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RESOLUÇÃO N° 2490
1. A consulta eleitoral pressupõe três requisitos cumulativo para conhecimentos, dentre eles o
da abstração, ausente este a consulta não deve ser conhecida por assumir contornos
concreto.
Cuiabá, 21.07.2020.
RELATÓRIO
Assinado eletronicamente por: SEBASTIÃO MONTEIRO DA COSTA JÚNIOR - 10/08/2020 14:53:23 Num. 3838422 - Pág. 1
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Número do documento: 20080513141198400000003732477
Trata-se de consulta eleitoral formulada pelo Prefeito do Município de Lucas do Rio
Verde/MT, Sr. FLORI LUIZ BINOTTI, perante este Colendo Tribunal Regional, a fim de restarem esclarecidos
os seguintes questionamentos:
2) Sendo positiva a resposta ao questionamento acima, até que data é permitido realizar a
sanção da respectiva Lei?”
Com vistas dos autos, a douta Procuradoria Regional Eleitoral opinou pelo NÃO
CONHECIMENTO da presente consulta, haja vista que a “hipótese retratada contempla indagação sobre
caso concreto” [ID 3639472].
É o relatório.
VOTO
Em linhas gerais, a consulta eleitoral é um instrumento jurídico que busca dirimir dúvida
razoável e genuína em face de lacuna ou obscuridade legislativa ou jurisprudencial.
Segundo o artigo 30, inciso VIII, do Código Eleitoral, compete aos Tribunais Regionais “
responder, sobre matéria eleitoral, às consultas que lhe forem feitas, em tese, por autoridade pública ou
partido político”.
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judicialização – denotada, mais das vezes, pela excessiva concretude das nuanças alinhadas – opera como
pressuposto negativo para o conhecimento de consultas eleitorais. Isso porque descabe ao Poder Judiciário,
no exercício da função consultiva, manifestar-se sobre o cerne de demandas particularizáveis e que já se
encontram em “estado de gestação”. 4. As inquirições que embalam os procedimentos em tela têm de ser
construídas em termos abstratos e não singulares, em ordem a ensejar respostas que possam, no futuro, ser
aproveitadas de forma genérica e, preferencialmente, em escala iterativa. 5. O instituto das consultas é
inviável ante formulações com acento tópico, porquanto essas, em virtude do alto grau de especificidade e da
proeminente improbabilidade de repetição, denotam o acobertamento de alguma conexão factual. 6. No feito
vertente a finalidade do instituto resulta desvirtuada, na medida em que não se traz à apreciação do
Judiciário um questionamento de afetação geral, senão apenas um pedido de aval para a distribuição de um
engenho publicitário pré-desenhado para uma campanha eleitoral específica. 7. Consulta não conhecida”.
(TSE - CTA: 06005974720196000000 BRASÍLIA - DF, Relator: Min. Edson Fachin, Data de Julgamento:
23/04/2020, Data de Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 87, Data 06/05/2020). [Negritei]
Digno de nota, conquanto o consulente não se encontre representado em juízo por advogado,
devido à natureza administrativa e não contenciosa do processo jurisdicional da consulta, “tal fato não
configura óbice intransponível ao conhecimento da consulta” (TRE-MT, CTA n° 0600203-97.2020.6.11.0000,
Relator Dr. Bruno D’Oliveira Marques, julgado em 25.06.2020).
Em relação à pertinência temática, também se faz preenchida, uma vez que a distribuição
gratuita de bens, valores ou benefícios por parte da administração pública, fora das exceções legais, poderia,
em abstrato, configurar prática de conduta vedada prevista no art. 73, § 10, da Lei n° 9.504/97.
Isso porque, o benefício de tarifa social em conta de água já foi editado pela Lei Municipal de
Lucas do Rio Verde/MT n° 3.063, de 15 de Junho de 2020, atualmente em vigor , a qual alterou parte da Lei
nº 2.939/2019 que trata sobre Tarifa Social de Água e Esgoto, de modo que se trata de situação concreta.
Com efeito, o que o consulente almeja na presente consulta é, de fato, que este colendo
Tribunal Eleitoral emita pronunciamento judicial antecipado sobre o caso concreto, notadamente a respeito
da incidência ou não em conduta vedada a fim de isentá-lo de eventual responsabilização cível eleitoral caso
seja demandado em futura representação por conduta vedada ou abuso de poder político.
Cito, à guisa de exemplo, o julgado da Corte Superior Eleitoral, no qual entendeu que a
consulta é via inadequada para análise das condutas vedadas aos agentes públicos, in verbis:
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1. A consulta é via inadequada para análise das condutas vedadas aos agentes públicos de que trata
o art. 73 da Lei das Eleições, pois a comprovação de sua ocorrência demandaria a verificação de
circunstâncias do caso concreto.
2. Ademais, iniciado o processo eleitoral, não se conhece de consulta, porquanto seu objeto poderá ser
apreciado pela Justiça Eleitoral também em caso concreto.
Sem dúvida, não podemos olvidar que o atual cenário de pandemia em que vivemos
decorrente do coronavírus (COVID-19) e sua repercussão econômica, social e, sobretudo, política, tem
exigido dos nobres julgadores um olhar mais atento às consultas que visam reduzir os impactos da crise
para que as consultas sejam respondidas e, por conseguinte, sanadas dúvidas de lacunas ou obscuridades
legislativas ou jurisprudenciais.
Instigado pelos debates acerca do tema, ao buscar mais elementos para melhor formar a
minha convicção, me deparei com posicionamento do c. Tribunal Superior Eleitoral, no qual afirmou que o
rigor da exigência da formulação de consulta eleitoral somente em tese e abstratamente concretiza a
preocupação jurídica de evitar pronunciamento judicial sem a observância do contraditório e da ampla de
defesa.
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Acrescentou, ainda, outra preocupação em relação à segurança jurídica das consultas,
porquanto “as respostas a Consultas Eleitorais veiculam orientações valiosas e prestantes aos Partidos
Políticos, aos candidatos, como fixado no art. 30 da Lei Anastasia (Lei n° 13.655/18) – segundo o qual as
autoridades públicas devem atuar para aumentar a segurança jurídica na aplicação das normas, inclusive
por meio de regulamentos, súmulas administrativas e respostas a Consultas”. O acórdão restou assim
ementado:
I. À luz da doutrina jurídica mais autorizada do Direito Eleitoral, consultar é descrever uma situação,
estado ou circunstância de forma genérica, para permitir a sua utilização posterior de maneira
sucessiva e despersonalizada, com o propósito de revelar dúvida razoável e inespecífica, em face de
eventual lacuna ou obscuridade legislativa ou jurisprudencial, desde que não se configure
antecipação de julgamento judicial. Lição dos juristas CARLOS MÁRIO DA SILVA VELLOSO e WALBER
DE MOURA AGRA (Elementos de Direito Eleitoral. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 401).
II. O Parlamentar consulente formulou estas indagações: (1) se pode um réu em Ação Penal, na Justiça
Federal, candidatar-se a Presidente da República; (2) se, na hipótese de resposta positiva a essa pergunta,
caso eleito e perdurando a condição de réu, poderá ele assumir o mandato; e (3) em caso de respostas
positivas às duas indagações, se pode um réu em Ação Penal, na Justiça Federal, em razão de supostos
crimes cometidos no exercício da Presidência da República, em mandato anterior, candidatar-se a esse
mesmo cargo eletivo.
III. A Consulta formulada contém elementos manifestamente capazes de induzir a sua eventual resposta à
aplicação a caso concreto, tendo em vista que aponta circunstâncias singulares e individualizantes de
condição, estado ou situação passíveis de serem específicas de pessoa determinada ou facilmente
determinável (fulanização). Ausente, portanto, neste caso, o indispensável requisito da abstratividade, o que
é de molde a obstar o seu conhecimento por esta Corte Superior, conforme sua jurisprudência pacífica,
torrencial e uniforme. Precedentes desta Corte Eleitoral Superior: Cta 115-56/DF, Rel. Min. MARIA THEREZA
DE ASSIS MOURA, 22.6.2016; Cta 303-83/DF, Rel. Min. DJe LUCIANA LÓSSIO, DJe 10.6.2016; Cta
562-49/DF, Rel. Min. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, DJe 6.5.2014; Cta 1.725/DF, Rel. Min. MARCELO
RIBEIRO, DJe 26.10.2009.
IV. O óbice ao conhecimento desta Consulta Eleitoral decorre, destarte, da evidente conclusão de que o
pronunciamento do Tribunal a seu respeito poderia resultar em manifestação implicante de incidência sobre
caso concreto, antecipando, indevidamente, o seu entendimento judicial sobre matéria específica a ser
debatida, se for o caso, apenas na apreciação de eventual pedido de Registro de Candidatura.
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aos candidatos e, igualmente, às instâncias do Poder Judiciário Eleitoral, como fixado no art. 30 da
Lei Anastasia (Lei n° 13.655/18) – segundo o qual as autoridades públicas devem atuar para aumentar
a segurança jurídica na aplicação das normas, inclusive por meio de regulamentos, súmulas
administrativas e respostas a Consultas –, que enfatiza a eficácia desse tipo de provimento.
VI. Consulta Eleitoral de que não se conhece”. (TSE. Consulta n. 0600234-94.2018.6.00.0000 – Classe 10 –
sob a relatoria do Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 29.05.2018). [Negritei]
Caminhando para a conclusão do voto, reafirmo aqui o quanto assentado no julgado acima,
de que o Tribunal Eleitoral deve se abster de responder a consultas que tratam de caso in concreto, sob
pena de comprometer a prestação jurisdicional futura.
Por todo o exposto, em consonância com o parecer técnico e ministerial e, com fulcro no art.
30, inciso VIII, do Código Eleitoral, NÃO CONHEÇO da consulta por se tratar de caso concreto.
Por fim, acolhendo o pedido ministerial, DETERMINO remessa de cópia integral do feito à
Promotoria da 21ª Zona Eleitoral de Lucas do Rio Verde/MT para conhecimento do benefício social e
promoção do que entender de Direito.
É como voto.
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https://leismunicipais.com.br/a/mt/l/lucas-do-rio-verde/lei-ordinaria/2020/306/3063/lei-ordinaria-n-3063-2020-altera-redacao-de-dispositivos-da-lei-n-2939-de-2
s
VOTOS
Com o relator.
O Tribunal, por unanimidade, não conheceu da consulta, nos termos do voto do relator, em
consonância com o parecer ministerial.
EXTRATO DA ATA
CONSULTA (11551) - 0600247-19.2020.6.11.0000 / MATO GROSSO.
CONDUTA VEDADA A AGENTE PÚBLICO.
Relator: SEBASTIÃO MONTEIRO DA COSTA JÚNIOR
CONSULENTE: FLORI LUIZ BINOTTI
FISCAL DA LEI: Procuradoria Regional Eleitoral
Decisão: RESOLVEM os Membros do Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso, por unanimidade,
NÃO CONHECER DA CONSULTA.
Composição: Juízes-Membros Desembargador GILBERTO GIRALDELLI (Presidente), BRUNO
D'OLIVEIRA MARQUES, FÁBIO HENRIQUE RODRIGUES DE MORAES FIORENZA, GILBERTO
LOPES BUSSIKI, JACKSON FRANCISCO COLETA COUTINHO, Desembargador SEBASTIÃO
BARBOSA FARIAS, SEBASTIÃO MONTEIRO DA COSTA JÚNIOR e o Procurador Regional Eleitoral
ERICH RAPHAEL MASSON.
SESSÃO DE 21.07.2020.
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