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Publicado no DJE n° 3222, de 13/08/2020, p. 4.

TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE MATO GROSSO

RESOLUÇÃO N° 2490

CONSULTA (11551) - 0600247-19.2020.6.11.0000 - Lucas do Rio Verde - MATO GROSSO


CONDUTA VEDADA A AGENTE PÚBLICO
CONSULENTE: FLORI LUIZ BINOTTI
FISCAL DA LEI: Procuradoria Regional Eleitoral
RELATOR: SEBASTIÃO MONTEIRO DA COSTA JÚNIOR

CONSULTA ELEITORAL. PREFEITO. AUTORIDADE PÚBLICA. LEGITIMIDADE DO


CONSULENTE. PERTINÊNCIA TEMÁTICA. QUESTIONAMENTO. CONCESSÃO DE
BENEFÍCIO EM LEI MUNICIPAL. ANO ELEITORAL. PANDEMIA. CORONAVÍRUS.
COVID-19. LEI MUNICIPAL EM VIGOR. CASO CONCRETO. CONSULTA NÃO
CONHECIDA.

1. A consulta eleitoral pressupõe três requisitos cumulativo para conhecimentos, dentre eles o
da abstração, ausente este a consulta não deve ser conhecida por assumir contornos
concreto.

2. "A rigorosa exigência de formulação de Consulta Eleitoral somente em tese e


abstratamente concretiza a preocupação jurídica e judicial de evitar pronunciamentos que,
sem a devida observância do indispensável contraditório e da ampla defesa, pilares de ferro
do justo processo jurídico, apontem soluções de casos concretos que poderão, no futuro,
bater às portas da Justiça Eleitoral. As respostas a Consultas Eleitorais veiculam orientações
valiosas e prestantes aos Partidos Políticos, aos candidatos e, igualmente, às instâncias do
Poder Judiciário Eleitoral, como fixado no art. 30 da Lei Anastasia (Lei n° 13.655/2018) –
segundo o qual as autoridades públicas devem atuar para aumentar a segurança jurídica na
aplicação das normas, inclusive por meio de regulamentos, súmulas administrativas e
respostas a Consultas –, que enfatiza a eficácia desse tipo de provimento”. [Precedente do
TSE]

3. Consulta não conhecida.

RESOLVEM os Membros do Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso, por unanimidade,


NÃO CONHECER DA CONSULTA.

Cuiabá, 21.07.2020.

SEBASTIÃO MONTEIRO DA COSTA JÚNIOR


Relator

RELATÓRIO

JUIZ SEBASTIÃO MONTEIRO DA COSTA JÚNIOR (Relator):

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Número do documento: 20080513141198400000003732477
Trata-se de consulta eleitoral formulada pelo Prefeito do Município de Lucas do Rio
Verde/MT, Sr. FLORI LUIZ BINOTTI, perante este Colendo Tribunal Regional, a fim de restarem esclarecidos
os seguintes questionamentos:

“1) Considerando estarmos em ano de eleições municipais, é possível ao prefeito sancionar


Lei Municipal que autoriza desconto na fatura de fornecimento de água em percentual maior
ao vigente e estabelecer critérios de enquadramento de famílias ao benefício de Tarifa
Social?

2) Sendo positiva a resposta ao questionamento acima, até que data é permitido realizar a
sanção da respectiva Lei?”

Instada a prestar informações sobre o assunto, a Secretaria Judiciária manifestou-se,


preliminarmente, pelo não conhecimento da consulta e, no mérito, respondeu aos questionamentos de
acordo com a legislação vigente [ID 3625422].

Com vistas dos autos, a douta Procuradoria Regional Eleitoral opinou pelo NÃO
CONHECIMENTO da presente consulta, haja vista que a “hipótese retratada contempla indagação sobre
caso concreto” [ID 3639472].

Em seguida, vieram-me os autos conclusos para decisão.

É o relatório.

VOTO

JUIZ SEBASTIÃO MONTEIRO DA COSTA JÚNIOR (Relator):

Em linhas gerais, a consulta eleitoral é um instrumento jurídico que busca dirimir dúvida
razoável e genuína em face de lacuna ou obscuridade legislativa ou jurisprudencial.

Segundo o artigo 30, inciso VIII, do Código Eleitoral, compete aos Tribunais Regionais “
responder, sobre matéria eleitoral, às consultas que lhe forem feitas, em tese, por autoridade pública ou
partido político”.

A partir do referido texto normativo e do entendimento jurisprudencial, para conhecimento da


consulta, é imprescindível a presença simultânea de três requisitos, a saber: i. legitimidade do consulente; ii.
pertinência temática com a matéria eleitoral; iii. formulação em tese.

Nesse sentido, cito precedente do Tribunal Superior Eleitoral:

CONSULTA. DEPUTADO FEDERAL. ARTEFATO PUBLICITÁRIO. ALTO GRAU DE ESPECIFICIDADE.


PROEMINENTE IMPROBABILIDADE DE REPETIÇÃO. INDICATIVOS DE CONEXÃO FACTUAL.
CONSULTA NÃO CONHECIDA 1. A formulação de consulta válida pressupõe o cumprimento de três
requisitos cumulativos, a saber: i) a legitimidade do consulente; ii) a pertinência temática (veiculação
de matéria eleitoral em sentido estrito); e iii) a completa desvinculação com casos concretos
(inequívoca abstração). 2. No que tange ao imperativo hipotético, a efetiva resposta a consultas somente se
assevera possível quando evidenciada a ausência de ligação possível com controvérsias customizadas,
subjacentes a ações eleitorais determinadas que se projetam vindouras. 3. Nesse sentido, a expectativa de

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judicialização – denotada, mais das vezes, pela excessiva concretude das nuanças alinhadas – opera como
pressuposto negativo para o conhecimento de consultas eleitorais. Isso porque descabe ao Poder Judiciário,
no exercício da função consultiva, manifestar-se sobre o cerne de demandas particularizáveis e que já se
encontram em “estado de gestação”. 4. As inquirições que embalam os procedimentos em tela têm de ser
construídas em termos abstratos e não singulares, em ordem a ensejar respostas que possam, no futuro, ser
aproveitadas de forma genérica e, preferencialmente, em escala iterativa. 5. O instituto das consultas é
inviável ante formulações com acento tópico, porquanto essas, em virtude do alto grau de especificidade e da
proeminente improbabilidade de repetição, denotam o acobertamento de alguma conexão factual. 6. No feito
vertente a finalidade do instituto resulta desvirtuada, na medida em que não se traz à apreciação do
Judiciário um questionamento de afetação geral, senão apenas um pedido de aval para a distribuição de um
engenho publicitário pré-desenhado para uma campanha eleitoral específica. 7. Consulta não conhecida”.
(TSE - CTA: 06005974720196000000 BRASÍLIA - DF, Relator: Min. Edson Fachin, Data de Julgamento:
23/04/2020, Data de Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 87, Data 06/05/2020). [Negritei]

No que se refere ao quesito subjetivo, a legitimidade do consulente é patente, haja vista se


tratar de Prefeito Municipal no exercício de seu mandato, portanto, agente qualificável autoridade pública
para fins de consulta eleitoral.

Digno de nota, conquanto o consulente não se encontre representado em juízo por advogado,
devido à natureza administrativa e não contenciosa do processo jurisdicional da consulta, “tal fato não
configura óbice intransponível ao conhecimento da consulta” (TRE-MT, CTA n° 0600203-97.2020.6.11.0000,
Relator Dr. Bruno D’Oliveira Marques, julgado em 25.06.2020).

Em relação à pertinência temática, também se faz preenchida, uma vez que a distribuição
gratuita de bens, valores ou benefícios por parte da administração pública, fora das exceções legais, poderia,
em abstrato, configurar prática de conduta vedada prevista no art. 73, § 10, da Lei n° 9.504/97.

Entretanto, no tocante ao terceiro requisito de admissibilidade, isto é, o parâmetro da


abstração, entendo, assim como a Secretaria Judiciária e a douta Procuradoria Regional Eleitoral, que não
se faz preenchido na presente consulta, haja vista que se trata de efetivo caso concreto.

Isso porque, o benefício de tarifa social em conta de água já foi editado pela Lei Municipal de
Lucas do Rio Verde/MT n° 3.063, de 15 de Junho de 2020, atualmente em vigor , a qual alterou parte da Lei
nº 2.939/2019 que trata sobre Tarifa Social de Água e Esgoto, de modo que se trata de situação concreta.

Com efeito, o que o consulente almeja na presente consulta é, de fato, que este colendo
Tribunal Eleitoral emita pronunciamento judicial antecipado sobre o caso concreto, notadamente a respeito
da incidência ou não em conduta vedada a fim de isentá-lo de eventual responsabilização cível eleitoral caso
seja demandado em futura representação por conduta vedada ou abuso de poder político.

Nesse ponto, vale acrescentar a manifestação da Douta Procuradoria Regional Eleitoral no


sentido de que “se a consulta não é mecanismo adequado para o exercício de consultoria por esse
Sodalício, certamente não serve à análise da possível conduta vedada ou abuso de poder político, (...) ”.

Cito, à guisa de exemplo, o julgado da Corte Superior Eleitoral, no qual entendeu que a
consulta é via inadequada para análise das condutas vedadas aos agentes públicos, in verbis:

CONSULTA. PROPOSTA DE LEI. CARREIRAS E CARGOS REESTRUTURAÇÃO. CONDUTA VEDADA.


INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. PERÍODO ELEITORAL. INÍCIO. NÃO CONHECIMENTO.

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1. A consulta é via inadequada para análise das condutas vedadas aos agentes públicos de que trata
o art. 73 da Lei das Eleições, pois a comprovação de sua ocorrência demandaria a verificação de
circunstâncias do caso concreto.

2. Ademais, iniciado o processo eleitoral, não se conhece de consulta, porquanto seu objeto poderá ser
apreciado pela Justiça Eleitoral também em caso concreto.

3. Consulta não conhecida. (TSE - BRASÍLIA/DF. CONSULTA n° 1036-83.2014.6.00.0000 - CLASSE 10 -


BRASÍLIA - DISTRITO FEDERAL. Relatora: Ministra Luciana Lóssio. Julgado em 16.09.2014). [Negritei]

Sem dúvida, não podemos olvidar que o atual cenário de pandemia em que vivemos
decorrente do coronavírus (COVID-19) e sua repercussão econômica, social e, sobretudo, política, tem
exigido dos nobres julgadores um olhar mais atento às consultas que visam reduzir os impactos da crise
para que as consultas sejam respondidas e, por conseguinte, sanadas dúvidas de lacunas ou obscuridades
legislativas ou jurisprudenciais.

Ocorre que, in casu, como já demonstrado, o consulente pretende um pronunciamento judicial


antecipado sobre a concessão do benefício social que ele já colocou em prática, o que demandaria análise
de mérito, situação absolutamente inviável em sede de consulta.

Em situação semelhante, o Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro não conheceu de


consulta. Vejamos:

CONSULTA. LEI DE ANISTIA FISCAL PARA ENFRENTAMENTO DE PANDEMIA. SITUAÇÃO CONCRETA.


VIOLAÇÃO A UM DOS REQUISITOS FIXADOS PELO ART. 30, INCISO VIII, DO CÓDIGO ELEITORAL.
NÃO CONHECIMENTO. I - É possível entrever natureza concreta e determinada à dúvida suscitada, uma
vez que o consulente, Prefeito com mandato em vigor, pretende que se reconheça a possibilidade do Chefe
do Executivo, diante do cenário de pandemia atual, elabore lei de anistia fiscal em ano eleitoral, a caracterizar
uma das hipóteses de excludentes previstas no art. 73, § 10, da Lei n° 9.504/97. II - Exposição de dados
concretos da COVID-19, apontando queda de receitas locais, bem como edição de Decreto Municipal que
cria o gabinete de crise para o seu enfrentamento. III - Conjunto de informações que induzem à
conclusão de que o consulente busca, mediante indagação teórica, obter subsunção de sua situação
particular à norma, de forma a desnaturar a abstração da pergunta, cuja resposta ensejaria
antecipação de juízo acerca de futura conjuntura específica e personalizada. Não conhecimento da
Consulta”. (TRE-RJ - CTA: 060026348 SÃO PEDRO DA ALDEIA - RJ, Relator: GUILHERME COUTO DE
CASTRO, Data de Julgamento: 25/05/2020, Data de Publicação: DJERJ - Diário da Justiça Eletrônico do
TRE-RJ, Tomo 119, Data 28/05/2020).[Negritei]

Eminentes Pares e douto representante do Ministério Público Eleitoral, ao apreciarmos


consultas anteriores, inclusive do consulente destes autos, nos deparamos com situações que devido à
extrema excepcionalidade que atravessamos com a pandemia, nos instigaram ao debate inclusive quanto à
eventual mitigação no tocante à abstração do seu objeto, nenhuma consulta foi conhecida, por mais nobre
que fosse o seu objeto.

Instigado pelos debates acerca do tema, ao buscar mais elementos para melhor formar a
minha convicção, me deparei com posicionamento do c. Tribunal Superior Eleitoral, no qual afirmou que o
rigor da exigência da formulação de consulta eleitoral somente em tese e abstratamente concretiza a
preocupação jurídica de evitar pronunciamento judicial sem a observância do contraditório e da ampla de
defesa.

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Acrescentou, ainda, outra preocupação em relação à segurança jurídica das consultas,
porquanto “as respostas a Consultas Eleitorais veiculam orientações valiosas e prestantes aos Partidos
Políticos, aos candidatos, como fixado no art. 30 da Lei Anastasia (Lei n° 13.655/18) – segundo o qual as
autoridades públicas devem atuar para aumentar a segurança jurídica na aplicação das normas, inclusive
por meio de regulamentos, súmulas administrativas e respostas a Consultas”. O acórdão restou assim
ementado:

CONSULTA ELEITORAL APRESENTADA POR DEPUTADO FEDERAL ACERCA DA POSSIBILIDADE DE


RÉU EM AÇÃO PENAL NA JUSTIÇA FEDERAL SER CANDIDATO A PRESIDENTE DA REPÚBLICA E DE
ASSUNÇÃO DO MANDATO, NA HIPÓTESE DE VIR A SER ELEITO. CASO EM QUE SE EVIDENCIA
TRATAR-SE DE QUESTÃO ESPECÍFICA ATINENTE AO REGISTRO DE CANDIDATURA, APTA A
RESULTAR EM MANIFESTAÇÃO DO EGRÉGIO TSE SOBRE CASO CONCRETO, SEM A DEVIDA
OBSERVÂNCIA DO JUSTO PROCESSO JURÍDICO. NÃO CONHECIMENTO, DE ACORDO COM A
JURISPRUDÊNCIA DA CORTE E LIÇÕES DA DOUTRINA JURÍDICA.

I. À luz da doutrina jurídica mais autorizada do Direito Eleitoral, consultar é descrever uma situação,
estado ou circunstância de forma genérica, para permitir a sua utilização posterior de maneira
sucessiva e despersonalizada, com o propósito de revelar dúvida razoável e inespecífica, em face de
eventual lacuna ou obscuridade legislativa ou jurisprudencial, desde que não se configure
antecipação de julgamento judicial. Lição dos juristas CARLOS MÁRIO DA SILVA VELLOSO e WALBER
DE MOURA AGRA (Elementos de Direito Eleitoral. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 401).

II. O Parlamentar consulente formulou estas indagações: (1) se pode um réu em Ação Penal, na Justiça
Federal, candidatar-se a Presidente da República; (2) se, na hipótese de resposta positiva a essa pergunta,
caso eleito e perdurando a condição de réu, poderá ele assumir o mandato; e (3) em caso de respostas
positivas às duas indagações, se pode um réu em Ação Penal, na Justiça Federal, em razão de supostos
crimes cometidos no exercício da Presidência da República, em mandato anterior, candidatar-se a esse
mesmo cargo eletivo.

III. A Consulta formulada contém elementos manifestamente capazes de induzir a sua eventual resposta à
aplicação a caso concreto, tendo em vista que aponta circunstâncias singulares e individualizantes de
condição, estado ou situação passíveis de serem específicas de pessoa determinada ou facilmente
determinável (fulanização). Ausente, portanto, neste caso, o indispensável requisito da abstratividade, o que
é de molde a obstar o seu conhecimento por esta Corte Superior, conforme sua jurisprudência pacífica,
torrencial e uniforme. Precedentes desta Corte Eleitoral Superior: Cta 115-56/DF, Rel. Min. MARIA THEREZA
DE ASSIS MOURA, 22.6.2016; Cta 303-83/DF, Rel. Min. DJe LUCIANA LÓSSIO, DJe 10.6.2016; Cta
562-49/DF, Rel. Min. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, DJe 6.5.2014; Cta 1.725/DF, Rel. Min. MARCELO
RIBEIRO, DJe 26.10.2009.

IV. O óbice ao conhecimento desta Consulta Eleitoral decorre, destarte, da evidente conclusão de que o
pronunciamento do Tribunal a seu respeito poderia resultar em manifestação implicante de incidência sobre
caso concreto, antecipando, indevidamente, o seu entendimento judicial sobre matéria específica a ser
debatida, se for o caso, apenas na apreciação de eventual pedido de Registro de Candidatura.

V. A rigorosa exigência de formulação de Consulta Eleitoral somente em tese e abstratamente


concretiza a preocupação jurídica e judicial de evitar pronunciamentos que, sem a devida observância
do indispensável contraditório e da ampla defesa, pilares de ferro do justo processo jurídico, apontem
soluções de casos concretos que poderão, no futuro, bater às portas da Justiça Eleitoral. As
respostas a Consultas Eleitorais veiculam orientações valiosas e prestantes aos Partidos Políticos,

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aos candidatos e, igualmente, às instâncias do Poder Judiciário Eleitoral, como fixado no art. 30 da
Lei Anastasia (Lei n° 13.655/18) – segundo o qual as autoridades públicas devem atuar para aumentar
a segurança jurídica na aplicação das normas, inclusive por meio de regulamentos, súmulas
administrativas e respostas a Consultas –, que enfatiza a eficácia desse tipo de provimento.

VI. Consulta Eleitoral de que não se conhece”. (TSE. Consulta n. 0600234-94.2018.6.00.0000 – Classe 10 –
sob a relatoria do Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 29.05.2018). [Negritei]

Caminhando para a conclusão do voto, reafirmo aqui o quanto assentado no julgado acima,
de que o Tribunal Eleitoral deve se abster de responder a consultas que tratam de caso in concreto, sob
pena de comprometer a prestação jurisdicional futura.

Por todo o exposto, em consonância com o parecer técnico e ministerial e, com fulcro no art.
30, inciso VIII, do Código Eleitoral, NÃO CONHEÇO da consulta por se tratar de caso concreto.

Por fim, acolhendo o pedido ministerial, DETERMINO remessa de cópia integral do feito à
Promotoria da 21ª Zona Eleitoral de Lucas do Rio Verde/MT para conhecimento do benefício social e
promoção do que entender de Direito.

É como voto.

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s

VOTOS

JUIZ FÁBIO HENRIQUE RODRIGUES DE MORAES FIORENZA, JUIZ BRUNO D’OLIVEIRA


MARQUES, JUIZ JACKSON FRANCISCO COLETA COUTINHO, JUIZ GILBERTO LOPES BUSSIKI,
DESEMBARGADOR SEBASTIÃO BARBOSA FARIAS, DESEMBARGADOR GILBERTO GIRALDELLI.

Com o relator.

DESEMBARGADOR GILBERTO GIRALDELLI (Presidente):

O Tribunal, por unanimidade, não conheceu da consulta, nos termos do voto do relator, em
consonância com o parecer ministerial.

EXTRATO DA ATA
CONSULTA (11551) - 0600247-19.2020.6.11.0000 / MATO GROSSO.
CONDUTA VEDADA A AGENTE PÚBLICO.
Relator: SEBASTIÃO MONTEIRO DA COSTA JÚNIOR
CONSULENTE: FLORI LUIZ BINOTTI
FISCAL DA LEI: Procuradoria Regional Eleitoral
Decisão: RESOLVEM os Membros do Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso, por unanimidade,
NÃO CONHECER DA CONSULTA.
Composição: Juízes-Membros Desembargador GILBERTO GIRALDELLI (Presidente), BRUNO
D'OLIVEIRA MARQUES, FÁBIO HENRIQUE RODRIGUES DE MORAES FIORENZA, GILBERTO
LOPES BUSSIKI, JACKSON FRANCISCO COLETA COUTINHO, Desembargador SEBASTIÃO
BARBOSA FARIAS, SEBASTIÃO MONTEIRO DA COSTA JÚNIOR e o Procurador Regional Eleitoral
ERICH RAPHAEL MASSON.

SESSÃO DE 21.07.2020.

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