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DA CONSTITUIÇÃO
- direito constitucional: natureza de direito público, que trata dos princípios e normas do
Estado, que estuda a constituição. Seu objeto é a constituição do estado.
- direito civil-constitucional: o direito privado é lido a luz dos direitos fundamentais; vide
eficácia privada dos dfs.
- pan-constitucionalização: qualquer disciplina jurídica contate com a Constituição.
- fontes: constituição, tratados com força de EC (art. 5º p3), jurisprudência, doutrina e
costume como fonte complementar (aplica-se o secundum legem e praeter legem, mas não
o contra legem; ex: ADI 644).
- constituição: norma de maior hierarquia em ordenamento jurídico; organiza o Estado e
garantias individuais.
- neoconstitucionalismo: superioridade da constituição, absorção de valores
morais/políticos pela CF, pessoa é posta no centro (dignidade da pessoa humana fortalecida).
. Sentidos da CFs:
- sentido sociológico: Ferdinand Lassalle; somatória dos fatores reais de poder numa
sociedade (vontade popular); sem isso, não é constituição.
- sentido político: Carl Schmitt; decisão política fundamental. Apenas a constituição reflete
a decisão, o aspecto material (as demais normas são apenas leis constitucionais).
- sentido jurídico: Hans Kelsen; a CF está no mundo do deve ser (e não do ser); é fruto da
vontade racional, e não das leis naturais; é norma pura sem cunho
sociológico/político/filosófico.
. sentido lógico-jurídico: norma fundamental hipotética, pressuposto de validade da CF.
. sentido jurídico-positivo: norma suprema, fundamento de validade das demais normas.
- sentido normativo: Konrad Hesse; é a ordem jurídica fundamental da sociedade, dotada de
força normativa para impor comandos.
- sentido culturalista: J. H. Meirelles Teixeira; é produto do fato cultural da sociedade, que
nela pode influir; conceitua a “constituição total”, por apresentar diversos aspectos.
. Classificação das CFs:
- quanto à origem: promulgada (origem de assembleia constituinte democrática; ex:
brasileiras de 1891/1934/1946); outorgada (imposta por governador; brasileiras de
1824/1937/1967-1969); cesarista/bonapartista (participação por reverendo, que retifica a
vontade do governante; ex: constituição chilena de Pinochet); pactuada/dualista (pacto
entre o executivo e legislativo; ex: Magna Carta de 1215).
. A Magna Carta do Rei João Sem Terra (Inglaterra, 1215) é importante por criar: 1º) O
Habeas Corpus; 2º) O devido processo legal; e 3º) A classificação da Constituição, baseada no
pacto entre duas forças (Rei + Legislativo).
- quanto à forma: escrita/instrumental (ex: brasileiras) ou costumeira (ex: inglesa).
- quanto à elaboração: dogmática (escrita e elaborada em momento específico por
assembleia constituinte, segundo dogmas/ideias; ex: CF/88); histórica/costumeira (provem
de lenta formação histórica das tradições; ex: inglesa).
- quanto à extensão: analítica/dirigente (extensa e costuma trazer regras que deveriam ser
infraconstitucionais; ex: CF/88); sintética/negativa (princípios essenciais; ex: americana).
- quanto ao conteúdo: material/substancial (apenas matéria constitucional; organização do
Estado, em sentido amplo; ex: americana); formal (qualquer regra do texto é constitucional;
ex: CF/88).
. sentido estrito de constituição material: estrutura do Estado, a organização de seus órgãos
e os direitos fundamentais.
- quanto a estabilidade/alterabilidade: imutável (veda-se qualquer tipo de alteração; ex:
brasileira de 1824); rígida (exige processo legislativo complexo de alteração; CF/88);
semirrígida (apenas para algumas matérias; para outras, não); super-rígida (posição
minoritária de Moraes; a brasileira seria mais do que rígida, por conta das cláusulas pétreas);
flexível (não possui processo de alteração mais rigoroso que as normas infraconstitucionais);
fixa/silenciosa (apenas pode ser mudada pelo poder que criou, sem prever procedimentos
de modificação em seu texto; ex: espanhola de 1876).
- quanto ao conteúdo ideológico: liberal/negativa (preocupasse em limitar a atuação do
Estado; direitos de 1ª dimensão); social/dirigente (também incorpora direitos de 2ª
dimensão; direciona ações governamentais; ex: CF/88).
- quanto à ideologia: ortodoxa (reflete um pensamento ideológico; ex: chinesa);
eclética/compromissória (conjunção de diferentes ideologias; ex: CF/88).
- quanto à correspondência c/ a realidade (critério ontológico, provinda de Karl Lowestein):
normativa (há correspondência entre teoria e prática; respeito do texto pelos governantes;
ex: CF/88, por corrente majoritária de concursos); nominal (não há correspondência entre o
deve ser e a realidade; ex: CF/88, por Novelino e Fernandes); semântica/de fachada (não
corresponde com a realidade, usada de instrumento pelos governantes; ex: brasileira de
1937).
. outra definição de semântica: o texto não é claro por si, exigindo métodos de
interpretação além do gramatical.
- quanto à finalidade: garantia (negativa, de 1ª dimensão); balanço (espelha período político,
temporária deste; ex: constituições da URSS); dirigente (texto extenso, com normas
programáticas; ex: CF/88).
- quanto aos sistemas: principiológica (tem como base princípios constitucionais, embora
podem existir regras; ex: braisleira); preceitual (tem como base as regras constitucionais,
embora também possuam princípios; ex: mexicana de 1917).
- quanto à unidade documental: orgânica/unitextual/codificada (escrita em um documento;
ex: CF/88); inorgânica/legal (composta por vários documentos; ex: israelense).
- quanto à origem de decretação: homoconstituição/autoconstituição (redigida e aplicada
no mesmo país; ex: CF/88); heteroconstituição (imposta por outro Estado; ex: constituições
da Namíbia de 1990 e do Camboja de 1993, impostas pela ONU).
- quanto à função: provisória/revolucionária/pré-constituição (estrutura no intervalo entre
regimes); definitivas (pretendem ser produto final do constituinte; ex: CF/88).
- outras: constituição.com/crowdsourcing (elaboradas tendo como ponto de partida a
opinião popular colhida em redes sociais); em branco (sem limitação ao poder de emenda;
reforma à discricionariedade do governante); suave/dúctil (Gustavo Zagrebelsky; sem
exageros ou preceitos impossíveis); chapa-branca (Carlos Ari Sundfeld sobre a CF/88; muitas
regras p/ atender o lobby/privilégios de setores público); ubíqua/onipresente (Daniel
Sarmento; explicita que a referência a normas e valores constitucionais é um elemento
onipresente no direito brasileiro pós-CF/88, o pan-constitucionalismo); subconstitucional
(Uadi Lammêgo Bulos/Hild Krüger; conjunto de normas elevadas ao patamar constitucional;
excesso de temas constitucionalizados, sendo que a constituição deveria ter apenas o que
interessa a sociedade, sem inutilidades); liberal-patrimonialista (Soraya Lunardi/Dimitri
Dimoulis; a CF/88, mesmo com aparências e proclamações, objetiva majoritariamente
direitos individuais e limita a intervenção estatal econômica; já os direitos sociais seriam
programáticos).
- resumo da CF/88: promulgada (origem); escrita (forma); dogmática (modo de elaboração);
analítica (extensão); formal (conteúdo); rígida (estabilidade); social (conteúdo ideológico);
eclética (ideologia); normativa (correspondência com realidade); dirigente (finalidade);
principiológica (sistemas); orgânica (unidade de documentação); autoconstituição (modo de
decretação); e definitiva (função).
. O papel da constituição no ordenamento jurídico:
- constituição-lei (conjunto de normas comum); constituição-fundamento/total (lei
fundamental; a atividade legislativa é mero instrumento de sua realização); constituição-
moldura/quadro (é limite a atuação do legislador); constituição dúctil/suave (assegura
condições possíveis para uma vida comum, sem promover engessamento; a constituição
seria o ponto de convergência, e não de partida).
. Constitucionalismo e neoconstitucionalismo:
- constitucionalismo: segundo Canotilho, “é a teoria que ergue o princípio do governo
limitado indispensável à garantia dos direitos em dimensão estruturante da organização
político-social de uma comunidade. Neste sentido, o constitucionalismo moderno
representará uma técnica específica de limitação do poder com fins garantísticos.”
- neoconstitucionalismo: superioridade da constituição; absorção de valores
morais/políticos pela CF; pessoa é posta no centro (dignidade da pessoa humana fortalecida).
É uma releitura moral da constituição.
. marcos do Barroso: histórico (constitucionalismo europeu pós-guerra); filosófico (pós-
positivismo, confluência do jusnaturalismo e positivismo); teórico (reconhecimento de força
normativa constitucional, expansão da jurisdição constitucional e nova intepretação
constitucional).
. também pressupõe postura ativa do Magistrado (ativismo/construtivismo judicial). Vide
RE 684.612, onde o STF fixou parâmetros para a intervenção do Judiciário em políticas
públicas.
. críticas: supervalorização de normas-princípio em detrimento de normas-regra; do
judiciário em detrimento do legislativo; do critério hermenêutico da ponderação sob a
subsunção (Humberto Ávila diz em “não constitucionalismo”).
. vide neoprocessualismo: o processualismo é o reconhecimento da autonomia da ação, e
o neoprocessualismo (ou formalismo-valorativo) é o direito processual de acordo com as
normas e princípios constitucionais, semelhante ao neoconstitucioanalismo. Tem-se uma
visão do processo p/ efetivar direitos fundamentais, ascendendo os princípios da
colaboração/cooperação (reforço nos aspectos éticos).
. Princípios e regras:
- para Humberto Ávila: Diz que existem dois tipos de normas: as normas de primeiro grau
(normas-objetos da aplicação) e as de segundo grau (normas-métodos de aplicação). Na
concretização do direito, haveria a aplicação das normas de primeiro grau, por meio das
normas de segundo grau. As normas de primeiro grau, por sua vez, se subdividiriam em
regras (imediatamente descritivas) e princípios (imediatamente finalísticas) e as normas de
segundo grau se subdividiriam em postulados hermenêuticos (normas necessárias para a
compreensão interna e abstrata do ordenamento jurídico) ou postulados normativos
aplicativos (normas imediatamente metódicas; instituem os critérios de aplicação de outras
normas situadas no plano do objeto da aplicação; normas de aplicação de outras normas, ou
metanormas).
* os postulados podem ser inespecíficos (utilizados em qualquer caso, como
proporcionalidade e razoabilidade) ou específicos (apenas cabem em determinados casos
concretos, como proibição de excesso e concordância prática).
- critérios diferenciadores: generalidade/abstração e determinabilidade dos casos aplicáveis;
os princípios tem caráter multifuncional.
- conflito de normas: Dworkin e Alexy dizem que regras são ou não aplicáveis (em conflito,
usa-se critérios clássicos de hierarquia, especialidade e cronologia), mas em conflito de
princípios, deve haver ponderação.
* distinção entre ambos (Virgílio Afonso da Silva): Alexy diz que princípios são mandados
de otimização (Dworkin não diz isso), e Dworkin alega o “tudo ou nada” na aplicação de
regras (que Alexy discorda, podendo uma regra se tornar exceção de outra, por ex.)
. Poder constituinte:
- é o poder de elaborar ou atualizar a Constituição. Nasceu da obra “Que é o Terceiro
Estado?”, de Sieyès, na Revolução Francesa.
- hiato constitucional (Ivo Dantas): separação do conteúdo da Constituição política da
realidade social.
- versões/momentos/agrupamentos teóricos da dogmática-constitucional constituinte
(Bernardo Gonçalves Fernandes):
. versão clássica (o poder constituinte é o poder de fato de criar nova ordem jurídica, de
titularidade da nação, ilimitado e incondicionado); versão moderna (transfere a titularidade
para o povo, século XX); leitura contemporânea (liga o poder constituinte ao patriotismo
constitucional, que é o reconhecimento de um constitucionalismo intercultural e inclusivo).
. Hermenêutica constitucional:
- é necessária para resolver ambiguidades (ex.: multifacetário conceito de casa, confundida
como domicílio ou Casa Legislativa); incoerências (ex.: contraposição entre os artigos 61, §
1º, d, e 128, § 5º, relativos à iniciativa legislativa em matérias de interesse do MP); e lacunas
(definidas por Jorge Miranda como situações constitucionalmente relevantes não previstas;
subdivididas em lacunas de formulação, onde não havia intenção de excluir incidência da
norma pelo constituinte, diferente do silêncio eloquente, onde considera-se intenção, e
lacunas axiológicas, onde hipótese não se enquadrou em dada norma mas pode nela ser
incluída, para evitar injustiças).
- Teoria interpretativista/procedimentalista (Ronald Dworkin): a interpretação
constitucional pelo judiciário deve se limitar à captação do sentido expresso em seus
dispositivos, decorrentes do texto e/ou vontade originária.
* teoria do reforço da democracia (John Hart Ely): o papel do judiciário é garantir as bases
democráticos, totalmente a cargo dos eleitos a manutenção dos rumos do Estado.
- Teoria não interpretativista/substancial (Jünger Habermas): os juízes podem invocar e
aplicar valores e princípios substantivos contra atos do Legislativo que não estejam em
conformidade com o projeto da Constituição (ativismo judicial), interpretando a Constituição
de forma socialmente mais abrangente.
- princípios de interpretação:
. p. da unidade da CF: desse p., também deve se afastar aparentes antinomias.
* p. da interpretação conforme a CF:
. p. do efeito integrador (ou eficácia integradora): deve ser privilegiada a interpretação
que reforce o sentimento de unidade política e social
. p. da máxima efetividade (ou interpretação efetiva ou eficiência).
* p. da força normativa da CF: não se pode reduzir sua eficácia.
. p. da justeza (correção funcional, conformidade funcional ou exatidão funcional): a
interpretação não pode chegar a um resultado que subverta ou perturbe o esquema
organizatório-funcional estabelecido pelo constituinte originário.
. p. da concordância prática (ou da harmonização): não existência de hierarquia entre
normas constitucionais e sua coexistência.
* p. da proporcionalidade: conta com três subprincípios: adequação, necessidade e
proporcionalidade em sentido estrito (ou razoabilidade).
- métodos/princípios de interpretação (Canotilho):
. m. jurídico/hermenêutico clássico: a CF é uma lei como outras, sem necessidade de
métodos específicos. Usa-se elementos tradicionalmente usados (genético, gramático ou
filológico, lógico, sistemático, histórico, teleológico ou sociológico, popular, doutrinário e
evolutivo) para descobrir o verdadeiro significado e sentido da norma.
. m. tópico-problemático: parte do pressuposto de que não é possível interpretar a lei
constitucional in abstrato, somente no caso concreto. Parte-se do problema concreto para
buscar a solução dos problemas, e não o contrário.
. m. hermenêutico-concretizador (Konrad Hesse): constante diálogo entre as pré-
compreensões do intérprete e o texto constitucional, em um “movimento de ir e vir”.
* círculo hermenêutico (Gadamer/Heidegger): retroalimentação interpretativa entre o
intérprete e o objeto da interpretação. Há pré-compreensão do interprete que o aproxima
do objeto, e após isso, o retornaria ao ponto de partida. Portanto, a simbiose intérprete-
objeto é melhor representada por uma espiral hermenêutica (Hassemer); a cada ação que o
objeto/intérprete venha a exercer sobre o outro, há mútua alteração do ponto em que
estavam gerando-se, portanto, trajetória condizente com verdadeira espiral, ou seja, uma
espiral hermenêutica.
. m. científico-espiritual (ou método valorativo/sociológico; Rudolf Smend): a
interpretação da norma observa a realidade social e seus valores, de acordo com a evolução
social.
. m. normativo-estruturante (Friederich Muller): não há identidade entre a norma e o texto
normativo, pois aquela é mais ampla e representa pedaço da sociedade.
. m. de comparação constitucional: comparação entre constituições de diferentes
ordenamentos jurídicos.
- minimalismo e maximalismo de decisões judiciais (Cass Sunstein): A primeira é voltada a
solucionar litígios particulares, decidindo apenas sobre questões essenciais ao caso; a
segunda são decisões amplas e profundas, com regras para o futuro. Cass tem preferência
pelo minimalismo judicial.
- teoria da integridade (Dworkin): o juiz está não apenas vinculado ao passado, àquilo que
já foi decidido sobre o tema, mas tem a responsabilidade de influenciar as decisões futuras.
* “A integridade seria o princípio político aglutinador de outros princípios que fundam a
sociedade e forneceria, ao mesmo tempo, os sinais indicadores do caminho a ser seguido no
futuro – rumo à sua comunidade de princípios, fraternal, apoiada nos princípios da equidade,
justiça e devido processo legal – a partir de uma correta apreciação e fé nos valores do
passado.”
. Constituições brasileiras:
- 1824: poder moderador, HC em 1832 com o CP, STF (criado como STJ) em 1828.
- 1891: influencia norte-americana de Rui Barbosa, presidencialismo, federalismo, extinção
do poder moderador, rompimento com religião oficial, controle difuso de
constitucionalidade (já previsto na CF provisória de 1890), HC constitucionalizado, STF como
STF.
- 1934: direitos sociais, MS, ADI interventiva.
- 1937 (ou Polaca): criou-se os decretos leis
* cláusula não obstante (notwithstanding clause, non-obstante ou override clause),
originária da experiência constitucional canadense: possibilidade de reversão parlamentar
de decisão que declara norma inconstitucional, de iniciativa do 0presidente.
- 1946: ADI (pela EC 16/1965)
- 1967 (e EC 1/1969, por muitos considerada uma nova CF).
* vide Lei da Anistia (Lei n. 6.683/1979), constitucional, segundo ADPF 153.
- 1988 (Constituição Cidadã).
DIREITO CONSTITUCIONAL:
DIREITOS E GARANTIAS
FUNDAMENTAIS
PROFESSOR: ALEXANDRE ELI ALVES
Introdução
. Importante:
- Formas de Estado: Estado unitário e federativo.
- Formas de Governo: Monarquia e república.
- Sistemas de Governo: Parlamentarismo, presidencialismo e semipresidencialismo.
- Democracia: Direta, indireta/representativa e mista/semidireta.
- Teorias da formação do Estado: Teoria natural e teoria contratual (contratualismo).
. Introdução:
- Direitos Humanos vs. Direitos Fundamentais: Os direitos naturais (ou direitos do homem)
são os direitos básicos de todos os seres humanos, que são existem com a mera existência
humana. Já os direitos humanos nasceram com a Declaração Universal dos Direitos Humanos
(1948) pela ONU (Organização das Nações Unidas, 1945). São direitos aceitos
internacionalmente (tratados internacionais), sem força jurídica direta. Os direitos
fundamentais também são os direitos básicos de todos os seres humanos, porém,
positivados na Constituição Federal (atenção: ler § 2º e 3º do art. 5º CF).
- Preâmbulo: É uma declaração introdutória que indica o propósito e filosofia de um
documento. Na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, há um preâmbulo.
Quanto à sua força jurídica, ele pode ser interpretado de três formas:
a. irrelevância jurídica (maior jurisprudência do STF [ADI 2.076, min. Carlos Velloso]);
b. plena eficácia (norma eficaz);
c. relevância jurídica indireta (meio termo; uma mera orientação).
- Dignidade da pessoa humana: Principio encontrado no art. 1º item III CF. Também há o
“direito à vida”, expresso no caput do art. 5º CF. Deve-se levar em conta o princípio do
mínimo existencial (mínimo dos direitos fundamentais que são essenciais para a vida
humana) e a reserva do possível (os direitos fundamentais são garantidos na medida que o
orçamento permitir).
- Fundamentos da CF (art. 1º): a soberania (interna e externa); a cidadania; a dignidade da
pessoa humana; os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, e; o pluralismo político.
- Tripartição de Poder (art. 2º): “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre
si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.” Após o absolutismo vivido pelo Brasil (e pelo
mundo), houve essa tripartição do poder.
- Cláusulas pétreas (art. 60, § 4º): “Não será objeto de deliberação a proposta de emenda
tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e
periódico; III - a separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias individuais.”
- Aplicação imediata: Art. 5º, § 1º: “As normas definidoras dos direitos e garantias
fundamentais têm aplicação imediata.” Isso significa que essas normas DEVEM ser aplicadas
no caso concreto; não dependem de atuação legislativa para que tenham eficácia. Os
tratados internacionais e emendas na Constituição, caso tratem de direitos fundamentais,
possuem aplicabilidade imediata (obrigatória).
- Bloco de constitucionalidade: Conjunto de normas que possuem status constitucional.
- O Brasil possui uma constituição é promulgada (origem); escrita (forma); dogmática (modo
de elaboração); analítica (extensão); formal (conteúdo); rígida(estabilidade); social
(conteúdo ideológico); eclética (ideologia); normativa (correspondência com realidade);
dirigente (finalidade); principiológica (sistemas); orgânica (unidade de documentação);
autoconstituição (modo de decretação); e definitiva (função). Usa do pragmatismo, e analisa
cada caso individualmente (ausência de sistematização).
- Criticas a amplitude de direitos fundamentais elencados na Constituição:
. Falta de rigor científico e técnica legislativa adequada (contradições e ausência de
tratamento lógico da matéria);
. Ausência de sistematização;
. Inclusão de preceitos que não revelam as características dos direitos fundamentais
(impressão de que tudo é direito fundamental);
. Ausência de previsão de normas genéricas expressas sobre restrições aos direitos
fundamentais.
. Dimensões/gerações do Direito:
- 1ª dimensão: É a passagem do Estado autoritário para o Estado de direito. Aqui é
encontrada a liberdade negativa (também chamada de clássica ou formal, é a liberdade é
entendida como a não-interferência do poder do Estado sobre as ações individuais).
São exemplos dessa dimensão: o direito à vida, à liberdade, à propriedade, à liberdade de
expressão, à liberdade de religião, à participação política (direitos políticos e civis), ao acesso
do judiciário, etc.
Entre os documentos importantes dessa dimensão, destacam-se a Magna Carta de 1215, a
Declaração de Independência dos Estados Unidos da América (1776) e a Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão (1789).
- 2ª dimensão: São os direitos da liberdade positiva. Ao contrário da negativa, que se refere
ao impedimento de limitadores, a positiva é o poder e recursos para poder determinar as
próprias ações. Em resumo, a 2ª dimensão é sobre os direitos sociais, sobre a igualdade.
São exemplos dessa dimensão: o direito à assistência social, à saúde, à educação, os direitos
trabalhistas, etc.
Seu marco surge com a Revolução Industrial europeia (XVIII/XIX). Também pode-se dizer que
são direitos que requerem uma devolução tributária; algo que se exija do Estado.
- 3ª dimensão: São os direitos transindividuais, ou metaindividuais. Consagram os
princípios da solidariedade e fraternidade, atribuídos de forma geral a toda a sociedade e
coletividade. Nascem após a Segunda Guerra Mundial (1945), junto com os tratados
internacionais.
São exemplos dessa dimensão: o direito à paz, ao desenvolvimento, ao meio ambiente, à
autodeterminação dos povos, à comunicação, etc.
Podemos também dizer que os direitos de terceira dimensão são amplos e demandam uma
posição ativa tanto do Estado como dos particulares - criando uma espécie de "parceria"
entre o âmbito público e o âmbito privado.
Aqui, encerra-se as três grandes dimensões classificadas por Karel Vasak. Também são as
únicas aceitas pelo STF. Mesmo assim, temos essas outras dimensões:
- 4ª dimensão: Dimensão seguida majoritariamente pela doutrina de Paulo Bonavides,
representa os direitos introduzidos pela globalização política e de direitos fundamentais,
destacando-se o direito a democracia, informação e pluralismo.
Para Noberto Bobbio, essa dimensão decorreria dos avanços da engenharia genética.
- 5ª dimensão: Segundo Paulo Bonavides, a paz é o direito da quinta dimensão, podendo
ser chamado de “direito supremo da humanidade”.
- 6ª dimensão: Sendo uma dimensão muito recente e mal aceita, ela trata do direito a água,
a igualdade de gênero e a biotecnologia.
. Fundamentalidade:
- Segundo Robert Alexy, a fundamentalidade pode ser:
. Formal: É o direito positivado. Possui ação imediata.
. Material: São os direitos fundamentais não especificados no rol de direitos fundamentais
da Constituição (ver art. 5º, § 2º, art. conhecido como “norma geral inclusiva”); direitos que,
em análise, constituem o papel de fundamentais. Ou seja, a fundamentalidade material é a
essência propriamente dita de ser um direito fundamental. Usa-se a hermenêutica para
reconhecê-los e usá-los.
. Teoria/Classificação trialista:
- Direito de defesa: São aqueles que exigem o dever de abstenção por parte do Estado,
impedindo a sua interferência na autonomia dos indivíduos (1ª geração).
- Direito a prestação: São direitos que impõem um dever para o Estado, uma prestação ativa.
Podem ser prestações materiais (saúde, educação, segurança, etc) ou prestações jurídicas
(normas que servem à interesses individuais).
- Direito de participação: Direitos que garantem a possibilidade de fazer parte da política
(arts. 15 ao 17).
. Dimensão objetiva: São os valores e fins objetivos básicos de ação positiva e negativa do
Estado, que deve agir para a manutenção desses valores e fins sociais. Os direitos dessa
dimensão possuem eficácia sobre todo o ordenamento jurídico e fornecem diretrizes para
todos os três poderes.
- A partir da dimensão objetiva, existem 3 aspectos nos quais os direitos fundamentais
oferecem critérios de controle da ação estatal e que devem ser aplicados
independentemente de violações a direitos subjetivos fundamentais:
. Normas de competência negativa: aquilo que está sendo outorgado ao indivíduo em
termos de liberdade/livre-arbítrio, em sua esfera, está sendo objetivamente retirado do
Estado;
. Pautas interpretativas e critérios para a configuração do direito infraconstitucional
(interpretação conforme a constituição);
. Dever de proteção e promoção de posições jurídicas fundamentais contra possíveis
violações por terceiros – mandamentos normativos direcionados ao Estado.
Art. 5º, § 1º: “As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação
imediata.” Em primeiro lugar, isso significa que essas normas são aplicáveis até onde
possam, até onde as instituições ofereçam condições para seu atendimento. Em segundo
lugar, significa que o Poder Judiciário, sendo invocado a propósito de uma situação concreta
nelas garantida, não pode deixar de aplicá-las. Segundo José Afonso:
- Aplicação imediata: Significa que as normas são “dotadas de todos os meios e elementos
necessários à sua pronta incidência aos fatos, situações, condutas ou comportamentos que
elas regulam”.
- Normas de aplicabilidade direta/imediata são normas de eficácia plena e contida. Ou seja,
são normas da Constituição que, no momento que esta entra em vigor, estão aptas a produzir
todos os seus efeitos, independentemente de norma integrativa infraconstitucional.
- Normas de aplicabilidade indireta/mediata são normas de eficácia limitada. Ou seja,
dependem de outras normas para poderem produzir seus efeitos.
- Princípio da máxima eficácia/efetividade: Atribuir na interpretação das normas oriundas
da Constituição o sentido de maior eficácia, utilizando todas as suas potencialidades. Esse
princípio é utilizado com maior incidência no âmbito dos direitos fundamentais, embora
“devesse” ser aplicado a todas as normas constitucionais.
Os direitos e garantias individuais (1ª dimensão) tem aplicabilidade direta, enquanto os
direitos sociais, culturais e econômicos (2ª dimensão) tendem a sê-lo, existindo alguns que,
especialmente os que mencionam uma lei integradora, são de eficácia limitada e
aplicabilidade indireta (como o direito de greve do art. 37, VII ou o da aposentadoria especial
do art. 40, § 4º). Ou seja, nem sempre o são, porque muitas vezes dependem de providências
ulteriores que lhes completem a eficácia e possibilitem sua aplicação.
- Quanto a omissão: Em caso de omissão de medida para tornar efetiva norma
constitucional, a CF/88 proporciona dois instrumentos:
. Ação direta de inconstitucionalidade por omissão (ADO): Art. 103, § 2º: “Declarada a
inconstitucionalidade por omissão de medida para tornar efetiva norma constitucional, será
dada ciência ao Poder competente para a adoção das providências necessárias e, em se
tratando de órgão administrativo, para fazê-lo em trinta dias.”
. Mandado de injunção (MI): Art. 5º, LXXI: “Conceder-se-á mandado de injunção sempre
que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades
constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.”
* Enquanto o ADO é um apelo, o MI é uma ação para garantir o direito constitucional de
maneira imediata.
- Opinião de doutrinadores:
. Celso Bastos: Os direitos fundamentais são diretamente aplicáveis, na medida do possível,
exceto quando a CF expressamente remete a concretização do direito ao legislador, ou
quando a norma não contiver elementos mínimos indispensáveis que lhe possam assegurar
aplicabilidade. Caso em que não possui normatividade suficiente para gerar seus efeitos
principais sem que seja necessária a assunção, pelo Poder Judiciário, da posição reservada
ao legislador.
. Eros Roberto: Afirma a inexistência na CF/88 de normas programáticas (que determinam
certos objetivos, finalidades). Além do art. 5º, §1º, o legislador inseriu instrumentos para
combater a omissão do legislador e demais órgãos, com destaque ao MI e ADO. Todos os
direitos fundamentais, portanto, podem ser considerados normas diretamente aplicáveis e
alcançar sua plena eficácia, independentemente de ato concretizador.
. Flávia Piovesan e do Ingo W. Sarlet: Dizem que a melhor interpretação do art. 5º, §1º, é
de enxergar a norma com cunho principiológico, considerando-a um mandamento de
otimização (os órgãos estatais devem reconhecer a maior eficácia possível aos direitos
fundamentais). Dentre os direitos fundamentais, é possível que haja distinções no que
concerne à graduação desta aplicabilidade e eficácia, dependendo da forma de positivação e
da função que cada preceito desempenha.
Direito de nacionalidade
- Quanto a extradição:
Lei de Migração: “Art. 81. A extradição é a medida de cooperação internacional entre o
Estado brasileiro e outro Estado pela qual se concede ou solicita a entrega de pessoa sobre
quem recaia condenação criminal definitiva ou para fins de instrução de processo penal em
curso. § 2º A extradição e sua rotina de comunicação serão realizadas pelo órgão competente
do Poder Executivo em coordenação com as autoridades judiciárias e policiais competentes.
[mas compete ao STF processar e julgar pedido de extradição]
Art. 82. Não se concederá a extradição quando: I - o indivíduo cuja extradição é solicitada ao
Brasil for brasileiro nato; II - o fato que motivar o pedido não for considerado crime no Brasil
ou no Estado requerente; III - o Brasil for competente, segundo suas leis, para julgar o crime
imputado ao extraditando; IV - a lei brasileira impuser ao crime pena de prisão inferior a 2
anos; V - o extraditando estiver respondendo a processo ou já houver sido condenado ou
absolvido no Brasil pelo mesmo fato em que se fundar o pedido; VI - a punibilidade estiver
extinta pela prescrição, segundo a lei brasileira ou a do Estado requerente; VII - o fato
constituir crime político ou de opinião (art. 5º, CF, LII); VIII - o extraditando tiver de responder,
no Estado requerente, perante tribunal ou juízo de exceção; ou IX - o extraditando for
beneficiário de refúgio, nos termos da lei nº 9.474, de 22 de julho de 1997 , ou de asilo
territorial. (não admite o STF extradição em caso de possível aplicação de pena de morte ou
perpétua)
§ 1º A previsão constante do inciso VII do caput não impedirá a extradição quando o fato
constituir, principalmente, infração à lei penal comum ou quando o crime comum, conexo ao
delito político, constituir o fato principal. § 3º Para determinação da incidência do disposto
no inciso I, será observada, nos casos de aquisição de outra nacionalidade por naturalização,
a anterioridade do fato gerador da extradição. § 4º O STF poderá deixar de considerar crime
político o atentado contra chefe de Estado ou quaisquer autoridades, bem como crime contra
a humanidade, crime de guerra, crime de genocídio e terrorismo. § 5º Admite-se a extradição
de brasileiro naturalizado, nas hipóteses previstas na Constituição Federal.
Art. 83. São condições para concessão da extradição: I - ter sido o crime cometido no
território do Estado requerente ou serem aplicáveis ao extraditando as leis penais desse
Estado; e II - estar o extraditando respondendo a processo investigatório ou a processo penal
ou ter sido condenado pelas autoridades judiciárias do Estado requerente a PPL.
Art. 89. O pedido de extradição originado de Estado estrangeiro será recebido pelo órgão
competente do Poder Executivo e, após exame da presença dos pressupostos formais de
admissibilidade exigidos nesta Lei ou em tratado, encaminhado à autoridade judiciária
competente.
Art. 90. Nenhuma extradição será concedida sem prévio pronunciamento do Supremo
Tribunal Federal sobre sua legalidade e procedência, não cabendo recurso da decisão.”
- Refugiados:
Lei nº 9.474/97: Define mecanismos para a implementação do Estatuto dos Refugiados de
1951, e cria o Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), do Ministério da Justiça.
O refúgio é vinculante (não é discricionário) e é solicitado mediante requerimento.
“Art. 1º Será reconhecido como refugiado todo indivíduo que:
I - devido a fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade,
grupo social ou opiniões políticas encontre-se fora de seu país de nacionalidade e não possa
ou não queira acolher-se à proteção de tal país;
II - não tendo nacionalidade e estando fora do país onde antes teve sua residência habitual,
não possa ou não queira regressar a ele, em função das circunstâncias descritas no inciso
anterior;
III - devido a grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigado a deixar seu país
de nacionalidade para buscar refúgio em outro país.
Art. 2º Os efeitos da condição dos refugiados serão extensivos ao cônjuge, aos ascendentes
e descendentes, assim como aos demais membros do grupo familiar que do refugiado
dependerem economicamente, desde que se encontrem em território nacional.
Art. 3º Não se beneficiarão da condição de refugiado os indivíduos que: I - já desfrutem de
proteção ou assistência por parte de organismo ou instituição das Nações Unidas que não o
ACNUR; II - sejam residentes no território nacional e tenham direitos e obrigações
relacionados com a condição de nacional brasileiro; III - tenham cometido crime contra a paz,
crime de guerra, crime contra a humanidade, crime hediondo, participado de atos terroristas
ou tráfico de drogas; IV - sejam considerados culpados de atos contrários aos fins e princípios
das Nações Unidas.”
Art. 33: “O reconhecimento da condição de refugiado obstará o seguimento de qualquer
pedido de extradição baseado nos fatos que fundamentaram a concessão de refúgio.”
Art. 34: “A solicitação de refúgio suspenderá, até decisão definitiva, qualquer processo de
extradição pendente, em fase administrativa ou judicial, baseado nos fatos que
fundamentaram a concessão de refúgio.” (vide art. 82, IX, lei de migrações)
Art. 48: “Os preceitos desta Lei deverão ser interpretados em harmonia com a Declaração
Universal dos Direitos do Homem de 1948, com a Convenção sobre o Estatuto dos Refugiados
de 1951, com o Protocolo sobre o Estatuto dos Refugiados de 1967 e com todo dispositivo
pertinente de instrumento internacional de proteção de direitos humanos com o qual o
Governo brasileiro estiver comprometido.”
Exceção doutrinária, por curiosidade: o caso do corníssimo terrorista Cesare Battisti.
- Apátridas:
Lei de migrações: “Art. 26. [...] § 2º Durante a tramitação do processo de reconhecimento
da condição de apátrida, incidem todas as garantias e mecanismos protetivos e de facilitação
da inclusão social relativos à Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas de 1954, promulgada
pelo Decreto nº 4.246, de 22 de maio de 2002 , à Convenção relativa ao Estatuto dos
Refugiados, promulgada pelo Decreto nº 50.215, de 28 de janeiro de 1961 , e à Lei nº 9.474,
de 22 de julho de 1997.
§ 3º Aplicam-se ao apátrida residente todos os direitos atribuídos ao migrante relacionados
no art. 4º.
§ 6º Reconhecida a condição de apátrida, nos termos do inciso VI do § 1º do art. 1º, o
solicitante será consultado sobre o desejo de adquirir a nacionalidade brasileira.
§ 7º Caso o apátrida opte pela naturalização, a decisão sobre o reconhecimento será
encaminhada ao órgão competente do Executivo para publicação dos atos necessários à
efetivação da naturalização no prazo de 30 dias, observado o art. 65.
§ 8º O apátrida reconhecido que não opte pela naturalização imediata terá a autorização de
residência outorgada em caráter definitivo.
§ 10. Subsistindo a denegação do reconhecimento da condição de apátrida, é vedada a
devolução do indivíduo para país onde sua vida, integridade pessoal ou liberdade estejam
em risco.
§ 11. Será reconhecido o direito de reunião familiar a partir do reconhecimento da condição
de apátrida.
§ 12. Implica perda da proteção conferida por esta Lei: I - a renúncia; II - a prova da falsidade
dos fundamentos invocados para o reconhecimento da condição de apátrida; ou III - a
existência de fatos que, se fossem conhecidos por ocasião do reconhecimento, teriam
ensejado decisão negativa.”
Administração Pública
. Princípios:
Art. 37: “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte.”
- legalidade: o agente público só pode atuar onde houver lei permitindo.
* também é chamado de p. da juridicidade (devido ao conceito amplo do termo “lei”;
Canotilho inclusive menciona o termo “legalidade comunitária”, devido a aplicação de
tratados).
* agencificação: criação de agências reguladoras (autarquias) para regular atividades antes
do Estado e posteriormente da iniciativa privada; vide reforma administrativa (EC 19/98). Daí
vem a deslegalização, onde o que era tratado pelo legislativo passou a ser regulado por atos
normativos das agências. Tema aceito pelo STF, mas com competências/extensão ainda em
debate.
. Doutrina de Chevron (EUA), sobre controle judicial de atos normativos de agências
reguladoras: cabe ao juiz inicialmente verificar se a lei é clara quanto ao assunto em discussão
(se a lei é clara, é dever do juiz aplicar a lei e não será dada deferência); caso exista
ambiguidade, não cabe aos tribunais interpretar diretamente a suposta vagueza da lei,
cabendo apenas verificar se a solução posta pela agência regulamentadora é razoável.
* delegação legislativa (o Legislativo delega a atribuição normativa a Administração) vs.
poder regulamentar (ato administrativo/secundário; ex.: art. 84, IV, parte final).
* Súmula 339/STF e SV 37: “Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa,
aumentar vencimentos de servidores públicos sob fundamento de isonomia.”
* Súmula 636/STF: “Não cabe RE por contrariedade ao princípio constitucional da
legalidade, quando a sua verificação pressuponha rever a interpretação dada a normas
infraconstitucionais pela decisão recorrida.” [violação de maneira reflexa ou indireta]
* vide princípio da reserva legal: há matérias que deem ser disciplinadas por lei. Dimensão
negativa: inadmissibilidade de outra fonte diversa da lei. Positiva: apenas a lei pode
estabelecer limitações/restrições. Absoluta: a CF determina que lei disporá sobre (ex., a lei
criará, a lei disporá, a LC estabelecerá). Relativa: lei dispõe sobre princípios, e a matéria é
regulamentada por ato infralegal (ex., nos termos fixados em lie, na forma da lei). Dela
decorre a reserva de parlamento.
* vide princípio da segurança jurídica e da proteção à confiança. P. ex., art. 37, IV; art. 2º,
XIII e 54, da Lei 9784/99, e art. 30, LINDB (pós-reforma de 2018). Porém, o STF já decidiu que
o prazo decadencial do art. 54 da Lei 9784/99 não se aplica em situações de flagrante
inconstitucionalidade.
- impessoalidade:
* não é necessária a edição de lei em sentido formal para que seja válida a vedação da
prática de nepotismo (até o terceiro grau; RE 579.951). Há resolução do CNJ extensiva a todos
os poderes, e a Lei 14230/21 (Lei de Improbidade), art. 11, XI.
* SV 13: “A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por
afinidade, até o 3º grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma
pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício
de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração
pública direta e indireta em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do DF e dos
Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a CF.”
* prevalece no STF que não se estende a cargos de natureza política (ex.:
Ministro/Secretário de Estado); entendimento instável.
* nepotismo póstumo; a assunção temporária das serventias extrajudiciais, nas hipóteses
de vacância ou impedimento de seus titulares, submete-se à vedação do nepotismo (STJ,
RMS 63.160)
* inelegibilidade reflexa (art. 14, § 7º): “São inelegíveis, no território de jurisdição do
titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o 2º grau ou por adoção, do
Presidente, de Governador, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos 6 meses
anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.”
- moralidade: aplicação, na Administração Pública, de parâmetros ético-jurídicos; segundo o
STF, dela decorre a probidade administrativa.
- publicidade: transparência dos agentes públicos. Exceção: segurança nacional (ponderação
de interesses).
* lei de acesso à informação (Lei 12.527/11).
- eficiência: apenas explícito pós-EC 19/98. Demanda que a administração avalie os
diferentes valores e impactos de suas ações para escolher o ideal à sociedade.
* os recursos públicos vinculados ao orçamento de estatais prestadoras de serviço público
essencial, em regime não concorrencial e sem intuito lucrativo primário, não podem ser
bloqueados ou sequestrados por decisão judicial para pagamento de indenizações
trabalhistas (ADPF 588).
. Cargos públicos:
Lei 8112/90 (regime jurídico dos servidores públicos civis da União, autarquias e fundações
públicas federais):
Art. 5º: São requisitos básicos para investidura em cargo público:
I - a nacionalidade brasileira;
* vide § 3º: “As universidades e instituições de pesquisa científica e tecnológica federais
poderão prover seus cargos com professores, técnicos e cientistas estrangeiros, de acordo
com as normas e os procedimentos desta Lei.” (Incluído pela Lei 9.515/97) Art. 207, § 1º, CF:
“É facultado às universidades [e instituições de pesquisa científica e tecnológica] admitir
professores, técnicos e cientistas estrangeiros, na forma da lei.” (Incluído pela EC 11/96)
*RE 1177699 (tese do tema 1032): “O candidato estrangeiro tem direito líquido e certo à
nomeação em concurso público para provimento de cargos de professor, técnico e cientista
em universidades e instituições de pesquisa científica e tecnológica federais, nos termos do
art. 207, § 1º, da Constituição Federal, salvo se a restrição da nacionalidade estiver expressa
no edital do certame com o exclusivo objetivo de preservar o interesse público e desde que,
sem prejuízo de controle judicial, devidamente justificada.”
II - o gozo dos direitos políticos;
* suspensão devido a condenação criminal não afeta.
III - a quitação com as obrigações militares e eleitorais;
IV - o nível de escolaridade exigido para o exercício do cargo;
V - a idade mínima de 18 anos;
VI - aptidão física e mental.
§ 1º As atribuições do cargo podem justificar a exigência de outros requisitos estabelecidos
em lei.
Cota de deficientes (§ 2º): Às pessoas portadoras de deficiência é assegurado o direito de se
inscrever em concurso público para provimento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis
com a deficiência de que são portadoras; para tais pessoas serão reservadas até 20% das
vagas oferecidas no concurso.
* art. 37, VIII: “A lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas
portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão.”
* Súmula 377/STJ: “O portador de visão monocular tem direito de concorrer, em concurso
público, às vagas reservadas aos deficientes.”
* Súmula 552/STJ: “O portador de surdez unilateral não se qualifica como pessoa com
deficiência para o fim de disputar as vagas reservadas em concursos públicos.”
- Tipos de cargos: efetivos (concurso público obrigatório), em comissão (livre nomeação),
função de confiança (livre nomeação de cargos comissionados).
* ADI 3602/GO, 2011: “É inconstitucional a criação de cargos em comissão que não
possuem caráter de assessoramento, chefia ou direção e que não demandam relação de
confiança entre o servidor nomeado e o seu superior hierárquico”
* lei estadual que cria percentual mínimo de preenchimento de cargos em comissão por
servidores efetivos é possível (embora de iniciativa exclusiva do Executivo); mas o percentual
de 15% é inconstitucional.
* art. 198, § 4º: “Os gestores locais do sistema único de saúde poderão admitir agentes
comunitários de saúde e agentes de combate às endemias por meio de processo seletivo
público, de acordo com a natureza e complexidade de suas atribuições e requisitos
específicos para sua atuação.” (Incluído pela EC 51/06)
* contratação temporária (art. 37, IX): “A lei estabelecerá os casos de contratação por
tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse
público.” Ex.: contratação temporária para pesquisas estatísticas do IBGE.
* SV 43: “É inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor
investir-se, sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seu provimento, em
cargo que não integra a carreira na qual anteriormente investido.”
. Concursos públicos:
- obrigatório para vínculos estatuários e celetistas.
- provas + títulos (opcional; sempre classificatório).
- quatro requisitos para afastar o direito líquido e certo de o candidato aprovado dentro das
vagas ser chamado (RE 598099):
a) superveniência: a situação excepcional alegada deve ser posterior à publicação do edital;
b) imprevisibilidade: deve haver circunstâncias extraordinárias, imprevisíveis à época;
c) gravidade: os acontecimentos, além de extraordinários e imprevisíveis devem ser
realmente graves;
d) necessidade: a solução de não nomear deve ser absolutamente necessária, baseada na
ausência de outros meios menos graves
- cadastro de reserva e novo concurso: o surgimento de novas vagas ou a abertura de novo
concurso para o mesmo cargo, durante o prazo de validade do certame anterior, não gera
automaticamente o direito à nomeação dos candidatos do cadastro de reserva, ressalvadas
as hipóteses de preterição arbitrária e imotivada por parte da administração, caracterizadas
por comportamento do Poder Público capaz de revelar a inequívoca necessidade de
nomeação do aprovado durante o período de validade do certame, a ser demonstrada
cabalmente pelo candidato.
A discricionariedade da Administração quanto à convocação de aprovados em concurso
público é nula (exsurgindo o direito subjetivo à nomeação) quando: i) a aprovação ocorrer
dentro do número de vagas dentro do edital; ii) houver preterição na nomeação por não
observância da ordem de classificação (Súmula 15, STF: “Dentro do prazo de validade do
concurso, o candidato aprovado tem o direito à nomeação, quando o cargo for preenchido
sem observância da classificação.”); iii) quando surgirem novas vagas, ou for aberto novo
concurso durante a validade do anterior, e ocorrer a preterição de candidatos aprovados fora
das vagas de forma arbitrária e imotivada por parte da administração nos termos acima.
- cláusula de barreira ou de desempenho: é válida cláusula de edital que limite o número de
candidatos às próximas fases do certame.
* cláusula de barreira em matéria eleitoral: inicialmente, o STF entendeu inconstitucional
lei que retirava recursos do fundo partidário e a gratuidade do tempo de rádio e TV (chamado
direito de antena). Posteriormente, a EC 97/2017 trouxe de volta a cláusula de barreira, de
forma escalonada.
- Limite de idade (súmula 683/STF): “O limite de idade para a inscrição em concurso público
só se legitima em face do art. 7º, XXX, da Constituição, quando possa ser justificado pela
natureza das atribuições do cargo a ser preenchido.” O mesmo se aplica a sexo, altura (cargos
de médico e capelão não entram na restrição) etc.
* A comprovação do requisito etário estabelecido na lei deve ocorrer no momento da
inscrição no concurso, e não no ato da inscrição no curso de formação (ARE 685.870).
- Teste psicotécnico: É constitucional, se previsto em lei e no edital; tiver critérios objetivos
de correção; e assegurar a possibilidade de recurso na via administrativa (AI 617917). SV 44:
“Só por lei se pode sujeitar a exame psicotécnico a habilitação de candidato a cargo público.”
- Teste físico: Não há direito à segunda chamada nos TAFs em casos de lesões temporárias
(RE 630733 e STJ), mas grávidas possuem o direito de realizar o TAF em outro momento.
* STJ: as candidatas que estejam em licença maternidade têm direito à remarcação do
curso de formação.
* adaptação do TAF: a exclusão da previsão de adaptação das provas físicas para candidatos
PCD viola a CF e a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência
(status constitucional).
Teses: 1. É inconstitucional a interpretação que exclui o direito de candidatos com
deficiência à adaptação razoável em provas físicas de concursos públicos. 2. É
inconstitucional a submissão genérica de candidatos com e sem deficiência aos mesmos
critérios em provas físicas, sem a demonstração da sua necessidade para o exercício da
função pública (ADI 6.476).
- inexistência da teoria do fato consumado: pode haver exclusão do cargo a qualquer tempo,
em virtude de sua posse ter ocorrido em situação precária e temporária (RE 534738), exceto
se o decurso de tempo for tão grande a ponto de o candidato obter a aposentadoria
voluntária pela administração (RE 740029).
- sindicância de vida pregressa (investigação social): Viola o princípio da presunção de
inocência a exclusão de certame público de candidato que responda a inquérito policial ou
ação penal sem trânsito em julgado da sentença condenatória (STF).
* inconstitucionalidade do artigo 17-D da Lei de Lavagem de Dinheiro (Lei 9.613/98), que
determina o afastamento de servidores públicos de suas funções em caso de indiciamento
por crimes de lavagem de dinheiro ou ocultação de bens, direitos e valores.
- proteção à crença religiosa:
. é possível a realização de etapas de concurso público em datas e horários distintos dos
previstos em edital, por candidato que invoca escusa de consciência por motivos de crença
religiosa, desde que presente a razoabilidade da alteração, a preservação da igualdade entre
todos os candidatos e que não acarreta ônus desproporcional à administração pública, que
deverá decidir de maneira fundamentada (RE 611874);
. é possível, inclusive durante o estágio probatório, estabelecer critérios alternativos para
o regular exercício dos deveres funcionais inerentes aos cargos públicos, em face de
servidores que invocam escusa de consciência por motivos de crença religiosa, desde que,
presente a razoabilidade da alteração, não se caracterize o desvirtuamento no exercício de
suas funções e não acarrete ônus desproporcional à administração pública, que deverá
decidir de maneira fundamentada (ARE 1099099).
- responsabilidade civil do Estado:
. o Estado responde subsidiariamente por danos materiais causados a candidatos em
concurso público organizado por pessoa jurídica de direito privado, quando os exames são
cancelados por indícios de fraude (RE 662405).
* art. 37, § 6º: “As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras
de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem
a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou
culpa.” Inclui-se restituir aos candidatos as despesas com taxa de inscrição e deslocamento
para cidades diversas daquelas em que mantenham domicílio.
. indenização por demora em nomeação, devido a decisão contestada judicialmente:
impossível (cabe indenização apenas caso se demonstre situação de perseguição ao
candidato, arbitrariedade flagrante; RE 724347).
- prazo de validade: até 2 anos.
. Teto de subsídios:
- Súmulas/STF:
339/SV 37: “Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar
vencimentos de servidores públicos sob fundamento de isonomia.”
679: “A fixação de vencimentos dos servidores públicos não pode ser objeto de convenção
coletiva.”
682: “Não ofende a Constituição a correção monetária no pagamento com atraso dos
vencimentos de servidores públicos.”
- Revisão (art. 37, X): “A remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o §
4º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados por lei específica, observada a
iniciativa privativa em cada caso, assegurada revisão geral anual, sempre na mesma data e
sem distinção de índices. (Redação pela EC 19/98; regulamentada pela Lei 10.331/01)
* o não encaminhamento de PL de revisão anual dos vencimentos dos servidores públicos
não gera direito subjetivo a indenização, mas deve o Executivo se pronunciar, de forma
fundamentada, acerca das razões pelas quais não propôs a revisão (RE 565089).
- Teto municipal (art. 37, XI):
. executivo: subsídio do prefeito
* os procuradores municipais (e estaduais) se sujeitam ao subteto de 90,25% do subsídio
de ministro do STF (RE 663696).
. legislativo: subsídio do prefeito
- Teto estadual:
* o estado pode, por EC, estabelecer como teto único para os 3 Poderes o subsídio de
Desembargador de TJ (ADI 6746).
. executivo: subsídio do governador.
* advogados públicos estaduais eles têm direito à percepção de honorários advocatícios
sucumbenciais nos processos em que atuam em nome do ente estatal, limitados ao teto
constitucional.
. legislativo: subsídio de deputado estadual.
* em razão da autonomia dos Tribunais de Contas, os auditores estão sujeitos ao teto de
remuneração aplicável aos Conselheiros do TC, por ser esse o cargo de maior hierarquia
dentro do órgão (ADI 3977).
. judiciário: subsídio de desembargador do TJ.
* o STF excluiu os membros da Magistratura estadual do subteto de remuneração
estadual, devido ao caráter nacional da Magistratura. Obedecem o mesmo limite dos
membros da Magistratura federal, o subsídio de Ministro do STF (ADI 3.854).
- Teto federal: Subsídio de ministro do STF.
- Cumulatividade:
. o teto incide na acumulação de remuneração ou proventos de aposentadoria com pensão
por morte (RE 602584).
. ficam de fora do cálculo do teto verbas indenizatórias, como horas extras, pagamento de
férias não gozadas etc (art. 37, § 11).
. quem trabalha em empresas públicas e sociedades de economia mista que recebem
recursos públicos para custeio de pessoal também são regulados pelo teto, mas se não
houver recebimento de recursos públicos, o teto não precisará ser observado (RE 572143).
* isso justifica o fato de dirigentes de estatais como Petrobras e Banco do Brasil poderem
receber ganhos compatíveis com cargos equivalentes na iniciativa privada.
. tabeliães e notários não se sujeitam ao teto constitucional (apenas os titulares;
substitutos ou interinos em serventias extrajudiciais ficam sujeitos ao teto; RE 808202).
. na acumulação lícita de cargos públicos o teto deve ser observado isoladamente (RE
612975).
. se o servidor recebe bruto acima do teto, primeiro os seus ganhos devem ser reduzidos
para o teto, e somente depois incidiram o IR e a Contribuição Previdenciária (RE 675978).
- os vencimentos dos cargos do Poder Legislativo e do Poder Judiciário não poderão ser
superiores aos pagos pelo Poder Executivo (regra inexistente na prática; art. 37, XII).
- é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito
de remuneração de pessoal do serviço público (XIII; pós-EC 19/98).
* SV 42: “É inconstitucional a vinculação do reajuste de vencimentos de servidores
estaduais ou municipais a índices federais de correção monetária.”
* constitucionalidade da equiparação remuneratória entre auditores de contas e juízes
estaduais como garantia funcional de independência da judicatura de contas (art. 73, § 4º;
ADI 6953).
- os acréscimos pecuniários não serão computados nem acumulados para fins de acréscimos
ulteriores (antes da EC 19/98, aplicava-se apenas sob acréscimos de mesmo título ou idêntico
fundamento).
- é vedada a redução de vencimentos de cargos/empregos públicos.
. Necessidade de licitação:
- Regra: as obras, serviços, compras e alienações, quando envolverem o poder público em
geral, devem ser precedidas de processo de licitação pública.
* Art. 37, XXI: “Ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras
e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure
igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações
de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual
somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à
garantia do cumprimento das obrigações.”
* ficam de fora entidades privadas que atuam em colaboração com a administração pública
(ex.: Sistema S)
- Art. 22: Compete privativamente à União legislar sobre: [...] XXVII - normas gerais de
licitação e contratação, em todas as modalidades, para as administrações públicas diretas,
autárquicas e fundações da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o
disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos
termos do art. 173, § 1º, III.
* regulamento: antiga Lei 8.666/93 e nova Lei 14.133/21.
- Art. 173, § 1º: A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de
economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou
comercialização de bens ou de prestação de serviços, dispondo sobre: [...] III - licitação e
contratação de obras, serviços, compras e alienações, observados os princípios da
administração pública.
* regulamento: Lei 13.303/16.
* para as EP e para as SEM, é necessária licitação para atividades-meio, mas, assim como
na Administração Direta e Fundações Públicas, há hipóteses de licitação dispensável (juízo de
oportunidade e conveniência) ou de contratação direta (inviabilidade de competição); há
previsão específica da desnecessidade de licitação quanto à atividade-fim da empresa, que é
definida no seu estatuto social.
* até a edição da Lei 13.303/16 (estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de
economia mista e de suas subsidiárias), as EP e SEM prestadoras de serviços públicos se
submetiam à Lei 8.666/93; as EP e SEM exploradoras de atividade econômica seguiam essa
lei dentro da chamada atividade-meio; à atividade-fim, a Lei 8.666/93 deixava de ser
utilizada, como forma de evitar que a burocracia inviabilizasse a competição.
* art. 67, Lei 9478/97: “Os contratos celebrados pela Petrobrás, para aquisição de bens
e serviços, serão precedidos de procedimento licitatório simplificado, a ser definido em
decreto do Presidente da República (vide Decreto 2.745/98; revogado pela Lei 13.303/16,
que deu 2 anos de prazo para adaptação). O TCU achava inconstitucional, controvérsia
encerrada negativamente pelo RE 441280.
. Aposentadoria de servidores:
* art. 40: dirigidas aos servidores. Art. 201: aplicáveis aos trabalhadores em geral.
* notários e oficiais de registro não podem se vincular a regime próprio de previdência
(seguem o RGPS; ADI 5556).
* Art. 24: “Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente
sobre: [...] previdência social, proteção e defesa da saúde.”
* a EC 103/2019 deixou de fora os servidores dos estados/DF e municípios (abrangeu
servidores federais, empregados públicos e os trabalhadores CLT).
* aposentadoria compulsória; aposentadoria por incapacidade (antes, por invalidez
permanente); aposentadoria voluntária.
* servidores ocupante exclusivamente de cargo em comissão, função temporária (inclusive
detentores de mandato eletivo) ou emprego público deve ser aplicado o RGPS (apenas
aplica-se o RPPS a concursados).
* inconstitucionalidade de lei estadual que estabelece regime previdenciário específico
para agentes não titulares de cargos efetivos, que violaria o artigo 40, § 13, pois a
competência legislativa estadual em matéria previdenciária estaria restrita à competência
suplementar para o respectivo regime próprio e à instituição da contribuição previdenciária
para o regime próprio (ADI 7198).
* lei federal que verse sobre percentual de reajuste em RPS só pode ser aplicada aos
trabalhadores regidos pelo RGPS e aos servidores federais ligados ao RPPS, e não a servidores
de RPPS dos estados, devido a autonomia administrativa dos entes federados (ADI 4582).
- RPPS (art. 40, pós-EC 103/19): O RPPS dos servidores efetivos terá caráter contributivo e
solidário, mediante contribuição do respectivo ente federativo, de servidores ativos, de
aposentados e de pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e
atuarial.
- Tipos de regimes (§ 1º): O servidor abrangido por RPPS será aposentado:
I - por incapacidade permanente para o trabalho, no cargo em que estiver investido, quando
insuscetível de readaptação, hipótese em que será obrigatória a realização de avaliações
periódicas para verificação da continuidade das condições que ensejaram a concessão da
aposentadoria, na forma de lei do respectivo ente federativo.
. readaptação na lei (art. 24, Lei 8112/90): “Readaptação é a investidura do servidor em
cargo de atribuições e responsabilidades compatíveis com a limitação que tenha sofrido em
sua capacidade física ou mental verificada em inspeção médica.”
. readaptação na CF (§ 13º, incluído pela EC 103/19): “O servidor público titular de cargo
efetivo poderá ser readaptado para exercício de cargo cujas atribuições e responsabilidades
sejam compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou mental,
enquanto permanecer nesta condição, desde que possua a habilitação e o nível de
escolaridade exigidos para o cargo de destino, mantida a remuneração do cargo de origem.”
. enquanto ausente lei federal regulando esta aposentadoria, serão aplicáveis as regras
transitórias previstas no art. 26 da EC 103/19: a) se a incapacidade decorrer de acidente de
trabalho, de doença profissional e de doença do trabalho, o benefício será 100% da média
aritmética simples das remunerações do servidor; b) se decorrer de outros casos, vale a regra
geral (o cálculo seguirá as regras normais de aposentadoria; 60% da média aritmética das
contribuições, + 2% para cada ano de contribuição que exceder o tempo de 20 anos de
contribuição [embora isso sempre comece em 70%, devido ao tempo mínimo de contribuição
de 25 anos]).
* excluída a possibilidade de aposentadoria com proventos integrais na situação de
incapacidade por doença grave incurável, como existia anteriormente.
. Previdência complementar:
- Art. 37, § 15: É vedada a complementação de aposentadorias de servidores e de pensões
por morte a seus dependentes que não seja decorrente do disposto nos §§ 14 a 16 do art. 40
ou que não seja prevista em lei que extinga RPPS. (Incluído pela Reforma)
- Art. 40 (pós-reforma), § 14: A União, estados, DF e municípios instituirão, por lei do
respectivo Executivo, regime de previdência complementar para servidores efetivos,
observado o limite do RGPS para o valor das aposentadorias e pensões em RPPS, ressalvado
o disposto no § 16.
§ 15: O regime complementar oferecerá plano de benefícios somente na modalidade
contribuição definida, observará o disposto no art. 202 e será efetivado por intermédio de
entidade fechada de previdência complementar ou de entidade aberta de previdência
complementar.
§ 16: Somente mediante sua prévia e expressa opção, o disposto nos § § 14 e 15 poderá ser
aplicado ao servidor que tiver ingressado no serviço público até a data da publicação do ato
de instituição do correspondente regime complementar.
. Previdência especial:
§ 4º: É vedada a adoção de requisitos ou critérios diferenciados para concessão de benefícios
em RPPS, exceto:
§ 4º-A: Poderão ser estabelecidos por LC do respectivo ente federativo idade e tempo de
contribuição diferenciados para aposentadoria de servidores com deficiência, previamente
submetidos a avaliação biopsicossocial realizada por equipe multiprofissional e
interdisciplinar.
. Art. 22 da EC: Até que lei discipline (vale ao RPPS e RGPS), desde que cumpridos (no caso
do servidor) mínimo de 10 anos de efetivo exercício no serviço público e de 5 anos no cargo
efetivo, será concedida na forma da LC 142/13 (aposentadoria de deficiente do RGPS),
inclusive quanto aos critérios de cálculo dos benefícios.
. Autonomia dos estados e municípios (parágrafo único): Aplicam-se às aposentadorias
dos servidores com deficiência dos Estados/DF e Municípios as normas constitucionais e
infraconstitucionais anteriores à data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional,
enquanto não promovidas alterações na legislação interna relacionada ao respectivo RPPS.
§ 4º-B: [...] agente penitenciário [polícia penal, pós-EC 104/19], agente socioeducativo,
policial dos órgãos legislativos (art. 51, IV e art. 52, XIII) e agentes de segurança pública (art.
144, I a IV).
. não aplicado a polícia civil e penal estadual (exceto do DF). Afeta policiais federais,
rodoviários federais e ferroviários federais; policiais penais federais e penais do DF; policiais
civis do DF; policiais legislativos da CD e do SF; agentes socioeducativos.
. oficiais de justiça e os servidores que trabalham na área da segurança dos Tribunais e do
Ministério Público não entram nas regras especiais (MI 6515).
. não se permite que norma estadual amplie os servidores beneficiados com
aposentadoria especial, pois a lista da CF é taxativa (ADI 6917).
. art. 10, § 2º, I da EC: mínimo de 55 anos de idade, 30 anos de contribuição e 25 anos de
efetivo exercício em cargo dessas carreiras, para ambos os sexos;
. LC 51/85 (pós-LC 144/14), art. 1º: O servidor público policial será aposentado:
Compulsoriamente: 75 anos (regra geral de servidores). Voluntariamente, com proventos
integrais, independentemente da idade: mínimo de 30 anos de contribuição e 20 anos de
exercício em cargo policial, se homem; 25 e 15, respectivamente, se mulher.
. Militares estaduais:
. Competência da privativa da União; pós-reforma (art. 22, XXI), “normas gerais de
organização, efetivos, material bélico, garantias, convocação, mobilização, inatividades e
pensões das polícias militares e dos corpos de bombeiros militares.”
. Lei 13954/19: dispões sobre essas normas gerais.
. a competência privativa da União de normas gerais sobre inatividades e pensões dos
PMs e CBMs não exclui a competência legislativa estadual para a fixação das alíquotas da
contribuição previdenciária incidente sobre os proventos de seus próprios militares inativos
e pensionistas (RE 1338950).
§ 4º-C: [...] servidores insalubres (cuja atividades sejam exercidas com exposição a agentes
químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes), vedada a
caracterização por categoria profissional ou ocupação (deve haver comprovação concreta).
. art. 10, § 2º, II da EC: mínimo de 60 anos, com 25 anos de efetiva exposição e
contribuição, 10 anos de efetivo exercício de serviço público e 5 anos no cargo efetivo em
que for concedida a aposentadoria.
* SV 33 (revogada pela reforma): “Aplicam-se ao servidor público, no que couber, as
regras do RGPS sobre aposentadoria especial de que trata o artigo 40, § 4º, inciso III da CF,
até a edição de LC específica.”
. se o servidor permanece atuando em atividade laborativa especial que ensejou a sua
aposentadoria especial, pode haver a cessação do pagamento do benefício previdenciário
(afinal, ele não estava tão mal assim, não é mesmo?; RE 791961).
§ 5º: Os ocupantes do cargo federal de professor terão idade mínima para se aposentar
reduzida em 5 anos, desde que comprovem tempo de efetivo exercício das funções de
magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio fixado em lei
complementar do respectivo ente federativo.
. art. 10, § 2º, III da EC: mínimo de 60 anos (se homem) e 57 anos (se mulher) com 25 anos
de contribuição, 10 anos de efetivo exercício de serviço público e 5 anos no cargo efetivo em
que for concedida a aposentadoria, para ambos os sexos.
. STF, tese do tema 965 (leading case RE 1039644): “Para a concessão da aposentadoria
especial de que trata o art. 40, § 5º, da Constituição, conta-se o tempo de efetivo exercício,
pelo professor, da docência e das atividades de direção de unidade escolar e de coordenação
e assessoramento pedagógico, desde que em estabelecimentos de educação infantil ou de
ensino fundamental e médio.”
* ou seja, revogada a súmula 726/STF.
. cabe à União, via Lei de Diretrizes e Bases, definir quem se enquadraria como atividade de
magistério, não sendo tarefa extensiva aos estados; e atividades meramente administrativas
não podem ser consideradas como magistério (ADI 856).
. para agentes de segurança pública (art. 10, § 6º da EC): A pensão por morte devida aos
dependentes do policial civil do DF, policiais legislativos, polícia federal, rodoviária federal,
ferroviária federal, agente federal penitenciário ou socioeducativo, decorrente de agressão
sofrida no exercício ou em razão da função, será vitalícia para o cônjuge ou companheiro e
equivalente à remuneração do cargo. [se era solteiro e tinha filhos, entra na regra geral].
. Acumulação de benefícios:
- Art. 24: É vedada a acumulação de mais de uma pensão por morte deixada por cônjuge ou
companheiro, no âmbito do mesmo regime de previdência social, ressalvadas as pensões do
mesmo instituidor decorrentes do exercício de cargos acumuláveis.
§ 1º Será admitida, nos termos do § 2º, a acumulação de:
I - pensão por morte deixada por cônjuge/companheiro de regimes diferentes ou com
pensões decorrentes das atividades militares (PM, CBM e forças armadas; arts. 42 e 142).
II - pensão por morte deixada por cônjuge/companheiro de um regime com aposentadoria
do RGPS ou RPPS ou com proventos de inatividade militares.
III - pensões militares com aposentadoria RGPS ou RPPS.
§ 2º Nas hipóteses das acumulações do § 1º, é assegurada a percepção de 100% do benefício
mais vantajoso + uma parte de cada um dos demais benefícios, apurada cumulativamente de
acordo com as seguintes faixas:
I - 60% do valor que exceder 1 salário-mínimo, até o limite de 2 salários-mínimos;
II - 40% do valor que exceder 2 salários-mínimos, até o limite de 3 salários-mínimos;
III - 20% do valor que exceder 3 salários-mínimos, até o limite de 4 salários-mínimos;
IV - 10% do valor que exceder 4 salários-mínimos.
§ 3º A aplicação do § 2º poderá ser revista a qualquer tempo, a pedido do interessado, em
razão de alteração de algum dos benefícios.
§ 4º Essas restrições não serão aplicadas se houver direito adquirido antes desta EC.
§ 5º As regras sobre acumulação previstas neste artigo poderão ser alteradas (respeitando
os arts. 40, § 6º e do 201, § 15.
. Contribuição:
- Regra geral (art. 11): Até lei específica que altere a alíquota da contribuição previdenciária
dos arts. 4º, 5º e 6º da Lei 10887/04 (11%), esta será de 14%.
§ 1º Essa alíquota será reduzida ou majorada, considerado o valor da base de contribuição
ou do benefício recebido, de acordo com os seguintes parâmetros:
I - até 1 salário-mínimo, redução de 6,5%;
II - acima de 1 salário-mínimo até R$ 2.000,00, redução de 5%;
III - de R$ 2.000,01 até R$ 3.000,00, redução de 2% percentuais;
IV - de R$ 3.000,01 até R$ 5.839,45, sem redução ou acréscimo;
V - de R$ 5.839,46 até R$ 10.000,00, acréscimo de 0,5%;
VI - de R$ 10.000,01 até R$ 20.000,00, acréscimo de 2,5%;
VII - de R$ 20.000,01 até R$ 39.000,00, acréscimo de 5%;
VIII - acima de R$ 39.000,00, acréscimo de 8%.
§ 3º Esses valores serão reajustados, a partir dessa EC, na mesma data e com o mesmo
índice em que se der o reajuste RGPS, ressalvados aqueles vinculados ao salário-mínimo, aos
quais se aplica a legislação específica.
- Regra extraordinária (art. 149, § 1º): A União, Estados/DF e Municípios instituirão, por meio
de lei, contribuições para custeio de RPPS, cobradas dos servidores ativos, dos aposentados
e pensionistas, que poderão ter alíquotas progressivas de acordo com o valor da base de
contribuição ou dos proventos de aposentadoria e de pensões.
§ 1º-A: Quando houver deficit atuarial, a contribuição ordinária dos aposentados e
pensionistas poderá incidir sobre o valor dos proventos que supere o salário-mínimo.
§ 1º-B: Demonstrada a insuficiência do § 1º-A, é facultada a instituição de contribuição
extraordinária, na União, dos servidores ativos, aposentados e pensionistas.
* § 1º-C: Isso deverá ser instituído com outras medidas para equacionamento do deficit e
vigorará por período determinado, contado da data de sua instituição.
- Abono de permanência (ou “auxílio pé na cova”; art. 40, § 19): O servidor efetivo que tenha
completado as exigências para a aposentadoria voluntária e que opte por permanecer em
atividade poderá fazer jus a um abono de permanência equivalente, no máximo, ao valor
da sua contribuição previdenciária, até a aposentadoria compulsória, observados critérios a
serem estabelecidos em lei do respectivo ente federativo,
. Estabilidade:
- Art. 41: São estáveis após 3 anos de efetivo exercício os servidores nomeados para cargo
de provimento efetivo em virtude de concurso público (pré-EC 19/98, 2 anos).
* para adquirir estabilidade, deve ser submetido a avaliação especial de desempenho, por
comissão específica; havendo a reprovação, o servidor deve ser exonerado (natureza
meramente declaratória; a exoneração pode ocorrer após os 3anos do estágio probatório,
desde que as avaliações de desempenho sejam feitas dentro do prazo).
§ 1º O servidor público estável só perderá o cargo:
I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado;
II - mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada ampla defesa;
III - mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma de LC,
assegurada ampla defesa.
* inconstitucional lei que preveja a exoneração de servidor em estágio probatório por
participar de greve; entendeu-se que a norma previa indevida distinção entre estáveis e não
estáveis (ADI 3235).
* trabalhadores EP e SEM não possuam estabilidade, mas a dispensa dos empregados
públicos das entidades que prestam serviço público deve ser motivada (RE 589998).
- Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade: o servidor estável ficará em
disponibilidade, com remuneração proporcional ao tempo de serviço, até seu adequado
aproveitamento em outro cargo.
- Duração do estágio probatório: Embora o art. 20 da Lei 8112/90 mencione 24 meses, a EC
19/98 tornou o prazo 36 meses (STF, STA 263).
. vs. vitaliciedade (art. 95): “Os juízes [e promotores] gozam das seguintes garantias: I -
vitaliciedade, que, no 1º, só será adquirida após 2 anos de exercício, dependendo a perda do
cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais
casos, de sentença judicial transitada em julgado.”
* membros que entram diretamente nos Tribunais são vitalícios desde a posse.
* Ministros do STF, PGR, membros do CNJ e do CNMP também podem perder o cargo por
decisão do Senado, por crime de responsabilidade (art. 52, I).
Controle de Constitucionalidade
Constitucionalidade é estar de acordo com a Constituição de um país, e
inconstitucionalidade é estar em desacordo. O controle de constitucionalidade é um
mecanismo para reconhecer atos dos Poderes Públicos como inconstitucionais, e os impor
uma sanção (nulidade ou anulabilidade). Para que seja possível o controle de
constitucionalidade, deve haver uma Constituição rígida – difícil de ser alterada –, ou não
poderia ser possível. A origem do controle de constitucionalidade como conhecemos hoje é
normalmente associada ao caso Marbury vs. Madison (1803), na Suprema Corte dos EUA.
. Quanto ao momento:
- preventivo: Ocorre o controle antes da lei ou ato entrar em vigor ou ser publicado,
normalmente sendo realizado pelas CCJs no Congresso ou pelo veto do Presidente da
República.
* o judiciário também pode exercer o controle preventivo, quando ocorre julgamento de
MS pelo STF, impetrado por membro do parlamento, que busque impedir a tramitação de
projeto de lei viciado, a fim de garantir um processo legislativo hígido.
* outra explicação do controle preventivo pelo judiciário: O judiciário poderá exercer
controle preventivo caso seja impetrado um MS por parlamentar, “em razão da
inobservância do devido processo legislativo constitucional , como ocorre no caso de
deliberação de uma proposta de emenda tendente a abolir cláusula pétrea. Os
parlamentares têm direito público subjetivo à observância do devido processo legislativo
constitucional. Por isso, apenas eles, e nunca terceiros estranhos à atividade parlamentar,
têm legitimidade para impetrar o mandado de segurança nessa hipótese. A iniciativa
somente poderá ser tomada por membros do órgão parlamentar perante o qual se achem
em curso o projeto de lei ou a proposta de emenda. Trata-se de um controle concreto, uma
vez que a impetração do mandamus surge a partir da suposta violação de um direito (ao
devido processo legislativo).” - Marcelo Novelino, 2009. Já Gilmar Mendes (2023) apenas
menciona o caso de emenda que seja lesiva às cláusulas pétreas.
* a propósito: controle de constitucionalidade preventivo sobre tratados internacionais.
- repressivo: Ocorre posteriormente a promulgação da lei, exercido via de regra pelo
judiciário.
No Brasil, esse controle também pode ser exercido pelo legislativo, que tem competência
para sustar os atos normativos do executivo que “exorbitem do poder regulamentar ou dos
limites de delegação legislativa” (art. 49, V). Além disso, o próprio Congresso é competente
para analisar a constitucionalidade das MPs expedidas pelo Presidente (art. 62, § 5º). Súmula
347, STF: “O Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições, pode apreciar a
constitucionalidade das leis e dos atos do Poder Público.” [ainda há outros casos, mais
exceção que regra aq]
. Reclamação:
- natureza jurídica: direito de petição (majoritário em provas e doutrina) ou ação
propriamente dita/ação constitucional (orientação do STF na RCL 25.160).
* art. 5º, XXXIV: “São a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas: a)
o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou
abuso de poder; b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos
e esclarecimento de situações de interesse pessoal.”
- hipóteses de cabimento: a) garantir a correta aplicação de uma súmula vinculante; b)
preservar a autoridade das decisões de um Tribunal; c) preservar a competência de um
Tribunal.
* a Corte Especial do STJ entende que relação ao REsp, a reclamação não é via adequada
para controle de aplicação de tese de recurso repetitivo (STJ, RCL n. 36.476).
* mesmo os conselhos seccionais da OAB tem legitimidade.
* é possível habeas corpus de ofício no julgamento da reclamação (STF, RCL 43.479).
. Controle abstrato de constitucionalidade estadual e municipal: Art. 125, § 2º: “Cabe aos
Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos
estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual, vedada a atribuição da legitimação
para agir a um único órgão.”
- objeto: leis estaduais ou municipais em face à Constituição Estadual.
- competência: TJ local.
- legitimado: cabe às Constituições Estaduais determinarem quais são os legitimados a
propor ADI ou ADC perante o TJ local (a CF veda atribuição a único órgão)
COMPETÊNCIA CONSTICUINAL
. STJ (crimes):
Art. 105. Compete ao STJ:
I - processar e julgar, originariamente:
a) nos crimes comuns e de responsabilidade, os Governadores, e nos crimes comuns os
desembargadores dos TJs, TRFs, TREs e TRTs, os membros dos Tribunais de Contas estaduais,
dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do MPU que oficiem perante
tribunais.
. STJ (geral):
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
I - processar e julgar, originariamente:
d) os conflitos de competência entre quaisquer tribunais, ressalvado do próprio STJ contra
tribunal, que é competência do STF, bem como entre tribunal e juízes de tribunal diverso e
entre juízes vinculados a tribunais diversos.
e) as revisões criminais e as ações rescisórias de seus julgados.
f) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas
decisões.
g) os conflitos de atribuições entre autoridades administrativas e judiciárias da União, ou
entre autoridades judiciárias de um Estado e administrativas de outro, ou entre as deste e da
União.
i) a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas
rogatórias. (Incluída pela EC 45/04)
j) os conflitos entre entes federativos, ou entre estes e o Comitê Gestor do Imposto sobre
Bens e Serviços, relacionados aos tributos previstos nos arts. 156-A e 195, V (IBS). (Incluído
pela EC 132/23)
III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos TRFs
ou pelos TJs, quando a decisão recorrida:
a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência.
b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal. (Redação dada pela
EC 45/04)
c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.
- Crime político:
. CF, art. 5º, LII: “Não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de
opinião.”
. Lei de Migração (13.445/17), art. 82: Não se concederá a extradição quando: VII - o fato
constituir crime político ou de opinião.
§ 1º A previsão constante do inciso VII do caput não impedirá a extradição quando o fato
constituir, principalmente, infração à lei penal comum ou quando o crime comum, conexo ao
delito político, constituir o fato principal.
§ 2º Caberá à autoridade judiciária competente a apreciação do caráter da infração.
§ 4º O Supremo Tribunal Federal poderá deixar de considerar crime político o atentado
contra chefe de Estado ou quaisquer autoridades, bem como crime contra a humanidade,
crime de guerra, crime de genocídio e terrorismo.
. Doutrina: Não há consenso, sequer na jurisprudência. Crime por motivação política pode
ter características de crime comum ou assemelha-se a ação terrorista (terrorismo não é crime
político; STF, Ext 855/2004).
- Mirtô Fraga (em 1985, citado por Gilmar Mendes em 2023): A doutrina se divide em
duas correntes: objetiva, sendo crime político o praticado contra a ordem política estatal; o
bem jurídico protegido é de natureza política, e; subjetiva, sendo crime político o praticado
com finalidade política.
. STF: Há precedente no STF classificando crimes ‘com o fim de subverter violentamente a
ordem econômica e social do Estado’ como político (Ext. 694/ITA, 1997) e rebelião armada
(Ext. 493/AGR, 1990) como “crimes políticos puros”.
- Cidadania: Condição de pessoa que, como membro de um Estado, possui e exerce direitos
e deveres que lhe permitem participar da vida política.
- Competência de iniciativa de PL que crie despesa: Art. 113, CF/ADCT: “A proposição
legislativa que crie ou altere despesa obrigatória ou renúncia de receita deverá ser
acompanhada da estimativa do seu impacto orçamentário e financeiro.” (EC 95/2016)
- Contempt of court: Conjunto de princípios e regras destinados a assegurar a adequada
administração da justiça e preservar a sua dignidade, por meio dos quais a lei, em nome do
interesse público, toma a si o encargo de defender-se e assegurar que seus comandos sejam
efetivamente respeitados, prevenindo/reprimindo os atos de desobediência, das partes ou
de terceiros, no curso de um processo judicial (atos de contempt of court). Trata-se do
fundamento que permite o judiciário vindicar a sua autoridade e infligir punição sumária a
todos os que ousarem interferir na justiça.
- Direito ao esquecimento: É o direito que uma pessoa possui de não permitir que um fato,
ainda que verídico, ocorrido em determinado momento de sua vida, seja exposto ao público
em geral, causando-lhe sofrimento ou transtornos. No Brasil, entretanto, a ideia é
inconstitucional, segundo novo e recente entendimento do STF (tema 786): “É incompatível
com a Constituição a ideia de um direito ao esquecimento, assim entendido como o poder
de obstar, em razão da passagem do tempo, a divulgação de fatos ou dados verídicos e
licitamente obtidos e publicados em meios de comunicação social analógicos ou digitais.”
- Discricionariedade: É a liberdade de ação administrativa, dentro dos limites permitidos em
lei. Ou seja, a lei deixa certa margem de liberdade de decisão diante do caso concreto, de tal
modo que a autoridade poderá optar por uma dentre várias soluções possíveis, desde que
válidas perante o direito.
- Efeito backlash: Efeito colateral de decisões judiciais (normalmente em questões
polêmicas), implicando reversão legislativa de um julgamento da corte. Lenio Streck chama
a PEC 8/21 de “efeito bumerangue”, que seria algo mais violento que o mero efeito backlash.
- Espólio e danos morais: O espólio (ente despersonalizado) não pode ser autor de processo
de danos morais referente aos herdeiros, e não tem legitimidade para buscar reparação por
danos morais decorrentes de ofensa post mortem à imagem e à memória de pessoa (mas sim
os herdeiros; ver REsp 1.209.474-SP). Porém, de acordo com o art. 943, “o direito de exigir
reparação e a obrigação de prestá-la transmitem-se com a herança”, e segundo o enunciado
454-CJF, “o direito de exigir reparação a que se refere o art. 943 do Código Civil abrange
inclusive os danos morais, ainda que a ação não tenha sido iniciada pela vítima”. Ou seja, em
caso de danos morais enquanto vivo (tendo iniciado o processo antes ou após sua morte), o
dano é considerado de natureza patrimonial (pois transmite-se com a herança). Portanto,
nesses casos, o espólio pode tomar parte ativa no processo.
- Habeas data (art. 5º, LXXII): É um remédio constitucional destinado a assegurar que um
cidadão tenha acesso a dados e informações pessoais que estejam sob posse do Estado, ou
de entidades privadas que tenham informações de caráter público. Ou seja, é o direito de
saber o que o governo sabe (ou afirma saber) sobre você. Ele também pode ser acionado
para corrigir dados pessoais que estejam inexatos.
- In dubio pro societate: É o oposto do in dubio pro reo. É um princípio que existe nos
processos de competência do Tribunal do Júri, quando o juiz, na fase de pronúncia, ao ter
dúvidas se o acusado cometeu ou não aquele crime a qual foi imputado, pronuncia-o,
submetendo-o ao Júri, por entender que naquele momento, deve-se prevalecer o que for
mais favorável à sociedade.
Entretanto, os magistrados brasileiros arrastaram o in dubio pro societate para todo o curso
do processo penal, deixando de fora apenas no momento da prolação da sentença
condenatória ou absolutória – porque ali sim continua a viger o in dubio pro reo. Os
magistrados brasileiros decretam prisão preventiva ou temporária, convertem prisão em
flagrante em preventiva, conduzem todo o processo penal sempre com o pensamento que,
na dúvida, deve-se prevalecer o que for mais favorável à sociedade.
- Inconstitucionalidade reflexa: O STF pode, ao declarar norma inconstitucional, declarar
outras não impugnadas na ação, em razão de sua interdependência.
- Mandado constitucional de criminalização: É o dever imposto pela Constituição ao
legislador de criminalizar determinadas condutas; certos bens jurídicos devem ser protegidos
penalmente em razão de sua relevância. Ex.: Art. 5º, XLIII: “A lei considerará crimes
inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura , o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles
respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem.”
- MP 905/2019: Medida provisória (já revogada devido a perda de eficácia) do Contrato
Verde e Amarelo.
- Pacto São José da Costa Rica: Trata-se do decreto 678/1992, que dispõe sobre a Convenção
Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), de 1969.
- Plebiscito, reverendo e iniciativa popular (art. 14 CF e lei 9.709/98): Plebiscito e referendo
são consultas ao povo para decidir sobre matéria de relevância para a nação. O plebiscito é
convocado previamente à criação do ato, e o referendo, posteriormente, cabendo ao povo
ratificar ou rejeitar a proposta. Já a iniciativa popular é o direito que os cidadãos brasileiros
têm de apresentarem PLs para serem votados e eventualmente aprovados pelo Congresso.
Para os cidadãos apresentarem um projeto de lei é necessário a assinatura de 1% dos
eleitores do país (cerca de 1,2 milhão), distribuídos em pelo menos cinco Estados brasileiros.
Casos do Brasil: Plebiscito/Referendo de 1963 (voltar atrás com o parlamentarismo),
plebiscito de 1993 (forma e sistema de governo), reverendo de 2005 (estatuto do
desarmamento), reverendo de 2010 (fuso-horário do Acre), plebiscito de 2011 (divisão do
Pará) e plebiscito de 2014 (criação de distritos em Campinas). Como exemplo de iniciativa
popular, há a lei 9.840/99 (lei contra a compra de votos).
- Princípio da subsidiariedade: Determina a aplicação subsidiária/residual de certas leis em
hipóteses que não sejam objeto de proteção de outra norma. Ou seja: determinada norma é
aplicada quando outra mais ideal não puder ser aplicada por disposição expressa
(subsidiariedade expressa ou formal) ou por força de interpretação lógica (subsidiariedade
tácita, implícita ou material). Lex primaria derogat legi subsidiariae: “a lei primária prevalece
sobre a lei subsidiária”; ou “a ofensa mais ampla engloba a menos ampla”; ou “a figura
subsidiária está inserida na principal”.
- Quinto constitucional: Art. 94: “1/5 dos lugares dos TRFs, dos Tribunais dos Estados, e do
DF e Territórios será composto de membros, do MP, com mais de 10 anos de carreira, e de
advogados de notório saber jurídico e de reputação ilibada, com mais de 10 anos de efetiva
atividade profissional, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representação das
respectivas classes. Parágrafo único. Recebidas as indicações, o tribunal formará lista tríplice,
enviando-a ao Poder Executivo, que, nos 20 dias subsequentes, escolherá um de seus
integrantes para nomeação.”
- Subcidadania (ou “ralé”): Conceito do sociólogo Jessé de Souza (Brasil, 1960), que
representa a situação de opressão e humilhação vivida por grande parte da população, o
habitus precário.
- Teoria de John Locke: Locke (Inglaterra, 1632 – 1704) descreve que em um estado natural,
todas as pessoas são iguais e independentes, e todos tem o direito natural da vida, saúde,
liberdade e propriedade.
- “O Estado não pode alegar ausência de norma para justificar sua não atuação.”
. Bibliografia:
- LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado.
- NOVELINO, Marcelo. Curso de Direito Constitucional.
- MENDES, Gilmar. Curso de Direito Constitucional.
- Celso Seixas Ribeiro Bastos, Eros Roberto Grau e Ingo Wolfgang Sarlet.
- Caso dos Irmãos Naves (Brasil, 1937).