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Juiz
TRIBUNAL REGIONAL. ELEITORAL DE MINAS GERAIS
Sessão de 16/10/2018
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no 23.462/2015, sendo esse u m Ônus do Ministério Público, do qual não se
desincumbiu, considerando, assim, t e r havido o transcurso do referido prazo,
com a consequente perda do direito potestativo do Ministério Público.
No mérito, sustenta que a doação por ele realizada encontra-se dentro
do limite legalmente permitido, por considerar que na base de cálculo do limite
de doação para campanhas eleitorais também devem ser levados e m conta os
rendimentos de seu cônjuge. Argumenta que 'a renda adquirida na constância
do casamento (...), mesmo sendo auferido individualmente e pelo esforço do
trabalho de cada cônjuge (...), por força da lei e por se tratarem de frutos civis,
integram o patrimônio comum do casal (...)" - fl. 75.
Em relação ao valor da multa, entende o recorrente que houve erro do
Juiz ao aplicar multa de cinco vezes o valor excedido na doação, tomando por
base a antiga redação do artigo 23, 5 30, da Lei no 9.504/97, vigente à época
dos fatos. Para ele, a multa a ser aplicada deve observar a regência da nova
redação do referido dispositivo, dada pela Lei no 13.488/2017, que definiu u m
novo parâmetro para a definição do valor da multa. Assim, defende que a multa
não poderá ultrapassar o valor de 10O0/0 da quantia excedida, aduzindo que ao
caso deva ser aplicado o princípio da novatio legis in mellius (art. 50, XL, da
CF/88).
Contesta, por fim, i! decisão judicial de determinar a anotação da
condenação no cadastro eleitoi-al, para fins de observância do disposto no artigo
I,"p", da Lei Complementar no 64/1990. Defende que a determinação da
lol
inelegibilidade é inaplicável na medida e m que sua conduta pautou-se pela boa-
fé e não houve nela abuso de poder político ou econÔmico, neste caso, devido ao
fato de o valor excedido ter sido mínimo, incapaz, assim, de influir no pleito
eleitoral.
Requer, dessa forma, o conhecimento do recurso e seu provimento
pelo Tribunal, para reformar a sentença e julgar improcedente a representação
ministerial.
Contrarrazões, as fls. 86 e 87, nas quais o Ministério Público Eleitoral
.
a
pugna pela manutenção da sentença recorrida.
Remetidos os autos a esta instância, a Procuradoria Regional Eleitoral
manifesta-se pelo não provimento do recurso, fls. 89-94.
Procuração, a fl. 26.
É o relatório.
VOTO
PRELIMINARES:
Art. 230. O prazo para a parte, o procurador, a Advocacia Pública, a Defensoria Pública e o Ministério Público
será contado da citação, da intimação o u da notificação.
Art. 231. Salvo disposição em sentido diverso, considera-se dia do começo do prazo:
(...I
VI11 - o dia da carga, quando a intimação se der por meio da retirada dos autos, e m carga, do cartório ou da
secretaria.
1. CERCEAMENTO DE QEFESA
O recorrente, preliminarmente, pugna pela extinção do processo sem
resolução do mérito, sob o argumento de ter havido violação dos princípios da
ampla defesa e do contraditório. Alega que sua defesa foi cerceada, por não t e r
recebido, quando da notificaçao, cópias de documentos por ele considerados
essenciais a produção de sua contestação, tais como recibos das doações e o
Relatório de Conhecimento (Rcon).
Reclama, também, que os recibos necessários para comprovar a
doação tida por irregular não foram juntados aos autos, e que somente por meio
deles poderia se confirmar a doação. Entende que, por esse motivo, foi
prejudicado, não teve condições de verificar a autenticidade do conteúdo
apresentado pelo Ministério Público (fl. 73).
Pois bem, apesar de t e r apontado como cerceamento de defesa o não
recebimento, por completo, dos documentos que julga serem imprescindíveis a
formulação de sua defesa, não vejo como os argumentos do recorrente
prevalecerem.
Como bem destacou a Procuradoria Regional Eleitoral, o fato de não
ter sido entregues ao recorrente, com a notificação, cópia de recibos relativos a
sua própria doação e, também, o Relatório de Conhecimento, e m nada o
prejudicou na formulação de sua defesa. Aliás, o recorrente apresentou defesa
de forma bastante abrangente, demonstrando que teve conhecimento completo
do processo. Portanto, não procede essa alegação.
Dizer que a não juntada dos recibos aos autos coloca e m xeque a
veracidade dos fatos e prejudica o exercício da ampla defesa ou do contraditório,
sem, ao menos negar que tenha efetuado a doação, pelo contrário, afirmando,
no mérito, que efetivamente a realizou, em nada ajuda o recorrente.
0 s recibos não t ê m exclusividade na comprovação dos fatos, não são
eles os únicos elementos capazes de demonstrar acertada o u não a alegação do
Ministerio ~úblico'. A própria parte confessa que a doação foi realizada, apesar
de atribuí-Ia também a seu cônjuge (fl. 78), o que adiante será enfrentado.
Ainda, considerando que a falta dos referidos documentos não
prejudicou a parte, remeto ao artigo 282, fj 10, do Código de Processo civil3, o
qual prescreve que se não houve prejuízo para a parte, o ato praticado de forma
diversa a prevista na lei não deverá ser repetido nem sua falta suprida.
E mais, nos casos de nulidade, o Juiz, ao pronunciá-la, deverá declarar
que atos serão atingidos, para serem repetidos ou retificados. O objetivo dessa
regra é reparar eventual prejuízo verificado em decorrência da prática de ato e m
desconformidade com a lei.
No caso e m análise, a falta de apresentação de recibos, e a não
entrega de cópia dos documentos apontados pela parte, e m nada prejudicou na
formulação da sua robusta defesa.
Por fim, o Juiz tem o dever de considerar válido o ato executado de
forma diferente da prescrita e m lei, mas que tenha alcançado a finalidade
pretendida4. Novamente, a resposta dada pelo recorrente a representação do
Ministerio Público nada deixou a desejar.
Desse modo, rejeito a preliminar de cerceamento de defesa.
I11 - A Secretaria da Receita Federal do Brasil fará o cruzamento dos valores doados com os
rendimentos da pessoa física e, apurando indício de excesso, comunicará o fato, ate 30 de julho de
2017, ao Ministério Público Eleitoral, que poderá, até o dia 3 1 de dezembro de 2017, formalizar
representação com vistas a aplicação da penalidade prevista no art. 23 da Lei no 9.504, de 29 de setembro de
1997, e de outras sanções que julgar cabíveis. (grifei)
10% (dez por cento) dos rendimentos brutos auferidos pelo doador no
ano anterior a eleição,
III - Conclusão
Posto isso, por ferir disposição expressa contida no art. 23, 510 da Lei
9.504/97 e com fundamento no 53* do mesmo diploma legal, julgo
PROCEDENTE o pedido inicial, para condenar ELINER ENOS GOMES
FIGUEIREDO ao pagamento da multa de R$15.352,00 (quinze mil,
trezentos e cinquenta e dois reais), correspondente a 5 (cinco) vezes a
quantia em excesso, a ser cobrada nos moldes das demais multas
eleitorais.
Recurso provido.
VOTO DIVERGENTE
Sessão de 16/10/2018
EXTRATO DA ATA
Presidência do Exmo. Sr. Des. Pedro Bernardes. Presentes os Exmos. Srs. Des.
Rogério Medeiros e Juízes Paulo Abrantes, Ricardo Matos de Oliveira, Antônio
Augusto Mesquita Fonte Boa, João Batista Ribeiro, Nicolau Lupianhes, e o Dr.
Ângelo Giardini de Oliveira, Procurador Regional Eleitoral.