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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2022.0000162276

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1004218-10.2021.8.26.0005 e código 18DF2617.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


1004218-10.2021.8.26.0005, da Comarca de São Paulo, em que é apelante MILENE
MARTINS RODRIGUES (JUSTIÇA GRATUITA), é apelada MARIA BERNADETE DE
FARIAS.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 35ª Câmara de Direito Privado

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ANTONIO CARLOS MORAIS PUCCI, liberado nos autos em 09/03/2022 às 15:29 .
do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram provimento em
parte ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores MORAIS PUCCI


(Presidente), FLAVIO ABRAMOVICI E MOURÃO NETO.

São Paulo, 9 de março de 2022.

MORAIS PUCCI
Relator(a)
Assinatura Eletrônica
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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Apelação n° 1004218-10.2021.8.26.0005
Apelante: Milene Martins Rodrigues

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1004218-10.2021.8.26.0005 e código 18DF2617.
Apelada: Maria Bernadete de Farias
Comarca de São Paulo 3ª Vara Cível Regional de São Miguel Paulista
Juiz de Direito: Patrícia Persicano Pires

Voto nº 27798

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ANTONIO CARLOS MORAIS PUCCI, liberado nos autos em 09/03/2022 às 15:29 .
Apelação cível. Ação de despejo por falta de pagamento
cumulada com cobrança. Sentença de procedência.

Revelia mantida. Embora a ré tenha sido representada por


advogado em convênio com a Defensoria Pública, o que lhe
asseguraria o prazo em dobro para suas manifestações (art. 186,
CPC), era necessária a manifestação nos autos antes do decurso
do prazo normal para o oferecimento de contestação a fim de que
gozasse de tal prerrogativa. Todavia, ao réu revel é lícita a
produção de provas, contrapostas às alegações do autor (art. 349,
CPC), e a revelia não produz o efeito de presunção de veracidade
das alegações de fato feitas pelo autor se estas estiverem em
contradição com a prova constante dos autos (arts. 344 e 345, IV,
do CPC). Documentos juntados após a prolação da sentença.
Possibilidade (art. 435, CPC).

Considerando os documentos juntados pela ré (prova de


pagamento) e pelo princípio da imputação do pagamento, (arts.
354 e 355, CC), a ação de cobrança é julgada parcialmente
procedente, com a condenação da ré no pagamento das verbas
locatícias inadimplidas e que não foram pagas com os depósitos
realizados na conta da autora e com a utilização da caução, até a
efetiva entrega das chaves, com correção monetária e juros de
mora de 1% ao mês a partir de cada vencimento, e da multa
contratual de 2%.

Comunicada a desocupação do imóvel em contrarrazões. Pedido


de despejo julgado prejudicado, pela perda superveniente do
interesse de agir. Pedido de cobrança parcialmente procedente.
Manutenção da condenação da locatária no pagamento da
sucumbência. Havia débito locatício quando da propositura da
ação, tendo a locatária dado causa a seu ajuizamento.

Apelação parcialmente provida.

Apelação Cível nº 1004218-10.2021.8.26.0005 -Voto nº 27798 2


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A r. sentença proferida à f. 44/46, integrada no julgamento

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dos embargos de declaração (f. 80), destes autos de ação de despejo por
falta de pagamento cumulada com cobrança de aluguéis e encargos,
movida por MARIA BERNARDETE DE FARIAS, em relação a MILENE
MARTINS RODRIGUES, julgou procedente o pedido para declarar a
rescisão do contrato de locação, decretando o despejo da ré com o prazo

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de 15 dias para desocupação voluntária, e para condenar a ré no
pagamento dos aluguéis e encargos vencidos desde 10/04/2020 até a
desocupação do imóvel, com correção monetária e juros de mora de 1% ao
mês desde os respectivos vencimentos, além da multa moratória de 2%;
finalmente, condenou a ré também no pagamento das custas e despesas
processuais e de honorários advocatícios fixados em 10% do valor da
condenação, com a concessão dos benefícios da assistência judiciária
gratuita.
Apelou a ré (f. 83/92), alegando, em suma, que: (a) é
representada por advogado em convênio com a Defensoria Pública do
Estado de São Paulo, da Instituição Casa de Isabel, fazendo jus à
contagem em dobro dos prazos processuais; (b) em razão da pandemia do
Covid-19, somente teve acesso à Defensoria Pública em 13/05/2021,
quando foi encaminhada à instituição que lhe proveu advogado, e, com a
contagem dos prazos em dobro, deve ser afastada a revelia; (c) foi
ajustado no contrato que os aluguéis seriam pagos até o dia 10 de cada
mês, mas, após alguns meses do início da relação locatícia, a locadora
autorizou, verbalmente, o pagamento dessas verbas até o dia 30 de cada
mês; (d) os aluguéis vencidos em janeiro e março de 2021 foram pagos,
assim como o consumo de água; (e) mesmo que a revelia seja mantida,
devem ser considerados os comprovantes de pagamento dos aluguéis
apresentados; (f) os meses de fevereiro e abril de 2021 estão quitados com
a utilização da caução; (g) não pode prosperar a sentença quanto à
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condenação nos aluguéis desde abril de 2020, pois não se discute esse

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período nestes autos; (h) quanto ao mês de maio de 2021, a apelante irá
pagar o aluguel até o dia 30 desse mês; (i) está em dia com as obrigações
contratuais, devendo ser afastado o decreto de despejo.
A apelação, isenta de preparo por ser a apelante beneficiária
da assistência judiciária, foi contra-arrazoada (f. 97/99).
Em contrarrazões, a locadora informou que o imóvel foi

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desocupado e suas chaves devolvidas, postulando pela manutenção da
sentença e a extinção do processo.
É o relatório.
A decisão que conheceu dos embargos de declaração foi
disponibilizada no DJE em 25/05/2021, considerando-se publicada no
primeiro dia útil subsequente (f. 82); a apelação, protocolada em
25/05/2021, é tempestiva.
As partes celebraram, em 15/01/2020, contrato de locação
residencial urbana, para vigorar pelo período de 12 meses mediante o
pagamento do aluguel mensal do valor de R$550,00, a serem pagos até o
dia 10 do mês subsequente ao vencido. A cláusula 5ª previu a incidência
de multa de 2% na hipótese de atraso no pagamento dos aluguéis, além de
juros de mora de 1% ao mês (f. 13/15).
A locadora ajuizou esta ação, em 11/03/2021, fundada no
não pagamento de aluguéis. Alegou que: (a) o contrato já se venceu em
04/01/2021 e os dois meses de depósito já foram utilizados, estando a
locatária residindo no imóvel sem o pagamento dos aluguéis; (b) “o aluguel
referente ao mês de maio não foi pago”.
A inicial não veio instruída com planilha do débito.
A ré foi citada por AR juntado aos autos em 14/04/2021 (f.
37) e, certificado o decurso do prazo para o oferecimento de defesa (f. 43),
foi proferida a sentença ora apelada.
Em seguida, a ré protocolou embargos de declaração,
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postulando pela concessão dos benefícios da assistência judiciária gratuita,

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que lhe foram deferidos, e sustentou que faz jus à contagem dos prazos
em dobro por ser representada por advogado indicado em convênio com a
Defensoria Pública, alegando que: (a) o aluguel com vencimento em janeiro
foi pago em 29/01/2021, o aluguel com vencimento em março foi pago em
31/03/2021 e as despesas da SABESP foram pagas mediante depósito na
conta da autora; (b) a caução deve ser utilizada para quitação de fevereiro

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e abril de 2021, estando em aberto apenas maio de 2021.
Com seus embargos de declaração, a ré juntou (a) o ofício
da Defensoria Pública encaminhando-a à Instituição Casa de Isabel,
datado de 13/05/2021 (f. 59); (b) duas transferências bancárias para a
conta da locadora, no valor unitário de R$550,00, datadas de 29/01/2021 e
de 31/03/2021 (f. 75/76), (c) cópia de conta de energia elétrica,
transferências bancárias para a conta da autora que, segundo informou a
locatária, se destinaram ao pagamento de contas de água, e pagamentos
realizados diretamente à SABESP e à Eletropaulo (f. 61, 73, 74, 78 e 79).
O magistrado, examinando esses embargos de declaração,
entendeu que se tratava, na verdade, de contestação acompanhada de
documentos, e não os conheceu, mantendo a revelia já decretada.
A apelação comporta parcial provimento.
Não há como se afastar o decreto de revelia no presente
caso.
Isso porque, com a juntada do AR citatório (recebido de
próprio punho pela ré, frise-se) em 14/04/2021, teve início o prazo para o
oferecimento de defesa.
Como bem decidiu o magistrado, não obstante a ré tenha
sido representada por advogado designado pelo convênio com a
Defensoria Pública, o que lhe asseguraria o prazo em dobro para suas
manifestações (art. 186, CPC), era necessária a manifestação nos autos
antes do decurso do prazo normal para o oferecimento de contestação a
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fim de que gozasse de tal prerrogativa.

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Isso, todavia, não ocorreu, tendo sido certificado
corretamente o decurso de prazo para oferecimento de contestação e
proferida a sentença ora apelada.
Não socorre à ré o fato de a Defensoria Pública somente ter
expedido o ofício de encaminhamento à Instituição que cuidou de sua
defesa em 13/05/2021. Conforme ela mesma informou na apelação,

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somente teve acesso à Defensoria nessa data, 13/05/2021, ou seja, após o
decurso do prazo para a apresentação da defesa nestes autos, não lhe
socorrendo a alegação de que tal demora se em razão da pandemia da
Covid-19, porque nesse ano de 2021 os atendimentos presenciais nos
serviços públicos foram retomados normalmente, ao contrário do que se
verificou em alguns períodos no ano de 2020.
Nesse quadro, é mantido o decreto de revelia da ré.
De outra banda, não se pode deslembrar que ao réu revel é
lícita a produção de provas, contrapostas às alegações do autor (art. 349,
CPC), e que a revelia não produz o efeito de presunção de veracidade das
alegações de fato afirmadas pelo autor se estas estiverem em contradição
com a prova constante dos autos (arts. 344 e 345, IV, do CPC).
Ademais, o art. 435 do CPC/2015 predica que é lícito às
partes, em qualquer tempo, juntar aos autos documentos novos, quando
destinados a fazer prova de fatos ocorridos depois dos articulados, ou para
os contrapor aos que foram produzidos nos autos.
Embora os comprovantes de pagamento apresentados pela
ré se refiram a período anterior à prolação da sentença ora apelada, sua
juntada, ainda que na fase recursal, auxilia o magistrado na busca da
verdade real.
Além disso, após a juntada desses documentos, foi dada
oportunidade à autora para se manifestar, em observância ao princípio do
contraditório (f. 97/99).
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Nesse sentido, aliás, já decidiu o E. STJ e este Tribunal:


“É possível a juntada de documentos em qualquer fase do processo,

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desde que respeitado o contraditório e inexistente má-fé na conduta da
parte (STJ 4ª T., REsp 253.058, Min. Fernando Gonçalves, j. 4.2.10, DJ
8.3.10).”

“Nas instâncias ordinárias, é lícito às partes juntarem documentos aos


autos em qualquer tempo (até mesmo por ocasião da interposição de
apelação), desde que tenha sido observado o princípio do contraditório
(STJ 3ª T., REsp 660.267, Min. Nancy Andrighi, j. 7.5.07, DJ 28.5.07)”.

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“Somente os documentos tidos como pressupostos da causa é que devem
acompanhar a inicial e a defesa. Os demais podem ser oferecidos em
outras fases e até mesmo na via recursal, desde que ouvida a parte
contrária e inexistentes o espírito de ocultação premeditada e o propósito
de surpreender o juízo” (RSTJ 14/359)”.

COMPRA E VENDA. Ação de rescisão contratual cumulada com


pedido de restituição de valores pagos. Ilegitimidade passiva da
administradora Ré que junta documento em sede de apelação que torna
manifesta a sua ilegitimidade para a causa Formalismo processual que
deve ser visto com reservas pelo prejuízo que pode acarretar à verdade
real dos fatos e, portanto, à própria desejada efetividade da justiça -
Ilegitimidade reconhecida [...] Recurso provido em parte. (Apelação
9174180-95.2007.8.26.0000. Relator(a): De Santi Ribeiro. Comarca:
São Paulo. Órgão julgador: 1ª Câmara de Direito Privado. 14/02/2012).

Assiste razão à apelante ao apontar para o equívoco no


dispositivo da sentença quanto ao mês de inadimplência, equívoco esse
que pode ser considerado material.
Na fundamentação, a sentença mencionou que “estão em
débito os aluguéis referentes aos meses de março de 2021, com vencimento em 10 de abril
de 2021, e seguintes” e, no dispositivo, condenou a ré no “pagamento dos aluguéis
e encargos vencidos desde 10/04/2020 e vincendos até a data da efetiva desocupação”.
Tem-se, portanto, que houve equívoco material na sentença
ao mencionar o ano de 2020, mesmo porque não houve qualquer alegação
de inadimplência ou cobrança relativa a 2020.
Não há prova do alegado acordo verbal para pagamento das
verbas da locação no dia 30 de cada mês, devendo ser observada a

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disposição contratual de que os aluguéis seriam pagos no dia 10 do mês

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subsequente ao vencido.
Para que não haja dúvidas quanto às alegações da autora,
peço vênia para reproduzir os trechos da inicial nos quais se menciona o
inadimplemento da ré: “o contrato entabulado entre as partes vem sendo descumprido
pela ré ante o não pagamento dos alugueres. (...) o aluguel referente ao mês de maio não
foi pago (...) o contrato de locação venceu no dia 04/01/2021 e os dois meses que a

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requerida possuía de depósito já se passaram, ou seja, a requerida está residindo no imóvel
de forma completamente ilícita, pois não quer renovar o contrato e nem pagar o aluguel e
tanto menos quer sair do referido imóvel (...)
É possível se depreender de tais alegações que, vencido o
prazo do contrato em 04/01/2021, a ré não mais pagou os locativos e o
depósito caução foi suficiente para quitar dois meses de aluguel (janeiro e
fevereiro), estando em aberto, portanto, a partir do aluguel relativo a
março/2021, com vencimento em 10 de abril de 2021.
A frase “o aluguel referente ao mês de maio não foi pago” está
desconectada das demais razões da inicial.
Em primeiro lugar, porque a ação foi ajuizada em
11/03/2021, ou seja, ainda não havia se vencido o aluguel de maio/2021 e,
em segundo lugar porque, de acordo com o contexto da inicial, a
inadimplência se deu a partir do vencimento do prazo do contrato, ou seja,
de janeiro de 2021, não sendo possível se concluir que a autora estaria se
referindo a maio de 2020.
Nos termos do contrato, o aluguel seria pago sempre no dia
10 do mês subsequente ao vencido.
Pelos documentos apresentados pela ré, houve um depósito
em 29/01/2021, no valor de R$550,00 e um depósito em 31/03/2021,
também no valor de R$550,00.
Ora, a inicial mencionou que os aluguéis deixaram de ser
pagos a partir da data do vencimento do contrato, 04/01/2021, tendo sido
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pagos os dois meses seguintes com a utilização da caução.

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Todavia, pelo princípio da imputação do pagamento, previsto
nos arts. 354 e 355, do Código Civil, tem-se que (a) o valor de R$550,00
depositado na conta da locadora em 29/01/2021 serviu para pagamento do
valor primitivo do aluguel vencido em 10/01/2021, (b) o valor de R$550,00
depositado na conta da locadora em 31/03/2021 serviu para pagamento
dos encargos moratórios do aluguel vencido em 10/01/2021 e, o que

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sobrou, aos encargos moratórios do aluguel vencido em 10/02/2021 e em
parte do valor desse aluguel; (c) a caução serviu, portanto, para quitação
da diferença dos aluguéis e encargos e dessas verbas vencidas a partir
de fevereiro de 2021.
A utilização da caução para pagamento desses aluguéis,
entretanto, pressupõe o não pagamento deles pela locatária.
Portanto, a satisfação dessas verbas pela caução pecuniária
não significa que a locatária estava adimplente quando do ajuizamento da
ação, em 11/03/2021, mas, sim, que a locadora utilizou, nesta ação, o valor
da caução para satisfação dos aluguéis inadimplidos, o que repercute na
atribuição das verbas sucumbenciais.
Nas contrarrazões, protocolada em 14/06/2021, a locadora
informou que as chaves do imóvel já haviam sido devolvidas, mas não
informou quando, ou seja, não se sabe, nesta oportunidade, quando teve
fim a relação locatícia, com o encerramento das obrigações da locatária.
Nesse quadro, o pedido de despejo é de ser julgado
prejudicado, pela perda superveniente do interesse de agir e o pedido de
cobrança é julgado parcialmente procedente para ser a ré condenada no
pagamento das verbas locatícias inadimplidas e que não foram pagas com
os depósitos realizados na conta da autora e com a utilização da caução,
até a efetiva entrega das chaves, devendo as partes, em cumprimento de
sentença, demonstrar quando se deu a devolução do imóvel.
Caso não seja apresentado o recibo de entrega das chaves,
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deverá ser considerado, para fins de encerramento da relação locatícia, a

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data do protocolo das contrarrazões, nas quais a autora informou ter
recebido as chaves.
Em cumprimento de sentença deverá ser apresentada
planilha do débito com observação dos critérios expostos neste julgamento
com relação à imputação do pagamento e à utilização da caução.
Por tais motivos, julgo prejudicado o pedido de despejo, pela

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perda superveniente do interesse de agir e dou parcial provimento à
apelação para julgar parcialmente procedente o pedido de cobrança, com a
condenação da ré no pagamento das verbas locatícias inadimplidas e que
não foram pagas com os depósitos realizados na conta da autora e com a
utilização da caução, até a efetiva entrega das chaves, verbas essas que
serão corrigidas pela tabela prática deste Tribunal e acrescidas de juros de
mora de 1% ao mês a partir de cada vencimento, e da multa contratual de
2%.
Considerando, finalmente, que (a) quando da propositura da
ação (11/03/2021) estavam em aberto os aluguéis vencidos em 10/02/2021
e em 10/03/2021, pois parte do aluguel e encargos de fevereiro de 2021
foram pagos com o depósito que foi feito apenas em 31/03/2021, após o
ajuizamento da ação e (b) a utilização da caução para pagamento dos
aluguéis pressupõe o não pagamento deles pela locatária, é de se concluir
que a locatária ré deu causa à propositura da ação, pois havia débito
locatício quando de seu ajuizamento.
A sucumbência da autora quanto ao pedido de cobrança é
pequena (apenas quanto ao aluguel vencido em 10/01/2021, que havia
sido pago, pelo princípio da imputação, com o depósito realizado em sua
conta em 29/01/2021), sendo mantida, portanto, a condenação da ré, por
inteiro, no pagamento das verbas da sucumbência já estabelecidas na
sentença, com a observação de ser ela beneficiária da assistência
judiciária gratuita.
Apelação Cível nº 1004218-10.2021.8.26.0005 -Voto nº 27798 10
Apelação parcialmente provida.

Relator
Morais Pucci

Apelação Cível nº 1004218-10.2021.8.26.0005 -Voto nº 27798


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