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JUÍZO DE DIREITO DA VARA DA INFÂNCIA, DA JUVENTUDE E DO IDOSO DA

COMARCA DE VOLTA REDONDA - RJ

A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, inscrita no CNPJ sob


o nº 01.700.151/0001-15, por meio do 2º Núcleo Regional de Tutela Coletiva - com
sede na Avenida Sete de Setembro, nº 300, bairro: Aterrado, Volta Redonda-RJ, CEP:
27.213-160, com lastro no art. 5°, XXXV e LXXIV, e art. 134, caput, da Constituição da
República, art. 5°, II, da Lei n° 7.347/85, art. 4°, VII, VIII, X e XI, da Lei Complementar n°
80/94 e art. 179, caput, da Constituição do Estado do Rio de Janeiro, vem ajuizar a
presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA


com pedido de medida liminar

em face do MUNICÍPIO DE VOLTA REDONDA, pessoa jurídica de direito público interno,


inscrita no CNPJ/MF sob o nº 32.512.501/0001-43, representado por sua Procuradoria,
com sede na Praça Sávio Gama, nº 53, bairro: Centro, Volta Redonda-RJ, CEP: 27.215-620,
aduzindo para tanto os fundamentos de fato e de direito a seguir expendidos:

I - DA DESNECESSIDADE DE ADIANTAMENTO DE CUSTAS

Nos termos do art. 18 da LACP, nas ações de que trata a referida lei, não haverá
adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas,
nem condenação da autora, salvo comprovada má-fé, razão pela qual informa a
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desnecessidade de comprovação de custas judiciais.

II - DA OBSERVÂNCIA DAS PRERROGATIVAS DOS MEMBROS DA DEFENSORIA


PÚBLICA DO RJ

Aponta-se a necessidade de observância das prerrogativas conferidas aos membros


das Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, em especial a intimação pessoal
mediante remessa dos autos, a dispensa de instrumento de mandato e a contagem em
dobro de todos os prazos, na forma do art. 128, I da LC nº 80/94, art. 87, VIII, IX, X da LCE
6/1997, e do art. 186, caput do NCPC.

III - DA LEGITIMIDADE ATIVA

De início, não há dúvida de que a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro


possui pertinência subjetiva para propor a demanda. O art. 134 da CRFB/88, art. 5º, II,
da Lei nº 7.347/1985 (Lei da Ação Civil Pública - LACP) e os arts. 1º, 4º, VII, VIII, X e XI,
e 106-A da Lei Complementar nº 80/1994 conferem, de forma expressa, à Defensoria
Pública, legitimidade para propor ação civil pública objetivando a tutela dos direitos
difusos, coletivos ou individuais homogêneos, quando o resultado da demanda puder
beneficiar grupo de pessoas necessitadas, assim compreendidas tanto as carentes de
recursos econômicos como as alijadas do Estado Democrático de Direito (art. 1º da
CRFB/88), em decorrência de uma vulnerabilidade jurídica ou organizacional.

É o que explicita Fred Didier Jr., em sua obra “Curso de Direito Processual Civil”,
volume 4, página 222, e a renomada Professora Ada Pellegrini, in verbis:

“A nova redação do art. 5º da LACP (Lei 7.347/1985),


determinada pela Lei n. 11.448/2007, prevê expressamente a
Defensoria Pública (art. 5º, II, da LACP) entre os legitimados
para a propositura da ação civil pública. Atende, assim: a) a
evolução da matéria, democratizando a legitimação, conforme
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posicionamento aqui defendido; b) a tendência jurisprudencial que
se anunciava. Além disso, a redação do dispositivo ficou mais clara.
É norma louvável, que, além de prestigiar essa importantíssima
instituição, estimula a tutela dos direitos coletivos,
imprescindível para o correto equacionamento da crise que
assola o Poder Judiciário”.

“A exegese do texto constitucional, que adota um conceito


jurídico indeterminado, autoriza o entendimento de que o termo
necessitados abrange não apenas os economicamente
necessitados, mas também os necessitados do ponto de vista
organizacional, ou seja, os socialmente vulneráveis. Ainda que
se entenda que função obrigatória e precípua da Defensoria Pública
seja a defesa dos economicamente carentes, o texto constitucional
não impede que a Defensoria Pública exerça outras funções, ligadas
ao procuratório, estabelecidas em lei”.

Nesse sentido, aliás, a decisão do Supremo Tribunal Federal no julgamento da ADI


n° 3.943/DF, que conferiu presunção absoluta de constitucionalidade ao comando
do art. 5º, II, da Lei nº 7.347/85, e reafirmou a importância, no seio de um Estado
Democrático de Direito, da atuação da Defensoria Pública em ações coletivas que
envolvam a tutela dos cidadãos social, jurídica e economicamente menos favorecidos da
sociedade. Confira-se ementa do acórdão sobre o citado julgamento:

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE. LEGITIMIDADE ATIVA DA
DEFENSORIA PÚBLICA PARA AJUIZAR AÇÃO CIVIL
PÚBLICA (ART. 5º, INC. II, DA LEI N. 7.347/1985, ALTERADO
PELO ART. 2º DA LEI N. 11.448/2007). TUTELA DE
INTERESSES TRANSINDIVIDUAIS (COLETIVOS STRITO
SENSU E DIFUSOS) E INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS.
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DEFENSORIA PÚBLICA: INSTITUIÇÃO ESSENCIAL À
FUNÇÃO JURISDICIONAL. ACESSO À JUSTIÇA.
NECESSITADO: DEFINIÇÃO SEGUNDO PRINCÍPIOS
HERMENÊUTICOS GARANTIDORES DA FORÇA
NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO E DA MÁXIMA
EFETIVIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS: ART. 5º,
INCS. XXXV, LXXIV, LXXVIII, DA CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA. INEXISTÊNCIA DE NORMA DE EXCLUSIVIDAD
DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA AJUIZAMENTO DE AÇÃO
CIVIL PÚBLICA. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO INSTITUCIONAL DO
MINISTÉRIO PÚBLICO PELO RECONHECIMENTO DA
LEGITIMIDADE DA DEFENSORIA PÚBLICA. AÇÃO JULGADA
IMPROCEDENTE.

Note-se, ainda, que, na íntegra do acórdão, restou destacada a importância e a


constitucionalidade da atuação da Defensoria Pública na tutela coletiva dos direitos, a fim
de assegurar, inclusive, o efetivo acesso à justiça, in verbis:

O objetivo da Defensoria Pública é a eficiência da


prestação de serviços e o efetivo acesso à Justiça por
todos os necessitados, para garantia dos direitos
fundamentais previstos no art. 5º, incs. XXXV, LXXIV e
LXXVIII, da Constituição da República. A constatação de
serem normalmente mais graves as lesões coletivas,
aliada à circunstância de tender o tempo gasto em
processos coletivos a ser menor, evidencia que a opção
por ações coletivas racionaliza o trabalho pelo Poder
Judiciário e aumenta a possibilidade de assegurar
soluções uniformes e igualitárias para os diferentes
titulares dos mesmos direitos, garantindo-se não apenas
a eficiência da prestação jurisdicional, a duração
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razoável do processo e a justiça das decisões, que se
igualam em seu conteúdo sem contradições jurisprudenciais
não incomuns em demandas individuais.
(...)
À luz dos princípios orientadores da interpretação dos
direitos fundamentais, acentuados nas manifestações do
Congresso Nacional, da Advocacia-Geral da União e da
Presidência da República, a presunção de que, no rol dos
afetados pelos resultados da ação coletiva, constem
pessoas necessitadas é suficiente a justificar a
legitimidade da Defensoria Pública, para não “esvaziar,
totalmente, as finalidades que originaram a Defensoria
Pública como função essencial à Justiça” (fl. 550,
manifestação da Advocacia-Geral da União). Condicionar a
atuação da Defensoria Pública à comprovação prévia da
pobreza do público-alvo diante de situação justificadora do
ajuizamento de ação civil pública (conforme determina a Lei
n. 7.347/1985) parece-me incondizente com princípios e
regras norteadores dessa instituição permanente e essencial
à função jurisdicional do Estado, menos ainda com a norma
do art. 3º da Constituição da República”.

No caso ora apresentado, a legitimidade extraordinária da Defensoria Pública


encontra guarida na vulnerabilidade econômica, social e fática dos indivíduos envolvidos
na presente demanda, estudantes com deficiência da rede municipal de ensino que vêm
sofrendo flagrantes violações ao direito à educação.

Não há dúvidas, portanto, de que Defensoria Pública é parte legítima para requerer
providências para sanar o comportamento omissivo da Administração Pública, que vem
se eximindo do seu dever de assegurar o direito à educação dos alunos com deficiência.

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IV - DOS FATOS
A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, por meio do 2º Núcleo Regional
de Tutela Coletiva, monitora as violações aos direitos das pessoas com deficiência por
meio do P.I. nº: E-20/001.004701/2022, desde o mês de abril do ano de 2022, quando
expediu ofício para diversas Instituições da Sociedade Civil, para solicitar informações
quanto às transgressões aos direitos fundamentais das pessoas com deficiência,
principalmente no âmbito da Educação Inclusiva, assim consideradas pela Convenção da
Pessoa com Deficiência (Decreto 6.949/2009, art.1º) e pela Lei Brasileira de Inclusão (Lei
13.146/2015, art. 2º).
Aqui nesta cidade, as entidades que congregam pais de estudantes com deficiência
não apresentaram questões relevantes quanto à fragilidade do serviço previsto na
legislação.
Porém, no início do período letivo do ano 2023, a Defensoria Pública, por meio do
Núcleo de Primeiro Atendimento, recebeu numerosas demandas acerca da ausência
de mediadores para auxílio na Educação Inclusiva de pessoas com deficiência, assim
consideradas pela Convenção da Pessoa com Deficiência (Decreto 6.949/2009, art.1º) e
pela Lei Brasileira de Inclusão (Lei 13.146/2015, art. 2º).

No ofício datado em 01 de março de 2023, o Núcleo de Primeiro Atendimento


comunicou ao Núcleo de Tutela Coletiva sobre o quantitativo de 09 casos não processuais
e sobre a distribuição de 01 ação judicial para compelir o Município a fornecer o serviço
de mediador. Registre-se que, ainda ao tempo em que tais demandas seguiam para os
Juízos Cíveis de competência fazendária, muitas outras ações individuais foram
distribuídas com o mesmo conteúdo e pretensão.

Na demanda protocolada sob o nº: 0801574-16.2023.8.19.0066 houve a


antecipação de tutela em 15 de fevereiro de 2023, sob pena de multa diária. Decerto que
inúmeras demandas individuais seriam ajuizadas para casos semelhantes, portanto,
justificada está a presente, cujo escopo, para muito além de conferir à pessoa estudante
com deficiência um profissional qualificado, na ótica do comando legal inclusivo, está
focado na estruturação do serviço, sua permanência e regularidade, com oferta
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contínua, perene e crescente.

Paralelo aos atendimentos do NPA, o 2º Núcleo Regional de Tutela Coletiva também


registrou em seus canais de atendimento a manifestação da Sra. Kelly Melo. A usuária
relatou que o filho é autista e que possuía cuidadora (mediadora) no ano de 2022, mas
com a mudança de Unidade Escolar, foi privado do atendimento da profissional. Também
encaminhou uma mensagem que recebeu do Setor de Educação Especial da SME,
mencionando que há pelo menos 180 crianças em situação semelhante a do filho e que
os mediadores só estariam disponíveis a partir do mês de abril de 2023.

Relatou ainda, que o filho continua comparecendo à Unidade Escolar, mas sem o
devido acompanhamento individualizado e especializado, portanto, já sofreu com
mordidas, já se machucou, além de outras intercorrências. Destacou o receio de manter
o filho na escola, conforme demonstram as mensagens abaixo:

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Nota-se que a ausência de mediador sujeita muitas crianças e adolescentes a
permanecerem ociosos e desassistidos, por longos períodos, dentro da escola, sem
frequentar a aula regular e mesmo que na escola estejam, nada muda em seu
aproveitamento pedagógico e intelectual, ausente o elo configurado pelo profissional
qualificado, previsto no diploma legal, direito inalienável da pessoa portadora de
deficiência, mormente aquelas em processo educacional regular.

O Município, alheio ao seu DEVER DE INCLUSÃO, impõe verdadeira exclusão dos


alunos com deficiência, que são deixados muitas vezes sozinhos e afastados do convívio
com as demais crianças, “depositados” nas salas, privados da interação escolar e
perdendo todas as possibilidades de aprendizado e crescimento cognitivo e intelectual.

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O tema preocupa também o Legislativo, tendo sido comentado em redes sociais por
parlamentares, principalmente por provocação da Autora ao indagar a existência de
debate orçamentário para suprir as necessidades da população destinatária do serviço
essencial e prioritário, notabilizando-se o aqui perseguido:

Com o objetivo de dimensionar a demanda e as possíveis soluções apontadas pelo


Município, expediu-se o ofício de nº: 025/2023, em 07 de fevereiro de 2023, com retorno
no prazo de até 10 (dez) dias.

Além disso, a Defensoria Pública obteve informação de que o Município está


realizando rodízio de crianças na escola, eis que não há professores de apoio em
quantidade suficiente para atender toda a demanda existente, com evidentes prejuízos ao
desenvolvimento educacional, psicológico, intelectual e humano da pessoa.

Destaca-se que a resposta tempestiva e célere do ente Municipal serviria para


melhor diagnóstico dos problemas estruturais existentes, ou até para encontro
institucional, na linha do que estabelece a Deliberação CS/DPGE nº 125/2017, para a
construção de políticas públicas em base dialogal, democrática e participativa,
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espaço para avanços, conquistas, fixação de metas, cronogramas e ajustes nas
soluções possíveis.

Contudo, as respostas, diga-se, com demora injustificada e de caráter peremptório,


somente surgiram após reiteração, o que aponta ausência de interesse em buscar
caminhos extrajudiciais para composição o que, sendo a demanda extremamente
urgente, não comporta muitas diligências e reiterações administrativas, por inviabilizar
os direitos fundamentais mais elementares, como educação, direito ao desenvolvimento,
direito à inclusão, entre outros, e pela impossibilidade de precisar, com máxima clareza,
o quantitativo de crianças que dependem do serviço, ainda que em grau mínimo,
porquanto a aferição da efetiva necessidade não é exclusividade do profissional médico,
tanto que as leis que regem a temática descrevem os mecanismos de apuração do grau da
dependência e qual o suporte necessário para garantir a inclusão, a cargo da SME com sua
equipe pedagógica.
O ano letivo iniciou-se em fevereiro/2023, mas o Município, por meio da Secretaria
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Municipal de Educação, não criou nenhum PLANEJAMENTO MUNICIPAL EFETIVO para
a demanda relativa à educação especial. No Portal da Transparência consta a informação
que há 220 vínculos de cuidadores contratados/em exercício no Município.

Na página oficial da Prefeitura de Volta Redonda, a última convocação para o cargo


de “cuidador – área educacional” ocorreu em 27 de janeiro de 2023, com o chamamento
de mais 04 candidatos, os últimos que foram aprovados no Processo Seletivo 004/2022 –
SMA.

Logo, a incerteza é ainda mais evidente, porque há carência e, aparentemente,

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não há profissionais para supri-la. Na página oficial do Município de Volta Redonda,
disponível em: Prefeitura Municipal de Volta Redonda - Prefeitura de Volta Redonda
convoca 40 cuidadores para reforçar Educação Especial, consta a informação de que, no
ano de 2021, havia 1.100 alunos com diferentes deficiências matriculados na rede
de ensino no Município. Evidente que esse número não foi reduzido, a perspectiva é que
tenha ocorrido o aumento da demanda ou, no mínimo, sua estabilização.

Ademais, destaca-se, que o serviço não é prestado por um profissional da educação


especializado e capacitado em educação especial, com atendimento individualizado ou
ainda que a um grupo (também conhecido como mediador escolar ou acompanhante
especializado), conforme determinam as normas internacionais, constitucionais e legais,
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especificamente a Resolução CNE/CEB nº: 02/2001 do Conselho Nacional de Educação,
que dispõe:

“Art. 2º - Os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo


às escolas organizar-se para o atendimento aos educandos com
necessidades educacionais especiais, assegurando as condições necessárias
para uma educação de qualidade para todos.

(...)

Art. 7º O atendimento aos alunos com necessidades educacionais especiais


deve ser realizado em classes comuns do ensino regular, em qualquer
etapa ou modalidade da Educação Básica.

Art. 8º As escolas da rede regular de ensino devem prever e prover na


organização de suas classes comuns:

I - professores das classes comuns e da educação especial capacitados e


especializados, respectivamente, para o atendimento às necessidades
educacionais dos alunos;

II - distribuição dos alunos com necessidades educacionais especiais pelas


várias classes do ano escolar em que forem classificados, de modo que essas
classes comuns se beneficiem das diferenças e ampliem positivamente as
experiências de todos os alunos, dentro do princípio de educar para a
diversidade;

III – flexibilizações e adaptações curriculares que considerem o significado


prático e instrumental dos conteúdos básicos, metodologias de ensino e
recursos didáticos diferenciados e processos de avaliação adequados ao
desenvolvimento dos alunos que apresentam necessidades educacionais
especiais, em consonância com o projeto pedagógico da escola, respeitada
a freqüência obrigatória;

IV – serviços de apoio pedagógico especializado, realizado, nas classes


comuns, mediante:
a) atuação colaborativa de professor especializado em educação especial;
b) atuação de professores- intérpretes das linguagens e códigos aplicáveis;
c) atuação de professores e outros profissionais itinerantes intra e
interinstitucionalmente;
d) disponibilização de outros apoios necessários à aprendizagem, à
locomoção e à comunicação.

V – serviços de apoio pedagógico especializado em salas de recursos, nas


quais o professor especializado em educação especial realize a
complementação ou suplementação curricular, utilizando procedimentos,
equipamentos e materiais específicos.”

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Nos quadros funcionais do Município, o cargo previsto para apoio de
crianças/adolescentes com deficiência é o de “cuidador” e se restringe às demandas
mais básicas como: ministrar remédios, promover alimentação, higiene, colaborar e
participar de festas, comunicar à equipe da escola quaisquer alterações necessárias,
embora também vise dar apoio aos professores em projetos e atividades, realizando a
inclusão, sem qualquer traço de índole pedagógica. Estas não são, à toda evidência, as
exigências e atributos principais do cargo.

Como é possível notar no quadro abaixo, extraído do Edital para o Processo Seletivo
004/2022 – SMA, a titulação mínima exigida para o cargo é ensino médio, e os
cursos/títulos são apenas classificatórios.

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Em 09 de março de 2023, a Prefeitura Municipal de Volta Redonda, lançou o
processo seletivo para contratação temporária para o cargo de “Cuidador – Área
Educacional” nº: 002/2023 – SMA. Muito embora tenha descrito como contratação
temporária, no topo do edital consta a informação de que o Edital é regido pelo REDA –
Lei 5.121/2015.

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Em resumo, a Educação Inclusiva em Volta Redonda, quando se refere ao Cuidador
ou ao Mediador tem a seguinte realidade: salário base fixado no mínimo nacional,
R$1.302,00, acrescido de Auxílio Alimentação (R$ 250,00), gratificação social (R$ 200,00)
e demais gratificações previstas na legislação vigente sob o REDA – Regime Especial do
Direito Administrativo, formação: ensino fundamental completo (edital 2023) e ensino
médio (edital 2022), em manifesta contrariedade ao espectro normativo que rege a
temática, tanto na esfera federal quanto no âmbito local, aliás, em insofismável retrocesso.
O que já era ilegal em 2022 (ensino médio) conseguiu ficar pior com a exigência de
ensino fundamental completo, em manifesta contrariedade ao espectro normativo
que rege a temática, tanto na esfera federal quanto no âmbito local, sendo
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absolutamente ilegal a contratação proposta, seja em razão do regime jurídico existente
ou pela formação exigida na legislação, como abaixo será dissecado.

Como apontado, a resposta do Município não atende aos requisitos mínimos


previstos na Lei. Singela reprodução do que será anexado já informa CONFISSÃO da
fragilidade da oferta de serviço tão essencial e inafastável. Vejamos:

Vale mencionar que o Município não está cumprindo a Lei Municipal 5.878/2021,
que alterou as disposições da Lei Municipal 5.345/2017, dispondo sobre o Plano
Municipal de Educação para o decênio 2015-2025, item IV – Meta sobre educação
inclusiva - a universalização do atendimento, “para população de 04 a 17 anos de idade
do atendimento escolar aos estudantes com deficiência, transtorno global do
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na rede regular de ensino, o acesso à
educação básica e ao atendimento educacional especializado, com garantia de sistema
inclusivo de sala de recursos multifuncionais, escolas ou serviços especializados,
públicos ou conveniados.”

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Impende destacar que a conduta do Município, em não convocar professores
especializados (mediadores na acepção exata da lei) para o ensino inclusivo, acarreta
em sobrecarga de trabalho e adoecimento da categoria, com consequentes pedidos
de afastamentos e exonerações.

O art. 208, da Constituição Federal, em seu inciso III, consagra o direito à educação
inclusiva e atendimento educacional especializado, ao passo que o §3º do mesmo
dispositivo impõe ao Estado o dever de zelar pela frequência dos educandos à escola:

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a


garantia de: (...) III - atendimento educacional especializado aos
portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de
ensino;

(...) § 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino


fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis,
pela frequência à escola.

Em nível legal, o art. 54, III, do Estatuto da Criança e do Adolescente praticamente


repete o teor do art. 208, III, prevendo que é dever do Estado assegurar à criança e ao
adolescente o “atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino”.
Em relação aos alunos que possuem o Transtorno do Espectro Autista – TEA, o art.
3º, par. único da Lei nº 12.764/12, instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos
da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, conhecida como Lei Berenice Piana,
reforça esse direito, denominando esse profissional in casu de “acompanhante
especializado”:
“Art. 3º São direitos da pessoa com transtorno do espectro autista:
IV - o acesso: a) à educação e ao ensino profissionalizante;
[...]
Parágrafo único. Em casos de comprovada necessidade, a pessoa
com transtorno do espectro autista incluída nas classes comuns de
ensino regular, nos termos do inciso IV do art. 2º, terá direito a
acompanhante especializado”.

Percebe-se, assim, que a solução trazida pelo Município-Réu não passa de um


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improviso, um arremedo de inclusão, muito distante do que estabelece as normas
internacionais, constitucionais e legais sobre educação inclusiva e o fornecimento de
profissional de apoio escolar (mediador).

Como a demanda também desafia a questão orçamentária, é importante apresentar


a verba disponibilizada para a educação e para a educação especial no Município. Na LOA
para o ano de 2023, as verbas para a educação serão destinadas no montante de R$
13.880.000,00, sendo que para o atendimento educacional especializado há a
disponibilidade de R$ 1.321,000,00:

E para a remuneração dos profissionais da Educação Básica – Educação Especial há


verba de R$ 2.528.000,00.

IV.I - NECESSIDADE DE CONCURSO PÚBLICO PARA ADMISSÃO NO REGIME


ESTATUTÁRIO- PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS QUE REGEM A ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA - PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE. VEDAÇÃO AOS CONTRATOS
TEMPORÁRIOS. ILEGALIDADE EM CASCATA. RECALCITRÂNCIA DE DÉCADAS

Destaca-se que a contratação temporária para o cargo de “cuidador” demonstra a


precarização do serviço público e não repercute de forma efetiva na solução do problema
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instalado. O Município deve garantir a prestação do serviço público com continuidade e
eficiência.
Nesse ponto, o Município réu se mantém numa estratégia manifestamente
equivocada quanto ao modo de admissão no serviço público. Há muito, desde a década de
80 do século passado, pioneiramente, Volta Redonda tem em seu arcabouço normativo o
Estatuto do Servidor Público e também o Estatuto do Magistério.
Em tais diplomas pode se verificar que o regime jurídico é, como o nome diz,
ESTATUTÁRIO, com acesso aos cargos públicos mediante concurso de provas e títulos.
Todavia, no decorrer dos anos, essa realidade legal vem sendo dilapidada, a despeito
das várias intervenções, críticas e decisões judiciais num e noutro caso.
O réu revela comportamento assaz violador da norma constitucional, com a qual o
Estatuto do Servidor se mostra compatível, criando mecanismos de BURLA ao concurso e
ao regime jurídico.
Aqui em Volta Redonda, desde 1984, vige o Estatuto dos Servidores Públicos
Municipais, ditado pela Lei 1931/84, cujo teor e vigência se provam com a sua anexa
apresentação.
Certo é que tudo está normatizado e, a partir da Carta Republicana de 1988, o
REGIME ÚNICO é o estatutário. Explica-se:
O MVR implantou o Regime Jurídico Único Estatutário ANTES do advento da CRFB
de 88, por meio da Lei 1931/84, plenamente compatível com o texto maior que
estabeleceu o REGIME JURÍDICO ÚNICO ESTATUTÁRIO, sendo vedada a existência de
mais de um regime em cargo efetivo.
A Emenda Constitucional 19/98 estabeleceu o fim dessa obrigatoriedade,
permitindo a convivência dos dois regimes, tornando-se uma matéria inconstitucional
pela forma como foi votada, sendo contestada pelo ADI 2135/07, retornando à originária
redação do art. 39 da CF, impondo REGIME JURÍDICO ÚNICO ESTATUTÁRIO para todos
os servidores públicos.

Ou seja, de 1988 a 1998 o sistema constitucional previa REGIME JURÍDÍCO ÚNICO


ESTATUTÁRIO, de 1998 a 2008, vivemos sob a égide de DOIS REGIMES: CELETISTA E
ESTATUTÁRIO. A partir da decisão proferida no bojo da apontada ADI, em 2008,
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retornamos à exclusividade do regime estatutário todavia, sem efeito retroativo. Vale
dizer, a solução permitiu a convivência danosa de dois regimes, porquanto a mudança
decorrente da inconstitucionalidade da Emenda 19 NÃO afetou os atos de contratação
pelo regime celetista ocorridos na vigência da impugnada redação do texto constitucional
alterado por emenda, sendo verificada, nessa lacuna, verdadeira balbúrdia país afora nos
métodos de admissão no serviço público, com arbitrariedades e conveniências dos
Administradores.
O concurso público é considerado meio de moralização da Administração Pública
por oferecer oportunidade de ampla concorrência a qualquer cidadão com aptidão para
exercer função, emprego ou cargo público. Por tal razão, os juristas, e até mesmo os leigos,
são unânimes em louvar como um avanço a exigência constitucional do concurso para
investidura em qualquer cargo ou emprego público.
Essa não é, como pode parecer, garantia ou prerrogativa de quem ingressa no
serviço público. Muito ao contrário, é direito do usuário do serviço ter quem o preste
de modo impessoal, contínuo, permanente e com máxima eficiência. É, portanto, das
pessoas com deficiência o direito de ter servidores admitidos por concurso e que no
cargo se mantenham, com todas as garantias a fim de assegurar a contínua e
permanente prestação do serviço com a qualidade que dele se exige.

Dispõe a Carta Magna, em seu art. 37, caput, II:

“A investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação


prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de
acordo com a natureza e complexidade do cargo ou emprego, na
forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em
comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração.”

Qualquer investidura que transgrida o preceito constitucional é absolutamente


nula, por expressa disposição do § 2º do mesmo artigo:

“A não observância do disposto nos incisos II e III implicará a


nulidade do ato e a punição da autoridade responsável, nos termos

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da lei;”

Destarte, contratação por tempo determinado é exceção, definidas no inciso


IX do mesmo dispositivo:

“A lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado


para atender a necessidade temporária de excepcional interesse
público.”

A Constituição da República deixa bem clara e restrita a possibilidade dessa


espécie de contratação, exigindo a presença simultânea dos seguintes requisitos, ou seja,
a ausência de qualquer um deles já a descaracteriza:

● estabelecimento, em lei, dos casos que podem enquadrar-se


nessa situação;
● prazo determinado para contratação;
● necessidade excepcional de interesse público.

Analisando a diretiva constitucional, tem-se que a prévia aprovação em concurso


é a REGRA e o PRESSUPOSTO para ingresso no serviço público e, como tal, é capaz de
concretizar os postulados fundamentais da igualdade, moralidade administrativa e
competição.

Como regra cogente que é, a prévia aprovação em concurso para investidura em


cargo ou emprego público apenas admite exceções previamente estipuladas na própria
Constituição Federal, como no caso de integrantes do quinto constitucional dos Tribunais
Judiciários (art. 94), membros dos Tribunais de Contas (art. 73), ministros do STF e STJ
(arts. 101 e 104), cargos em comissão (art. 37, inciso II) e recrutamento de servidores
temporários (art. 37, inciso IX).
É importante esclarecer que a necessidade temporária deve ser interpretada não
como aquela decorrente da falta de planejamento da Administração, que não encetou
as diligências para suprir suas atividades rotineiras, mas sim aquelas imprevisíveis, que
22
não são próprias do Poder Público e que devem ser supridas apenas num determinado
momento para, posteriormente, desaparecerem.

Nesse sentido, é a doutrina de Mário Schirmer de Albuquerque:

Necessidade temporária é aquela que se verifica em um


determinado momento, depois desaparece, uma vez que tem como
fato gerador uma determinada circunstância, que quando
encerrada implica no fim da necessidade. Se o serviço público
necessitar de funcionário por estar com número deficitário em um
setor, sem que qualquer circunstância temporária tenha levado à
tal situação, obviamente, a necessidade será permanente, pois
sempre existirá.1

Extrai-se ainda da lição do aludido doutrinador, quando aborda a definição de


excepcional interesse público nas contratações temporárias:

O interesse público, terceiro requisito, é condição de qualquer ato


administrativo. No caso da contratação temporária, porém, a
Constituição Federal diz que este interesse deve ser excepcional,
quarto requisito. Isto quer dizer que o interesse público há de ser
emergencial, urgente, que a Administração não possa prescindir da
contratação daquela pessoa, sob pena de sacrificar interesse
público de grande relevância. Nota-se que a necessidade deve,
obrigatoriamente, ser temporária e o interesse público ser
realmente excepcional. É que não se pode utilizar o contrato por
prazo determinado para situações em que a necessidade não seja
temporária ou que o interesse público não seja excepcional. Se a
necessidade é permanente e o interesse público é comum,
devem ser admitidos servidores em regime comum, pela via
do concurso público. Porém, tem-se notado que isto vem sendo
distorcido2 - grifo nosso.

1
SCHIRMER. M5ário Sérgio de Albuquerque. Investidura de servidores públicos. (dissertação de
mestrado não publicada), 2003.

2
SCHIRMER. Mário Sérgio de Albuquerque. Investidura de servidores públicos. (dissertação de
mestrado não publicada), 2003.

23
Assim, não existe possibilidade de enquadrar os aprovados no conjunto das
exceções previstas, pois não se pode dizer que há necessidade excepcional para a
contratação temporária de mediadores educacionais para auxílio às crianças e
adolescentes com deficiência, porque não há excepcionalidade nestas ações,
deliberadamente TÍPICAS, com expressa previsão e constantes de política pública
permanente. Manter essa modalidade de ingresso no serviço público é mais do que
PRECARIZAR, é vilipendiar a Carta Republicana e dizer NÃO à própria lei local que rege o
sistema de admissão. Caracterizam-se, assim, tais contratos como irregulares,
essencialmente violadores das previsões legais incidentes, dispensando maiores
digressões, sobre os quais há que se dizer NUNCA MAIS.
Deste modo, o Poder Judiciário não pode deixar que os princípios da eficiência, da
probidade administrativa e da legalidade sejam simples adornos no corpo da Constituição
Federal, impondo aos Gestores as sanções decorrentes de tais condutas e a tomada de
decisões que as revejam, qual seja, a admissão pelo regime estatutário, APÓS regular
aprovação em concurso de provas ou de provas e títulos.
As dinâmicas relativas à contratação temporária, que se transformaram em regra
no Município de Volta Redonda, não são recentes.
No ano de 2013, o Ministério Público do Trabalho conquistou importante decisão
para a estruturação do funcionalismo e melhoria dos serviços públicos. Após seguidos
anos descumprindo o comando constitucional acima invocado, EMBORA VIGENTE
ESTATUTO DO SERVIDOR, foi assinado um Termo de Ajustamento de Conduta
impondo a adoção de soluções administrativas para observar a obrigatoriedade do
Município em cumprir o regramento constitucional vigente, qual seja, a admissão de
servidores e servidoras pelo regime estatutário, mediante concurso público, afastado o
regime híbrido criado pela EC 19, cujo teor está com eficácia suspensa por decisão do STF
nos autos da ADI nº: 2135 e mais, DEIXAR o MVR de se valer de contratações temporárias,
precárias e sob instituto extremamente pernicioso, denominado de RPA, o famigerado
Recibo de Pagamento ao Autônomo.
Neste modelo de contratação, a pessoa que assume a tarefa não tem qualquer
garantia de permanência, muito menos qualquer nível de comprometimento oficial. Uma
vez desinteressado em prosseguir na atividade, simplesmente abandona o posto e não é
24
devedor sequer de aviso prévio. O mecanismo é deveras precário e extremamente
prejudicial ao serviço público.
Mesmo após a assinatura do TAC, submetido pelo MPT, o réu manteve a irregular
política de gestão de seu quadro funcional. As contratações por RPA se multiplicaram e é
recente a mudança de postura, com a adoção de editais de concurso, ainda assim, com
errôneo enquadramento de regime jurídico, causa para inúmeras ações individuais e
coletivas, como as relacionadas ao serviço de combate a endemias e o serviço de saúde
comunitária, carreiras que, à guisa de relevante informação, estão contidas em decisão
recente do TJRJ, cujo acórdão da 6ª Câmara de Direito Público, nos autos da ACP 0017160
68 2019 819 0066 está assim ementado, com íntegra em anexo, CONFIRMANDO sentença
proferida pela Dra Raquel Teixeira de Andrade Cardoso, Eminente Juíza da 2ª Vara Civel
desta Comarca:

25
O Desembargador Relator ainda complementa sobre o REDA:

“Dessarte, é nítido que o REDA, conforme lei municipal 5.121/15 foi


estabelecido – formalmente - a casos de contratação de pessoal para
atender à necessidade temporária de excepcional interesse público. (...) Há
que se fiscalizar o emprego do REDA à conta de ser o mesmo
admissível apenas em determinadas situações, nas quais a pretensão
do Edital do município não se encaixa de forma alguma.”

Ambas funções estiveram no palco de grave crise local, eis que uma das
prestadoras de serviço, mesmo vedada a terceirização, a Fundação Cruz Vermelha, na

26
qualidade de Organização Social, teve anulado o contrato com a Administração Pública e
deixou centenas de trabalhadores sem os seus respectivos direitos, ensejando a mudança
de postura admissional, diga-se, exigida desde 2006, ano em que foi regulamentado o art.
198 da CF, em nível nacional, por meio da Lei 11350 daquele ano. Apenas em 2015 é que
ocorre o concurso para tais atividades, repita-se, mesmo assim, com erro no regime
jurídico, exigido pela lei federal o Estatutário (já que existente no Município), nele
figurando outro, de natureza especial (nem de CLT se trata) e temporário, criado por lei
municipal, cujo centro de importância é a CONTRATAÇÃO EMERGENCIAL EM CARATER
EXCEPCIONAL, o que não se enquadra quando NUNCA houve criação efetiva dos cargos
ordinariamente previstos na legislação. Vale dizer, a Lei Municipal 5121 de 2015, apenas
tem sentido para suprir carências em caráter emergencial e excepcional necessidade do
serviço. Não pode ser a “regra do jogo”, definitivamente.
Neste plano, a Defensoria Pública tem insistido constantemente na necessidade de
concurso público e regular observância do regime jurídico local, em outras demandas
judiciais em face do Município. O tema é objeto de debate no processo judicial sob o nº:
0012921-84.2020.8.19.0066 – Hospital São João Batista e, como acima dito, no processo
judicial nº: 0017160-68.2019.8.19.0066 – Vínculo Jurídico dos Agentes Comunitários de
Saúde e Agentes de Combate à Endemias. Apesar disso, os problemas voltam a ocorrer,
pondo em xeque a força vinculante do comando constitucional e da própria legislação
local, coadunada com a CF a exigir criação de cargos, carreiras, realização de concurso,
nomeação e posse em regime estatutário.

A demanda traduz questão fundamental, relacionada com os direitos mínimos das


pessoas com deficiência, restando indiscutível o caráter difuso da pretensão, porquanto
atinge parcela significativa de munícipes, que possui prioridade na elaboração de
políticas públicas.
Desta sorte, são incalculáveis os benefícios decorrentes da realização de concurso
público para o cargo de mediador, atividade que não pode sofrer solução de
continuidade, especialmente porque a demanda está relacionada com o
desenvolvimento físico e cognitivo de crianças e adolescentes para as quais a lei
estabelece máxima prioridade.
27
Essa temática é posta em diversas outras cidades fluminenses e há, em todas elas,
medidas em curso para que o direito desse grupo social vulnerável seja reconhecido e
efetivado. Tratativas em sede administrativa evoluem, mas quando se mostram inviáveis,
se busca o caminho judicial. É o que ocorre em Casimiro de Abreu e Niterói, aqui em Volta
Redonda e também em Paraty.

Na esteira do que se alega, em decisão liminar, proferida no dia 07 de março de


2023, no processo de nº: 0800432-27.2023.8.19.0017, o Juízo Único da Comarca de
Casimiro de Abreu, determinou no
“prazo máximo de 40 dias, a criação e aprovação, na estrutura
administrativa do referido ente, do cargo de mediador (ou outro
correspondente), cuja função será exclusivamente adstrita ao
acompanhamento especializado do aluno com deficiência, transtorno global
do desenvolvimento e altas habilidades e/ou superdotação, (II) promova, após
a criação do referido cargo, os estudos necessários para realização de novo
concurso público para provimento das vagas correspondentes no ano de 2024,
com a consequente substituição dos candidatos aprovados pelos servidores
contratados temporariamente.”
Assim está grafada a decisão na Comarca de Niterói, nos autos de nº: 0820070-
28.2022.8.19.0002:
“A verossimilhança das alegações iniciais se encontra documentada
por meio dos vários relatos dos responsáveis legais dos alunos portadores de
deficiência, em que aduzem que a escassez do professor de apoio acarreta em
rodízio escolar e/ou redução do horário escolar, bem assim, em razão da
assertiva do próprio Município-réu em carta encaminhada à Comissão de
Educação, informando haver déficit de professores de apoio na rede municipal.
De igual modo, indubitavelmente, tal situação denota a urgência da medida
pleiteada, haja vista o novo ano letivo que se inicia e a ausência de
demonstração, pelo requerido, após sua manifestação nestes autos, de
qualquer iniciativa para regularizar o déficit que reconhece existir ou alguma
medida de reestruturação na política de educação especial que tenha sido
28
iniciada no Município. Logo, face ao acima exposto e o mais nos autos
contidos, DEFIRO, parcialmente, A MEDIDA LIMINAR requerida para:
1. DETERMINAR que o Réu disponibilize professores de apoio em todas as
unidades escolares que possuírem alunos com deficiência, matriculados, em
quantitativo ideal (nunca inferior a 02 professores), a permitir o
apoio efetivo dos estudantes, durante todo o período do turno escolar em que
estiverem matriculados, ficando VEDADO O RODÍZIO E/OU REDUÇÃO DE
CARGA HORÁRIA ESCOLAR; tal determinação deverá ser cumprida no prazo de
30 dias, a contar da intimação, sob pena de multa diária de R$30.000,00
(trinta mil reais), comprovado o descumprimento; 2. DETERMINAR que o
Réu promova o efetivo e adequado funcionamento de todas as salas de
recursos multifuncionais existentes na rede municipal de ensino, equipando-
as com a tecnologia assistiva exigida e designando, para atuação nas referidas
salas, professores de apoio em quantitativo que seja compatível com o número
de alunos matriculados na unidade, devendo tal determinação ser cumprida
no prazo de 40 dias, a contar da intimação, sob pena de multa diária de
R$30.000,00 (trinta mil reais), comprovado o descumprimento;
3. DETERMINAR que o Réu, no que tange a esta
demanda, disponibilize o transporte escolar aos alunos, com deficiência,
matriculados na rede de ensino, independentemente de terem ou não
mobilidade reduzida, o que deverá ser cumprido no prazo de 30 dias, a contar
da intimação, sob pena de multa diária, a ser fixada, caso noticiado o
descumprimento.”

Por derradeiro, cumpre esclarecer, desde logo, que o objeto da presente ação civil
pública não deve se resumir à admissão de professores de apoio especializado para o
cargo de mediador, devendo voltar-se, ainda, para uma solução definitiva e realmente
consagradora do direito à educação dos vulneráveis envolvidos, impondo-se ao
Município o dever de elaborar PLANO DE AÇÃO - detalhando e discriminando prazos,
metas, medidas e todos os demais atos administrativos necessários – PARA
REESTRUTURAÇÃO DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO NO TOCANTE À EDUCAÇÃO
29
ESPECIAL que seja, efetivamente, capaz de assegurar o direito à educação dos alunos com
deficiência, promovendo adaptações razoáveis e eliminação de barreiras, viabilizando seu
acesso e permanência na escola, em igualdade de condições com os demais alunos.

V - DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

V.1) DO DIREITO À EDUCAÇÃO ESPECIAL

Não se pode olvidar que é dever do Estado garantir a promoção da pessoa humana
através da educação, o que inclui, evidentemente, as crianças com deficiência.

O Brasil optou por um sistema educacional inclusivo ao aprovar a Declaração


Mundial de Educação Para Todos (1990) e a Declaração de Salamanca (1994), resoluções
das Nações Unidas que tratam dos objetivos, princípios, política e prática em educação
especial, e, ainda, ao ratificar a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas
com Deficiência, por meio do Decreto nº 6.949/2009, internalizando-a, na forma do
§3º do art.5º, da Constituição da República Federativa do Brasil, com status de emenda
constitucional.

Como cediço, o artigo 5º, § 3º, da Constituição Federal, estabelece que:

§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que


forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos,
por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão
equivalentes às emendas constitucionais.

Assim é que, através do Decreto Legislativo nº 186, de 9 de julho de 2008, a


Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência foi
incorporada a nosso ordenamento jurídico com status de NORMA
CONSTITUCIONAL.

30
Dispõe o art. 24 da referida Convenção que serão assegurados
às pessoas com deficiência o apoio necessário, no âmbito do sistema educacional geral,
inclusive com a efetivação de medidas de apoio individualizadas, nos seguintes termos:

Artigo 24
Educação
1.Os Estados Partes reconhecem o direito das pessoas com deficiência à
educação. Para efetivar esse direito sem discriminação e com base na
igualdade de oportunidades, os Estados Partes assegurarão sistema
educacional inclusivo em todos os níveis, bem como o aprendizado ao
longo de toda a vida, com os seguintes objetivos:
a) O pleno desenvolvimento do potencial humano e do senso de dignidade
e auto-estima, além do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos,
pelas liberdades fundamentais e pela diversidade humana;
b) O máximo desenvolvimento possível da personalidade e dos talentos e da
criatividade das pessoas com deficiência, assim como de suas habilidades
físicas e intelectuais;
c) A participação efetiva das pessoas com deficiência em uma sociedade
livre.
2.Para a realização desse direito, os Estados Partes assegurarão que:
a) As pessoas com deficiência não sejam excluídas do sistema
educacional geral sob alegação de deficiência e que as crianças com
deficiência não sejam excluídas do ensino primário gratuito e compulsório
ou do ensino secundário, sob alegação de deficiência;
b) As pessoas com deficiência possam ter acesso ao ensino primário
inclusivo, de qualidade e gratuito, e ao ensino secundário, em igualdade
de condições com as demais pessoas na comunidade em que vivem;
c) Adaptações razoáveis de acordo com as necessidades individuais
sejam providenciadas;
d) As pessoas com deficiência recebam o apoio necessário, no âmbito
do sistema educacional geral, com vistas a facilitar sua efetiva
educação;

31
e) Medidas de apoio individualizadas e efetivas sejam adotadas em
ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e social, de
acordo com a meta de inclusão plena.

Para explicitar o conteúdo da referida norma, em 2016, o Comitê da Organização


das Nações Unidas responsável pelo monitoramento de sua implementação
expediu o Comentário Geral nº 4 sobre o artigo 24. O referido comentário deverá
servir de vetor interpretativo e orientar a decisão a ser proferida nesta ação coletiva.

E, como se verifica de seu teor, ao final das discussões travadas previamente à sua
elaboração, a demanda sobre a continuidade dessas escolas segregadas foi rejeitada em
termos de princípios pragmáticos. Na prática, portanto, o investimento em escolas
especiais milita contra o princípio da inclusão.

Apesar do interesse das instituições especializadas na continuidade desse modelo


segregacionista, todas as evidências reafirmam que a aprendizagem de todos é melhor
nas escolas comuns, a sociedade é a favor da educação inclusiva e este é um direito da
criança e do adolescente garantido pela Convenção sobre os Direitos da Criança e pela
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, tratados internacionais de
direitos humanos pactuados na ONU e ratificados no Brasil.

Entretanto, inclusão não se confunde com integração, prática que tem acontecido
na cidade de Volta Redonda, como se extrai da anexa documentação. Segundo o
Comitê: “Integration is the process of placing persons with disabilities in existing
mainstream educational institutions with the understanding that they can adjust to the
standardized requirements of such institutions”. Já a inclusão acontece quando: “systemic
reform embodying changes and modifications in content, teaching methods, approaches,
structures and strategies in education to overcome barriers with a vision serving to provide
all students of the relevant age range with an equitable and participatory learning

32
experience and the environment that best corresponds to their requirements and
preferences”3.

É dizer: a mera colocação de estudantes com deficiência nas classes regulares, sem
a adoção de adaptações razoáveis, à exemplo da disponibilização de profissionais de
apoio e de salas de recursos, como tem ocorrido, corresponde à mera integração, e não
verdadeira inclusão determinada na norma convencional.

O compromisso público com a garantia dos direitos para todas as pessoas é o que
se deve buscar e isso se faz com priorização e investimentos públicos e não naturalizando
más gestões e adequando a lei às práticas violadoras de direito. É possível e necessário
garantir os direitos humanos e o direito à educação a todas as pessoas, sem exceções, sem
deixar ninguém para trás, sem discriminações.

A Constituição da República Federativa do Brasil, no artigo 227, adotou a doutrina


da proteção integral, determinando o atendimento de direitos de crianças e adolescentes
de forma prioritária, sendo certo que, nos termos da Lei nº 8069/90, o “direito à
prioridade abrange a preferência na formulação e na execução das políticas sociais
públicas” e a “destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a
proteção à infância e à juventude”.

Além disso, a Constituição Federal impôs ao Estado o dever de prover as condições


necessárias ao pleno exercício da cidadania e da dignidade da pessoa humana,
fundamentos da República Federativa do Brasil (art. 1°), sem preconceito de origem, raça,
sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (art. 3°).

O artigo 208, parágrafo único, da Constituição Federal, dispõe que o dever do


Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de atendimento educacional

3
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. COMITÊ SOBRE DIREITOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA. General
comment No. 4 (2016) on the right to inclusive education, p. 3.
33
especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de
ensino.

No mesmo sentido, dispõe a Lei 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação


Nacional), em seu art. 4º, inciso III, que o dever do Estado com a educação escolar pública
será efetivado mediante a garantia de atendimento educacional especializado
gratuito aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede
regular de ensino.
O art. 58 da LDB (Lei 9.394/96) também estabelece que:

Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a
modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede
regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação.

O § 3° dispõe ainda que a oferta de educação especial, dever constitucional do


Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a educação infantil.

Em complementação, destaca-se o art. 59 da mesma lei:

“Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com


deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades ou superdotação: (Redação dada pela Lei nº 12.796, de
2013)
I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e
organização específicos, para atender às suas necessidades;
II - terminalidade específica para aqueles que não puderem
atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental,
em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em
menor tempo o programa escolar para os superdotados;
III - professores com especialização adequada em nível médio
ou superior, para atendimento especializado, bem como
professores do ensino regular capacitados para a integração
desses educandos nas classes comuns;
IV - educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva
integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas

34
para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho
competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem
como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas
áreas artística, intelectual ou psicomotora;
V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais
suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino
regular.”

Não é outra a diretriz da Lei Brasileira de Inclusão, que prestigia a existência


de serviço de apoio pedagógico especializado, com a atuação de professor da educação
especial e profissionais de apoio, quando necessário:

Art. 27. A educação constitui direito da pessoa com deficiência,


assegurados sistema educacional inclusivo em todos os níveis e
aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo
desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais,
intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e
necessidades de aprendizagem.
Parágrafo único. É dever do Estado, da família, da comunidade
escolar e da sociedade assegurar educação de qualidade à pessoa com
deficiência, colocando-a a salvo de toda forma de violência,
negligência e discriminação.
Art. 28. Incumbe ao poder público assegurar, criar, desenvolver,
implementar, incentivar, acompanhar e avaliar:
I - sistema educacional inclusivo em todos os níveis e modalidades,
bem como o aprendizado ao longo de toda a vida;
II - aprimoramento dos sistemas educacionais, visando a garantir
condições de acesso, permanência, participação e aprendizagem, por meio
da oferta de serviços e de recursos de acessibilidade que eliminem as
barreiras e promovam a inclusão plena;
III - projeto pedagógico que institucionalize o atendimento
educacional especializado, assim como os demais serviços e adaptações
razoáveis, para atender às características dos estudantes com deficiência e
garantir o seu pleno acesso ao currículo em condições de igualdade,
promovendo a conquista e o exercício de sua autonomia;
(...)
V - adoção de medidas individualizadas e coletivas em ambientes
que maximizem o desenvolvimento acadêmico e social dos estudantes com
deficiência, favorecendo o acesso, a permanência, a participação e a
aprendizagem em instituições de ensino;
35
(...)
VII - planejamento de estudo de caso, de elaboração de plano de
atendimento educacional especializado, de organização de recursos e
serviços de acessibilidade e de disponibilização e usabilidade pedagógica
de recursos de tecnologia assistiva;
(...)
IX - adoção de medidas de apoio que favoreçam o
desenvolvimento dos aspectos linguísticos, culturais, vocacionais e
profissionais, levando-se em conta o talento, a criatividade, as habilidades
e os interesses do estudante com deficiência;
(...)
XI - formação e disponibilização de professores para o
atendimento educacional especializado, de tradutores e intérpretes da
Libras, de guias intérpretes e de profissionais de apoio;
XV - acesso da pessoa com deficiência, em igualdade de condições, a
jogos e a atividades recreativas, esportivas e de lazer, no sistema escolar;
(...)
XVII - oferta de profissionais de apoio escolar;
XVIII - articulação intersetorial na implementação de políticas
públicas.

Por seu turno, o artigo 338 da Constituição do Estado do Rio de Janeiro


determina que: “É dever do Estado assegurar às pessoas portadoras de qualquer deficiência
a plena inserção na vida econômica e social e o total desenvolvimento de suas
potencialidades”, em especial através da “educação de primeiro e segundo graus e
profissionalizante, obrigatórias e gratuitas, sem limite de idade”.

As próprias diretrizes nacionais do Ministério da Educação para a educação


especial na educação básica ressaltam a necessidade de apoio especializado, de natureza
multidisciplinar, nos seguintes termos:

É importante salientar o que se entende por serviço de apoio pedagógico


especializado: são os serviços educacionais diversificados oferecidos pela
escola comum para responder às necessidades educacionais especiais do
educando. Tais serviços podem ser desenvolvidos:

a. Nas classes comuns, mediante atuação de professor da


educação especial, de professores intérpretes das linguagens e códigos
aplicáveis e de outros profissionais; itinerância intra e interinstitucional e
outros apoios necessários à aprendizagem, à locomoção e à comunicação;
36
b. Em salas de recursos, nas quais o professor da educação
especial realiza a complementação e/ou suplementação curricular,
utilizando equipamentos e materiais específicos.

Caracterizam-se como serviços especializados aqueles realizados por


meio de parceria entre as áreas de educação, saúde, assistência social
e trabalho.

É importante lembrar a importância de uma equipe multidisciplinar para que as


crianças e adolescentes com deficiência possam se desenvolver plenamente na área de
educação.
A Lei Municipal 5.878/2021 - Plano Municipal de Educação prevê o atendimento
de atividades multidisciplinares, assim disposto:

“4.6 – Garantir e manter o fornecimento de materiais e equipamentos


pedagógicos específicos, comunicação alternativa e tecnologias
assistivas de grande, médio e pequeno porte, que garantam a
acessibilidade curricular aos alunos com deficiência, transtornos globais
do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação incluídos nas
unidades educacionais do Município, bem como a capacitação de
profissionais para a utilização desses meios.”

“4.13 – Garantir a presença de profissionais de apoio ou auxiliares,


professores de AEE, tradutor/intérprete de Libras, guias-intérpretes para
surdos-cegos e como professores de Libras (profissionais preferencialmente
surdos), para atender à demanda do processo de escolarização dos
estudantes com deficiência, transtorno global do desenvolvimento e altas
habilidades ou superdotação, possibilitando assim o seu acesso ao currículo
do Ensino da Rede Regular.”

Diante da legislação supracitada, resta evidenciado o dever do Poder Público de


fornecer educação especial com currículos, técnicas e profissionais adequados aos
educandos com deficiência.

Os professores de apoio especializado são capazes de observar e identificar


em cada criança o que precisa ser desenvolvido de acordo com a sua deficiência,
não podendo o quantitativo de profissionais ser aquém do ideal para a
individualização do acompanhamento.

37
A sua ausência ou a utilização de um profissional não capacitado para a
função pode acarretar diferentes resultados: (i) o professor regente é sobrecarregado,
prejudicando o andamento de toda a classe quando ele assume a responsabilidade
integral pela inclusão do aluno e de sua aprendizagem; ou (ii) o aluno com deficiência
acaba sendo isolado para que não “atrapalhe” o andamento da aula, violando-se, assim, o
dever de inclusão.
Verifica-se, portanto, evidente negligência do poder público municipal, não
obstante os constantes apelos da sociedade civil e, em especial, da comunidade escolar
por uma educação de qualidade e inclusiva.

Por oportuno, traz-se à colação a jurisprudência de nossos Tribunais,


destacando-se os julgados que seguem:
0033843-75.2019.8.19.0004 APELAÇÃO/REMESSA NECESSÁRIA

Des(a). JUAREZ FERNANDES FOLHES 21/07/2022 - DÉCIMA


TERCEIRA CÂMARA CÍVEL.

APELAÇÃO/REMESSA NECESSÁRIA. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER


C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS AJUIZADA EM FACE DO
MUNICÍPIO DE SÃO GONÇALO. AUTOR, MENOR COM DOZE ANOS DE
IDADE, HIPOSSUFICIENTE E PORTADOR DE TRANSTORNO DO
ESPECTRO AUTISTA (CID 10 = F84.0), QUE FAZ USO DE
MEDICAMENTOS CONTROLADOS, REPRESENTADO PELA GENITORA,
PRETENDE QUE O MUNICÍPIO PROVIDENCIE O ACOMPANHAMENTO
DE UM PROFESSOR DE APOIO PARA ATENDER ÀS SUAS
NECESSIDADES ESPECIAIS NA ESCOLA MUNICIPAL ONDE ESTUDA.
REQUER TUTELA DE URGÊNCIA E, AO FINAL, A CONFIRMAÇÃO DA
TUTELA, ALÉM DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. SENTENÇA
JULGANDO PARCIALMENTE PROCEDENTE O PEDIDO. CONFIRMAÇÃO
DA TUTELA DE URGÊNCIA. IMPROCEDÊNCIA DOS DANOS MORAIS.
APELAÇÃO DO RÉU. REQUER A IMPROCEDÊNCIA. SENTENÇA QUE

38
NÃO MERECE REFORMA. DEVER DO MUNICÍPIO DE ASSEGURAR AO
PORTADOR DE DEFICIÊNCIA ENSINO ESPECIALIZADO E
INCLUSIVO NA REDE REGULAR DE ENSINO. DIREITO A
ACOMPANHANTE ESPECIALIZADO. INCIDÊNCIA DAS DISPOSIÇÕES
DO DECRETO 8.368/2014, QUE REGULAMENTOU A LEI 12.764/2012
E INSTITUIU A "POLÍTICA NACIONAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS
DA PESSOA COM TRANSTORNO DE ESPECTRO AUTISTA".
RESPONSABILIDADE DO ENTE PÚBLICO DE FORNECER
PROFISSIONAIS DE APOIO ESCOLAR, NOS TERMOS DO ART. 28 DA
LEI 13.146 E DA RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 2, DE 11/11/2001.
INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO À NORMA INSTITUIDORA DA
"SEPARAÇÃO DE PODERES". PRESERVAÇÃO DA EDUCAÇÃO QUE
DEVE PREVALECER SOBRE AS DIRETRIZES AFETAS AO PRINCÍPIO
DA RESERVA DO POSSÍVEL E À EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA, SOB
PENA DE SE NEGAR A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. AS
NORMAS CONSITUCIONAIS QUE DISCIPLINAM O DIREITO À
EDUCAÇÃO SÃO CONSIDERADAS DE EFICÁCIA PLENA E
APLICABILIDADE IMEDIATA. INTELIGÊNCIA DO ART. 208, INCISO
III, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL (DISPONDO QUE É DEVER DO
ESTADO GARANTIR A EDUCAÇÃO MEDIANTE O "ATENDIMENTO
EDUCACIONAL ESPECIALIZADO AOS PORTADORES DE
DEFICIÊNCIA, PREFERENCIALMENTE NA REDE REGULAR DE
ENSINO") E ART. 6º E 227 DA CRFB. PREVISÃO CONSTITUCIONAL
REPRODUZIDA NO ART. 53 DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE. APLICAÇÃO DA EXEGESE DAS LEIS 9.394/90 E
7.853/89. PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS DO STF E DESTA
CORTE. APELAÇÃO A QUE SE NEGA PROVIMENTO, MANTENDO A
SENTENÇA EM REMESSA NECESSÁRIA.

0015159-43.2017.8.19.0014 - APELAÇÃO

39
Des(a). RICARDO COUTO DE CASTRO - Julgamento: 23/02/2021 -
SÉTIMA CÂMARA CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER -


DISPONIBILIZAÇÃO DE MEDIADOR PARA ACOMPANHAMENTO DAS
ATIVIDADES ESCOLARES - ALUNO PORTADOR DE NECESSIDADES
ESPECIAIS - TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA - DIREITO À
EDUCAÇÃO - PREVISÃO CONSTITUCIONAL. I - Direito à educação
consagrado na CRFB (art. 205, da CRFB), na Lei de Diretrizes e
Bases da Educação, Estatuto da Criança e do Adolescente e Lei
de Apoio às Pessoas com Deficiência. A educação é direito de
todos e dever do Estado, devendo o ensino ser ministrado visando a
igualdade de condições de acesso e permanência na escola. Em relação
aos portadores de necessidades especiais deverá ser
disponibilizado atendimento educacional especializado. II -
Comprovação do quadro clínico de transtorno do espectro autista e a
necessidade de acompanhamento por professor de apoio. Procedência
do pedido. III - Verba honorária. Demanda notadamente simples.
Montante fixado que guarda razoabilidade com o disposto no art. 85,
§§1º a 8º, do NCPC. Manutenção. IV - Recurso conhecido e desprovido.

0053125-41.2015.8.19.0004 - APELACAO / REMESSA NECESSARIA


Des(a). SÉRGIO NOGUEIRA DE AZEREDO - Julgamento: 23/10/2019 -
DÉCIMA PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL
Apelação Cível. Reexame Necessário. Ação de Obrigação de Fazer c/c
Reparatória por Danos Morais. Administrativo. Constitucional.
Designação de professor de apoio para acompanhamento de
menor portador de Síndrome de Down. Sentença de parcial
procedência, refutando apenas a pretensão de indenização por
prejuízos imateriais. Irresignação edil. Educação. Direito social de
todos e dever do Estado. Arts. 6º, caput, 205 e 208, III e §§1º e 2º,
todos da CR/88. Obrigação constitucional dos entes político-
administrativos da Federação, nos termos do art. 23, V, da CR/88.

40
Enfoque conferido à educação dos portadores de deficiência.
Tutela especial conferida no caput do art. 227 da Lex Mater e
reassegurada nos arts. 4º, caput, 53, V, e 54, III e §§1º e 2º, da Lei
nº 8.069/90, e nos arts. 2º, 58, caput e §1º, e 59, III, da Lei nº
9.394/96. Responsabilidade do Demandado. Proteção integral e
superior interesse do menor portador de deficiência. Garantia
também prevista no art. 28, XVII, da Lei nº 13.146/2015. Ausência
de violação à Separação de Poderes. Papel do Judiciário de
intervir em casos de lesão ou ameaça a direito por meio da
aplicação das normas ao caso concreto (art. 5º, XXXV, da CR/88).
Direito subjetivo prestacional e Princípio da Dignidade da Pessoa
Humana a preponderarem sobre eventuais alegações de
restrições orçamentárias e/ou legais. Não caracterização de
afronta à Reserva do Possível ou aos direitos de outros munícipes
em situações semelhantes. Máquina judiciária disponível a qualquer
jurisdicionado que necessite de idêntico tratamento. Precedentes
desta Colenda Corte Fluminense. Danos extrapatrimoniais não
configurados. Sucumbência recíproca. Distribuição dos encargos
processuais de modo equânime entre as partes, observadas a
gratuidade de justiça do Postulante (ar.t 98, §3º, do CPC) e a isenção
municipal às custas (art. 17, IX, da Lei Estadual nº 3.350/1999). Taxa
judiciária. Condenação justificada com base no Verbete nº 145 da
Súmula de Jurisprudência Predominante desta Casa de Justiça e no
Enunciado Administrativo nº 42 do FETJ. Honorários. Inaplicabilidade
do art. 85, §11, do CPC. Impossibilidade de acolhimento de pedido
deduzido, a seu respeito, em contrarrazões, via inadequada para tal
desiderato. Manutenção integral do decisum. Aplicabilidade do Duplo
Grau Obrigatório de Jurisdição. Conhecimento e desprovimento do
recurso

0073777-52.2019.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO

41
Des(a). WAGNER CINELLI DE PAULA FREITAS - Julgamento:
12/02/2020 - DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL

Agravo de instrumento. Direito constitucional à educação. Criança


portadora de deficiência (art. 3º, parágrafo único e 1º, § 2º, da Lei
12.764/12). Disponibilização de professor de apoio. Necessidade
devidamente comprovada através de laudo médico. Poder público
que deve garantir o acesso das pessoas com deficiência à
educação. Art. 28 da Lei brasileira de inclusão da pessoa com
deficiência. Previsão da necessidade de professor de apoio na Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Jurisprudência sobre
o tema. Decisão reformada. Recurso conhecido e provido.

V.2) DO MÍNIMO EXISTENCIAL. DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.

A Dignidade da Pessoa Humana, fundamento máximo da Constituição República


Federativa do Brasil, coloca o Direito à Educação como expressão direta do Mínimo
Existencial, importando na conceituação de que o Estado existe em função das pessoas e
não estas em função do Estado.

Desta forma, toda e qualquer ação do ente estatal deve ser avaliada, sob pena de
inconstitucionalidade e de violação à Dignidade da Pessoa Humana, considerando cada
pessoa tomada como fim em si mesmo ou como instrumento, como meio para outros
objetivos.

Assim, a pessoa deve ser considerada um minimum invulnerável que cada estatuto
jurídico deve garantir.

Diante da relevância do direito à educação, em sede doutrinária este é incluído no


rol dos direitos sociais do MÍNIMO EXISTENCIAL. Trata-se de tese sustentada pela
abalizada doutrina capitaneada por Diogo de Figueiredo Moreira Neto e Ana Paula de
42
Barcellos, que sustentam que direitos sociais como educação básica, saúde, acesso ao
Judiciário e assistência aos desamparados, inclusos neste último, a alimentação, o abrigo
e o vestuário, compõem o mínimo de direitos indispensáveis à manutenção da dignidade
da pessoa humana.

O mínimo existencial pode ser definido como um subgrupo inserido no rol dos
direitos sociais que, em razão da Dignidade da Pessoa Humana, fundamento máximo do
nosso Estado Democrático de Direito, possui um regime diferenciado dos demais direitos
sociais.

Os direitos sociais são aqueles cujo exercício por parte do cidadão depende da
atuação positiva do ente público, ou seja, reclamam uma prestação por parte dos entes
públicos, impondo, consequentemente, a existência de recursos financeiros. Portanto,
como bem preceituou Canotilho, diante da infindável necessidade humana e da evidente
limitação dos recursos econômicos dos entes públicos, o exercício dos direitos sociais
acabam vinculados à denominada “reserva do possível”.

Diante de tal panorama, a doutrina nacional constitucionalista, com vistas a dotar


de máxima eficácia os princípios constitucionais, em especial a Dignidade da Pessoa
Humana, sustenta o destaque de alguns direitos sociais prestacionais, os quais seriam
incindíveis à reserva do possível. Significa dizer que o obstáculo das limitações
econômicas da Administração Pública deve ser afastado diante da Dignidade da
Pessoa Humana, consubstanciada esta no exercício pleno e integral de direitos
sociais que garantam um mínimo de existência de digna.

Logo, diante da ponderação entre o direito social fundamental à educação e a


indisponibilidade orçamentária do ente público, o primeiro sempre prevalecerá, devendo
o ente público determinar a transferência de recursos alocados em setores menos
prioritários para a consecução dos fins estatais, assegurando o bem-estar social e a
Dignidade da Pessoa Humana.

43
Portanto, o direito à educação não é somente um direito fundamental social, mas
também um direito que integra o fundamento do Estado Democrático de Direito, a
garantia da Dignidade da Pessoa Humana.
Neste sentido, Ana Paula de Barcellos:

“A limitação de recursos existe e é uma contingência que não se


pode ignorar. O intérprete deverá levá-la em conta ao afirmar que
algum bem pode ser exigido judicialmente, assim como o
magistrado, ao determinar seu fornecimento pelo Estado. Por
outro lado, não se pode esquecer que a finalidade do Estado ao
obter recursos, para, em seguida, gastá-los sob a forma de obras,
prestações de serviços, ou qualquer outra política pública, é
exatamente realizar os objetivos fundamentais da Constituição. A
meta central das Constituições modernas, e a da Carta de 1988 em
particular, pode ser resumida, (...), na promoção do bem-estar do
homem, cujo ponto de partida está em assegurar as condições
mínimas de sua própria existência. Ao apurar os elementos
fundamentais dessa dignidade (o mínimo existencial), estar-
se-ão estabelecendo exatamente os alvos prioritários dos
gastos públicos. Apenas depois de atingi-los é que se poderá
discutir, relativamente aos recursos remanescentes, em que outros
projetos se poderão investir. O mínimo existencial, como se vê,
associado ao estabelecimento de prioridades orçamentárias,
é capaz de conviver produtivamente com a reserva do
possível”.
(A Eficácia Jurídica dos Princípios Constitucionais, Ed. Renovar,
2002, p. 245-246).
Faz-se mister destacar o entendimento do Supremo Tribunal Federal exposto na
ADPF-45 MC/DF:
“É certo que não se inclui, ordinariamente, no âmbito das funções
institucionais do Poder Judiciário – e nas desta Suprema Corte em
especial – a atribuição de formular e implementar políticas públicas,
pois nesse domínio, o encargo reside, primeiramente, nos Poderes
Legislativo e Executivo. Tal incumbência, no entanto, embora em
bases excepcionas, poderá atribuir-se ao Poder Judiciário, se e
quando os órgãos estatais competentes, por descumprirem os
encargos político-jurídicos que sobre eles incidem, vierem a
comprometer, com tal comportamento, a eficácia e integridade
44
de direitos individuais e/ou coletivos impregnados de estatura
constitucional, ainda que derivados de cláusulas revestidas de
conteúdo programático” (STF. ADPF-45 MC/DF. Rel. Min. Celso de
Mello, julgado em 29.4.2004, DJ 4.5.2004.) (Grifos nossos).

Cumpre também ressaltar a decisão exarada pelo Supremo Tribunal Federal no


agravo regimental interposto no RE 594.018-7 - RJ – 2009, onde se reconheceu o
direito à EDUCAÇÃO COMO UM DIREITO FUNDAMENTAL E INDISPONÍVEL, a obrigar
a diligência do Estado a propiciar meios que viabilizem seu exercício, afastando
qualquer premissa de ofensa ao Princípio da Separação dos Poderes.

Não se pode deixar de mencionar, ainda, que a Constituição Federal assegura


PRIORIDADE ORÇAMENTÁRIA para a manutenção e o desenvolvimento do ensino
(art. 212).

Repita-se! Considerando que no orçamento do Município de Volta Redonda,


previsto para o ano de 2023, foram destinadas as verbas para a EDUCAÇÃO no montante
de R$ 13.880.000,00, sendo que para o atendimento educacional especializado há a
disponibilidade de R$ 1.321,000,00 e para a remuneração dos profissionais da Educação
Básica – Educação Especial há verba de R$ 2.528.000,00.

Diante de todo o acima exposto e frustradas todas as tentativas de resolução


extrajudicial, outra alternativa não houve senão o ajuizamento da presente ação civil
pública, a fim de assegurar o direito à educação das crianças e adolescentes com
deficiência matriculados na rede municipal de ensino de Volta Redonda e daqueles que,
por ausência de condições na oferta regular do serviço público, permanecem fora da
escola pública, perdendo toda a oportunidade de inclusão, crescimento intelectual,
emocional e cognitivo.

V.3) DO PROCESSO ESTRUTURANTE

45
Concebida a partir do direito processual civil brasileiro, via de regra, as espécies
de litígios são determinadas sob precisão e, assim, acabam por fomentar a ideia de que o
processo deve flutuar entre dois extremos (já que normalmente cabe ao magistrado
escolher um desses dois como o “vitorioso” e o outro como o “perdedor”). O princípio da
demanda – e o coordenado dever de correspondência entre pedido e sentença – fixa o
limite máximo daquilo que o juiz pode conferir ao autor e a somente julgar sobre aquilo e
nos exatos limites daquilo que é apresentado pela parte autora.

Ora, é certo que tal lógica serve razoavelmente bem para os litígios privados, em
que, diante da predominância da vontade dos particulares, é normalmente menor a
intervenção estatal na gestão dessas relações jurídicas. Contudo, tal instituto do processo
estruturante foge à órbita da lógica binária acima exposta já que diante do nobre fim ao
qual se colima o processo, peculiaridades estruturais são perseguidas como forma de
decisão judicial.

Em outros campos, especialmente na dimensão do direito público, em que a


estrutura processual clássica se torna inútil para a solução do conflito, vê-se que não há o
mesmo efeito a aplicação da ratio da estrutura processual clássica, em que, o juiz está
adstrito a “acolher ou rejeitar, no todo ou em parte, o pedido formulado pelo autor”.

Como exemplo, citam-se conflitos em que inatingível é a separação de direitos -


como à saúde (ou à vida) - sem transpassar ao interesse da tutela do patrimônio público
do Estado, já que a decisão estará, sempre, interferindo na gestão da política de saúde
local e embute em seu seio graves questões de política pública, de alocação de recursos
públicos e, ultima ratio, de determinação do próprio interesse público.

Ora, diante de sua dinamicidade, o processo estruturante acaba por reduzir o


assoberbamento do judiciário já que se torna desnecessário o ajuizamento ulterior de
demandas individuais que versem sobre o mesmo objeto litigioso, sendo pautado na
maior flexibilidade da adequação de sua decisão àquilo que exija a situação concreta e

46
distanciando-se de um processo ortodoxo no qual se pretende uma determinada solução
pontual paro o seu deslinde.

Como exemplo pontual, menciona-se acordo estrutural referente ao caso das


creches de São Paulo – SP (ACP 0150735-64.2008.8.26.002), com fim na implementação
progressiva de vagas, com metas qualitativas que não preveem apenas a quantidade, mas
também se preocupam com a qualidade da prestação do serviço.
Isso caracteriza um litígio estrutural, cuja correção exige a elaboração e
implementação de um plano, com medidas progressivas, capazes de alterar, de maneira
duradoura, o comportamento dos demandados. Por essa razão, entende o autor que a
efetiva mudança de comportamento, capaz de garantir a prestação de serviços
educacionais públicos, de qualidade e voltados para o segmento das crianças e
adolescentes com deficiência, passa por medidas judiciais, em diálogo construtivo com
todas as partes envolvidas, no sentido de construir a própria política em sentido geral,
direcionando o Executivo a partir da cooperação e colaboração das partes integrantes do
processo, mas também de atores externos que podem subsidiar nessa tarefa, cara a toda
a sociedade e por isso a ela também endereçada.
Nesse aspecto, pode-se dizer que a necessidade de apresentação de um
cronograma seguido de um planejamento feito pelo Município de Volta Redonda é a causa
do litigio e de sua alteração depende a solução. Um processo estrutural, tal como se
propõe, é cíclico. Ele não transita entre o passado e o futuro, já que detém lógica de
melhora progressiva. A demanda foi proposta após diagnosticar, minimamente, o
problema, ou seja, necessidade de estruturação e estabelecimento dos cargos de
mediador educacional no Município, ante à ausência de informações precisas e concretas,
ou ao menos da programação e da expectativa, com os cronogramas pertinentes da
nomeação de mediadores educacionais, existindo, comprovadamente, lacunas e falhas na
prestação do serviço.

Assim, pode-se dizer que a presente ação se caracteriza por expressiva


dinamicidade. Sucessivamente às etapas de diagnóstico do problema, que motivou o
ajuizamento e a elaboração do plano de contingenciamento, necessário é a fiscalização e
47
sua implementação, pautados na dinamicidade da realidade social dos munípices,
cabalmente atingidos pelas fortes chuvas que tomaram o Município. Diante da viabilidade
de aferição ao final, é que se defende a atenuação do princípio da demanda, sendo o
processo estrutural prospectivo, detendo o futuro como tempo que influencia o que se
passou, ou seja, projeta-se no futuro os efeitos da decisão que se almeja, não sendo de
tamanha importância o que se passou e o que motivou o ajuizamento da presente.

Nesse sentido, não cabe dizer que há confusão entre a elaboração de


cronograma e o direito de planejamento com a fiscalização da política pública municipal,
já que à medida que o plano seja desenvolvido, há novos diagnósticos, os quais geram
mudanças às necessidades do quadro municipal. Ora, nesse aspecto é inquestionável que
o requisito necessário para pensar em decisões estruturais já é pressuposto no Brasil,
especialmente diante da sedimentada orientação do Supremo Tribunal Federal,
admitindo que os atos de políticas públicas possam ser controlados pelo Judiciário,
especialmente em atenção aos direitos fundamentais.4

O processo estrutural apresenta-se com vantagens, possibilidade de diálogo


entre as partes, sendo colaborativo e isonômico; detém amplo aspecto de informações
disponíveis e permite lidar com efeitos colaterais, bem como levar em conta as
necessidades de outras políticas públicas. Assim, não se trata de intervenção porque não
se busca intervir na discricionariedade, mas tão somente informações precisas e
concretas, especialmente com os cronogramas pertinentes e informações das medidas
adotadas.

4
Como apenas de modo exemplificativo, confira-se as decisões do STF nos seguintes casos: AgRg na SL
47PE, Pleno, rel. Min. Gilmar Mendes. Dje 29.04.2010; AgRg no RE 628.159/MA, 1.a T., rel. Min. Rosa Weber,
Dje 14.08.2013; AgRg no AgIn 810.410/GO, 1.a T., rel. Min. Dias Toffoli, Dje 07.08.2013; EDcl no RE
700.227/AC, 2.a T., rel. Min. Carmen Lúcia, Dje 29.05.2013; AgRg no RE 563.144/DF, 2.a T., rel. Min. Gilmar
Mendes, Dje 15.04.2013. Em doutrina, sobre a legitimação dessa atividade judicial, v., o amplo debate
travado no direito norte-americano (FULLER, Lon L.; WINSTON, Kenneth I. The forms and
limits of adjudication. Harvard law review, vol. 92, n. 2, Harvard, dez. 1978, passim; FISS, Owen. The forms
of justice cit., passim; FLETCHER, William A. Ob. cit., passim; EISENBERG, Theodore; YEAZELL, Stephen C.
Ob. cit., p. 494 e ss.).

48
Além de fixar em linhas gerais as diretrizes para a proteção do direito a ser
tutelado, criando o núcleo da posição jurisdicional sobre a apresentação de plano de
contingenciamento para a solução de problemas e questões pontuais surgidas durante
sua implementação, busca-se muito mais do que eliminar uma determinada conduta
ilícita, impondo um fazer ou uma abstenção. Ao contrário, almeja-se a reestruturação da
relação burocrática das políticas públicas municipais, de modo a alterar substancialmente
a forma como as interações sociais se travam. Por isso, são medidas de longo prazo, que
exigem muito mais do que uma simples decisão do Estado, mas o emprego de medidas
estruturais que sejam capazes de conceber provimentos em cascata, de modo que os
problemas devam ser resolvidos à medida que apareçam.

Por isso espera-se da atuação jurisdicional postura repleta da criatividade


necessária no trato dessas questões. É preciso consciência diante de um processo em que
efetivamente se possa permitir o conhecimento a fundo do problema, a gestão adequada
do litígio e o respeito do exercício da jurisdição, pautado em condições do magistrado em
oferecer à sociedade uma solução factível e razoável, no sentido de refletir da melhor
maneira possível os valores públicos que devem ser o fim último da jurisdição.

E, para que isso seja possível, é evidente a necessidade de se projetar outro


modelo processual. O tema, como se vê, aponta para diversas outras questões, ainda
pouco enfrentadas pela doutrina nacional, mas que detêm inegável importância.

Nesse sentido, toma-se a liberdade para encaixar frações do artigo que pontua
a vinculação do ativismo judicial à injunção estruturante do Poder Judiciário e aos mais
positivos efeitos de sua aplicação, mormente em questões de direito público, envolvendo
atividades essenciais vinculadas aos fundamentos e objetivos da República, entre os quais
a erradicação da pobreza, a redução das desigualdades sociais e a dignidade da pessoa
humana, que passam, inexoravelmente, pela melhoria substancial de tantos serviços
públicos.
“.... Ponto de extrema importância é a defesa do ativismo judicial,
pois este cresce na mesma proporção em que os outros Poderes
49
não conseguem atribuir ao jurisdicionado criações legislativas que
possam modificar o ambiente que o desagrada. Não se pode falar
em sobreposição do Judiciário em relação a outros Poderes. De
acordo com Marco Jobim o ativismo decorre do poder que o
ordenamento jurídico concede à sociedade para a busca de
políticas públicas quando o Executivo ou o Legislativo não
cumprem corretamente o seu papel. Esse papel mais criativo dos
juízes traz um ônus. Ônus este que traz bônus à cidadania. Se
equação matemática fosse o produto seria uma tutela jurisdicional
mais acertada, consequentemente com maior apoio da sociedade e
que a população em geral confiasse........ Ou seja, o magistrado pode
e deve implementar as structural injunctions para se conseguir
efetividade de suas decisões.... O jurisdicionado brasileiro é credor
da melhor prestação judicial que estiver à sua disposição, pois ele,
nada mais é, do que um consumidor dos serviços do Poder
Judiciário..... Nesse passo, o magistrado ativista é o que o Estado
Constitucional precisa para que se implemente as normas da
Constituição da República de 1988.... As medidas estruturantes
trazem maior eficácia ao mandamento judicial, fazendo com que a
sociedade possa desfrutar da realização dos preceitos
constitucionais..... O processo, atualmente, não é como outrora; ou
seja, proporciona benefícios sociais fazendo com que o magistrado
do século XXI esteja comprometido com o resultado, pois este ecoa
para além do processo.... No plano da sociedade atual, o processo
necessita de um juiz ativo que dirija o mesmo pelas tortuosas vias
procedimentais sempre com o fulcro de obter solução justa para a
lide em questão. Ademais, no presente momento do estudo de
processo civil, verifica-se a visão publicista do processo que age
como meio que harmoniza melhoramentos sociais. Ao contrário de
épocas passadas em que o mesmo processo era destinado à
realização de direitos privados (visão privatista). Nesta toada,
atualmente, o juiz tem uma função muito mais ativa do que
anteriormente quando seus poderes eram vistos de forma
restritiva....”

Inolvidável se mostra a nobre lição trazida pelo Procurador da República


Edilson Vitorelli, um dos maiores expoentes deste tema, Doutor em Direito pela UFPR e
mestre em Direito pela UFMG, que com muita maestria conceituou o que vem a ser
processo estruturante e o seu escopo no bojo das ações coletivas:
50
“Processos estruturais são demandas judiciais nas quais se busca
reestruturar uma instituição pública ou privada cujo
comportamento causa, fomenta ou viabiliza um litígio estrutural.
Essa reestruturação envolve a elaboração de um plano de longo
prazo para alteração do funcionamento da instituição e sua
implementação mediante providências sucessivas e incrementais
que garantam que os resultados visados sejam alcançados
mediante providências sucessivas e incrementais, que garantam
que os resultados visados sejam alcançados, sem provocar efeitos
colaterais indesejados ou minimizando-os. A implementação dessa
decisão se dá por intermédio de uma execução estrutural, na qual
as etapas do plano são cumpridas, avaliadas e reavaliadas
continuamente do ponto de vista dos avanços que proporcionam.
O juiz atua como um fator de reequilíbrio da disputa de poder entre
os subgrupos que integram a sociedade que protagoniza o litígio.”

Diante da inércia do ente municipal, não resta alternativa a não ser a


judicialização, para que o Município apresente um cronograma de medidas tomadas para
a efetivação de um planejamento macroscópico, qual seja, a criação do cargo de mediador,
juntamente com a reestruturação do ensino especial no Município. Ou seja, quer-se aqui
muito mais do que a convocação de cuidadores/mediadores para acompanhamento das
crianças e adolescentes matriculados na rede municipal de ensino.

Não se intenciona esta ação adentrar na discricionariedade do poder


executivo no que se refere à maneira como será concebida e executada a política pública.
Quer dizer, o plano e as ações que buscamos ver implementados deverão ser pensados e
elaborados pelo poder executivo, através de seus servidores, respeitada a sua
discricionariedade técnica. Nisso, remanesce a liberdade de escolha do administrador. O
que se pretende é apenas compelir o administrador a deixar a inércia, eis que o cenário
de inação vem causando graves prejuízos à população.

Portanto, pretende-se a obtenção de um provimento jurisdicional que


imponha aos réus a obrigação de remodelamento e implementação de uma política

51
pública voltada ao atendimento do mínimo existencial da dignidade da pessoa humana, o
que deverá ser feito, naturalmente, em etapas sucessivas, visto que trata-se de política
pública complexa, que não se há como erigir da noite para o dia. Em razão disso,
pretendemos ver fixados marcos temporais razoáveis para a implementação dessas
metas, de modo a que os réus possam satisfatoriamente cumpri-las, bem como a que
tenhamos um parâmetro para deles exigir o adimplemento.

Ora, em síntese, pode-se dizer que um processo estrutural é aquele que busca
resolver, por intermédio da atuação da jurisdição, um litígio estrutural, pela reformulação
de uma estrutura burocrática, responsável pela existência da violação que origina o litígio.
Essa reestruturação se dará por intermédio da elaboração de um plano aprovado pelo Juiz
e sua posterior implementação, geralmente ao longo de determinado período de tempo.
Ela implicará a avaliação e reavaliação dos impactos diretos e indiretos do
comportamento institucional, dos recursos necessários e de suas fontes, dos efeitos
colaterais da mudança promovida pelo processo sobre os demais atores sociais que
interagem com a instituição, dentre outras providências.

VI - DO PEDIDO LIMINAR

O artigo 12 da Lei nº 7.347/85 autoriza o juiz a conceder medida liminar, com ou sem
justificação prévia.

Sublinhe-se, quanto à verossimilhança das alegações, os registros de atendimento


do Núcleo de Primeiro Atendimento da Defensoria Pública e a expedição do ofício do 2º
Núcleo Regional de Tutela Coletiva, que comprovam a ausência na prestação do serviço,
compelindo inúmeras crianças e adolescentes a ficarem desassistidos durante o período
escolar.

Outrossim, caracterizada está a urgência, que se extrai tanto da documentação que


instrui a presente como em razão da extrema vulnerabilidade do grupo envolvido,

52
composto por crianças e adolescentes com deficiência que estão sendo privados do seu
direito à educação.

Ademais, é admissível a antecipação da tutela de mérito, mesmo contra a Fazenda


Pública, desde que presente os seus pressupostos (Súmula nº 60 TJ-RJ).
Por fim, a Lei nº 9.494/97, ao elencar em seu art. 1º os dispositivos da Lei nº
8.437/92 que devem ser observados como regra especial, não incluiu o art. 2º, aplicável
para efeito de concessão de liminar, de sorte que, ainda que deferida contra Pessoa de
Direito Público, não se exige a prévia oitiva do representante desta.
De todo o exposto, há a necessidade do deferimento de MEDIDA LIMINAR para
compelir o réu a:

(i) Disponibilizar professores de apoio educacional especializado A


TODOS OS ALUNOS COM DEFICIÊNCIA matriculados na rede pública
municipal de ensino, em quantitativo ideal que permita o apoio
efetivo aos estudantes DURANTE TODO O PERÍODO do(s) turno(s)
escolar(es) em que estiverem matriculados, VEDADOS RODÍZIOS E
REDUÇÕES DE CARGA HORÁRIA ESCOLAR, no prazo de 30 (trinta)
dias, sob pena de multa diária de R$50.000,00 reais;

(ii) Promover, no prazo de 30 (trinta) dias, o efetivo e adequado


funcionamento de todas as salas de recursos multifuncionais
existentes na rede pública municipal de ensino, equipando-as com a
tecnologia assistiva exigida e designando, para atuação nas referidas
salas, professores de apoio em quantitativo compatível com o número
de alunos matriculados;

(iii) Apresentar, no prazo de 30 (trinta) dias, o Plano Educacional


Individualizado (PEI) de todos os alunos com deficiência matriculados
na rede pública municipal de ensino e

53
(iv) Apresentar a listagem com todos os matriculados que sejam portadores
de alguma deficiência e o respectivo serviço de apoio oferecido a cada
um e, nos casos em que se constate a desnecessidade da sua prestação,
seja a mesma devidamente fundamentada por meio de laudos assinados
por profissional habilitado.

VII - DA AUDIÊNCIA PRÉVIA DE CONCILIAÇÃO

Embora o Município tenha resistido à autocomposição na fase extrajudicial, e


considerando a natureza e os contornos da pretensão, viável se mostra, na fase inaugural,
a conciliação, razão pela qual a parte Autora, no espírito de cooperação e de boa-fé (arts.
5º e 6º, do CPC), não se opõe à designação de Audiência prevista no art. 334 do CPC.

VIII - DO PEDIDO

Diante do exposto, requer-se:

1) A citação da parte ré na sede da respectiva Procuradoria e para, nos termos do


artigo 242, § 3º, do CPC, querendo, oferecer resposta, sob pena de aplicação dos
efeitos da revelia;
2) A intimação do Ministério Público para, querendo, manifestar como fiscal da
ordem jurídica;

3) Ao final, seja julgado PROCEDENTE o pleito autoral para:

5.1) Confirmar a medida liminar, nos termos expostos acima;

5.2) Determinar que o Município de Volta Redonda apresente PLANO DE


AÇÃO - detalhando e discriminando prazos, metas, medidas e quaisquer

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atos administrativos necessários – para REESTRUTURAÇÃO DA REDE
MUNICIPAL DE ENSINO no tocante à Educação Inclusiva dos alunos
com deficiência, observando-se o Regime Jurídico que rege as relações
de trabalho efetivas no Município, segundo a Lei 1931 de 1984, vedada
a submissão ordinária a qualquer regime legal de contratação
temporária, salvo quando justificada pela urgência decorrente da
excepcional necessidade do serviço, devendo adequar seu quadro
funcional efetivo, criando ou transformando cargos vagos em cargos
de mediador de nível superior, provendo-os, bem assim criar e
prover os demais cargos de interesse para a efetivação da política
pública contínua, permanente e de qualidade que seja apta a
assegurar o direito à educação de tais estudantes, promovendo
adaptações razoáveis e eliminação de barreiras, viabilizando seu acesso
e permanência na escola, em igualdade de condições com os demais
alunos;

5.3) Determinar que o réu faça consignar em todos os Planos Plurianuais do


período, de forma clara e objetiva, as Metas Físicas e Financeiras
suficientes e adequadas à execução do Plano de Ação referido no item 5.2;

5.4) Compelir o Município de Volta Redonda a consignar em todas as Leis


Orçamentárias Anuais do período dotações orçamentárias suficientes à
execução do Plano de Ação indicado no item 5.2 acima, por meio de
rubrica/programa de trabalho específico, observado o mínimo de
aplicação referido na supracitada Lei Municipal nº 3.234;

5.5) Condenar o requerido a executar, integralmente, o Plano de Ação do item


5.2, promovendo, para tanto, a aplicação regular e não sujeita a
contingenciamento dos recursos orçamentários assegurados nos termos
do item 5.4 supra;

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5.6) Criar COMITÊ DE MONITORAMENTO5, cujos integrantes serão
designados a critério desse M.M. Juízo, sugerindo-se, desde logo, seja
composto, dentre outros membros, por: Conselho Municipal de Educação
(CME), Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente
(CMDCA), Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência (COMPEDE),
Comissão dos Direitos da Pessoa com Deficiência da OAB de Volta
Redonda, Comissão de Direitos da Pessoa com Deficiência da Câmara dos
Vereadores de Volta Redonda, responsáveis de alunos integrantes dos
Conselhos Escolares e representantes da sociedade civil com
representatividade adequada (entre elas e sem exclusão de qualquer
outra, a APAE, a APADEM e a APADEFI), para avaliação do plano
apresentado e fiscalização de seu cumprimento.

4) Por fim, pugna-se para que sejam observadas as prerrogativas dos membros da
Defensoria Pública, a serviço da democratização do acesso à justiça,
notadamente: (i) receber intimação pessoal mediante entrega dos autos com
vista em qualquer processo e grau de jurisdição (LC 80/94, art. 128, I; LCE 6/77;
(ii) a contagem em dobro de todos os prazos (LC 80/94, art. 128, I; LCE 6/77); e
(iii) representar a parte independentemente de mandato (LC 80/94, art. 128, XI;
LCE 6/77).

Requer-se, desde logo, a produção de provas testemunhal, documental e pericial,


reservando-se a faculdade de utilizar todos os meios probatórios em direito admitidos.

Dá à causa o valor de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais).

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Nas demandas estruturantes como a presente, tem-se dois grupos de medidas passíveis de serem
adotadas pelo Poder Judiciário: as medidas dialógicas e as medidas coercitivas. As primeiras são aquelas
“em que as entidades públicas condenadas são chamadas a fazer parte, de modo ativo, da implementação
da decisão” . Um exemplo é a elaboração de um plano de implementação da decisão e, a partir do
monitoramento pela jurisdição fiscalizatória, a manutenção do diálogo para flexibilização e adequação
das medidas que devem ser tomadas. Cf. FACHIN, Melina Girardi. SCHINEMANN, Caio. Decisões
estruturantes na Jurisdição Constitucional Brasileira: Critérios Processuais da Tutela Jurisdicional de
Direitos Prestacionais. In: Revista Estudos Institucionais. v. 4, n. 1, 2018. Disponível em:
https://estudosinstitucionais.com/REI/article/view/247/218. Acesso em 31/10/2019.
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Pede deferimento.
Volta Redonda, 22 de março de 2023.
João Helvécio de Carvalho
Defensor Público
820.976-3

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