado);
normas constitucionais definidoras de direitos (estabelecem direitos subjetivos dos
cidadãos); normas constitucionais programáticas (indicam finalidades a serem alcançadas,
veiculando programas de governo).

. Hermenêutica constitucional:
- é necessária para resolver ambiguidades (ex.: multifacetário conceito de casa, confundida
como domicílio ou Casa Legislativa); incoerências (ex.: contraposição entre os artigos 61, §
1º, d, e 128, § 5º, relativos à iniciativa legislativa em matérias de interesse do MP); e lacunas
(definidas por Jorge Miranda como situações constitucionalmente relevantes não previstas;
subdivididas em lacunas de formulação, onde não havia intenção de excluir incidência da
norma pelo constituinte, diferente do silêncio eloquente, onde considera-se intenção, e
lacunas axiológicas, onde hipótese não se enquadrou em dada norma mas pode nela ser
incluída, para evitar injustiças).
- Teoria interpretativista/procedimentalista (Ronald Dworkin): a interpretação
constitucional pelo judiciário deve se limitar à captação do sentido expresso em seus
dispositivos, decorrentes do texto e/ou vontade originária.
* teoria do reforço da democracia (John Hart Ely): o papel do judiciário é garantir as bases
democráticos, totalmente a cargo dos eleitos a manutenção dos rumos do Estado.
- Teoria não interpretativista/substancial (Jünger Habermas): os juízes podem invocar e
aplicar valores e princípios substantivos contra atos do Legislativo que não estejam em
conformidade com o projeto da Constituição (ativismo judicial), interpretando a Constituição
de forma socialmente mais abrangente.
- princípios de interpretação:
. p. da unidade da CF: desse p., também deve se afastar aparentes antinomias.
* p. da interpretação conforme a CF:
. p. do efeito integrador (ou eficácia integradora): deve ser privilegiada a interpretação
que reforce o sentimento de unidade política e social
. p. da máxima efetividade (ou interpretação efetiva ou eficiência).
* p. da força normativa da CF: não se pode reduzir sua eficácia.
. p. da justeza (correção funcional, conformidade funcional ou exatidão funcional): a
interpretação não pode chegar a um resultado que subverta ou perturbe o esquema
organizatório-funcional estabelecido pelo constituinte originário.
. p. da concordância prática (ou da harmonização): não existência de hierarquia entre
normas constitucionais e sua coexistência.
* p. da proporcionalidade: conta com três subprincípios: adequação, necessidade e
proporcionalidade em sentido estrito (ou razoabilidade).
- métodos/princípios de interpretação (Canotilho):
. m. jurídico/hermenêutico clássico: a CF é uma lei como outras, sem necessidade de
métodos específicos. Usa-se elementos tradicionalmente usados (genético, gramático ou
filológico, lógico, sistemático, histórico, teleológico ou sociológico, popular, doutrinário e
evolutivo) para descobrir o verdadeiro significado e sentido da norma.
. m. tópico-problemático: parte do pressuposto de que não é possível interpretar a lei
constitucional in abstrato, somente no caso concreto. Parte-se do problema concreto para
buscar a solução dos problemas, e não o contrário.
. m. hermenêutico-concretizador (Konrad Hesse): constante diálogo entre as pré-
compreensões do intérprete e o texto constitucional, em um “movimento de ir e vir”.
* círculo hermenêutico (Gadamer/Heidegger): retroalimentação interpretativa entre o
intérprete e o objeto da interpretação. Há pré-compreensão do interprete que o aproxima
do objeto, e após isso, o retornaria ao ponto de partida. Portanto, a simbiose intérprete-
objeto é melhor representada por uma espiral hermenêutica (Hassemer); a cada ação que o
objeto/intérprete venha a exercer sobre o outro, há mútua alteração do ponto em que
estavam gerando-se, portanto, trajetória condizente com verdadeira espiral, ou seja, uma
espiral hermenêutica.
. m. científico-espiritual (ou método valorativo/sociológico; Rudolf Smend): a
interpretação da norma observa a realidade social e seus valores, de acordo com a evolução
social.
. m. normativo-estruturante (Friederich Muller): não há identidade entre a norma e o texto
normativo, pois aquela é mais ampla e representa pedaço da sociedade.
. m. de comparação constitucional: comparação entre constituições de diferentes
ordenamentos jurídicos.
- minimalismo e maximalismo de decisões judiciais (Cass Sunstein): A primeira é voltada a
solucionar litígios particulares, decidindo apenas sobre questões essenciais ao caso; a
segunda são decisões amplas e profundas, com regras para o futuro. Cass tem preferência
pelo minimalismo judicial.
- teoria da integridade (Dworkin): o juiz está não apenas vinculado ao passado, àquilo que
já foi decidido sobre o tema, mas tem a responsabilidade de influenciar as decisões futuras.
* “A integridade seria o princípio político aglutinador de outros princípios que fundam a
sociedade e forneceria, ao mesmo tempo, os sinais indicadores do caminho a ser seguido no
futuro – rumo à sua comunidade de princípios, fraternal, apoiada nos princípios da equidade,
justiça e devido processo legal – a partir de uma correta apreciação e fé nos valores do
passado.”

. Constituições brasileiras:
- 1824: poder moderador, HC em 1832 com o CP, STF (criado como STJ) em 1828.
- 1891: influencia norte-americana de Rui Barbosa, presidencialismo, federalismo, extinção
do poder moderador, rompimento com religião oficial, controle difuso de
constitucionalidade (já previsto na CF provisória de 1890), HC constitucionalizado, STF como
STF.
- 1934: direitos sociais, MS, ADI interventiva.
- 1937 (ou Polaca): criou-se os decretos leis
* cláusula não obstante (notwithstanding clause, non-obstante ou override clause),
originária da experiência constitucional canadense: possibilidade de reversão parlamentar
de decisão que declara norma inconstitucional, de iniciativa do 0presidente.
- 1946: ADI (pela EC 16/1965)
- 1967 (e EC 1/1969, por muitos considerada uma nova CF).
* vide Lei da Anistia (Lei n. 6.683/1979), constitucional, segundo ADPF 153.
- 1988 (Constituição Cidadã).

. Outros conceitos constitucionalistas:


- constitucionalismo do futuro (José Roberto Dromi): busca o equilíbrio entre as concepções
dominantes do constitucionalismo moderno e os excessos praticados no constitucionalismo
contemporâneo, possuindo valores guiadores e integrando os direitos de 3ª dimensão.
- constitucionalismo popular (Mark Tushnet): o povo dá a última palavra sobre a
interpretação da constituição, limitando o judicial review (controle judiciário).
- constitucionalismo abusivo: há o uso de mecanismos de mudança constitucional para fazer
um Estado menos democrático (ex.: a EC 16/1997, que permitiu a reeleição de FHC numa
época em que o chefe do Executivo só tinha direito a um mandato).
- patriotismo constitucional: abandono do nacionalismo arcaico (carregado de xenofobia),
passando a desenvolver o reconhecimento inclusivo, mesmo entre cidadãos diferentes
étnica e culturalmente.
- constitucionalismo termidoriano/whig/gerondino: corrente conservadora e reacionária
francesa, que buscou proteger a propriedade privada e defendia mudanças graduais, com
limite da monarquia e destaque à Assembleia.
- constitucionalismo feminista (Christine Peter da Silva): oferece conceitos e ferramentas
jurídicas necessárias à efetivação da isonomia, inclusão e respeito das mulheres na
sociedade.
* associa a teoria do impacto desproporcional (leis neutras podem gerar efeitos mais
prejudiciais a grupos específicos) ao const. feminista.
- constituição simbólica (Marcelo Neves): predomínio/hipertrofia da função simbólica em
detrimento da jurídica. Em seu sentido negativo, há deficiência na concretização jurídico-
normativa constitucional; em seu sentido positivo, mascara problemas sociais, impedindo
transformações reais na sociedade. Não corresponde minimamente à realidade (CF nominal).
* legislação-álibi: aquela surgida para responder determinado problema pontual, quando
necessário.
- solipsismo judicial: forma de sacralização da atividade judicante; o julgador sabe o que é
bom, justo, certo e verdadeiro à sociedade; representada na subjetividade exacerbada (p.
ex., “conforme minha convicção”).
- terraplanismo constitucional (Luís Roberto Barroso): interpretação constitucional absurda,
ignorando os valores e princípios da Constituição e da teoria constitucional (STF, MI 7311).

DIREITO CONSTITUCIONAL:
DIREITOS E GARANTIAS
FUNDAMENTAIS
PROFESSOR: ALEXANDRE ELI ALVES

Introdução

. Importante:
- Formas de Estado: Estado unitário e federativo.
- Formas de Governo: Monarquia e república.
- Sistemas de Governo: Parlamentarismo, presidencialismo e semipresidencialismo.
- Democracia: Direta, indireta/representativa e mista/semidireta.
- Teorias da formação do Estado: Teoria natural e teoria contratual (contratualismo).

. Introdução:
- Direitos Humanos vs. Direitos Fundamentais: Os direitos naturais (ou direitos do homem)
são os direitos básicos de todos os seres humanos, que são existem com a mera existência
humana. Já os direitos humanos nasceram com a Declaração Universal dos Direitos Humanos
(1948) pela ONU (Organização das Nações Unidas, 1945). São direitos aceitos
internacionalmente (tratados internacionais), sem força jurídica direta. Os direitos
fundamentais também são os direitos básicos de todos os seres humanos, porém,
positivados na Constituição Federal (atenção: ler § 2º e 3º do art. 5º CF).
- Preâmbulo: É uma declaração introdutória que indica o propósito e filosofia de um
documento. Na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, há um preâmbulo.
Quanto à sua força jurídica, ele pode ser interpretado de três formas:
a. irrelevância jurídica (maior jurisprudência do STF [ADI 2.076, min. Carlos Velloso]);
b. plena eficácia (norma eficaz);
c. relevância jurídica indireta (meio termo; uma mera orientação).
- Dignidade da pessoa humana: Principio encontrado no art. 1º item III CF. Também há o
“direito à vida”, expresso no caput do art. 5º CF. Deve-se levar em conta o princípio do
mínimo existencial (mínimo dos direitos fundamentais que são essenciais para a vida
humana) e a reserva do possível (os direitos fundamentais são garantidos na medida que o
orçamento permitir).
- Fundamentos da CF (art. 1º): a soberania (interna e externa); a cidadania; a dignidade da
pessoa humana; os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, e; o pluralismo político.
- Tripartição de Poder (art. 2º): “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre
si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.” Após o absolutismo vivido pelo Brasil (e pelo
mundo), houve essa tripartição do poder.
- Cláusulas pétreas (art. 60, § 4º): “Não será objeto de deliberação a proposta de emenda
tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e
periódico; III - a separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias individuais.”
- Aplicação imediata: Art. 5º, § 1º: “As normas definidoras dos direitos e garantias
fundamentais têm aplicação imediata.” Isso significa que essas normas DEVEM ser aplicadas
no caso concreto; não dependem de atuação legislativa para que tenham eficácia. Os
tratados internacionais e emendas na Constituição, caso tratem de direitos fundamentais,
possuem aplicabilidade imediata (obrigatória).
- Bloco de constitucionalidade: Conjunto de normas que possuem status constitucional.
- O Brasil possui uma constituição é promulgada (origem); escrita (forma); dogmática (modo
de elaboração); analítica (extensão); formal (conteúdo); rígida(estabilidade); social
(conteúdo ideológico); eclética (ideologia); normativa (correspondência com realidade);
dirigente (finalidade); principiológica (sistemas); orgânica (unidade de documentação);
autoconstituição (modo de decretação); e definitiva (função). Usa do pragmatismo, e analisa
cada caso individualmente (ausência de sistematização).
- Criticas a amplitude de direitos fundamentais elencados na Constituição:
. Falta de rigor científico e técnica legislativa adequada (contradições e ausência de
tratamento lógico da matéria);
. Ausência de sistematização;
. Inclusão de preceitos que não revelam as características dos direitos fundamentais
(impressão de que tudo é direito fundamental);
. Ausência de previsão de normas genéricas expressas sobre restrições aos direitos
fundamentais.

. Dimensões/gerações do Direito:
- 1ª dimensão: É a passagem do Estado autoritário para o Estado de direito. Aqui é
encontrada a liberdade negativa (também chamada de clássica ou formal, é a liberdade é
entendida como a não-interferência do poder do Estado sobre as ações individuais).
São exemplos dessa dimensão: o direito à vida, à liberdade, à propriedade, à liberdade de
expressão, à liberdade de religião, à participação política (direitos políticos e civis), ao acesso
do judiciário, etc.
Entre os documentos importantes dessa dimensão, destacam-se a Magna Carta de 1215, a
Declaração de Independência dos Estados Unidos da América (1776) e a Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão (1789).
- 2ª dimensão: São os direitos da liberdade positiva. Ao contrário da negativa, que se refere
ao impedimento de limitadores, a positiva é o poder e recursos para poder determinar as
próprias ações. Em resumo, a 2ª dimensão é sobre os direitos sociais, sobre a igualdade.
São exemplos dessa dimensão: o direito à assistência social, à saúde, à educação, os direitos
trabalhistas, etc.
Seu marco surge com a Revolução Industrial europeia (XVIII/XIX). Também pode-se dizer que
são direitos que requerem uma devolução tributária; algo que se exija do Estado.
- 3ª dimensão: São os direitos transindividuais, ou metaindividuais. Consagram os
princípios da solidariedade e fraternidade, atribuídos de forma geral a toda a sociedade e
coletividade. Nascem após a Segunda Guerra Mundial (1945), junto com os tratados
internacionais.
São exemplos dessa dimensão: o direito à paz, ao desenvolvimento, ao meio ambiente, à
autodeterminação dos povos, à comunicação, etc.
Podemos também dizer que os direitos de terceira dimensão são amplos e demandam uma
posição ativa tanto do Estado como dos particulares - criando uma espécie de "parceria"
entre o âmbito público e o âmbito privado.
Aqui, encerra-se as três grandes dimensões classificadas por Karel Vasak. Também são as
únicas aceitas pelo STF. Mesmo assim, temos essas outras dimensões:
- 4ª dimensão: Dimensão seguida majoritariamente pela doutrina de Paulo Bonavides,
representa os direitos introduzidos pela globalização política e de direitos fundamentais,
destacando-se o direito a democracia, informação e pluralismo.
Para Noberto Bobbio, essa dimensão decorreria dos avanços da engenharia genética.
- 5ª dimensão: Segundo Paulo Bonavides, a paz é o direito da quinta dimensão, podendo
ser chamado de “direito supremo da humanidade”.
- 6ª dimensão: Sendo uma dimensão muito recente e mal aceita, ela trata do direito a água,
a igualdade de gênero e a biotecnologia.

. Fundamentalidade:
- Segundo Robert Alexy, a fundamentalidade pode ser:
. Formal: É o direito positivado. Possui ação imediata.
. Material: São os direitos fundamentais não especificados no rol de direitos fundamentais
da Constituição (ver art. 5º, § 2º, art. conhecido como “norma geral inclusiva”); direitos que,
em análise, constituem o papel de fundamentais. Ou seja, a fundamentalidade material é a
essência propriamente dita de ser um direito fundamental. Usa-se a hermenêutica para
reconhecê-los e usá-los.

. Tripla hierarquia dos tratados internacionais (STF):


1. Tratado internacional de direitos humanos: equivale a emenda constitucional, se
aprovados nos termos do art. 5º, § 3º (aprovados por 3/5 do Congresso);
2. Tratado internacional de direitos humanos aprovado pelo procedimento ordinário
(maioria simples; art. 47): possui status supralegal (abaixo da CF e acima das demais leis).
3. Tratado internacional que não trata de direitos humanos: tem força de lei ordinária.

. Teoria dos status de Georg Jellinek (ou dos direitos fundamentais):


- Status passivo (status subjections): O indivíduo está subordinado ao Estado; é detentor de
deveres.
- Status negativo (status libertatis): Diz respeito a liberdade do indivíduo quanto ao Estado;
é a 1ª geração de direitos (com exceção dos direitos políticos); são as faculdades/liberdades
do indivíduo em face do Estado (sentido estrito), assim como seus direitos de defesa (sentido
amplo).
- Status positivo (status civitatis): O indivíduo exige que o Estado atue em seu favor; diz
respeito aos direitos de 2ª geração.
- Status ativo (status activus civitatis): É o exercício dos direitos políticos.

. Teoria/Classificação trialista:
- Direito de defesa: São aqueles que exigem o dever de abstenção por parte do Estado,
impedindo a sua interferência na autonomia dos indivíduos (1ª geração).
- Direito a prestação: São direitos que impõem um dever para o Estado, uma prestação ativa.
Podem ser prestações materiais (saúde, educação, segurança, etc) ou prestações jurídicas
(normas que servem à interesses individuais).
- Direito de participação: Direitos que garantem a possibilidade de fazer parte da política
(arts. 15 ao 17).

. Características dos direitos e garantias fundamentais:


- Historicidade: Possuem caráter histórico, nascendo com o cristianismo, passando pelas
diversas revoluções e chegando aos dias atuais.
- Universalidade: Destinam-se a todos os seres humanos.
- Limitabilidade/Relatividade: Não são absolutos, pois podem conflitar no caso concreto.
- Concorrência: Podem ser exercidos cumulativamente, ao mesmo tempo.
- Irrenunciabilidade: Não podem ser renunciados.
- Inalienabilidade: Como são conferidos a todos, são indisponíveis; não se pode aliená-los.
- Imprescritibilidade: Não prescrevem.
. A natureza dos direitos e garantias fundamentais é normativa (está em lei positivada) e
vinculante (se vincula como lei e deve passar a valer no ordenamento jurídico).
. Também existem os deveres fundamentais.

. A diferença entre direitos e garantias fundamentais:


- Os direitos são os bens e vantagens, enquanto as garantias são os instrumentos através
dos quais se assegura o exercício dos aludidos direitos (preventivamente) ou prontamente
os repara, caso violados. Ex.: liberdade (direito); habeas corpus (garantia) – direito ao juízo
natural (direito); art. 5 º, XXXVII, veda a instituição de juízo ou tribunal de exceção (garantia;
nesse caso, a garantia e o direito estão na mesma norma).
- Atenção: Os remédios constitucionais são espécies do gênero das garantias fundamentais.

. Titularidade dos direitos e garantias fundamentais:


. O titular de direitos e garantias fundamentais é o sujeito ativo, o que usufrui do direito,
enquanto o destinatário é o Estado, que deve garantir esses direitos. Quanto ao titular:
- Pessoas físicas: Brasileiros natos, brasileiros naturalizados e os estrangeiros, sejam eles
residentes no Brasil ou não residentes no Brasil, podem usufruir dessas normas.
- Pessoas jurídicas: Os direitos fundamentais devem estar em harmonia com a natureza
jurídica. Podem sofrer dano moral (súmula 227, STJ) e requerer a sua indenização, mas não
podem impetrar habeas corpus, pois não sofrem ou se acham ameaçadas de sofrer violência
ou coação em sua liberdade de locomoção (HC 92.921).
- Direitos sociais: O entendimento que prevalece é o de que a titularidade dos direitos sociais
pertence tanto aos indivíduos quanto à coletividade, permitindo que os direito sejam
exigidos tanto por interesse individual quanto pela representação de um grupo. Assim, não
se trata de um conjunto de direitos exclusivos dos grupos ou entes coletivos.
- Animais e outros seres vivos: Não há consenso sobre a possibilidade de conceder direitos
fundamentais para além da pessoa humana, alcançando animais e outros seres vivos,
prevalecendo a tese de que não é possível. Todavia, existe um reconhecimento da
fundamentalidade da vida. Esse reconhecimento implica a existência de deveres
fundamentais de proteção da vida e da dignidade de outros seres vivos. Exemplo disso é a
vedação de práticas cruéis e causadoras de sofrimento desnecessário aos animais.
- Titularidade post mortem: Relaciona-se principalmente aos direitos da personalidade, os
quais podem ser resguardados por parentes/familiares mesmo após a morte (ver arts. 12 e
20 CC). Basicamente, alguns direitos da personalidade transcendem o período de vida do
indivíduo, sendo reconhecidos pela jurisprudência (privacidade, honra, nome, direitos
autorais, etc).

. Dimensão objetiva e subjetiva dos direitos fundamentais:


. Dimensão subjetiva: É o direito que gira em torno da perspectiva ou posição jurídica do
indivíduo, exigindo do Estado abstenção (1ª dimensão) ou alguma ação (2ª dimensão).
- Regra aberta: Nessa dimensão subjetiva, há a possibilidade de impor judicialmente os
interesses sobre os destinatários.
- Tripé de posições fundamentais: Robert Alexy trata a dimensão subjetiva através de um
tripé de posições fundamentais que, em princípio, podem integrar um direito fundamental
subjetivo. São elementos dessa trindade:
. Direito a qualquer coisa: direito a ações negativas e positivas do Estado ou particulares;
. Liberdades: negação de exigências e proibições;
. Poderes: competências ou autorizações.

. Dimensão objetiva: São os valores e fins objetivos básicos de ação positiva e negativa do
Estado, que deve agir para a manutenção desses valores e fins sociais. Os direitos dessa
dimensão possuem eficácia sobre todo o ordenamento jurídico e fornecem diretrizes para
todos os três poderes.
- A partir da dimensão objetiva, existem 3 aspectos nos quais os direitos fundamentais
oferecem critérios de controle da ação estatal e que devem ser aplicados
independentemente de violações a direitos subjetivos fundamentais:
. Normas de competência negativa: aquilo que está sendo outorgado ao indivíduo em
termos de liberdade/livre-arbítrio, em sua esfera, está sendo objetivamente retirado do
Estado;
. Pautas interpretativas e critérios para a configuração do direito infraconstitucional
(interpretação conforme a constituição);
. Dever de proteção e promoção de posições jurídicas fundamentais contra possíveis
violações por terceiros – mandamentos normativos direcionados ao Estado.

. Suporte fático dos direitos fundamentais:


. O suporte fático é o conjunto de condições previstas pela norma que, quando verificadas,
geram determinada consequência jurídica.
A opção por determinada teoria sobre o suporte fático dos direitos fundamentais repercute
na estrutura normativa (princípios e regras), na forma de aplicação (subsunção, que é a
inclusão, ou ponderação, que é a limitação de uma norma perante uma colisão de normas) e
na delimitação direitos fundamentais.
- Elementos do suporte fático: Basicamente, o suporte fático é composto por dois
elementos: o âmbito de proteção (o que se protege) e a intervenção (aquilo contra o que se
protege).
. Âmbito de proteção: Nos direitos de defesa, o âmbito de proteção compreende ações,
características ou situações que não podem ser afetadas, embaraçadas ou eliminadas; é o
que se protege, como o direito de ir e vir. Nos direitos a prestações, compreende as ações
estatais necessárias para a realização do direito.
. Intervenção: Nos direitos de defesa, a intervenção consiste na afetação, embaraço ou
eliminação do bem jurídico protegido. Já nos direitos a prestações, a intervenção ocorre
quando os poderes públicos deixam de agir ou agem de forma insuficiente.
- Intervenção constitucionalmente fundamentada: É chamada de intervenção restritiva
e não enseja consequência jurídica (se está previsto na constituição, é apenas uma forma de
limitar o direito fundamental). Por outro lado, a intervenção que não tem essa
fundamentação é chamada de intervenção violadora e enseja a consequência jurídica.
- Amplitude do suporte fático: Existem diferentes concepções quanto à amplitude conferida
ao suporte fático, divididas em teorias.
. Teoria do suporte fático restrito: Têm como característica a exclusão inicial de
determinados fatos, estados, ações, condutas ou formas de exercício. Faz-se uma
interpretação mais restrita dos direitos previstos. Só são admitidas restrições autorizadas
pela Constituição. Quando ausentes, a lei pode apenas definir os contornos preexistentes
(delimitação ou regulamentação). A delimitação desses direitos pode evitar colisões de
normas fundamentais. Uma crítica feita a essas teorias é acerca da ausência de critérios para
excluir as determinadas condutas enquadráveis na hipótese prevista na norma.
. Teoria do suporte fático amplo: Impõe a interpretação ampla do âmbito da proteção e
intervenção. Para esta corrente, o âmbito de proteção deve incluir qualquer ação, estado,
fato ou posição jurídica que, isoladamente considerados, possam ser subsumidos no “âmbito
temático” de um direito fundamental. Não se exclui, a priori, nenhuma conduta do âmbito
de proteção do direito. Já na intervenção, a teoria inclui em seu conceito qualquer tipo de
regulamentação, sem diferenciá-las. Para esse suporte, é preciso que as normas de direitos
fundamentais sejam concebidas com a estrutura de princípios, não de regras.

Aplicabilidade dos Direitos Fundamentais

Art. 5º, § 1º: “As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação
imediata.” Em primeiro lugar, isso significa que essas normas são aplicáveis até onde
possam, até onde as instituições ofereçam condições para seu atendimento. Em segundo
lugar, significa que o Poder Judiciário, sendo invocado a propósito de uma situação concreta
nelas garantida, não pode deixar de aplicá-las. Segundo José Afonso:
- Aplicação imediata: Significa que as normas são “dotadas de todos os meios e elementos
necessários à sua pronta incidência aos fatos, situações, condutas ou comportamentos que
elas regulam”.
- Normas de aplicabilidade direta/imediata são normas de eficácia plena e contida. Ou seja,
são normas da Constituição que, no momento que esta entra em vigor, estão aptas a produzir
todos os seus efeitos, independentemente de norma integrativa infraconstitucional.
- Normas de aplicabilidade indireta/mediata são normas de eficácia limitada. Ou seja,
dependem de outras normas para poderem produzir seus efeitos.
- Princípio da máxima eficácia/efetividade: Atribuir na interpretação das normas oriundas
da Constituição o sentido de maior eficácia, utilizando todas as suas potencialidades. Esse
princípio é utilizado com maior incidência no âmbito dos direitos fundamentais, embora
“devesse” ser aplicado a todas as normas constitucionais.
Os direitos e garantias individuais (1ª dimensão) tem aplicabilidade direta, enquanto os
direitos sociais, culturais e econômicos (2ª dimensão) tendem a sê-lo, existindo alguns que,
especialmente os que mencionam uma lei integradora, são de eficácia limitada e
aplicabilidade indireta (como o direito de greve do art. 37, VII ou o da aposentadoria especial
do art. 40, § 4º). Ou seja, nem sempre o são, porque muitas vezes dependem de providências
ulteriores que lhes completem a eficácia e possibilitem sua aplicação.
- Quanto a omissão: Em caso de omissão de medida para tornar efetiva norma
constitucional, a CF/88 proporciona dois instrumentos:
. Ação direta de inconstitucionalidade por omissão (ADO): Art. 103, § 2º: “Declarada a
inconstitucionalidade por omissão de medida para tornar efetiva norma constitucional, será
dada ciência ao Poder competente para a adoção das providências necessárias e, em se
tratando de órgão administrativo, para fazê-lo em trinta dias.”
. Mandado de injunção (MI): Art. 5º, LXXI: “Conceder-se-á mandado de injunção sempre
que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades
constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.”
* Enquanto o ADO é um apelo, o MI é uma ação para garantir o direito constitucional de
maneira imediata.
- Opinião de doutrinadores:
. Celso Bastos: Os direitos fundamentais são diretamente aplicáveis, na medida do possível,
exceto quando a CF expressamente remete a concretização do direito ao legislador, ou
quando a norma não contiver elementos mínimos indispensáveis que lhe possam assegurar
aplicabilidade. Caso em que não possui normatividade suficiente para gerar seus efeitos
principais sem que seja necessária a assunção, pelo Poder Judiciário, da posição reservada
ao legislador.
. Eros Roberto: Afirma a inexistência na CF/88 de normas programáticas (que determinam
certos objetivos, finalidades). Além do art. 5º, §1º, o legislador inseriu instrumentos para
combater a omissão do legislador e demais órgãos, com destaque ao MI e ADO. Todos os
direitos fundamentais, portanto, podem ser considerados normas diretamente aplicáveis e
alcançar sua plena eficácia, independentemente de ato concretizador.
. Flávia Piovesan e do Ingo W. Sarlet: Dizem que a melhor interpretação do art. 5º, §1º, é
de enxergar a norma com cunho principiológico, considerando-a um mandamento de
otimização (os órgãos estatais devem reconhecer a maior eficácia possível aos direitos
fundamentais). Dentre os direitos fundamentais, é possível que haja distinções no que
concerne à graduação desta aplicabilidade e eficácia, dependendo da forma de positivação e
da função que cada preceito desempenha.

. Eficácia horizontal dos direitos fundamentais:


. A eficácia vertical dos direitos fundamentais é a aplicação de tais direitos na relação entre
o particular e o Estado, enquanto a eficácia horizontal é sua aplicação entre relações
particulares (privadas). Há três teorias quanto a aplicação dos direitos fundamentais:
- Teoria da eficácia indireta/mediata: Os direitos fundamentais são aplicados tanto em
dimensão proibitiva (o legislador não pode criar leis que violem os direitos fundamentais)
quanto em dimensão positiva (o legislador deve implementar os direitos fundamentais e
indicar quais se aplicam às relações privadas).
- Teoria da eficácia direta/imediata (eficácia horizontal): Alguns direitos fundamentais
podem ser aplicados às relações privadas sem que haja a necessidade de “intermediação
legislativa” para a sua concretização. Tende a crescer essa teoria.
. São críticas a teoria da eficácia horizontal: desconfigurar o convívio privado; a
incompatibilidade com o princípio da separação dos poderes [???]; e o subjetivismo judicial.
- Teoria da ineficácia horizontal: Nega a possibilidade de produção de efeitos dos direitos
fundamentais nas relações entre particulares (teoria menos prestigiada).
. Eficácia diagonal dos direitos fundamentais: É a aplicação dos direitos fundamentais em
relações marcadas pelo desequilíbrio, como na relação de trabalhador-empregador.

. Eficácia vertical dos direitos fundamentais:


A eficácia vertical dos direitos fundamentais é a aplicação de tais direitos na relação entre o
particular e o Estado. Cada ato do poder público deve ter os direitos fundamentais como
baliza e referencial. A vinculação do Estado pode ser vista sob 2 critérios:
- Material/Funcional: Todas as funções estatais são vinculadas aos direitos fundamentais.
- Formal/Institucional: Significa a vinculação dos órgãos dos 3 poderes.
. Vinculação do poder legislativo:
- Sentido negativo: proibição de edição de atos legislativos contrários às normas de direitos
fundamentais;
- Acepção positiva: deve estar em conformidade com os parâmetros fornecidos pelas
normas de direitos fundamentais, e devem realiza-los;
- A inércia do legislador em face de uma imposição contida nas normas de direitos
fundamentais pode ensejar a inconstitucionalidade por omissão;
. Vinculação do poder executivo:
- Princípio da constitucionalidade imediata da administração: Os órgãos administrativos
devem executar apenas as leis que sejam de acordo com os direitos fundamentais, bem como
executá-las de forma constitucional, ou seja, as aplicando e interpretando conformidade os
direitos fundamentais;
- A não observância desses postulados pode levar a invalidação judicial dos atos
administrativos;
- A Administração pode se recusar a aplicar normas claramente inconstitucionais. Se
houver dúvida sobre a constitucionalidade, deve aplicar a norma.
. Vinculação do poder judiciário:
- Constitucionalização da própria organização dos tribunais e do procedimento judicial e
vinculação do conteúdo dos atos jurisdicionais aos direitos fundamentais;
- Exercício do controle de constitucionalidade dos atos dos demais órgãos estatais;
- Os atos judiciais que atentam contra os direitos fundamentais podem constituir objeto
de controle jurisdicional (função de Corte Constitucional do STF).

. Conteúdo essencial dos direitos fundamentais:


Nasceu no direito europeu, na Lei Fundamental do Bonn (Alemanha, 1949), art. 19, item 2:
“Em nenhum caso, um direito fundamental poderá ser violado em sua essência.” O conteúdo
essencial é aquele que em nenhum caso poderá ser afetado. Há dois critérios usados para
definir essa norma essencial quanto ao objeto:
- Critério ou teoria objetiva: Preza pelo ordenamento jurídico, defendendo que a limitação
deve ser conforme o ordenamento. O objeto protegido é a garantia geral e abstrata prevista
na norma (direito fundamental objetivo), não a posição jurídica concreta do particular
(direito fundamental subjetivo). Ainda que haja a privação do direito por um indivíduo, todos
os demais possuirão tal direito, não violando necessariamente o núcleo essencial.
- Critério ou teoria subjetiva: Analisa a gravidade da limitação do direito, pois o direito
fundamental não pertence à sociedade, mas sim ao indivíduo, que de forma alguma pode ser
privado de seus direitos. O critério subjetivo é da maioria doutrinária, que entende que de
forma alguma o ser humano pode ser privado de direitos fundamentais em nome da
sociedade.

. Natureza da proteção: Quanto a definição de critérios sobre delimitação do conteúdo


essencial, destacam-se duas teorias:
- Teoria relativa: Defende que o conteúdo de um direito fundamental só pode ser conhecido
analisando, em cada caso concreto, os valores e interesses em jogo. É esse um conceito
relativo porque, segundo as exigências do momento, o conteúdo poderá ser ampliado ou
restringido, a depender do caso concreto (possibilidade fática) e das demais normas
envolvidas (possibilidade jurídica). Inexiste delimitação fixa.
- Teoria absoluta: Considera que o direito é o mesmo e que não se altera de acordo com os
interesses do jogo. Pode variar devido às circunstâncias, mas não aos interesses no caso
concreto. Existe um núcleo no âmbito da proteção de cada direito fundamental, cujos limites
são intransponíveis, embora possam ser restritos. A proteção é assegurada ao ‘núcleo duro’,
considerado o ‘coração do direito’.” É a teoria dominante.
- Teoria combinada: É uma terceira teoria, vinda de Peter Häberle, baseada na ponderação.
Para conhecer os limites do conteúdo essencial, faz-se necessária a ponderação de todos os
bens (direitos) constitucionalmente protegidos.

. Restrições dos direitos fundamentais:


São ideias oriundas dos princípios de Robert Alexy. Há duas teorias quanto a essa restrição:
- Teoria interna: Os limites dos direitos fundamentais são fixados por meio de um processo
interno do próprio direito, sem a influência de outras normas. O direito fundamental possuí
um caráter definitivo (nunca provisório), ou seja, delimitado. Por considerar possível essa
delimitação rigorosa de cada direito fundamental, essa teoria não aceita a possibilidade de
conflito entre dois direitos fundamentais (não admite ponderação de princípios). Além
disso, se não tiver restrição expressamente autorizada pela Constituição, não podem sofrer
limitações, mas apenas delimitações (limites intrínsecos).
Também se aplica a lógica do “tudo ou nada”: as normas garantidoras dos direitos
fundamentais, por já serem definidas, serão necessariamente aplicáveis (ou completamente
não aplicáveis) e produzirão todos os seus efeitos sempre que ocorrer a hipótese prevista
em seu suporte fático.
- Teoria externa: As restrições não atingem o conteúdo abstratamente considerado, mas
apenas seu exercício no caso concreto. Tais restrições estão fora do direito. A determinação
do conteúdo que é definitivamente protegido envolve duas etapas:
. Identificação do conteúdo inicialmente protegido (âmbito de proteção), determinado da
forma mais ampla possível; e
. Definição dos limites externos (restrições) decorrentes da necessidade de conciliação com
outros direitos (ou seja, aceita a concorrência de direitos fundamentais) e bens
constitucionalmente protegidos.
. Classificação das restrições: Os direitos fundamentais, por terem hierarquia constitucional,
somente podem ser restringidos por normas constitucionais (restrições diretamente
constitucionais) ou em virtude delas (restrições indiretamente constitucionais).
- Restrições diretamente constitucionais: São impostas por outras normas de hierarquia
constitucional:
. em cláusulas escritas (no mesmo dispositivo que consagra o direito fundamental ou em
outro dispositivo);
. ou não escritas (restrições impostas por princípios que consagram direitos fundamentais
colidentes de terceiros ou interesses da coletividade).
- Restrições diretamente constitucionais: São autorizadas de forma expressa ou implícita
pela Constituição, como no caso das cláusulas de reserva legal.
. Reserva legal simples: Dispositivo constitucional que consagra uma competência para
estabelecer restrições sem fazer qualquer tipo de exigência quanto ao conteúdo ou à
finalidade da lei restritiva;
. Reserva legal qualificada: A Constituição autoriza que a lei estabeleça restrições, mas
limita o conteúdo destas, fixando condições especiais, estabelecendo os fins a serem
perseguidos ou os meios a serem utilizados;
. Reserva legal implícita: A ausência de previsão constitucional expressa não significa
impossibilidade de restrição, embora a margem de atuação seja reduzida. A intervenção
legislativa será legítima quando voltada à proteção de direitos fundamentais de terceiros
ou de interesses da coletividade (cláusula de reserva subsidiária).
DIREITO CONSTITUCIONAL:
ORGANIZAÇÃO POLÍTICA-
ADMINISTRATIVA E CONTROLE DE
CONSTITUCIONALIDADE
PROFESSOR: ALEXANDRE ELI ALVES

Direito de nacionalidade

Nacionalidade é o vínculo político-jurídico e pessoal entre o Estado e o indivíduo. Pode ser


primária/originária (decorre do nascimento; independe de vontade) ou secundária
(voluntariamente obtida). Os critérios para determinar a nacionalidade é o territorial (jus
soli), que considera nacional o indivíduo nascido em dado território, não importando sua
ascendência, e o sanguíneo (jus sanguinis), que prioriza a filiação, os laços familiares.
CF/88: “Art. 12. São brasileiros:
I - natos:
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que
estes não estejam a serviço de seu país; (exemplo de jus soli)
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles
esteja a serviço da República Federativa do Brasil; (exemplo de jus sanguini)
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam
registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa
do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade
brasileira; (Redação dada pela EC nº 54, de 2007; há retroatividade neste último caso, assim
como na naturalização especial)
II - naturalizados:
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de
países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil
há mais de 15 anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a
nacionalidade brasileira. (Redação dada pela EC de Revisão nº 3, de 1994; antes eram 30
anos)
§ 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor
de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos
nesta Constituição. (Redação dada pela EC de Revisão nº 3, de 1994; antes, eram atribuídos
direitos inerentes ao brasileiro nato; vide decreto 3.927/01)
§ 2º A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos
casos previstos nesta Constituição.
§ 3º São privativos de brasileiro nato os cargos:
I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
III - de Presidente do Senado Federal;
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
V - da carreira diplomática;
VI - de oficial das Forças Armadas.
VII - de Ministro de Estado da Defesa. (Incluído pela EC nº 23, de 1999)
§ 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:
I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de fraude relacionada
ao processo de naturalização ou de atentado contra a ordem constitucional e o Estado
Democrático; (Redação dada pela EC 131/2023)
II - fizer pedido expresso de perda da nacionalidade brasileira perante autoridade brasileira
competente, ressalvadas situações que acarretem apátrida. (Redação dada pela EC 131/23)
§ 5º A renúncia da nacionalidade acima não impede o interessado de readquirir sua
nacionalidade brasileira originária. (Incluído pela EC 131/23)
Naturalização tácita: Ocorre sem a manifestação de vontade do estrangeiro. É normalmente
adotada quando o número de nacionais é menor que o desejado. O Brasil não adere a essa
tese.

- Lei de Migração (13.445/17):


Outros tipos de naturalização: “Art. 64. A naturalização pode ser: I - ordinária; II -
extraordinária; III - especial; ou IV - provisória.
Art. 65. Será concedida a naturalização ordinária àquele que preencher as seguintes
condições: I - ter capacidade civil, segundo a lei brasileira; II - ter residência em território
nacional, pelo prazo mínimo de 4 anos; III - comunicar-se em língua portuguesa, consideradas
as condições do naturalizando; e IV - não possuir condenação penal ou estiver reabilitado,
nos termos da lei.
Art. 66. O prazo de residência fixado no inciso II do caput do art. 65 será reduzido para 1 ano
se o naturalizando preencher quaisquer das seguintes condições: II - ter filho brasileiro; III -
ter cônjuge ou companheiro brasileiro e não estar dele separado legalmente ou de fato no
momento de concessão da naturalização; V - haver prestado ou poder prestar serviço
relevante ao Brasil; ou VI - recomendar-se por sua capacidade profissional, científica ou
artística. [...]
Art. 67. A naturalização extraordinária será concedida a pessoa de qualquer nacionalidade
fixada no Brasil há mais de 15 anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que
requeira a nacionalidade brasileira.
Art. 68. A naturalização especial poderá ser concedida ao estrangeiro que se encontre em
uma das seguintes situações: I - seja cônjuge ou companheiro, há mais de 5 anos, de
integrante do Serviço Exterior Brasileiro em atividade ou de pessoa a serviço do Estado
brasileiro no exterior; ou II - seja ou tenha sido empregado em missão diplomática ou em
repartição consular do Brasil por mais de 10 anos ininterruptos.
Art. 69. São requisitos para a concessão da naturalização especial: I - ter capacidade civil,
segundo a lei brasileira; II - comunicar-se em língua portuguesa, consideradas as condições
do naturalizando; e III - não possuir condenação penal ou estiver reabilitado, nos termos da
lei.
Art. 70. A naturalização provisória poderá ser concedida ao migrante criança ou adolescente
que tenha fixado residência em território nacional antes de completar 10 anos de idade e
deverá ser requerida por intermédio de seu representante legal. Parágrafo único. A
naturalização prevista no caput será convertida em definitiva se o naturalizando
expressamente assim o requerer no prazo de 2 anos após atingir a maioridade.” (há
retroatividade nesse caso)
- Distinções entre brasileiro nato e naturalizado
Art. 5º, LI: “Nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime
comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito
de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei.”
Art. 37, I: “os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que
preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei;
(Redação dada pela EC nº 19, de 1998)
Art. 172: “A lei disciplinará, com base no interesse nacional, os investimentos de capital
estrangeiro, incentivará os reinvestimentos e regulará a remessa de lucros.”
Art. 176: “As jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os potenciais de energia
hidráulica constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de exploração ou
aproveitamento, e pertencem à União, garantida ao concessionário a propriedade do
produto da lavra. § 1º A pesquisa e a lavra de recursos minerais e o aproveitamento dos
potenciais a que se refere o caput deste artigo somente poderão ser efetuados mediante
autorização ou concessão da União, no interesse nacional, por brasileiros ou empresa
constituída sob as leis brasileiras e que tenha sua sede e administração no País, na forma da
lei, que estabelecerá as condições específicas quando essas atividades se desenvolverem em
faixa de fronteira ou terras indígenas. (Redação dada pela EC nº 6, de 1995; antes, incluía-se
empresa brasileira de capital nacional)”
Art. 190: “A lei regulará e limitará a aquisição ou o arrendamento de propriedade rural por
pessoa física ou jurídica estrangeira e estabelecerá os casos que dependerão de autorização
do Congresso Nacional.”
Art. 207, § 1º: “É facultado às universidades admitir professores, técnicos e cientistas
estrangeiros, na forma da lei.” (Incluído pela EC nº 11, de 1996)
Art. 227, § 5º: “A adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da lei, que estabelecerá
casos e condições de sua efetivação por parte de estrangeiros.”
Art. 222: “A propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e
imagens é privativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais de 10 anos, ou de pessoas
jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no País. (Redação dada pela
EC nº 36, de 2002; incluídas PJs)”

- Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta, entre a República Federativa do Brasil e a


República Portuguesa (decreto 3.927/01): Aos portugueses com residência permanente no
Brasil, serão atribuídos direitos inerentes a brasileiros.

. Repatriação, deportação, expulsão e extradição:


- Quanto a medidas de retirada compulsória:
Lei de Migração (13.445/17): “Art. 47. A repatriação, a deportação e a expulsão serão feitas
para o país de nacionalidade ou de procedência do migrante ou do visitante, ou para outro
que o aceite, em observância aos tratados dos quais o Brasil seja parte.
* normalmente, não há retirada compulsória quando: for caso vedado de extradição (ou
seja, ser brasileiro nato ou caso seja reconhecido como refugiado ou apátrida) ou em caso
de menor de idade sem família. também é vetada a retirada coletiva.
Art. 49. A repatriação consiste em medida administrativa de devolução de pessoa em
situação de impedimento ao país de procedência ou de nacionalidade. [antes de entrar no
país]
§ 1º Será feita imediata comunicação do ato fundamentado de repatriação à empresa
transportadora e à autoridade consular do país de procedência ou de nacionalidade do
migrante ou do visitante, ou a quem o representa. § 2º A Defensoria Pública da União será
notificada, preferencialmente por via eletrônica, no caso do § 4º deste artigo ou quando a
repatriação imediata não seja possível. § 4º Não será aplicada medida de repatriação à
pessoa em situação de refúgio ou de apátrida, de fato ou de direito, ao menor de 18 anos
desacompanhado ou separado de sua família, exceto nos casos em que se demonstrar
favorável para a garantia de seus direitos ou para a reintegração a sua família de origem, ou
a quem necessite de acolhimento humanitário, nem, em qualquer caso, medida de
devolução para país ou região que possa apresentar risco à vida, à integridade pessoal ou à
liberdade da pessoa.
Art. 50. A deportação é medida decorrente de procedimento administrativo que consiste na
retirada compulsória de pessoa que se encontre em situação migratória irregular em
território nacional. [após entrar no país]
Art. 51. Os procedimentos conducentes à deportação devem respeitar o contraditório e a
ampla defesa e a garantia de recurso com efeito suspensivo.
Art. 52. Em se tratando de apátrida, o procedimento de deportação dependerá de prévia
autorização da autoridade competente.
Art. 53. Não se procederá à deportação se a medida configurar extradição não admitida pela
legislação brasileira.
Art. 54. A expulsão consiste em medida administrativa de retirada compulsória de migrante
ou visitante do território nacional, conjugada com o impedimento de reingresso por prazo
determinado.
§ 1º Poderá dar causa à expulsão a condenação com sentença transitada em julgado relativa
à prática de: I - crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de
agressão, nos termos definidos pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de
1998, promulgado pelo decreto nº 4.388, de 25 de setembro de 2002; ou II - crime comum
doloso passível de PPL, consideradas a gravidade e as possibilidades de ressocialização em
território nacional. § 4º O prazo de vigência da medida de impedimento vinculada aos efeitos
da expulsão será proporcional ao prazo total da pena aplicada e nunca será superior ao dobro
de seu tempo.
Art. 55. Não se procederá à expulsão quando: I - a medida configurar extradição inadmitida
pela legislação brasileira; II - o expulsando: a) tiver filho brasileiro que esteja sob sua guarda
ou dependência econômica ou socioafetiva ou tiver pessoa brasileira sob sua tutela; b) tiver
cônjuge ou companheiro residente no Brasil, sem discriminação alguma, reconhecido judicial
ou legalmente; c) tiver ingressado no Brasil até os 12 anos de idade, residindo desde então
no País; d) for pessoa com mais de 70 anos que resida no País há mais de 10 anos,
considerados a gravidade e o fundamento da expulsão.
Art. 58. No processo de expulsão serão garantidos o contraditório e a ampla defesa.”
Súmula 1, STF: “É vedada a expulsão de estrangeiro casado com brasileira, ou que tenha filho
brasileiro, dependente da economia paterna.”

- Quanto a extradição:
Lei de Migração: “Art. 81. A extradição é a medida de cooperação internacional entre o
Estado brasileiro e outro Estado pela qual se concede ou solicita a entrega de pessoa sobre
quem recaia condenação criminal definitiva ou para fins de instrução de processo penal em
curso. § 2º A extradição e sua rotina de comunicação serão realizadas pelo órgão competente
do Poder Executivo em coordenação com as autoridades judiciárias e policiais competentes.
[mas compete ao STF processar e julgar pedido de extradição]
Art. 82. Não se concederá a extradição quando: I - o indivíduo cuja extradição é solicitada ao
Brasil for brasileiro nato; II - o fato que motivar o pedido não for considerado crime no Brasil
ou no Estado requerente; III - o Brasil for competente, segundo suas leis, para julgar o crime
imputado ao extraditando; IV - a lei brasileira impuser ao crime pena de prisão inferior a 2
anos; V - o extraditando estiver respondendo a processo ou já houver sido condenado ou
absolvido no Brasil pelo mesmo fato em que se fundar o pedido; VI - a punibilidade estiver
extinta pela prescrição, segundo a lei brasileira ou a do Estado requerente; VII - o fato
constituir crime político ou de opinião (art. 5º, CF, LII); VIII - o extraditando tiver de responder,
no Estado requerente, perante tribunal ou juízo de exceção; ou IX - o extraditando for
beneficiário de refúgio, nos termos da lei nº 9.474, de 22 de julho de 1997 , ou de asilo
territorial. (não admite o STF extradição em caso de possível aplicação de pena de morte ou
perpétua)
§ 1º A previsão constante do inciso VII do caput não impedirá a extradição quando o fato
constituir, principalmente, infração à lei penal comum ou quando o crime comum, conexo ao
delito político, constituir o fato principal. § 3º Para determinação da incidência do disposto
no inciso I, será observada, nos casos de aquisição de outra nacionalidade por naturalização,
a anterioridade do fato gerador da extradição. § 4º O STF poderá deixar de considerar crime
político o atentado contra chefe de Estado ou quaisquer autoridades, bem como crime contra
a humanidade, crime de guerra, crime de genocídio e terrorismo. § 5º Admite-se a extradição
de brasileiro naturalizado, nas hipóteses previstas na Constituição Federal.
Art. 83. São condições para concessão da extradição: I - ter sido o crime cometido no
território do Estado requerente ou serem aplicáveis ao extraditando as leis penais desse
Estado; e II - estar o extraditando respondendo a processo investigatório ou a processo penal
ou ter sido condenado pelas autoridades judiciárias do Estado requerente a PPL.
Art. 89. O pedido de extradição originado de Estado estrangeiro será recebido pelo órgão
competente do Poder Executivo e, após exame da presença dos pressupostos formais de
admissibilidade exigidos nesta Lei ou em tratado, encaminhado à autoridade judiciária
competente.
Art. 90. Nenhuma extradição será concedida sem prévio pronunciamento do Supremo
Tribunal Federal sobre sua legalidade e procedência, não cabendo recurso da decisão.”

. Asilados, refugiados e apátridas:


- Asilados:
Art. 4º, CF: “A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos
seguintes princípios: X - concessão de asilo político.”
Quanto a Lei de Migrações: “Art. 27. O asilo político, que constitui ato discricionário do
Estado, poderá ser diplomático [ou seja, em consulado] ou territorial e será outorgado como
instrumento de proteção à pessoa. Art. 28. Não se concederá asilo a quem tenha cometido
crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de agressão, nos
termos do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998, promulgado pelo
decreto 4.388/02. Art. 29. A saída do asilado do País sem prévia comunicação implica
renúncia ao asilo.”
É um ato discricionário do Presidente da República, não dependendo de hipóteses
específicas para a sua concessão.

- Refugiados:
Lei nº 9.474/97: Define mecanismos para a implementação do Estatuto dos Refugiados de
1951, e cria o Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), do Ministério da Justiça.
O refúgio é vinculante (não é discricionário) e é solicitado mediante requerimento.
“Art. 1º Será reconhecido como refugiado todo indivíduo que:
I - devido a fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade,
grupo social ou opiniões políticas encontre-se fora de seu país de nacionalidade e não possa
ou não queira acolher-se à proteção de tal país;
II - não tendo nacionalidade e estando fora do país onde antes teve sua residência habitual,
não possa ou não queira regressar a ele, em função das circunstâncias descritas no inciso
anterior;
III - devido a grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigado a deixar seu país
de nacionalidade para buscar refúgio em outro país.
Art. 2º Os efeitos da condição dos refugiados serão extensivos ao cônjuge, aos ascendentes
e descendentes, assim como aos demais membros do grupo familiar que do refugiado
dependerem economicamente, desde que se encontrem em território nacional.
Art. 3º Não se beneficiarão da condição de refugiado os indivíduos que: I - já desfrutem de
proteção ou assistência por parte de organismo ou instituição das Nações Unidas que não o
ACNUR; II - sejam residentes no território nacional e tenham direitos e obrigações
relacionados com a condição de nacional brasileiro; III - tenham cometido crime contra a paz,
crime de guerra, crime contra a humanidade, crime hediondo, participado de atos terroristas
ou tráfico de drogas; IV - sejam considerados culpados de atos contrários aos fins e princípios
das Nações Unidas.”
Art. 33: “O reconhecimento da condição de refugiado obstará o seguimento de qualquer
pedido de extradição baseado nos fatos que fundamentaram a concessão de refúgio.”
Art. 34: “A solicitação de refúgio suspenderá, até decisão definitiva, qualquer processo de
extradição pendente, em fase administrativa ou judicial, baseado nos fatos que
fundamentaram a concessão de refúgio.” (vide art. 82, IX, lei de migrações)
Art. 48: “Os preceitos desta Lei deverão ser interpretados em harmonia com a Declaração
Universal dos Direitos do Homem de 1948, com a Convenção sobre o Estatuto dos Refugiados
de 1951, com o Protocolo sobre o Estatuto dos Refugiados de 1967 e com todo dispositivo
pertinente de instrumento internacional de proteção de direitos humanos com o qual o
Governo brasileiro estiver comprometido.”
Exceção doutrinária, por curiosidade: o caso do corníssimo terrorista Cesare Battisti.

- Apátridas:
Lei de migrações: “Art. 26. [...] § 2º Durante a tramitação do processo de reconhecimento
da condição de apátrida, incidem todas as garantias e mecanismos protetivos e de facilitação
da inclusão social relativos à Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas de 1954, promulgada
pelo Decreto nº 4.246, de 22 de maio de 2002 , à Convenção relativa ao Estatuto dos
Refugiados, promulgada pelo Decreto nº 50.215, de 28 de janeiro de 1961 , e à Lei nº 9.474,
de 22 de julho de 1997.
§ 3º Aplicam-se ao apátrida residente todos os direitos atribuídos ao migrante relacionados
no art. 4º.
§ 6º Reconhecida a condição de apátrida, nos termos do inciso VI do § 1º do art. 1º, o
solicitante será consultado sobre o desejo de adquirir a nacionalidade brasileira.
§ 7º Caso o apátrida opte pela naturalização, a decisão sobre o reconhecimento será
encaminhada ao órgão competente do Executivo para publicação dos atos necessários à
efetivação da naturalização no prazo de 30 dias, observado o art. 65.
§ 8º O apátrida reconhecido que não opte pela naturalização imediata terá a autorização de
residência outorgada em caráter definitivo.
§ 10. Subsistindo a denegação do reconhecimento da condição de apátrida, é vedada a
devolução do indivíduo para país onde sua vida, integridade pessoal ou liberdade estejam
em risco.
§ 11. Será reconhecido o direito de reunião familiar a partir do reconhecimento da condição
de apátrida.
§ 12. Implica perda da proteção conferida por esta Lei: I - a renúncia; II - a prova da falsidade
dos fundamentos invocados para o reconhecimento da condição de apátrida; ou III - a
existência de fatos que, se fossem conhecidos por ocasião do reconhecimento, teriam
ensejado decisão negativa.”

Administração Pública

. Princípios:
Art. 37: “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte.”
- legalidade: o agente público só pode atuar onde houver lei permitindo.
* também é chamado de p. da juridicidade (devido ao conceito amplo do termo “lei”;
Canotilho inclusive menciona o termo “legalidade comunitária”, devido a aplicação de
tratados).
* agencificação: criação de agências reguladoras (autarquias) para regular atividades antes
do Estado e posteriormente da iniciativa privada; vide reforma administrativa (EC 19/98). Daí
vem a deslegalização, onde o que era tratado pelo legislativo passou a ser regulado por atos
normativos das agências. Tema aceito pelo STF, mas com competências/extensão ainda em
debate.
. Doutrina de Chevron (EUA), sobre controle judicial de atos normativos de agências
reguladoras: cabe ao juiz inicialmente verificar se a lei é clara quanto ao assunto em discussão
(se a lei é clara, é dever do juiz aplicar a lei e não será dada deferência); caso exista
ambiguidade, não cabe aos tribunais interpretar diretamente a suposta vagueza da lei,
cabendo apenas verificar se a solução posta pela agência regulamentadora é razoável.
* delegação legislativa (o Legislativo delega a atribuição normativa a Administração) vs.
poder regulamentar (ato administrativo/secundário; ex.: art. 84, IV, parte final).
* Súmula 339/STF e SV 37: “Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa,
aumentar vencimentos de servidores públicos sob fundamento de isonomia.”
* Súmula 636/STF: “Não cabe RE por contrariedade ao princípio constitucional da
legalidade, quando a sua verificação pressuponha rever a interpretação dada a normas
infraconstitucionais pela decisão recorrida.” [violação de maneira reflexa ou indireta]
* vide princípio da reserva legal: há matérias que deem ser disciplinadas por lei. Dimensão
negativa: inadmissibilidade de outra fonte diversa da lei. Positiva: apenas a lei pode
estabelecer limitações/restrições. Absoluta: a CF determina que lei disporá sobre (ex., a lei
criará, a lei disporá, a LC estabelecerá). Relativa: lei dispõe sobre princípios, e a matéria é
regulamentada por ato infralegal (ex., nos termos fixados em lie, na forma da lei). Dela
decorre a reserva de parlamento.
* vide princípio da segurança jurídica e da proteção à confiança. P. ex., art. 37, IV; art. 2º,
XIII e 54, da Lei 9784/99, e art. 30, LINDB (pós-reforma de 2018). Porém, o STF já decidiu que
o prazo decadencial do art. 54 da Lei 9784/99 não se aplica em situações de flagrante
inconstitucionalidade.
- impessoalidade:
* não é necessária a edição de lei em sentido formal para que seja válida a vedação da
prática de nepotismo (até o terceiro grau; RE 579.951). Há resolução do CNJ extensiva a todos
os poderes, e a Lei 14230/21 (Lei de Improbidade), art. 11, XI.
* SV 13: “A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por
afinidade, até o 3º grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma
pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício
de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração
pública direta e indireta em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do DF e dos
Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a CF.”
* prevalece no STF que não se estende a cargos de natureza política (ex.:
Ministro/Secretário de Estado); entendimento instável.
* nepotismo póstumo; a assunção temporária das serventias extrajudiciais, nas hipóteses
de vacância ou impedimento de seus titulares, submete-se à vedação do nepotismo (STJ,
RMS 63.160)
* inelegibilidade reflexa (art. 14, § 7º): “São inelegíveis, no território de jurisdição do
titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o 2º grau ou por adoção, do
Presidente, de Governador, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos 6 meses
anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.”
- moralidade: aplicação, na Administração Pública, de parâmetros ético-jurídicos; segundo o
STF, dela decorre a probidade administrativa.
- publicidade: transparência dos agentes públicos. Exceção: segurança nacional (ponderação
de interesses).
* lei de acesso à informação (Lei 12.527/11).
- eficiência: apenas explícito pós-EC 19/98. Demanda que a administração avalie os
diferentes valores e impactos de suas ações para escolher o ideal à sociedade.
* os recursos públicos vinculados ao orçamento de estatais prestadoras de serviço público
essencial, em regime não concorrencial e sem intuito lucrativo primário, não podem ser
bloqueados ou sequestrados por decisão judicial para pagamento de indenizações
trabalhistas (ADPF 588).

. Cargos públicos:
Lei 8112/90 (regime jurídico dos servidores públicos civis da União, autarquias e fundações
públicas federais):
Art. 5º: São requisitos básicos para investidura em cargo público:
I - a nacionalidade brasileira;
* vide § 3º: “As universidades e instituições de pesquisa científica e tecnológica federais
poderão prover seus cargos com professores, técnicos e cientistas estrangeiros, de acordo
com as normas e os procedimentos desta Lei.” (Incluído pela Lei 9.515/97) Art. 207, § 1º, CF:
“É facultado às universidades [e instituições de pesquisa científica e tecnológica] admitir
professores, técnicos e cientistas estrangeiros, na forma da lei.” (Incluído pela EC 11/96)
*RE 1177699 (tese do tema 1032): “O candidato estrangeiro tem direito líquido e certo à
nomeação em concurso público para provimento de cargos de professor, técnico e cientista
em universidades e instituições de pesquisa científica e tecnológica federais, nos termos do
art. 207, § 1º, da Constituição Federal, salvo se a restrição da nacionalidade estiver expressa
no edital do certame com o exclusivo objetivo de preservar o interesse público e desde que,
sem prejuízo de controle judicial, devidamente justificada.”
II - o gozo dos direitos políticos;
* suspensão devido a condenação criminal não afeta.
III - a quitação com as obrigações militares e eleitorais;
IV - o nível de escolaridade exigido para o exercício do cargo;
V - a idade mínima de 18 anos;
VI - aptidão física e mental.
§ 1º As atribuições do cargo podem justificar a exigência de outros requisitos estabelecidos
em lei.
Cota de deficientes (§ 2º): Às pessoas portadoras de deficiência é assegurado o direito de se
inscrever em concurso público para provimento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis
com a deficiência de que são portadoras; para tais pessoas serão reservadas até 20% das
vagas oferecidas no concurso.
* art. 37, VIII: “A lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas
portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão.”
* Súmula 377/STJ: “O portador de visão monocular tem direito de concorrer, em concurso
público, às vagas reservadas aos deficientes.”
* Súmula 552/STJ: “O portador de surdez unilateral não se qualifica como pessoa com
deficiência para o fim de disputar as vagas reservadas em concursos públicos.”
- Tipos de cargos: efetivos (concurso público obrigatório), em comissão (livre nomeação),
função de confiança (livre nomeação de cargos comissionados).
* ADI 3602/GO, 2011: “É inconstitucional a criação de cargos em comissão que não
possuem caráter de assessoramento, chefia ou direção e que não demandam relação de
confiança entre o servidor nomeado e o seu superior hierárquico”
* lei estadual que cria percentual mínimo de preenchimento de cargos em comissão por
servidores efetivos é possível (embora de iniciativa exclusiva do Executivo); mas o percentual
de 15% é inconstitucional.
* art. 198, § 4º: “Os gestores locais do sistema único de saúde poderão admitir agentes
comunitários de saúde e agentes de combate às endemias por meio de processo seletivo
público, de acordo com a natureza e complexidade de suas atribuições e requisitos
específicos para sua atuação.” (Incluído pela EC 51/06)
* contratação temporária (art. 37, IX): “A lei estabelecerá os casos de contratação por
tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse
público.” Ex.: contratação temporária para pesquisas estatísticas do IBGE.
* SV 43: “É inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor
investir-se, sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seu provimento, em
cargo que não integra a carreira na qual anteriormente investido.”

. Concursos públicos:
- obrigatório para vínculos estatuários e celetistas.
- provas + títulos (opcional; sempre classificatório).
- quatro requisitos para afastar o direito líquido e certo de o candidato aprovado dentro das
vagas ser chamado (RE 598099):
a) superveniência: a situação excepcional alegada deve ser posterior à publicação do edital;
b) imprevisibilidade: deve haver circunstâncias extraordinárias, imprevisíveis à época;
c) gravidade: os acontecimentos, além de extraordinários e imprevisíveis devem ser
realmente graves;
d) necessidade: a solução de não nomear deve ser absolutamente necessária, baseada na
ausência de outros meios menos graves
- cadastro de reserva e novo concurso: o surgimento de novas vagas ou a abertura de novo
concurso para o mesmo cargo, durante o prazo de validade do certame anterior, não gera
automaticamente o direito à nomeação dos candidatos do cadastro de reserva, ressalvadas
as hipóteses de preterição arbitrária e imotivada por parte da administração, caracterizadas
por comportamento do Poder Público capaz de revelar a inequívoca necessidade de
nomeação do aprovado durante o período de validade do certame, a ser demonstrada
cabalmente pelo candidato.
A discricionariedade da Administração quanto à convocação de aprovados em concurso
público é nula (exsurgindo o direito subjetivo à nomeação) quando: i) a aprovação ocorrer
dentro do número de vagas dentro do edital; ii) houver preterição na nomeação por não
observância da ordem de classificação (Súmula 15, STF: “Dentro do prazo de validade do
concurso, o candidato aprovado tem o direito à nomeação, quando o cargo for preenchido
sem observância da classificação.”); iii) quando surgirem novas vagas, ou for aberto novo
concurso durante a validade do anterior, e ocorrer a preterição de candidatos aprovados fora
das vagas de forma arbitrária e imotivada por parte da administração nos termos acima.
- cláusula de barreira ou de desempenho: é válida cláusula de edital que limite o número de
candidatos às próximas fases do certame.
* cláusula de barreira em matéria eleitoral: inicialmente, o STF entendeu inconstitucional
lei que retirava recursos do fundo partidário e a gratuidade do tempo de rádio e TV (chamado
direito de antena). Posteriormente, a EC 97/2017 trouxe de volta a cláusula de barreira, de
forma escalonada.
- Limite de idade (súmula 683/STF): “O limite de idade para a inscrição em concurso público
só se legitima em face do art. 7º, XXX, da Constituição, quando possa ser justificado pela
natureza das atribuições do cargo a ser preenchido.” O mesmo se aplica a sexo, altura (cargos
de médico e capelão não entram na restrição) etc.
* A comprovação do requisito etário estabelecido na lei deve ocorrer no momento da
inscrição no concurso, e não no ato da inscrição no curso de formação (ARE 685.870).
- Teste psicotécnico: É constitucional, se previsto em lei e no edital; tiver critérios objetivos
de correção; e assegurar a possibilidade de recurso na via administrativa (AI 617917). SV 44:
“Só por lei se pode sujeitar a exame psicotécnico a habilitação de candidato a cargo público.”
- Teste físico: Não há direito à segunda chamada nos TAFs em casos de lesões temporárias
(RE 630733 e STJ), mas grávidas possuem o direito de realizar o TAF em outro momento.
* STJ: as candidatas que estejam em licença maternidade têm direito à remarcação do
curso de formação.
* adaptação do TAF: a exclusão da previsão de adaptação das provas físicas para candidatos
PCD viola a CF e a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência
(status constitucional).
Teses: 1. É inconstitucional a interpretação que exclui o direito de candidatos com
deficiência à adaptação razoável em provas físicas de concursos públicos. 2. É
inconstitucional a submissão genérica de candidatos com e sem deficiência aos mesmos
critérios em provas físicas, sem a demonstração da sua necessidade para o exercício da
função pública (ADI 6.476).
- inexistência da teoria do fato consumado: pode haver exclusão do cargo a qualquer tempo,
em virtude de sua posse ter ocorrido em situação precária e temporária (RE 534738), exceto
se o decurso de tempo for tão grande a ponto de o candidato obter a aposentadoria
voluntária pela administração (RE 740029).
- sindicância de vida pregressa (investigação social): Viola o princípio da presunção de
inocência a exclusão de certame público de candidato que responda a inquérito policial ou
ação penal sem trânsito em julgado da sentença condenatória (STF).
* inconstitucionalidade do artigo 17-D da Lei de Lavagem de Dinheiro (Lei 9.613/98), que
determina o afastamento de servidores públicos de suas funções em caso de indiciamento
por crimes de lavagem de dinheiro ou ocultação de bens, direitos e valores.
- proteção à crença religiosa:
. é possível a realização de etapas de concurso público em datas e horários distintos dos
previstos em edital, por candidato que invoca escusa de consciência por motivos de crença
religiosa, desde que presente a razoabilidade da alteração, a preservação da igualdade entre
todos os candidatos e que não acarreta ônus desproporcional à administração pública, que
deverá decidir de maneira fundamentada (RE 611874);
. é possível, inclusive durante o estágio probatório, estabelecer critérios alternativos para
o regular exercício dos deveres funcionais inerentes aos cargos públicos, em face de
servidores que invocam escusa de consciência por motivos de crença religiosa, desde que,
presente a razoabilidade da alteração, não se caracterize o desvirtuamento no exercício de
suas funções e não acarrete ônus desproporcional à administração pública, que deverá
decidir de maneira fundamentada (ARE 1099099).
- responsabilidade civil do Estado:
. o Estado responde subsidiariamente por danos materiais causados a candidatos em
concurso público organizado por pessoa jurídica de direito privado, quando os exames são
cancelados por indícios de fraude (RE 662405).
* art. 37, § 6º: “As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras
de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem
a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou
culpa.” Inclui-se restituir aos candidatos as despesas com taxa de inscrição e deslocamento
para cidades diversas daquelas em que mantenham domicílio.
. indenização por demora em nomeação, devido a decisão contestada judicialmente:
impossível (cabe indenização apenas caso se demonstre situação de perseguição ao
candidato, arbitrariedade flagrante; RE 724347).
- prazo de validade: até 2 anos.

. Greve de servidor público:


- Dissídio coletivo de greve de servidor público: Usa-se a simetria em relação aos órgãos
competentes na Justiça do Trabalho. Se o dissídio entre os servidores e a Administração tiver
âmbito nacional, que abranja mais de uma região da justiça federal e compreenda mais de
uma unidade da federação, a competência será do STJ (com trabalhadores, seria do TST). Nos
demais casos, em se tratando de servidores públicos federais, a competência será do
respectivo TRF ou TJ, paralelos ao TRT (STF, MI 708).
- Descontos decorrentes da greve: É legítimo o corte do ponto, com o não pagamento dos
dias em que o servidor ficou sem trabalhar, mesmo que a greve não seja abusiva. Mas o
desconto será incabível se ficar demonstrado que a greve decorreu de conduta ilícita do
poder público, como é o caso de atraso no pagamento dos valores devidos (RE 693456).
- Greve de militares: Art. 142, § 3º, IV: “Ao militar são proibidas a sindicalização e a greve.”
ARE 654.432, STF: “[...] O exercício do direito de greve, sob qualquer forma ou modalidade,
é vedado aos policiais civis e a todos os servidores públicos que atuem diretamente na área
de segurança pública.”

. Teto de subsídios:
- Súmulas/STF:
339/SV 37: “Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar
vencimentos de servidores públicos sob fundamento de isonomia.”
679: “A fixação de vencimentos dos servidores públicos não pode ser objeto de convenção
coletiva.”
682: “Não ofende a Constituição a correção monetária no pagamento com atraso dos
vencimentos de servidores públicos.”
- Revisão (art. 37, X): “A remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o §
4º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados por lei específica, observada a
iniciativa privativa em cada caso, assegurada revisão geral anual, sempre na mesma data e
sem distinção de índices. (Redação pela EC 19/98; regulamentada pela Lei 10.331/01)
* o não encaminhamento de PL de revisão anual dos vencimentos dos servidores públicos
não gera direito subjetivo a indenização, mas deve o Executivo se pronunciar, de forma
fundamentada, acerca das razões pelas quais não propôs a revisão (RE 565089).
- Teto municipal (art. 37, XI):
. executivo: subsídio do prefeito
* os procuradores municipais (e estaduais) se sujeitam ao subteto de 90,25% do subsídio
de ministro do STF (RE 663696).
. legislativo: subsídio do prefeito
- Teto estadual:
* o estado pode, por EC, estabelecer como teto único para os 3 Poderes o subsídio de
Desembargador de TJ (ADI 6746).
. executivo: subsídio do governador.
* advogados públicos estaduais eles têm direito à percepção de honorários advocatícios
sucumbenciais nos processos em que atuam em nome do ente estatal, limitados ao teto
constitucional.
. legislativo: subsídio de deputado estadual.
* em razão da autonomia dos Tribunais de Contas, os auditores estão sujeitos ao teto de
remuneração aplicável aos Conselheiros do TC, por ser esse o cargo de maior hierarquia
dentro do órgão (ADI 3977).
. judiciário: subsídio de desembargador do TJ.
* o STF excluiu os membros da Magistratura estadual do subteto de remuneração
estadual, devido ao caráter nacional da Magistratura. Obedecem o mesmo limite dos
membros da Magistratura federal, o subsídio de Ministro do STF (ADI 3.854).
- Teto federal: Subsídio de ministro do STF.
- Cumulatividade:
. o teto incide na acumulação de remuneração ou proventos de aposentadoria com pensão
por morte (RE 602584).
. ficam de fora do cálculo do teto verbas indenizatórias, como horas extras, pagamento de
férias não gozadas etc (art. 37, § 11).
. quem trabalha em empresas públicas e sociedades de economia mista que recebem
recursos públicos para custeio de pessoal também são regulados pelo teto, mas se não
houver recebimento de recursos públicos, o teto não precisará ser observado (RE 572143).
* isso justifica o fato de dirigentes de estatais como Petrobras e Banco do Brasil poderem
receber ganhos compatíveis com cargos equivalentes na iniciativa privada.
. tabeliães e notários não se sujeitam ao teto constitucional (apenas os titulares;
substitutos ou interinos em serventias extrajudiciais ficam sujeitos ao teto; RE 808202).
. na acumulação lícita de cargos públicos o teto deve ser observado isoladamente (RE
612975).
. se o servidor recebe bruto acima do teto, primeiro os seus ganhos devem ser reduzidos
para o teto, e somente depois incidiram o IR e a Contribuição Previdenciária (RE 675978).
- os vencimentos dos cargos do Poder Legislativo e do Poder Judiciário não poderão ser
superiores aos pagos pelo Poder Executivo (regra inexistente na prática; art. 37, XII).
- é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito
de remuneração de pessoal do serviço público (XIII; pós-EC 19/98).
* SV 42: “É inconstitucional a vinculação do reajuste de vencimentos de servidores
estaduais ou municipais a índices federais de correção monetária.”
* constitucionalidade da equiparação remuneratória entre auditores de contas e juízes
estaduais como garantia funcional de independência da judicatura de contas (art. 73, § 4º;
ADI 6953).
- os acréscimos pecuniários não serão computados nem acumulados para fins de acréscimos
ulteriores (antes da EC 19/98, aplicava-se apenas sob acréscimos de mesmo título ou idêntico
fundamento).
- é vedada a redução de vencimentos de cargos/empregos públicos.

. Acumulação de cargos públicos:


- Art. 37, XVI: É vedada a acumulação remunerada de cargos públicos. Exceções (quando
houver compatibilidade de horários e o teto):
a) a de dois cargos de professor (sentido estrito);
b) a de um cargo de professor com outro técnico/científico (que demandam a formação
superior específica);
c) a de dois cargos/empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões
regulamentadas.
* em caso de militares: militares estaduais e do DF entram nas três hipóteses (art. 42, § 3º,
pós-EC ao 101/19); militares da União só podem acumular no caso de dois cargos na área da
saúde, com profissões regulamentadas (art. 142, § 3º, II e III, pós-EC 77/14).
* jornada máxima: não há limite máximo de jornada na cumulatividade de 2 cargos
públicos (RE 1094802; REsp 1767955, 2019).
* teto: analisado isoladamente (RE 612975).
* acumulação de proventos (aposentadoria) e vencimentos (servidor ainda em atividade):
somente tratando-se de cargos, funções ou empregos acumuláveis na atividade (STF, AI
419426).
* O STF tem reconhecido a presunção de má-fé do servidor que, embora notificado, não
faz a opção que lhe compete (RMS 23.917; no caso, houve acumulação de 3 cargos públicos).
* cargos privados + público: permitido, se houver compatibilidade de horários.
- XVII: a proibição de acumular estende-se a empregos e funções e abrange autarquias,
fundações, empresas públicas, sociedades de economia mista, suas subsidiárias e sociedades
controladas, direta ou indiretamente, pelo poder público.
- No exercício de mandado eletivo (art. 38): Ao servidor público da administração no exercício
de mandato eletivo, aplicam-se o seguinte:
I - tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou distrital, ficará afastado de seu
cargo, emprego ou função;
* vide art. 14, § 8º e ADI 1381: militares ou se afastam definitivamente (menos de 10 anos)
ou passam para a inatividade (mais de 10 anos).
II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do cargo, emprego ou função, sendo-
lhe facultado optar pela sua remuneração;
III - investido no mandato de Vereador (edil): havendo compatibilidade de horários, haverá
cumulação, sem prejuízo da remuneração; não havendo compatibilidade, será afastado e
poderá optar pela remuneração;
IV - em qualquer caso que exija o afastamento para o exercício de mandato eletivo, seu
tempo de serviço será contado para todos os efeitos legais, exceto para promoção por
merecimento;
V - na hipótese de ser segurado de regime próprio de previdência, permanecerá filiado a
esse regime, no ente federativo de origem. (Redação pela EC 103/19)
* ou seja, se estiver vinculado pelo RPPS, continuará contribuindo para este; do contrário,
ele seguirá as regras do RGPS.

* art. 40, § 13: Aplica-se ao agente público ocupante, exclusivamente, de cargo em


comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração, de outro cargo temporário,
inclusive mandato eletivo, ou de emprego público, o Regime Geral de Previdência Social
(RGPS). (Redação pela EC 103/19)
* EC 103/19, art. 14: aplica-se apenas a futuros eleitos; vedadas a adesão de novos
segurados e a instituição de novos regimes dessa natureza.
* os atuais segurados de regime de previdência aplicável a titulares de mandato eletivo
poderiam solicitar a migração, no prazo de 180 dias, contado da data de entrada em vigor
desta EC (no caso, 12/11/2019).

. Criação de entidades públicas:


- somente lei específica poderá criar/extinguir autarquia e autorizar criação de empresa
pública, de sociedade de economia mista e de fundação (nesse caso, LC definirá a área de
sua atuação).
* fundação pública de direito privado (autorizada por lei) vs. de direito público (equiparada
a autarquia pela doutrina e jurisprudência e criada por lei).
* depende de autorização legislativa criação de subsidiárias e participação delas em
empresa privada.
* Lei n. 13.303/2016 (Lei das Estatais) exige autorização legislativa e licitação para
privatização, mas não a suas subsidiárias e controladas (ADI 1649). Ex.: caso CEB.
* caso Petrobras (RCL 42576): a Petrobras estava colocando em prática um plano de
desinvestimento (eram criadas subsidiárias a partir de desmembramentos e a posterior
alienação acionária). O STF não viu irregularidade de desvio de função ou fraude.
- delegação de poder de polícia a ente privado: “É constitucional a delegação do poder de
polícia, por meio de lei, a pessoas jurídicas de direito privado integrantes da Administração
Pública indireta de capital social majoritariamente público que prestem exclusivamente
serviço público de atuação própria do Estado e em regime não concorrencial (RE 633782).
* única função pública indelegável ao setor privado é a legislativa; atos de fiscalização e de
aplicação de sanções podem ser delegados a estatais que possam ter um regime jurídico
próximo daquele aplicável à Fazenda Pública.
. Terceiro setor: É composto por associações de fins não econômicos ou fundacionais,
constituídas para fins específicos de assistência, que exercem atividades estatais típicas.
Também são chamadas de entidades paraestatais.
* primeiro setor: entidades do Estado; 2º setor: o mercado; 4º setor: a economia informal.
- Serviços Sociais Autônomos (SSA): Organização privada instituída por lei específica.
* p. ex., Sistema S (SESC, SENAI, SEBRAE, dentre outros).
* Lei 8246/91: Autoriza o Executivo a instituir o SSA Associação das Pioneiras Sociais (APS),
instituição gestora da Rede Sarah de Hospitais do Aparelho Locomotor, um dos mais
expressivos sucessos nacionais e internacionais da administração moderna de serviços
públicos de saúde.
* serviu de base à Lei das OSs.
* Lei 12897/13: Autoriza o Executivo federal a instituir SSA Agência Nacional de Assistência
Técnica e Extensão Rural (ANATER).
- Organizações Sociais (OS): Qualificação de organização privada, que possuem função
específica de atuação, regulada pela Lei 9637/98.
- Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs): Qualificação de organização
privada, regulada pela Lei 9790/99.
- Organizações da Sociedade Civil (OSC): Também chamadas de Organizações não
Governamentais (ONG), é um tipo específicos de organização, regulada pela Lei 13019/14
(Marco Regulatório do Terceiro Setor ou das OSCs; regime jurídico das parcerias entre a
administração pública e as OSCs).

. Organizações Sociais na Reforma do Estado:


- Declaração de Madrid (1998): Centro Latino-americano de Administração para o
Desenvolvimento (CLAD) -> promove a Reforma Gerencial dos Estados latino-americanos.
Essa reforma busca tornar o governo mais eficiente, se espelhando no setor privado. O Brasil
não é signatário, mas se insere nesse contexto.
* o Estado deixa de ser agente interventor e produtor, se concentrando em ser promotor e
regulador do desenvolvimento.
* vide Reforma da Administração Pública no Brasil.
- Programa Nacional de Publicização (PNP): promove parceria do Estado com empresas e o
Terceiro Setor (sociedade no geral), para promover prestação de serviços públicos, mesmo
que subsidiados pelo Estado.
. Plano Diretor de Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE): Elaborado em 1995 por
Bresser-Pereira, então ministro do extinto “Ministério da Administração e Reforma do Estado
(MARE)”. Idealizo o Projeto das OS pelo PNP, prevendo lei que permitisse a publicização. O
Projeto das OS visa permitir a descentralização das atividades dos serviços não exclusivos.
Daí resultou a Lei 9637/98.
- Lei das Organizações Sociais (9637/98): Cria as OSs e o PNP.
- Art. 1º: O Executivo poderá qualificar como OSs pessoas jurídicas de direito privado, sem
fins lucrativos, cujas atividades sejam dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao
desenvolvimento tecnológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e à
saúde, atendidos aos requisitos previstos (art. 2º).
. PNP (regulamentado pelo decreto 9190/17): estabelece diretrizes e critérios para a
qualificação de OS, a fim de assegurar a absorção de atividades desenvolvidas por entidades
ou órgãos públicos da União por OS, observadas as seguintes diretrizes: I - ênfase no
atendimento do cidadão-cliente; II - ênfase nos resultados, qualitativos e quantitativos nos
prazos pactuados; III - controle social das ações de forma transparente.
. Contrato de Gestão: instrumento firmado entre o Poder Público e a entidade qualificada
como organização social, com vistas à formação de parceria entre as partes para fomento e
execução de atividades. Art. 22, § 1º: “A absorção pelas organizações sociais das atividades
das unidades extintas efetivar-se-á mediante a celebração de contrato de gestão, na forma
dos arts. 6º e 7º”
* às OSs podem ser destinados recursos e bens públicos necessários ao cumprimento do
contrato de gestão; fiscalização exercida pelo TCU, e ainda pelo MP, AGU e Procuradoria.
- Os estados-membros também implementaram tal modelo de OSs com sucesso.
- Não se aplica a Lei de Licitações, mas aplica-se os princípios da administração pública as
entidades do terceiro setor.

. Necessidade de licitação:
- Regra: as obras, serviços, compras e alienações, quando envolverem o poder público em
geral, devem ser precedidas de processo de licitação pública.
* Art. 37, XXI: “Ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras
e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure
igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações
de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual
somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à
garantia do cumprimento das obrigações.”
* ficam de fora entidades privadas que atuam em colaboração com a administração pública
(ex.: Sistema S)
- Art. 22: Compete privativamente à União legislar sobre: [...] XXVII - normas gerais de
licitação e contratação, em todas as modalidades, para as administrações públicas diretas,
autárquicas e fundações da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o
disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos
termos do art. 173, § 1º, III.
* regulamento: antiga Lei 8.666/93 e nova Lei 14.133/21.
- Art. 173, § 1º: A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de
economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou
comercialização de bens ou de prestação de serviços, dispondo sobre: [...] III - licitação e
contratação de obras, serviços, compras e alienações, observados os princípios da
administração pública.
* regulamento: Lei 13.303/16.
* para as EP e para as SEM, é necessária licitação para atividades-meio, mas, assim como
na Administração Direta e Fundações Públicas, há hipóteses de licitação dispensável (juízo de
oportunidade e conveniência) ou de contratação direta (inviabilidade de competição); há
previsão específica da desnecessidade de licitação quanto à atividade-fim da empresa, que é
definida no seu estatuto social.
* até a edição da Lei 13.303/16 (estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de
economia mista e de suas subsidiárias), as EP e SEM prestadoras de serviços públicos se
submetiam à Lei 8.666/93; as EP e SEM exploradoras de atividade econômica seguiam essa
lei dentro da chamada atividade-meio; à atividade-fim, a Lei 8.666/93 deixava de ser
utilizada, como forma de evitar que a burocracia inviabilizasse a competição.
* art. 67, Lei 9478/97: “Os contratos celebrados pela Petrobrás, para aquisição de bens
e serviços, serão precedidos de procedimento licitatório simplificado, a ser definido em
decreto do Presidente da República (vide Decreto 2.745/98; revogado pela Lei 13.303/16,
que deu 2 anos de prazo para adaptação). O TCU achava inconstitucional, controvérsia
encerrada negativamente pelo RE 441280.

. Punição em improbidade administrativa:


§ 4º Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos,
a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma
e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
§ 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer agente,
servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de
ressarcimento.
* os novos prazos da reforma da Lei 14.230/21 não se aplicam retroativamente.
- Lei 8429/92 (Lei de Improbidade Administrativa):
. apenas a título de dolo (pós-reforma de 2021); essa nova regra não pode ser aplicada a
quem já tem condenação definitiva.
. três espécies de improbidade (arts. 9º ao 11): atos que importam enriquecimento ilícito,
que causam prejuízo ao erário e que atentam contra os princípios da administração pública.
. agentes políticos: respondem tanto ao regime de responsabilização política (p. ex., crimes
de responsabilidade, da Lei 1.079/50), quanto por ato de improbidade administrativa (LIA;
STF, AC 3585), devido a autonomia das instâncias.
* exceção: não incide a LIA contra o presidente da República, que será julgado em regime
especial pelo Senado (STJ, RCL 2790), porque o art. 85, V, dispõe que o ato de improbidade
do presidente configura crime de responsabilidade.
* competência: não há foro privilegiado (exceto a ministros do STF); a ação por ato de
improbidade é do MP e PJs interessadas.
* ADI 7042: “A supressão da legitimidade ativa das PJs interessadas para a propositura da
ação por ato de improbidade representa uma inconstitucional limitação ao amplo acesso à
jurisdição (art. 5º, XXXV) e a defesa do patrimônio público, com ferimento ao princípio da
eficiência (art. 37) e significativo retrocesso quanto ao imperativo constitucional de combate
à improbidade administrativa.”
* punição de perda de cargo: a regra é a perda da função abranger somente o cargo,
emprego ou função que possuía quando cometeu o ato de improbidade. A exceção fica por
conta dos atos que causem enriquecimento ilícito (o mais grave), mas mesmo nesse caso, o
Magistrado precisará justificar.
§ 2º A não observância dos incisos II e III (sobre concursos públicos) implicará a nulidade do
ato e a punição da autoridade responsável, nos termos da lei.
. Prescritibildade de ações sobre prejuízo ao erário:
Art. 37, § 5º: “A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer
agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de
ressarcimento.”
. É prescritível a ação de reparação de danos à Fazenda Pública, decorrente de ilícito civil
(RE 669069).
. É prescritível a pretensão de ressarcimento ao erário fundada em decisão de Tribunal de
Contas (RE 636886).
. É imprescritível a ação de ressarcimento ao erário fundada na prática de ato doloso
tipificado na LIA (RE 852475).
. É imprescritível a ação de ressarcimento ao erário decorrente da exploração irregular do
patrimônio mineral da União, na medida em que estaria ligado ao dano ambiental causado,
não se confundindo com mero ilícito civil (RE 1427694).
* É imprescritível a pretensão de reparação civil de dano ambiental (RE 654833).

. Responsabilidade civil do Estado:


Art. 37, § 6º: “As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de
serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a
terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
- Evolução: 1822 (absolutista; não responsabilização), 1824, 1891, 1934 e 1937 (fase civilista;
teoria subjetivista da responsabilidade do Estado), 1946 a 1988 (fase de publicização da
responsabilidade civil do Estado; teoria objetiva do risco administrativo), e possível avanço
futuro (responsabilidade civil objetiva do Estado; teoria do risco integral).
- Teoria do risco administrativo: Responsabilidade objetiva (independente de culpa) de
reparar terceiros por danos causados. São requisitos para haver essa responsabilidade:
. conduta (ação danosa, lícita ou ilícita, por ação ou omissão).
. dano real, direto e imediato (interrupção do nexo causal; não se reconhece direito reflexo)
à bem juridicamente tutelado de terceiro administrado.
. nexo de causalidade entre a conduta e o dano.
* a vítima deve comprovar tais requisitos.
* sociedades de economia mista não se incluem.
* exemplos da responsabilidade estatal de atos lícitos: desapropriação para interesse
público ou por conta de um plano econômico danoso (RE 571969).
* a responsabilidade do agente segue sendo subjetiva; já Oswaldo Aranha Bandeira de
Mello diz que há sempre responsabilidade subjetiva na responsabilidade do Estado, por se
basear na culpa (conduta comissiva ou omissiva).
* somente haverá omissão se houver prévio dever legal de agir.
* em ações comissivas/positivas, fala-se em teoria do risco-proveito.
* dano especial: o agravo patrimonial incide especificamente sobre indivíduo ou grupo
definido de indivíduos (não sobre coletividade).
- importância culpa: culpa exclusiva da vítima gera excludente de responsabilidade; culpa
concorrente e o grau de culpa, para determinar o valor da indenização; culpa do agente
público gera direito de regresso.
* teoria da culpa anônima (falta do serviço/faute du servisse): não é necessário indicar o
agente culpado em caso de omissão ou de atuação deficiente.
* teoria da dupla garantia: não há necessidade de a vítima comprovar culpa do agente,
mas não pode a vítima demandar diretamente o agente; a ação deve ser ajuizada contra o
Estado ou a pessoa jurídica privada prestadora de serviço público, sendo parte ilegítima
passiva o autor do ato (embora caiba ação de regresso; RE 1027633).
- teoria do risco integral (minoritária): a Administração não poderia alegar excludentes de
responsabilidade (bastaria dano e nexo causal).
* parte da doutrina defende essa teoria às atividades nucleares (art. 21, XXIII, a; p. ex., seria
o dever de indenizar as vítimas do acidente com Césio 137) e aos danos ambientais (art. 14,
§ 1º, Lei 6.938/81; REsp 1346430).
- excludentes de responsabilidade: culpa exclusiva da vítima, culpa exclusiva de terceiro e
caso fortuito/força maior.
- dano decorrente de inconstitucionalidade: danos atribuídos a atos legislativos ou
administrativos decorrentes do estrito cumprimento daquelas normas tem como
pressuposto necessário para indenização a declaração judicial de inconstitucionalidade.
- casos específicos:
. advogado no fórum baleado por réu de processo criminal: haverá responsabilidade civil
do Estado (o desfecho foi ocasionado por conduta omissiva do Estado decorrente de ausência
de cuidado, zelo e segurança esperados; RESP 1869046).
. é objetiva a responsabilidade civil do Estado em relação a profissionais de imprensa feridos
por agentes públicos durante cobertura jornalística em manifestações em que haja tumulto
ou conflitos entre policiais e manifestantes, exceto em caso de responsabilidade exclusiva da
vítima nas hipóteses em que o profissional de imprensa descumprir ostensiva e clara
advertência (RE 1209429).
. suicídio de um preso ou na morte causada por outros detentos, se comprovada a
inobservância do seu dever de proteção, o Estado terá de indenizar (responsabilidade
objetiva; RE 573595).
. dever de indenizar o detento, inclusive por danos morais, em virtude da falta de condições
adequadas no estabelecimento prisional (RE 580252).
. não há responsabilidade estatal de assumir os débitos trabalhistas da empresa
terceirizada com seus funcionários, salvo se ficasse comprovada a sua negligência no dever
de fiscalizar (RE 760931).
. o Estado é responsável por morte ou lesões praticadas por policiais de folga, quando
utilizada arma pertencente à corporação (RE 751186).
. se um preso, logo após fugir da cadeia, praticar um crime, há responsabilidade civil do
Estado; porém se houver distância temporal entre a fuga e o cometimento das infrações, não
haverá o dever de indenizar pela quebra do nexo de causalidade. “Não se caracteriza a
responsabilidade civil objetiva do Estado por danos decorrentes de crime praticado por
pessoa foragida do sistema prisional, quando não demonstrado o nexo causal direto entre o
momento da fuga e a conduta praticada” (RE 608880).

. Regime jurídico dos servidores públicos:


- Lei 8112/90: Regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das
fundações públicas federais.
- Lei 9962/00: Regime de emprego público do pessoal da Administração federal direta,
autárquica e fundacional, e dá outras providências.
* é válida a contratação de servidores das autarquias sob o regime de CLT para ocupar
empregos públicos (ADI 5615, 2020)
* é válida a previsão constante na Lei 9.648/98 de utilização da CLT para a contratação nos
conselhos regionais (CRC, CRO, CREA etc; tais conselhos são equiparados a autarquias em
regime especial, conforme ADI 5367).
- Problemática do art. 39, caput:
. Original e válido atualmente: “A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
instituirão, no âmbito de sua competência, regime jurídico único e planos de carreira para os
servidores da administração pública direta, das autarquias e das fundações públicas.”
. Redação da EC 19/98: “A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão
conselho de política de administração e remuneração de pessoal, integrado por servidores
designados pelos respectivos Poderes.”
* ADI 2135: Em 02/08/2007, o caput foi suspenso, devido a EC não ter atendido o quórum
de 3/5.

. Direitos de servidores públicos:


- a) salário mínimo; b) garantia de percepção de no mínimo um salário mínimo aos que
recebem renda variável (ou trabalham em jornada reduzida); c) 13º salário; d) adicional
noturno; e) salário-família; f) limitações à jornada de trabalho; g) repouso semanal
remunerado; h) hora extra; i) férias; j) licença à gestante; k) licença-paternidade; l) proteção
ao mercado de trabalho da mulher; m) redução de riscos inerentes ao trabalho; n) proibição
de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de
sexo, idade, cor ou estado civil.
- licença-maternidade (art. 7º, XVIII; art. 207, Lei 8112/90; art. 392, CLT, pós-2002) de 120
dias, estendível para 180 dias (autoaplicável às servidoras públicas; decreto 6690/08, art. 2º,
caput e § 1º).
* “À luz do art. 227 da CF, que confere proteção integral da criança com absoluta prioridade,
e o princípio da maternidade responsável, a licença-maternidade, prevista no art. 7º, XVIII,
da CF e regulamentada pelo art. 207 da Lei 8.112/1990, estende-se ao pai, genitor
monoparental.” (RE 1348854)
* servidores estaduais e municipais que sejam responsáveis por pessoas com deficiência
têm direito a jornada reduzida, direito esse já garantido aos servidores federais (RE 1237867).
- salário-esposa: inconstitucional (ADPF 860, 2023); o art. 7º, XXX proíbe categoricamente a
diferenciação de salários em razão do estado civil dos trabalhadores; o pagamento de
“salário-esposa” a servidores públicos viola o núcleo dos princípios republicano, da
igualdade, da moralidade e da razoabilidade; a concessão benefícios remuneratórios a
trabalhadores ou servidores deve estar vinculada ao desempenho funcional.
* Art. 7º, XXX: “Proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de
admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil.”
* Art. 7º, XII: “Salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda
nos termos da lei.” (Redação pela EC 20/98)
- regime de subsídio de servidor de segurança pública:
. é possível recebimento de hora-extra, quando for excedida a jornada de trabalho (ADI
5404).
. são válidos decretos do governador que preveem o pagamento a policiais por serviços
voluntários; por não se tratar de imposição da Administração Pública, os valores não
precisariam contar com 50% de hora extra (ADI 7356).
* Art. 7º, XVI: “Remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em 50% à do
normal.” (Vide CLT, art. 59, § 1º)
- SV 16: Os artigos 7º, IV (o pagamento mínimo do servidor é o salário-mínimo) e 39, § 3º
referem-se ao total da remuneração do servidor.
* SV 15: “O cálculo de gratificações e outras vantagens do servidor público não incide sobre
o abono utilizado para se atingir o salário-mínimo.”
- vedação de incorporação (art. 39, § 9º): “É vedada a incorporação de vantagens de caráter
temporário ou vinculadas ao exercício de função de confiança ou de cargo em comissão à
remuneração do cargo efetivo.” (Incluído pela EC 103/19)
* art. 62, Lei 8112/90, revogado pela Lei 9527/97: “Ao servidor investido em função de
direção, chefia ou assessoramento é devida uma gratificação pelo seu exercício.”
* STF, tese do tema 1213, RG: “É inconstitucional a contagem do tempo pretérito à
investidura no cargo efetivo, exercido exclusivamente em cargo comissionado, para fins de
incorporação de quintos como Vantagem Pessoal Nominalmente Identificável (VPNI).”

. Aposentadoria de servidores:
* art. 40: dirigidas aos servidores. Art. 201: aplicáveis aos trabalhadores em geral.
* notários e oficiais de registro não podem se vincular a regime próprio de previdência
(seguem o RGPS; ADI 5556).
* Art. 24: “Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente
sobre: [...] previdência social, proteção e defesa da saúde.”
* a EC 103/2019 deixou de fora os servidores dos estados/DF e municípios (abrangeu
servidores federais, empregados públicos e os trabalhadores CLT).
* aposentadoria compulsória; aposentadoria por incapacidade (antes, por invalidez
permanente); aposentadoria voluntária.
* servidores ocupante exclusivamente de cargo em comissão, função temporária (inclusive
detentores de mandato eletivo) ou emprego público deve ser aplicado o RGPS (apenas
aplica-se o RPPS a concursados).
* inconstitucionalidade de lei estadual que estabelece regime previdenciário específico
para agentes não titulares de cargos efetivos, que violaria o artigo 40, § 13, pois a
competência legislativa estadual em matéria previdenciária estaria restrita à competência
suplementar para o respectivo regime próprio e à instituição da contribuição previdenciária
para o regime próprio (ADI 7198).
* lei federal que verse sobre percentual de reajuste em RPS só pode ser aplicada aos
trabalhadores regidos pelo RGPS e aos servidores federais ligados ao RPPS, e não a servidores
de RPPS dos estados, devido a autonomia administrativa dos entes federados (ADI 4582).
- RPPS (art. 40, pós-EC 103/19): O RPPS dos servidores efetivos terá caráter contributivo e
solidário, mediante contribuição do respectivo ente federativo, de servidores ativos, de
aposentados e de pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e
atuarial.
- Tipos de regimes (§ 1º): O servidor abrangido por RPPS será aposentado:
I - por incapacidade permanente para o trabalho, no cargo em que estiver investido, quando
insuscetível de readaptação, hipótese em que será obrigatória a realização de avaliações
periódicas para verificação da continuidade das condições que ensejaram a concessão da
aposentadoria, na forma de lei do respectivo ente federativo.
. readaptação na lei (art. 24, Lei 8112/90): “Readaptação é a investidura do servidor em
cargo de atribuições e responsabilidades compatíveis com a limitação que tenha sofrido em
sua capacidade física ou mental verificada em inspeção médica.”
. readaptação na CF (§ 13º, incluído pela EC 103/19): “O servidor público titular de cargo
efetivo poderá ser readaptado para exercício de cargo cujas atribuições e responsabilidades
sejam compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou mental,
enquanto permanecer nesta condição, desde que possua a habilitação e o nível de
escolaridade exigidos para o cargo de destino, mantida a remuneração do cargo de origem.”
. enquanto ausente lei federal regulando esta aposentadoria, serão aplicáveis as regras
transitórias previstas no art. 26 da EC 103/19: a) se a incapacidade decorrer de acidente de
trabalho, de doença profissional e de doença do trabalho, o benefício será 100% da média
aritmética simples das remunerações do servidor; b) se decorrer de outros casos, vale a regra
geral (o cálculo seguirá as regras normais de aposentadoria; 60% da média aritmética das
contribuições, + 2% para cada ano de contribuição que exceder o tempo de 20 anos de
contribuição [embora isso sempre comece em 70%, devido ao tempo mínimo de contribuição
de 25 anos]).
* excluída a possibilidade de aposentadoria com proventos integrais na situação de
incapacidade por doença grave incurável, como existia anteriormente.

II - compulsoriamente, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição, aos 70 ou


aos 75 anos de idade, na forma de lei complementar.
. LC 152/2015: estende para 75 anos o limite de idade para servidores efetivos em todos os
níveis de governo e aos membros do Judiciário, MP, DP e TCs.
* o funcionário policial fica igualmente submetido ao limite de 75 anos.
* art. 100, ADCT: aos Ministros do STF, dos Tribunais Superiores e do TCU, o aumento de
idade da aposentadoria compulsória para 75 anos foi automático, mesmo antes da LC
federal. Também previa a necessidade de nova sabatina perante o Senado para continuar no
Tribunal entre os 70 anos e os 75 anos, exigência declarada inconstitucional (ADI-MC 5316).
* servidores exclusivamente em comissão não se submetem a aposentadoria
compulsória; não existe limite de idade para a pessoa ser nomeada para cargo em comissão.
Um servidor efetivo que ocupe cargo em comissão aos 75 anos será compulsoriamente
aposentado quanto do efetivo, mas pode continuar na mesma cadeira somente pelo cargo
em comissão (RE 640905).
. empregados das estatais (EP e SEM) e dos consórcios públicos, mesmo regidos por CLT,
se submetem à aposentadoria compulsória (vide art. 201, § 16).
III - (voluntária) no âmbito da União, aos 62 (se mulher) e aos 65 anos (se homem), e, no
âmbito estadual e municipal, na idade mínima estabelecida mediante emenda às respectivas
Constituições/Leis Orgânicas, observados o tempo de contribuição e os demais requisitos
estabelecidos em lei complementar do respectivo ente federativo.
§ 2º Os proventos de aposentadoria não poderão ser inferiores ao salário mínimo ou
superiores ao limite máximo estabelecido para o RGPS (R$ 7.786,02, em 2024), observado o
disposto nos §§ 14 a 16.
* EC 103/19, art. 10, § 1º, I, b: 25 anos de contribuição mínima, tempo mínimo de 10 anos
de efetivo exercício no serviço público e de 5 anos no cargo efetivo em que for concedida a
aposentadoria.
* foi retirada a aposentadoria baseada no tempo de contribuição (no RGPS e no RPPS).
* nas carreiras escalonadas, o prazo mínimo de 5 anos deve ser contado a partir do
ingresso na carreira (a promoção a uma classe distinta não reiniciaria; RE 662423).

- Acumulação de 2 RPPS (§ 6º): É vedada a percepção de mais de uma aposentadoria de


RPPS, ressalvadas as aposentadorias decorrentes dos cargos acumuláveis, aplicando-se
outras vedações, regras e condições para a acumulação de benefícios do RGPS.
- É vedada a instituição de novos RPPSs (§ 22).

. Previdência complementar:
- Art. 37, § 15: É vedada a complementação de aposentadorias de servidores e de pensões
por morte a seus dependentes que não seja decorrente do disposto nos §§ 14 a 16 do art. 40
ou que não seja prevista em lei que extinga RPPS. (Incluído pela Reforma)
- Art. 40 (pós-reforma), § 14: A União, estados, DF e municípios instituirão, por lei do
respectivo Executivo, regime de previdência complementar para servidores efetivos,
observado o limite do RGPS para o valor das aposentadorias e pensões em RPPS, ressalvado
o disposto no § 16.
§ 15: O regime complementar oferecerá plano de benefícios somente na modalidade
contribuição definida, observará o disposto no art. 202 e será efetivado por intermédio de
entidade fechada de previdência complementar ou de entidade aberta de previdência
complementar.
§ 16: Somente mediante sua prévia e expressa opção, o disposto nos § § 14 e 15 poderá ser
aplicado ao servidor que tiver ingressado no serviço público até a data da publicação do ato
de instituição do correspondente regime complementar.
. Previdência especial:
§ 4º: É vedada a adoção de requisitos ou critérios diferenciados para concessão de benefícios
em RPPS, exceto:
§ 4º-A: Poderão ser estabelecidos por LC do respectivo ente federativo idade e tempo de
contribuição diferenciados para aposentadoria de servidores com deficiência, previamente
submetidos a avaliação biopsicossocial realizada por equipe multiprofissional e
interdisciplinar.
. Art. 22 da EC: Até que lei discipline (vale ao RPPS e RGPS), desde que cumpridos (no caso
do servidor) mínimo de 10 anos de efetivo exercício no serviço público e de 5 anos no cargo
efetivo, será concedida na forma da LC 142/13 (aposentadoria de deficiente do RGPS),
inclusive quanto aos critérios de cálculo dos benefícios.
. Autonomia dos estados e municípios (parágrafo único): Aplicam-se às aposentadorias
dos servidores com deficiência dos Estados/DF e Municípios as normas constitucionais e
infraconstitucionais anteriores à data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional,
enquanto não promovidas alterações na legislação interna relacionada ao respectivo RPPS.
§ 4º-B: [...] agente penitenciário [polícia penal, pós-EC 104/19], agente socioeducativo,
policial dos órgãos legislativos (art. 51, IV e art. 52, XIII) e agentes de segurança pública (art.
144, I a IV).
. não aplicado a polícia civil e penal estadual (exceto do DF). Afeta policiais federais,
rodoviários federais e ferroviários federais; policiais penais federais e penais do DF; policiais
civis do DF; policiais legislativos da CD e do SF; agentes socioeducativos.
. oficiais de justiça e os servidores que trabalham na área da segurança dos Tribunais e do
Ministério Público não entram nas regras especiais (MI 6515).
. não se permite que norma estadual amplie os servidores beneficiados com
aposentadoria especial, pois a lista da CF é taxativa (ADI 6917).
. art. 10, § 2º, I da EC: mínimo de 55 anos de idade, 30 anos de contribuição e 25 anos de
efetivo exercício em cargo dessas carreiras, para ambos os sexos;
. LC 51/85 (pós-LC 144/14), art. 1º: O servidor público policial será aposentado:
Compulsoriamente: 75 anos (regra geral de servidores). Voluntariamente, com proventos
integrais, independentemente da idade: mínimo de 30 anos de contribuição e 20 anos de
exercício em cargo policial, se homem; 25 e 15, respectivamente, se mulher.
. Militares estaduais:
. Competência da privativa da União; pós-reforma (art. 22, XXI), “normas gerais de
organização, efetivos, material bélico, garantias, convocação, mobilização, inatividades e
pensões das polícias militares e dos corpos de bombeiros militares.”
. Lei 13954/19: dispões sobre essas normas gerais.
. a competência privativa da União de normas gerais sobre inatividades e pensões dos
PMs e CBMs não exclui a competência legislativa estadual para a fixação das alíquotas da
contribuição previdenciária incidente sobre os proventos de seus próprios militares inativos
e pensionistas (RE 1338950).
§ 4º-C: [...] servidores insalubres (cuja atividades sejam exercidas com exposição a agentes
químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes), vedada a
caracterização por categoria profissional ou ocupação (deve haver comprovação concreta).
. art. 10, § 2º, II da EC: mínimo de 60 anos, com 25 anos de efetiva exposição e
contribuição, 10 anos de efetivo exercício de serviço público e 5 anos no cargo efetivo em
que for concedida a aposentadoria.
* SV 33 (revogada pela reforma): “Aplicam-se ao servidor público, no que couber, as
regras do RGPS sobre aposentadoria especial de que trata o artigo 40, § 4º, inciso III da CF,
até a edição de LC específica.”
. se o servidor permanece atuando em atividade laborativa especial que ensejou a sua
aposentadoria especial, pode haver a cessação do pagamento do benefício previdenciário
(afinal, ele não estava tão mal assim, não é mesmo?; RE 791961).
§ 5º: Os ocupantes do cargo federal de professor terão idade mínima para se aposentar
reduzida em 5 anos, desde que comprovem tempo de efetivo exercício das funções de
magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio fixado em lei
complementar do respectivo ente federativo.
. art. 10, § 2º, III da EC: mínimo de 60 anos (se homem) e 57 anos (se mulher) com 25 anos
de contribuição, 10 anos de efetivo exercício de serviço público e 5 anos no cargo efetivo em
que for concedida a aposentadoria, para ambos os sexos.
. STF, tese do tema 965 (leading case RE 1039644): “Para a concessão da aposentadoria
especial de que trata o art. 40, § 5º, da Constituição, conta-se o tempo de efetivo exercício,
pelo professor, da docência e das atividades de direção de unidade escolar e de coordenação
e assessoramento pedagógico, desde que em estabelecimentos de educação infantil ou de
ensino fundamental e médio.”
* ou seja, revogada a súmula 726/STF.
. cabe à União, via Lei de Diretrizes e Bases, definir quem se enquadraria como atividade de
magistério, não sendo tarefa extensiva aos estados; e atividades meramente administrativas
não podem ser consideradas como magistério (ADI 856).

. Aposentadoria e manutenção no cargo:


Art. 37, § 14: “A aposentadoria concedida com a utilização de tempo de contribuição
decorrente de cargo, emprego ou função pública, inclusive do RGPS, acarretará o
rompimento do vínculo que gerou o referido tempo de contribuição.”
* a natureza do ato de demissão de empregado público é constitucional-administrativa, e
não trabalhista (RE 655283).

. Pensão por morte:


* decréscimo relevante no valor do benefício não significa violação a nenhuma cláusula
pétrea (ADI 7051).
- Art. 40, § 7º: Quando se tratar da única fonte de renda formal auferida pelo dependente, o
benefício de pensão por morte será concedido nos termos de lei do respectivo ente
federativo (no mínimo 1 salário mínimo), a qual tratará de forma diferenciada a hipótese de
morte dos servidores de que trata o § 4º-B decorrente de agressão sofrida no exercício ou
em razão da função.
. regra geral (art. 23 da EC): para os pensionistas do RGPS e RPPS (servidores federais), o
montante é 50% da aposentadoria recebida (cota familiar), + 10% por dependente (sempre
respeita-se o limite de 100%).
§ 1º As cotas por dependente cessarão com a perda dessa qualidade (incluindo perda de
invalidez) e não serão reversíveis aos demais dependentes.
§ 2º Existindo dependente inválido ou com deficiência intelectual, mental ou grave, o valor
da pensão por morte será:
I - 100% da aposentadoria recebida pelo segurado/servidor ou daquela a que teria direito
se fosse aposentado por incapacidade permanente na data do óbito. [regra dos 100% ou 60%
+ 2%/ano]
II - regra geral de 50% + 10% por dependente, até o máximo de 100%, para o valor que
supere o limite máximo de benefícios do RGPS.
* resumindo, o cálculo mais favorável.
§ 4º O tempo de duração da pensão por morte e das cotas individuais por dependente até
a perda dessa qualidade, o rol de dependentes e sua qualificação e as condições necessárias
para enquadramento serão aqueles estabelecidos na Lei 8213/91.
§ 6º Equiparam-se a filho, para fins de recebimento da pensão por morte, exclusivamente
o enteado e o menor tutelado, desde que comprovada a dependência econômica.
§ 7º As regras sobre pensão previstas neste artigo poderão ser alteradas na forma da lei
(transitoriedade expressa).
§ 8º Aplicam-se às pensões concedidas aos dependentes de servidores estaduais/DF e
municipais as normas anteriores à data de entrada em vigor desta EC, enquanto não
promovidas alterações na legislação interna relacionada ao respectivo RPPS.

. para agentes de segurança pública (art. 10, § 6º da EC): A pensão por morte devida aos
dependentes do policial civil do DF, policiais legislativos, polícia federal, rodoviária federal,
ferroviária federal, agente federal penitenciário ou socioeducativo, decorrente de agressão
sofrida no exercício ou em razão da função, será vitalícia para o cônjuge ou companheiro e
equivalente à remuneração do cargo. [se era solteiro e tinha filhos, entra na regra geral].

. Acumulação de benefícios:
- Art. 24: É vedada a acumulação de mais de uma pensão por morte deixada por cônjuge ou
companheiro, no âmbito do mesmo regime de previdência social, ressalvadas as pensões do
mesmo instituidor decorrentes do exercício de cargos acumuláveis.
§ 1º Será admitida, nos termos do § 2º, a acumulação de:
I - pensão por morte deixada por cônjuge/companheiro de regimes diferentes ou com
pensões decorrentes das atividades militares (PM, CBM e forças armadas; arts. 42 e 142).
II - pensão por morte deixada por cônjuge/companheiro de um regime com aposentadoria
do RGPS ou RPPS ou com proventos de inatividade militares.
III - pensões militares com aposentadoria RGPS ou RPPS.
§ 2º Nas hipóteses das acumulações do § 1º, é assegurada a percepção de 100% do benefício
mais vantajoso + uma parte de cada um dos demais benefícios, apurada cumulativamente de
acordo com as seguintes faixas:
I - 60% do valor que exceder 1 salário-mínimo, até o limite de 2 salários-mínimos;
II - 40% do valor que exceder 2 salários-mínimos, até o limite de 3 salários-mínimos;
III - 20% do valor que exceder 3 salários-mínimos, até o limite de 4 salários-mínimos;
IV - 10% do valor que exceder 4 salários-mínimos.
§ 3º A aplicação do § 2º poderá ser revista a qualquer tempo, a pedido do interessado, em
razão de alteração de algum dos benefícios.
§ 4º Essas restrições não serão aplicadas se houver direito adquirido antes desta EC.
§ 5º As regras sobre acumulação previstas neste artigo poderão ser alteradas (respeitando
os arts. 40, § 6º e do 201, § 15.
. Contribuição:
- Regra geral (art. 11): Até lei específica que altere a alíquota da contribuição previdenciária
dos arts. 4º, 5º e 6º da Lei 10887/04 (11%), esta será de 14%.
§ 1º Essa alíquota será reduzida ou majorada, considerado o valor da base de contribuição
ou do benefício recebido, de acordo com os seguintes parâmetros:
I - até 1 salário-mínimo, redução de 6,5%;
II - acima de 1 salário-mínimo até R$ 2.000,00, redução de 5%;
III - de R$ 2.000,01 até R$ 3.000,00, redução de 2% percentuais;
IV - de R$ 3.000,01 até R$ 5.839,45, sem redução ou acréscimo;
V - de R$ 5.839,46 até R$ 10.000,00, acréscimo de 0,5%;
VI - de R$ 10.000,01 até R$ 20.000,00, acréscimo de 2,5%;
VII - de R$ 20.000,01 até R$ 39.000,00, acréscimo de 5%;
VIII - acima de R$ 39.000,00, acréscimo de 8%.
§ 3º Esses valores serão reajustados, a partir dessa EC, na mesma data e com o mesmo
índice em que se der o reajuste RGPS, ressalvados aqueles vinculados ao salário-mínimo, aos
quais se aplica a legislação específica.

- Regra extraordinária (art. 149, § 1º): A União, Estados/DF e Municípios instituirão, por meio
de lei, contribuições para custeio de RPPS, cobradas dos servidores ativos, dos aposentados
e pensionistas, que poderão ter alíquotas progressivas de acordo com o valor da base de
contribuição ou dos proventos de aposentadoria e de pensões.
§ 1º-A: Quando houver deficit atuarial, a contribuição ordinária dos aposentados e
pensionistas poderá incidir sobre o valor dos proventos que supere o salário-mínimo.
§ 1º-B: Demonstrada a insuficiência do § 1º-A, é facultada a instituição de contribuição
extraordinária, na União, dos servidores ativos, aposentados e pensionistas.
* § 1º-C: Isso deverá ser instituído com outras medidas para equacionamento do deficit e
vigorará por período determinado, contado da data de sua instituição.

- Abono de permanência (ou “auxílio pé na cova”; art. 40, § 19): O servidor efetivo que tenha
completado as exigências para a aposentadoria voluntária e que opte por permanecer em
atividade poderá fazer jus a um abono de permanência equivalente, no máximo, ao valor
da sua contribuição previdenciária, até a aposentadoria compulsória, observados critérios a
serem estabelecidos em lei do respectivo ente federativo,
. Estabilidade:
- Art. 41: São estáveis após 3 anos de efetivo exercício os servidores nomeados para cargo
de provimento efetivo em virtude de concurso público (pré-EC 19/98, 2 anos).
* para adquirir estabilidade, deve ser submetido a avaliação especial de desempenho, por
comissão específica; havendo a reprovação, o servidor deve ser exonerado (natureza
meramente declaratória; a exoneração pode ocorrer após os 3anos do estágio probatório,
desde que as avaliações de desempenho sejam feitas dentro do prazo).
§ 1º O servidor público estável só perderá o cargo:
I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado;
II - mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada ampla defesa;
III - mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma de LC,
assegurada ampla defesa.
* inconstitucional lei que preveja a exoneração de servidor em estágio probatório por
participar de greve; entendeu-se que a norma previa indevida distinção entre estáveis e não
estáveis (ADI 3235).
* trabalhadores EP e SEM não possuam estabilidade, mas a dispensa dos empregados
públicos das entidades que prestam serviço público deve ser motivada (RE 589998).
- Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade: o servidor estável ficará em
disponibilidade, com remuneração proporcional ao tempo de serviço, até seu adequado
aproveitamento em outro cargo.
- Duração do estágio probatório: Embora o art. 20 da Lei 8112/90 mencione 24 meses, a EC
19/98 tornou o prazo 36 meses (STF, STA 263).

. vs. vitaliciedade (art. 95): “Os juízes [e promotores] gozam das seguintes garantias: I -
vitaliciedade, que, no 1º, só será adquirida após 2 anos de exercício, dependendo a perda do
cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais
casos, de sentença judicial transitada em julgado.”
* membros que entram diretamente nos Tribunais são vitalícios desde a posse.
* Ministros do STF, PGR, membros do CNJ e do CNMP também podem perder o cargo por
decisão do Senado, por crime de responsabilidade (art. 52, I).

Controle de Constitucionalidade
Constitucionalidade é estar de acordo com a Constituição de um país, e
inconstitucionalidade é estar em desacordo. O controle de constitucionalidade é um
mecanismo para reconhecer atos dos Poderes Públicos como inconstitucionais, e os impor
uma sanção (nulidade ou anulabilidade). Para que seja possível o controle de
constitucionalidade, deve haver uma Constituição rígida – difícil de ser alterada –, ou não
poderia ser possível. A origem do controle de constitucionalidade como conhecemos hoje é
normalmente associada ao caso Marbury vs. Madison (1803), na Suprema Corte dos EUA.

. Classificação dos tipos de inconstitucionalidade:


. Vício formal vs. material:
- vício formal: É o vício decorrente do procedimento ou formalidade da lei ou ato em si. Tem
um defeito em sua formação, seja pela inobservância da ordem técnica ou procedimental ou
pela violação das regras de competência.
- vício material: É o vício decorrente do conteúdo da lei ou ato. Ocorre devido à matéria
tratada contrariar regras ou princípios assegurados em nossa Constituição Federal. (ex.: lei
que venha a instituir pena de morte no Brasil)
. Por ação vs. por omissão:
- por ação: Decorre de uma conduta positiva (leis criadas pelo) do legislador, que é
incompatível com a constitucionalidade. (ex.: ADI, ADPF)
- por omissão: Decorre de uma lacuna inconstitucional ou do descumprimento da obrigação
constitucional de legislar. (ex.: ADO, MI). Pode ainda ser classificada em absoluta/total ou
parcial.
* vide “exclusão de benefício incompatível com o princípio da igualdade”, passível de
controle de constitucionalidade por omissão.
. Classificação dos tipos de controle de constitucionalidade:
. Quanto ao órgão (quem controla):
- controle político: É exercido por um órgão político, como pelas CCJs no Congresso ou pelo
veto do Presidente da República a um projeto de lei usando inconstitucionalidade como
fundamento (art. 66, § 1º). Antigamente, era chamado de controle francês.
- controle jurisdicional: É exercido pelo Poder Judiciário, seja por um único órgão, no caso
de controle concentrado, ou por todo e qualquer juízo ou tribunal, no caso do controle
difuso.
- controle misto: Apresenta traços de ambos os tipos de controle de constitucionalidade,
tendo no mesmo sistema o controle jurisdicional e político, concreto e abstrato, concentrado
e difuso. O sistema brasileiro é misto.

. Quanto ao modo/forma ou objeto:


- concreto: Também conhecido como incidental, subjetivo, por via de exceção ou defesa,
ocorre quando a questão da inconstitucionalidade acontece dentro de um caso concreto; é
um incidente em um processo autônomo já em andamento, que versa um direito subjetivo
(de alguém, e não da norma em si).
- abstrato: Também conhecido como principal, objetivo ou por via de ação, ocorre quando
a inconstitucionalidade é arguida em processo próprio e direto, onde se questiona
especificamente a constitucionalidade de lei ou ato normativo.

. Quanto ao momento:
- preventivo: Ocorre o controle antes da lei ou ato entrar em vigor ou ser publicado,
normalmente sendo realizado pelas CCJs no Congresso ou pelo veto do Presidente da
República.
* o judiciário também pode exercer o controle preventivo, quando ocorre julgamento de
MS pelo STF, impetrado por membro do parlamento, que busque impedir a tramitação de
projeto de lei viciado, a fim de garantir um processo legislativo hígido.
* outra explicação do controle preventivo pelo judiciário: O judiciário poderá exercer
controle preventivo caso seja impetrado um MS por parlamentar, “em razão da
inobservância do devido processo legislativo constitucional , como ocorre no caso de
deliberação de uma proposta de emenda tendente a abolir cláusula pétrea. Os
parlamentares têm direito público subjetivo à observância do devido processo legislativo
constitucional. Por isso, apenas eles, e nunca terceiros estranhos à atividade parlamentar,
têm legitimidade para impetrar o mandado de segurança nessa hipótese. A iniciativa
somente poderá ser tomada por membros do órgão parlamentar perante o qual se achem
em curso o projeto de lei ou a proposta de emenda. Trata-se de um controle concreto, uma
vez que a impetração do mandamus surge a partir da suposta violação de um direito (ao
devido processo legislativo).” - Marcelo Novelino, 2009. Já Gilmar Mendes (2023) apenas
menciona o caso de emenda que seja lesiva às cláusulas pétreas.
* a propósito: controle de constitucionalidade preventivo sobre tratados internacionais.
- repressivo: Ocorre posteriormente a promulgação da lei, exercido via de regra pelo
judiciário.
No Brasil, esse controle também pode ser exercido pelo legislativo, que tem competência
para sustar os atos normativos do executivo que “exorbitem do poder regulamentar ou dos
limites de delegação legislativa” (art. 49, V). Além disso, o próprio Congresso é competente
para analisar a constitucionalidade das MPs expedidas pelo Presidente (art. 62, § 5º). Súmula
347, STF: “O Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições, pode apreciar a
constitucionalidade das leis e dos atos do Poder Público.” [ainda há outros casos, mais
exceção que regra aq]

. Quanto aos tipos de controle jurisdicional:


- concentrado: É o controle exercido apenas por um Tribunal Supremo ou por uma Corte
Constitucional específica, que pode declarar a inconstitucionalidade ou constitucionalidade
de uma lei, com efeito erga omnes. Também é chamado de modelo austríaco ou europeu.
- difuso: É o controle exercido por qualquer tribunal. Assegura a qualquer órgão judicial o
poder de afastar a aplicação de uma lei em um caso concreto se atestar sua
inconstitucionalidade. A decisão aqui é inter partes, ou seja, não afeta terceiros, estranhos à
lide julgada. Esse controle integra a motivação do decisum e não seu dispositivo, ou seja, a
lei atacada não é expurgada do ordenamento. Permanece vigente, válida e eficaz, apenas
não se aplica ao caso decidido, já que ante este foi considerada inconstitucional. Também é
chamado de modelo americano.
- misto: É o adotado pelo Brasil, onde os tribunais podem exercer esse controle (difuso), mas
também há ações diretas de inconstitucionalidade (ADI, ADC, ADO, etc) direcionadas apenas
ao STF (concentrado).

. Eficácia temporal e o efeito modulador:


O efeito modulador (ou modulação de efeitos) está previsto na lei 9.868/99 (que regula a
ADI e ADC), art. 27: “Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em
vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o STF, por
maioria de 2/3 de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela
só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser
fixado.”
Havendo uma norma inconstitucional, regra geral aplicável é a retroatividade dos efeitos da
decisão que a declare inconstitucional (ou seja, produz efeitos ex tunc). Somente em caso de
possível abalo à segurança jurídica é que poderá ser aplicada a exceção, que é a modulação
dos efeitos para o futuro (de certa forma, ex nunc).

. Ações de controle de constitucionalidade concentrado:


. Ação direta de inconstitucionalidade (ADI): É uma ação que questiona diretamente a
constitucionalidade de lei ou ato normativo. Vide lei 9.868/99.
- objeto: lei ou ato normativo federal ou estadual posterior a CF/88.
- competência: STF.
- legitimidade para impetrar (art. 103): I - o Presidente da República; II - a Mesa do Senado
Federal; III - a Mesa da Câmara dos Deputados; IV - a Mesa de Assembleia Legislativa ou da
Câmara Legislativa do DF; V - o Governador de Estado ou do DF; VI - o PGE; VII - o CFOAB; VIII
- partido político com representação no Congresso Nacional; IX - confederação sindical ou
entidade de classe de âmbito nacional.
- quórum (art. 97): maioria absoluta.
- efeitos da sentença: erga omnes e ex tunc.
- vinculante para: o poder executivo e judiciário.
- cautelar: pela maioria absoluta ou pelo Presidente (nas férias). Suspende, no todo ou em
parte, a aplicação da norma questionada, tornando aplicável a legislação anterior, caso
existente, salvo manifestação contrária do STF. Efeito vinculante erga omnes em deferimento
(Lei 9.868/99).

. Ação direta de constitucionalidade (ADC): É ação utilizada para solicitar ao STF se


determinada lei ou ato normativo seja declarado constitucional, em decorrência da
existência de incerteza e insegurança jurídica em relação ao dispositivo questionado. É
utilizada quando há uma controvérsia judicial em relação à constitucionalidade da norma
(mera dúvida doutrinária não é suficiente para solicitar uma ADC). Vide lei 9.868/99.
- objeto: lei ou ato normativo federal posterior a CF/88.
- competência: STF.
- legitimidade para impetrar (art. 103): I - o Presidente da República; II - a Mesa do Senado
Federal; III - a Mesa da Câmara dos Deputados; IV - a Mesa de Assembleia Legislativa ou da
Câmara Legislativa do DF; V - o Governador de Estado ou do DF; VI - o PGE; VII - o CFOAB; VIII
- partido político com representação no Congresso Nacional; IX - confederação sindical ou
entidade de classe de âmbito nacional.
- quórum (art. 97): maioria absoluta.
- efeitos da sentença: erga omnes e ex tunc.
- vinculante para: o poder executivo e judiciário.
- cautelar: pela maioria absoluta ou pelo Presidente (nas férias). Suspende o julgamento de
processos que envolvam a norma questionada (prazo de 180 dias). Efeito vinculante erga
omnes em deferimento (Lei 9.868/99).

. Arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF): É ação utilizada para evitar


ou reparar lesão a preceito fundamental (princípios e normas consideradas essenciais)
resultante de lei ou ato normativo. É considerada um instrumento subsidiário/residual, visto
que, em regra, é cabível uma ADPF quando não couber a ADI, ADC, ou qualquer outro
mecanismo de controle concentrado. Por exemplo, a ADPF 442, sobre o aborto. Foi cabível
ADPF pelo fato que de o código penal é de 1940, anterior a CF/88, e, portanto, não caberia
ADI. Vide lei 9.882/99.
- objeto: lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os anteriores à CF/88.
- competência: STF.
- legitimidade para impetrar (art. 103): I - o Presidente da República; II - a Mesa do Senado
Federal; III - a Mesa da Câmara dos Deputados; IV - a Mesa de Assembleia Legislativa ou da
Câmara Legislativa do DF; V - o Governador de Estado ou do DF; VI - o PGE; VII - o CFOAB; VIII
- partido político com representação no Congresso Nacional; IX - confederação sindical ou
entidade de classe de âmbito nacional.
- quórum (art. 97): maioria absoluta.
- efeitos da sentença: erga omnes e ex tunc.
- vinculante para: o poder executivo e judiciário.
- cautelar: pela maioria absoluta ou pelo relator (no recesso). Suspende o julgamento de
processos, de efeitos de decisões judiciais ou de qualquer outra medida relacionada à
matéria discutida na ADPF, salvo se houver coisa julgada. Efeito vinculante erga omnes em
deferimento (Lei 9.868/99).

. Representação interventiva (ou ADI Interventiva): Primeira ferramenta do controle


concentrado no direito brasileiro, sendo prevista na CF/34 (a ADI genérica só entrou com a
EC 16/65). Ficou de fora da Constituição de 1937, voltando na de 1946, na de 1967 e na EC
01/69
- fundamentação (art. 36): “A decretação da intervenção dependerá: [...] III - de provimento,
pelo Supremo Tribunal Federal, de representação do Procurador-Geral da República, na
hipótese do art. 34, VII, e no caso de recusa à execução de lei federal.” (Redação dada pela
EC 45/04)
- objeto: para prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial e assegurar a
observância dos seguintes princípios constitucionais (sensíveis): a) forma republicana,
sistema representativo e regime democrático; b) direitos da pessoa humana; c) autonomia
municipal; d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta. e) aplicação do
mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de
transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos
de saúde.
- competência: STF.
- legitimidade para impetrar: PGR.
- quórum: maioria absoluta.
- efeitos da sentença: erga omnes e ex tunc.
- vinculante.
- liminar: mediante maioria absoluta; liminar poderá consistir na determinação de que se
suspenda o andamento de processo ou os efeitos de decisões judiciais ou administrativas ou
de qualquer outra medida que apresente relação com a matéria objeto da representação
interventiva (Lei 12.562/11, art. 5º, § 2º).

. Controle de constitucionalidade difuso:


- objeto: lei ou ato normativo.
- competência: todo juízo ou tribunal.
- legitimidade ativa: todas as partes.
- quórum: juiz, em 1ª instância, e plenário, em 2ª instância (art. 97).
- efeitos da sentença: apenas no caso concreto (no caso, a não aplicação da lei entendida
como inconstitucional).
- vinculante para: ninguém (exceto no parágrafo único do art. 949, CPC).

. Do incidente de arguição de inconstitucionalidade (código de processo civil):


Art. 948. Arguida, em controle difuso, a inconstitucionalidade de lei ou de ato normativo do
poder público, o relator, após ouvir o MP e as partes, submeterá a questão à turma ou à
câmara à qual competir o conhecimento do processo.
Art. 949. Se a arguição for:
I - rejeitada, prosseguirá o julgamento;
II - acolhida, a questão será submetida ao plenário do tribunal ou ao seu órgão especial, onde
houver.
Parágrafo único. Os órgãos fracionários dos tribunais não submeterão ao plenário ou ao
órgão especial a arguição de inconstitucionalidade quando já houver pronunciamento destes
ou do plenário do STF sobre a questão. (ou seja, aqui há certa vinculação)
Vide art. 950.

. Presunção de constitucionalidade: Em dúvida sobre constitucionalidade de lei, presume-se


(relativamente) constitucional. Há exceção em caso de reação legislativa:
. Reversão jurisprudencial através de LO/LC: Nascerá com presunção relativa de
inconstitucionalidade.
. Reversão jurisprudencial através de EC: Não pode ser declarada inconstitucional, exceto
caso viole cláusulas pétreas.
* essa reação legislativa pode ser chamada de “ativismo congressual/legislativo”. Vide
efeito backlash.

. Reclamação:
- natureza jurídica: direito de petição (majoritário em provas e doutrina) ou ação
propriamente dita/ação constitucional (orientação do STF na RCL 25.160).
* art. 5º, XXXIV: “São a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas: a)
o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou
abuso de poder; b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos
e esclarecimento de situações de interesse pessoal.”
- hipóteses de cabimento: a) garantir a correta aplicação de uma súmula vinculante; b)
preservar a autoridade das decisões de um Tribunal; c) preservar a competência de um
Tribunal.
* a Corte Especial do STJ entende que relação ao REsp, a reclamação não é via adequada
para controle de aplicação de tese de recurso repetitivo (STJ, RCL n. 36.476).
* mesmo os conselhos seccionais da OAB tem legitimidade.
* é possível habeas corpus de ofício no julgamento da reclamação (STF, RCL 43.479).
. Controle abstrato de constitucionalidade estadual e municipal: Art. 125, § 2º: “Cabe aos
Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos
estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual, vedada a atribuição da legitimação
para agir a um único órgão.”
- objeto: leis estaduais ou municipais em face à Constituição Estadual.
- competência: TJ local.
- legitimado: cabe às Constituições Estaduais determinarem quais são os legitimados a
propor ADI ou ADC perante o TJ local (a CF veda atribuição a único órgão)

COMPETÊNCIA CONSTICUINAL
. STJ (crimes):
Art. 105. Compete ao STJ:
I - processar e julgar, originariamente:
a) nos crimes comuns e de responsabilidade, os Governadores, e nos crimes comuns os
desembargadores dos TJs, TRFs, TREs e TRTs, os membros dos Tribunais de Contas estaduais,
dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do MPU que oficiem perante
tribunais.

. STJ (remédios constitucionais):


Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
I - processar e julgar, originariamente:
b) os mandados de segurança e os habeas data contra ato de Ministro de Estado, dos
Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio Tribunal. (Redação
dada pela EC 23/99)
c) os habeas corpus, quando o coator ou paciente for Governador, desembargadores dos
TJs, TRFs, TREs e TRTs, membros dos Tribunais de Contas estaduais, dos Conselhos ou
Tribunais de Contas dos Municípios e os do MPU que oficiem perante tribunais, ou quando o
coator for tribunal sujeito à sua jurisdição, Ministro de Estado ou Comandante da Marinha,
do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral. (Redação dada
pela EC 23/99)
h) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição
de órgão, entidade ou autoridade federal, da administração direta ou indireta, excetuados
os casos de competência do STF e dos órgãos da Justiça Militar, Eleitoral, Trabalhista e
Federal.

II - julgar, em recurso ordinário:


a) os habeas corpus decididos em única ou última instância pelos TRFs ou pelos TJs, quando
a decisão for denegatória.
b) os mandados de segurança decididos em única instância pelos TRFs ou TJs, quando
denegatória a decisão.

. STJ (geral):
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
I - processar e julgar, originariamente:
d) os conflitos de competência entre quaisquer tribunais, ressalvado do próprio STJ contra
tribunal, que é competência do STF, bem como entre tribunal e juízes de tribunal diverso e
entre juízes vinculados a tribunais diversos.
e) as revisões criminais e as ações rescisórias de seus julgados.
f) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas
decisões.
g) os conflitos de atribuições entre autoridades administrativas e judiciárias da União, ou
entre autoridades judiciárias de um Estado e administrativas de outro, ou entre as deste e da
União.
i) a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas
rogatórias. (Incluída pela EC 45/04)
j) os conflitos entre entes federativos, ou entre estes e o Comitê Gestor do Imposto sobre
Bens e Serviços, relacionados aos tributos previstos nos arts. 156-A e 195, V (IBS). (Incluído
pela EC 132/23)

II - julgar, em recurso ordinário:


c) as causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo internacional, de um
lado, e, do outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País.

III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos TRFs
ou pelos TJs, quando a decisão recorrida:
a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência.
b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal. (Redação dada pela
EC 45/04)
c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.

- Cabimento de recurso especial:


§ 3º Haverá a relevância de que trata o § 2º nos seguintes casos: (Incluído pela EC 125/22)
I - ações penais; II - ações de improbidade administrativa; III - ações cujo valor da causa
ultrapasse 500 salários mínimos; IV - ações que possam gerar inelegibilidade; V - hipóteses
em que o acórdão recorrido contrariar jurisprudência dominante do STJ; VI - outras hipóteses
previstas em lei.
. 2º grau da Justiça Federal (crimes):
Art. 108: Compete aos Tribunais Regionais Federais:
I - processar e julgar, originariamente:
a) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e do Trabalho,
nos crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do MPU, ressalvada a competência
da Justiça Eleitoral.

. 2º grau da Justiça Federal (remédios constitucionais):


Art. 108: Compete aos Tribunais Regionais Federais:
I - processar e julgar, originariamente:
c) os mandados de segurança e os habeas data contra ato do próprio Tribunal ou de juiz
federal.
d) os habeas corpus, quando a autoridade coatora for juiz federal.

. 2º grau da Justiça Federal (geral):


Art. 108: Compete aos Tribunais Regionais Federais:
I - processar e julgar, originariamente:
b) as revisões criminais e as ações rescisórias de julgados seus ou dos juízes federais da
região.
e) os conflitos de competência entre juízes federais vinculados ao Tribunal.
II - julgar, em grau de recurso, as causas decididas pelos juízes federais e pelos juízes
estaduais no exercício da competência federal da área de sua jurisdição.

. 1º grau da Justiça Federal (crimes):


Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou
interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as
contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral.
- Súmula 556/STF: “É competente a Justiça Comum [estadual] para julgar as causas em que
é parte sociedade de economia mista.” Inclusive o BB (Súmula 508/STF); mas terá foro na
Justiça Federal quando a União intervir como assistente ou opoente (Súmula 517/STF).
V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução
no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente.
V-A - as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo. (Incluído
pela EC 45/2004)
. § 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o PGR, com a finalidade de
assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos
humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o STJ, em qualquer fase do
inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal.
(Incluído pela EC 45/04)
VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o
sistema financeiro e a ordem econômico-financeira.
. Organização do trabalho: Sistema de órgãos e instituições destinados a preservar
coletivamente o trabalho (RE 588.332, 2009). “Se a suposta ação delituosa, por ter ocorrido
em uma reclamação trabalhista, atingiu a Justiça do Trabalho, que é federal, à Justiça Federal
cabe processar e julgar a referida ação penal.” (RE 159.350, 1993)
IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da
Justiça Militar.
X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro [...].
XI - a disputa sobre direitos indígenas.
. Será competência penal federal apenas quando a acusação seja de genocídio, ou quando,
na ocasião ou motivação de outro delito de que seja índio o agente ou a vítima, tenha havido
disputa sobre direitos indígenas, não bastando que seja imputado a silvícola ou que este seja
vítima, tampouco que haja sido praticado dentro de reserva indígena.” RE 419.528, 2006.

- Crime político:
. CF, art. 5º, LII: “Não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de
opinião.”
. Lei de Migração (13.445/17), art. 82: Não se concederá a extradição quando: VII - o fato
constituir crime político ou de opinião.
§ 1º A previsão constante do inciso VII do caput não impedirá a extradição quando o fato
constituir, principalmente, infração à lei penal comum ou quando o crime comum, conexo ao
delito político, constituir o fato principal.
§ 2º Caberá à autoridade judiciária competente a apreciação do caráter da infração.
§ 4º O Supremo Tribunal Federal poderá deixar de considerar crime político o atentado
contra chefe de Estado ou quaisquer autoridades, bem como crime contra a humanidade,
crime de guerra, crime de genocídio e terrorismo.
. Doutrina: Não há consenso, sequer na jurisprudência. Crime por motivação política pode
ter características de crime comum ou assemelha-se a ação terrorista (terrorismo não é crime
político; STF, Ext 855/2004).
- Mirtô Fraga (em 1985, citado por Gilmar Mendes em 2023): A doutrina se divide em
duas correntes: objetiva, sendo crime político o praticado contra a ordem política estatal; o
bem jurídico protegido é de natureza política, e; subjetiva, sendo crime político o praticado
com finalidade política.
. STF: Há precedente no STF classificando crimes ‘com o fim de subverter violentamente a
ordem econômica e social do Estado’ como político (Ext. 694/ITA, 1997) e rebelião armada
(Ext. 493/AGR, 1990) como “crimes políticos puros”.

- Casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira:


. Lei 6.385/76 (Mercado de Valores Mobiliários); 8.137/90 (crimes contra a ordem tributária,
econômica e relações de consumo); 8.176/91 (crimes contra a ordem econômica): Nenhum
crime de competência federal.
. Lei 7.492/86: Todos os crimes de competência federal (art. 26).
. Lei 9.613/98 (crimes contra o sistema financeiro nacional): São da competência da Justiça
Federal: Quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira; em
detrimento de bens, serviços ou interesses da União, ou de suas entidades autárquicas ou
empresas públicas; ou quando a infração penal antecedente for de competência da Justiça
Federal (art. 2º, III).

- Crimes de competência federal (especificamente):


- Redução a condição análoga à de escravo (art. 149).
- Contrabando (art. 334-A) e descaminho (art. 334) (sempre). Súmula 151/STJ: “A
competência para o processo e julgamento por crime de contrabando ou descaminho define-
se pela prevenção do Juízo Federal do lugar da apreensão dos bens.”; CC 160.748, 2018,
citando CC 149.750, 2017. Falsificação de produto destinado a fins terapêuticos ou
medicinais (art. 273): Competência federal apenas em caso de transnacionalidade.
- Moeda falsa (art. 289) (sempre). Súmula 73/STJ: “A utilização de papel moeda
grosseiramente falsificado configura, em tese, o crime de estelionato, da competência da
justiça estadual.” Mesmo que absolvido por peculato (art. 312), é competência federal.
- Passaporte falso (arts. 304/308) (sempre). Súmula 200/STJ: “O Juízo Federal competente
para processar e julgar acusado de crime de uso de passaporte falso é o do lugar onde o
delito se consumou.” Súmula 516/STJ: “A competência para processar e julgar o crime de uso
de documento falso é firmada em razão da entidade ou órgão ao qual foi apresentado o
documento público, não importando a qualificação do órgão expedidor.”
. Mais sobre documento falso: “Compete à Justiça Federal processar e julgar o crime de
falsificação de documento público, consistente na falsificação de identidades funcionais do
Poder Judiciário da União.” STJ, CC 192033. Todavia, é “Competente a Justiça Comum
Estadual quando a falsificação de selo ou sinal público (art. 296, § 1.º, inciso II, do Código
Penal) é usada para dar a produtos falsificados aparência de regularidade, em prejuízo das
relações de consumo, sem ofensa a interesses, bens ou serviços da União.” STJ, AgRgCC
181690. Ou seja, se é falsificado um documento “federal”, mas para ser usado em prejuízo
de particular, a competência é, em regra, da Justiça Estadual.

. 1º grau da Justiça Federal (remédios constitucionais):


Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
VII - os habeas corpus, em matéria criminal de sua competência ou quando o
constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra
jurisdição.
VIII - os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal,
excetuados os casos de competência dos tribunais federais.

. 1º grau da Justiça Federal (geral):


Art. 109: Aos juízes federais compete processar e julgar:
I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem
interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as
de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;
II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa
domiciliada ou residente no País;
III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou
organismo internacional;
X - [...] a execução de carta rogatória, após o exequatur, e de sentença estrangeira, após a
homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à
naturalização;
XI - a disputa sobre direitos indígenas.
. “Somente os processos que versarem sobre questões diretamente ligadas à cultura
indígena, aos direitos sobre suas terras, ou, ainda, a interesses constitucionalmente
atribuíveis à União Federal competiriam à Justiça Federal.” STF, HC 91.313, 2008.

- Parágrafos sobre competência territorial:


§ 1º As causas em que a União for autora serão aforadas na seção judiciária onde tiver
domicílio a outra parte.
§ 2º As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária em que
for domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à
demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal.
§ 3º Lei poderá autorizar que as causas de competência da Justiça Federal em que forem
parte instituição de previdência social e segurado possam ser processadas e julgadas na
justiça estadual quando a comarca do domicílio do segurado não for sede de vara federal.
(Redação dada pela EC 103/19)
§ 4º Na hipótese do parágrafo anterior, o recurso cabível será sempre para o Tribunal
Regional Federal na área de jurisdição do juiz de primeiro grau.
Termos, expressões e outros:

- Cidadania: Condição de pessoa que, como membro de um Estado, possui e exerce direitos
e deveres que lhe permitem participar da vida política.
- Competência de iniciativa de PL que crie despesa: Art. 113, CF/ADCT: “A proposição
legislativa que crie ou altere despesa obrigatória ou renúncia de receita deverá ser
acompanhada da estimativa do seu impacto orçamentário e financeiro.” (EC 95/2016)
- Contempt of court: Conjunto de princípios e regras destinados a assegurar a adequada
administração da justiça e preservar a sua dignidade, por meio dos quais a lei, em nome do
interesse público, toma a si o encargo de defender-se e assegurar que seus comandos sejam
efetivamente respeitados, prevenindo/reprimindo os atos de desobediência, das partes ou
de terceiros, no curso de um processo judicial (atos de contempt of court). Trata-se do
fundamento que permite o judiciário vindicar a sua autoridade e infligir punição sumária a
todos os que ousarem interferir na justiça.
- Direito ao esquecimento: É o direito que uma pessoa possui de não permitir que um fato,
ainda que verídico, ocorrido em determinado momento de sua vida, seja exposto ao público
em geral, causando-lhe sofrimento ou transtornos. No Brasil, entretanto, a ideia é
inconstitucional, segundo novo e recente entendimento do STF (tema 786): “É incompatível
com a Constituição a ideia de um direito ao esquecimento, assim entendido como o poder
de obstar, em razão da passagem do tempo, a divulgação de fatos ou dados verídicos e
licitamente obtidos e publicados em meios de comunicação social analógicos ou digitais.”
- Discricionariedade: É a liberdade de ação administrativa, dentro dos limites permitidos em
lei. Ou seja, a lei deixa certa margem de liberdade de decisão diante do caso concreto, de tal
modo que a autoridade poderá optar por uma dentre várias soluções possíveis, desde que
válidas perante o direito.
- Efeito backlash: Efeito colateral de decisões judiciais (normalmente em questões
polêmicas), implicando reversão legislativa de um julgamento da corte. Lenio Streck chama
a PEC 8/21 de “efeito bumerangue”, que seria algo mais violento que o mero efeito backlash.
- Espólio e danos morais: O espólio (ente despersonalizado) não pode ser autor de processo
de danos morais referente aos herdeiros, e não tem legitimidade para buscar reparação por
danos morais decorrentes de ofensa post mortem à imagem e à memória de pessoa (mas sim
os herdeiros; ver REsp 1.209.474-SP). Porém, de acordo com o art. 943, “o direito de exigir
reparação e a obrigação de prestá-la transmitem-se com a herança”, e segundo o enunciado
454-CJF, “o direito de exigir reparação a que se refere o art. 943 do Código Civil abrange
inclusive os danos morais, ainda que a ação não tenha sido iniciada pela vítima”. Ou seja, em
caso de danos morais enquanto vivo (tendo iniciado o processo antes ou após sua morte), o
dano é considerado de natureza patrimonial (pois transmite-se com a herança). Portanto,
nesses casos, o espólio pode tomar parte ativa no processo.
- Habeas data (art. 5º, LXXII): É um remédio constitucional destinado a assegurar que um
cidadão tenha acesso a dados e informações pessoais que estejam sob posse do Estado, ou
de entidades privadas que tenham informações de caráter público. Ou seja, é o direito de
saber o que o governo sabe (ou afirma saber) sobre você. Ele também pode ser acionado
para corrigir dados pessoais que estejam inexatos.
- In dubio pro societate: É o oposto do in dubio pro reo. É um princípio que existe nos
processos de competência do Tribunal do Júri, quando o juiz, na fase de pronúncia, ao ter
dúvidas se o acusado cometeu ou não aquele crime a qual foi imputado, pronuncia-o,
submetendo-o ao Júri, por entender que naquele momento, deve-se prevalecer o que for
mais favorável à sociedade.
Entretanto, os magistrados brasileiros arrastaram o in dubio pro societate para todo o curso
do processo penal, deixando de fora apenas no momento da prolação da sentença
condenatória ou absolutória – porque ali sim continua a viger o in dubio pro reo. Os
magistrados brasileiros decretam prisão preventiva ou temporária, convertem prisão em
flagrante em preventiva, conduzem todo o processo penal sempre com o pensamento que,
na dúvida, deve-se prevalecer o que for mais favorável à sociedade.
- Inconstitucionalidade reflexa: O STF pode, ao declarar norma inconstitucional, declarar
outras não impugnadas na ação, em razão de sua interdependência.
- Mandado constitucional de criminalização: É o dever imposto pela Constituição ao
legislador de criminalizar determinadas condutas; certos bens jurídicos devem ser protegidos
penalmente em razão de sua relevância. Ex.: Art. 5º, XLIII: “A lei considerará crimes
inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura , o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles
respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem.”
- MP 905/2019: Medida provisória (já revogada devido a perda de eficácia) do Contrato
Verde e Amarelo.
- Pacto São José da Costa Rica: Trata-se do decreto 678/1992, que dispõe sobre a Convenção
Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), de 1969.
- Plebiscito, reverendo e iniciativa popular (art. 14 CF e lei 9.709/98): Plebiscito e referendo
são consultas ao povo para decidir sobre matéria de relevância para a nação. O plebiscito é
convocado previamente à criação do ato, e o referendo, posteriormente, cabendo ao povo
ratificar ou rejeitar a proposta. Já a iniciativa popular é o direito que os cidadãos brasileiros
têm de apresentarem PLs para serem votados e eventualmente aprovados pelo Congresso.
Para os cidadãos apresentarem um projeto de lei é necessário a assinatura de 1% dos
eleitores do país (cerca de 1,2 milhão), distribuídos em pelo menos cinco Estados brasileiros.
Casos do Brasil: Plebiscito/Referendo de 1963 (voltar atrás com o parlamentarismo),
plebiscito de 1993 (forma e sistema de governo), reverendo de 2005 (estatuto do
desarmamento), reverendo de 2010 (fuso-horário do Acre), plebiscito de 2011 (divisão do
Pará) e plebiscito de 2014 (criação de distritos em Campinas). Como exemplo de iniciativa
popular, há a lei 9.840/99 (lei contra a compra de votos).
- Princípio da subsidiariedade: Determina a aplicação subsidiária/residual de certas leis em
hipóteses que não sejam objeto de proteção de outra norma. Ou seja: determinada norma é
aplicada quando outra mais ideal não puder ser aplicada por disposição expressa
(subsidiariedade expressa ou formal) ou por força de interpretação lógica (subsidiariedade
tácita, implícita ou material). Lex primaria derogat legi subsidiariae: “a lei primária prevalece
sobre a lei subsidiária”; ou “a ofensa mais ampla engloba a menos ampla”; ou “a figura
subsidiária está inserida na principal”.
- Quinto constitucional: Art. 94: “1/5 dos lugares dos TRFs, dos Tribunais dos Estados, e do
DF e Territórios será composto de membros, do MP, com mais de 10 anos de carreira, e de
advogados de notório saber jurídico e de reputação ilibada, com mais de 10 anos de efetiva
atividade profissional, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representação das
respectivas classes. Parágrafo único. Recebidas as indicações, o tribunal formará lista tríplice,
enviando-a ao Poder Executivo, que, nos 20 dias subsequentes, escolherá um de seus
integrantes para nomeação.”
- Subcidadania (ou “ralé”): Conceito do sociólogo Jessé de Souza (Brasil, 1960), que
representa a situação de opressão e humilhação vivida por grande parte da população, o
habitus precário.
- Teoria de John Locke: Locke (Inglaterra, 1632 – 1704) descreve que em um estado natural,
todas as pessoas são iguais e independentes, e todos tem o direito natural da vida, saúde,
liberdade e propriedade.
- “O Estado não pode alegar ausência de norma para justificar sua não atuação.”

. Bibliografia:
- LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado.
- NOVELINO, Marcelo. Curso de Direito Constitucional.
- MENDES, Gilmar. Curso de Direito Constitucional.
- Celso Seixas Ribeiro Bastos, Eros Roberto Grau e Ingo Wolfgang Sarlet.
- Caso dos Irmãos Naves (Brasil, 1937).

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