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tribunal

PODER JUDICIÁRIO
de justiça TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE GOIÁS

do estado
Gabinete do Desembargador ORLOFF NEVES ROCHA
de goiás

Rua 10, n.º 150 , Fórum Dr. Heitor Moraes Fleury , 12º Andar , Sala 1229, Setor Oeste , Goiânia-GO, CEP 74120020, Tel: (62) 3216-2964

Processo : 5596964.23.2019.8.09.0000
Nome CPF/CNPJ
Promovente(s)
FIRMINA LOPES CORREIA MACHADO --
Nome CPF/CNPJ
Promovido(s) SECRETARIO DE SAUDE DO ESTADO DE 702.251.501-
GOIAS 82
Mandado de Segurança (CF; Lei Órgão 1ª Câmara
Tipo de Ação / Recurso
12016/2009) judicante: Cível
Relator Des. ORLOFF NEVES ROCHA

VOTO

Cuida-se de Mandado de Segurança, com pedido de liminar, impetrado por


MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, em substituição processual à Firmina Lipes
Correia Machado, contra omissão atribuída ao SECRETÁRIO DE SAÚDE DO ESTADO DE
GOIÁS, em defesa ao direito fundamental à vida, à saúde e à dignidade da substituída.

Com o presente mandamus, o Impetrante substitui Firmina Lipes Correia Machado,


na intenção de obter da Secretaria de Saúde do Estado de Goiás tratamento com XARELTO 20
mg (RIVAROXABANA), em razão do diagnóstico de tromboembolismo pulmonar agudo (CID 1
26.9). O medicamento possui registro ativo na Agência Nacional de Vigilância Sanitária –
ANVISA, embora não integre os protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas do Ministério da
Saúde.

Passo, primeiramente, a análise da preliminar aventada em sede de contestação pelo


Estado de Goiás.

Inicialmente, não merece guarida a alegação de inadequação da via eleita ante a


necessidade de dilação probatória e ausência de prova pré-constituída, pois as provas
constantes dos autos mostram-se suficientes para demonstrar a enfermidade apontada pela
substituída, bem como o tratamento prescrito e o ato omissivo do impetrado. Dessarte, não há
falar em dilação probatória, tampouco em carência de ação.

Nesse sentido, a jurisprudência desta Casa de Justiça:

“MANDADO DE SEGURANÇA. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO.


INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA E AUSÊNCIA DE PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA
AFASTADAS. RELATÓRIO MÉDICO E PARECER DA CÂMARA DE AVALIAÇÃO TÉCNICA
EM SAÚDE - CATS. DIREITO LÍQUIDO E CERTO. DEFICIÊNCIA DE GH. SOMATROPINA -
HORMÔNIO DO CRESCIMENTO. RENOVAÇÃO DE RECEITUÁRIO MÉDICO.
DEVOLUÇÃO DE MEDICAMENTOS NÃO UTILIZADOS. SEGURANÇA CONCEDIDA. 1. A
ação de mandado de segurança é via adequada para reclamar o controle jurisdicional de
atos comissivos ou omissivos, ilegais e eivados de abuso de poder, praticados por

Tribunal de Justiça do Estado de Goiás


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autoridade da Administração Pública. 2. Restando comprovada a doença apontada, a
necessidade do tratamento médico indicado e a omissão do Poder Público Estadual em
atender os reclamos da paciente, mostra-se inegável a presença da prova pré-constituída.3.
Nos termos do art. 196 da Constituição Federal, a saúde é direito de todos e obrigação do
Estado, cuja assistência deve ser garantida mediante politicas sociais e econômicas que
visem a redução do risco de doença e de outras consequências. 4. O crescimento físico e
emocional saudáveis, compatíveis com crianças da idade do Impetrante, a partir da
dispensação de medicamento previsto nas listagens protocolares do Sistema Único de
Saúde - SUS evita prejuízos sociais decorrentes da baixa estatura. Saúde, no preâmbulo da
Constituição da Organização Mundial da Saúde, não se limita ao bem-estar físico, mas
também ao mental e social.5. Concedidas medidas judiciais de prestação continuativa, em
medida liminar ou definitiva, é necessária a renovação periódica do relatório médico
(Enunciado de Saúde Pública nº 2, CNJ). 6. Em caso de interrupção do tratamento,
eventuais remédios sobressalentes em posse do paciente ou de familiares deverão ser
devolvidos à autoridade pública.SEGURANÇA CONCEDIDA.” (TJGO, Mandado de
Segurança nº 5305019-70.2018.8.09.0000, Rel. Des. Orloff Neves Rocha, 1ª Câmara Cível,
julgado em 05/10/2018, DJe de 05/10/2018).

Assim, no caso dos autos, as provas pré-constituídas se encontram devidamente


corroboradas pelo relatório médico e pelo Parecer Técnico apresentado pela Câmara de
Avaliação Técnica em Saúde – CATS, que afirmam a necessidade do uso do medicamento pela
Substituída.

Passadas esta consideração, adentro ao mérito.

Para a concessão da segurança pleiteada, imprescindível que o direito subjetivo


individual seja líquido e certo, isto é, aquele em que a incontestabilidade é evidenciada de plano
com demonstração imediata e insuperável.

Acerca do tema, pertinente as lições de Hely Lopes Meireles:

“Direito líquido e certo é o que se apresenta manifesto na sua existência,


delimitado na sua extensão e apto a ser exercitado no momento da impetração. (...) Se a sua
existência for duvidosa, se a sua extensão ainda não estiver delimitada, se o seu exercício
depender de situação e fatos ainda indeterminados, não rende ensejo à segurança, embora
possa ser defendido por outros meios judiciais.” (in Mandado de Segurança, 13.ª Ed., Revista
dos Tribunais, SP, 1991).

Por sua vez, indispensável também que a lesão ou ameaça de lesão a esse direito
decorra de uma ilegalidade ou abuso de poder e, por fim, que a atuação ou omissão a ser
enfrentada no mandado de segurança seja de autoridade pública ou de agente de pessoa
jurídica no exercício de atribuições do Poder Público.

Apenas quando evidenciados tais pressupostos é que deve ser concedido o writ.

Nesse diapasão, inegável que a saúde é direito constitucional do cidadão brasileiro,


sendo dever do Estado assegurá-lo, conforme preveem os artigos 6º e 196, da Carta Magna de
1988. Desta feita, a omissão do Poder Público em prestar medicação adequada a pessoa
enferma e carente constitui ofensa ao direito líquido e certo do paciente, senão vejamos:

“Art. 6º. São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer,
a segurança, a previdência, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição.”

“Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante


políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças e de outros agravos
e ao acesso universal igualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteção e
recuperação.”

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Além da Constituição Federal de 1988, por meio de seus artigos acima transcritos, o
próprio Estatuto do Sistema Único de Saúde – SUS (Lei nº 8.080/1990) proclama que a saúde é
direito fundamental de todo ser humano que se encontre no território nacional, sendo a União,
Estados-membros, Distrito Federal e Municípios solidariamente responsáveis por prestar
assistência e implementar recursos capazes de garantir a saúde da população.

Logo, a saúde é direito fundamental e representa um interesse social consagrado pela


Carta Maior, não podendo, portanto, existir óbice, de qualquer natureza, do cumprimento desse
mister, sobretudo porque tal direito se sobrepõe a qualquer outro.

A propósito, eis a jurisprudência dominante do Superior Tribunal de Justiça (STJ),


verbis:

“É dever do Estado assegurar a todos os cidadãos o direito fundamental à saúde


constitucionalmente previsto. Eventual ausência do cumprimento de formalidade burocrática
não pode obstaculizar o fornecimento de medicação indispensável à cura e/ou minorar o
sofrimento de portadores de moléstia grave que, além disso, não dispõem dos meios
necessários ao custeio do tratamento. Entendimento consagrado nesta Corte na esteira de
orientação do egrégio STF.” (ROMS 11.129-PR, in DJU de 18/02/2002, Relator: Ministro
Francisco Peçanha Martins).

A assistência médica integral também está prevista na Constituição do Estado de


Goiás, em seus artigos 152 e 153, inciso IX, que assim determinam:

“Art. 152. A saúde é direito de todos e dever do Estado, assegurada mediante


políticas sociais e econômicas que visem à eliminação do risco de doenças, à prevenção de
deficiências e a outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e aos serviços
para a sua promoção, proteção e recuperação.

Art. 153. Ao sistema unificado e descentralizado de saúde compete, além de


outras atribuições:
(…) IX - Prestar assistência integral nas áreas médica, odontológica,
fonoaudiológica, farmacêutica, de enfermagem e psicológica aos usuários do sistema,
garantindo que sejam realizadas por profissionais habilitados.”

Na esteira deste raciocínio está a lição do constitucionalista Uadi Lammêgo Bulos,


senão vejamos:

“Dizer que a saúde é dever do Estado brasileiro, ou seja, da República


Federativa do Brasil, não é eximir a responsabilidade dos entes federativos. Em tese, cumpre
aos Estados membros, ao Distrito Federal e aos Municípios primar pela consecução de
políticas governamentais úteis à manutenção da saúde integral do indivíduo.” (in Constituição
Federal Anotada, Ed. Saraiva, p. 1.171).

De tal sorte, é dever da Administração Pública, em quaisquer de suas esferas, prestar


assistência médica à população, de forma integral.

A Constituição Federal estabeleceu no artigo 196 ser a saúde direito de todos e dever
do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de
doença e de outros agravos e ao acesso universal igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação. À luz deste e de outros preceitos constitucionais (artigo 6º),
que consideram de relevância pública as ações e serviços de saúde, o Poder Público não pode
olvidar a proteção ao cidadão, sob pena de incidir em comportamento inconstitucional.

Ademais, conforme a Súmula 35 deste egrégio Tribunal: “É dever da União, do Estado

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e dos Municípios, solidariamente, o fornecimento ao cidadão, sem ônus para este, de
medicamento essencial ao tratamento de moléstia grave, ainda que não previsto em lista oficial
do SUS”.

Logo, não há falar incompetência da Justiça Estadual, bem como em não


preenchimento dos requisitos para recebimento do remédio.

Em casos semelhantes assim tem decidido esta Corte de Justiça:

“MANDADO DE SEGURANÇA. SAÚDE. FORNECIMENTO DE


MEDICAMENTO. 1. CARÊNCIA DA AÇÃO POR AUSÊNCIA DE PROVA PRÉ-
CONSTITUÍDA E INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. PRELIMINARES AFASTADAS.
Comprovada a existência de doença que acomete o Substituído e a prescrição médica,
indicando a necessidade do uso do medicamento XARELTO (Rivaroxabana), resta afastada
a alegação de carência de ação por ausência de prova pré-constituída, necessidade de
dilação probatória e inadequação da via processual eleita. 2. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
ESTADUAL. Conf. a Súmula nº 35 deste eg. Tribunal: "É dever da União, do Estado e dos
Municípios, solidariamente, o fornecimento ao cidadão, sem ônus para este, de medicamento
essencial ao tratamento de moléstia grave, ainda que não previsto em lista oficial do SUS."
Logo não há que se falar em incompetência da Justiça Estadual para o feito. 3. VIOLAÇÃO A
DIREITO LÍQUIDO E CERTO.” (TJGO, Mandado de Segurança (CF; Lei 12016/2009)
5674570-30.2019.8.09.0000, Rel. OLAVO JUNQUEIRA DE ANDRADE, 5ª Câmara Cível,
julgado em 29/05/2020, DJe de 29/05/2020).

“MANDADO DE SEGURANÇA. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO.


XARELTO 15MG. SAÚDE. DIREITO LÍQUIDO E CERTO DO SUBSTITUÍDO.
RESPONSABILIDADE DA UNIÃO AFASTADA. SOLIDARIEDADE ENTRE OS ENTES
FEDERATIVOS. PRELIMINAR DE AUSÊNCIA DE PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA E
INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA NÃO ACOLHIDAS. FACULTATIVIDADE DA OITIVA DO
NATJUS/CÂMARA DE SAÚDE. REQUISITOS PREVISTOS NO RESP 1.657.156/RJ,
SUBMETIDO À SISTEMÁTICA DOS RECURSOS REPETITIVOS, PREENCHIDOS.
RENOVAÇÃO PERIÓDICA DO RELATÓRIO MÉDICO. POSSIBILIDADE DE BLOQUEIO DE
VERBA POR DESCUMPRIMENTO DA ORDEM. SEGURANÇA CONCEDIDA, EM
DEFINITIVO. 1. Afasta-se a preliminar de competência da Justiça Federal para o
fornecimento de medicamento prescrito pelo médico do paciente, porquanto, consoante a
Constituição Federal e o próprio Estatuto do Sistema, todos os entes da federação (União,
Estados, Distrito Federal e Municípios) são solidariamente responsáveis pelo fornecimento
de medicamentos, não sendo relevante que a União seja a responsável pela listagem oficial
dos fármacos fornecidos pelo SUS, podendo qualquer deles figurar no polo passivo da ação
mandamental, nos termos do inciso II do artigo 23 da Lei Maior. Sendo assim, o Ente Público
Estadual não pode furtar-se dessa obrigação, tampouco o Secretário de Estado da Saúde,
Gestor do SUS no âmbito do Estado de Goiás. 2. É possível ao ente estadual,
administrativamente, proceder à eventual repartição/ressarcimento dos valores de compra
dos medicamentos, uma vez que se trata de cunho administrativo que não deve ser resolvido
na esfera judicial, mas na executiva.
3. O direito à saúde é garantia fundamental, assegurado a todos os cidadãos,
indissociável do direito à vida, cabendo ao poder público fornecer, gratuitamente,
procedimentos e medicamentos destinados a qualquer doença, sob pena de ofensa aos
artigos 6º e 196, ambos da CF/88. 4 Carreados aos autos laudo, exames e relatórios
médicos, provas suficientes e incontestes ao atendimento da pretensão do Substituído, tem-
se comprovada a existência da prova pré-constituída e a necessidade do fornecimento do
fármaco prescrito. 5. Revela-se despicienda a prévia oitiva do NATJUS/Câmara de Saúde,
porquanto a consulta é opcional, especialmente quando o mandamus se encontra
devidamente instruído, pois se trata de procedimento de execução imediata e urgente, a
dispensação dos fármacos. 6. Constitui ofensa ao direito líquido e certo do paciente a
negativa do Poder Público em fornecer-lhe o tratamento prescrito, para a doença que lhe
acomete, já que foi comprovado, nos autos, o preenchimento dos requisitos elencados no
REsp 1.657.156/RJ (Tema 106), julgado sob o rito dos recursos repetitivos, pela colenda
Corte Superior, a saber: I) a efetiva necessidade do tratamento, mediante laudo médico
específico e claro de que o estado do paciente pode ocorrer piora, caso não atendido o seu
pleito, até sobrevindo o seu óbito; II) que ele não possui condições financeiras de arcar com
a terapia reivindicada; e III) que os medicamentos solicitados possuem registro na ANVISA.
7. Consoante as Resoluções RDC ANVISA nºs 16 e 17, ambas de 02/03/2007, conclui-se

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que, prescrito determinado medicamento sem a ressalva de não intercambialidade, fica
permitida a sua substituição por outro com os mesmos princípios ativos, seja genérico ou
similar. Todavia, se o paciente demonstrar que o medicamento genérico ou similar não faz o
mesmo efeito do medicamento de marca prescrita no receituário médico, torna-se imperioso
admitir o fornecimento do medicamento específico, como na hipótese. 8. Uma vez que o
Substituído necessita de terapia continuada, para controle da eficácia e necessidade da
referida, deverá providenciar relatório médico, a ser renovado periodicamente, a cada 03
(três) meses, contados da data de publicação deste acórdão, e ainda devolver os
medicamentos dos quais eventualmente não mais necessitar, em observância ao Enunciado
nº 02 da 1ª Jornada de Direito da Saúde, promovida pelo CNJ. 9. Caso haja descumprimento
deste acórdão, cabível a incidência do dispositivo legal contido no artigo 26 da Lei nº
12.016/2009, inclusive, mediante bloqueio de verbas e responsabilização penal (crime de
desobediência), o que, no entanto, não contempla a imposição de multa diária.
SEGURANÇA CONCEDIDA.” (TJGO, Mandado de Segurança (CF; Lei 12016/2009)
5024279-41.2020.8.09.0000, Rel. EUDÉLCIO MACHADO FAGUNDES, 5ª Câmara Cível,
julgado em 30/03/2020, DJe de 30/03/2020).

Quanto à alegação de que não foram preenchidos os requisitos exigidos no tema 106
do STJ, tenho que esta irresignação também não merece prosperar.

Fato notório é que é aplicável à hipótese a orientação consolidada pelo Superior


Tribunal de Justiça no julgamento dos recursos especiais repetitivos nºs 1657156/RJ e
1102457/RJ, correlatos ao tema 106, em que firmada a seguinte tese:

“Tema 106. A concessão dos medicamentos não incorporados em atos


normativos do SUS exige a presença cumulativa dos seguintes requisitos:
i) Comprovação, por meio de laudo médico fundamentado e circunstanciado
expedido por médico que assiste o paciente, da imprescindibilidade ou necessidade do
medicamento, assim como da ineficácia, para o tratamento da moléstia, dos fármacos
fornecidos pelo SUS;
ii) incapacidade financeira de arcar com o custo do medicamento prescrito;
iii) existência de registro do medicamento na ANVISA, observados os usos
autorizados pela agência.”

Como previamente fundamentado, a prescrição, o relatório médico e o parecer da


Câmara de Avaliação Técnica em Saúde do Ministério Público Estadual são categóricos ao
atestar ser o medicamento XARELTO 20 mg (RIVAROXABANA) registrado na Agência Nacional
de Vigilância Sanitária – ANVISA, sendo imprescindível a enferma em razão da ausência de
terapia alternativa eficaz fornecida pela assistência básica do Sistema Único de Saúde – SUS. A
hipossuficiência da substituída é incontroversa, derivando tanto da fragilidade econômica
causada pelos gastos imprimidos pelo tratamento da doença, quando do integral atendimento
pela rede pública.

Fica evidenciado, que este mandado de segurança prende-se a fundamento e objetivo


republicanos (artigos 1º, III, e 3º, IV, Constituição Federal) e à garantia de direito fundamental e
social (artigos 5º, caput, e 6º caput, Constituição Federal). A regra acompanha os postulados da
segunda dimensão dos direitos fundamentais (direito de prestação), segundo a clássica definição
de Paulo Bonavides, sendo a inércia governamental inadmissível, sob pena de grave o
comprometimento político-jurídico nacional. A concepção dessa norma como programática cede
espaço à locução do artigo 5º, § 1º, Constituição Federal, sendo certa a impostergabilidade e
indisponibilidade da missão de o Poder Público proteger a vida, a dignidade e a saúde de todos
os cidadãos.

Essa tarefa constitucional não se infirma ou limita pela cláusula da reserva do possível,
inaplicável diante do possível comprometimento do mínimo existencial, da proteção ao núcleo
essencial do direito fundamental à vida e à saúde, e da vedação ao retrocesso social. Não se
defende aqui o protagonismo do Poder Judiciário na consecução de políticas públicas
relacionadas à saúde, mas sua função primordial na concreta execução de medida

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constitucionalmente estabelecida, sobre a qual não incidem critérios de conveniência e
oportunidade administrativas (Súmula 473, Supremo Tribunal Federal). Quanto ao ponto, o
Supremo Tribunal Federal já se manifestou:

“RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO (LEI Nº 12.322/2010) –


MANUTENÇÃO DE REDE DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE – DEVER ESTATAL RESULTANTE DE NORMA CONSTITUCIONAL –
CONFIGURAÇÃO, NO CASO, DE TÍPICA HIPÓTESE DE OMISSÃO INCONSTITUCIONAL
IMPUTÁVEL AO MUNICÍPIO – DESRESPEITO À CONSTITUIÇÃO PROVOCADO POR
INÉRCIA ESTATAL (RTJ 183/818-819) – COMPORTAMENTO QUE TRANSGRIDE A
AUTORIDADE DA LEI FUNDAMENTAL DA REPÚBLICA (RTJ 185/794-796) – A QUESTÃO
DA RESERVA DO POSSÍVEL: RECONHECIMENTO DE SUA INAPLICABILIDADE,
SEMPRE QUE A INVOCAÇÃO DESSA CLÁUSULA PUDER COMPROMETER O NÚCLEO
BÁSICO QUE QUALIFICA O MÍNIMO EXISTENCIAL (RTJ 200/191-197) – O PAPEL DO
PODER JUDICIÁRIO NA IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS INSTITUÍDAS
PELA CONSTITUIÇÃO E NÃO EFETIVADAS PELO PODER PÚBLICO – A FÓRMULA DA
RESERVA DO POSSÍVEL NA PERSPECTIVA DA TEORIA DOS CUSTOS DOS DIREITOS:
IMPOSSIBILIDADE DE SUA INVOCAÇÃO PARA LEGITIMAR O INJUSTO
INADIMPLEMENTO DE DEVERES ESTATAIS DE PRESTAÇÃO
CONSTITUCIONALMENTE IMPOSTOS AO PODER PÚBLICO – A TEORIA DA
“RESTRIÇÃO DAS RESTRIÇÕES” (OU DA “LIMITAÇÃO DAS LIMITAÇÕES”) – CARÁTER
COGENTE E VINCULANTE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS, INCLUSIVE DAQUELAS
DE CONTEÚDO PROGRAMÁTICO, QUE VEICULAM DIRETRIZES DE POLÍTICAS
PÚBLICAS, ESPECIALMENTE NA ÁREA DA SAÚDE (CF, ARTS. 6º, 196 E 197) – A
QUESTÃO DAS “ESCOLHAS TRÁGICAS” – A COLMATAÇÃO DE OMISSÕES
INCONSTITUCIONAIS COMO NECESSIDADE INSTITUCIONAL FUNDADA EM
COMPORTAMENTO AFIRMATIVO DOS JUÍZES E TRIBUNAIS E DE QUE RESULTA UMA
POSITIVA CRIAÇÃO JURISPRUDENCIAL DO DIREITO – CONTROLE JURISDICIONAL DE
LEGITIMIDADE DA OMISSÃO DO PODER PÚBLICO: ATIVIDADE DE FISCALIZAÇÃO
JUDICIAL QUE SE JUSTIFICA PELA NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA DE CERTOS
PARÂMETROS CONSTITUCIONAIS (PROIBIÇÃO DE RETROCESSO SOCIAL,
PROTEÇÃO AO MÍNIMO EXISTENCIAL, VEDAÇÃO DA PROTEÇÃO INSUFICIENTE E
PROIBIÇÃO DE EXCESSO) – DOUTRINA – PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL EM TEMA DE IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS DELINEADAS NA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA (RTJ 174/687 – RTJ 175/1212-1213 – RTJ 199/1219-
1220) – EXISTÊNCIA, NO CASO EM EXAME, DE RELEVANTE INTERESSE SOCIAL –
RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO.” (STF, 2ª Turma, ARE 745745 AgR/MG, Relator Min.
Celso de Mello, DJ de 19.12.2014).

É iterativa jurisprudência deste tribunal, como refletem os seguintes arestos:

“MANDADO DE SEGURANÇA. NEGATIVA DE FORNECIMENTO DE TERAPIA


ESPECÍFICA. DOENÇA GRAVE. DIREITO À SAÚDE. SOLIDARIEDADE DOS ENTES
FEDERATIVOS. PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA. SUBSTITUIÇÃO AUTORIZADA PELO
PARECER DA CATS. RENOVAÇÃO DA PRESCRIÇÃO MÉDICA. BLOQUEIO DE
VALORES. I- O direito à saúde, além de qualificar-se como direito fundamental que assiste a
todas as pessoas representa consequência constitucional indissociável do direito à vida. II- O
fornecimento gratuito de tratamentos e medicamentos necessários à saúde de pessoas
hipossuficientes é obrigação solidária de todos os entes federativos, podendo ser pleiteado
de qualquer deles, União, Estados, Distrito Federal ou Municípios. III- A demonstração do
direito líquido e certo se faz diante da apresentação do relatório/parecer médico
acompanhado dos exames laboratoriais, os quais mostram-se suficientes a comprovar a
gravidade da enfermidade da paciente e a eficácia do tratamento indicado, atendendo o
requisito da prova pré-constituída. IV- Caso não tenha sido iniciado o tratamento, não há
óbice à substituição do fármaco pleiteado pelo Bevacizumabe ou pelo Aflibercepte, conforme
ressalva feita pela CATS baseada na Nota Técnica CEROF-HC-UFG/EBSERH de
27.06.2017. V- Para assegurar o controle administrativo, a dispensação dos medicamentos
fica condicionada à renovação periódica do receituário médico pelo paciente (Enunciado 2
CNJ). VI- Em razão do precedente firmado no REsp 1.069.810/RS, na hipótese de
resistência da Administração em dar cumprimento a ordem mandamental, é admitido o
bloqueio de verba em valor necessário ao custeamento do tratamento medicamentoso
indicado ao paciente, mais eficaz do que a fixação de multa diária. SEGURANÇA
CONCEDIDA.” (TJGO, 1ª Câmara Cível, Mandado de Segurança nº 5457719-

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65.2017.8.09.0000, Rel. Des. Luiz Eduardo de Sousa, DJ de 06.12.2018).

“MANDADO DE SEGURANÇA. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO.


CARÊNCIA DE AÇÃO, POR AUSÊNCIA DE PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA.
INOCORRÊNCIA. ATO COATOR CONFIGURADO. PRELIMINARES AFASTADAS. SAÚDE.
DIREITO LÍQUIDO E CERTO DA IMPETRANTE EVIDENCIADO. RESP 1.657.156/RJ,
SUBMETIDO À SISTEMÁTICA DOS RECURSOS REPETITIVOS, PELO STJ. REQUISITOS
PREENCHIDOS. MULTA DIÁRIA. DESCABIMENTO. USO CONTÍNUO DO
MEDICAMENTO. RENOVAÇÃO PERIÓDICA. 1. No caso dos autos, o ato coator restou
perfeitamente configurado, por meio da juntada, pelo Impetrante, da prescrição médica, que
indica ao Substituído a necessidade do medicamento RANIBIZUMABE , ou suas alternativas,
"BEVACIZUMABE", ou "AFLIBERCEPTE", na quantidade inicial de 09 (nove) ampolas, para
o tratamento de sua enfermidade, bem como, de prova da requisição, perante a Autoridade
Impetrada, para o seu fornecimento, a qual deixou de ser atendida, sem qualquer
justificativa. 2. Despicienda a realização de dilação probatória para a comprovação do direito
do Enfermo, quando a referida prescrição médica, coligida aos autos, bem assim, o parecer
da Câmara de Saúde deste e. Tribunal de Justiça, demonstram a necessidade do uso da
medicação reivindicada, bem como, que esta é indispensável para minimizar o risco que ele
possui de sofrer a perda completa da visão. 3. Constitui ofensa ao direito líquido e certo do
Paciente a negativa do Poder Público em fornecer-lhe o tratamento prescrito para a doença
que o acomete, desde que seja devidamente comprovado, nos autos, o preenchimento dos
requisitos elencados no REsp 1.657.156/RJ, julgado sob o rito dos recursos repetitivos, pela
colenda Corte Superior, a saber: (I) comprovação, por meio de laudo médico fundamentado e
circunstanciado expedido por médico que assiste o paciente, da imprescindibilidade ou
necessidade do medicamento, assim como da ineficácia, para o tratamento da moléstia, dos
fármacos fornecidos pelo SUS; (II) incapacidade financeira de arcar com o custo do
medicamento prescrito; (III) existência de registro na ANVISA do medicamento (?)?. 4.
Vislumbra-se, na presente hipótese, que o Impetrante demonstrou, por meio do acervo
documental, anexado ao caderno processual: a) a efetiva necessidade do tratamento,
mediante laudo médico específico e claro de que o estado do paciente pode evoluir para
cegueira, caso não atendido o seu pleito, bem assim, que não há, no âmbito do Sistema
Único de Saúde, medicamentos equivalentes, para o tratamento da patologia que o acomete;
b) que o Substituído não possui condições financeiras de arcar com a terapia reivindicada; e
c) que os medicamentos solicitados possuem registro na ANVISA. Nessa situação, a
concessão definitiva da segurança é medida que se impõe. 5. A aplicação de multa diária é
medida extremada, que não assegura o cumprimento da ordem mandamental, pelo que não
deve ser aplicada, no caso. 6. Por tratar-se de pedido para o fornecimento de medicamento
de uso contínuo, deverá o Impetrante renovar o receituário, a cada 90 (noventa) dias,
contados da data da publicação do acórdão, para fins de demonstração da necessidade e
eficácia do prosseguimento do tratamento. SEGURANÇA CONCEDIDA.” (TJGO, 5ª Câmara
Cível, Mandado de Segurança nº 5371204-90.2018.8.09.0000, Rel. Des. Francisco Vildon
José Valente, DJ de 27.11.2018).

Também a Lei Federal nº 8.080/1990 estabelece como dever do Estado de garantir a


saúde consiste na formulação e execução de políticas econômicas e sociais que visem à
redução de riscos de doenças e de outros agravos e no estabelecimento de condições que
assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção
e recuperação (artigo 2º, § 1º).

Quanto a tese aventada pelo Estado de Goiás de que não tem o dever de oferecer o
medicamento comercial indicado pelo médico assistente, de forma que o fornecimento do
mesmo perpassa pela condição "genérico", verifica-se que a prescrição dos medicamentos à
substituído processual (evento 01), bem como o relatório médico preenchido na CATS fez
ressalva de impossibilidade de substituição por genéricos ou similares, de tal modo que deve ser
viabilizado pelo ente público o fornecimento do medicamento conforme a prescrição médica,
ensejando a tomada de providências visando ao fornecimento do suplemento específico.

A propósito:

“VII – Possibilidade de substituição do medicamento pelo respectivo genérico.


Quando feita a prescrição do medicamento à paciente sem ressalva de substituição por

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outros genéricos ou similares, fica permitido sua substituição, desde que respeitados a
idêntica composição, o mesmo princípio ativo e a quantidade prescrita pelo profissional
competente. Entretanto, se a paciente demonstrar que o medicamento genérico ou similar
não tem o mesmo efeito do medicamento de marca prescrita no receituário médico, torna-se
imperioso admitir o fornecimento do medicamento específico. (...) Segurança concedida.”
(TJGO, MANDADO DE SEGURANCA 109266-37.2016.8.09.0000, Rel. DES. CARLOS
ALBERTO FRANCA, 2A CAMARA CIVEL, julgado em 21/06/2016, DJe 2058 de 30/06/2016).

Pertinente à multa, apesar de não ter sido fixada por este julgador, destaco que a
penalidade é possível de ser aplicada para os casos de descumprimento de decisão judicial.

A matéria foi pacificada no REsp 1.474.665/RS, julgado sob o rito de recursos


repetitivos. Segundo deduzido no recurso representativo de controvérsia, se assomada a
recalcitrância do devedor, poderá o magistrado, de ofício ou a requerimento da parte, em
decisão fundamentada, estabelecer multa diária, dentre outras medidas coercitivas, para
assegurar a obtenção de medicamentos de que necessitam os portadores de doenças graves,
nos termos do então artigo 461, § 5º, Código de Processo Civil de 1973, hoje, artigo 497, do
CPC/15.

Nesse sentido já manifestou este Tribunal de Justiça:

“MANDADO DE SEGURANÇA. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS.


INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. INOCORRÊNCIA. PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA.
PRELIMINAR AFASTADA. RECURSO ESPECIAL Nº 1.657.156-RJ. TESE
FIXADA.ASSISTÊNCIA À SAÚDE. CONSTITUIÇÃO FEDERAL. SUS. GARANTIA DO
TRATAMENTO. DIREITO LÍQUIDO E CERTO. (…) VI - Fica ressalvada a possibilidade de
fixar multa diária ao ESTADO DE GOIÁS, em caso de descumprimento imotivado da
ordem mandamental. SEGURANÇA CONCEDIDA.” (TJGO, Mandado de Segurança (CF,
Lei 12016/2009) 5501888-40.2017.8.09.0000, Rel. NORIVAL DE CASTRO SANTOMÉ, 6ª
Câmara Cível, julgado em 14/12/2018, DJe de 14/12/2018). Grifei.

“AGRAVO INTERNO. MANDADO DE SEGURANÇA. FORNECIMENTO DE


MEDICAÇÃO. RECURSO ESPECIAL SOBRESTADO. APLICAÇÃO DOS PRECEITOS DO
ARTIGO 1.040, II, DO CPC. MULTA DIÁRIA. POSSIBILIDADE. RETRATAÇÃO. I- Em
atendimento às disposições do art. 1.040, II, do CPC, que restringe o acesso de recursos
repetitivos às instâncias superiores, a decisão desta Relatoria dissonante do entendimento
consolidado pelo STJ, em sede de recurso representativo deve ser alterada. II- No presente
caso, deve-se adotar o entendimento declinado no recurso repetitivo (Resp nº
1.474.665/RS, Tema nº 98), no sentido de admitir a imposição de multa diária, caso
ocorra o descumprimento da ordem da entrega de medicamento em Ação de Mandado
de Segurança. RETRATAÇÃO EFETUADA. ACÓRDÃO MODIFICADO EM PARTE.
AGRAVO INTERNO PROVIDO.” (TJGO, Reexame Necessário 0034614-13.2012.8.09.0122,
Rel. ROBERTO HORÁCIO DE REZENDE, 1ª Câmara Cível, julgado em 14/12/2018, DJe de
14/12/2018). Grifei.

Por todas essas razões, mostra-se imperiosa a concessão da segurança. De se


advertir, outrossim, acolhendo recomendação estampada no Enunciado de Saúde Pública n.º 2
do Conselho Nacional de Justiça, que para fazer jus à ordem aqui concedida, o relatório médico
a ser apresentado à autoridade competente para a entrega dos medicamentos deverá ser
renovado a cada 60 (sessenta) dias. Certo, ainda, que em caso de interrupção do tratamento,
eventuais remédios sobressalentes em posse do substituído ou de familiares deverão ser
devolvidos à autoridade pública, sob pena das sanções legais cabíveis.

Lado outro, não há razão para alongar o prazo para a entrega do medicamento, pois já
se encontra nas listagens públicas, sendo regularmente fornecidos pelo Sistema Único de
Saúde, especificamente na Central de Medicamentos de Alto Custo Juarez Barbosa, ressaltando
não ter o Estado de Goiás comprovado eventual ausência em estoque e a consequente
necessidade de inauguração do procedimento licitatório para compra.

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Diante do exposto, com supedâneo no art. 5º, inciso LXIX da Constituição Federal e
art. 1º da Lei 12.016/2009, acolhendo o parecer da douta Procuradoria-Geral de Justiça,
CONCEDO A SEGURANÇA, determinando que a autoridade coatora forneça, de imediato, à
Substituída, Firmina Lipes Correia Machado, o medicamento XARELTO 20 mg
(RIVAROXABANA), de acordo com o receituário médico (com renovação a cada 60 dias,
evitando-se desperdício em caso de suspensão/interrupção da prescrição).

Custas e despesas processuais dispensadas.

Sem condenação em honorários advocatícios, por serem incabíveis na espécie, de


acordo com o artigo 25 da Lei federal nº 12.016, de 07 de agosto de 2009, e as Súmulas nº 512
do excelso Supremo Tribunal Federal e nº 105 do colendo Superior Tribunal de Justiça.

Goiânia, 29 de junho de 2020.

_______________________________________
Desembargador ORLOFF NEVES ROCHA
Relator
_____________________________________________________________________
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Documento emitido / assinado digitalmente
com fundamento no Art. 1º, § 2º III, "b", da Lei Federal nº 11.419, de 19/12/2006, publicada no DOU de 20/12/2006.

tribunal
PODER JUDICIÁRIO
de justiça TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE GOIÁS

do estado
Gabinete do Desembargador ORLOFF NEVES ROCHA
de goiás

Rua 10, n.º 150 , Fórum Dr. Heitor Moraes Fleury , 4º Andar , Sala 410, Setor Oeste , Goiânia-GO, CEP 74120020, Tel: (62) 3216-2974

Processo : 5596964.23.2019.8.09.0000
Nome CPF/CNPJ
Promovente(s)
FIRMINA LOPES CORREIA MACHADO --
Nome CPF/CNPJ
Promovido(s) SECRETARIO DE SAUDE DO ESTADO DE 702.251.501-
GOIAS 82
Mandado de Segurança (CF; Lei Órgão 1ª Câmara
Tipo de Ação / Recurso
12016/2009) judicante: Cível
Relator Des. ORLOFF NEVES ROCHA

EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA. FORNECIMENTO DE


MEDICAMENTO. RIVAROXABANA (REFERÊNCIA XARELTO 20 MG) DE
USO CONTÍNUO. TRATAMENTO DE DOENÇA TROMBOEMBOLISMO
PULMONAR AGUDO (CID 1 26.9). OITIVA DA CÂMARA DE SAÚDE DO
JUDICIÁRIO. DESNECESSIDADE. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA

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DOS ENTES. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA E AUSÊNCIA DE PROVA
PRÉ-CONSTITUÍDA AFASTADAS. PRESENÇA DE ATO COATOR.
MEDICAMENTO NÃO PREVISTO NA LISTA DO SUS. OBRIGAÇÃO DO
ENTE ESTATAL EM FORNECÊ-LO. SÚMULA 35, TJGO. DIREITO
LÍQUIDO E CERTO. PREENCHIDOS REQUISITOS NO RESP
1.657.156/RJ (TEMA 106) – REPETITIVO. POSSIBILIDADE DE
APLICAÇÃO DE MULTA.
1. A prévia oitiva da Câmara de Saúde do Judiciário é providência de
caráter opcional, que se mostra despicienda quando já presente nos autos
acervo probatório suficiente para fundamentar o pedido do impetrante.
2. “O tratamento médico adequado aos necessitados se insere no rol dos
deveres do Estado, porquanto responsabilidade solidária dos entes
federados. O polo passivo pode ser composto por qualquer um deles,
isoladamente, ou conjuntamente” (RE 855.178/SE).
3. A ação de mandado de segurança é via adequada para reclamar o
controle jurisdicional de atos comissivos ou omissivos, ilegais e eivados de
abuso de poder, praticados por autoridade da Administração Pública.
4. Uma vez comprovada a existência da doença, a necessidade do
tratamento médico indicado e a omissão do Poder Público Estadual em
atender os reclamos da paciente, mostra-se inegável a presença da prova
pré-constituída e do direito líquido e certo.
5. Restando demonstrado nos autos a enfermidade que acomete a
paciente, bem como a necessidade da medicação prescrita e o ato do
impetrado, não há que se falar em inadequação da via eleita.
6. “É dever da União, do Estado e dos Municípios, solidariamente, o
fornecimento ao cidadão, sem ônus para este, de medicamento essencial
ao tratamento de moléstia grave, ainda que não previsto em lista oficial do
SUS.” (Súmula n° 35, TJGO).
7. A omissão da autoridade pública em disponibilizar o medicamento
necessário aos pacientes, conforme prescrito pelo médico, configura ato
coator e constitui ofensa a direito líquido e certo, amparado via mandamus.
8. Nos termos do art. 196 da Constituição Federal, a saúde é direito de
todos e obrigação do Estado, cuja assistência deve ser garantida mediante
politicas sociais e econômicas que visem a redução do risco de doença e
de outras consequências.
9. O caso vertente atende às teses fixadas pelo Superior Tribunal de
Justiça, no julgamento, em sede de recursos repetitivos, do REsp nº
1.657.156-RJ (Tema 106), pois verifica-se a ineficácia de medicamentos
fornecidos pelo SUS, a incapacidade financeira da Substituída, além do
medicamento possuir registro na ANVISA.
10. No presente caso, deve-se adotar o entendimento declinado no recurso
repetitivo (REsp nº 1.474.665/RS, Tema nº 98), no sentido de admitir a
imposição de multa diária, caso ocorra o descumprimento da ordem da
entrega de medicamento em Ação de Mandado de Segurança.
SEGURANÇA CONCEDIDA.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as retro


indicadas.

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ACORDAM os integrantes da 4ª Turma Julgadora da 1ª Câmara Cível, à
unanimidade de votos, em CONCEDER A SEGURANÇA, nos termos do
voto do Relator.

A sessão foi presidida pelo Desembargador Luiz Eduardo de Sousa.

Votaram com o Relator, o Desembargador Carlos Roberto Fávaro e o


Desembargador Luiz Eduardo de Sousa.

Presente a ilustre Procuradora de Justiça Drª. Márcia de Oliveira Santos.

Goiânia, 29 de junho de 2020.

Desembargador Orloff Neves Rocha


Relator

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