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CURSO DE DIREITO Nota:

Atividade a critério do Professor – (Peso 4,0)

Disciplina: Métodos Alternativos de Solução de Conflito Semestre: 2/2020


Turma: 1º Ano
Entrega: Docente:
15/09/2020 – Vitor Hugo Brandt
Apresentação Schmechel
oral;
15/09/2020 e
22/09/2020
Acadêmico(a): Otávio Augusto Dias Santos

TRABALHO – CASO PRÁTICO DE ARBITRAGEM

A maior arbitragem já realizada, que ditou regras

Entre os grandes problemas que a economia mundial exigiu solução está o da


economia petrolífera, em que se avultou o caso ARAMCO, resolvido por
arbitragem. Dizemos o maior problema, devido à relevância das partes
envolvidas, aos valores tratados, à estratégia das operações econômicas e à
complexidade jurídica da questão. Foi chamado caso ARAMCO graças ao
nome da parte envolvida, a Arabian American Oil Company-ARAMCO, uma
empresa sediada nos EUA e formada pelas Sete Irmãs, ou Seven Sisters, um
grupo de empresas petrolíferas, como a Esso, Texaco, Gulf, Shell, Chevron,
assim denominada pelo magnata italiano do petróleo Enrico Mattei. Houve um
choque de interesses entre as várias partes, e, se não houvesse solução
pronta e satisfatória, os prejuízos de todos seriam incontáveis, fato que
provocou a colaboração delas para que a arbitragem se realizasse e chegasse
a bom termo.
Os problemas entre as duas partes, vale dizer, entre a Arábia Saudita e a
ARAMCO tornaram-se ainda complexos porque elas haviam celebrado contrato
de transporte, envolvendo o transporte do ouro negro, que era também assunto
envolvido na questão a ser solucionada. Por isso, teve que ser arrolado no
procedimento arbitral o transportador do petróleo escolhido por elas no contrato
de concessão, Aristóteles Onassis.
O contrato dizia que eventuais divergências entre as partes deveriam ser
resolvidas por arbitragem, mas não estabeleceu um regulamento para ela. O
primeiro passo foi colocar em prática essa cláusula contratual, constituindo o
tribunal arbitral, escolhida como sede a cidade de Genebra, na Suíça,
considerada como a capital do Direito Internacional. Assim é considerada por
estarem lá sediadas várias agências da ONU e outros organismos
internacionais, e também alguns cursos de diplomacia e negociações
internacionais. Dois professores de Direito Internacional da Universidade do
Cairo foram escolhidos como árbitros, um de cada parte. Seguindo a praxe
arbitral, os dois árbitros escolheram o terceiro, para presidir o tribunal, o
professor Sausser Hall, da Universidade de Genebra. Estava constituído o
tribunal. Tempos depois essa arbitragem foi examinada pelo diplomata Guido
Fernando da Silva Soares, da legação brasileira em Genebra, que foi
autorizado a divulgá-la parcialmente; graças a esse ilustre mestre de direito,
ficamos sabendo dessa arbitragem, fato que o transformou no precursor da
arbitragem no Brasil.
Importante passo inicial foi o de escolher o direito aplicável no julgamento da
questão. Não poderia ser o direito norte-americano por ser a ARAMCO sediado
nos EUA, ainda mais que estava localizada em Delaware, onde prevalece um
direito especial. Não seria possível aplicar o direito da Arábia Saudita, por ser
um direito muçulmano, não muito aplicável à questão. Poderia ser o direito
suíço, visto que Genebra era a sede da arbitragem.

MODELO DE CLÁUSULA ARBITRAL SUIÇA

Todos os litígios, controvérsias ou demandas, resultantes do presente contrato ou


relativos ao mesmo, incluindo a sua validade, a sua invalidade, o seu descumprimento e
a sua resolução, serão resolvidos através de arbitragem regida pelo Regulamento Suíço
de Arbitragem Internacional da Swiss Chambers’ Arbitration Institution (Instituição de
Arbitragem das Câmaras Suíças) em vigor na data em que a Notificação de Arbitragem
for apresentada nos termos deste Regulamento.
O número de árbitros será … («um», «três», «um ou três»);
A sede da arbitragem será … (nome da cidade na Suíça, salvo se as partes tiverem
convencionado uma cidade em outro país);
O idioma utilizado no procedimento arbitral será … (idioma desejado).

CAMPO DE APLICAÇÃO
Artigo 1

1. O presente Regulamento será aplicável às arbitragens quando uma convenção de


arbitragem fizer referência a este Regulamento ou ao Regulamento de arbitragem das
Câmaras de Comércio e Indústria da Basileia, Berna, Genebra, Neuchâtel, Ticino, Vaud,
Zurique, ou a qualquer outra Câmara de Comércio e Indústria que posteriormente venha
a adotar este Regulamento.
2. As partes são livres para designar a sede da arbitragem, tanto na Suíça, como em
outro país.
3. O presente Regulamento entrará em vigor em 1 de junho de 2012 e será aplicado,
salvo se as partes tiverem convencionado de forma diversa, a todos os procedimentos
arbitrais em que a Notificação de Arbitragem for apresentada nesta ou a partir desta
data.
4. Ao submeterem sua controvérsia à arbitragem segundo este Regulamento, as partes
conferem à Corte, com a abrangência permitida pela lei aplicável à arbitragem, todos os
poderes necessários para a supervisão do procedimento arbitral, os quais caberiam de
outra feita às autoridades judiciais, incluindo o poder para estender o prazo de atuação
da autoridade arbitral e para decidir quanto à impugnação de um árbitro nos termos
estipulados neste Regulamento.
5. Este Regulamento regulará a arbitragem, salvo se alguma de suas regras estiver em
conflito com um dispositivo da lei aplicável à arbitragem, da qual as partes não podem
derrogar, neste caso este dispositivo prevalecerá.
Os árbitros, em comum acordo com as partes, invocaram o princípio básico da
arbitragem: vigora nela a autonomia da vontade, e, dentro desse princípio, as
partes tem a faculdade de escolher qual será o direito aplicável no julgamento
da questão, da mesma forma como tiveram a faculdade de escolher os
aplicadores desse direito. Adotaram então as normas básicas do Direito
Internacional, conjugadas com os PGD - Princípios Gerais do Direito,
aplicados, porém, ao objeto específico do petróleo: foi criada a LEX
PETROLEA, que passou a ser aplicada nas outras arbitragens que tivessem
por objetivo as relações referentes ao petróleo. A relevância desse novo direito
se nota no fato de ele ter penetrado na legislação interna de vários países.

LEX PETROLEA: O DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO NA INDÚSTRIA DO


PETRÓLEO
A indústria petrolífera internacional responde por grande parte da importância das
empresas transnacionais. A indústria do petróleo ganhou a sua dimensão internacional
quando as companhias passaram a exportar o óleo dos países produtores, criando assim
um mercado internacional para o produto. As economias de todos os países avançados
industrial e tecnologicamente tornaram-se dependentes do petróleo, tendo em vista a sua
raridade e escassez. Com isto, ficou a nítida separação entre os países produtores, em
especial os do Golfo Pérsico, e os países consumidores, de modo geral, aqueles da
Europa Ocidental e os Estados Unidos da América. As atividades empresariais
desenvolvidas na indústria do petróleo abrangem diversos agentes, tais como as
corporações multinacionais (International Oil Companies – IOC), países hospedeiros
(Host Oil Countries – HOC), companhias estatais (National Oil Companies – NOC).
Outros participantes são agências governamentais (no caso do Brasil, a ANP – Agência
Nacional do Petróleo), organizações não-governamentais e dos estados, uma vez que o
produto negociado constitui, na maioria das legislações dos países produtores de
petróleo, um bem público de propriedade estatal. O comércio internacional do petróleo
criou uma especialização da lex mercatoria, conforme termo já utilizado no Brasil por
Marilda Rosado, que é a lex petrolea, derivada da importância do comércio da indústria
petrolífera no mundo e nas suas criações técnicas próprias, em cada um dos alicerces da
lex mercatoria. A lex petrolea se revela principalmente nos contratos-tipos e na
jurisprudência arbitral. Os contratos-tipos da indústria são reconhecidos
internacionalmente, como o contrato de concessão, o contrato de partilha, o acordo de
participação e o contrato de serviço. A arbitragem adotada na indústria do petróleo
segue o modelo da cláusula compromissória da AIPN (Association of International
Petroleum Negotiators) e possui ampla tradição jurisprudencial, apesar do seu caráter
confidencial. Também são adotadas na indústria do petróleo as práticas profissionais
habituais e os usos e costumes da indústria.

O segundo passo do Tribunal Arbitral de Genebra, como ficou conhecido, foi o


de estabelecer com segurança a natureza jurídica da questão, ou seja, do
contrato de concessão celebrado entre um Estado e uma empresa privada, e,
quando se fala em natureza jurídica, fala-se no sistema jurídico a que estiver
vinculado o contrato. A mesma dificuldade surgiu, devido ao confronto entre
vários sistemas jurídicos. Na Arábia Saudita os problemas petrolíferos estão
previstos na Constituição do país como contratos administrativos. Todavia, o
Tribunal Arbitral de Genebra não julgou assim, por ser contrato celebrado entre
Estado e empresa privada, isto é, sem poderes estatais, situando-se a questão
no âmbito do Direito Obrigacional, de caráter privado e internacional. Assim
sendo, o contrato considerado pelo tribunal foi considerado como contrato de
desenvolvimento econômico. Outro problema se inseriu no relacionamento
entre as partes. A Arábia Saudita havia celebrado contrato de transporte com o
armador grego Aristóteles Onassis, para transportar o petróleo dela até a
ARAMCO; esta, por sua vez, também celebrou contrato idêntico com o mesmo
transportador para o transporte que resultasse com a concessão referente ao
petróleo que adquiria diretamente na Arábia Saudita. Qualquer resolução
surgida da arbitragem implicaria os interesses do transportador, razão pela qual
ele foi incluído no processo.

Prazo para o julgamento


Não houve prazo dado ao tribunal para a resolução do problema, mas a
exigência feita foi para que a arbitragem se realizasse de imediato. Justificava-
se essa urgência porquanto o valor da causa atingia patamares astronômicos e
cada dia de atraso significaria prejuízos para todos os envolvidos. Destarte, o
julgamento foi quase momentâneo e ocorreu de forma satisfatória para todos,
que receberam a solução em silêncio. Tempos depois, o ilustre diplomata
brasileiro serviu na legação do Brasil em Genebra e se aprofundou nessa
questão, e, com a concordância das partes deu divulgação ao evento, exceto a
sentença arbitral. O julgamento tinha se realizado de forma sigilosa e a
sentença teve só as vias entregues às partes; os documentos juntados foram
devolvidos e as peças do processo foram destruídas na presença das partes, a
fim de que não ficassem elementos identificadores do litígio.

Decisão
A regra aceita universalmente é a de que as partes têm liberdade para escolher
a lei a ser aplicada pelos árbitros para a solução da disputa. Todavia, caso as
partes não tenham escolhido tal lei, os árbitros devem se basear nas regras de
diferentes instituições que administram arbitragens nacionais e internacionais.
No caso das partes escolherem a lei aplicável ao mérito da disputa, não é
necessária a existência de relação entre a lei escolhida e o objeto da
controvérsia. Os defensores de que existe a necessidade de alguma conexão
mencionam questões submetidas ao judiciário.

Determinação de regras de procedimento. Artigo 19


1- Sujeito às disposições desta Lei, as partes são livres para concordar sobre o
procedimento a ser seguido pelo tribunal arbitral na condução dos procedimentos.
2- Na falta de tal acordo, o tribunal arbitral poderá, sujeito às disposições desta Lei,
conduzir a arbitragem da maneira que considerar apropriada. O poder conferido ao
tribunal arbitral inclui o poder de determinar a admissibilidade, relevância,
materialidade e peso de qualquer prova.

A lex mercatoria é aplicável também de forma subsidiária, de modo a


complementar a lei estatal concernente ao mérito da disputa. Trata-se da
hipótese mais frequente do uso da lex mercatoria no direito internacional.

Diante cenário, destaca-se o caso deste ARAMCO, o qual envolveu a Arabian


American Oil Co. e a Arábia Saudita: O Tribunal será conduzido, no caso de
lacunas na Lei da Arábia Saudita, das quais o Contrato de Concessão faz
parte, para apurar os princípios aplicáveis, recorrendo aos costumes e práticas
mundiais no negócio e na indústria do petróleo; na falta de tal costume e
prática, o Tribunal será influenciado pelas soluções reconhecidas pela
jurisprudência e doutrina mundial e pela pura jurisprudência. No que diz
respeito aos efeitos internacionais da Concessão, tais como os efeitos da
venda e transporte do petróleo e derivados para países estrangeiros, e em
particular as vendas FOB, o Tribunal considera que esses efeitos são regidos
pelo costume e prática prevalecentes em direito marítimo e no negócio
internacional do petróleo.

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