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26 de Junho de 2023

Impossibilidade de cobrança de
Anuidade de Conselho de Classe à
Servidor Público
Publicado por Patrick Mattos - Sociedade Unipessoal de Advocacia
há 8 anos  8.699 visualizações
O exercício da atividade profissional do servidor público está
condicionado aos requisitos previstos no art. 37, II, da Consti-
tuição Federal, subordinando o ingresso na carreira por con-
curso público de provas ou de provas e títulos, ressalvadas as
nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre
nomeação e exoneração.

Sendo de livre nomeação e exoneração, o preenchimento de


cargo em comissão depende apenas da nomeação por indicação
da autoridade, que investirá no cargo pessoa de sua confiança,
que não atendendo as expectativas poderá ser exonerado de
pronto, sem a necessidade de processo administrativo.

A administração pública é regida pelo princípio da estrita legali-


dade: ela só pode fazer aquilo que a lei determina. Desta forma,
a ocupação de cargos públicos deve atender aos ditames legais.
É a lei que determina os requisitos para provimento, criação e
para ocupação dos cargos públicos.

In casu, se o cargo exercido pelo servidor não exige a formação


no curso de administração, deve-se reconhecer como ilegal as
multas aplicadas pelo Conselho, por entender que na adminis-
tração pública quem dita quais cargos devem ser ocupados por
bacharéis em Administração é a lei, e não o Conselho de Admi-
nistração. Nesse sentido, a jurisprudência da 8ª Turma do
TRF1:
ADMINISTRATIVO. CONSELHO REGIONAL DE AD-
MINISTRAÇÃO. CARGO EM COMISSÃO. AUTUAÇÃO
POR EXERCÍCIO IRREGULAR DA PROFISSÃO. INO-
CORRÊNCIA. AUTO DE INFRAÇÃO. NULIDADE. 1. Se-
gundo a Lei n. 5.645/70, que estabelece diretrizes para
a classificação de cargos do Serviço Civil da União e
das autarquias federais, estabelece no seu art. 2º que
os cargos serão classificados como de provimento em
comissão e de provimento efetivo, enquadrando-se no
primeiro grupo as atividades de Direção e Assessora-
mento Superiores - DAS. O art. 3º da referida norma
prevê que os cargos em comissão de Direção e Assesso-
ramento Superiores - DAS serão providos pelo critério
da confiança, sendo que a teor do art. 37 da atual Cons-
tituição, esses referidos cargos serão declarados em lei
de livre nomeação e exoneração. 2. A teor do art. 1º da
Lei n. 6.839/80, o registro das empresas e a anotação
dos profissionais legalmente habilitados nos conselhos
profissionais subordina-se à atividade básica ou em re-
lação àquela pelo qual prestem serviços a terceiros.3. A
Lei n. 4.769/65 estabelece em seu art. 2º as atividades
exercidas pelo Técnico de Administração.4. Verifica-se
que o servidor público ocupante de cargo em comissão
de Chefe de Divisão de Pagamento do Ministério das
Comunicações, provido por critério de confiança e de
livre nomeação e exoneração, que não enseja conheci-
mentos técnicos na área administrativa, não exige re-
gistro no Conselho Regional de Administração, por-
quanto a atividade preponderante não se enquadra nas
categorias descritas na Lei n. 4.769/65. 5. Apelação e
remessa oficial, tida por interposta, improvidas.(AMS
2002.34.00.025781-6/DF, relator juiz federal Cleber-
son José Rocha (conv.), e-DJF1de 08/08/2008, p.490)
ADMINISTRATIVO. CONSELHO REGIONAL DE AD-
MINISTRAÇÃO. FISCALIZAÇÃO. SERVIDOR PÚ-
BLICO. CARGO EM COMISSÃO. ATIVIDADE PRIVA-
TIVA DE ADMINISTRADOR. AUSÊNCIA DE PREVI-
SÃO LEGAL, NA ESPÉCIE. NULIDADE DOS AUTOS
DE INFRAÇÃO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. CA-
BIMENTO. 1. A administração pública é regida pelo
princípio da estrita legalidade. É a lei que determina os
requisitos para provimento, criação e para ocupação
dos cargos públicos.2. Se inexiste previsão legal para
que os cargos de provimento em comissão ocupados
pelos impetrantes, na Secretaria Executiva de Trabalho
e Promoção Social do Estado do Pará, de Diretor de
Administração e Finanças, Chefe da Divisão de Mate-
rial e Patrimônio, Chefe da Divisão de Recursos Huma-
nos, Chefe da Divisão Financeira e Chefe da Divisão de
Serviços Gerais sejam ocupados por bacharel em Admi-
nistração, mostra-se ilegal a multa aplicada pelo con-
selho fiscalizador da classe.3. Encontra-se pacificado o
não-cabimento de condenação em honorários advocatí-
cios em sede de mandado de segurança (Súmulas 512
do STF e 105 do STJ) 4. Apelações e remessa oficial im-
providas. (AMS 2001.39.00.001933-0/PA, relator de-
sembargador federal Leomar Barros Amorim de
Sousa, e-DJF1de 26/09/2008, p.1161)

As anuidades devidas aos Conselhos de Fiscalização Profissional


possuem fundamento jurídico no art. 149 da Magna Carta, o
qual atribui à União a competência para a instituição das contri-
buições de interesse das categorias profissionais ou econômicas.
Por possuírem a natureza jurídica de tributos, as referidas con-
tribuições submetem-se aos princípios que regem o Sistema Tri-
butário Nacional, em especial o princípio da legalidade tributá-
ria (art. 150, I, CF/88).
O art. 1º, da Lei nº 6.839/80, estabelece a obrigatoriedade de
inscrição junto aos Conselhos de Fiscalização das empresas
que exercem as atividades por eles fiscalizadas. Neste sentido,
cito o referido dispositivo.

Lei nº 6.839/80 - Art. 1º "O registro de empresas e a anotação


dos profissionais legalmente habilitados, delas encarregados,
serão obrigatórios nas entidades competentes para a fiscalização
do exercício das diversas profissões, em razão da atividade bá-
sica ou em relação àquela pela qual prestem serviços a
terceiros."

Convém observar que o artigo 14º, da Lei nº 4.769, diz expres-


samente que “Só poderão exercer a profissão de Administrador
os profissionais devidamente registrados nos CRAs, pelos quais
será expedida a carteira profissional”

Dessa forma, entendo estar devidamente demonstrado que no


período correspondente à aplicação das anuidades, não exercia
atividade profissional fiscalizada pelo órgão fiscalizador, não se
afigurando razoável a obrigatoriedade do mesmo estar inscrito
no Conselho Regional de Administração, razão pela qual incabí-
vel a cobrança das parcelas previstas na notificação. Colho, a
propósito, os seguinte julgados dos Tribunais Regionais
Federais:
ADMINISTRATIVO. CONSELHO REGIONAL DE AD-
MINISTRAÇÃO-CRA. REGISTRO PROFISSIONAL.
ANUIDADES. LEI Nº 6.839/80. SERVIDOR PÚBLICO.
INEXIGIBILIDADE DE INSCRIÇÃO. 1. O CRA não
pode exigir o registro e a cobrança de anuida-
des de pessoas físicas que não exerçam, como
atividade básica, tarefas típicas de administra-
ção. 2. Sendo a impetrante funcionária pública
federal, encontra-se impedida legalmente de
exercer atividades de administração ou gerên-
cia de empresas privadas, ofendendo direito lí-
quido e certo a negativa do CRA/SC de denegar
sua desfiliação daquele conselho. 3. Remessa
oficial improvida.(TRF-4 - REO: 53211 SC
1998.04.01.053211-3, Relator: ALCIDES VETTORAZZI,
Data de Julgamento: 20/06/2000, QUARTA TURMA,
Data de Publicação: DJ 02/08/2000 PÁGINA: 310)

ADMINISTRATIVO. CONSELHO REGIONAL DE MAN-


DADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO. CONSE-
LHO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO/CRA. AUDI-
TOR FISCAL DO TESOURO NACIONAL. REGISTRO
PROFISSIONAL. CANCELAMENTO. O EXERCÍ-
CIO DO CARGO DE AUDITOR FISCAL DO TE-
SOURO NACIONAL NÃO SUJEITA O SERVIDOR
PÚBLICO À FISCALIZAÇÃO DO CONSELHO
PROFISSIONAL, E PRESCINDE DO REGISTRO
E PAGAMENTO DE ANUIDADES NO CONSE-
LHO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO.(TRF-5 -
REOMS: 71608 CE 2000.05.00.016493-0, Relator: De-
sembargador Federal Paulo Machado Cordeiro (Subs-
tituto), Data de Julgamento: 26/06/2003, Terceira
Turma, Data de Publicação: Fonte: Diário da Justiça -
Data: 15/10/2003 - Página: 1196)
EMENTA: TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. CON-
SELHO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO. DESEMPE-
NHO DE ATIVIDADE QUE NÃO ENSEJA A FISCALI-
ZAÇÃO. REGISTRO. ANUIDADES. INEXIGIBILI-
DADE. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. 1. O fato
gerador da contribuição paga aos Conselhos de
Fiscalização Profissional é o efetivo exercício
da atividade sujeita a registro, e não a inscri-
ção propriamente dita. Assim, ainda que haja a
inscrição em Conselho, não havendo prestação
de atividade, não há falar em pagamento de
anuidade. 2. Não exercendo a atividade carac-
terizadora do fato gerador das anuidades, não
é dado ao respectivo órgão fiscalizador, em
atenção ao princípio da razoabilidade, exigir a
correspondente contribuição (anuidade). 3. Hi-
pótese em que a mantença da condenação do Conselho
apelante em honorários advocatícios decorre do fato de
haver oferecido resistência aos embargos à execução
por meio de impugnação da pretensão do embargante,
advindo intrinsecamente à incidência do princípio da
sucumbência. 4. Tendo em conta o valor da causa, e o
disposto no art. 20, § 4º, do CPC, tenho que os honorá-
rios advocatícios devem ser preservados em 10% sobre
o valor dos embargos. (TRF4, AC 5000143-
92.2014.404.7200, Segunda Turma, Relator p/ Acór-
dão Otávio Roberto Pamplona, juntado aos autos em
06/11/2014)

Assim, verificada a inexigibilidade de inscrição para o serviço


público prestado, bem como ausência de fato gerador é vedado a
cobrança de anuidade pelo Conselho de Classe.
Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/impossibilidade-de-cobranca-de-anuidade-
de-conselho-de-classe-a-servidor-publico/217141068

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