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Manual da Formação de Magistrados Judiciais e
do Ministério Público em Matéria do Direito do
Ambiente em Moçambique
UNEP
SMALL-SCALE FUNDING AGREEMENT (SSFA)
“Strengthening Institutional Capacity of Countries in Environmental Law through
Training, Sharing Expertise and Legal Guidance Materials / Reforço da
Capacidade Institucional dos Países em matéria de Direito Ambiental através de
formação, partilha de conhecimentos especializados e material de orientação
jurídica”
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Prefácio
Desde 2001 o Centro de Formação Jurídica e Judiciária (CFJJ) vem ministrando a
jurisdição do Direito do Ambiente e Recursos Naturais nos seus Curos de Formação
Inicial de Ingresso nas Carreiras das Magistraturas Judicial e do Ministério Público,
bem como em Cursos de Formação Contínua para Magistrados e outros actores do
Sistema da Administração da Justiça (SAJ), reflectindo o interesse
constitucionalmente consagrado pelo Estado Moçambicano de assegurar um mundo
são ao Homem e de prover o desenvolvimento de forma ambientalmente sustentável.
Elisa Samuel
Directora do CFJJ
Agradecimentos
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A promoção de um desenvolvimento ambientalmente sustentável constitui
actualmente uma crescente demanda da sociedade e dos Estados a nível Global. Esse
desiderato depende em grande parte da existência e implementação efectiva dos
instrumentos normativos no campo do Direito do Ambiente e de uma formação sólida
que fortaleça a actuação das instituições judiciais e dos actores do Sistema da
Administração da Justiça como um todo.
Elisa Samuel
A Directora do CFJJ
ÍNDICE
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Prefácio ..................................................................................................................................................4
Agradecimentos ..................................................................................................................................4
Abreviaturas e Acrónimos ...............................................................................................................6
1. Introdução ................................................................................................................................7
2. Estrutura do Manual ............................................................................................................8
3. Objectivos .................................................................................................................................9
4. Metodologia ............................................................................................................................11
5. Conteúdos Programáticos .................................................................................................12
MÓDULO I ..........................................................................................................................................13
Fundamentos do Direito do Ambiente ......................................................................................13
Unidade 2: Princípios e Conceitos Fundamentais do Direito do Ambiente ..............34
Unidade 3: Questões Ambientais Contemporâneas em África .....................................66
MÓDULO II.........................................................................................................................................97
Aspectos Processuais na Resolução de Litígios Ambientais ..............................................97
Unidade 1: Acesso à Justiça em Matérias Ambientais....................................................98
Unidade 2: Produção de Prova em Casos Ambientais ...................................................118
Unidade 3: Decisões (Medidas correctivas) em Casos Ambientais ............................126
Unidade 4: Gestão de Casos em Matéria Ambiental ......................................................142
MÓDULO III .....................................................................................................................................149
Principais Áreas de Litígios Ambientais .................................................................................149
Unidade 1: Crimes Ambientais ..............................................................................................149
Unidade 2: O Ambiente e os Direitos Humanos ..............................................................155
Unidade 3: Julgamento de Litígios sobre os Recursos Naturais ................................163
Subunidade 3 (a): Recursos hídricos e pesqueiros .....................................................163
Subunidade 3 (b): Recursos marinhos e costeiros .....................................................169
Subunidade 3 (c): Recursos florestais e faunísticos...................................................173
Subunidade 3 (d): Recursos das Zonas Húmidas .......................................................177
Subunidade 3 (e): Recursos minerais .............................................................................181
Abreviaturas e Acrónimos
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1. Introdução
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O Direito do Ambiente constitui matéria integrante dos curricula de praticamente
todos os cursos de Direito ministrados nas instituições do ensino superior em
Moçambique. No entanto, tais cursos centram-se no direito substantivo e
apresentam um défice considerável no campo do direito adjectivo. Nesse sentido
grande parte dos juristas candidatos às magistraturas e parte notável dos
Magistrados em exercício não se encontram devidamente equipados com
conhecimentos e habilidades relativas à interpretação e aplicação do Direito do
Ambiente. Para além disso, o Direito do Ambiente é uma matéria especialmente
complexa, na medida em que integra imperativos de carácter científico, tecnológico,
económico, social e de equidade. Observa-se ainda, nos anos recentes, um grande
aumento de tratados, estatutos, regulamentos e acordos ambientais, para além do
estabelecimento de novas instituições e/ou quadros institucionais para a gestão dos
desafios ambientais. Toda essa complexidade da matéria ambiental exige a
instituição de um sistema sólido, consistente e progressivo de formação dos agentes
judiciais, com destaque para os Magistrados, de modo a garantir-se o acesso à justiça
e a um desenvolvimento ambientalmente sustentável.
2. Estrutura do Manual
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O Manual de Formação de Magistrados em Matéria do Direito do Ambiente é
composto de três partes concebidas em módulos:
3. Objectivos
O objectivo geral deste Manual é o de orientar os formadores judiciários na formação
dos Magistrados Judiciais e do Ministério Público, equipando-os com conhecimentos
e habilidades na adjudicação e resolução de disputas ambientais de forma a
assegurar o acesso à justiça e contribuir para a sustentabilidade ambiental.
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• Assegurar uma formação de agentes judiciais com conhecimentos e
habilidades para assegurarem a formação dos magistrados de uma maneira
progressiva, contínua e harmoniosa;
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4. Metodologia
O presente Manual foi desenvolvido como o instrumento operacional do novo
“Curriculum de Formação de Magistrados Judiciais e do Ministério Público” do CFJJ.
O novo Curriculum foi desenvolvido com base nos programas da Jurisdição do
Direito da Terra, Ambiente e Recursos Naturais implementados pelo CFJJ e no
“Curriculum de Formação de Magistrados em Matéria do Direito do Ambiente para
Magistrados em África/Training Curriculum on Environmental Law for Judges and
Magistrates in Africa”, que o serviu de guião.
O guião de formação de formadores é composto por três partes. O módulo um, centra-se nos
fundamentos do direito do ambiente, o módulo dois, nos aspectos processuais e o módulo três,
nas áreas substantivas da adjudicação (julgamento) ambiental. As jurisdições podem
determinar o calendário e o modo de aplicação do conteúdo do manual, tais como a divisão do
conteúdo a entregar em três níveis: principiantes para os novos juízes, nível intermédio e níveis
avançados para os juízes que já estão familiarizados com o nível básicos (fundamentais). O
período de capacitação dependerá em grande medida das exigências exclusivas de cada
jurisdição.
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5. Conteúdos Programáticos
Em resumo o Manual apresenta os seguintes conteúdos programáticos:
Módulo II: Aspectos Processuais nas Disputas Ambientais - Esta área cobre
4 Unidades, designadamente:
Unidade 1 – Acesso à justiça ambiental;
Unidade 2 – Provas em casos ambientais;
Unidade 3 – Decisões em casos ambientais;
Unidade 4 – Gestão de casos em material ambiental.
Módulo III: Principais Áreas de Litígios Ambientais - Esta área cobre 3 Unidades
e 5 subunidades, designadamente:
Unidade 1 – Crimes ambientais
Unidade 2 – Meio Ambiente e Direitos Humanos
Unidade 3 – Julgamento de casos ambientais
Subunidade 3 (a) – Água doce e recursos pesqueiros
Subunidade 3 (b) – Recursos marinhos e pesqueiros
Subunidade 3 (c) – Fauna bravia
Subunidade 3 (d) – Recursos de zonas húmidas
Subunidade 3 (e) – Recursos minerais
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MÓDULO I
Fundamentos do Direito do Ambiente
Descrição do Módulo
No fim deste módulo, o participante deve ser capaz de definir os principais termos,
princípios, normas, principais quadros legislativos e identificar estratégias que
podem ser usadas para promover o desenvolvimento sustentável.
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O que é o Direito do Ambiente? – O escopo do direito do ambiente em qualquer
jurisdição é geralmente determinado pela forma como o conceito de ambiente é
definido. O direito ambiental pode ser descrito em termos gerais como sendo o
conjunto de leis que contêm elementos para controlar o impacto do homem sobre o
ambiente. De facto, sendo o ambiente uma dimensão de todos os sectores de
actividade, elementos do direito ambiental podem ser encontrados em todas as leis
de um país, sejam eles especificamente denominados de “ambientais” ou não.
O que está aqui em causa é a definição de um regime jurídico assente numa política
de desenvolvimento sustentável baseada na protecção e conservação do ambiente e
que previna e combata os danos ambientais considerados significativos. Tal regime
pressupõe uma filosofia da relação entre o Homem e a Natureza que esteja baseada
nos postulados da ética, da racionalidade, do equilíbrio, da sustentabilidade e da
equidade2.
1 MILARÉ, Édis (2005), Direito do Ambiente, 4.ª Edição revista, atualizada e ampliada, Editora Revista
dos Tribunais, São Paulo, p. 155.
2 SERRA, Carlos, CUNHA, Fernando (2008), Manual do Direito do Ambiente, CFJJ, Maputo, p. 105.
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▪ Legislação integrada: legislação que abrange uma variedade de questões ambientais e
é governada por princípios, conceitos e soluções comuns, como as leis de Avaliação de
Impacto Ambiental (AIA);
▪ Jurisprudência: decisões dos tribunais internacionais, nacionais,
estaduais/provinciais e locais/distritais. As decisões judiciais têm efeito precedente
vinculativo ou persuasivo em muitas jurisdições.
A legislação sub-nacional: refere-se à legislação feita por unidades federativas e/ou
descentralizadas como estados, províncias, condados ou autoridades locais. Em muitos
Estados as mesmas ferramentas legais presentes no nível nacional estão sujeitas a
replicação nos níveis sub-nacionais.
Direito supranacional: refere-se, por exemplo, a leis regionais e continentais que
vinculam as nações a um tema como a economia e a integração regional. Em África, todas
as regionais têm tratados e leis de integração económica, como a Comunidade da África
Oriental, as leis da Comunidade da África Ocidental, a Comunidade de Desenvolvimento
da África Austral ou da África Central. Algumas dessas leis são vinculativas na jurisdição
judicial, enquanto outras são persuasivas ou não vinculativas.
Instrumentos internacionais não vinculativos (soft law) também podem ser uma fonte
de orientação. Por exemplo, os princípios contidos na Declaração do Rio sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento são algumas vezes referidos por magistrados a nível
nacional.
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nacional os magistrados aplicam as normas e padrões em casos que sejam
apropriados3.
Na prática, não está claro, quão nítida é a distinção entre Estados monistas e
dualistas, na medida em que a implementação das obrigações dos tratados é
frequentemente necessária para traduzir as obrigações em normas nacionais
aplicáveis ou para melhorar a aceitação do compromisso internacional a nível da das
estruturas política, jurídica e administrativa de uma jurisdição em particular.
3Ver Raul Arturo Rincon Ardila contra República da Colômbia, Tribunal Constitucional, 9 de abril de
1996 (aplicando a Convenção da Biodiversidade, Convenção 169 da OIT sobre Povos Indígenas e Acordo
TRIPS do GATT).
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O direito internacional consuetudinário é definido como uma “prática geral do
direito” que os Estados seguem com algum senso de obrigação legal. Regras ou
princípios devem ser aceitos pelos Estados como juridicamente vinculativos para
serem considerados parte do corpus da prática geral do direito. Assim, o simples
facto de um costume ser amplamente seguido não o torna uma regra do direito
internacional. Os Estados também devem ver como obrigatório seguir o costume, e
não acreditar que sejam livres para se afastar dele sempre que quiserem ou o
observarem apenas como uma questão de cortesia ou obrigação moral.
4 SERRA, Carlos, CUNHA, Fernando (2008), Manual do Direito do Ambiente, CFJJ, Maputo, p. 105.
5 Cf. Princípio I da Declaração de Estocolmo (1972).
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por alguns Estados bem antes da realização da Conferência de Estocolmo (1972).
Isto é, o Direito Internacional do Ambiente não nasce a partir do nada, ele é resultado
de ricas e variadas experiências acumuladas pelos Estados que se destacaram, ao
longo do século XX, na dianteira da luta contra alguns dos mais sérios problemas
ambientais. Estas experiências alimentaram em primeira linha os primeiros textos
internacionais e tornaram-se determinantes na construção de uma ordem jurídico-
ambiental global.
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importantes para transformar políticas ambientais e de desenvolvimento em acções,
não só através de métodos de “comando e controlo ”, mas também como estrutura
normativa para o planeamento económico e instrumentos de mercado.
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A doutrina jurídica constitucionalista, sobretudo após a Segunda Guerra Mundial,
introduziu conceitos como “Constituição Ambiental”, “Estado Constitucional
Ecológico”, “Estado Ambiental” e “Estado Sócio ambiental”, para abordar os novos
papéis assumidos pelo Estado em contexto de democracia sustentada marcada por
uma maior valorização da pessoa humana e do meio ambiente, marcando a transição
do “Estado-Providência” (Estado Social) para o “Estado Pós-Social”7.
Quatro valores centrais podem ser extraídos do “pacto social” da nova equação
ambientalista do Estado, designadamente:
(i) A protecção do ambiente como um bem jurídico universal da humanidade;
(ii) A edificação do Estado de Direito democrático e social regido por princípios
ecológicos;
(iii) A utilização racional do património natural e do ambiente como bens públicos
actuais e futuros; e,
(iv) A assunção de novas formas de participação política baseadas na ideia de
democracia sustentada.
7 Veja-se:
ALMEIDA FILHO, Agassiz. “Pressupostos do Constitucionalismo Ambiental” in Revista de Informação
Legislativa: RIL Brasília a. 53 n. 211 p. 105-121, jul./set. 2016. Disponível em
https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/53/211/ril_v53_n211_p105.pdf - 27/01/2020).
CANOTILHO, José Gomes, Estado Constitucional Ecológico e Democracia Sustentada, Revista do
CEDOUA, n.º 8, CEDOUA, Coimbra, 2001, p. 9.
SILVA, Vasco Pereira da, Verde Cor de Direito – Lições de Direito do Ambiente, Almedina, Coimbra, 2002,
pp. 24 – 25.
PUREZA, José, Tribunais, Natureza e Sociedade: O Direito do Ambiente em Portugal, Cadernos do CEJ,
Centro de Estudos Judiciários, pp. 27 – 28.
MIRANDA, Jorge, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV – Direitos Fundamentais, 3.ª Edição,
Coimbra Editora, Coimbra, 2000, p. 533.
8 Idem, pp. 535 – 536.
9 Veja-se Constituição da República de Moçambique [Artigo 11.°, alíneas c), d), e), e f)].
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fundamental, ao lado da vida, da saúde ou da propriedade. Tal opção foi
consequência do reconhecimento político e jurídico da dimensão colectiva ou pública
deste bem, isto é, enquanto valor ou interesse de carácter geral, que pertence à
sociedade como um todo, sem, contudo, descurar a não menos importante dimensão
individualista do mesmo em termos de reconhecimento a todo e qualquer cidadão de
um direito fundamental ao ambiente”10.
10 Idem.
11 Veja-se: Constituição da República de Moçambique (Artigo 11.°)
12 NOGUEIRA, Vera. “Bem-estar, bem-estar social ou qualidade de vida: a reconstrução de um
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das condições para a “protecção do ambiente como um bem jurídico universal da
humanidade”, assim como para “edificação do Estado de Direito democrático e
social regido por princípios ecológicos”.
• A defesa e a promoção dos direitos humanos e da igualdade dos cidadãos perante
a lei: A teoria da justiça aplicada ao ambiente revela uma relação intrínseca entre
os direitos humanos e a justiça ambiental. Essa consideração levou à
consagração do direito ao ambiente ecologicamente equilibrado como integrante
dos direitos humanos e promotor da justiça ambiental 14. O direito à vida é
constitucionalmente consagrado como o mais importante dos direitos humanos
cuja observância carece, dentre outros aspectos, da materialização efectiva de
condições ambientais para todos. De facto, reversivamente, o direito ao ambiente
equilibrado é considerado um dos mais recentes direitos humanos, e que hoje
assume uma projecção cada vez maior. Num país em desenvolvimento muitos
vivem na exclusão, distantes do que está assegurado pela Constituição, sendo a
degradação ambiental um factor agravante desse quadro. Quem tem meios
económicos procura fugir da degradação, enquanto grande parte da população
fica condenada a viver num ambiente cuja responsabilidade pela destruição deve
recair sobre todos. Não raro, as pessoas são atingidas em sua dignidade pela
precariedade em matéria de saúde, trabalho, assistência social, previdência
social, etc.”15. É com esse entendimento que o UNEP também considera que a
promoção dos direitos humanos e da igualdade constituem o caminho para um
mundo mais justo, sustentável e igualitário, defendendo que a “…desigualdade
não é determinada apenas pela economia. Para alcançar níveis básicos de bens e
serviços para todos, melhor redistribuição de riqueza e de recursos (tanto no país
como entre países) e acesso igualitário a oportunidades, informação e justiça, são
necessárias novas abordagens para desenvolver capacidades em todos os níveis
da sociedade”16. Nesse sentido, os valores referentes a “protecção do ambiente”,
“edificação do Estado de Direito Democrático e Social”, a “utilização racional do
património natural e do ambiente como bens públicos” e a “assunção de novas
formas de participação política que tornem a democracia sustentável” são aqui
compreendidos. Ou seja, a realização do objectivo constitucional moçambicano
de “defesa e a promoção dos direitos humanos e da igualdade dos cidadãos
perante a lei” passa por esses desafios que, na realidade, vinculam a todos os
cidadãos e, neste contexto, com especial destaque para os profissionais da
justiça.
• O reforço da democracia, da liberdade, da estabilidade social e da harmonia social
e individual: Desenvolvimento sustentável e democracia apresentam-se como
questões relevantes para a sociedade contemporânea e afiguram-se estreitamente
relacionados. A efectividade do paradigma do desenvolvimento sustentável
14 CALGARO, Cleide e RECH, Moisés João. “Justiça Ambiental, Direitos Humanos e Meio Ambiente: uma
relação em construção” in Revista de Direito e Sustentabilidade. e-ISSN: 2525-9687. Vol.3, n.° 2, p. 1-
16 Jul./Dez. 2017. Maranhão. Disponível em
https://www.researchgate.net/publication/323653142_JUSTICA_AMBIENTAL_DIREITOS_HUMANOS
_E_MEIO_AMBIENTE_UMA_RELACAO_EM_CONSTRUCAO
15 REISEWITZ, Lúcia (2004), Direito Ambiental e Património Cultural - Direito à Preservação da Memória,
Acção e Identidade do Povo Brasileiro, Editora Juarez de Oliveira, São Paulo, 2004, p. 46.
16 PNUMA – Programa das Noções Unidas par o Meio Ambiente e a Agenda 2030 (Acção Global para as
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pressupõe a análise contextualizada dos desafios que o Estado Democrático de
Direito deve enfrentar para a consecução da qualidade de vida e da dignidade
humana. Os debates científicos sobre a matéria consideram que “a concretização
do desenvolvimento sustentável depende do alargamento da soberania popular,
da adopção de espaços democráticos participativos, de novos modelos
organizativos e de novas instituições que de facto incorporem os conceitos e
preceitos da dignidade humana e da protecção do ambiente. O desenvolvimento
sustentável e a democracia constituem pilares fundamentais da sociedade
moderna, e compatibilizá-los no desempenho da actividade estatal tem-se
tornado nas últimas décadas um dos maiores desafios da humanidade”17.
Este pensamento é igualmente assumido, de forma clara, no contexto do Princípio
10.° da Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente,
realizada no Rio de Janeiro, em 1992 – e reassumida na Conferência das Nações
Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), em 2012 –, que estabelece
que “a melhor maneira de tratar questões ambientais é assegurar a participação,
no nível apropriado, de todos os cidadãos interessados. No nível nacional, cada
indivíduo deve ter acesso adequado a informações relativas ao ambiente de que
disponham as autoridades públicas, inclusive informações sobre materiais e
actividades perigosas em suas comunidades, bem como a oportunidade de
participar de processos de tomada de decisões. Os Estados devem facilitar e
estimular a conscientização e a participação pública, colocando a informação à
disposição de todos”18.
Em termos objectivos este princípio de reforço da democracia “… estimulou a
comunidade internacional a tomar medidas progressivas para criar um espaço
para o público na governança ambiental, especialmente ao consolidar o conceito
de 'participação pública' em vários instrumentos ambientais [nacionais e]
internacionais”19. A elaboração das “Directrizes para a Elaboração de Legislação
Nacional sobre o Acesso à Informação, a Participação do Público e a Justiça em
Assuntos Ambientais” (Directrizes de Bali de 2010), promovida pelo UNEP em
2010, são um exemplo disso. A esse processo seguiu-se o lançamento do Índice
de Democracia Ambiental (IDA), pelas organizações The Access Initiative (TAI) e
World Resources Institute (WRI), em 2015, e igualmente com o apoio do UNEP,
como “a primeira plataforma on-line disponível ao público, que acompanha o
progresso dos países na promulgação de leis nacionais para promover a
transparência, o acesso à justiça e a participação dos cidadãos nas decisões sobre
questões ambientais”20. Trata-se de meios práticos de garantir que as decisões
dos governos levam em consideração as preocupações com o desenvolvimento
sustentável e os interesses dos pobres. Nesses termos o “O reforço da democracia,
http://www.scielo.br/pdf/ea/v6n15/v6n15a13.pdf
19 ETEMIRE, Uzuazo. “Insights on the UNEP Bali Guidelines and the Development of Environmental
Democratic Rights” In Journal of Environmental Law, Volume 28, Issue 3, November 2016, Pages 393–
413. Oxford University Press. Disponível em https://doi.org/10.1093/jel/eqw023.
20 The Accesse Initiative e World Resource Institute. Measuring, Mapping, & Strengthening Rights: The
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da liberdade, da estabilidade social e da harmonia social e individual” constitui
um meio indispensável de realização dos valores traduzidos pela abordagem
ecológica do ambiente.
Esta opção constitucional significa que, não obstante o inegável valor societário ou
colectivo do ambiente como bem jurídico, tendo presente a enorme importância que
Fernando dos Reis, Direito do Ambiente, Coimbra, 2001, pp. 472 – 476.
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o mesmo assume para a comunidade politicamente organizada, determinando a
consagração de um autêntico interesse público na sua protecção, “essa natureza não
prejudica (mas, pelo contrário, reforça) a circunstância de o ambiente dever ser
também assumido como direito subjectivo de todo e qualquer cidadão
individualmente considerado”26. E mais, “o ambiente, apesar de ser um bem social
unitário, é dotado de uma indiscutível dimensão pessoal”27.
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Humanos32 e a Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos 33. Tais deveres
“são (…) de natureza jurídica (ainda que nem todos equivalham a deveres na tradição
ou na acepção própria do Direito Privado) porque criados por verdadeiras normas
jurídicas, as normas constitucionais”34.
32 Segundo o n.º 1 do artigo 29 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, “indivíduo tem deveres
para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e pleno desenvolvimento da sua
personalidade”.
33 Segundo o n.º 1 do artigo 27 da Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos, ratificada pela
Resolução n.º 9/88, de 25 de Agosto, “Cada indivíduo tem deveres para com a família e a sociedade,
para com o Estado e outras colectividades legalmente reconhecidas e para com a comunidade
internacional”.
34 MIRANDA, Jorge, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV – Direitos Fundamentais, 3.ª Edição,
p. 132.
36 DIAS, José Eduardo Figueiredo, Direito Constitucional e Administrativo do Ambiente, Cadernos
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definidos ou que contrariem a realização legal anteriormente atingida. Isto é,
«as normas constitucionais que reconhecem direitos económicos, sociais e
culturais de carácter positivo têm pelo menos uma função de garantia da
satisfação adquirida por esses direitos, implicando uma proibição de
retrocesso, visto que, uma vez dada satisfação ao direito, este transforma-se,
nessa medida, em “direito negativo” ou “direito de defesa”, ou seja, num direito
a que o Estado se abstenha de atentar contra ele»39. O princípio da proibição
do retrocesso social postula que quaisquer intervenções ordinárias devam
obrigatoriamente observar o núcleo essencial dos direitos económicos, sociais
e culturais40.
Coimbra, p. 1172.
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Por seu turno, nos termos do n.º 2 do artigo 90, determinou-se que “o Estado e as
autarquias locais com a colaboração das associações na defesa do ambiente,
adoptam políticas de defesa do ambiente e velam pela utilização racional de todos os
recursos naturais”. Há aqui uma dupla responsabilização do Estado: em primeiro
lugar, a obrigação do Estado de adoptar políticas e estratégias de sustentabilidade
ambiental, que pugnam pela uso e aproveitamento racional dos recursos naturais;
em segundo lugar, o dever do Estado de trabalhar em estreita articulação com as
associações de defesa do ambiente, combinando-se meios, recursos e esforços em
prol de uma causa comum.
44 Inspirado na Declaração Universal dos Direitos do Homem. Nos termos do n.º 1 do artigo 26.° da
Declaração Universal dos Direitos do Homem, “toda a pessoa tem direito à educação que deve ser
gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamenta. O ensino elementar é
obrigatório. O ensino técnico e profissional deve ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve
estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito”. Segundo o n.º 2 do mesmo artigo,
“a educação deve visar a plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos do homem
e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as
nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das actividades das Nações
Unidas para a manutenção da paz”. Por fim, à luz do n.º 3 do referido artigo, “aos pais pertence a
prioridade do direito de escolher o género de educação a dar os filhos”.
45 Cf. Artigo 88.° da Constituição.
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danos”. Estabelece-se aqui uma relação intrínseca entre o direito ao ambiente e os
direitos dos consumidores.
Por sua vez, o n.º 3 do artigo 98.°, prevê três categorias de domínio público: o domínio
público do Estado propriamente dito, o domínio público Autárquico e o domínio
público Comunitário.
Domínio público do Estado: Este domínio está associado aos interesses públicos de
índole essencialmente nacional, isto é, fundamentais para a construção e
desenvolvimento do Estado moçambicano enquanto um todo integrado. Sendo
proprietário destes bens, o Estado define as regras e as condições do respectivo uso
e aproveitamento por parte dos particulares, emitindo licenças e autorizações,
exercendo a actividade de fiscalização e retirando as mesmas quando o interesse
público assim o determinar, quando aquele uso e aproveitamento se efectue contra
o disposto na lei ou quando se atinja o limite dos prazos legalmente fixados não
havendo propósito da sua renovação47.
46 Em relação aos recursos naturais, veja-se caber ao Estado um papel fundamental, nos termos do
artigo 102.° (que corresponde ao artigo 36.° da Constituição de 1990), na promoção, conhecimento,
inventariação e valorização, bem como na determinação das condições do seu uso e aproveitamento
com salvaguarda dos interesses nacionais.
47 O n.º 2 do artigo 98.°, determina que constituem domínio público do Estado: a zona marítima, o
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correctas do ambiente e seus componentes, com vista à materialização de um
sistema de desenvolvimento sustentável no país”.
Tendo já mais de duas décadas de vigência, esta Lei permanece bastante actual e
ajustada quanto à maioria dos problemas ambientais do País. No entanto, a questão
das mudanças climáticas não recebeu alusão directa no texto legal, salvo o facto de
esta possuir relação com outros conceitos previstos, como são os casos da
desertificação55 e da degradação do ambiente56, constantes na lista de noções
prevista no artigo 1.° da Lei do Ambiente.
solo, natural ou provocado pela remoção da cobertura vegetal ou utilização predatória que, devido a
condições climáticas, acaba por transformá-lo num deserto”.
56 Degradação do ambiente: Nos termos do n.º 8 do artigo 1 da Lei do Ambiente “é a alteração adversa
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de conservação, bem como o enquadramento de uma administração
integrada, para o desenvolvimento sustentável do País”.
▪ Política Florestal e Estratégia da sua Implementação (Aprovada pela
Resolução n.° 23/2020, de 27 de Março), cujo objectivo é o de “…garantir a
perpetuação e aumento do património florestal nacional actualmente
existente e geração de benefícios derivados de bens e serviços ambientais
através do reflorestamento, restauração, uso sustentável e geração de valor
dos produtos florestais, incentivando a gestão inclusiva e participativa, em
especial dos grupos vulneráveis, para o benefício económico, social e
ambiental das actuais e futuras gerações.
Resíduos:
▪ Regulamento de Gestão dos Resíduos Biomédicos (aprovado pelo Decreto n.º
8/2003, de 18 de Fevereiro);
▪ Regulamento sobre a Gestão de Resíduos Perigosos (aprovado pelo Decreto n.º
83/2014, de 31 de Dezembro);
▪ Regulamento sobre a Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos (aprovado pelo
Decreto n.º 84/2014, de 31 de Dezembro);
▪ Regulamento sobre a Gestão e Controlo do Saco de Plástico (aprovado pelo
Decreto n.º 16/2015, de 5 de Agosto)
▪ Regulamento sobre a Responsabilidade Alargada dos Produtores e
Importadores de Embalagens (aprovado pelo Decreto n.º 79/2017 de 28 de
Dezembro).
Licenciamento Ambiental:
▪ Regulamento sobre o Processo de Avaliação do Impacto Ambiental (aprovado
pelo Decreto n.º 54/2015, de 31 de Dezembro);
▪ Directiva Geral para a Elaboração de Estudos de Impacto Ambiental
(aprovada pelo Diploma Ministerial n.º 129/2006 de 19 de Julho)
▪ Directiva Geral para a Participação Pública no Processo de Avaliação do
Impacto Ambiental (aprovada pelo Diploma Ministerial n.º 130/2006 de 19
de Julho).
Auditoria ambiental:
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▪ Regulamento sobre o Processo de Auditoria Ambiental (aprovado pelo Decreto
n.º 25/2011, de 15 de Junho).
Biodiversidade:
▪ Regulamento para a Implementação de Projectos Inerentes à Redução de
Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal, Conservação e Aumento
de Reservas de Carbono (aprovado pelo Decreto n.º 23/2018 de 3 de Maio57);
▪ Regulamento da Lei da Protecção, Conservação e Uso Sustentável da
Diversidade Biológica (aprovado pelo Decreto n.º 89/2017, de 29 de
Dezembro)
Fiscalização ambiental:
▪ Regulamento sobre a Inspecção Ambiental (aprovado pelo Decreto n.º
11/2006, de 15 de Junho).
Exercícios
1. Qual a interpretação mais eficaz do direito ambiental que promoveria o
desenvolvimento sustentável no país?
2. Discuta a relevância do direito consuetudinário africano (african customary
law) na protecção do ambiente.
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Sumário da Unidade 1
1. Os magistrados precisam de estar cientes do direito internacional e do direito
nacional do ambiente; Há uma crescente influência do direito ambiental
internacional e de princípios amplamente aceites, especialmente em relação ao
desenvolvimento sustentável
2. O direito do ambiente é intrinsecamente interdisciplinar: os magistrados
precisam de ter um bom entendimento das disciplinas relacionadas.
3. O direito ambiental é um ramo relativamente novo e, portanto, os seus
conceitos, princípios e procedimentos encontram-se em evolução, fazendo com
que o judiciário tenha um papel vital a desempenhar.
Referências Bibliográficas:
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Sugestões Adicionais de Leitura:
1. O. C. Ruppel, & K. Ruppel-Schlichting (Eds.), Environmental Law and Policy in Nigeria:
Towards Making Africa the Tree of Life (2 ed., pp. 53 - 63). Environmental Law and Policy.
2. Ruppel, O. C. (2013). Environmental Law in the African Union (AU).
a) Prevenção
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dessas condições. Os limites de emissão e outras normas do produto ou processo, o
uso das melhores técnicas disponíveis (best available techniques – BAT) e outras
técnicas semelhantes podem constituir aplicações preventivas.
▪ Lei de Florestas e Fauna Bravia (Lei n.º 10/99, de 7 de Julho) – Esta Lei
estabelece o “princípio da prevenção e da prudência”, segundo o qual “A
introdução de espécies animais e vegetais e de tecnologias modernas no sector
florestal e faunístico devem ser precedidos de estudos de avaliação do seu
impacto sobre os mesmos com vista a garantir a sua sustentabilidade”60.
59 Vejam-se Princípios XIV e XV da Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente
e Desenvolvimento (Declaração do Rio - 1992).
60 Cf. Artigo 3.° c) da Lei de Florestas e Fauna Bravia.
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A nível dos Regulamentos o princípio da prevenção encontra-se também consagrado
em mais dois instrumentos jurídicos nacionais, a saber, Regulamento de Gestão de
Resíduos Perigosos (aprovado pelo Decreto n.º 83/2014, de 31 de Dezembro) e
Regulamento de Gestão de Resíduos Sólidos (aprovado pelo Decreto n.º 94/2014, de
31 de Dezembro): Plasmado na alínea c) do artigo 4.°, de cada um dos documentos,
estes consagram o princípio da prevenção como “Princípio da prevenção e redução”,
considerando que “Constitui objectivo prioritário da gestão de resíduos, evitar e
reduzir a sua produção bem como o seu carácter nocivo, devendo a gestão de
resíduos evitar também ou, pelo menos, reduzir o risco para a saúde humana e para
o ambiente causado pelos resíduos sem utilizar processos ou métodos susceptíveis
de gerar efeitos adversos sobre o ambiente”61.
61 Cf. Artigo 4.° c) do Regulamento de Gestão de Resíduos Perigosos, bem como artigo 4.° c) do
Regulamento de Gestão de Resíduos Sólidos.
62 ARAGÃO, Maria Alexandra de Sousa (1997), O Princípio do Poluidor Pagador, Boletim da Faculdade
de Direito, Stvdia Ivridica, n.° 23, Coimbra, Universidade de Coimbra, Coimbra Editora, Coimbra, pp.
116 - 117.
63 GOMES, Carla Amado (2000), A Prevenção à Prova no Direito do Ambiente, Coimbra, Coimbra Editora,
Coimbra, p. 22.
64 SOVERAL, Martins (1988), Legislação Anotada sobre Ambiente e Associações de Defesa, Coimbra,
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Isto quer dizer que, apesar de estreitamente relacionados, o princípio da prevenção
distingue-se do princípio da precaução (que será tratado logo a seguir) na medida em
que lida com os chamados perigos, ou seja, aqueles riscos certos e conhecidos, em
relação aos quais existe, portanto, certeza científica do seu impacto junto do
ambiente67. Apesar de partirem de uma base comum (um momento anterior à própria
ocorrência de danos no ambiente), traduzem duas realidades distintas: a precaução
actua num momento anterior à própria prevenção, isto é, “a precaução exige uma
actuação mesmo antes de se impor qualquer acção preventiva, uma vez que as
medidas destinadas a precaver danos ambientais devem ser tomadas antes de ser
estabelecida qualquer relação causal por intermédio de provas científicas
absolutamente claras”68; Ao passo que “a prevenção tradicional lida com a
probabilidade, a precaução vai além, cobrindo a mera possibilidade – e mesmo a
descoberto de qualquer base de certeza científica”69.
67 Idem, p. 86.
68 DIAS, José Eduardo Figueiredo (2002), Direito Constitucional e Administrativo do Ambiente, Cadernos
CEDOUA, Coimbra, CEDOUA, Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Livraria Almedina,
Coimbra, p. 19.
69 GOMES, Carla Amado (2001), “Dar o Duvidoso pelo (in)certo? Reflexões sobre o Princípio da
Precaução”, Revista Jurídica do Urbanismo e do Ambiente, N.° 15/16, Coimbra, Almedina, IDUAL
Almedina, p.13.
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Conselho Autárquico da Matola vs Ata Construções
Conselho Autárquico da Matola, embargou obras de construção civil numa zona húmida e
de retenção de águas fluviais para evitar inundações nos bairros residenciais. A
construtora intentou uma acção de suspensão da eficácia do acto administrativo praticado
pelas autoridades municipais junto do Tribunal Administrativo da Província da Matola. O
tribunal decidiu a favor da construtora porque esta possuía licença ambiental, licença de
construção e direito de ocupação (Direito de Uso e Aproveitamento da Terra / DUAT)
emitidos pelas próprias autoridades municipais.
b) Precaução
Embora não haja um acordo sobre uma formulação ou “princípio” de precaução que
seja único e usado em todos os contextos, e a precaução não tenha adquirido o
estatuto geralmente aceito como um princípio legal ou como direito internacional
consuetudinário, existe um conceito básico de precaução que entusiasma grande
parte dos regimes modernos de protecção ambiental - a noção de que os reguladores
ambientais frequentemente têm a necessidade de agir no limite do conhecimento e
na ausência de total certeza científica. A precaução tem sido associada de várias
maneiras às ideias de que:
(i) A incerteza científica não deve ser usada como uma razão para não tomar
medidas com relação a uma preocupação ambiental específica;
(ii) Devem ser tomadas acções positivas em relação a uma preocupação ambiental
específica;
(iii) Os envolvidos, em actividade potencialmente prejudicial, devem ter o ónus de
assegurar a inexistência de danos ambientais; e,
(iv) Um Estado pode restringir as importações com base num padrão que envolva
menos do que a certeza científica de danos ambientais.
70GOMES, Carla Amado (2007), Risco e modificação do acto autorizativo concretizador de deveres de
protecção do ambiente, Coimbra, Coimbra Editora, pp. 253 – 264.
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A nível internacional, não obstante a sua presença na lista dos instrumentos
normativos acima mencionados, pode-se destacar a consagração do princípio da
precaução nos seguintes dois documentos:
Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas: “As partes deverão tomar
medidas de precaução para antecipar, prevenir e minimizar as causas das variações
climáticas e mitigar os seus efeitos adversos. Onde existam ameaças de danos sérios
e irreversíveis, a ausência completa de certeza científica não deverá ser usada como
razão para adiar tais medidas (...)”72.
Lei do Ambiente: Nesta Lei proclama-se que a gestão do ambiente deve “priorizar o
estabelecimento de sistemas de prevenção de actos lesivos ao ambiente de modo a
evitar a ocorrência de impactos ambientais negativos significativos ou irreversíveis,
independentemente da existência de certeza científica sobre a ocorrência de tais
impactos”73.
71 Cf. Princípio XV da Declaração do Rio. Veja-se ainda, sobre este assunto, GOMES, Carla Amado
(2007), ob. cit., p. 265 – 269.
72 Cf. Artigo 3.°, da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.
73 Cf. Artigo 4.° c) da Lei do Ambiente.
74 Cf. Artigo 4.° h) da Lei da Conservação da Biodiversidade.
75 Cf. Artigo 5.° b) da Lei de Pescas (Lei n.º 22/2013 de 1 de Novembro).
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ambientais negativos, significativos ou irreversíveis, independentemente da
existência da certeza científica sobre a ocorrência de tais impactos”76.
Natureza”, Lusíada – Revista de Ciência e Cultura, Série de Direito, Especial Ambiente, Porto,
Universidade Lusíada do Porto, p. 530.
82 MARTINS, Ana Gouveia e Freitas (2002), O Princípio da Precaução no Direito do Ambiente, Lisboa,
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(ii) Cabe aos potenciais poluidores ou danificadores a demonstração ou prova de
que uma determinada acção não apresenta quaisquer riscos sérios e
irreversíveis para o ambiente, isto é, assiste-se, neste domínio, a uma
inversão do ónus da prova;
(iii) Em caso de se constatarem sérias dúvidas em relação ao grau de
perigosidade que uma actividade possa representar, em termos sérios e
irreversíveis, para o ambiente, deve-se decidir a favor do ambiente (princípio
“in dubio pro ambiente”);
(iv) A necessidade de salvaguarda da capacidade de carga dos sistemas
ecológicos, garantindo-se a mais ampla margem de segurança na fixação dos
chamados padrões de qualidade ambiental, de modo a realizar a precaução
contra riscos ainda não certos e conhecidos;
(v) Na exigência de desenvolvimento, a introdução das melhores técnicas
disponíveis. Ou seja, este princípio pressupõe a utilização das chamadas
tecnologias limpas;
(vi) A criação e desenvolvimento de áreas de conservação, garantindo uma
espécie de “margem de manobra aos sistemas ecológicos para funcionarem
em total liberdade, de forma a salvaguardar determinadas funções e
potencialidades e garantir a preservação da diversidade genética dos
processos ecológicos essenciais e dos sistemas em que se sustenta a vida na
Terra”83; e,
(vii) A promoção e desenvolvimento da investigação científica e
realização de estudos rigorosos e exaustivos sobre os efeitos e riscos
potenciais de uma actividade. Se, por um lado, a ciência deve estar ao serviço
da protecção do ambiente, por outro, impõe-se a sujeição das políticas, planos
e actividades susceptíveis de causar danos sérios e irreversíveis ao ambiente
a prévios Estudos de Impacto Ambiental (EIA).
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filosóficas sobre a relação do Homem com a natureza e sua responsabilidade face às
gerações vindouras e à Vida na Terra87”.
Num caso da Associação Europeia de Comércio Livre, o Tribunal considerou que era uma
precaução adequada pressupor a identificação de consequências potencialmente negativas
e uma avaliação abrangente do risco com base nas informações científicas mais recentes.
[Processo E-3/00, Órgão de Fiscalização da EFTA v. Noruega, pars. 16, 21.] Segundo o
Tribunal, onde a natureza insuficiente, inconclusiva ou imprecisa das conclusões
científicas relevantes torna impossível determinar riscos ou perigos com alguma certeza,
mas a probabilidade de dano significativo persiste, a decisão de tomar medidas restritivas
é justificada. Os critérios citados pelo Tribunal são os seguintes:
▪ Tais medidas restritivas devem ser não discriminatórias e objectivas e devem ser
aplicadas no âmbito de uma política baseada no melhor conhecimento científico
disponível a qualquer momento.
▪ O princípio da precaução nunca pode justificar a adopção de decisões arbitrárias e a
busca do objectivo de 'risco zero' apenas nas circunstâncias mais excepcionais.
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Infra-estruturas, Serviço Distrital de Actividades Económicas, Polícia de Protecção dos
Recursos naturais e do Meio Ambiente, Saúde e um Procurador da República. A Comissão
realizou visitas de terro, encontros com as comunidades locais e análise laboratorial da
água e foi confirmada a constatação. Como solução foram tomadas as seguintes medidas:
▪ Recomendou-se a Polícia da Protecção dos Recursos Naturais e do Meio Ambiente para
patrulhar e combater o acto;
▪ Sensibilizou-se e consciencializou-se as comunidades para pararem as actividades de
mineração ilegal e poluição do rio;
▪ Produziu-se um documento para facilitar a cooperação entre os ministérios públicos e
as forças policiais dos dois países no combate à poluição.
Neste momento a poluição do rio reduziu e a monitoria contínua em curso.
Ministério Público vs Conselho Municipal
No corrente ano de 2018 o Ministério Público no distrito de Metangula, província de Niassa,
tendo constatado que uma empresa mineira de pedra para construção civil realizava as
suas actividades sem observar as medidas de segurança exigidas por lei, podendo provocar
aluamentos de terra e vitimar seres humanos intimou as autoridades municipais da vila
de Metangula para fiscalizarem a actividade e mandarem repor a legalidade num prazo de
30 dias. As autoridades municipais observaram a intimação do Ministério Público e a
empresa mineira procedeu a conformidade das suas actividades ao estabelecido da
legislação.
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE
___________________
TRIBUNAL ADMINISTRATIVO
PRIMEIRA SECÇÃO
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A decisão do tribunal a quo de considerar que foi intentada uma providência cautelar
prevista no artigo 144 e seguintes da Lei n.º 7/2014, de 28 de Fevereiro, LPPAC, e
consequentemente arrumada a questão do erro na forma do processo suscitada pela
requerida, ora apelante é ilegal, na medida em que do desconhecimento que tinha de que
estava a ser intentado contra si um pedido de intimação a órgão administrativo, a
particular ou a concessionário para adoptar determinada conduta, resultou uma
diminuição das suas garantias, o que viola o disposto no artigo 199.º do Código de Processo
Civil.
Por outro lado, se tivesse tomado conhecimento de que o meio processual acessório
intentado era aquele, teria contestado claramente que a requerente ora apelada, não podia
acusá-lo de estar a violar uma norma do direito administrativo por ser do seu conhecimento
que o plano de reassentamento aguarda a aprovação do Governo e, ter-lhe-ia convidado
para, querendo, intentar um pedido de intimação ao órgão administrativo para aprovar o
plano de reassentamento urbano e não intimar a concessionário a apresentar o
cronograma do reassentamento num prazo de 15 dias, conforme resulta do disposto na
parte final da alínea e) do pedido da recorrida relativamente a um plano de reassentamento
que ainda não foi aprovado pela entidade competente.
Na verdade, o tribunal a quo fez uma tábua rasa e não analisou a questão da falta de
decisão do governo relativamente ao reassentamento e a sua relevância para a ora apelante
no cumprimento das normas do direito administrativo exigido, para, desse modo,
responder à questão de saber se estará a ora apelante a violar tais normas.
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de facto e de direito que justifique, o que viola o disposto na alínea b) do n.º 1 do CPC,
aplicável por força do disposto no artigo 2 da Lei n.º 7/2014, de 28 de Fevereiro, LPAC.
Por outro lado, fez tábua rasa aos fundamentos e provas produzidas e apresentadas pela
apelante, em sede da contestação, que demonstram ser possuidora de um programa de
gestão e monitoria ambiental, aprovado pelo Governo e estar a implementar as diversas
medidas ambientais identificadas nos documentos relevantes para garantir que as
operações da Mina de Benga não causem danos à saúde e ao ambiente das comunidades
circunvizinhas.
A referida decisão é injusta, por obrigar a apelante a mobilizar recursos adicionais que não
estão programados no plano de reassentamento urbano, nem estão disponíveis tendo em
conta a conjuntura económico-financeira que afecta negativamente o sector mineiro
nacional e internacional.
Juntou os documentos de folhas 112 a 118 e 119 verso a 120 verso, dos autos.
Notificada, a entidade apelada, dos presentes autos, veio nos termos constantes de folhas
136 a 139 dos autos referir, com interesse para a causa, que a apelante insiste na questão
da forma processual, contradizendo-se totalmente e socorrendo-se das alíneas a), b), e c)
dos n.ºs 1 e 2 da Constituição da República e, tem vindo a demonstrar a sua falta de
seriedade junto das instituições públicas, privadas e organizações credíveis da
sociedade civil, pois sempre se identificou e tramitou documentos importantes como ICVL,
recorrendo ao carimbo simples que ostenta a designação de Minas de Benga e
sabendo que iria sistematicamente violar as leis dos direitos humanos, em particular,
os direitos dos afectados pela mineradora, sempre salvaguardou esse trunfo, para ludibriar
o tribunal.
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A apelante recusou entregar o cronograma de actividades ao Tribunal Administrativo de
Tete, demonstrando claramente o desconhecimento do seu poder, além de constituir
manobra dilatória, pois o mesmo já existe e foi aprovado pelo Governo e pela respectiva
comissão de reassentamento, tendo o Governo já partilhado oficialmente.
Por outro lado, a concessionária refere categoricamente que existem condições financeiras
para o reassentamento e, apenas, pretende o aval do Governo, facto já consumado há
bastante tempo, tanto é que a materialização do plano de actividades deveria ter iniciado
em Junho de 2015.
Aliás, não se constrói uma casa modelo sem a prévia autorização do Governo e “do espaço
físico”, tal como aconteceu na sede de Capanga em que a ICVL não quis fazer a entrega ou
amostra final aos beneficiários para, sucessivamente, dar seguimento ao cronograma
aprovado pelo Governo. Refira-se que a casa modelo só veio a ser concluída com a
pressão feita pelo Governador da Província de Tete, no dia 3 de Fevereiro de 2016.
Por outro lado a Liga dos Direitos Humanos já participou em vários encontros relacionados
com esta matéria e na presença dos membros do Governo representados por diferentes
áreas de tutela, bem como a comunidade afectada, quer ao nível do Governo Distrital quer
ao nível do Governo Provincial, contribuindo com alguns conselhos jurídicos, porém,
constatou-se que a concessionária nunca demonstrou vontade prática de avançar com o
reassentamento.
A população afectada, já cansada e sem esperança, optou por organizar uma manifestação
pacífica, porém, em resposta, a concessionária accionou a Força de Intervenção Rápida
que, usando balas verdadeiras, dispersou com actos de tortura e detenções, sob a acusação
de terem organizado uma manifestação ilegal.
Daqui resulta que aquela população deve ser retirada daquele local, porquanto a mina não
deve conviver com aqueles concidadãos, sob pena de reduzir drasticamente a sua
esperança de vida, além de o seu progresso económico e social estar paralisado por ordens
expressas das próprias mineradoras, pois não pode colocar nenhuma infra-estrutura, para
além daquelas que já foram registadas em 2010.
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Em sede da petição da providência, o ora apelado tinha requerido a paralisação temporária
das actividades da mina, porém este pedido não foi dado provimento pelo tribunal a quo
que ponderou em função dos fundamentos apresentados no acórdão, e os pontos
impostos pelo tribunal são razoáveis, partindo do princípio que a legislação mineira em
vigor em Moçambique obriga a que os titulares mineiros realizem acções de
desenvolvimento social e económico e sustentáveis nas áreas de concessão mineira;
entretanto, neste local não existe alguma infra- estrutura social senão um posto
médico móvel, resultante das reclamações, mas que, também, nunca funcionou.
Reafirma, ainda, que o titular da concessão deve indemnizar os utentes da terra por
quaisquer danos causados à terra e propriedades, resultantes da operação mineira e
respeitar as comunidades locais, e contribuir para a preservação dos aspectos sócio-
culturais das comunidades, o que não se verifica no local, em violação do disposto na alínea
b) do n.º 2 do artigo 44 da Lei de Minas.
Termina, requerendo:
O processo foi continuado com vista ao Ministério Público, onde o Digníssimo Magistrado
promoveu a improcedência do recurso e a manutenção do Acórdão n.º 1/TAPT/2016, do
tribunal a quo, por falta de fundamentos legais para a sua anulação, pois, a decisão
relativa à intimação para a ora apelante apresentar o cronograma de reassentamento
urbano é justa e legal, porquanto dos autos constata-se que a apelante submeteu e o
Governo do Distrito de Moatize aprovou o Plano de reassentamento urbano.
Outrossim, o tribunal a quo decidiu que a apelante deve criar condições para o alojamento
das famílias que se encontrem próximos da mina, enquanto aguardam pelo
reassentamento urbano, com fundamento na alínea k) do n.º 6 do artigo 15 da lei n.º
14/2002, de 26 de Junho, Lei de Minas, em vigor na altura da concessão mineira, posição
com a qual concorda por ser um dever da concessionária compensar os titulares pelos
danos causados à terra e propriedade resultantes das operações mineiras (folhas 149 a
150 dos autos).
Vem a apelante, ICVL - Minas de Benga, Limitada, impugnar o Acórdão n.º 1/TAPT/2016,
de 19 de Fevereiro, do Tribunal Administrativo da Província de Tete, que o intimou para,
no prazo de 30 dias, compensar as famílias pelas machambas destruídas em consequência
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da actividade mineira, a apresentar o plano de responsabilidade social e o cronograma de
reassentamento urbano, bem como criar condições para o alojamento das famílias que se
encontram próximas da mina enquanto aguardam pelo reassentamento.
Refere que a decisão em causa é nula, injusta e ilegal, por não especificar os fundamentos
de facto e de direito que a alicerçam, por colocá-la em risco de suportar custos que seriam
evitáveis caso a execução do plano de reassentamento fosse precedida da aprovação do
mesmo pelo Governo, nos termos da lei, e pelo facto de ter submetido o plano
de reassentamento urbano para aprovação do Governo, o que ainda não aconteceu e, a
aprovação é o requisito legal que faz depender a validade e execução do referido plano de
reassentamento urbano.
Refere, ainda, que a decisão do tribunal a quo é ilegal, na medida em que considerou
arrumada a questão do erro da forma do processo que havia suscitado, pois desconhecia
que estava a ser intentado um pedido de intimação à concessionária para a adoptar certa
conduta o que resultou na diminuição das suas garantias, pois, se assim soubesse, teria
convidado a ora apelada a intentar um pedido de intimação do Governo para aprovar o
plano de reassentamento, por este aguardar a referida aprovação, facto que é do seu
conhecimento.
Por outro lado, resulta do disposto na alínea k) do n.º 6 do artigo 15 e alínea g) do n.º 2 do
artigo 18, ambos da Lei n.º 14/2002, de 26 de Junho, que o titular da concessão mineira
deve compensar os respectivos titulares pelos danos causados à terra e propriedades
resultantes das operações mineiras. Portanto, a decisão do tribunal a quo, encontram o
seu fundamento nas disposições legais acima citadas, até porque trata-se de um dever que
consta dos termos e condições da concessão mineira, conforme resulta do n.º 3, alínea
a) daqueles termos (vide fls. 51 dos autos).
Outrossim, quanto ao erro na forma processo, importa, unicamente, a anulação dos actos
que não podem ser aproveitados, devendo ser praticados os que forem estritamente
necessários para que o processo se aproxime, quanto possível, à forma estabelecida por
lei, conforme prescreve o n.º 1 do artigo 199.º do CPC. Ora, no caso vertente, o único acto
que havia sido praticado é a citação para contestar, que é válida para os dois meios
processuais acessórios.
Ademais, à citação, a ora apelante respondeu e exerceu amplamente o seu direito de defesa,
tendo até se referido que o processo deve ser julgado improcedente por não haver
necessidade de o TAPT intimá-lo para adoptar certo comportamento ou abster-se de
certa conduta, por ter demonstrado que está a adoptar o comportamento necessário com
vista a cumprir as suas obrigações resultantes do contrato mineiro. Isto por si só
demonstra que além de ter percebido o conteúdo da petição, o apelante percebeu, também,
qual era o meio processual adequado para o caso, razão pela qual contestou, também,
relativamente à intimação, daí que não se mostram diminuídas as suas garantias.
Por todo o exposto, os Juízes Conselheiros da Primeira Secção deste Tribunal, em segunda
instância, decidem, acolhendo a douta promoção do Digníssimo Magistrado do Ministério
Público, negar provimento ao recurso interposto por ICVL - MINAS DE BENGA, LDA,
por falta de fundamento legal.
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Custas pela apelante que se fixam em 7.000,00MT (Sete mil meticais).
c) Poluidor pagador
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custos para a prevenção e eliminação da poluição por si causada, no exercício das
actividades pesqueiras e complementares da pesca”92.
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externalidade, pois, na sua incidência sobre terceiros, inexiste qualquer mediação.
Ela é directa, sem qualquer mecanismo de mercado ou jurídico 97.
97 ANTUNES, Paulo de Bessa (2002), Dano Ambiental – Uma Abordagem Conceitual, Rio de Janeiro,
Editora Lumen Juris, p. 214.
98 ARAGÃO, Maria Alexandra de Sousa (1997), O Princípio do Poluidor Pagador, Boletim da Faculdade
de Direito, Stvdia Ivridica, n.º 23, Coimbra, Universidade de Coimbra, Coimbra Editora, p. 36.
99 DA SILVA, Vasco Pereira (2001), Verde Cor do Direito, Lições de Direito do Ambiente, Coimbra,
de Direito, Stvdia Ivridica, n.º 23, Coimbra, Universidade de Coimbra, Coimbra Editora, pp. 123 - 124.
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regulamentares sobre a produção ou o produto corresponderem ao custo real da
protecção e dos danos ambientais.
O princípio pode ser aplicado mais facilmente numa região geográfica sujeita a leis
ambientais uniformes, como um estado ou uma organização regional de integração
económica. O poluidor pode ser definido como aquele que danifica o ambiente directa
ou indirectamente ou cria condições que levam a esse dano.
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As alegações eram de que o Governo da Nigéria tinha estado envolvido na produção de
petróleo num consórcio com a Shell Petroleum Development Corporation (SPDC), e que as
operações petrolíferas causaram degradação ambiental e problemas de saúde resultantes
da contaminação do ambiente entre o povo Ogoni.
A Comissão Africana considerou que a República Federal da Nigéria violou os Artigos 2, 4,
14, 16, 18 (1), 21 e 24 da Carta Africana e apelou ao Governo para garantir a protecção do
ambiente, da saúde e dos meios de subsistência do povo de Ogoniland nos seguintes
termos:
• Garantir que avaliações de impacto ambiental e sociais adequadas para qualquer
futuro desenvolvimento petrolífero e que o funcionamento seguro de qualquer futuro
desenvolvimento petrolífero seja garantido através de organismos de supervisão
eficazes e independentes para a indústria petrolífera
Feito na 30ª sessão ordinária realizada em Banjul, Gâmbia de 13 a 27 de outubro de 2001.
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Ministério Público vs Jindal (Empresa mineira de carvão)
A Jindal, Empresa mineira de carvão que opera no distrito de Moatize, província de Tete,
polui o ar acima dos padrões ambientais aceitáveis com a emissão de partículas sólidas de
poeira para a atmosfera. O Ministério Público intentou uma acção de providência cautelar
junto do Tribunal Distrital de Moatize para que a empresa realizasse as suas actividades
em conformidade com a lei ambiental. O tribunal deu provimento ao pedido do Ministério
Público.
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décadas. Um exemplo da sua consagração foi a sua adopção na Declaração da
Conferência do Rio (1992).
A Declaração previu ainda que “os Estados deverão desenvolver a legislação nacional
relativa à responsabilidade e à indemnização referente às vítimas da contaminação
e outros danos ambientais. Os Estados deverão cooperar de maneira diligente e mais
decidida no preparo de novas leis internacionais sobre responsabilidade e
indemnização pelos efeitos adversos dos danos ambientais causados pelas
actividades realizadas dentro de sua jurisdição, ou sob seu controlo, em zonas
situadas fora de sua jurisdição109.
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Lei do Ambiente: Em Moçambique a Lei do Ambiente consagrou o princípio da ampla
participação no leque de princípios fundamentais111, impondo ao Estado “a obrigação
de criar mecanismos adequados para envolver os diversos sectores da sociedade civil,
comunidades locais, em particular as associações de defesa do ambiente, na
elaboração de políticas e legislação relativa à gestão dos recursos naturais do país,
assim como no desenvolvimento das actividades de implementação do Programa
Nacional de Gestão Ambiental”112, e consagrando os direitos de todo o cidadão de
acesso à informação e à justiça113.
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responsabilidades comuns mas diferenciadas. A Declaração estabelece que “Os
Estados deverão cooperar com o espírito de solidariedade mundial para conservar,
proteger e restabelecer a saúde e a integridade do ecossistema da Terra. Tendo em
vista que tenham contribuído notadamente para a degradação do ambiente mundial,
os Estados têm responsabilidades comuns, mas diferenciadas. Os países
desenvolvidos reconhecem a responsabilidade que lhes cabe na busca internacional
do desenvolvimento sustentável, em vista das pressões que suas sociedades exercem
sobre o meio ambiente mundial e das tecnologias e dos recursos financeiros de que
dispõem115.
Lei de Águas: A Lei de Águas prevê que a cooperação internacional tem em vista os
objectivos de a)“adopção de medidas coordenadas de gestão dos cursos de água de
uma bacia hidrográfica, tendo em conta os interesses de todos os estados
interessados”; b)“repartição das águas de interesses comum e seu aproveitamento
conjunto”; c)“preparação ou realização conjunta de investigação, projectos e
construção de infra-estruturas”; d)“controlo da qualidade de água, da poluição e da
erosão dos solos”; e, e) “troca de informação sobre questões de interesse comum” 119.
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internacionais e na harmonização de políticas sectoriais internas para garantir uma
pesca e aquacultura responsáveis”121.
Lei de Conservação da Biodiversidade: Esta lei proclama “a plena assunção pelo país
do seu papel no esforço global e regional para garantir a conservação da diversidade
biológica cumprindo com as obrigações ambientais convencionadas e no
desenvolvimento de formas de gestão integrada onde os ecossistemas são partilhados
com países vizinhos e se ligam às obrigações internacionais”122.
Ao nível da doutrina, defende-se que “a cooperação deve ser entendida como política
solidária dos Estados, tendo em tela, a necessidade intergeracional de protecção
ambiental. Por isso importa uma soberania menos egoísta dos Estados e mais
solidária no aspecto ambiental, com a incorporação de sistemas mais efectivos de
cooperação entre Estados, em face das exigências de preservação ambiental. Implica
em uma política mínima de cooperação solidária entre Estados em busca de
combater efeitos devastadores da degradação ambiental. A cooperação pressupõe
ajuda, acordo, troca de informações e transigência no que atine a um objectivo macro
de toda colectividade. Mais do que isto, aponta para uma atmosfera política
democrática entre os Estados, visando um combate à crise ambiental global”123.
Pode-se considerar que este princípio possui três importantes dimensões 124:
(i) O apoio financeiro e científico-tecnológico prestado pelos países desenvolvidos
aos países pobres, para acções de protecção e conservação do ambiente no
interior dos respectivos espaços territoriais;
(ii) O intercâmbio ou colaboração na prestação de informações; e,
(iii) A criação de projectos transfronteiriços de protecção e conservação da
natureza.125
Esta Convenção definiu as bases para o acesso e a repartição justa e equitativa dos
benefícios sobre os recursos126. Para o efeito, foi celebrado o Protocolo de Nagoya
Sobre Acesso a Recursos Genéticos e a Partilha Justa e Equitativa dos Benefícios
Derivados de Sua Utilização (Japão, 2010).
Natureza”, Lusíada – Revista de Ciência e Cultura, Série de Direito, Especial Ambiente, Porto,
Universidade Lusíada do Porto, p. 534.
124 SERRA, Carlos Manuel, CUNHA, Fernando (2008), ob. cit. 185.
125Idem, p. 185
126 Vejam-se em especial os artigos 15.° e 19° da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade
Biológica.
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A principal materialização deste princípio encontra-se no Regulamento sobre Acesso
e Partilha de Benefícios Provenientes de Recursos Genéticos e Conhecimento
Tradicional Associado, aprovado pelo Decreto n.º 19/2007, de 9 de Agosto, o qual
estabelece as regras para o acesso a componente dos recursos genéticos, sua
protecção, bem como ao conhecimento tradicional a ele associado e relevante à
conservação da diversidade biológica, à utilização sustentável, incluindo a repartição
justa e equitativa dos benefícios derivados da sua utilização e exploração127.
A solução de uma boa parte dos problemas gerados pela humanidade vão muito além
da intervenção isolada dos Estados e organizações, requerendo uma efectiva aliança
global, um comprometimento incondicional e uma entrega acérrima na respectiva
resolução, ainda que tal signifique ceder no que for necessário para prosseguir
objectivos comuns, como postula, por exemplo, o Objectivo de Desenvolvimento
Sustentável n.º 17 da ONU, que consiste em “Fortalecer os meios de implementação
e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável”128.
g) Boa-Governação Ambiental
127 Na esteira da consagração do princípio do reconhecimento e valorização das tradições e do saber das
comunidades locais, constante na alínea b) do artigo 4.° da Lei do Ambiente.
128 https://nacoesunidas.org/conheca-os-novos-17-objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel-da-
onu/ acedido a 6 de Fevereiro de 2019.
129 Veja-se http://web.unep.org/regions/brazil/other/governan%C3%A7a-ambiental acedido a 6 de
Fevereiro de 2019.
130 SERRA, Carlos, SALOMÃO, Alda – coordenação (2012), 1.º Relatório de Monitoria de Boa Governação
na Gestão Ambiental e dos Recursos Naturais em Moçambique (2010 – 2011), Centro Terra Viva, Maputo,
p. 30.
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REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE
TRIBUNAL ADMINISTRATIVO
PRIMEIRA SECÇÃO
Justiça Ambiental, com os demais elementos de identificação constantes dos autos, veio
perante esta instância jurisdicional impugnar, por agravo, o Acórdão n.o 03/TAPT/2016,
do Tribunal Administrativo da Província de Tete, de 26 de Fevereiro, ao abrigo do artigo
166 e seguintes da Lei n.o 7 /2014, de 28 de Fevereiro, estribando-se, essencialmente, nos
seguintes termos e fundamentos:
Também ficou claro e demonstrado que as comunidades em causa ainda não foram
reassentadas, processo que esta ainda numa fase preliminar e que, no local de
reassentamento, apenas há sinal de processo de construção das primeiras 10 casas do
total de 289 casas por construir.
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habitação condigna e direitos sobre a terra das comunidades afectadas por este projecto,
o que não esta a acontecer no caso vertente.
O reassentamento em questão ainda não aconteceu, conforme ficou provado nos autos e
não existe nenhum reassentamento provisório que tenha sido levado a cabo nos termos da
lei. Ademais, não está claro o período e critérios para a efectivação do reassentamento,
conforme manda a lei.
A apelante termina as suas alegacões pedindo que seja revogado o acórdão por manifesta
violação da lei, concretamente, pela falta de fundamentos na decisão que proferiu, com as
devidas cominações legais.
Notificada a JSPL Moçambique Minerais, Lda. - Jindal, para contra- alegar, inicia
dizendo que, os processos para reconhecimento de direitos legalmente protegidos, ou
mesmo, intimação para determinado acto, devem ser propostos contra o órgão
administrativo competente para praticar actos administrativos decorrentes do
reconhecimento do direito ou interesse impostos cuja titularidade o autor se arroga,
nos termos do artigo 122 da Lei n.o 7/2014, de 28 de Fevereiro.
Ora, no caso em concreto o Estado não possui a legitimidade para o efeito, isto é, a
intimação para adopção de determinado comportamento deve ser proposto contra o órgão
administrativo, nos termos do n.o 1 do artigo 144 da LPAC e o Estado Moçambique não é
um órgão administrativo, concessionário e nem particular. O Estado de Moçambique,
através do Governo da República de Moçambique é que celebrou contrato de concessão
com a requerida, do exposto, dúvidas não restam que estamos perante uma
ilegitimidade passiva do Estado Moçambicano.
Page 61 of 187
que esta segue todas as normas de prevenção estabelecidas para evitar ou reduzir
ao máximo a poluição, tanto que foi emitida a licença de exploração.
"Ademais, ficou também provado que as famílias afectadas que residiam dentro da área de
concessão, esta parcela de terra já foi desanexada para efeitos de reassentamento e que os
reassentados ainda recebem um subsidio de reassentamento provisório enquanto esta em
curso a construção de casas T3, nos termos do Memorando de Entendimento assinado
entre o Governo da Província de Tete Comunidade Local, Governo Distrital e outros
intervenientes sociais".
Termina, requerendo que seja julgado improcedente o presente recurso por falta de
provas e de fundamentos legais e, em consequência, seja mantido o Acórdão
recorrido, porque justo, absolvendo-se a recorrida da instância.
" ( ... )
Entendemos que o pedido da apelante, por via da presente intimação, não pode proceder,
pois a intimação para adoptar determinado comportamento deve ser proposta nos termos
do artigo 144, n.o 1, da Lei n.o 7/2014, de 28 de Fevereiro, ou seja, a
requerida, Estado Moçambicano, não é um órgão administrativo, concessionário e nem
particular, Portanto, é parte ilegítima.
No que respeita ao direito a habitação condigna, direitos sobre a terra das comunidades
e famílias afectadas pela actividade da exploração mineira estes mostram-se garantidos e
protegidos.
No dia 2 de Junho do presente ano, o Governo da Província de Tete esteve reunido com
a comunidade de Cassoca sobre a questão do reassentamento, onde se reproduziu
um Memorando de Entendimento entre a empresa JINDAL e aquela comunidade
relativa a reestruturação física do reassentamento.
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para os reassentados, que saíram de casas construídas com material precário e
passaram a morar numa pequena Vila adequadamente ordenada em casas de material
convencional (tipos 1, 2 e 3).
Demonstradas e provadas as acções levadas a cabo pelo Governo, não se sabe a razão
pela qual a requerente afirma que a dignidade humana não é respeitada e protegida,
pois as casas são tecnicamente seguras, há produção e comercialização agrícola nas
comunidades, construíram-se escolas, postos de saúde, estradas, entre outras infra-
estruturas".
Termina, concluindo que "deve a excepção ser considerada procedente e absolvido o Estado
da instância; se assim não se entender, o que será por mera hipótese, a presente acção
deve ser julgada improcedente, por falta de fundamentos legais".
Compulsados os autos, afere-se que o apelante veio perante esta instância jurisdicional
impugnar o Acórdão n.o 03/TAPT/ 16, do Tribunal Administrativo Provincial de
Tete, por manifesta violação da lei, concretamente na falta de fundamentos da
decisão que proferiu para e, em consequência disso, revogar-se o acórdão
impugnado, com as devidas cominações legais.
Ficou claro que a apelante pretende que o Estado Moçambicano e a empresa JINDAL
adoptem determinado comportamento, no sentido de garantir e efectivar os direitos
sobre a terra, a habitação condigna e direito ao ambiente as referidas comunidades.
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Contencioso - LPPAC), o tribunal deve conhecer do fundo da questão sempre que se
possa depreender a intenção do demandante, não podendo abster-se de julgar a pretexto
da falta ou obscuridade da lei, falta de provas ou de outro qualquer motivo que não
estiver taxativamente previsto na lei.
Neste caso, o entendimento que se deve ter e de que se trata do Estado Administração,
concretamente, o Governo da Província de Tete que, de forma especifica, rubricou,
em nome do Estado, o Memorando de Entendimento com a Comunidade de Cassoca
e a Jindal, onde constam obrigações a serem cumpridas por esta última, as quais
estão em curso (fl.s. 38 a 42).
Por isso, a responsabilidade deste Estado - Administração é maior, por lhe caber
prosseguir o interesse colectivo, o bem-estar das comunidades, pelo que, deste ponto
de vista, é parte legitima.
Por outro lado, o projecto prevê criar 1700 postos de empregos, dos quais 1270 para
nacionais (fls. 94), o equivalente a 70% da mão-de-obra proveniente da comunidade
afectada, sendo que, "o reassentamento visa impulsionar o desenvolvimento
socioeconómico do pais e garantir que a população afectada, tenha uma melhor
qualidade de vida, equidade social, tendo em conta a sustentabilidade dos aspectos
físicos, ambientais, sociais económicos", tal como prevê o artigo 5 do Decreto n.o
31/2012, de 8 de Agosto, que aprova o Regulamento sabre o Processo de Reassentamento
resultante de Actividades Econ6micas.
Com efeito, dos autos nota-se que a JPSL Mozambique Minerais, Lda. {Jindal) tem o Plano
de Reassentamento desde 2013, assinou o Memorando supra citado na sequência da
reunião de 02 de Junho de 2015, tendo-se comprometido a erguer as casas no prazo
de um ano e seis meses, prazo que já expirou.
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Ambiental, e, em consequência, intimam a JINDAL Moçambique Minerais, Lda. e ao
Governo da Província de Tete a, no período de seis meses a contar da
notificação do presente acórdão, finalizarem o processo de reassentamento da
comunidade de Cassoca.
Decretam, ainda, a anulação do Acórdão n.o 03/TAPT/ 2016, por erro na aplicação da
lei.
Registe-se e notifique-se
Ver o que pode significar a criação da ITIE e da Coligação Cívica sobre a Indústria
Extractiva (pode-se pesquisar muita informação na Internet)
Exercícios
1. Quais são as diferenças entre os princípios de prevenção, precaução e poluidor-
pagador?
2. Discussão 1: Os queixosos interpuseram uma acção de proibição do fabrico
e/ou distribuição de herbicidas hormonais no país. Os demandantes alegam
que a produção e utilização de herbicidas hormonais irá prejudicar o ambiente
e outras plantas cultivadas no país. Em alternativa, os queixosos alegam
também que qualquer dano provável ao ambiente poderia ter sido evitado se os
arguidos tivessem tomado precauções e contido o fabrico e a rotulagem do
produto num ambiente seguro. Discutir este caso considerando os princípios
da prevenção, da precaução e do poluidor-pagador, partindo do princípio de
que os três princípios estão incorporados na legislação ambiental do país.
3. Discussão 2: O queixoso explora uma fábrica localizada junto a casas
residenciais, incluindo os queixosos que alugaram apartamento. O queixoso
alegou que o fumo é desagradável, venenoso, repelente e perigoso para a
comunidade em redor e para o queixoso em particular, que já é afectado na
saúde. Discutir o princípio do poluidor-pagador. Quais são as causas da acção
e as vias de recurso disponíveis?
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Resumo da Unidade 2
1. A ambiguidade dos princípios de prevenção, precaução e poluidor-pagador na
adjudicação dos processos.
2. Cálculo dos custos da poluição
3. Aspectos técnicos na aplicação dos princípios de prevenção, precaução e
poluidor-pagador.
4. Factores utilizados pelos tribunais para aplicar o princípio da precaução:
a) Ameaças à vida ou à saúde humanas;
b) Desigualdade em relação as gerações presentes ou futuras.
5. .…
Referências Bibliográficas:
Convenções Regionais Africanas e Internacionais
• 1992 Rio Declaration of Environment and Development.
• Bamako Convention on the Ban of the Import into Africa and the Control of
Transboundary Movement and Management of Hazardous Wastes within Africa,
Africa Union Commission (2018). Date of Adoption: January 30, 1991; Date entry into
force: April 22, 1998.
• 1981 African (Banjul) Charter on Human and People’s Rights. Date of Adoption: 27
June 1981, OAU Doc. CAB/LEG/67/3 rev. 5, 21 I.L.M. 58 (1982), entered into force
21 October 1986)
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escalada de emissões de gases que provocam um efeito estufa, isto é, num aumento
do calor solar e, consequentemente, na geração de um conjunto de impactos
negativos significativos no Planeta.
Importa ter presente que a vida na Terra existe por acção da energia solar, dado que
uma parte da radiação infravermelha emitida pelo Sol é retida pela atmosfera,
precisamente por acção dos gases com efeito estufa, mantendo as temperaturas
globalmente amenas. Se a atmosfera não fosse afectada por nenhum gás com efeito
estufa, teríamos na terra uma temperatura média de -18.°C131. Assim sendo, os
aquecimentos e arrefecimentos ao longo da história do Planeta estão associados à
maior ou menor libertação de dióxido de carbono e de outros gases com efeito estufa,
determinando o estado do clima e as condições para o desenvolvimento de todas as
formas de vida132. Do leque de gases com efeito estufa, o carbono merece o destaque,
por se tratar do quarto elemento mais abundante do Planeta, depois do Hidrogénio
(H), do Hélio (He) e do Oxigénio (O). Ele encontra-se presente na atmosfera, na crosta
terrestre e nos oceanos (de longe os maiores depositários de carbono), bem como em
todas as formas de matéria inorgânica e orgânica, enquanto elemento fundamental
que compõe as moléculas orgânicas133.
131 LYNAS, Mark (2009), Seis Graus – o aquecimento global e o que você pode fazer para evitar uma
catástrofe, Rio de Janeiro, Zahar, p. 15.
132 SERRA, Carlos Manuel (2012), Da Problemática Ambiental à Mudança Rumo a um Mundo Melhor,
que podemos fazer em relação a isso, 2.ª Edição, Lisboa, Esfera do Caos, pp. 26 – 27.
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ano de 2016 é, até ao presente momento, considerado o ano mais quente de sempre,
desde que iniciaram as medições, segundo o Relatório Anual do Estado do Clima, da
Sociedade Americana de Meteorologia136. De facto, todos os dez anos mais quentes
desde 1980 são do século XXI137.
No caso dos países africanos, em particular, o problema não é tanto ocasionado por
tempestades súbitas, seguidas de inundações, tal como acontece nos continentes
Asiático e Americano, mas sim, fundamentalmente, com fenómenos que se
manifestam bem mais lentamente, ocasionando danos muitas vezes negligenciados
nos levantamentos de desastres naturais – especialmente à estiagem e consequente
desertificação. Vários países africanos estão a ressentir-se de um longo período de
redução ou limitação de precipitação, ocasionando consequências dramáticas para
as suas economias e populações. Há causas imediatas, como por exemplo, o recurso
a políticas erradas de ordenamento do território e uso dos solos, o desflorestamento,
a pastagem excessiva e o uso intensivo das reservas de águas para fins de
irrigação138. Mas há também que atender às mudanças climáticas resultantes do
aquecimento global, que há muito se estão a registar, muito antes de se falar em
semelhante conceito, o que, de algum modo, criou uma ilusão sobre a realidade e
gravidade do fenómeno.
136 https://www.publico.pt/2017/08/11/mundo/noticia/confirmase-2016-foi-o-ano-mais-quente-de-
sempre-1782043, acedido a 16 de Janeiro de 2019.
137 In. http://www.publico.pt/ciencia/noticia/2013-foi-o-quarto-ano-mais-quente-desde-1880-diz-
agencia-dos-eua-1620606
138 ABRAMOVITZ, Janet N. (2001), Evitando Desastres Naturais, In. Estado do Mundo 2001, UMA
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locais subsequentes. Um eventual acordo climático que obrigue à redução de
emissões poderá, no entender deste bloco, comprometer o tão almejado crescimento
económico, por via da quebra do lucro das empresas e, consequentemente, o bem-
estar colectivo.
A desertificação constitui uma das formas de degradação dos solos. Ela afecta
particularmente a África, onde dois terços do continente são já formados por desertos
ou terras áridas e a degradação afecta já 73% das terras áridas cultiváveis141. Ora,
“as secas prolongadas são frequentes e afectam países, muitos dos quais, não
dispõem de litoral, tornando difíceis as comunicações. A maioria dos países é
afectada pela pobreza generalizada e muitos deles encontram-se entre os países
menos desenvolvidos. A pobreza generalizada deixa a população sem alternativas,
provocando muitas das vezes a exploração predatória da terra. O resultado é quase
sempre o surgimento de migrações internas e transfronteiriças, debilitando ainda
mais o meio ambiente e causando tensões e conflitos sociais e políticos”142.
Por ano, devido à seca e desertificação, 12 milhões de hectares são perdidos, o que
perfaz 23 hectares por minuto, um espaço que permitiria a produção de cerca de 20
milhões de toneladas de grãos143.
140 Definições adoptadas pela Convenção das Nações Unidas sobre a Desertificação.
141 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE (2007), Plano de Acção Nacional de Combate à Seca e à
Desertificação, Maputo, MICOA.
142 Idem, pp. 11 – 12.
143 https://nacoesunidas.org/conheca-os-novos-17-objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel-da-
onu/, Acedido a 27 de Dezembro de 2018.
144 Segundo um estudo intitulado “Economia da degradação dos solos”, realizado pelo Instituto para
Água, Meio Ambiente e Saúde da ONU, sedeado em Hamilton, Canadá, tornado público em 2013. Veja
em https://brasil.efeagro.com/noticia/degradacao-do-solo-custa-us-40-bilhoes-por-ano-em-todo-o-
mundo/ Acedido a 27 de Dezembro de 2018.
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como principais causas da degradação dos solos: a má gestão do solo, as crises de
fome relacionadas com secas e as percepções erróneas da abundante produção de
comida, grandes reservas de alimentos na Europa, fronteiras abertas, comida
subvencionada relativamente barata, baixos preços do solo e abundantes recursos
energéticos e aquíferos145.
c) Perda de Biodiversidade
A biodiversidade é um conceito relativamente novo na história da ciência, tendo sido
idealizado por Walter G. Rosen, do National Research Council / National Academy of
Sciences (NRC/NAS), no ano de 1985, quando participava na organização de um
fórum sobre diversidade biológica, que veio a ter lugar em Washington, de 21 a 24
de Setembro de 1986 (Fórum Nacional sobre Biodiversidade)148. Este termo foi
desenvolvido a partir do conceito de diversidade biológica, que já vinha sendo
utilizado há vários anos, baseando-se na combinação da palavra de origem grega
“bio” (vida) com a palavra “diversidade”149.
Considera-se que “a diversidade de formas de vida, em número tão grande que ainda
temos que identificar a maioria delas, é a maior maravilha deste planeta. A biosfera
é uma tapeçaria intrincada de formas de vida que se entrelaçam. Até mesmo a
aparentemente tundra ártica é sustentada por uma complexa interacção de muitas
espécies de plantas e animais, incluindo as ricas ordens de líquenes simbióticos.
…estamos alterando e destruindo os ambientes que criaram a diversidade de formas
de vida por mais de um bilião de anos”151.
145 Idem.
146 Veja-se https://nacoesunidas.org/onu-pede-mudanca-nos-padroes-de-consumo-para-evitar-seca-
e-desertificacao/, acedido a 27 de Dezembro de 2018.
147 https://nacoesunidas.org/conheca-os-novos-17-objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel-da-
onu/ Acedido a 27 de Dezembro de 2018.
148 FRANCO, José Luiz de Andrade (2013), O conceito de biodiversidade e a história da biologia da
2.ª Impressão.
151 WILSON, E. O. (1997), ob. cit., (sem número de página).
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Por biodiversidade entende-se a variedade e variabilidade entre os organismos vivos
de todas as origens incluindo, entre outros, os ecossistemas terrestres marinhos e
outros ecossistemas aquáticos, assim como os complexos ecológicos dos quais fazem
parte a diversidade dentro de cada espécie entre as espécies e de ecossistemas152.
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A caça ilegal é responsável pela redução drástica de espécies de fauna bravia no
continente africano, incluindo Moçambique, na sequência da procura de carne para
alimentação, de troféus e exemplares vivos para as redes de tráfico, e por causa do
conflito entre seres humanos e animais. O aumento exponencial da população
africana e a demanda por novas áreas para agricultura, pasto e urbanização
desencadeia igualmente uma grande pressão sobre os recursos faunísticos.
159 https://observador.pt/2018/07/25/caca-furtiva-em-africa-rende-anualmente-ate-17-mil-milhoes-
de-euros/ Acedido a 10 de Fevereiro de 2019.
160 ANDERSON, Bradley e JOOSTE, Johan (2014), “Caça Furtiva de Vida Selvagem: A Ameaça Crescente
do Tráfico em África”, Resumo de Segurança em Africa, N.° 28, Maio 2014, Centro de Estudos
Estratégicos de Africa, Washington. https://africacenter.org/wp-content/uploads/2016/06/ASB28PT-
Ca%C3%A7a-Furtiva-de-Vida-Selvagem-A-Amea%C3%A7a-Crescente-do-Tr%C3%A1fico-em-
%C3%81frica.pdf
161 https://www.dw.com/pt-002/a-fauna-de-%C3%A1frica-em-perigo/g-37800048, acedido a 10 de
Fevereiro de 2019.
162 Idem. Veja-se também https://www.pensamentoverde.com.br/meio-ambiente/principais-animais-
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reduzir-se para menos de metade. Felizmente, os esforços do Governo e parceiros
resultaram na normalização da situação, sabendo-se hoje que, nesta área de
conservação, não há registo do abate de elefantes já la vão dois anos.
f) Queimadas Descontroladas
Em Moçambique, a questão florestal constitui um problema e desafio antigo, que tem
merecido debates sobre a necessidade de uma reforma do sector florestal, capaz de
garantir a exploração sustentável dos diversos recursos florestais, bem como a
prestação dos imensos e ricos serviços florestais não madeireiros. Foi recentemente
publicado o Inventário Florestal Nacional (2018), pelo então Ministério da Terra,
Ambiente e Desenvolvimento Rural, o qual, depois de avaliar o estado de saúde das
florestas moçambicanas, propõe algumas recomendações. Na sequência, foi
aprovada a Resolução n° 23/2020, de 27 de Março, que aprova a Política Florestal e
sua Estratégia de Implementação, com o objectivo de “garantir a perpetuação do
património florestal nacional e geração de benefícios derivados de bens e serviços
ambientais através do uso sustentável e agregação de valor dos produtos florestais,
incentivando a gestão inclusiva e participativa, para o benefício económico, social e
ambiental das actuais e futuras gerações”.
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o índice de queimadas tem igualmente vindo a crescer, com todas as implicações
negativas para a economia, para a sociedade e para o meio ambiente.
g) Erosão
A erosão é um dos problemas ambientais mais sérios que afecta o continente
africano, estando associado a práticas agro-pecuárias, urbanização não ordenada,
construção em locais impróprios (ecossistemas sensíveis, como zona costeira, terras
húmidas, zonas montanhosas), etc..
h) Poluição marítima
A poluição marítima encontra-se na génese do nascimento do Direito Internacional
do Ambiente.
165 https://br.sputniknews.com/ciencia_tecnologia/201706098607988-sonda-nasa-registra-milhares-
incendios-africa-central/ acedido a 11 de Fevereiro de 2019.
166 Cf. Artigo 1.°, n.º 12 da Lei do Ambiente.
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ilegal de depósitos. Apesar da escala e visibilidade de tais impactos, as quantidades
totais de poluentes que se escoam para o mar a partir de derrames de petróleo são
diminutas quando comparadas com as originadas por poluentes de outras
proveniências. Estas incluem os esgotos domésticos, as descargas industriais, o
escoamento de superfície urbano e industrial, os acidentes, os derrames, as
explosões, as operações de descarga no mar, a exploração mineira, os nutrientes e
pesticidas da agricultura, as fontes de calor desperdiçadas e as descargas
radioactivas”167.
Calcula-se que as fontes terrestres são responsáveis em cerca de 44% dos poluentes
do mar, as fontes atmosféricas por 33% e o transporte marítimo por apenas cerca de
12%168.
Entre as causas da poluição marítima surge um elemento que tem vindo a conquistar
atenção da comunidade científica – o descarte de plástico para os oceanos. Em 2015,
um estudo da autoria da Associação Educacional do Mar de Woods Hole, no Estado
norte-americano de Massachussetts, revelou que são lançados anualmente nos
oceanos cerca de oito milhões de toneladas de lixo plástico e seus derivados,
quantidade esta que daria para cobrir 34 vezes toda a superfície da ilha norte
americana de Manhattan, com uma camada de lixo à altura dos joelhos de uma
pessoa169. Por sua vez, segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio-
Ambiente (UNEP), 15 por cento do lixo marinho flutua à superfície ou está na coluna
de água (a mais de 40 centímetros de profundidade), sendo que os restantes 70 por
cento estão depositados no fundo dos oceanos, muitos deles fragmentados em
pedaços tão pequenos (pellet170 e fibras sintéticas) que não são captados pelas
análises convencionais171.
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consultoria McKinsey175, a proporção de toneladas de plástico por toneladas de peixes
era de uma para cinco em 2014, será de uma para três em 2025 e vai ultrapassar a
cifra de uma para uma em 2050176.O estado da poluição plástica na costa de
Moçambique encontra-se presentemente a ser analisado através de diversas
iniciativas de pesquisa, quer do Ministério do Mar, Aguas Interiores e Pescas, quer
de parceiros internacionais e nacionais. Dados preliminares apontam para a
existência de diversos locais críticos de poluição plástica ao longo da costa, em
resultado de fontes locais e do Alto Mar, incluindo de micro-plástico. Um aspecto
importante e comum prende-se com o predomínio de plástico descartável, vulgo de
uso único, especialmente de embalagem, verdadeiro flagelo mundial
i) Sobrepesca
A sobrepesca constitui outro dos problemas ambientais que afecta praticamente
todas as regiões do Planeta, incluindo oceanos, mares, rios e lagos, devido ao
aumento populacional, ao crescimento exponencial da procura/demanda e ao
desenvolvimento de artes de pesca cada vez mais sofisticadas.
Como muito bem alerta a organização Greenpeace “ O nosso apetite por peixe está a
ultrapassar os limites ecológicos dos oceanos, com impactos devastadores para os
ecossistemas marítimos. Os cientistas têm avisado que a sobrepesca resulta em
alterações profundas nos nossos oceanos, modificando-os talvez para sempre. Sem
mencionar as nossas receitas culinárias, que no futuro poderão apenas apresentar
o peixe e batatas como uma iguaria rara e dispendiosa”177. No que diz respeito ao
factor industria, a Greenpeace conclui que “A realidade da pesca moderna é o facto
de a indústria ser dominada por embarcações de pesca que excedem largamente a
capacidade da natureza em repor o peixe. Os navios gigantes, que usam sonares de
ponta na busca de peixe, podem localizar cardumes com precisão, de modo rápido e
exacto. Os navios estão transformados em gigantescas fábricas flutuantes – com
instalações de processamento e embalagem do peixe, enormes sistemas de
congelamento e poderosos motores para arrastar os enormes aparelhos de pesca pelo
fundo do oceano. Em resumo: o peixe não tem hipóteses”178.
175 https://noticias.terra.com.br/oceano-podera-ter-mais-plastico-do-que-peixes-em-
2050,7b5a02d88dc327eff8a7ed053f7af1f1tafd5c65.html acedido a 19 de Dezembro de 2016.
176 Idem.
177 http://www.greenpeace.org/portugal/pt/O-que-fazemos/oceanos/sobrepesca/ Acedido a 11 de
Fevereiro de 2019.
178 Idem.
179 In. http://www.verdade.co.mz/africa/31454-sobrepesca-causa-a-africa-perdas-de-cerca-de-1-
milhao-de-toneladas-de-peixe-por-ano Acedido a 11 de Fevereiro de 2019.
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Estratégia do Mar (POLMAR), pela Lei n.º 20/2019, de 8 de Novembro, a Lei do Mar;
e pela Lei n.º 22/2013, de 1 de Novembro a Lei de Pescas.
de Março de 2015.
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Avaliação das Águas Transfronteiriças, tornou públicos os resultados de uma
pesquisa sobre as bacias hidrográficas, considerando factores sociais, económicos,
políticos e ambientais, tendo concluído que os riscos de conflito deverão aumentar
nos próximos 15 a 30 anos em quatro regiões principais: Oriente Médio, Ásia Central,
a bacia Ganges-Brahmaputra-Meghna e as bacias Orange e Limpopo no sul do
continente africano186.
k) Poluição
186 https://exame.abril.com.br/mundo/as-regioes-mais-ameacadas-por-conflitos-de-agua-no-mundo/
acedido a 31 de Dezembro de 2018.
187 https://nacoesunidas.org/conheca-os-novos-17-objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel-da-
onu/ acedido a 31 de Dezembro de 2018.
188 SERRA, Carlos Manuel, CUNHA, Fernando, ob. cit.., pp. 50 - 53.
189 Veja-se https://www.unicef.org/mozambique/%C3%A1gua-saneamento-e-higiene acedido a 29 de
Maio de 2020.
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A poluição é um dos problemas ambientais mais graves da actualidade, assumindo
proporções cada vez mais sérias e complexas. De acordo com a Lei do Ambiente, por
poluição entende-se “a deposição, no ambiente de substâncias ou resíduos,
independentemente da sua forma, bem como a emissão de luz, som e outras formas
de energia, de tal modo e em quantidade tal que o afecta negativamente”190.
Uma nota de destaque deve ainda ser dada à poluição gerada pelas actividades de
mineração ilegal (garimpo), responsável pela contaminação de solos, água e
alimentos com mercúrio e outras substâncias poluidoras.
A África continua a acolher muitas das grandes jazidas de minerais não exploradas
a nível mundial. A África representa três quartos da oferta mundial de platina e
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metade dos seus diamantes e crómio. A África representa três quartos da oferta
mundial de platina e metade dos seus diamantes e crómio. Tem até um quinto do
abastecimento de ouro e urânio e é cada vez mais o lar da produção de petróleo e gás
com mais de trinta países actualmente nesta categoria 195.
A África acolhe uma população estimada em 1,1 mil milhões de pessoas, com uma
taxa de crescimento anual da população de 2,3% 196. Esta população, como qualquer
outra, depende de um fornecimento contínuo e de um fluxo contínuo de serviços
ecossistémicos da natureza para a sociedade. As actividades económicas baseadas
na natureza, como a extracção mineira, a produção de petróleo, a pesca, são as
actividades que impulsionam o comércio local e internacional em África.
A produtividade dos recursos ambientais de África está ameaçada pela sua utilidade
para a humanidade e por uma procura crescente para satisfazer as necessidades das
pessoas. Os recursos estão a desaparecer a um ritmo sem precedentes devido ao
excesso de extracção, à sobre-exploração, aos danos causados à biodiversidade e ao
comércio ilegal. Outros impactos das actividades humanas, incluindo a poluição, a
rápida evolução das infra-estruturas, a agricultura e as alterações climáticas,
provocam uma maior degradação. Estas actividades estão a ultrapassar a
capacidade natural dos recursos ambientais para regenerar novos recursos.
É instrutivo para o juiz estar ciente de que a poluição atmosférica está directamente
ligada a mais de 750 000 mortes prematuras por ano em África. Destas 580 000
mortes prematuras, 180 000 estão ligadas à poluição do ar em recintos fechados e
180 000 estão ligadas à poluição do ar. A utilização de energia altamente ineficiente,
o crescimento acelerado da população automóvel e dos quilómetros percorridos, o
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aumento da actividade industrial sem tratamento ou controlo adequados das
emissões atmosféricas, a queima aberta de resíduos sólidos, incluindo plásticos, e a
utilização de substâncias que empobrecem a camada de ozono (ODS) são algumas
das principais causas de deterioração da qualidade do ar ambiente.
Os países africanos criaram leis para a protecção do ambiente, bem como para a
protecção dos interesses das populações.
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Petição constitucional de Peter Musokya e outros Vs o Ministério da Energia e outros,
Petição Constitucional no. 305 de 2012.
Uma das questões para a resolução deste caso foi equilibrar a protecção do ambiente e o
desenvolvimento. Os peticionários baseiam os seus argumentos na ameaça de que o seu
direito a um ambiente limpo e saudável seja violado se o Projecto de Mineração de Carvão
for autorizado a avançar. O tribunal observou que a mineração de carvão é reconhecida em
todo o mundo como uma das actividades mais prejudiciais ao ambiente que o homem já
concebeu. No entanto, o facto de a mineração de carvão causar efeitos ambientais adversos
não é por si só uma razão para que não seja permitida. Isso ocorre porque há uma
necessidade de equilibrar, por um lado, a necessidade de utilizar os recursos naturais de
maneira sustentável, para estimular o desenvolvimento económico, pois, afinal, os recursos
ambientais são a base capital da economia.
Por outro lado, há a necessidade de controlar e gerir a utilização dos recursos ambientais
para que eles não gerem níveis insustentáveis de poluição ou resíduos ou efeitos adversos
injustificados para a saúde dos seres humanos. Portanto, coube aos peticionários
persuadir o tribunal de que esse delicado equilíbrio não foi atingido no projecto de
mineração do carvão. É importante ressaltar que, ao avaliar a "apreensão" de danos ao
ambiente, o padrão internacional aceite agora e importado para o nosso país é o da
precaução:
Quando uma actividade apresenta ameaças de danos à saúde humana ou ao ambiente,
medidas de precaução devem ser tomadas, mesmo que algumas relações de causa e efeito
não sejam totalmente estabelecidas cientificamente. Nesse contexto, o proponente de uma
actividade, e não o público, deve arcar com o ónus da prova. O processo de aplicação do
princípio da precaução deve ser aberto, informado e democrático e deve incluir as partes
potencialmente afectadas. Também deve envolver um exame de toda a gama de
alternativas, incluindo a de ausência de acção.
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a saúde pública e o ambiente e interpuseram uma Acção Popular junto do Tribunal
Administrativo Superior contra a empresa, para que esta se abstivesse do acto (pedido de
suspensão do acto administrativo do MICOA que autoriza a Mozal a operar em bypass). A
empresa defendia que a poluição não ultrapassaria os limites estipulados por lei, a cota
de emissão específica definida pelo Governo de Moçambique e os estabelecidos pela
Organização Mundial da Saúde (OMS). O Tribunal Administrativo Superior indeferiu o
pedido. O processo de bypass decorreu. Durante o processo a empresa empenhou-se em
realizar comunicações públicas sobre o processo e a monitoria dos níveis de poluição,
incluindo relatórios técnico-científicos de instituições internacionais.
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE
TRIBUNAL ADMINISTRATIVO
PRIMEIRA SECÇÃO
Não obstante a referida resposta, a entidade requerida, através da Nota n.º 1365/INAMI/DG,
de 6 de Outubro de 2016, notificou-a do despacho cuja suspensão da sua eficácia se requer.
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Ora, estes fundamentos não esclarecem suficientemente a motivação do acto, facto que viola
o disposto no n.º 1 do artigo 122 da Lei n.º 14/2011, de 10 de Agosto, o que equivale à falta
de fundamentação, pois até então foram construídas infra-estruturas e outros investimentos
na ordem de USD7.000.000,00 (sete milhões de dólares norte americanos).
Relativamente às dívidas para com o Instituto Nacional de Segurança Social, não constitui
fundamento para a revogação da concessão mineira e, a sua cobrança voluntária ou
coerciva, compete aquele instituto ou aos tribunais de trabalho.
Apesar de ter adquirido a licença de exploração mineira em 2003, para o exercício efectivo
desta actividade, torna-se necessário obter o título de Direito de Uso e Aproveitamento de
Terra (DUAT) para, posteriormente, requerer a obtenção da Licença Ambiental, conforme o
disposto no n.º 1 do artigo 44 da Lei n.º 20/2014, de 18 de Agosto, o que ainda não aconteceu
devido à letargia das instituições públicas, sabendo-se que o DUAT é condição sine qua non
para requerer a Licença Ambiental.
Nos termos do disposto nas alíneas a) e b) do artigo 43 da lei supra, constituem direitos do
titular da Licença Mineira, entre outros, ter acesso à área e realizar, em regime exclusivo,
as actividades de mineração, usar e ocupar a terra para levar a cabo as operações e trabalhos
necessários, inclusive erguer instalações ou infra-estruturas necessárias para a
realização das operações mineiras, o que não é possível, dada a invasão dos garimpeiros
ilegais na área concessionada, conforme atestam as informações dadas às autoridades
administrativas e policiais e o pré-aviso.
Com efeito, há erro de facto, pois, conforme se referiu anteriormente, na área concessionada
existem infra-estruturas construídas pela requerente num investimento avaliado em
USD7.000.000,00 (sete milhões de dólares norte americanos) e a Administração Pública
toma em consideração uma situação de facto sobre a qual está mal informada, daí que o acto
administrativo praticado com erro, é anulável.
No concernente ao requisito da alínea b), a suspensão não representa grave lesão do interesse
público prosseguido pelo acto, pois o Estado está a colectar regularmente o imposto devido
pelo requerente e, portanto, não se vislumbra nenhuma lesão.
No que diz respeito ao requisito da alínea c), do processo não resulta forte indício de
ilegalidade do recurso, porquanto a licença foi concedida pelo órgão competente e é válida
até 2028.
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Termina, requerendo que seja deferida a suspensão de eficácia do acto praticado pelo
Ministro dos Recursos Minerais e Energia.
Por outro lado, da entrevista feita aos trabalhadores, referiram que a requerente tinha
conhecimento da extracção ilegal e delapidação do ouro que ocorre na área da concessão
e nada fez, porquanto fomenta a extracção ilegal de ouro e consequente tráfico com fuga
ao fisco e sem declarar a produção ao MIREME, para efeitos de controlo e cobrança de
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impostos sobre a produção que, nos termos da Lei n.º 28/2014, de 23 de Setembro, incide
sobre o produto mineiro extraído da terra.
Do exposto, o INAMI concluiu que a requerente não está a exercer a actividade para a
qual foi autorizada no âmbito da Concessão Mineira 248C, mesmo depois da
prorrogação da concessão, continuando, deste modo, no incumprimento dos termos e
condições da Concessão Mineira, bem como dos deveres estabelecidos no RLM.
Face ao exposto e em conformidade com o disposto na alínea d) do n.º 2 do artigo 118 do
RLM, conjugado com o disposto no n.º 7 do artigo 15 da Lei n.º 14/2002, de 26 Junho,
Lei de Minas em vigor na altura da concessão, outra solução não havia senão a revogação
da concessão, por falta do exercício da actividade mineira e não início da produção mineira.
Até então a requerente ainda não apresentou o DUAT nem a Licença Ambiental, no prazo
estabelecido no n.º 2 do artigo 12 da LM, o que dá lugar à revogação da Concessão Mineia,
que se efectivou através do despacho do Ministro dos Recursos Minerais e Energia, datado
de 22 de Agosto de 2016.
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da Lei de Minas em vigor à data da concessão e do RLM, aprovado pelo Decreto
n.º 61/2006, de 26 de Dezembro, o que não aconteceu, visto que o requerente
deixou a área à mercê de mineradores artesanais ilegais por sí incentivados uma vez que
comprava deles o ouro extraído sem pagar impostos.
Tudo visto.
Do compulsar dos autos, evidencia-se a declaração da requerente que diz ter feito um
investimento na ordem de USD 7.000.000,00 (sete milhões de dólares norte americanos),
na construção de infra-estruturas no âmbito do objecto concessionado, tendo em vista a
sua actividade que duraria até o ano de 2028, prazo da validade da referida Concessão
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Mineira, referindo, deste modo, que a execução do acto revogatório poderá causar-lhe
prejuízos de difícil reparação, pelo menos em relação ao valor investido no referido projecto.
Daqui resulta que, na verdade, não se mostram preenchidos os requisitos para a impetrante
iniciar a actividade mineira, pelo que não se pode falar de incumprimento da lei, nem das
obrigações fiscais que justificam a lesão do interesse público prosseguido pelo acto, no
caso da suspensão da sua eficácia, visto que se mostra haver falta de colaboração por parte
da Administração Pública.
Nos presentes autos, embora exista muita matéria relevante para uma discussão da
legalidade ou ilegalidade do acto administrativo, que deve ser feita em sede próprio
(recurso contencioso), não há qualquer informação relevante, por parte da autoridade
requerida, Ministra dos Recursos Minerais e Energia, baseada em argumentos sólidos, que
convença o Tribunal de que a suspensão de eficácia do seu despacho causará grave lesão
do interesse público; por outro lado, nada se mostra convincente de que o interesse
público seja protegido com o indeferimento do pedido de suspensão de eficácia, na
medida em que os garimpeiros ilegais ainda se fazem no objecto concessionado sem uma
medida concreta de os tirar do mesmo. Daqui se conclua, por resultar provado, que a
suspensão da eficácia do acto requerido não representa grave lesão do interesse público,
requisito previsto na alínea b).
Relativamente ao requisito da alínea c), o tribunal considera a inexistência de fortes
indícios de ilegalidade do recurso, porquanto o mesmo é competente, as partes são
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legítimas, o acto é recorrível e oportuno, dado que já deu entrada nesta instância
jurisdicional.
Pelo exposto, acordam os Juízes Conselheiros desta Secção em deferir o pedido de
suspensão de eficácia do despacho do Ministro dos Recursos Minerais e Energia, datado
de 22 de Agosto de 2015, que revoga a Concessão Mineira n.º 248C, outorgada à
requerente African Mining & Exploration Company Limitada (AMECO).
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE
TRIBUNAL ADMINISTRATIVO
PRIMEIRA SECÇÃO
African Mining & Exploration Company, Lda. (AMECO), com os demais sinais de identificação
nos autos do processo indicado a margem, inconformada com o despacho do Ministro dos
Recurses Minerais e Energia que revogou a Concessão Mineira 248C, vem, em recurse contencioso
de anulação, impugna-lo, louvando-se nos termos e fundamentos vertidos nas alegacões de fls.
2 a 7 dos autos, assim resumidos:
"Questão prévia
Antes de mais, mostra-se pertinente analisar o acto recorrido, porquanto, a recorrente
foi notificada através da Ref.a1365/INAM/GG/2016, de 06 de Outubro, assinada pelo
Director Geral (docl). Ora bem, o n.o 1 do artigo 33 da LPAC dispõe só é admissível recurso
dos actos definitivos e executórios. Por aquela nota, pretendeu a Administração Pública, na sua
função definitória do Acto Administrativo Recorrido extinguir a Concessão Mineira 248C. Desta
nota, suscitam-se duvidas relativas ao conteúdo (a ) e fundamentação (b) do acto administrativo
recorrido.
a) Conteúdo da notificação: Despacho da entidade competente que deve ser comunicada, por
si, ou interposta pessoa, que neste caso deve transcrever ou extrair o seu conteudo, nos
termos do artigo 109 conjugado com o artigo 73 ambos da Lei n° 14/2011, de 10 de Agosto
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(LPA). Contudo, calcorreando a notificação do Director Geral do Instituto Nacional de
Minas, não dispõe destes elementos. Faltando estes elementos, o acto recorrido viola a lei e
por conseguinte nos termos da alínea b) do n. 0 1 do artigo 135 LAPC deve ser anulado.
b) Incompetência: atendo o expendido em a) constata-se que só pode considerar-se que o
Despacho emanou do Director Geral do Instituto Nacional de Minas, segundo incompetente,
porquanto a alínea do artigo 3 do Decreto n.o 31/2015, de 31 de Dezembro confere a
competência de atribuição da concessão mineira ao Ministro que superintende a área dos
recursos minerais e energia.
c) c) Falta de fundamentação: Decorrente do vício acima referido e sem muito exercício,
o acto recorrido não reúne os pressupostos da fundamentação e como prevê o n.o 1 do artigo
122 da LPA e por força do n. 0 1 do mesmo dispositivo legal equipara-se a falta de
fundamentação quando a devia nos termos da alínea a) do artigo 121 da LPA que por
sua vez e cominada com a nulidade do mesmo acto ao abrigo da alínea b) do n.o 2 do
artigo 129 da lei supracitada.
Nestes termos e nos melhores de Direito deve o Acto Recorrido ser declarado nulo e de nenhum
efeito, revogando-se o Acta Recorrido, com as devidas consequências legais.
Contudo, a cautela" (sic):
A recorrente é titular da Concessão Mineira 248C, válida até 16 de Janeiro de 2028, a qual foi
revogada, conforme notificação dada pelo Director Geral do Instituto Nacional de Minas.
De forma temerária, o Instituto Nacional de Minas notificará a recorrente do Pré-aviso de
Revogação da Concessão Mineira através da Nota n-" 760/INAMIN/DG/2016, de 9 de
Junho, assinada pelo Director Geral, a qual foi tempestivamente respondida. Seguidamente,
através da Nota n.o 1365/INAMI/DG/2016, de 6 de Outubro, a recorrente foi notificada do
Despacho do Ministro dos Recursos Minerais e Energia que revoga a Concessão Mineira 248C.
O aludido despacho aponta como fundamento a falta de realização da actividade de exploração
mineira e, acessoriamente, a dívida no valor de 52.660,00MT ao INSS - Instituto Nacional de
Segurança Social. Esta fundamentação e insuficiente, nos termos do n.o 1 do artigo 122 da Lei n.o
14/2011, de 10 de Agosto.
Com efeito, o despacho recorrido refere a falta de realização da actividade de exploração mineira, o
que viola o preceito legal citado, consubstanciando uma fundamentação insuficiente, equiparada a
falta de fundamentação porque adopta fundamentos que, por obscuridade, contradição
ou insuficiência, não esclarecem concretamente a exacta motivação do acto, porquanto
até então foram construídas infra-estruturas e outros investimentos na ordem de USD7. 000. 000
(sete milhões de dólares norte-americanos).
A questão da divida com o INSS não constitui fundamento de revogação da concessão
mineira; salvo melhor entendimento, compete ao próprio INSS máxime aos tribunais de trabalho
efectuar a cobrança voluntária e coerciva, respectivamente.
"Adquirida que foi a Licença Mineira em 2003 era preciso obter o DUAT e seguidamente a Licença
Ambiental, para o efectivo exercício da actividade mineira em cumprimento dos deveres
específicos do titular da Licença Mineira, ao abrigo do preceituado no n. 0 1 do artigo 44 da
Lei n." 20/2014, de 18 de Agosto, o que até hoje não aconteceu devido a letargia das instituições
públicas".
Com efeito, a título de exemplo, ainda não obteve o DUAT, conforme atesta a Certidão n.o
34/2016, de 21 de Novembro , embora seja condição sine qua non para requerer a Licença
Ambiental.
Conforme as alíneas a} e b) do artigo 43 da Lei supra citada, constitui direito do titular da
Licença Mineira, entre outros, ter acesso a área e realizar em regime exclusivo as actividades de
mineração, usar e ocupar a terra para levar a cabo as operações e trabalhos necessários,
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inclusive, erguer instalações ou infra- estruturas necessárias para a realização de operações
mineiras.
No entanto já foram dadas diversas informações as autoridades administrativas e policiais sobre
a invasão dos garimpeiros na área concessionada, como o atesta o Pré-aviso acima aludido. A
área deve ser entregue pelas autoridades da Província de Manica incólumes de acções dos
garimpeiros invasores.
A recorrente realizou investimento avaliado em USD7.000.000 (sete milhões de dólares norte-
americanos).
Termina, requerendo que "deve a presente pretensão ser julgada procedente, porque provada e
por via disso ser o acto recorrido anulado com todas as consequências legais".
Alicerça sua petição nos documentos de folhas 9 a 30 e 33 a 58. Citada, a Ministra dos Recursos
Minerais e Energia contestou nos termos constantes de folhas 61 a 66 dos autos, dizendo, na
essência, que, na verdade a recorrente é titular da Concessão Mineira 248C.
A recorrente foi notificada da intenção de revogação da Concessão Mineira 248C, com base no
disposto no n. 0 1 do artigo 15 da Lei de Minas, que postula a necessidade de prévia obtenção
da licença ambiental e do DUAT antes do início de qualquer trabalho de desenvolvimento ou
mineração na área da concessão, o que deve ser cumprido nos três anos subsequentes a concessão,
findos os quais a Concessão Mineira é revogada.
A Concessão Mineira foi outorgada em 2003 e, até a data, 14 anos depois, tempo mais que
suficiente para a recorrente obter as referidas licenças e iniciar a produção não o fez. E,
portanto, absurda a alegacão da burocracia das instituições como fundamento para o não
cumprimento das suas obrigações. Ademais, os demais concessionários tem obtido as tais licenças,
operam e reportam suas actividades nos termos da lei.
Outrossim, as alegadas burocracias institucionais são "artifícios enganosos com o intuito de
ludibriar o Estado, como está a fazer ao litigar em sede dos presentes autos, consciente de que está
de facto a exercer a actividade mineira ilegal, incentivar a mineração ilegal (vulgarmente
designada por garimpo) e sem pagar impostos, uma vez que títulos emitidos posteriormente
para titulares comprometidos com o trabalho conseguiram obter as licenças supra referidas e estão
a desenvolver as suas actividades",
A coberto de alegacões infundadas está a furtar-se ao cumprimento das suas obrigações e
intencionalmente sonegar a matéria colectável, pois, ainda que de forma ilegal, está a exercer
a actividade e, por conseguinte, gera matéria colectável sujeita ao imposto sobre a produção.
A recorrente foi notificada para, no prazo de 30 dias, apresentar a licença ambiental, o DUAT, os
relatórios das actividades realizadas, contendo a informação mensal da produção, relatórios
trimestrais e relatórios anuais, observando, quanto a forma e conteúdos, os modelos aprovados
que constam do Regulamento da Lei de Minas aprovado pelo Decreto n.o 62/2006, de 26 de
Dezembro, vigente na altura da outorga da concessão. A recorrente enviou, apenas, os relatórios
referentes a 2007, 2008, 2014 e 2015, sendo que este último é cópia integral do relativo ao ano
anterior.
A informação em falta reporta-se aos anos 2005, 2006, 2009, 2010, 2011, 2012 e 2013, o que constitui
incumprimento de deveres do titular da concessão mineira estabelecidos na alínea e} do n. 0 1
do artigo 52 do Regulamento da Lei de Minas aprovado pelo Decreto n.o 62/2006, de 26 de
Dezembro. Estas alegacões são corroboradas pelos registos constantes do processo relativo a
Concessão Mineira 248C, em que a Direcção Provincial dos Recursos Minerais e Energia de Manica
(DIPREME-MANICA), conforme relatório de monitoria e controlo enviou ao INAMI, enviado
pela Nota n.o 486/DIPREMEM/GD/003/ 16, de 7 de Junho, se extrai que:
i) Não há, na área de Concessão Mineira, produção mineira legal e regrada;
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ii) Existem cerca de 100 mineradores, operadores ilegais, subdivididos em "cava
minas" numa superfície de 2 hectares, tendo cada "cava" uma profundidade que
varia entre 20 a 50 metros;
iii) Na linha da fronteira com o Zimbabwe, que delimita a Concessão Mineira 248, foi
instalada uma planta de processamento de ouro (que se equipara a uma planta piloto),
que processa o ouro extraído ilegalmente da concessão; e
iv) Existem na área da concessão 22 (vinte e dois) elementos de segurança da titular mineira
que controlam a produção feita de forma ilegal.
Operadores mineiros entrevistados confirmaram que a recorrente tem conhecimento da extracção
ilegal e delapidação do ouro, a fomenta, trafica sem declaração ao MIREME, com a consequente
fuga ao fisco.
"Para a revogação da concessão Mineira em causa dispensa-se o pré-aviso por força do disposto
na alínea d) do n. 0 2 do artigo 118 do RLM ( ...), conjugado com o n.o 7 do artigo 15 da Lei n.o
14/2002, de 26 de Junho, em vigor no momento da outorga da concessão mineira( ...), pelo que
havia lugar a revogação da Concessão Mineira 248C, com fundamento na falta de exercício da
actividade mineira e não início da produção mineira.
( ... )
A revogação da concessão foi o culminar da reunião de várias requisitos comprovados que
concorrem para a revogação, por exemplo:
a) A falta do pagamento do imposto, confirmada pela Autoridade Tributaaria de
Moçambique que informou ao MIREME, por carta com referencia 213/DGI/390.1/2016, de
22/09/2016, que a African Mining & Exploration Company, Lda. iniciou a sua actividade no
dia 15 de Setembro de 2015 e nunca apresentou qualquer declaração de rendimentos e,
consequentemente, não paga impostos sobre a produção, lesando o Estado ( ... );
b) A violação da obrigação de manter a área e as operações mineiras em estado seguro,
em cumprimento dos Regulamento de Segurança Técnica e de Saúde para as Actividades
Geológicas e Mineiras, aprovado pelo Decreto n. 0 61 / 2006, de 26 de Dezembro, conjugado com
a alínea g) do n. 0 6 do artigo 15 da Lei n.o 14/2002, de 26 de Junho, Lei de Minas, o que não
foi observado pela recorrente e, pelo contrário, incentivou os mineradores ilegais, comprando
deles o ouro extraído ilegalmente e sem pagar o imposto".
Termina, requerendo que se julgue improcedente o recurso.
Em alegacões facultativas, a recorrente veio reportar que a recorrida solicitou 20 dias para designar
mandatário, o que foi concedido sem consulta prévia a recorrente, o que repudia.
Acresceu que a recorrida não se concentrou na causa de pedir, limitando-se a contorcer-se a volta
dos procedimentos preconizados na legislação mineira quanto ao licenciamento. Reiterou que
o recurso se deve ao facto de ter sido notificada pelo Instituto Nacional de Minas sem
que tal expediente estivesse acompanhado do despacho da Ministra, reiterando os fundamentos
aduzidos na petição inicial, acrescendo que a recorrida não observou os elementos da
contestação constantes do n. 0 1 do artigo 488. 0 do CPC. (fls. 106 e 107).
Por sua vez, a recorrida veio alegar que a legislação moçambicana consagra o direito de assistência
jurídica aos sujeitos processuais demandados, sendo critério do tribunal a concessão do prazo para
a designação do mandatário.
Insiste em como o Director Geral do Instituto Nacional de Mina é a entidade competente para
dar a conhecer aos particulares sobre a situação jurídica dos seus direitos na área mineira e notifica-
los dos despachos exarados por quem de direito sobre a sua constituição, modificação e, no caso
em apreço, da sua extinção. In casu, o Director Geral. do INAMI apenas notificou do despacho
emanado da Ministra (fls. 110 e 111).
O Digníssimo Magistrado do Ministério Público pronunciou-se nos seguintes termos:
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" ( ... )
Sobre o vício de violação da lei
O vicio de violação da lei alegado pela recorrente é improcedente, na medida em que o despacho
impugnado obedeceu aos formalismos legais impostos para a sua emissão e comunicacao,
conforme o disposto nos n. "s 2 e 4 do artigo 63 das Normas de Funcionamento dos Serviços da
Administração Publica (aprovadas pelo Decreto n. 030/2001, de 15 de Outubro) e no artigo
120 da Lei n.o 14/2011, de 10 de Agosto (Lei que regula a formação da vontade da
Administração Pública e estabelece as normas de defesa dos direitos e interesses dos
particulares.
Sobre o vício da incompetência
No que se refere ao vicio da incompetência, a recorrente alega que o despacho de revogação
emanou do Director Geral do Instituto Nacional de Minas, entidade sem competência.
Dos autos, constata-se que o despacho impugnado é da autoria do Ministro dos Recursos Minerais e
Energia (vide fls. 28), que é a entidade competente para decidir sobre a atribuição de concessão
mineira, nos termos do disposto no n. 0 I do artigo 3 do Regulamento da Lei de
Minas - RLM (aprovado pelo Decreto n.o 62/2006, de 26 de Dezembro), sendo, igualmente,
competente para aplicar a pena de revogação de títulos mineiros, conforme dispõe a alínea a) do
n.o 1 do artigo 99 do RLM, improcedendo, deste modo, as alegacões da recorrente.
Sobre o vício de falta de fundamentação
Dos autos, constata-se que o vicio de falta de fundamentação alegado pela recorrente é improcedente,
pois o despacho recorrido possui os elementos de facto e de direito que . Justificaram a
aplicação da pena de revogação, em cumprimento do disposto no n.o 1 do artigo 122 da lei
n.o 14/2011, de 10 de Agosto, tendo sido precedido de um Pré-aviso de revogação da concessão
mineira (vide fls. 13 a 15).
Ademais, constata-se, dos autos, que a recorrente violou os seus deveres de titular da concessão
mineira, previstos nos n.os 1 e 2 e nas alíneas a) e b) do n.o 6, todos do artigo 15 da Lei n.o
14/2002, de 26 de Junho (Lei de Minas), vigente na altura da ocorrência dos factos, e no artigo
55 do RLM, cuja sanção e a revogação, nos termos do disposto no n.o 7 do artigo 15 da Lei
de Minas, não havendo, por isso, fundamento para a anulabilidade do despacho".
Termina, promovendo a improcedência do recurso, por falta de fundamento legal.
Foram colhidos os vistos legais, nada tendo sido suscitado. Cumpre agora apreciar e decidir.
A recorrente vem impugnar a notificação do despacho do Ministro dos Recursos Minerais e Energia
que revoga a Concessão Mineira 248C alegada nente por não transcrever ou extrair o seu conteúdo,
em violação do disposto no artigo 100, em conjugação com o artigo 73; ambos da Lei n.o 14/2011,
de 10 de Agosto.
Compulsando os autos, consta, a folhas 28, a Nota n. 01365 / INAMI/ DG, de 6 de Outubro, que
comunica que por causa da Falta de realização de actividade mineira de exploração mineira, por
despacho de Sua Excelência Ministro dos Recursos Minerais e Energia, datado de 22 de
Agosto de 2016, foi revogada a Concessão Mineira 248C, em nome de African Mining &
Exploration Company, Limitada, emitida aos 16.01.2003, para a exploração de ouro, numa área de
1.180, 00 hectares, situada no Distrito de Manica, na Província de Manica.
Prossegue a nota informando da existência de dívida de contribuições obrigatórias ao
INSS que deve ser paga no prazo de 10 (dez) dias, seguindo-se a remoção dos bens móveis e
imóveis então afectos as operações mineiras, no prazo de 30 (trinta) dias, sob pena de a mesma
ser efectuada pelo Estado as expensas da AMECO.
A recorrente não explica em que consiste a alegada violação da lei na comunicacao feita pelo Director
Geral do Instituto Nacional de Minas, uma vez que, pelo teor da nota, observa-se terem sido
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observados os requisitos obrigatórios mencionados no artigo 120 da Lei n.o 14/2011, de 10 de
Agosto.
Refere que o Despacho emana do Director Geral do Instituto Nacional de Minas, o qual é
incompetente para tomar tal decisão porque, nos termos do artigo 3 do Decreto n.o 31/2015, de
31 de Dezembro, a atribuição de concessão mineira cabe ao Ministro que superintende as áreas
dos recurses minerais e de energia. Esta alegacão é infundada, na medida em que nos termos da
comunicação feita pela nota acima aludida, o despacho foi da autoria do Ministro dos Recursos
Minerais e Energia.
Alega a nulidade do acto, por insuficiência da fundamentação, por não reunir os pressupostos
desta, como dispõe o n.0 1 do artigo 122, o que equivale a falta de fundamentação, nos termos
da alínea a) do artigo 121, por força do disposto na alínea b) do n. 0 2 do artigo 129, todos da Lei
n.o 14/2011, de 10 de Agosto. Contudo, na nota, está elencado come fundamento da revogação
a falta de realização de actividade de exploração mineira, fundamentação esta que se ajusta
perfeitamente ao requisito exigido pela alínea a) do n. 0 1 do artigo 121 da Lei n.o 14/2011, de
10 de Agosto.
A recorrente alega, por outro lado, que gastou cerca de USD7.000.000 (sete milhões] de
dólares norte-americanos na construção de infra-estruturas e outros investimentos e, pelas
fotografias que junta de fls. 34 a 41, depreende-se que há algum equipamento na área. Todavia,
tal não afasta o fundamento de que não pratica a actividade de exploração mineira. A este
propósito, apesar de lhe terem sido facultadas as contra-alegações da recorrida, a recorrente
absteve-se de se pronunciar sabre os fundamentos da revogação, nomeadamente, as referidas
acima em como:
i) Não há na área de Concessão Mineira, produção mineira legal e regrada;
ii) Existem cerca de 1 00 mineradores, operadores ilegais, subdivididos em "cava
minas" numa superfície de 2 hectares) tendo cada "cava" uma profundidade que
varia entre 20 a 50 metros;
iii) Na linha de fronteira com o Zimbabwe, que delimita a Concessão Mineira 248,foi instalada
uma planta de processamento de ouro (que se equipara a uma planta piloto), que processa
o ouro extraído ilegalmente da concessão; e
Existem na área da concessão 22 (vinte e dois) elementos de segurança da titular mineira que
controlam a produção feita deforma ilegal.
Continuou silencioso quanto aos fundamentos de que se verifica:
a) A falta do pagamento do imposto, confirmada pela Autoridade Tributaria de Moçambique
que informou ao MIREME, par carta com referência 213/DGI/390.1/2016, de 22/09/2016,
que a African Mining & Exploration Company, Lda. iniciou a sua actividade no dia 15
de Setembro de 2015 e nunca apresentou qualquer declaração de rendimentos e,
consequentemente, não paga impostos sobre a produção, lesando o Estado ( ... );
b) A violação da obrigação de manter a área e as operações mineiras em estado seguro,
em cumprimento dos Regulamento de Segurança Técnica e de Saúde para as
Actividades Geol6gicas e Mineiras, aprovado pelo Decreto n. 0 61 /2006, de 26 de
Dezembro, conjugado com a alínea g) do n.o 6 do artigo 15 da Lei n.o 14/2002, de 26
de Junho, Lei de Minas, o que não foi observado pela recorrente e, pelo contrário,
incentivou os mineradores ilegais, comprando deles o ouro extraído ilegalmente e sem
pagar o imposto".
Ademais, no seu laudo petitório, confessa que desde 2003, ano em que lhe foi deferida a Licença
até a data, não possui DUAT e nem a Licença Ambiental, requisitos legalmente exigidos para o
efectivo exercício da actividade mineira, em cumprimento dos deveres específicos do titular da
Licença Mineira (vide articulado 10.0 da PI).
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A justificativa de que se deve a letargia das instituições públicas não procede e não está provada.
A dívida ao INSS não constitui de per si motivo para a revogação da concessão mineira, como
refere a recorrente, mas a não obtenção da licença ambiental e do DUAT no prazo de três anos
estabelecido no n.o 2, bem como a não observância do estatuído nas alíneas a), b) e g) do n. 0 6
podem, nos termos do n. 0 7, todos do artigo 15 da Lei n." 14/2002, de 26 de Junho, motivar a
revogação da concessão Mineira, o que se verifica no caso sub judice.
A recorrente alega que "Constitui direito do titular da Licença Mineira, entre outros, ter
acesso a área e realizar em regime exclusivo as actividades de mineração e usar e ocupar a terra
para levar a cabo as operações e trabalhos necessários ( ... ) conforme as alíneas a) e b9 do artigo
43 da Lei n." 20/2014, de 18 de Agosto" e que "diversas informações dadas as autoridades
administrativas e de policia sobre a invasão dos garimpeiros na área concessionada"
Nos autos não se comprova que a entidade recorrida e demais autoridades estatais tenham
agido com vigor para assegurar a proteccao devida e requerida, porem, sopesando este aspecto
com as comprovadas irregularidades cometidas pela recorrente, não se suplantam os
fundamentos que presidiriam a revogação da Concessão Mineira n. 0 248C.
No entanto, compulsando os autos, verificam-se irregularidades fundamentais no procedimento da
entidade recorrida.
Com efeito, nos termos do disposto no n.o 7 do artigo 15 da Lei n.o 14 /2002, de 26 de .Junho, em
vigor na data da atribuição da Concessão Mineira 248C, em conjugação com as alíneas a) e b)
do n." 7 do artigo 118 do Regulamento da Lei de Minas, aprovado pelo Decreto n." 62/2006, de
26 de Dezembro, o Instituto Nacional de Minas comunicou a recorrente, por Nota n.o
760/INAMI/DG/2016, de 9 de Junho, o Pré-aviso de Revogação da Concessão Mineira (vide
fls. 13 a 15 dos autos).
A recorrente reagiu conforme consta de folhas 16 a 27 dos autos (vide também as folhas 274 e
seguintes dos autos do Pedido de Suspensão de Eficácia do Despacho de Revogação da
Concessão Mineira – Processo n.o 5/2017 – 1.a), todavia não se mostra nenhum prosseguimento da
instrução subsequente, a não ser a Nota n.o 1365/INAMI/DG/2016, de 6 de Outubro, através
da qual o Director Geral do Instituto Nacional de Minas comunica a revogação da Concessão
Mineira 248C, referindo-se a um despacho datado de 22 de Agosto de 2016 (fls. 29).
Solicitada a entidade recorrida a apresentar o aludido despacho, vem, estranhamente, apresentar
um despacho datado de 22 de Agosto de 2015, seja, o procedimento instaurado em 2016 para
a revogação da concessão mineira visava dar cobertura a uma decisão já anteriormente tomada há
mais de nove meses pelo então titular da pasta dos Recursos Minerais e Energia.
Do exposto, resulta cristalino que:
a) O Despacho de 22 de Agosto de 2015 foi produzido com preterição do disposto
nas alíneas a), b) e c) do n. 0 1 do artigo 118 do Regulamento da Lei de Minas, aprovado
pelo Decreto n.o 62/2006, de 26 de Dezembro, que impõem um pré-aviso de sessenta
dias para notificar da intenção de revogação e respectivos fundamentos; um prazo
de 30 {trinta} a 90 (noventa) dias para o titular submeter qualquer questão que deseje
ver apreciada e esta questão ser apreciada. Faltando estes elementos essenciais, o n.o 1
do artigo 129 da Lei n.o 14/2011, de 10 de Agosto, prevê a sua nulidade.
b) O procedimento iniciado pelo Instituto Nacional de Minas, através da Nota n.o
760/INAMI/DG/2016, de 9 de Junho, que notifica o Pré-aviso de Revogação da
Concessão Mineira não se mostra concluído, pois não é apresentada a apreciação da
questão colocada pela concessionaria nem a decisão final, conforme mandam os artigos
103, 105 e 106 da Lei n.o 14/2011, de 11 de Agosto, nomeadamente, o relatório final, a
decisão e respetiva comunicação do despacho, o que consubstancia falta de fundamentação
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da revogação da concessão Mineira 248C, nos termos do disposto na alínea f) do n.o 1 do
artigo 121 da Lei n.o 14/2011, de 10 de Agosto.
Nestes termos, em face das irregularidades acima elencadas, os Juízes Conselheiros da Secção
do Contencioso Administrativo, ao abrigo do disposto no n.0 1 do artigo 35 da Lei n. 0 7/2014,
de 28 de Fevereiro, acordam em declarar nulo o despacho do Ministro dos Recursos Minerais e
Energia, datado de 22 de Agosto de 2015, que revoga a concessão Mineira 248C titulada pela
African Mining & Exploration Company, Lda. (AMECO), hem Como a Nota n.o
1365/INAMI/DG/2016, de 6 de Outubro, do Director Geral do Instituto Nacional de Minas,
por violação da lei.
Sem custas, por delas estar isenta a recorrida.
Registe-se e notifique-se.
Pode a entidade recorrida apelar ao Plenário do Tribunal Administrativo, no prazo de 30 (trinta)
dias, nos termos 166 e seguintes da Lei n.0 7/2014, de 28 de Fevereiro, em conjugação com
o disposto na alínea g) do n." 1 do artigo 26 da Lei n.o 24/2013, de 1 de Novembro,
alterada e republicada pela Lei n.o 7 /2015, de 6 de Outubro.
Exercícios
1. Mostre uma breve apresentação em vídeo ou power point sobre as oportunidades e
desafios ambientais do seu país.
2. Plenária ou criar grupos de trabalho para discutir e apresentar recomendações sobre
como parar a degradação ambiental.
Sumário da Unidade 3
1. Abordagens para equilibrar a protecção do ambiente e o desenvolvimento em
África - o papel do poder judicial.
2. Compreender as causas da degradação do ambiente.
3. Indicar (nomear) os recursos naturais comercializados ilegalmente.
4. O que são bens e serviços ambientais?
Referências Bibliográficas:
Convenções Africanas Relevantes
- Ato constitutivo da União Africana, adotado pela 36 Sessão Ordinária da Assembleia
de Chefes de Estado e de Governo, em 11 de julho de 2000. Lomé, Togo.
- Organização para a Unidade Africana. (1980). Plano de Ação de Lagos para o
Desenvolvimento Econômico da África 1980-2000. Addis Abeba, Etiópia: Organização
para a Unidade Africana.
- Convenção Africana de 2004 sobre Conservação da Natureza e Recursos Naturais.
Ver: Uma introdução à Convenção Africana sobre Conservação da Natureza e
Recursos Naturais. (2004). Glândula, Suíça e Cambridge, Reino Unido: União
Internacional para Conservação da Natureza - World Conservation Union Law Center.
Leituras Adicionais:
Page 96 of 187
- United Nations Economic Commission for Africa. (2006). Assessing Regional
Integration in Africa II, Rationalising Regional Economic Communities. Addis Ababa,
Ethiopia: UNECA.
- United Nations Environment Programme. (2013). Africa Environment Outlook 3: Our
Environment, Our Health (AEO-3). London, United Kingdom: Earthscan Publications
Ltd.
- World Resources Institute. (2005). Millennium Ecosystem Assessment 2005:
Ecosystems and Human Well-being: Synthesis. Washington DC: Island Press.
Web-sites Relevantes:
• Agenda 2063: the African we Want”
http://www.un.org/en/africa/osaa/pdf/au/agenda2063.pdf
MÓDULO II
Aspectos Processuais na Resolução de
Litígios Ambientais
Descrição do Módulo
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administrativas e outros. O quadro legislativo e processual de competência varia e,
por conseguinte, o magistrado está em melhor posição para tratar as diversas
nuances de uma forma que considere adequadamente o quadro global aplicável. Este
módulo apresenta os temas mínimos sobre os aspectos processuais necessários para
intentar uma acção judicial geral em matéria de ambiente, julgamento e aplicação
dos direitos processuais.
O acesso à justiça em questões ambientais pode significar garantir que todos tenham
o mesmo direito a um ambiente limpo e saudável, independentemente de seus meios,
local de residência, antecedentes ou capacidade de acesso ao direito para a resolução
das preocupações ambientais.
Page 98 of 187
Os chamados interesses colectivos e difusos são de natureza supra-individual. Eles
encontram-se representados em todos e em cada um dos membros da colectividade
e não são apropriáveis pelos sujeitos individualmente considerados.
Page 99 of 187
Neste campo, deveremos imediatamente ter em conta que se torna necessário
ultrapassar a concepção tradicionalista advinda do processo civil baseada no
dualismo da lide, com o arbítrio de um juiz. Para se caminhar em direcção à tutela
de interesses colectivos, torna-se necessário alargar a legitimidade clássica.
Como então defender aqueles interesses que não são individuais nem estatais no
sentido literal dos termos? Surge, assim, a constatação da incapacidade de resposta
da visão tradicional da legitimidade processual para a protecção dos interesses que
pertencem à comunidade enquanto tal, aos quais corresponderá a responsabilidade
partilhada de todos os membros. Como os bens tutelados são de todos, todos terão
a responsabilidade de os preservar e defender.
A titularidade deste direito e deste dever, tanto pode constituir uma titularidade
individual, como supra-individual. Será individual quando diga respeito a cada um
dos indivíduos directamente interessados nesse direito e nesse dever. Será supra-
203 SERRA, Carlos, CUNHA, Fernando (2008), ob. ci. Pp. 653 - 658.
Por sua vez, a Lei Orgânica do Ministério Público (Lei n.º 4/2017, de 18 de Janeiro)
estabelece como competência deste órgão, entre outras, a defesa dos interesses
colectivos ou difusos208. Esta Lei atribui ao Ministério Público a competência de
intervenção principal nos processos para defesa dos interesses colectivos ou
difusos209.
204 Idem.
205 Cf. Artigo 21.°, n.° 1, da Lei do Ambiente.
206 Cf. Artigo 21.°, n.° 2, da Lei do Ambiente.
207 Conforme consta no número 26.°, n.°1, do CPC, segundo o qual “o autor é parte legítima quando
tem interesse directo em demandar (...)”. Trata-se, portanto, um primeiro passo no sentido da superação
do conceito clássico de legitimidade.
208 Cf. Artigo 4.° d) da Lei Orgânica do Ministério Público.
209 Cf. Artigo 11.°, n.º 1 d) da Lei Orgânica do Ministério Público.
a) Garantias Graciosas
Note-se que esta Lei prevê o exercício do direito de petição, queixa e reclamação junto
da Assembleia da República, como órgão de soberania, a qual integra a Comissão de
Petições, Queixas e Reclamações218.
Por fim, o legislador remete para legislação específica o exercício do direito de petição,
queixa e reclamação junto do Provedor de Justiça219. Nesse sentido, a Lei n.º
14/2011, de 10 de Agosto, que regula a formação da vontade da Administração
Pública, estabelece que “os cidadãos, individual ou colectivamente, podem
apresentar petições, queixas ou reclamações por actos ou omissões dos poderes
públicos ao Provedor de Justiça, que as aprecia, sem poder decisório, dirigindo aos
órgãos competentes as necessárias recomendações para prevenir e reparar as
injustiças”220. Segundo a Constituição, o Provedor de Justiça “é um órgão que tem
como função a garantia dos direitos dos cidadãos, a defesa da legalidade e da justiça
na actuação da Administração”221. Na sequência da previsão constitucional, foi
aprovada a Lei n.º 7/2006, de 16 de Agosto, Lei do Provedor de Justiça, a qual, define
expressamente, como competência deste órgão, entre outras, a intervenção “nos
termos da lei aplicável, na tutela dos interesses colectivos ou difusos, quando
estiverem em causa as entidades públicas”222.
Nos termos do n.º 1 do artigo acima referido, “todos os cidadãos têm, pessoalmente
ou através de associações de defesa dos interesses em causa, o direito de acção
popular nos termos da lei”. A acção popular, como instrumento processual (civil e/ou
administrativo), visa reforçar a tutela dos chamados direitos e interesses colectivos
ou difusos, os quais incidem sobre bens jurídicos cuja titularidade pertence a toda a
colectividade e a ninguém tomado particularmente: são os casos do ambiente, do
património cultural, dos direitos dos consumidores, da saúde pública, da qualidade
de vida e do domínio público.
Para a defesa de tais bens, assiste-se a uma ruptura expressa com a configuração
clássica da legitimidade processual prevista no Código de Processo Civil
moçambicano, que permitia que apenas aqueles que tivessem sofrido danos directos
e imediatos na sua pessoa ou no seu património é que podiam recorrer aos tribunais,
passando-se para um modelo em que a legitimidade é extensiva a toda a
colectividade, isto é, a todo e qualquer cidadão na defesa de um bem jurídico difuso
ou colectivo, independentemente de sofrer ou não danos na sua esfera jurídica.
A acção popular apresenta uma dupla vertente: por um lado ela é preventiva, no
sentido de permitir a qualquer pessoa (singular ou colectiva), o recurso a
instrumentos de natureza cautelar, de modo a obstar à ocorrência de danos nos bens
jurídicos tutelados por semelhante instrumento. Por outro, é reparadora, na medida
em que, no caso de ocorrência de danos, se confere o direito a qualquer pessoa de
buscar, através das instâncias competentes, a reparação dos mesmos.
Passos foram dados pelas leis processuais, reconhecendo legitimidade aos titulares
da acção popular. A Lei n.º 7/2014, de 28 de Fevereiro, prevê como titulares da
legitimidade activa, entre outros, os titulares do direito de acção popular, os quais
são, “para efeitos de interposição de recurso contencioso de actos lesivos de
interesses difusos ou outros interesses públicos, aqueles que, como tal, sejam
definidos por lei especial” 225. Por sua vez, o CPC determinou que “Têm legitimidade
para propor e intervir nas acções e procedimentos cautelares destinados,
designadamente, à defesa da saúde pública, do ambiente, da qualidade de vida, do
património cultural e do domínio público, bem como à protecção do consumo de
bens e serviços, qualquer cidadão no gozo dos seus direitos civis e políticos, as
3. Qualquer que seja o programa de participação do público, este deve incluir o acesso e
a divulgação de informações relevantes. Ver República contra The Attorney General &
Another ex parte Hon. Francis Chachu Ganya (JR Misc. App. No. 374 of 2012).
"A participação das pessoas exige necessariamente que a informação seja disponibilizada
aos membros do público sempre que se pretenda tomar decisões de política pública e que
o público disponha de um fórum em que possa ventilá-los adequadamente". Por
conseguinte, a participação do público é uma obrigação permanente do Estado através
dos processos de Avaliação de Impacto Ambiental - como a seguir assinalamos.
4. A participação do público não dita que todos devem dar a sua opinião sobre uma
questão de governação ambiental. Dispor de tal norma seria conferir um poder de veto
virtual a cada indivíduo da comunidade para determinar os assuntos colectivos da
comunidade. Um programa de participação do público, especialmente em matéria de
governação ambiental, deve, no entanto, demonstrar intencionalmente inclusividade e
diversidade.
Participação Pública
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE
"
TRIBUNAL ADMINISTRATIVO
PRIMEIRA SECÇÃO
Processo no 228/2017 - 1.a
ACÓRDÃO N.o113/2019
Ademais, nos termos do disposto nos artigos 10 da Lei n.o 14/2011, de 10 de gosto, 25 da Lei
n.o7/2012, de 8 de Fevereiro e, 9 do Decreto n.o 30/2001, de 15 de Outubro, "a Administração
Pública deve promover a participação e defesa dos interesses dos administrados, na formação
das decisões que lhes dizem respeito", o que, in casu, não se tem verificado;
Conclui referindo que tem legitimidade para interpor o presente pedido de intimação, ao abrigo
do disposto no n.o 1 do artigo 144 da Lei n.o 7/2014, de 28 de Fevereiro, conjugado com o disposto
nas alíneas a), b) e d) do artigo 4 do Estatuto da OAM, em virtude de constatar que o
comportamento do requerido não só ofende o principio da participação dos cidadãos na
vida pública, como denega o exercício do direito fundamental a informação.
Os autos foram continuados com vista ao Ministério Público, tendo, o Digníssimo Magistrado,
se pronunciado e promovido nos termos seguintes:
Questão prévia
Questão de fundo
1. Analisados os autos, verifica-se a falta de informação relevante que clarifique o processo que
culminou com a atribuição, a ANADARKO, do direito de exploração exclusiva das áreas que
pertenciam as comunidades, pois, compulsados os autos, constata-se que a transferência de
DUAT da ENH, a favor da RBLL, Sociedade constituída para a exploração do gás, e onde a
ANADARKO possui 70% das acções, resulta de um pedido do Presidente do Conselho de
Administração da ENH, ao Ministro da Agricultura, conforme se afere de fol has 35, dos autos.
2. A requerente tem legitimidade e interesse na informação, no âmbito do Projecto de
Monitoria legal dos Direitos sabre a Terra e Segurança Alimentar das Comunidades afectadas
pelos Grandes investimentos, que inclui, entre outros, o projecto para a exploracao de GNL, como,
também, do processo de atribuição de DUAT de uma área de 7.000 hectares a exploração
exclusiva da ANADARKO, susceptiveis de ascender a 25.000 hectares, por pretender fazer uso
dos meios contenciosos, para tutela efectiva de seus direitos e interesses legalmente
protegidos.
Tudo visto.
Ora, com o objectivo de assegurar o cumprimento das normas ou deveres em causa ou, ainda, o respeito
pelo exercício do direito, qualquer pessoa, a cujos interesses a violação cause ofensa digna de tutela
jurisdicional, pode pedir a jurisdição competente que intime os órgãos administrativos para
adoptar certo comportamento ou a abster-se dele, quando os seus actos ou as respectivas
actividades violem um direito fundamental, ou quando haja justo receio de violação, nos termos do
disposto no n.o 1 do artigo 144 da Lei n.o 7/2014, de 28 de Fevereiro.
Na presente lide, tem-se que o objecto do meio processual consiste na intimação de um órgão
administrativo (requerido), para adoptar certo comportamento, que se consubstancia na
disponibilização e divulgação de informações e documentos de interesse público.
Da preposição acima postulada, muito facilmente se afere que o presente tribunal e competente,
o meio processual e pr6prio e não ocorrem excepções ou nulidades que obstem o seu conhecimento.
Ora, através da sua Comissão de Direitos Humanos (CDH), a requerente esta a levar a cabo um projecto
de Monitoria Legal dos Direitos sobre a T e r r a e S e gurança Alimentar das comunidades afectadas
pelos Grandes Projectos de Investimento, tendo como foco o projecto de exploração de gás
natural li quefeito (GN L), na região do Cabo Afungi, Distrito de Palma, na Província de Cabo Delgado,
estando, por isso, directamente interessada nos documentos e informações de interesse
público, sobre as actividades e processo de atribuição do direito de uso e aproveitamento
de terra (DUAT) a empresa ANADARKO, que vem desenvolvendo a actividade de prospecção e
exploracao de gás natural liquefeito (GNL), naquela parte do território nacional.
Nos termos do disposto nos artigos 248, n.o 1, e 252, n.o 1, ambos da Constituição da República
de Moçambique (CRM), revista pela Lei n.o1/2018, de 12 de Junho, a Administração Pública
serve o interesse público na sua actuação, e respeita os direitos dos cidadãos, de entre eles, o
direito de serem informados sempre que requeiram sobre o andamento dos processos em que
estejam directamente interessados, nos termos da lei.
Com efeito, o direito a informação vincula aos órgãos e instituições do Esta do; bem como as
entidades privadas que, ao abrigo da Lei ou por contrato, realizem actividades de interesse
publico, ou estejam adstritas a contratos de parcerias público privadas (PPP) e Projectos de
Grande Dimensão (PGD), que é o caso da empresa ANADARKO, nos termos do disposto no artigo
2, n.o s 1 e 2, alínea b ), do Regulamento da Lei do Direito a I nformação, aprovado pelo Decreto
n." 35/2015, de 31 de Dezembro.
Mais, as referidas entidades devem, ainda, divulgar a informação relativa aos relatórios de
avaliação de impacto ambiental, assim como sobre os conteúdos dos estudos referentes
ao processo de reassentamento, nos termos do disposto na alínea d) do n. o 2 da Lei n. o 34/2014,
de 31 de Dezembro, conjugado com o disposto no n.o 1 do artigo 14 do Regulamento aprovado
Pela localização, objecto e dimensão, o projecto de exploração de gás natural liquefeito (GNL),
levado a cabo pela empresa ANADARKO Moçambique, classifica-se como sendo projecto de grande
dimensão (PGD), que, na sua implementação, integra a fase de "elaboração dos estudos de
viabilidade técnica e ambiental", nos termos do disposto no n.o1 do artigo 6 do Decreto- Lei n.o
2/2014, de 2 de Dezembro, conjugado com o disposto na alínea c) do n.o 1 do artigo 9 do
Regulamento da Lei sobre Parcerias Público-privadas, Projectos de Grande Dimensão e
Concessões Empresariais, aprovado pelo Decreto n.o 16/2012, de 4 de Junho.
Porquanto, aquela empresa tem como o b j e c t o a exploração de gás natural liquefeito ( GNL) n a
1
z ona marítima e nas j a z i d a s m i n e i r a s localizadas n o território nacional (Distrito de Palma, na
Província de Cabo Delgado) aliás, nos termos do disposto nas alíneas a) e h) do n.o 2 do artigo 98
da CRM, constituem domínio público.
Mais, considerando que o referido projecto tem um grande impacto no ordenamento territorial
nacional, porquanto, está a ser implementado numa área de 7.000 ha, com possibilidade de ascender
a 25.000 ha, resulta que todos os cidadãos, comunidades locais, pessoas colectivas e privadas,
tenham o direito a informação sobre o mesmo, bem como de participação na implementação do
projecto e na elaboração dos instrumentos de ordenamento territorial, nos termos do
disposto nos artigos 21 e 22, ambos da Lei n.o 19/2007, de 18 de Julho (Lei do Ordenamento
do Territ6rio).
É certo que a aprovação e assinatura do "Plano de Desenvolvimento", do qual faz parte o "Relatório
de Avaliação de impacto Ambiental" do projecto, compete ao Ministro que superintende o
sector de petróle os, nos termos do disposto na alínea k) do anexo B, conjugado com o disposto
nos artigos 8, n.o 6, e 3, ambos do Decreto-Lei n.o 2/2014, de 2 de Dezembro.
Por todo o exposto, os Juízes Conselheiros deste tribunal, deliberam, em primeira instância,
e ao abrigo do disposto no artigo 147, conjugado com o artigo 144, n.o 1, ambos da Lei n.o 7/2014,
de 28 de Fevereiro, dar provimento ao presente pedido de intimação, interposto pela ORDEM
DOS ADVOGADOS DE MOÇAMBIQUE (OAM), por provado e, consequentemente, intimar o Ministro
Sem custas.
Quénia
Joseph Leboo e mais 2 Vs Diretor Serviços Florestais do Quênia e outro. Meio Ambiente
e Terra nº 273 de 2013.
Os tribunais também abriram portas, portas à aplicação das leis e tratados assinados
pelo Estado pelos cidadãos. O Supremo Tribunal do Nepal, por exemplo, aceitou a
legitimidade dos indivíduos que intentam acções de interesse público para proteger
a propriedade pública e o "direito público" de fazer com que o governo aja de acordo
com os Princípios Directivos da Constituição. O Tribunal enfatizou a obrigação do
governo de cumprir as suas obrigações sob a Convenção da UNESCO para a
Protecção do Património Mundial Cultural e Natural de 1972, de que o Estado é
parte. O Tribunal ordenou que o governo formulasse uma política nacional relativa
aos locais religiosos, culturais e históricos de importância. Prakash Mani Sharma e
outros em nome de Pro Public vs. Primeiro-Ministro e outros, 312 NRL 1997 (SC, Nepal);
Ver também Prakash Mani Sharma & Others Pro Public v. HMG, Secretariado do
Gabinete e outros, Writ No. 3017 (1995) (SC, Nepal). Contestando uma decisão do
governo de desmantelar as estruturas históricas existentes para construir um
parque nas margens do rio Bagmati. O Supremo Tribunal ordenou a diferentes
órgãos governamentais para garantirem a protecção do ambiente, incluindo áreas
religiosas, arqueológicas e culturais importantes.
Outros, 1 Sup. Ct. 388 (1997); M.C. Mehta v. Union of India e o., Petição por escrito
(Civil) No. 860 1991 (Sup. Ct., India); M.C. Mehta v. Union of India e o., AIR 1988 SC
1037; M.C. Mehta e outros vs. Shriram Food and Fertilizer Industries e Union of India,
AIR 1987 SC 965; casos arquivados pela Environmental Foundation Ltd. no Sri
Lanka: Mendis v. Dublin de Silva ([1990] 2 Sri L R 249, Sri Lanka).
Exercícios
Resumo da Unidade 1
1. Aplicação do acesso à justiça em questões ambientais, ao abrigo do Princípio
X da Declaração do Rio a nível nacional
2. Controlo judicial da participação pública na gestão ambiental
3. Tribunais e litígios de interesse público em questões ambientais
4. ...
Further Readings
https://www.unece.org/fileadmin/DAM/env/pp/a.to.j/AnalyticalStudies/Spain_A2J_Environment.pdf
https://www.mayerbrown.com/files/uploads/Documents/PDFs/AmChamEUNewsDigest.pdf
https://repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/43302/1/S1701020_en.pdf
https://friendsoftheearth.uk/sites/default/files/downloads/caje_general_briefing.pdf
Os tribunais de primeira instância devem dispor das provas necessárias para decidir
questões de facto, a fim de resolver litígios e evitar os recursos. Os litígios ambientais
envolvem frequentemente a consideração de provas científicas, análises económicas
e sociológicas. No entanto, se as provas não forem necessárias ou relevantes,
conduzindo assim a uma decisão inadequada, o resultado é mais difícil de corrigir,
mesmo quando o sistema judicial permite um recurso quanto ao mérito de uma
determinada decisão ambiental.
b) Questões gerais de prova em casos ambientais
No caso Anderson v. American Smelting & Refining Co., 265 Fed. 928 (1919), o
tribunal indicou alguns dos problemas:
“Não se deve ignorar que as testemunhas que depõem são por vezes inconscientemente
influenciadas pelo seu ambiente e que as suas provas são coloridas, se não
determinadas, pelo seu ponto de vista". O peso a atribuir a essas provas deve ser
determinado em função dos conhecimentos, da formação, do poder de observação e
análise e, em geral, do equipamento mental de cada testemunha, assumindo que as
testemunhas de cada uma das partes foram honestas e tiveram a intenção de
testemunhar a verdade tal como a perceberam”.
Em algumas jurisdições, espera-se que o perito seja uma parte neutra que faça uma
avaliação objectiva de uma proposta de desenvolvimento ou do impacto de uma
determinada actividade sobre o ambiente.
Muitas vezes, no entanto, os peritos são vistos como "armas contratadas" que
aparecem de um lado ou do outro num litígio. Esta é a razão pela qual muitos
tribunais, incluindo tribunais ambientais especializados, fornecem regras especiais
ou instruções práticas para indicar que o perito está presente para aconselhar o
tribunal.
Na maioria dos casos, os relatórios dos peritos podem ser muito dispendiosos para
as partes, o tribunal só deve exigir a elaboração de relatórios de peritos após um
esforço inicial para identificar as questões indiscutíveis.
Em contrapartida, a preparação do relatório de um perito pode ser muito útil na
identificação de áreas de litígio e de acordo. Por exemplo, os relatórios elaborados
por peritos concorrentes podem revelar um acordo substancial sobre os dados e
análises centrais subjacentes.
Ao exigir a preparação e divulgação dos relatórios dos peritos, o tribunal deve
considerar se a divulgação deve ser feita por fases. Por exemplo, exigir relatórios
sobre a questão da responsabilidade antes da análise dos danos pode evitar despesas
desnecessárias, se o tribunal determinar que não há razões suficientes para avançar.
A exigência de relatórios de peritos pode ser útil para:
O Tribunal pode descobrir que as partes não estão a fazer um trabalho adequado
explicação das provas científicas para as tornar compreensíveis para o magistrado
que poderá apreciar o caso. O magistrado pode, portanto, ter necessidade de
procurar assistência para compreender as questões científicas.
Poderá ser útil que um perito neutro apresente ao magistrado um tutorial (guião)
sobre aspectos básicos da questão científica, antes de serem apresentadas as provas
do caso pelos peritos concorrentes.
Exemplo de nomeação de peritos judiciais:
Contencioso rural e direitos rurais, Kendera contra State of U.P AIR 1988 Sc 2187.
Ranganathan Misra e Murari Mohan Dutt, Jj. O caso surgiu quando o Supremo
Tribunal determinou que uma carta recebida do peticionário alegando que a a
exploração mineira não autorizada e ilegal afectava negativamente a ecologia da
região e causava danos ambientais, para ser registada como petição escrita nos
termos do artigo 32º da Constituição e emitiu uma notificação sobre os inquiridos.
O pedido foi aceite: Foram levados em consideração vários relatórios elaborados pelas
Comissões de Peritos designados para o efeito.
Tendo considerado vários relatórios feitos por Comités de Peritos nomeados pelo
Tribunal Supremo para examinar as implicações ambientais da mineração de
calcário no vale de Dehra Dun, o Tribunal, por despacho de 19 de Outubro de 1987,
ordenou que a mineração na área fosse interrompida, com excepção de três minas
para as quais os arrendamentos não haviam expirado. As operações destas também
deveriam estar sujeitas a condições adicionais estabelecidas pelo Tribunal. Ao
apresentar as razões da sua decisão, o Tribunal declarou: "As petições por escrito
diante de nós não são disputas entre partes e foram levantadas por meio de litigações
de interesse público, e a controvérsia perante o Tribunal é se para a segurança social
e para a criação de um ambiente não perigoso para as pessoas que ali vivem, a
mineração na área deve ser interrompida ou permitida. "O Tribunal observou que o
calcário de Doon Valley é um presente da natureza para a humanidade e que as
florestas fornecem o cinturão verde e são uma herança das gerações passadas às
gerações presentes. Observou também que o problema da preservação e protecção
das florestas não deveria mais ser separado do estilo de vida do povo daquela tribo.
h) Normas de prova
i) Ónus da prova
Nos processos penais, o ónus da prova cabe ao promotor. Nos processos cíveis, o
requerente e o requerido dependem da parte com o ónus da prova, Em alguns casos
- conexos - o ónus da prova recai sobre ambos, dependendo da parte que tem o ónus
da persuasão quanto à existência ou não existência do ónus da prova que é essencial
para a reivindicação ou defesa que essa parte está a afirmar.
Conservation Council of South Australia v Development Assessment Committee and Tuna Boat
228
Seychelles
República Vs. Marengo e outros (11 de 2003) [2004] SCSC 7 (17 de maio de 2004).
229 Cf. artigo 26.° da Lei do Ambiente e artigo 45.° da Lei de Conservação
230 Cf. Artigo 344.° do Código Civil.
231 Cf. Artigo 3.° do RAIA de 2015.
Nas acções judiciais ambientais, a inversão do ónus da prova deve ser utilizada como
regra de julgamento em prol do ambiente: repressivamente impõe-se ao causador do
dano ambiental o ónus de provar que a sua conduta não causou o dano ambiental.
Preventivamente, e em aplicação do princípio da precaução, deve inverter-se o ónus
probatório para que o potencial causador do dano prove nas actividades em que paire
alguma incerteza científica, que esta não causará dano ambiental grave ou
irreversível, ou ainda, que não causará dano de difícil reparação. Portanto,
inicialmente, ao se trabalhar com a inversão do ónus da prova como regra de
julgamento à disposição do magistrado nas acções de responsabilidade civil
ambiental, onde haja já a concretização do dano, pela aplicação do princípio da
precaução vai-se mais além: há a imposição da inversão do ónus da prova como regra
de julgamento em prol do ambiente até quando houver incerteza científica sobre o
dano, ainda na fase prévia de instalação da actividade económica para que o
empreendedor prove desde o início, que a sua actividade não causará dano
ambiental. Daí que os estudos da avaliação ambiental devam ser conduzidos pelos
proponentes e aprovados pela entidade competente, nos termos do disposto no
Regulamento sobre o Processo de Avaliação do Impacto Ambiental 232. O relatório é
normalmente elaborado por peritos independentes devidamente credenciados233 para
o efeito, contratados pelo proponente da actividade e uma vez aprovado, fica
arquivado nas instalações da entidade com competência para emitir a licença
ambiental nos termos do artigo 6 do regulamento acima aludido.
232 Cf. Arts. 3.°, 6°, 8°, 20° e 21° do RAIA de 2015.
233 Cf. Artigo 26° do RAIA de 2015.
Penso que o Caso da Mozal (“by pass”) pode ser sumariamente rediscutido neste
contexto. Foram solicitados especialistas da Africa do Sul (pela Mozal) e outros
pela sociedade civil moçambicana (????) para provarem o nível de poluição que
se causaria com o “by pass”.
Exercícios
1. Discuta a admissibilidade de fotografias, vídeos, registos oficiais e provas
similares, em conformidade com a sua legislação nacional.
2. Que regras regem a guarda e disposição dos bens apreendidos, equipamento,
equipamento, parafernália, meios de transporte e instrumentos durante a
pendência de processos ambientais em tribunal?
Notas de síntese
…………………………………………………………………………………………….
…………………………………………………………………………………………….
Sumário da Unidade 2
1. Interacções entre ciências ambientais, economia e direito na adjudicação de
casos ambientais.
2. Admissibilidade da prova em casos ambientais
3. Inquirição de testemunha.
4. Ónus e nível de prova nos casos ambientais.
5. ...
A maioria dos casos do direito ambiental que surgem nos tribunais, na maioria das
jurisdições, envolve a aplicação de leis, geralmente por meio de processos penais, ou
a aplicação de regulamentos administrativos, geralmente usando processos civis.
Nesse contexto, os magistrados são frequentemente chamados a decidir sobre as
a) Tribunais e AIA
Maurícias
Mefflin LJ H & Ors v New Mauritius Hotels Limited 2009 SCJ 222: O proprietário
começou a demolir o seu hotel existente para construir um maior. O projecto
resultou no realinhamento da estrada costeira Trou aux Biches então existente.
Ele solicitou uma licença de AIA e enviou o relatório. Os requerentes pediram uma
injunção para que se esperasse que chovesse e se proibisse a construção de
estradas sobre áreas húmidas naturais e / ou realização de qualquer aterro nas
áreas húmidas.
O Tribunal constatou que a maioria das obras já havia sido realizada de acordo
com as condições encontradas na licença da AIA. O projecto tinha sido
acompanhado de perto e tinham sido tomadas medidas atenuantes durante a
construção. Foi igualmente afirmado que o Serviço Nacional de Parques e
Conservação, responsável pelas zonas húmidas, tinha sido consultado e não tinha
objecções ao projecto. Por conseguinte, o Tribunal recusou o pedido, uma vez que
os recorrentes não demonstraram o fundamento da sua alegação. Foi igualmente
considerada infundada uma acusação relativa à poluição sonora
Nigéria
Uganda
Zâmbia
Namíbia
Quénia
O tribunal rejeitou o caso dos peticionários por considerar que o EMCA confere
ao ministro o poder de adoptar tais regulamentos e que este poderia fazê-lo
sem consultar o Parlamento. Considerou igualmente que esses regulamentos
eram necessários para reduzir a poluição sonora e que eram proporcionados
em nome do interesse geral.
As injunções são talvez a solução mais comum nos casos ambientais. Em termos
simples, as acções inibitórias cessam, temporária ou permanentemente, os
comportamentos potencialmente lesivos. Sempre que possível, a prevenção de danos
deve ser o principal objectivo do tribunal, especialmente quando existe uma
obrigação constitucional ou legislativa de proteger o ambiente. O princípio da
prevenção exigirá muito provavelmente uma medida cautelar quando a ameaça de
danos é iminente ou quando está em curso uma actividade prejudicial.
Estas regras de protecção das partes contra "danos irreparáveis" enquanto o tribunal
decide o caso representam uma forma de princípio de precaução no trabalho que
protege o status quo, pelo menos durante o tempo que o tribunal leva a apreciar o
caso na sua totalidade.
Um exemplo de injunção preliminar é o caso Sibaji Waiswa v. Kakira Sugar Work Ltd.
(Tribunal Superior de Uganda). O requerente solicitou uma injunção preliminar ou
provisória para impedir que o réu desenraizasse uma reserva florestal protegida e
expulsasse os moradores para estabelecer uma plantação de cana-de-açúcar. Um
236Regra de que um prejuízo se deve à negligência do acusado, quando o que o causou, estava sob o
seu controlo ou gestão e o prejuízo não teria ocorrido se tivesse sido observada uma gestão adequada
O Tribunal reconhece que os métodos de avaliação propostos pelas partes são por vezes
utilizados para a avaliação dos danos ambientais na prática dos organismos nacionais e
internacionais e não são, portanto, desprovidos de relevância para a tarefa em causa.
Contudo, salienta que não são os únicos métodos utilizados por esses organismos para
esse fim, nem a sua utilização se limita à avaliação dos danos, uma vez que também podem
ser utilizados para efectuar análises custo/benefício de projectos e programas ambientais
para a definição de políticas públicas. O Tribunal afirma que, por conseguinte, não
escolherá entre eles nem utilizará nenhum deles exclusivamente para a avaliação dos
danos causados às zonas húmidas protegidas na Costa Rica. Sempre que determinados
elementos de qualquer um dos métodos ofereçam uma base razoável para a avaliação, o
Tribunal tê-los-á, no entanto, em conta. Esta abordagem é ditada por dois factores: em
primeiro lugar, o direito internacional não prescreve qualquer método de avaliação
específico para efeitos de compensação por danos ambientais; em segundo lugar, é
necessário, na opinião do Tribunal, considerar as circunstâncias e características
específicas de cada caso.
Ao determinar a compensação devida por danos ambientais, o Tribunal explica que avaliará
o valor a atribuir à restauração do ambiente danificado, bem como à deterioração ou perda
de bens e serviços ambientais antes da recuperação.
As reclamações por danos causados aos recursos naturais têm os seguintes objectivos:
• Compensação ao público pela perda, ou utilização perdida, de recursos naturais
ou dos serviços por eles prestados.
• Danos são utilizados para restaurar, substituir, reabilitar ou adquirir recursos
naturais equivalentes.
No entanto, em geral, o valor económico do ambiente pode ser considerado como a soma
de todos os bens (alimentação, madeira, plantas medicinais, abrigo) e serviços (suporte de
vida, recreação, assimilação de contaminantes) fornecidos durante o tempo em que uma
determinada actividade está a decorrer e os valores futuros.
O valor económico total dos danos ambientais incorpora tanto os valores de utilização,
directos e indirectos, como os valores não baseados na utilização ou exploração. As
utilizações podem envolver consumo (árvores, peixes) ou acções não-consumptivas
(observação de aves).
Para bens e serviços não mercantis, devem ser utilizados métodos indirectos. Um deles é
o custo da reabilitação ou restauração, sempre que possível. Outro é a chamada "avaliação
contingente", que utiliza inquéritos públicos como forma de atribuir um valor a uma
amenidade ambiental. Pode haver custos económicos associados, tais como ganhos
perdidos ou danos hedónicos associados ao prazer derivado dos benefícios recreativos ou
paisagísticos do ambiente prejudicado. Todos os prémios por danos exigem a determinação
da linha de base da avaliação, o valor pré-histórico.
Para além dos danos causados aos recursos naturais, um tribunal pode, em função
da natureza da causa da acção, conceder indemnizações ou danos monetários às
partes lesadas por actividades destrutivas do ambiente ao abrigo das autoridades
jurídicas tradicionais. Nas jurisdições de direito anglo-saxónico (Common Law), por
exemplo, a causa da acção será normalmente fundada em ilícito (por exemplo,
negligência, incómodo ou transgressão). O nível dos danos depende necessariamente
da natureza do dano, da capacidade de reparação do dano, entre outros. Os juízes
devem poder quantificar, na medida do possível, o valor económico dos prejuízos, tal
como fariam com outras reivindicações de danos a pessoas ou bens. Os tribunais
podem conceder tanto indemnizações especiais como indemnizações gerais,
consoante o requerente tenha podido provar a existência de danos especiais. Vários
danos estão em geral e não precisam de ser provados pela parte que os reivindica.
Algumas das opções correctivas mencionadas (por exemplo, ordens de limpeza para
poluição industrial, bombagem e tratamento de águas subterrâneas, dragagem de
d) Sanções Punitivas
f) Pena de Prisão
No caso Estados Unidos v. Hansen, 262 F.3d 1217 (11º Cir. 2001), o tribunal
condenou dois agentes e gestores da LCP Chemicals de Brunswick, Geórgia, a longas
penas de prisão pelos seus crimes ambientais. Um foi condenado a cumprir nove
anos de prisão e a pagar uma multa de 20 000 dólares; o outro foi condenado a seis
anos e meio de prisão. Ambos os arguidos foram condenados por uma acusação de
conspiração para operar a fábrica em violação das leis ambientais, por uma acusação
de saberem que a lei americana relativa aos resíduos perigosos colocava em perigo e
por uma série de outros delitos ambientais. Os trabalhadores da fábrica de
Brunswick foram repetidamente expostos ao perigo iminente de morte e de lesões
corporais graves devido a condições de trabalho que os expunham a possíveis
queimaduras químicas, electrocussão e envenenamento por inalação de vapores de
mercúrio e por outros contactos com resíduos contaminados e corrosivos com
mercúrio.
g) Sanções alternativas
Muitas jurisdições têm alguns ou uma combinação dos seguintes tipos de autoridade
sancionatória alternativa:
• Ordens de restauração e prevenção;
• Pagamento dos custos, despesas e compensação após comprovação da
infracção;
• Pagamento dos custos e despesas de investigação;
• Decisões relativas a benefícios monetários por ofensa;
• Ordens relativas a acções específicas de publicidade da infracção e às suas
consequências ambientais e outras;
• Ordens para executar projectos ambientais especificados;
• Ordens para realizar uma auditoria ambiental específica das actividades
realizadas pelo infractor;
• Ordens para nomear um gestor ou receptor ambiental;
• Ordens para realizar formação ou estabelecer um curso de formação;
• Ordens de pagamento a num fundo ou organização ambiental.
Penas alternativos
No recurso interposto por W.I.A.B. Fernando e outros Contra a emissão da Licença de
Protecção Ambiental para a Thaha Plastic Industries Ltd, Recurso nº 3/95 ao Ministério
do Ambiente do Sri Lanka. Os vizinhos contestaram a concessão de uma licença de
protecção ambiental pelo CEA à Thaha Plastic Industries Ltd. O Secretário Interino do
Ministério do Ambiente, indeferiu formalmente o recurso porque a secção 23E da Lei
Nacional do Ambiente apenas alargou a sua jurisdição aos recursos dos requerentes de
LPA; não tinha competência para receber uma petição dos vizinhos que se opunham à
concessão de uma LPA. Contudo, remeteu os recorrentes para a CEA, com instruções
para que os níveis de ruído da indústria fossem verificados por um organismo
independente, e anexou também uma circular emitida pelo Inspector-Geral da Polícia
relativa a perturbações públicas.
h) Medidas alternativas
Às vezes, o tribunal pode considerar que não é necessária qualquer acção judicial.
No caso Associação de Advogados Ambientais do Bangladesh (BELA) v. Comissão
Eleitoral e Outros, SC of Bangladesh, High Court Div., Writ Petition No. 186 of 1994, o
Dr. Mohiuddin Farooque, Secretário-Geral da associação (BELA), alegou que os
candidatos políticos estavam a desrespeitar as leis eleitorais e a causar poluição
ambiental na cidade com o ruído dos altifalantes e das procissões não
programadas. O Supremo Tribunal observou que "é desejável atenuar a poluição
ambiental alegada pelo peticionário", mas considerou que a Comissão Eleitoral e
a Dhaka City Corporation tinham tomado medidas claras para pôr termo à
alegada poluição. Perante estes factos e com a garantia do Procurador-Geral de
O papel da avaliação dos custos e taxas não deve ser negligenciado como um
elemento do pacote de instrumentos correctivos de um magistrado. Tais
instrumentos, particularmente no contexto de litígios de interesse público, podem
facilitar muito a definição da responsabilidade ambiental. Nos casos em que é
permitido, eles geralmente activam o status, de parte vencedora (ou seja, os custos e
taxas podem ser solicitados a serem pagos pela parte vencida).
O controlo das decisões pode ser feito de várias formas. Os responsáveis pelas
violações da legislação ambiental ou pelos danos causados ao ambiente podem ser
levados a recorrer aos tribunais com planos de cumprimento ou de reparação e
objectivos e calendários para a realização das tarefas estabelecidas. Podem também
ser obrigados a apresentar relatórios periódicos ao tribunal sobre os progressos
realizados na aplicação da legislação.
Tal como referido, quando não são cumpridas as ordens judiciais, os tribunais
podem considerar uma parte em desacordo com o tribunal. Em casos extremos, o
tribunal pode colocar um operador ambiental sob administração judicial.
Exercícios
1. Discuta a jurisprudência do tribunal sobre o cálculo e a concessão de danos
aplicáveis em casos ambientais em seu país.
2. Em um derramamento de óleo típico de um navio-tanque na beira da estrada,
determine as partes em um caso apresentado perante o tribunal e calcule a
concessão dos danos.
3. Quando a ciência ambiental pode ser usada na tomada de decisões /
julgamentos?
4. …
Recorde-se que é mais caro e difícil remediar os danos ambientais sofridos do que
impedir que ocorram em primeira instância. Portanto, às vezes a recuperação
completa de uma tragédia ambiental simplesmente não é possível.
Consequentemente, um sistema de justiça que demora a responder pode,
contrariamente ao princípio da prevenção, exacerbar os problemas ambientais.
O Tribunal tem o dever primordial de garantir a resolução eficiente dos assuntos que
lhe são submetidos. O magistrado em casos ambientais é responsável pela quitação
expedita dos negócios do Tribunal. Portanto, o magistrado determina a estratégia
diária de gestão do fluxo dos casos do Tribunal. A gestão dos casos envolve tanto a
equipe judiciária (incluindo o juiz), quanto o(s) litigante(s), os réus e processo(s)
simplificado(s) para adjudicação.
Os objectivos de uma gestão eficaz dos casos pelo tribunal são:
i) Garantir o tratamento justo de todas as partes;
ii) Promover a resolução rápida, eficiente e rentável dos casos;
iii) Melhorar a qualidade do processo litigioso e dos seus resultados;
iv) Manter a confiança do público no Tribunal;
v) Usar eficientemente os recursos judiciais, jurídicos e administrativos
disponíveis; e,
vi) Alcançar o objectivo da legislação pertinente.
Em muitos casos, é útil que o Tribunal visite o local do litígio e envolva pessoas que
vivem perto do local como amigos do tribunal. Em geral, a tomada de posição ajuda
o Tribunal a compreender melhor as provas apresentadas perante ele. O Tribunal
conferirá normalmente com as partes sobre a visita ao local, o calendário, uma
sugestão de itinerário e outros pormenores relevantes que as partes ou o Tribunal
possam levantar.
e) Gestão de peritos
As técnicas incluem:
Em termos gerais várias formas de RAL são particularmente adequadas para resolver
muitas disputas ambientais. As técnicas de RAL são frequentemente muito rentáveis
quando comparadas com uma audiência completa no Tribunal, podendo também ser
alcançados resultados fora da jurisdição do Tribunal numa audiência através de
acordos laterais que não farão parte de um despacho proferido pelo Tribunal.
Apresentar casos Nacionais (nos casos que nos foram entregues não temos
nenhum que se aplica)
Exercícios
1. Discuta os vários métodos de gestão de casos que podem ser aplicáveis na
adjudicação de casos ambientais no seu país
2. …
Sumário da Unidade 4
1. Boas práticas em gerenciamento de casos
2. Formas de resolução alternativa de disputas
3. Gestão de Peritos em Tribunais
4. ...
Referências Bibliográficas:
1. H.K. Woolf, Access to Justice (Final Report to the Lord Chancellor on the civil justice
system in England and Wales) London 1996;
2. H.K. Woolf, Access to Justice (Interim Report to the Lord Chancellor on the civil justice
system in England and Wales) London 1995;
3. J. Wood, ‘The Changing Face of the Case Management: The New South Wales
Experience, Paper, Aug. 1994;
4. Mahoney, et al “Changing Times in Trial Courts,” National Center for State Courts,
Williamsburg 1988.
Websites
https://www.environmentcourt.govt.nz/assets/Documents/Publications/2014-
ENVC-practice-notes.pdf
Descrição do Módulo
O ambiente tem várias áreas ou componentes, como a água, a terra, o ar, a flora e a
fauna, bem como o ser humano. No contexto de África, estes recursos constituem os
alicerces do desenvolvimento socioeconómico. O objectivo deste módulo é melhorar
o conhecimento e a compreensão da natureza das violações de leis específicas
seleccionadas, sempre que a adjudicação seja a linha de acção adequada. Outro
objectivo é chamar a atenção do juiz ou magistrado para o facto de o apoio a medidas
de execução, como a criminalidade ambiental, os direitos humanos e a boa gestão
dos resíduos, ser fundamental para a protecção do ambiente.
Crimes Ambientais
A definição do termo "crime ambiental" ainda não foi objecto de acordo universal. As
directrizes do PNUA sobre o cumprimento e a aplicação dos acordos multilaterais em
matéria de ambiente 249 definem, contudo, crime ambiental como "as violações ou
infracções às leis e regulamentos nacionais em matéria de ambiente que um Estado
determine estar sujeito a sanções penais ao abrigo das suas leis e regulamentos
nacionais". O relatório de 2016 do PNUA-INTERPOL sobre "O aumento da
criminalidade ambiental" descreve a criminalidade ambiental como as actividades
ilegais destinadas a beneficiar indivíduos, grupos ou empresas da exploração, dano,
comércio ou roubo de recursos naturais, incluindo, entre outros, os crimes graves e
o crime organizado transnacional.
Existem outros tipos de crimes ambientais que estão a surgir, por exemplo, no
comércio de carbono e na gestão da água.250. Não obstante a gravidade dos crimes
ambientais, as consequências imediatas de um delito individual podem não ser
óbvias. No entanto, e contrariamente à noção popular, os crimes ambientais têm
efectivamente vítimas. O público e o ambiente de uma nação sofreram e continuam
a sofrer danos graves devido aos actos dos poluidores: morte, doença grave,
ferimentos e danos materiais, todos eles resultantes de actos dos infractores
ambientais.
a) Adjudicação de crimes ambientais
A ausência comum de uma prova concreta ("smoking gun") nos casos ambientais
complica a tarefa dos promotores e dos magistrados. Embora os efeitos imediatos e
de curto prazo dos crimes ambientais possam parecer negligenciáveis ou
imperceptíveis, os danos a longo prazo podem ser muito graves. De acordo com
Donald Mielke,251 então Procurador Distrital nos EUA, "um criminoso ambiental
pode tornar-se o próximo assassino em massa, ainda que os cancros, os defeitos de
nascença e outros problemas que provoca possam demorar anos a aparecer ".
Senegal
Ministério Público contra Sarr e Eloi, Supremo Tribunal de Dakar (Maio 2014). Neste
caso, os réus foram acusados de comércio de produtos de marfim. Foram detidos
com mais de 332 peças de marfim na sua posse. O Ministério Público processou-os
por comércio ilegal de troféus de espécies protegidas e, à luz das provas, condenou-
Investigação e Desenvolvimento da Comissão do Ambiente e das Obras Públicas do Senado dos Estados
Unidos" (15 de Novembro de 1989), p. 2.
Inclui-se neste rol, o Crime de queimada florestal 252, tipificado na lei de Florestas e
Fauna Bravia, que prevê pena de prisão até 1 ano e multa correspondente, e o Crime
de Armas Proibidas 253 tipificado na Lei da Protecção, Conservação e Uso Sustentável
da Diversidade Biológica, que prevê pena de prisão maior de 12 a 16 anos e multa
252Cf Artigo 40.° da Lei n. ° 10/99, de 07 de Julho (Lei de Florestas e Fauna Bravia).
253Cf Artigos 61 da Lei n.º 16/2014, de 20 de Junho, revista e republicada pela Lei n.º 5.2017, de 11
de Maio.
Será que este caso estará bem inserido aqui??? Foi transferido para aqui
Exercícios
1. Selecione um processo criminal ambiental típico perante o tribunal, identifique
e discuta os principais ingredientes / contagens que são puramente
ambientais.
2. Criar diretrizes de sentença que incentivem suficientemente a dissuasão na
prática de crimes ambientais
3. .…
Sumário da Unidade 1
1. As disposições legais do crime ambiental são encontradas nas leis ambientais
e nas leis penais
2. O principal objetivo da aplicação da lei sobre crimes ambientais é restaurar o
meio ambiente e garantir a integridade dos recursos
3. A importância de um sistema sólido de acusação e multa que crie um ambiente
propício para o combate ao crime ambiental.
4. .…
Referências Bibliográficas:
Convenções Regionais Africanas e Internacionais
• CITES (the Convention on International Trade in Endangered Species of Wild Fauna
and Flora)
Leituras Adicionais (Websites)
http://www.unodc.org/res/cld/bibliography/environmental-crime-the-trafficking-of-wildlife-and-
timber_html/TOC12_fs_environment_EN_HIRES.pdf
A maioria dos países africanos incorporou agora nas suas constituições e noutras
leis os direitos humanos sobre o ambiente, quer como obrigação estatal de proteger
o ambiente, quer como direito a um ambiente seguro, saudável e ecologicamente
equilibrado. Desta forma, os governos estão a tornar-se mais proactivos no
envolvimento do ambiente nos mecanismos de protecção a nível nacional,
"reconhecendo assim a importância de um ambiente saudável, quer como um dever
do Estado, quer como um direito”.
A jurisprudência relativa aos direitos humanos e ao ambiente pode ser destilada para
identificar obrigações específicas do Estado relevantes neste domínio, por exemplo,
os deveres de respeitar, proteger, cumprir e promover. A definição factual específica
dos casos é, no entanto, importante para determinar a responsabilidade do Estado.
Nesta perspectiva, é possível distinguir duas grandes áreas na jurisprudência,
nomeadamente a poluição ambiental e a extracção de recursos naturais.
Direitos humanos
Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos v República do Quénia, Pedido do
Tribunal Africano dos Direitos do Homem e dos Povos nº 006/2012. A comunidade Ogiek
da floresta de Mau no Quénia recorreu ao Tribunal Africano dos Direitos do Homem e dos
Povos para obter reparação por ter sido expulsa pelo governo das suas terras ancestrais e
o tribunal ouviu o seu caso com base no facto de este denunciar violações graves e maciças
dos direitos humanos. O Tribunal Africano decidiu que o Governo queniano violou os
direitos do povo indígena Ogiek quando o expulsou das suas terras que deveria ter
protegido e assegurado, tal como previsto na Carta Africana dos Direitos do Homem e dos
Povos.
258 Adoptada pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas a 10 de Dezembro de 1948
259 Cf. Artigo III da Declaração Universal dos Direitos Humanos, segundo o qual “Todo ser humano tem
direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”.
260 Cf. Artigo 43.° da CRM
Exercícios
Um requerente instaura um processo com vista a obter a declaração de que o
fabrico, distribuição, utilização, venda, eliminação de sacos de plástico,
recipientes de plástico, embalagens plásticas para alimentos com menos de 100
Sumário da Unidade 2
1. Concentração nos tratados, declarações e leis nacionais aplicáveis ao país;
2. Como membros da comunidade internacional e dos organismos regionais, os
países têm a obrigação de agir em conformidade com os princípios dos
instrumentos ratificados;
3. Afirmar a necessidade de promover os direitos humanos e o ambiente no
âmbito das respectivas políticas nacionais como uma questão de
desenvolvimento;
4. .…
Referências Bibliográficas:
Leituras Adicionais
1. Alter, Karen J. and Gathii, James Thuo and Helfer, Laurence, Backlash Against
International Courts in West, East and Southern Africa: Causes and Consequences
(August 5, 2016). 27 European Journal of International Law, 293-328 (2016); iCourts
Working Paper Series, No. 21; Duke Law School Public Law & Legal Theory Series No.
2015-19.
2. Atapattu, S., ‘The Right to a Healthy Life or the Right to Die Polluted?: The Emergence
of a Human Right to a Healthy Environment Under International Law’ in Dinah
Shelton (ed), Human Rights and the Environment, (Edward Elgar Publishing, 2011) vol
I.
3. Boyle, A., ‘Human Rights or Environmental Rights? A Reassessment’ in Dinah Shelton
(ed), Human Rights and the Environment, (Edward Elgar Publishing, 2011) vol I.
Available at http://www.law.ed.ac.uk
4. Handl, G., ‘The Human Rights and Protection of the Environment: A Mildly
“Revisionist” View’ in in Dinah Shelton (ed.), Human Rights and the Environment,
(Edward Elgar Publishing, 2011) vol I.
África do Sul
Pukka Chukka Farms CC vs. Departamento de Assuntos Hídricos e Florestas 269; Neste
caso, o autor da acção contestou a decisão do Departamento de Assuntos Hídricos e
Florestais de lhe recusar uma licença de actividade de redução do fluxo de água
(SFRA) relativamente a uma florestação que pretende estabelecer para fins
comerciais. O autor contestou a recusa do Departamento de Assuntos Hídricos e
Florestais perante o Tribunal da Água e fundamentou o seu recurso com o facto de
o impacto da exploração prevista no ambiente ser limitado devido à sua localização
numa zona isolada ao longo da costa. Além disso, o autor indicou que a recusa criou
uma situação discriminatória porque seu vizinho recebera uma licença da SFRA para
as mesmas actividades.
França
A França não prevê na sua Constituição o direito à água, mas a Lei da Água francesa,
adoptada em 1992, estipula que a utilização da água pertence a todos.270 Num
acórdão de 1996, o Tribunal Regional de Roanne condenou uma empresa de
distribuição por interrupção ilegal do abastecimento de água, com o fundamento de
que um fornecedor que não tenha sido pago deve requerer ao tribunal o mandado de
269 http://www.saflii.org/za/cases/ZAWT/2010/2.html
270 Lei nº 92-3, de 3 de Janeiro de 1992, sobre a água, ("Jornal Oficial", 4 de Janeiro de 1992, 187).
Paquistão
F.K. Hussain v. Union of India, 1990. O Supremo Tribunal de Kerala está preocupado
com a situação especial em algumas ilhas de coral onde os recursos hídricos são
escassos e a intrusão de água salgada nas águas subterrâneas constitui uma grande
preocupação. A administração tinha desenvolvido um esquema para aumentar o
abastecimento de água através da extracção de mais águas subterrâneas. Os
peticionários acreditavam que uma extracção tão alargada iria perturbar o equilíbrio
da água doce e conduzir à salinidade das águas subterrâneas. O tribunal seguiu esta
argumentação e considerou que a acção administrativa constituiria uma infracção
ao disposto no artigo. 21, uma vez que o direito à vida é muito mais do que o direito
à existência animal. ... "O direito à água doce e o direito ao ar livre são atributos do
direito à vida, pois estes são elementos básicos que sustentam a própria vida".
Caso Suomotu: Iftikhar M. Ch. C.J Khiljji Arif Hussain e Tariq Parvez J.J (em relação
ao Fornecimento de Água Contaminada para Rawalpandi a partir da Barragem de
Rawal) 2013 SCMR 594. Direito a ter água potável, necessidade de instalação de
estações de tratamento de água. Cidadãos pobres que utilizam água contaminada
que causou número de doenças. Chefes dos Tribunais ambientais a nomear pelo
Secretário Chefe Provincial para que as violações da legislação ambiental possam ser
verificadas. Garantia de que não só o distrito de Rawalpindi, mas também as pessoas
de toda a província de Punjab devem obter água potável.
ALLAH DITTA vs. DCO2009 CLD 825. Neste caso, os efluentes das instalações
químicas estavam a cair na água, causando perigo para os animais e habitantes, e a
EPA descobriu que mais tarde a fábrica não constituía uma ameaça para o ambiente,
mas os inquiridos foram avisados para manterem o seu projecto amigo do ambiente
e foram iniciados processos contra a fábrica por actos ilegais já cometidos, que
continuariam e seriam decididos com base no mérito.
Argentina
O caso Menores Comunidad Paynemil 1997 diz respeito à poluição da água por metais
pesados por uma companhia petrolífera, que resultou na contaminação dos aquíferos
em que a comunidade Paynemil autóctone de Neuquen dependia para o
271Relatório preliminar apresentado por Hadji Guisse à Sub-Comissão para a Promoção e Protecção
dos Direitos Humanos, E/CN.4/Sub.2/2002/10, em 11.
Nepal
Índia
Exercícios
Dez queixosos, a 10 quilómetros de distância de uma zona industrial, abriram de
novo um processo contra uma fábrica de refrigerantes, alegando dores de
estômago múltiplas devido a descargas do estabelecimento. Alegam também que
as suas culturas foram afectadas devido à indisponibilidade de água do rio. A
defesa da fábrica demandada é que estas não são a causa de doença nem a
disponibilidade de água a jusante. A fábrica dispõe de licenças de captação e
descarga de água. EnquRALe e discuta as questões jurídicas para determinação e
as prováveis decisões judiciais utilizando a lei aplicável no seu país.
Referências Bibliográficas
Poluição marinha
In re Oil Spill de Amoco Cadiz, na costa da França, em 16 de Março de 1978, nº MDL376
(N.I. 1988), 1988 U.S.Dist. A LEXIS 16832 abordou as alegações feitas pela França,
cidades e vila lesadas, indivíduos, agricultores, pescadores e grupos de protecção
ambiental, discutindo várias categorias de danos:
• Operações de limpeza efectuadas por funcionários públicos. O tribunal aceitou o
pedido de indemnização pelos custos da limpeza, na medida em que os
funcionários públicos, incluindo os funcionários eleitos e os militares, demoravam
tempo a abandonar as suas funções habituais ou faziam horas extraordinárias
para prestar assistência.
• Restauração da linha costeira e dos portos. As despesas para estes fins foram
Acho que o caso da pesca de tubarão impedida pelo MP faz mais sentido aqui!!!!
Exercícios
1. Um processo judicial que envolve um queixoso que reclama uma indemnização
e uma indemnização do requerido devido às acções do requerido para
eliminação de esgotos e efluentes industriais no mar. O queixoso alega ainda
que, devido à acção da demandada, a tartaruga marinha migrou afectando o
turismo e a destruição de mangais, zonas de reprodução e recifes de coral.
2. Determine as questões de adjudicação no âmbito da sua jurisdição nacional,
incluindo o direito internacional aplicável em matéria de ambiente.…
Referências Bibliográficas:
Leituras Adicionais
Uma das maiores ameaças à vida selvagem em África vem de fora do continente,
onde um mercado negro florescente de marfim, corno de rinoceronte, madeira e
outras espécies levou a uma crise de caça furtiva no continente africano. As florestas
tropicais africanas são afectadas pela limpeza feita para fins agrícolas, como a
plantação de culturas ou o pastoreio de gado, a exploração florestal, a construção de
estradas, a urbanização, a exploração mineira e petrolífera e os incêndios. Estima-
se que o tráfico ilegal de animais selvagens gere actualmente mais de 10 mil milhões
de dólares por ano, acompanhando de perto o comércio de droga, o comércio de
armas e o tráfico de seres humanos. Ao remover insustentavelmente espécies
cobiçadas do meio selvagem, as comunidades que dependem dessas espécies para a
subsistência ou o ecoturismo serão negativamente afectadas pelo esgotamento das
populações. O comércio ilegal de espécies selvagens tem:
• Caça furtiva de algumas das espécies mais icónicas da África;
• Comunidades roubadas de rendimentos relacionados com a vida
selvagem;
• A vida dos cidadãos em perigo; e,
• Financiou alguns dos grupos terroristas mais brutais de África.
Ao longo dos anos, têm sido aplicados acordos, leis e regulamentos ambientais
multilaterais, tais como o Acordo de Lusaca sobre a Aplicação Cooperativa da
Legislação em Matéria de Comércio Ilegal da Vida Selvagem e a Convenção sobre
o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas
Uganda
Quénia
• Lei n.º 16/2014, de 20 de Junho, revista e republicada pela Lei n.º 5.2017, de
11 de Maio (Lei da Protecção, Conservação e Uso Sustentável da Diversidade
Biológica), que complementa os regimes legais acima descritos no que tange
aos princípios fundamentais da responsabilização e penalizações
conducentes a uma gestão sustentável dos recursos florestais e faunísticos.
Exercícios
No caso do Ministério do Ambiente contra Maria Mwema Ltd, a queixosa, uma
empresa madeireira, contestou uma decisão tomada pelo Ministério do Ambiente
de retirar as suas licenças de exploração florestal sobre uma floresta específica. A
queixosa contestou a decisão, alegando que a decisão era arbitrária e ilegal. O
Ministério do Ambiente tinha revogado a licença florestal por razões ambientais
de gestão sustentável das florestas, uma vez que a empresa estava a extrair
madeira para além das condições de licenciamento aceites. O caso está perante
si.
Determine a revisão administrativa deste caso, as questões ambientais
(florestas) para determinação e o interesse público.
Referências Bibliográficas:
África do Sul
Van Huyssteen e outros contra Ministro do Ambiente e Turismo e outros 1996 (1)
SA 283 (C). Os réus propuseram a construção de uma siderurgia numa parcela
de terreno agrícola em Saldanha, perto do Parque Nacional da Costa Oeste e da
Lagoa Langerian e solicitaram à administração provincial do Cabo Ocidental a
reorganização do terreno ao abrigo do Plano de Uso da Terra, Portaria 15 de 1985
(c). As zonas húmidas da lagoa eram protegidas pela Convenção de Ramsar sobre
as Zonas Húmidas de Importância Internacional, da qual a África do Sul era parte
contratante. O Erf 2121 Langebaan estava situado em frente à lagoa e era
propriedade do Witterdrift Trust, cujos administradores eram os três primeiros
requerentes. O quarto requerente juntou-se na sua capacidade pessoal de
beneficiário fiduciário. Os administradores pretendiam construir uma casa de
férias ou uma casa permanente na propriedade fiduciária. O parecer de peritos
foi dividida sobre se o moinho proposto seria ambientalmente indesejável. Os
recorrentes pediram uma injunção temporária e a condenação do recorrido a
disponibilizar cópias de todos os documentos relevantes para a fábrica proposta
e a nomear uma comissão de investigação para avaliar os efeitos ambientais. O
tribunal considerou que as recorrentes não tinham o direito de obrigar a primeira
recorrida a nomear uma comissão de inquérito ao abrigo do S. 151 (1) da Lei da
Conservação do Ambiente de 1989; mas as recorrentes, ao abrigo do S. 23 da
Constituição, tinham o direito de exigir documentos solicitados com o objectivo
de proteger os seus direitos à propriedade fiduciária, potencialmente ameaçada
pela fábrica proposta. Por conseguinte, foi concedida uma injunção.
O Director: Mineral Development, Gauteng Region, Sasol Mining (Pty) Ltd verses
Save the Vaal Environment, Ronsand Ranch (Pty) Ltd, Giovanni Alberto Mario
Ravazzotti, Susan Sellschop, Lynne Dale Green. Um recurso sobre a questão de
saber se os interessados, que pretendam opor-se a um pedido do titular dos
direitos mineiros de uma licença de exploração mineira, têm o direito de levantar
objecções ambientais e de ser ouvidos pelo primeiro recorrente, que é o
funcionário designado para conceder ou recusar essa licença ("o Director"). As
preocupações ambientais suscitadas pelo demandado são: a destruição da zona
húmida de Rietspruit, a ameaça à flora e à fauna, a poluição, a perda da
qualidade da água e a diminuição do valor das propriedades. Os principais
direitos ou interesses materiais em que os inquiridos se baseiam (e que, segundo
eles, seriam prejudicados por uma decisão negativa do Director) são os direitos
constitucionais em matéria de ambiente. Os recorrentes declararam que a
simples emissão de uma licença de exploração mineira pelo director não pode ter
qualquer efeito tangível e físico sobre o ambiente. O tribunal considerou que a
exploração mineira tinha prejuízos enormes para o ambiente e para os sistemas
ecológicos. O tribunal acrescentou ainda que a Constituição, ao incluir os direitos
Zimbábue
Augar Investments OU contra Min. De Meio Ambiente e Outro (HC 1017/14) [2015]
ZWHHC 278 (25 de março de 2015). Nos termos do n.o 1 do artigo 113.o da Lei de
Gestão Ambiental, capítulo 20:27, o Ministro do Ambiente pode declarar qualquer
zona húmida como sendo ecologicamente sensível e impor limitações ao
desenvolvimento nessa zona ou nas suas imediações. A secção 113 da EMA tem a
seguinte redacção:
(1) O Ministro pode declarar qualquer zona húmida como sendo ecologicamente
sensível e pode impor limitações ao seu desenvolvimento dentro ou em torno dessa
zona.
Despacho: (2) As comunicações gerais eram de facto ultra vires a Lei de Gestão
Ambiental, que no nº 1 do artigo 113º apenas previa uma declaração de que uma
zona húmida era uma zona "ecologicamente sensível". O n.o 1 do artigo 113.o
pressupunha a existência de uma zona húmida. A definição de "zona húmida" era
clara. É uma questão de facto, não de direito, se um pedaço de terra é uma zona
húmida. Nem todas as zonas húmidas são ecologicamente sensíveis e a declaração
de uma zona húmida como ecologicamente sensível deve certamente basear-se no
estudo científico e na determinação dessa sensibilidade ecológica. Uma zona húmida
não se tornará ecologicamente sensível só por ter sido declarada como tal.
Uganda
Exercícios
Propriedades escolares versus Autoridade Nacional de Gestão do Ambiente, neste
caso, o queixoso contestou a decisão da Autoridade Nacional de Gestão do
Ambiente (NEMA) por lhe ter recusado a concessão da licença necessária para o
seu projecto imobiliário numa parcela de terreno que possuía na margem do lago.
A NEMA tinha recusado conceder uma autorização ao queixoso porque o terreno
em causa na margem do lago era uma zona húmida e, por conseguinte,
necessitava de uma aplicação rigorosa da lei para evitar danos irreversíveis no
frágil ecossistema.
➢ Determine as questões de adjudicação de acordo com a sua legislação
nacional. Na sua decisão sobre este caso, indique as soluções disponíveis
para proteger os recursos das zonas húmidas.
Referências Bibliográficas:
Zâmbia
Nyasulu e o./ Konkola Copper Mines Plc, Conselho Ambiental da Zâmbia e o. (2007
/ HP / 1286) [2011] ZMHC 86 (31 de dezembro de 2010). Trata-se de uma acção
intentada por 2000 demandantes residentes em Chingola, cuja fonte de água era
um ribeiro em que a primeira demandada descarregava a afluência da sua
exploração mineira. O segundo e terceiro demandados eram repositórios de
obrigações legais. O segundo demandado, alegadamente, não efectuou ou
negligenciou a inspecção ou supervisão das condutas em questão, a fim de
cumprir regularmente as normas aceitáveis exigidas e assegurar que não
Decisão: o primeiro réu foi considerado imprudente e não teve em conta a vida
humana, animal e vegetal. Um milhão de Kwacha (K1m) como indemnização
punitiva, num total de 10 mil milhões de Kwacha (K10 mil milhões de Kwachas).
Isto serve para dissuadir outros que podem descarregar substâncias venenosas
sem diminuir a sua potência para não causar danos ao ambiente, seres
humanos, animais, etc.
Gana
Center for Public Law Interest Law e Outro v Agência de Protecção Ambiental e outros.
Facto No. A (En) 1/20015. Entregue em 27 de Março de 2009. O Supremo Tribunal de
Justiça intentou uma acção do Grupo de Interesse Público para obrigar os arguidos;
a Agência de Protecção do Ambiente, a Comissão de Minerais e uma empresa mineira
a não cumprirem as suas obrigações legais ao abrigo das Leis Mineira e Mineral do
Gana e o Supremo Tribunal assim o decidiram:
Quénia
Paquistão
- Lascon Properties (Pty) Ltd v Wadeville Investment Co (Pty) Ltd and Another
1997 (4) SA 578 (W)
Exercícios
1. Um curso de água subterrânea nas minas de ouro já extintas não está a ser
contínua e adequadamente bombeada das minas e está a causar perdas de
vida em grande escala e destruição de habitats com perdas económicas e de
emprego catastróficas. As águas subterrâneas primitivas são abundantes nos
aquíferos dolomíticos da zona e constituem uma componente valiosa do
recurso hídrico global do país. As minas foram encerradas há 30 anos. A
empresa que assumiu o controlo das minas desafectadas está disposta a
bombear água das minas. Discuta os direitos constitucionais e os direitos
legais a um ambiente livre de poluição nas operações mineiras e as obrigações
legais da autoridade ambiental e dos novos proprietários das minas no seu
sistema jurídico, enquanto fala sobre a directiva nacional ao abrigo da secção
anti-poluição da Lei Nacional da Água exige que a bombagem continue e obriga
os proprietários das minas a contribuir para o custo.
2. Os réus são de uma empresa mineira envolvida na exploração e extracção de
diamantes. Na condução das suas actividades de extracção e exploração, os
arguidos descarregam os seus resíduos e efluentes não tratados no rio Ozi a
intervalos de aproximadamente duas semanas. Além disso, os arguidos
descarregam os seus resíduos humanos não tratados num rio afluente. Estas
descargas poluem fortemente os rios, o que resulta no assoreamento, na
formação de lama, na sujidade e no carregamento de depósitos químicos e
metálicos, incluindo ferro, crómio e níquel. Os queixosos são habitantes das
aldeias ribeirinhas que vivem nas margens dos rios Ozi. Dependem fortemente
destes rios para a sua subsistência, incluindo a utilização das águas para
beber, tomar banho, regar o gado, jardinagem e pesca. Em consequência da
poluição, a água dos rios deixou de estar apta para os fins supramencionados.
Além disso, a poluição tem destruído a vida aquática como os peixes e
perturbado o ecossistema dos rios. Essas descargas expõem os queixosos a
riscos de doenças contaminantes, como o cancro, a cólera, a febre tifóide, a
fluorose dentária e esquelética. Discutir as questões jurídicas e de adjudicação
neste caso.
Referências Bibliográficas: