Você está na página 1de 5

Publicado no DJE n° 3157, de 12/05/2020, p.5.

TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE MATO GROSSO

ACÓRDÃO Nº 27843

PRESTAÇÃO DE CONTAS (11531) - 0601134-71.2018.6.11.0000 - Cuiabá - MATO GROSSO


PRESTAÇÃO DE CONTAS - DE CANDIDATO, CARGO - DEPUTADO ESTADUAL
REQUERENTE: ELEIÇÃO 2018 DARCI AGOSTINHO DA SILVA GONÇALVES DEPUTADO ESTADUAL
REQUERENTE: DARCI AGOSTINHO DA SILVA GONÇALVES
FISCAL DA LEI: PROCURADORIA REGIONAL ELEITORAL
RELATOR: DESEMBARGADOR SEBASTIÃO BARBOSA FARIAS

ELEIÇÕES 2018. PRESTAÇÃO DE CONTAS. CANDIDATO. DEPUTADO ESTADUAL.


IRREGULARIDADES CONSTATADAS NA CONTABILIDADE. AUSÊNCIA DE
INSTRUMENTO DE MANDATO PARA CONSTITUIÇÃO DE ADVOGADO. FALTA DE
CAPACIDADE POSTULATÓRIA. CONTAS JULGADAS NÃO PRESTADAS. PLEITO
MINISTERIAL PARA QUE OS VALORES NÃO COMPROVADOS SEJAM DESTINADOS
AOS FUNDOS DE SAÚDE DE COMBATE À PANDEMIA DA COVID-19. INDEFERIMENTO.

1. Considera-se não prestadas as contas quando o candidato não apresenta procuração que
outorga poderes ao advogado que irá lhe representar nos autos.

2. Recursos recebidos do FEFC devem ser devolvidos ao Tesouro Nacional, ante a sua não
comprovação. Na fase de conhecimento, não há como se determinar o recolhimento
diretamente aos fundos de saúde, por expressa vinculação legislativa.

ACORDAM os Membros do Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso, por unanimidade, em


DECLARAR NÃO PRESTADAS AS CONTAS DO CANDIDATO.

Cuiabá, 07/05/2020.

DESEMBARGADOR SEBASTIÃO BARBOSA FARIAS


Relator

RELATÓRIO

DESEMBARGADOR SEBASTIÃO BARBOSA FARIAS (Relator):

Trata-se de prestação de contas apresentada por Darci Agostinho da Silva Gonçalves,


candidato ao cargo de Deputado Estadual pelo Solidariedade/MT, nas eleições de 2018.

Consoante certidão inserida no Id. 410222, não houve impugnação à prestação de contas sub
examine.

Após a realização de diligências, a unidade técnica deste Sodalício, por intermédio do parecer
técnico conclusivo de Id. 2959172, pugnou pela não prestação das contas, uma vez que ausente instrumento

Assinado eletronicamente por: SEBASTIÃO BARBOSA FARIAS - 11/05/2020 10:11:41 Num. 3117172 - Pág. 1
https://pje.tre-mt.jus.br:8443/pje-web/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20050810063488400000003034877
Número do documento: 20050810063488400000003034877
de mandato para constituição de advogado, ou, caso regularizada a representação processual, pela
desaprovação da contabilidade.

Instada a se manifestar, a Procuradoria Regional Eleitoral opinou pelo julgamento das contas
como não prestadas, nos termos do art. 77, inciso IV, da Resolução TSE nº 23.553/2017, com o
recolhimento dos valores não comprovados pelo candidato aos fundos de saúde, em razão da pandemia da
Covid-19 (Id. 2992872).

É o breve relatório.

VOTO

DESEMBARGADOR SEBASTIÃO BARBOSA FARIAS (Relator):

O candidato Darci Agostinho da Silva Gonçalves apresentou contas relativas à sua


campanha ao cargo de Deputado Estadual, que após serem submetidas à apreciação da unidade técnica
desta Corte de Justiça, restaram identificadas as seguintes impropriedades e irregularidades:

a) Não foi apresentado o extrato das contas bancárias destinadas à movimentação de


recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC), de todo o período (item 1.1 – a);

b) Não foi apresentado o extrato das contas bancárias destinadas à movimentação de Outros
Recursos, de todo o período (item 1.1 – b);

c) Ausência de documentos fiscais que comprovem a regularidade dos gastos eleitorais


realizados com recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC), peças obrigatórias de
acordo com o art. 56, II, “c”, da Resolução TSE nº 23.553/2017 (item 1.1 – c);

d) Não foi apresentado instrumento de mandato para constituição de advogado, devidamente


assinado, peça obrigatória de acordo com o art. 56, II, “f”, da Resolução TSE nº 23.553/2017 (item 1.1 – d);

e) Dívida de campanha declarada na prestação de contas, no total de R$ 9.900,00 (nove mil


e novecentos reais), sem qualquer comprovação de que tenha sido regularmente assumida pelo órgão
partidário respectivo, em desacordo com o disposto no art. 35, §§ 2° e 3°, da Resolução TSE n° 23.553/2017
(item 1.1 – e);

f) Não foi comprovado o recolhimento, ao Tesouro Nacional, dos recursos não utilizados
oriundos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC), no montante de R$ 10.000,00 (dez mil
reais), contrariando o disposto no art. 53, § 5º, da Resolução TSE nº 23.553/2017 (item 1.1 – f);

g) Foram declaradas doações diretas realizadas por outros candidatos e partidos políticos,
mas não registradas na prestação de contas em exame, revelando indícios de omissão de receitas, ainda
que estimáveis em dinheiro (item 2.1);

h) Foram detectadas divergências entre as informações relativas às despesas, constantes da


prestação de contas final em exame, e aquelas constantes da prestação de contas parcial, frustrando a
execução tempestiva das medidas de controle concomitante, transparência e fiscalização, contrariando o
que dispõe o art. 50, § 6º, da Resolução TSE nº 23.553/2017 (item 3.1); e

Assinado eletronicamente por: SEBASTIÃO BARBOSA FARIAS - 11/05/2020 10:11:41 Num. 3117172 - Pág. 2
https://pje.tre-mt.jus.br:8443/pje-web/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20050810063488400000003034877
Número do documento: 20050810063488400000003034877
i) Foram detectados gastos eleitorais realizados em data anterior à data inicial de entrega da
prestação de contas parcial, mas não informados à época, em desacordo com o comando do art. 50, § 6°, da
Resolução TSE nº 23.553/2017 (Item 3.2).

Como se pode observar, o vasto conjunto de ocorrências não sanadas ou esclarecidas pelo
candidato desautoriza que as presentes contas sejam homologadas por esta Justiça Especializada.

Em que pese haver sido regularmente intimado, até mesmo pessoalmente, o requerente
deixou de se manifestar e, principalmente, de regularizar a sua representação processual nos autos, com a
simples apresentação de instrumento de mandato para constituição de advogado, conforme determina a
legislação de regência.

A falta de tal documento leva a inafastável conclusão do julgamento das contas como não
prestadas, diante da ausência de capacidade postulatória, acarretando, ao candidato, o impedimento de
obter certidão de quitação eleitoral até o final da legislatura, persistindo os efeitos da restrição após esse
período até a efetiva apresentação das contas (art. 77, § 2º c/c 83, I, da Resolução TSE nº 23.553/2017).

A esse respeito, é pacífico o entendimento dos Tribunais Eleitorais, senão vejamos:

ELEIÇÕES 2018. AGRAVO INTERNO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. PRESTAÇÃO DE


CONTAS. DEPUTADO ESTADUAL. CONTAS NÃO PRESTADAS. AUSÊNCIA DE
ADVOGADO CONSTITUÍDO. INTIMAÇÃO DO CANDIDATO. REEXAME DO CONJUNTO
FÁTICO–PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE EM SEDE DE RECURSO ESPECIAL. SÚMULA
Nº 24 DO TSE. INTIMAÇÃO REALIZADA NOS TERMOS DA LEGISLAÇÃO. INEXISTÊNCIA
DE NULIDADE. AGRAVO DESPROVIDO.

1. Na espécie, o TRE/GO manteve o julgamento das contas do candidato como não


prestadas, uma vez que, mesmo após devidamente intimado, não sanou a
irregularidade consistente na ausência de instrumento de mandato nos autos.

2. Para modificar a conclusão da Corte de origem, quanto à ocorrência de intimação pessoal


do candidato, seria necessária a reincursão sobre o acervo fático–probatório dos autos,
providência inviável em sede especial, incidindo o óbice do enunciado da Súmula nº 24 do
TSE.

3. A intimação pessoal dirigida ao endereço do candidato, mesmo sendo recebida por terceira
pessoa, é considerada válida e eficaz, sendo aplicado aos processos de prestação de contas
o disposto nos arts. 101, § 4º, da Resolução–TSE nº 23.553/2017 e 274, parágrafo único, do
Código de Processo Civil. (Destaquei)

(Agravo de Instrumento nº 060357142, Acórdão, Relator(a) Min. Edson Fachin, Publicação:


DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 86, Data 05/05/2020)

DIREITO ELEITORAL. AGRAVO INTERNO EM RECURSO ESPECIAL ELEITORAL.


ELEIÇÕES 2016. PRESTAÇÃO DE CONTAS. AUSÊNCIA DE INSTRUMENTO DE
PROCURAÇÃO. CONTAS NÃO PRESTADAS. DESPROVIMENTO.

Assinado eletronicamente por: SEBASTIÃO BARBOSA FARIAS - 11/05/2020 10:11:41 Num. 3117172 - Pág. 3
https://pje.tre-mt.jus.br:8443/pje-web/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20050810063488400000003034877
Número do documento: 20050810063488400000003034877
1. Agravo interno contra decisão que negou seguimento a recurso especial eleitoral,
mantendo acórdão que julgou como não prestadas as contas de campanha, em razão da
ausência de instrumento de procuração.

2. A ausência de representação processual enseja o julgamento de contas como não


prestadas, uma vez que, com a edição da Lei nº 12.034/2009, o processo de prestação
de contas passou a ter caráter jurisdicional, razão pela qual é obrigatória a constituição
de advogado.

3. No caso, o agravante reitera os argumentos aduzidos no recurso especial eleitoral sem


apresentar razões suficientes para modificação do julgado, que deve ser mantido por seus
próprios fundamentos.

4. Agravo interno a que se nega provimento. (Destaquei)

(Recurso Especial Eleitoral nº 51614, Acórdão, Relator(a) Min. Luís Roberto Barroso,
Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Data 03/12/2018)

ELEIÇÕES 2018. CARGO DEPUTADO FEDERAL. OMISSÃO NA PRESTAÇÃO DE


CONTAS. NÃO JUNTADA DE INSTRUMENTO DE MANDATO. DECLARAÇÃO DE CONTAS
NÃO PRESTADAS.

1. Prestação de contas e não apresentação do instrumento de mandato para


constituição de advogado, mesmo após a devida intimação da candidata,
descumprindo o artigo 77, IV, § 2º da Resolução TSE nº 23.553/201.

2. Contas julgadas como NÃO PRESTADAS. (Destaquei)

(Prestação de Contas nº 60164569, ACÓRDÃO nº 27452 de 06/08/2019, Relator ANTÔNIO


VELOSO PELEJA JÚNIOR, Publicação: DEJE - Diário de Justiça Eletrônico, Tomo 2985,
Data 15/08/2019, Página 16)

Ainda, considerando que o requerente recebeu o montante de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil
reais) do Fundo Especial de Financiamento de Campanha – FEFC, cuja utilização não ficou comprovada,
imperioso se faz determinar o recolhimento integral do montante aos cofres da União, na forma prescrita pelo
art. 82, § 1º, da Resolução TSE nº 23.553/2017, in verbis:

“Art. 82 – omissis

1º Verificada a ausência de comprovação da utilização dos recursos do Fundo Partidário e/ou


do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) ou a sua utilização indevida, a
decisão que julgar as contas determinará a devolução do valor correspondente ao
Tesouro Nacional no prazo de 5 (cinco) dias após o trânsito em julgado, sob pena de
remessa de cópia digitalizada dos autos à representação estadual ou municipal da
Advocacia-Geral da União, para fins de cobrança.” (Destaquei)

Assinado eletronicamente por: SEBASTIÃO BARBOSA FARIAS - 11/05/2020 10:11:41 Num. 3117172 - Pág. 4
https://pje.tre-mt.jus.br:8443/pje-web/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20050810063488400000003034877
Número do documento: 20050810063488400000003034877
Quanto a este ponto, deve ser indeferido o pleito ministerial para que tais valores sejam
destinados diretamente aos fundos de saúde para o combate à pandemia da Covid-19, isso porque não cabe
ao Poder Judiciário determinar a outro Poder da União como esse deve aplicar referido recurso, ainda
porque o regramento legal [supratranscrito] já apresenta a solução a ser adotada ao caso concreto.

Inobstante, nada impede que na fase de execução da medida, a Advocacia-Geral da União,


legítima executora do débito, manifeste anuência quanto ao pleito formulado pela Procuradoria Regional
Eleitoral e, deste modo, os recursos sejam direcionados aos fundos de saúde já mencionados.

Importante registrar que este é o entendimento que vem sendo reiteradamente adotado por
esta Corte Eleitoral (v.g. Acórdão 27824, de 17.04.2020, Relator Dr. Jackson Francisco Coleta Coutinho).

Posto isso, em consonância parcial com o parecer da Procuradoria Regional Eleitoral, julgo
não prestadas as contas de campanha de Darci Agostinho da Silva Gonçalves, relativas às eleições
gerais de 2018.

Em consequência, determino o recolhimento ao Tesouro Nacional da quantia de R$


25.000,00 (vinte e cinco mil reais), referente ao recurso do Fundo Especial de Financiamento de Campanha
– FEFC utilizado e não comprovado, no prazo de 5 (cinco) dias, após o trânsito em julgado, nos termos do
art. 82 da Resolução TSE nº 23.553/2017.

É como voto.

VOTOS

JUIZ SEBASTIÃO MONTEIRO DA COSTA JÚNIOR, JUIZ FÁBIO HENRIQUE RODRIGUES


DE MORAES FIORENZA, JUIZ BRUNO D’OLIVEIRA MARQUES, JUIZ JACKSON FRANCISCO COLETA
COUTINHO, JUIZ YALE SABO MENDES.
Com o relator.

DESEMBARGADOR GILBERTO GIRALDELLI (Presidente):

O Tribunal, por unanimidade, declarou não prestadas as contas do candidato, nos termos do
voto do douto relator, em parcial consonância com o parecer ministerial.

EXTRATO DA ATA
PRESTAÇÃO DE CONTAS (11531) - 0601134-71.2018.6.11.0000 / MATO GROSSO.
Relator: Juiz-Membro Desembargador SEBASTIÃO BARBOSA FARIAS.
REQUERENTES: ELEIÇÃO 2018 DARCI AGOSTINHO DA SILVA GONÇALVES DEPUTADO
ESTADUAL; DARCI AGOSTINHO DA SILVA GONCALVES.
Decisão: ACORDAM os Membros do Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso, por unanimidade, em
DECLARAR NÃO PRESTADAS AS CONTAS DO CANDIDATO.
Composição: Juízes-Membros Desembargador GILBERTO GIRALDELLI (Presidente), BRUNO
D'OLIVEIRA MARQUES, FÁBIO HENRIQUE RODRIGUES DE MORAES FIORENZA, JACKSON
FRANCISCO COLETA COUTINHO, Desembargador SEBASTIÃO BARBOSA FARIAS, SEBASTIÃO
MONTEIRO DA COSTA JÚNIOR, YALE SABO MENDES e o Procurador Regional Eleitoral PEDRO
MELO POUCHAIN RIBEIRO.

SESSÃO DE 07/05/2020.

Assinado eletronicamente por: SEBASTIÃO BARBOSA FARIAS - 11/05/2020 10:11:41 Num. 3117172 - Pág. 5
https://pje.tre-mt.jus.br:8443/pje-web/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20050810063488400000003034877
Número do documento: 20050810063488400000003034877

Você também pode gostar