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DIREITO FUNDAMENTAL À SAÚDE AMBIENTAL: Interdisciplinaridade entre o

Direito fundamental à saúde e ao meio ambiente

Marco Túlio Ribeiro Cunha*

RESUMO

O objetivo do presente trabalho é apresentar a relação entre o direito fundamental à saúde e


o direito ao meio ambiente equilibrado resultando na conclusão de que o direito ao meio
ambiente trata-se também de direito fundamental sem o qual não é possível efetivar o
direito fundamental à saúde. Para tanto adentrará no conceito e disciplina legal que tange ao
direito a saúde e ao meio ambiente para o fim de contextualizar a pesquisa. Em seguida
apresentará a expressão doutrinária consagrada na legislação da “saúde ambiental” como
expressão da relação entre o direito à saúde e ao meio ambiente e por fim, fundamentar-se-á
o direito à saúde ambiental como direito fundamental.
Palavras-chave: Saúde ambiental. Meio ambiente. Direito fundamental.

ABSTRACT

The aim of this paper is to present the relation between the fundamental right to health and
the right to a balanced environment resulting in the conclusion that the right to the
environment it is also a fundamental right without which you can not accomplish the
fundamental right to health . To step into both the concept and discipline with respect to the
legal right to health and the environment for the purpose of the research context. Then
present the doctrinal term enshrined in legislation the "environmental health" as an
expression of the relation between the right to health and the environment and ultimately
will support the right to environmental health as a fundamental right.

*
Mestrando em Direito Público pela Universidade Federal de Uberlândia – Turma 2011. Pós-graduado em
Direito Empresarial pela Universidade Federal de Uberlândia. Pós-graduado em Docência no Ensino Superior
pela Faculdade Católica de Uberlândia. Graduado em Direito pela Universidade Federal de Uberlândia.
Professor de Direito Civil, Processo Civil e Metodologia de Pesquisa no Curso de Direito da Faculdade
Católica de Uberlândia. Advogado militante nas áreas de Direito Civil e Empresarial.
DIREITO FUNDAMENTAL À SAÚDE AMBIENTAL: Interdisciplinaridade entre o
Direito fundamental à saúde e ao meio ambiente

Marco Túlio Ribeiro Cunha*

RESUMO

O objetivo do presente trabalho é apresentar a relação entre o direito fundamental à saúde e


o direito ao meio ambiente equilibrado resultando na conclusão de que o direito ao meio
ambiente trata-se também de direito fundamental sem o qual não é possível efetivar o
direito fundamental à saúde. Para tanto adentrará no conceito e disciplina legal que tange ao
direito a saúde e ao meio ambiente para o fim de contextualizar a pesquisa. Em seguida
apresentará a expressão doutrinária consagrada na legislação da “saúde ambiental” como
expressão da relação entre o direito à saúde e ao meio ambiente e por fim, fundamentar-se-á
o direito à saúde ambiental como direito fundamental.
Palavras-chave: Saúde ambiental. Meio ambiente. Direito fundamental.

ABSTRACT

The aim of this paper is to present the relation between the fundamental right to health and
the right to a balanced environment resulting in the conclusion that the right to the
environment it is also a fundamental right without which you can not accomplish the
fundamental right to health . To step into both the concept and discipline with respect to the
legal right to health and the environment for the purpose of the research context. Then
present the doctrinal term enshrined in legislation the "environmental health" as an
expression of the relation between the right to health and the environment and ultimately
will support the right to environmental health as a fundamental right.

*
Mestrando em Direito Público pela Universidade Federal de Uberlândia – Turma 2011. Pós-graduado em
Direito Empresarial pela Universidade Federal de Uberlândia. Pós-graduado em Docência no Ensino Superior
pela Faculdade Católica de Uberlândia. Graduado em Direito pela Universidade Federal de Uberlândia.
Professor de Direito Civil, Processo Civil e Metodologia de Pesquisa no Curso de Direito da Faculdade
Católica de Uberlândia. Advogado militante nas áreas de Direito Civil e Empresarial.
DIREITO FUNDAMENTAL À SAÚDE AMBIENTAL: Interdisciplinaridade entre o
Direito fundamental à saúde e ao meio ambiente

Marco Túlio Ribeiro Cunha*

RESUMO

O objetivo do presente trabalho é apresentar a relação entre o direito fundamental à saúde e


o direito ao meio ambiente equilibrado resultando na conclusão de que o direito ao meio
ambiente trata-se também de direito fundamental sem o qual não é possível efetivar o
direito fundamental à saúde. Para tanto adentrará no conceito e disciplina legal que tange ao
direito a saúde e ao meio ambiente para o fim de contextualizar a pesquisa. Em seguida
apresentará a expressão doutrinária consagrada na legislação da “saúde ambiental” como
expressão da relação entre o direito à saúde e ao meio ambiente e por fim, fundamentar-se-á
o direito à saúde ambiental como direito fundamental.
Palavras-chave: Saúde ambiental. Meio ambiente. Direito fundamental.

ABSTRACT

The aim of this paper is to present the relation between the fundamental right to health and
the right to a balanced environment resulting in the conclusion that the right to the
environment it is also a fundamental right without which you can not accomplish the
fundamental right to health . To step into both the concept and discipline with respect to the
legal right to health and the environment for the purpose of the research context. Then
present the doctrinal term enshrined in legislation the "environmental health" as an
expression of the relation between the right to health and the environment and ultimately
will support the right to environmental health as a fundamental right.

*
Mestrando em Direito Público pela Universidade Federal de Uberlândia – Turma 2011. Pós-graduado em
Direito Empresarial pela Universidade Federal de Uberlândia. Pós-graduado em Docência no Ensino Superior
pela Faculdade Católica de Uberlândia. Graduado em Direito pela Universidade Federal de Uberlândia.
Professor de Direito Civil, Processo Civil e Metodologia de Pesquisa no Curso de Direito da Faculdade
Católica de Uberlândia. Advogado militante nas áreas de Direito Civil e Empresarial.
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Keywords: Environmental health. Environment. Fundamental right.

SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 1 MEIO AMBIENTE E SAÚDE E 2 SAÚDE AMBIENTAL 3 SAÚDE
AMBIENTAL COMO DIREITO FUNDAMENTAL. CONSIDERAÇÕES FINAIS.
REFERÊNCIAS

INTRODUÇÃO

A defesa do meio ambiente tem origem na


proteção da saúde humana. Se o homem não for
capaz de amar a si mesmo e de valorizar-se, não
será capaz de amar e de valorizar o meio ambiente
a que pertence. (MACHADO)

Não é recente a conclusão de que a saúde está intimamente ligada à preservação do


meio ambiente onde vive o ser humano. Contudo, apenas com a evolução dos direitos
fundamentais presenciada com o advento do Estado Democrático de Direito, que no Brasil
culminou com a promulgação da Constituição Federal de 1988, é que se pôde observar o
Direito ao meio ambiente equilibrado, juntamente com o direito à saúde, como direitos
dotados de efetividade, ou seja, passíveis de serem tutelados pelo judiciário.
O objetivo do presente trabalho é apresentar a relação entre o direito fundamental à
saúde e o direito ao meio ambiente equilibrado; resulta na conclusão de que o direito ao
meio ambiente trata-se também de direito fundamental sem o qual não é possível efetivar o
direito fundamental à saúde.
Para tanto adentrará no conceito e disciplina legal que tange ao direito a saúde e ao
meio ambiente para o fim de contextualizar a pesquisa. Em seguida apresentará a expressão
doutrinária consagrada na legislação da “saúde ambiental” como expressão da relação entre
o direito à saúde e ao meio ambiente e por fim, fundamentar-se-á o direito à saúde
ambiental como direito fundamental.
Sendo assim, com relação aos objetivos a serem alcançados o tipo de pesquisa é,
pois a pesquisa exploratória, no sentido em que o estudo pretende analisar a relação entre os
3

direitos sociais à saúde e ao meio ambiente com vistas a tornar explícita a sua relação de
dependência e efetividade.
No que tange ao método de abordagem adotar-se-á o dedutivo, pois que, partirá do
estudo da legislação que rege o direito à saúde e ao meio ambiente em abstrato para
demonstrar sua natureza de direito fundamental.
Por fim, com relação ao procedimento técnico utilizado será utilizada a pesquisa
documental, através da legislação vigente e bibliográfica acerca dos principais
doutrinadores que dissertaram sobre o tema.

1 MEIO AMBIENTE E SAÚDE

Inicialmente, cumpre contextualizar a pesquisa apresentando, pois os conceitos


utilizados na doutrina de saúde e de meio ambiente.
O homem integra a natureza, sendo que o grande número de fatores ambientais que
afetam a saúde humana indica a complexidade das interações existentes e da amplitude de
ações necessárias para melhorar os fatores ambientais determinantes da saúde. (RIBEIRO,
2004, p. 71)
~Pensamento
Neste diapasão, o direito ambiental trata-se de disciplina transversal que se alastra
aos demais ramos jurídicos, pois informa e troca informações com todos eles. (AMADO,
2011, p. 11)
Em matéria de Direito Ambiental a doutrina reconhece que a expressão meio
ambiente possui um sentido amplo quase universal, podendo ser compreendida como o
conjunto das condições que permitem a existência e a reprodução da vida no planeta.
(FURLAN, 2010, p. 23)
Embora a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 225, caput, não tenha
declinado nenhum conceito ao meio ambiente, diz-se que conceito de meio ambiente é
normativo considerando o conceito introduzido pela Lei 6.938, de 31.08.1981, que instituiu
a Política Nacional do Meio Ambiente. (FURLAN, 2010, p. 23)
-

Segundo ensina Anderson Furlan, analisando o que dispõe o art. 225 da


Constituição Federal e o disposto no art. 3º, inciso I da Lei 6.938 supracitada, tem-se como
conceito de meio ambiente o patrimônio público e bem de uso comum do povo, deve ser
4

entendido como “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,


química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” (FURLAN,
2010, p. 23)
Assim, nota-se claramente que o conceito legal de meio ambiente não abrange
somente o mundo natural, mas também o ecossistema humano.
Segundo o mesmo autor, esta ampliação do conceito de meio ambiente não é nova
e, para justificar a assertiva, o autor exemplifica com o caso dos Estados Unidos da
América, que proclamaram, na lei de Política Nacional do Meio Ambiente, de 1969 que o
Direito Ambiental “não concerne somente ao meio ambiente natural – a condição física da
terra, do ar e da água. Abrange, também, o meio ambiente humano – a saúde, o social e
outras condições afetando os seres humanos da Terra”. (FURLAN, 2010, p. 26)
Para Helena Ribeiro, juntamente com a evolução da legislação, ampliou-se a
consciência de que a saúde, individual e coletiva, nas suas dimensões, física e mental, está
intrinsecamente relacionada à qualidade do meio ambiente. (RIBEIRO, 2004, p. 71)
No Brasil, conforme se denota do texto expresso do art. 2º da lei n. 6.938/81 a
supracitada Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria
e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no país, condições
ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da
dignidade da vida humana. (TRENNEPOHL, 2010, p. 13-14)
Para Ordacgy, o direito à saúde pode ser considerado o direito humano e social mais
importante encontrando-se entre os bens intangíveis mais preciosos do ser humano, com
característica indissociável do direito à vida sendo pois direito social fundamental, a ser
exercido pelo Estado através da implementação de políticas públicas e sociais que
propiciem seu gozo efetivo. (ORDACGY)
Desde já, nota-se a relação de dependência entre o direito meio ambiente e o direito
à saúde, bem como sua ligação com o princípio basilar do Estado Democrático de Direito
que é a dignidade da pessoa humana.
Para Celso Antônio Pacheco Fiorillo, o bem ambiental, deve este ser, além de bem
de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida, bem assim, os bens essenciais
à sadia qualidade de vida são os bens fundamentais à garantia da dignidade da pessoa
5

humana, ou seja, ter uma vida sadia é ter uma vida com dignidade. (FIORILLO, 2010, p.
177)
Sobre a dignidade, Sirvinskas por sua vez afirma que: “a dignidade da pessoa
humana, ao lado da soberania e da cidadania, constitui o fundamento primeiro, a coluna
dorsal do Estado Democrático de Direito”. (SIRVINSKAS, 2. ed., 2010, p.158)
No que diz respeito ao conceito à saúde no contexto político brasileiro, afirmam
Vargas, Oliveira e Garbois que a política de saúde brasileira, no marco da VIII
Conferencia Nacional de Saúde, em 1986, também relacionou a saúde e o meio ambiente.
(VARGAS, 2007).
Essa relação poder ser vista ainda no próprio conteúdo do artigo 196 da
Constituição Federal de 1988 que diz, verbis: “a saúde é um direito de todos e um dever do
Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem a redução do risco de
doenças e de outros agravos e ao acesso universal igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação”
Neste ponto insta ressaltar que o direito ao meio ambiente, assim como o direito à
saúde encontra-se elencado como sendo um “direito de todos”, pois que, na mesma
Constituição Federal em seu artigo 225 o legislador afirma que “todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo para
as presentes e futuras gerações.”
O direito à prevenção de risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente foi
expressa no art. 225, parágrafo 1º onde para assegurar a efetividade desse direito, incumbe
ao poder público: “V – controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,
métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio
ambiente”. (MACHADO, 2011, p. 85)
Assim, pode-se observar que o meio ambiente entendido como um bem público que
todos têm direito de usufruir e dever de defender, constitui-se, ao mesmo tempo, em pré-
requisito essencial à saúde e à qualidade de vida. (VARGAS, 2007)
Cumprida pois esta primeira etapa de contextualização legal dos institutos saúde e
meio ambiente passa agora a dissertar sobre as relações entre meio ambiente e saúde no
contexto político brasileiro e ainda apresentar o conceito pertinente da dita saúde ambiental.
6

2 SAÚDE AMBIENTAL

Em novembro de 1986, em Ottawa, no Canadá, ocorria a Primeira Conferência


Internacional Sobre Promoção da Saúde, onde se identificou a saúde como maior recurso
para o desenvolvimento social, econômico e pessoal, assim como uma importante dimensão
da qualidade de vida. (Carta de Ottawa, 1986)
Embora a nossa Constituição Federal não chegue a dar uma definição de saúde
afirma, contudo em seu artigo 196, entende-se saúde como “a redução do risco de doenças
e de outros agravos”. Assim, nota-se que a Constituição, não só considera ser saudável a
redução de doenças, mas também não correr riscos de ficar doente. (MACHADO)
Dois anos após a promulgação da Constituição Federal de 1988, a Lei 8.080 de 19
de setembro de 1990 em seu artigo 3º caput afirma que:

A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a


alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o
trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e
serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a
organização social e econômica do País.

Também a supracitada Lei Federal nº 6.938/81, conhecida como Política Nacional


do Meio Ambiente, dita em seu artigo 2º que tem por objetivo a preservação, melhoria e
recuperação da qualidade ambiental favorável à vida e, portanto, à saúde, visando assegurar
condições ao desenvolvimento sócio-econômico e à proteção da dignidade humana.
Além disso, ainda na Lei de Política Nacional do Meio Ambiente, Lei n.
6.938/1981, ao conceituar em seu artigo 3º, III “poluição” afirma que poluição é: “a
degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a)
prejudiquem a saúde [...] d) afetem as condições [...] sanitárias do meio ambiente”. De
modo que, o primeiro valor ambiental mencionado pela Lei é a “saúde” e, sendo assim, no
plano legal, “nunca se duvidou da imprescindível ligação entre o meio ambiente e a saúde”.
(MACHADO)
7

Em consonância com essa evidente relação conceitual, Machado alerta ainda para a
Resolução CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente nº 001/1986, que define
“impacto ambiental” como: “qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e
biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante
das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetem: I - a saúde, [...]”
(MACHADO)
Por sua vez, o sistema jurídico brasileiro contempla a relação entre meio ambiente e
saúde, conforme se exemplifica a seguir.
O artigo 225, da Constituição Federal do Brasil, estipula que: "Todos têm direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações".
Por fim, cumpre mencionar a Lei nº 8.080/90, que regula em todo país as ações e
serviços de saúde. Essa lei, além de consignar em seu artigo 3º o meio ambiente como um
dos vários fatores condicionantes para a saúde, prevê uma série de ações integradas
relacionadas à saúde, meio ambiente e saneamento básico.
Todavia, o termo “saúde ambiental” foi definido apenas em 1993, apresentada na
Carta de Sofia, produzida no encontro da Organização Mundial de Saúde, realizado na
cidade de Sofia:

Saúde ambiental são todos aqueles aspectos da saúde humana, incluindo


a qualidade de vida, que estão determinados por fatores físicos, químicos,
biológicos, social e psicológicos no meio ambiente. Também se refere à
teoria e prática de acessar, corrigir, controlar e prevenir aqueles fatores
do meio ambiente que potencialmente podem prejudicar a saúde das
presentes e futuras gerações1 (OMS, 1993).

Deste modo o termo saúde ambiental abarca aspectos de saúde e enfermidades


humanas, determinados por fatores ambientais. Também se refere à teoria e à prática da
avaliação e do controle dos fatores ambientais que possam afetar a saúde e liga

1
WHO (draft definition developed at a WHO consultation in Sofia, Bulgaria, 1993)—Environmental health
comprises of those aspects of human health, including quality of life, that are determined by physical,
chemical, biological, social, and psychosocial factors in the environment. It also refers to the theory and
practice of assessing, correcting, controlling, and preventing those factors in the environment that can
potentially affect adversely the health of present and future generations.
8

conceitualmente os temas ambientais, tais como, água ou solo dos seres humanos, pois que,
é fato que os efeitos do uso das águas, do solo, do ar, da flora e da fauna não pode ser
ignorado ou desprezado na gestão da saúde humana. (MACHADO).
No Brasil, a expressão “saúde ambiental” foi consagrada na Lei 10.683 de
28/05/2003, que dispõe sobre a organização da Presidência da República e dos Ministérios
a qual atribuiu em seu artigo 27, inciso XX, como uma das competências do Ministério da
Saúde: [...] “c) saúde ambiental e ações de promoção, proteção e recuperação da saúde
individual e coletiva, inclusive a dos trabalhadores e dos índios”. -
Doutor em

Neste diapasão, insta relatar que Paulo Affonso Leme Machado elogiou a utilização
da expressão na lei, bem como, a partilha de competências entre os Ministérios, a “saúde
ambiental” como uma das competências do Ministério da Saúde. (MACHADO)
Para o citado autor saúde ambiental é a área da saúde pública que afeta o
conhecimento científico e a formulação de políticas públicas relacionadas à interação entre
a saúde humana e os fatores do meio ambiente natural e antropológico que a determinam,
condicionam e influenciam, com vistas a melhorar a qualidade de vida do ser humano,
resguardando sua sustentabilidade. (MACHADO)
Souza e Castro acrescentam ainda que a saúde ambiental incluem práticas intra e
intersetoriais e transdisciplinares sobre as relações das pessoas com o ambiente, visando ao
bem-estar, à qualidade de vida e à sustentabilidade, a fim de orientar políticas públicas
adequadas. (SOUZA, p. 4)
Como expressão semelhante, temos o “saneamento ambiental” que foi incluída na
Lei 11.445/07 que estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico e para a
Política Federal de Saneamento Básico, o que demonstra ainda mais, a vinculação da saúde
e meio ambiente, bem como, com a visão de preservação do meio ambiente, como forma de
preservar a própria vida. (SAKER, 2007)
Segundo Furlan, esta lei pode ser considerada verdadeiro marco na construção de
um Estado com efetivas políticas públicas voltadas a salubridade e bem-estar da população
nacional e pautadas pelo desenvolvimento sustentável, pois, além de pioneiramente
regulamentar setor tão sensível à vida em comunidade, em nenhum momento descurou dos
aspectos ambientais da atividade. (FURLAN, 2010, p. 335)
9

À guisa de exemplo, veja o que dispõe o art. 2º, incisos III e VI, da citada lei acerca
dos princípios fundamentais dos serviços públicos de saneamento básico, verbis:

Entende-se que a Art. 2o Os serviços públicos de saneamento básico serão prestados com
saúde ambiental está base nos seguintes princípios fundamentais:
diretamente ligada à III - abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e
saúde dos seres manejo dos resíduos sólidos realizados de formas adequadas à saúde
humanos uma vez que pública e à proteção do meio ambiente;
o meio tem uma VI - articulação com as políticas de desenvolvimento urbano e regional,
influência direta sobre a de habitação, de combate à pobreza e de sua erradicação, de proteção
saúde física e mental ambiental, de promoção da saúde e outras de relevante
interesse social voltadas para a melhoria da qualidade de vida, para as
dos seres.
quais o saneamento básico seja fator determinante;

Por fim, registra-se que, desde 2007, há estudos para criação de uma Política
Nacional de Saúde Ambiental; política esta que terá o objetivo de contribuir para proteger e
promover a saúde humana por meio de um conjunto de ações integradas com instâncias de
governo e da sociedade civil para fortalecer atores sociais e indivíduos no enfrentamento
dos determinantes socioambientais e na prevenção dos agravos decorrentes da exposição
humana a ambientes adversos; sendo assim, versa sobre os processos de construção,
interlocução, os princípios, as diretrizes e os instrumentos cabíveis à referida política.
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2007, p. 5)
Este documento foi elaborado em conjunto com diversos representantes de órgãos
governamentais, conselho Nacional de Saúde e de instituições de ensino e de pesquisa,
visando à implantação de uma política pública direcionada à saúde ambiental nas quais
aparecem de forma marcada a articulação entre saúde e ambiente com o desenvolvimento
sustentável. (BLESSMANN, 2010)
Desde modo fica constatado que há uma crescente preocupação com a Saúde
Ambiental, que, segundo Ribeiro, baseia-se no reconhecimento da existência e das
necessidades de todos os seres humanos e no encontro de soluções dentro dos princípios de
eqüidade e de universalidade. (RIBEIRO, 2004, p. 71)
Conforme citado supra, a dimensão ambiental da saúde é incorporada no conceito
ampliado de saúde, formulado pelo movimento sanitário e legitimado na VIII conferência
nacional de saúde, em 1986, que desencadeou evidente evolução na legislação brasileira
10

sobre o tema, “elevando a saúde ao patamar de direito social e à qualidade de vida,


condicionando a vida digna”. (VARGAS, 2007)
Apresentada a “saúde ambiental” como expressão doutrinária consagrada na
legislação que demonstra insofismavelmente a relação entre o direito à saúde e ao meio
ambiente passa agora às argumentações sobre o direito o direito à saúde ambiental como
direito fundamental.

3 SAÚDE AMBIENTAL COMO DIREITO FUNDAMENTAL

Demonstrada a relação de dependência entre o direito à saúde e o direito ao meio


ambiente, ou seja, que não há possibilidade em falar-se em saúde sem falar em meio
ambiente, pois que o meio ambiente equilibrado é condição para manutenção da vida de
todos os seres vivos, passemos agora a relembrar a relação destes direitos com o princípio
fundamental da dignidade da pessoa humana com o fim último de demonstrar a natureza
jurídica de direito fundamental ao direito ambiental.
Inicialmente, ressalta que sobre o direito à vida previsto no artigo 1º e no caput do
art. 5º da Constituição Federal em vigor, pode-se dizer que o legislador adotou
posicionamento claro no sentido de resguardar vida da pessoa humana não só enquanto
direito material constitucional fundamental mas absorvido por fundamento do Estado
Democrático de direito que estabelece a pessoa humana portadora de dignidade, como
destinatária de todas as normas constitucionais. (FIORILLO, 2010, 4 ed, p. 47)
Para Celso Antônio Pacheco Fiorillo uma vida com dignidade reclama a satisfação
dos valores mínimos fundamentais descritos no art. 6º da Constituição Federal, valores
estes que denominou “piso vital mínimo”. (FIORILLO, 2010, p. 177-178)
Assim, à teor do que dispõe o art. 6º da Constituição Federal é possível exigir do
Estado que sejam assegurados à todos, mediante o recolhimento dos tributos, educação,
saúde, trabalho, moradia, segurança, lazer, entre outros direitos básicos, indispensáveis ao
desfrute de uma vida digna. (FIORILLO, 2010, p. 177-178)
Neste diapasão, analisando o art. 6º em consonância com o art. 225, parágrafo
primeiro, inciso V da Constituição Federal, nota-se que o legislador constituinte atribuiu ao
Poder Público o dever de aplicar os princípios da prevenção e precaução, por meio do
11

controle da produção, comercialização e do emprego de técnicas, métodos e substâncias,


que comportem risco para a qualidade de vida e para o meio ambiente. (CUNHA, 2005)
No art. 225 da Constituição Federal foi estabelecido pela primeira vez na história do
direito constitucional brasileiro o direito ao meio ambiente, regrando, pois, no plano
normativo mais elevado, os fundamentos do direito ambiental constitucional. (FIORILLO,
2010, 4 ed., p. 51)
Neste sentido, considerando que o artigo 196 da Constituição Federal confirma o
caráter preventivo do direito à saúde, através da criação de políticas nacionais que
diminuam o risco de doença, o que, insofismavelmente envolve a preservação do meio
ambiente, é possível concluir pela inclusão do direito ao meio ambiente no rol dos direitos
fundamentais. (VARGAS, 2007)
Tanto é que o constituinte previu expressamente no artigo 5º, inciso LXXIII da
Constituição Federal o direito a qualquer cidadão à legitimidade para propor ação popular
que vise a anular ato lesivo ao meio ambiente.
Para Antunes, através da análise do disposto no inciso LXXIII supracitados,
“confirma-se, no direito positivo, a construção teórica que vem sendo elaborada pela
doutrina jurídica mais moderna e autorizada” pois que, a existência de uma ação
constitucional com a finalidade de defesa do meio ambiente é conseqüência da sua natureza
de garantia fundamental do cidadão ou direito fundamental do ser humano. (ANTUNES,
2011, p. 19-20)
Para finalizar este tópico, com capítulo final deste breve artigo que nem de longe
tem o condão de esgotar o tema, é de se explicitar que obviamente que a legitimidade de
qualquer cidadão na defesa do meio ambiente não é exclusive, sendo ainda de competência
do Ministério Público, nas esferas reparatória e repressiva, propor ações civis públicas e
ações penais públicas ambientais e ainda, como co-legitimados inseridos no art. 5º da lei n.
7347, de 24 de julho de 1985, incluída pela lei n. 11448, de 15 de janeiro de 2007, a
defensoria pública. (SIRVINSKAS, 2010, 2 ed.., p. 9)

CONSIDERAÇÕES FINAIS
12

No presente trabalho foi possível demonstrar que o direito ambiental é disciplina


transdisciplinar que se conecta com vários ramos do direito, pois que o meio ambiente não
abrange somente o mundo natural, mas também o ecossistema humano.
Neste diapasão pode-se observar que na temática do meio ambiente se insere a
saúde e outras condições afetando os seres humanos da Terra, havendo, pois, uma relação
de dependência entre o direito meio ambiente e o direito à saúde e à vida, pois que, sem o
meio ambiente equilibrado, não é possível a manutenção da vida, quiçá da saúde.
Assim, foi possível concluir também a ligação do meio ambiente com o princípio
basilar do Estado Democrático de Direito que é a dignidade da pessoa humana, relação esta
que se encontra positivada na constituição e em várias legislações esparsas, citadas no bojo
deste trabalho.
Apresentou-se ainda a expressão “saúde ambiental”, definida em 1993 no encontro
da Organização Mundial de Saúde, na cidade de Sofia, com todos os aspectos da saúde
humana; inclui a qualidade de vida, que estão determinados por fatores físicos, químicos,
biológicos, sociais e psicológicos no meio ambiente e sua evolução doutrinária como
corolário da relação entre o direito ambiental e o direito à saúde humana.
Por fim, demonstrou-se que, em sendo a vida digna da pessoa humana somente
possível na presença de efetividade do direito à saúde que, por sua vez, só tem efetividade
na presença do meio ambiente equilibrado, não há alternativa se não consagrar também o
direito ao meio ambiente como direito fundamental, em consonância com a interpretação
sistemática da Constituição Federal vigente, bem como, com a mais atualizada doutrina.

REFERÊNCIAS

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13

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