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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ

17ª CÂMARA CÍVEL

Autos nº. 0000231-07.2022.8.16.0108

Apelação Cível n° 0000231-07.2022.8.16.0108 Ap


Vara Cível de Mandaguaçu
Apelante(s): DALVAIR PAULO LIMA DE CASTRO
Apelado(s): JUAREZ RIBEIRO DA ROSA & CIA. LTDA. ME
Relator: Desembargador Espedito Reis do Amaral

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C


INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS, MORAIS, TURBAÇÃO
DE IMÓVEL LOCADO NO CURSO DA LOCAÇÃO,
RENOVATÓRIA DE LOCAÇÃO E ANTECIPAÇÃO DE TUTELA.
PARCIAL PROCEDÊNCIA, APENAS QUANTO AO PEDIDO DE
INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. INCONFORMISMO DA
PARTE RÉ. INSTALAÇÃO DE PAINEL/TOLDO DE
ESTABELECIMENTO VIZINHO EM FRENTE À EMPRESA
AUTORA/LOCATÁRIA, SUGERINDO QUE O
ESTABELECIMENTO HAVIA FECHADO. DANO MORAL.
PESSOA JURÍDICA. SÚMULA 227 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA. INOCORRÊNCIA DE ABALO MORAL. AUSÊNCIA DE
DEMONSTRAÇÃO DE OFENSA À HONRA OBJETIVA.
INDENIZAÇÃO AFASTADA. SUCUMBÊNCIA ATRIBUÍDA
INTEGRALMENTE À PARTE AUTORA. RECURSO PROVIDO.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível NPU 0000231-07.2022.8.16.0108 da Vara
Cível do Foro Regional de Mandaguaçu da Comarca da Região Metropolitana de Maringá, em que é
apelante DALVAIR PAULO LIMA DE CASTRO e apelado JUAREZ RIBEIRO DA ROSA & CIA.
LTDA.-ME.

1 – EXPOSIÇÃO FÁTICA:

Trata-se de recurso de apelação voltado a impugnar a sentença (mov. 104.1) proferida na Ação de
Obrigação de Fazer c/c Indenização por Danos Materiais, Morais, Turbação de Imóvel Locado no Curso
da Locação, Renovatória de Locação e Antecipação de Tutela NPU 0015131-88.2020.8.16.0035,
ajuizada por JUAREZ RIBEIRO DA ROSA & CIA. LTDA. – ME contra DALVAIR PAULO LIMA DE
CASTRO, na qual o Juízo a quo: (i) acolheu a prejudicial de mérito, para declarar a decadência do direito
do autor no tocante à renovação do contrato de locação, e julgou extinto o processo, em relação a esse
pedido, com resolução do mérito, nos termos do artigo 487, II, do CPC; em relação aos demais pedidos,
(ii) julgou parcialmente procedente o pedido inicial, somente para condenar o réu ao pagamento de
indenização por dano moral, no valor de R$ 10.000,00, a ser acrescido de correção monetária pela média
do INPC/IGP-DI (desde a data da sentença) e de juros de mora de 1% ao mês (a contar da data da
citação); (iii) julgou o processo extinto, com resolução do mérito (art. 487,I, CPC); (iv) condenou o autor
ao pagamento de 60% das custas e despesas processuais, ficando o réu responsável pelos 40% restantes, e
fixou os honorários sucumbenciais em 15% sobre o valor da condenação, com fulcro no artigo 85, §2º,
do CPC, a serem rateados na seguinte proporção:40% ao procurador do autor e 60% ao procurador do réu.

O réu DALVAIR PAULO LIMA DE CASTRO interpôs recurso de apelação (mov. 109.1), alegando, em
síntese:

1. A empresa apelada foi locatária de imóvel comercial, tendo o apelante como locador, desde 2014,
data em que adquiriu o imóvel. Tratava-se de um contrato verbal de locação de imóvel não
residencial, por prazo indeterminado. O valor do aluguel era de R$ 3.500,00. Por volta de setembro
/2021, o apelante teve a notícia que a locatária/apelada havia informado aos funcionários da
Administradora da Locação que estava construindo um prédio comercial próprio e, por esse
motivo, rescindiria a locação e desocuparia o imóvel locado até outubro daquele mesmo ano,
quando a construção ficaria pronta. Em outubro/2021, o Sr. Juarez informou que a construção de
seu imóvel ainda não estava terminada, mas garantiu ao locador que desocuparia o imóvel locado
até dezembro ou, no mais tardar em janeiro/2022. Ocorre que a promessa não foi cumprida e a
Parte apelada permaneceu no imóvel até maio/2023, a contragosto do apelante.
2. Em outubro/2021, o apelante alugou o prédio vizinho para a denominada KF Agropecuária. Ao
contrário do que supôs a apelada, o apelante não alugou para a agropecuária o imóvel por ela
locado, conduta que seria ilegal. Havia, sim, uma expectativa de que a Agropecuária pudesse
também alugar o imóvel que seria desocupado pela apelada em janeiro/2022. Essa expectativa foi
criada pelo próprio Sr. Juarez, quando noticiou que iria desocupar o prédio até janeiro/2022.
3. Quando a apelada informou que desocuparia o imóvel locado, o apelante preparou-se para começar
a procurar um novo inquilino, a fim de evitar que seu prédio ficasse desocupado, tendo em vista
que o locador é aposentado e tem o recebimento de aluguel como complemento de renda.
4. Diante do descumprimento da promessa pela apelada, em 08/02/2022 e com fundamento no artigo
59 da Lei de Locações, o apelante notificou-a acerca da intenção de rescindir o contrato, dando-lhe
o prazo de 30 dias para desocupar o imóvel, uma vez que se tratava de contrato por prazo
indeterminado, no qual qualquer das Partes pode denunciar a locação. A apelada não só ignorou a
notificação extrajudicial, permanecendo no imóvel, como ingressou com esta demanda, alegando
inverdades e falácias.
5. Preliminarmente, o apelante arguiu, em contestação, a decadência do direito da empresa apelada à
renovação da locação, diante da não observância do prazo estipulado no artigo 51, §5º, da Lei 8.245
/91. Somente no momento da prolação da sentença houve o reconhecimento da decadência do
direito à renovação do contrato de locação; logo, o apelante foi privado de utilizar seu imóvel até o
final do processo. De toda sorte, a empresa apelada teve o pleito de renovação julgado
improcedente.
6. Houve questionamento acerca da instalação de um painel que, supostamente, estaria prejudicando a
visibilidade do estabelecimento. A apelada alegou que o painel de identificação visual da
Agropecuária vizinha estaria atrapalhando a visibilidade de sua pizzaria e inclusive fazendo com
que as pessoas questionassem se a pizzaria iria ser fechada ou se a apelada iria mudar de ramo da
atividade comercial. Para provar o alegado, juntou aos autos duas fotos muito semelhantes da
fachada dos imóveis, que foram tiradas durante o dia e de um ângulo em que não se pode ver a
pizzaria (mov. 1.6).
7. O painel não estava atrapalhando a visibilidade da pizzaria, mas, ao contrário, proporcionou-lhe
maior visibilidade e conforto a seus clientes. Mesmo durante o dia, quando a pizzaria estava
fechada, as instalações do painel proporcionaram melhor aparência ao estabelecimento, eis que
anteriormente a marquise estava sem pintura e descascada.
8. Apesar da pizzaria ter sido instalada ali há pelo menos oito anos, em momento algum se utilizou do
espaço localizado na marquise do imóvel, para afixar qualquer propaganda de seu estabelecimento.
Sempre utilizou somente uma placa logo acima da porta de entrada (foto anexa). Nas noites de
chuva, a apelada mal podia utilizar a calçada do imóvel para acomodar seus clientes, uma vez que
a marquise é estreita e a chuva molhava a calçada (foto anexa). A iluminação externa utilizada pela
apelada consistia em uma lâmpada pendurada logo acima da porta de entrada (foto anexa), o que
não fornecia visibilidade adequada ao estabelecimento, tampouco um ambiente bem iluminado aos
clientes que se acomodavam em mesas na calçada.
9. A instalação do painel com cobertura e iluminação proporcionou uma melhor aparência ao
estabelecimento. Nas fotos pode-se perceber que a apelada utilizava a calçada para acomodar seus
clientes, inclusive as mesas eram colocadas também frente ao prédio vizinho, onde está instalada a
agropecuária. No vídeo (mov.46.11) gravado em noite chuvosa, pode-se constatar que os clientes
da apelada estão bem acomodados, com excelente iluminação, protegidos da chuva, utilizando o
espaço abaixo da estrutura de cobertura instalada pelo vizinho.
10. O painel não foi instalado “em frente” ao comércio da apelada, tampouco atrapalhou a visibilidade.
11. Quando a sentença foi proferida, a apelada já havia desocupado o imóvel, mas permaneceu no
imóvel até a data que havia solicitado a renovação – ou seja, mesmo sem ter direito à renovação,
permaneceu no imóvel até a data que lhe foi conveniente.
12. O painel não acarretou a redução no número de clientes, pois tal redução já havia ocorrido em
razão da Pandemia. Tanto que, na sua petição inicial, atribuiu a redução no número de cliente e nos
lucros à Pandemia.
13. A apelada afirmou que devia ser indenizada pelos danos morais, porque seu representante se sentia
constrangido e humilhado, quando os clientes achavam que a pizzaria havia fechado ou que ele
havia mudado de ramo.
14. Da oitiva das testemunhas, verifica-se que nenhum depoimento se presta a comprovar dano moral
ou patrimonial em desfavor da empresa apelada.
15. Não existe nenhuma prova de que ocorreu danos à imagem, ao bom nome ou à reputação da
empresa apelada, uma vez que não foi evidenciado prejuízo sobre sua valoração social no meio em
que atua, decorrente da instalação do painel, nem se comprovou a redução de clientela e/ou
faturamento.
16. Caso não seja o entendimento do Colegiado por afastar a indenização, o quantum indenizatório
fixado na sentença, no valor de R$ 10.000,00, configura enriquecimento injustificado em favor da
parte autora/apelada. Deve ser respeitado o princípio da razoabilidade e da proporcionalidade,
como preceitua o Código Civil, a indenização deve ser medida pela extensão e duração do suposto
dano. Deve-se ainda, considerar a concorrência de culpa da apelada. E diferente de outros casos
mais comuns de ocorrência de danos morais, a conduta no caso não é passível de reiteração, uma
vez que o painel foi rapidamente coberto.
17. Deve ser considerada a mínima extensão do dano, e o curto espaço de tempo que o painel
permaneceu.
18. Requereu o provimento do recurso, para o fim de julgar improcedente o pedido de indenização por
dano moral formulado pela parte autora. Não sendo esse o entendimento, requereu a redução do
quantum indenizatório.
19. Ao final, pleiteou seja redistribuído o ônus de sucumbência, devendo a Parte apelada arcar com o
ônus integralmente.
A autora JUAREZ RIBEIRO DA ROSA & CIA. LTDA. – ME apresentou contrarrazões (mov. 115.1),
aduzindo:

1. Foi surpreendida quando, em 20.01.2022, deparou-se com várias pessoas frente ao seu
estabelecimento comercial, deixando transparecer que iriam instalar um painel da empresa KF
Agropecuária na fachada de seu estabelecimento. O apelado foi conversar com os funcionários,
que confirmaram que estavam realizando a instalação do painel a pedido do proprietário do imóvel
locado. O apelado não consentiu, afirmando que a instalação prejudicaria a fachada do seu
estabelecimento e causaria má impressão à clientela. Contudo, os funcionários disseram que
estavam cumprindo ordem do proprietário do imóvel e concluíram a instalação. O apelado
encaminhou notificação extrajudicial para a retirada do painel (mov. 1.8), datada de 24.01.2022.
Em 03.02.2022 o réu/apelante foi notificado, mas manteve-se inerte, razão pela qual foi proposta a
presente ação.
2. Mesmo intimado, o réu/apelante não cumpriu a determinação judicial no prazo de 5 dias. O
apelado contra notificou o apelante em 22.02.2022, dando-lhe prazo de 30 dias para desocupar o
imóvel locado, sendo que tal pedido restou prejudicado, eis que as partes acordaram que o locatário
permaneceria no imóvel até 10.05.2023. E 12 dias antes do prazo, em 28.04.2023, o locatário
entregou as chaves do salão locado ao Sr. Dalvair Paulo Lima de Castro (mov. 98.2)
3. Em relação aos danos morais, aplicam-se os artigos 186 e 927 do Código Civil. Formam os fatos
constitutivos da parte autora: i) fato lesivo voluntário, causado pelo agente, por ação ou omissão
voluntária, na forma de dolo ou culpa; ii) ocorrência de um dano patrimonial ou moral e iii) nexo
causalidade entre o dano e o comportamento do agente.
4. Das provas documentais e orais produzidas é possível verificar que, ao permitir a instalação de
toldo/painel em frente ao estabelecimento comercial do autor, o réu causou prejuízo ao autor, pois
os consumidores passaram a acreditar que a pizzaria do autor havia fechado.
5. Os depoimentos das testemunhas foram no sentido de que a instalação do painel influenciou na
diminuição do movimento da pizzaria.
6. Restou verificado o descumprimento por parte do réu de garantir o uso pacífico do imóvel locado,
causando prejuízo ao autor. O artigo 22, I e II, da Lei de Locações dispõe que cumpre ao locador
entregar o imóvel em estado de servir ao uso que se destina, durante o tempo da locação e manter o
uso pacífico do imóvel, durante a locação, bem como a forma e o destino do imóvel.
7. Restou confirmado que o locador teria instalado painel da empresa KF Agropecuária na fachada do
estabelecimento do autor, mesmo após oposição (mov.1.8).
8. Requereu a reforma da sentença, para que sejam majorados os danos morais ao valor pleiteado na
inicial, de R$ 100.000,00 (cem mil reais), e no tocante aos danos materiais, a fim de que seja
alterada a condenação pela quantia pleiteada na inicial (R$ 6.000,00).
9. Requereu a majoração dos honorários advocatícios sucumbenciais, ao importe de 15% sobre o
valor da condenação.

É o relatório.

2 – FUNDAMENTAÇÃO E VOTO:

De início, não conheço dos pedidos de reforma da sentença formulados em sede de contrarrazões
(majoração do valor fixado a título de danos morais e acolhimento do pedido relativo aos danos
materiais), uma vez que a discussão sobre os referidos temas deveria ter sido formulada em recurso
próprio.
Como sabido, as contrarrazões têm por finalidade a impugnação ao recurso da parte adversa, e não a
formulação de pretensões, ou seja, as contrarrazões não se constituem meio processual adequado para
buscar a modificação da sentença.

No mérito, presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.

Da análise dos autos, verifica-se que a instalação do painel em discussão não ensejou abalo moral
passível de reparação à empresa autora/apelada. Explico.

Como se sabe, a Súmula nº 227 do STJ admite a indenização por danos morais à pessoa jurídica, quando
o abalo atingir a sua honra objetiva.

Com efeito, a pessoa ficta possui apenas honra objetiva, que diz com sua imagem e seu prestígio perante
o meio comercial (clientes, fornecedores e terceiros). Partindo-se dessa premissa, ausente prova de ofensa
à honra objetiva, não cabe o reconhecimento do dano moral da pessoa jurídica.

A esse respeito (grifou-se):

“RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL.


EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE. NÃO
INDICAÇÃO. SÚMULA 284/STF. DANO MORAL. PESSOA JURÍDICA. ART. 52 DO CC/02.
PROTEÇÃO DE SUA PERSONALIDADE, NO QUE COUBER. HONRA OBJETIVA.
LESÃO A SUA VALORAÇÃO SOCIAL. BOM NOME, CREDIBILIDADE E REPUTAÇÃO.
PROVA. INDISPENSABILIDADE. 1. Ação de indenização de danos materiais e lucros
cessantes e de compensação de danos morais decorrentes de atraso na conclusão das obras
necessárias para o aumento da potência elétrica na área de atividade da recorrida, o que
prejudicou seu projeto de aumento da comercialização de picolés e sorvetes durante o verão. 2.
Recurso especial interposto em: 03/12/2018; conclusos ao gabinete em: 07/05 /2019; aplicação
do CPC/15. 3. O propósito recursal consiste em determinar a) quais os requisitos para a
configuração do dano moral alegadamente sofrido pela pessoa jurídica recorrida; e b) se, na
hipótese concreta, foi demonstrada a efetiva ocorrência do dano moral 4. A ausência de
expressa indicação de obscuridade, omissão ou contradição nas razões recursais enseja o não
conhecimento do recurso especial.) 5. Os danos morais dizem respeito à dignidade humana, às
lesões aos direitos da personalidade relacionados a atributos éticos e sociais próprios do
indivíduo, bens personalíssimos essenciais para o estabelecimento de relações intersubjetivas
em comunidade, ou, em outras palavras, são atentados à parte afetiva (honra subjetiva) e à
parte social da personalidade (honra objetiva). 6. As pessoas jurídicas merecem, no que couber,
a adequada proteção de seus direitos da personalidade, tendo a jurisprudência dessa Corte
consolidado, na Súmula 227/STJ, o entendimento de que as pessoas jurídicas podem sofrer
dano moral. 7. A tutela da personalidade da pessoa jurídica, que não possui honra subjetiva,
restringe-se à proteção de sua honra objetiva, a qual é vulnerada sempre que os ilícitos
afetarem seu bom nome, sua fama e reputação. 8. A distinção entre o dano moral da pessoa
natural e o da pessoa jurídica acarreta uma diferença de tratamento, revelada na necessidade
de comprovação do efetivo prejuízo à valoração social no meio em que a pessoa jurídica atua
(bom nome, credibilidade e reputação). 9. É, portanto, impossível ao julgador avaliar a
existência e a extensão de danos morais supostamente sofridos pela pessoa jurídica sem
qualquer tipo de comprovação, apenas alegando sua existência a partir do cometimento do ato
ilícito pelo ofensor (in re ipsa). Precedente. 10. [...].” (STJ, 3ª Turma, REsp 1807242/RS, Rel.
Ministra Nancy Andrighi, julg. 20.08.2019, DJe 22.08.2019)

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE E INEXISTÊNCIA DE


DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. (1) DANOS MORAIS. PESSOA
JURÍDICA. POSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE VIOLAÇÃO À HONRA OBJETIVA DA
EMPRESA. TESE DE QUE A LINHA INATIVADA TEMPORIAMENTE ERA A ÚNICA
DEDICADA AO ATENDIMENTO DOS BENEFICIÁRIOS QUE NÃO SE COMPROVOU.
EXISTÊNCIA DE OUTROS NÚMEROS PARA CONTATO. RECLAMAÇÕES QUE ERAM
REFERENTES A VÁRIOS NÚMEROS E MEIOS DE COMUNICAÇÃO. AUSÊNCIA DE
COMPROMETIMENTO DA BOA IMAGEM DA PESSOA JURÍDICA. MERO
DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL. DANO MORAL NÃO VERIFICADO. (2)
SENTENÇA MANTIDA. (3) HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE SUCUMBÊNCIA
MAJORADOS EM GRAU RECURSAL, A TEOR DO QUE DETERMINA O ART. 85, § 11 DO
CPC. RECURSO DESPROVIDO.”(TJPR, 0002024-13.2021.8.16.0044, 6ª C.Cível, Rel. Des.
Fernando Paulino da Silva Wolff Filho, julg. 24.10.2022).

Em razão da narração apresentada pela autora na petição inicial, o que se nota é que o dano sofrido seria
de ordem puramente material, e não moral, pois fora aduzido que a instalação do painel influenciou no
movimento da pizzaria, causando prejuízos, o que não se insere na seara moral, podendo-se, talvez,
perquirir a respeito de lucros cessantes, mas não de abalo na honra objetiva da pizzaria locatária.

Ademais, analisando a oitiva das testemunhas, verifica-se que nenhum depoimento se presta a comprovar
a ocorrência de dano moral em desfavor da empresa autora/apelada.

Ora, a pessoa jurídica é vítima de dano moral nas hipóteses em que tem sua reputação, seu bom nome ou
sua imagem abalada perante a sociedade, o que não restou comprovado nos autos.

A testemunha Elton disse que: trabalha há dez anos para a pizzaria, afirmando de forma genérica que
houve redução no movimento aos sábados, que é o dia em que ele trabalha, mas não soube afirmar
precisamente; os clientes ligavam e perguntavam se a pizzaria ia mudar de local, mas não ouviu nenhum
comentário pejorativo; o Sr. Juarez estava sim construindo um novo prédio e iria mudar o
estabelecimento para lá.

Observa-se que o simples fato de os clientes perguntarem se o estabelecimento iria mudar de local não
tem o condão de configurar abalo moral à sua imagem.

Embora a referida testemunha tenha se referido à redução de 20% após a colocação do painel, tal
circunstância poderia indicar reflexo de ordem financeira, mas não sob o aspecto moral da imagem da
pizzaria.

A testemunha Josiel disse que é cliente do Sr. Juarez há 10 anos, e “acreditava” ter reduzido o
movimento; com a colocação do painel, ligou no estabelecimento perguntando se tinha fechado e
responderam que não, ou seja, continuou sendo cliente normalmente.

Dessa forma, dos depoimentos das testemunhas, tem-se que, embora num primeiro momento a colocação
do painel tenha gerado dúvidas acerca do fechamentodo estabelecimento ou de eventual mudança de
local, não se infere, repita-se, abalo à sua honra objetiva, nem qualquer circunstância que demonstre
abalo à imagem, credibilidade ou confiabilidade da pizzaria.
No caso, osfatos narrados na inicial não justificam a condenação do réu ao pagamento de indenização por
dano moral, porque não restou comprovado qualquer desdobramento que pudesse afetar o nome do
estabelecimento apelado.

Acerca do tema, o entendimento jurisprudencial:

“APELAÇÃO. INDENIZAÇÃO. DANO MORAL. PESSOA JURÍDICA. SÚMULA 227 DO STJ.


ARBITRAMENTO. A pessoa jurídica pode ser objeto de dano moral, sendo esse apurável diante
do abalo à sua imagem, credibilidade e confiabilidade. Nesse sentido, o teor da Súmula 227
/STJ: "a pessoa jurídica pode sofrer dano moral". O arbitramento do dano moral deve ser feito
com moderação, em atenção à realidade da vida e às peculiaridades de cada caso,
proporcionalmente, ao grau de culpa e ao porte econômico das partes. Ademais, não se pode
olvidar, consoante parcela da jurisprudência pátria, acolhedora da tese punitiva acerca da
responsabilidade civil, da necessidade de desestimular o ofensor a repetir o ato.”(TJ-MG - AC:
10000204529515001 MG, Relator: Cláudia Maia, Data de Julgamento: 19/03/2021, Câmaras
Cíveis / 14ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 19/03/2021)

“RECURSO INOMINADO. SERVIÇOS DE TELECOMUNICAÇÕES. PEDIDO DE


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS- FALHA NA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS. DANOS
MORAIS PUROS- NÃO CONFIGURAÇÃO. NÃO HÁ OFENSA SUBJETIVA À PESSOA
JURÍDICA. PARA QUE HAJA DANO MORAL À PESSOA JURÍDICA É NECESSÁRIO A
REPERCUSSÃO NEGATIVA SOBRE SUA IMAGEM, O QUE NÃO OCORREU.
INDENIZAÇÃO AFASTADA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. (TJPR - 2ª Turma
Recursal - 0029318-53.2019.8.16.0030 - Foz do Iguaçu - Rel.: JUIZ DE DIREITO DA TURMA
RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS IRINEU STEIN JUNIOR - J. 09.02.2021)”(TJ-PR -
RI: 00293185320198160030 Foz do Iguaçu 0029318-53.2019.8.16.0030 (Acórdão), Relator:
Irineu Stein Junior, Data de Julgamento: 09/02/2021, 2ª Turma Recursal, Data de Publicação: 09
/02/2021)

“APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - COBRANÇA


INDEVIDA - PESSOA JURÍDICA - DANO MORAL NÃO COMPROVADO - INDENIZAÇÃO
INDEVIDA. A Súmula 227 do Superior Tribunal de Justiça dispõe que a pessoa jurídica pode
sofrer dano moral. Se a atitude ilícita da parte ré não é capaz de abalar a imagem da empresa,
incabível o pagamento de indenização por danos morais.”(TJMG - Apelação Cível
1.0439.14.001688-2/002, Relator (a): Des.(a) Rogério Medeiros, 13ª CÂMARA CÍVEL,
julgamento em 12/03/2020, publicação da Súumula em 20/03/2020).

“RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER CUMULADA COM DANOS


MORAIS CUMULADA COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA. AUSÊNCIA DE REPASSE
DE VALORES DE COMPRAS COM CARTÃO DE CRÉDITO. PRELIMINAR DE
INCOMPETÊNCIA AFASTADA. FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO. DANOS MORAIS
PARA PESSOA JURÍDICA NÃO SE CONFIGURAM IN RE IPSA. COMPROVAÇÃO DO
DANO NÃO VERIFICADA. DANOS MORAIS AFASTADOS. PESSOA JURÍDICA.
PRECEDENTES DO STJ E DESTA TURMA RECURSAL. SENTENÇA PARCIALMENTE
REFORMADA. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.”(TJPR - 2ª Turma Recursal -
0009577-51.2017.8.16.0174 - União da Vitória - Rel.: Huber Pereira Cavalheiro - J. 19.11.2019).

Em suma, em se tratando de pessoa jurídica, conquanto não se discuta a possibilidade de que possa sofrer
abalo moral, na forma da Súmula 227 do Superior Tribunal de Justiça, sua configuração se dá somente na
hipótese de mácula à imagem, isto é, dano à imagem no meio comercial, desprestígio diante de terceiros
ou depreciação social, o que não se demonstrou efetivamente nos autos, não se desincumbindo a parte
autora da indispensável produção de prova firme e robusta da ofensa real à sua honra objetiva ou
mácula à sua imagem.

Por conseguinte, o contexto apresentado não é suficiente para comprovar a conduta ensejadora da
reparação de ordem moral, devendo ser afastada a condenação do apelante a esse título.

Por força do acolhimento do apelo, os ônus sucumbenciais restam integralmente imputados à Parte
autora, eis que os demais pedidos foram julgados improcedentes pelo Juízo a quo.

Diante do exposto, o voto é no sentido de dar provimento ao recurso.

3 – DECISÃO:

Acordam os integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por
unanimidade de votos, em DAR PROVIMENTO AO RECURSO interposto por DALVAIR PAULO
LIMA DE CASTRO, nos termos da fundamentação.

O julgamento foi presidido pelo Desembargador Francisco Cardozo Oliveira, sem voto, e dele
participaram os Desembargadores Espedito Reis do Amaral (relator), Tito Campos de Paula e Mario
Luiz Ramidoff.

12 de abril de 2024

Espedito Reis do Amaral

Relator

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