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DECISÃO
JOÃO RODRIGUES FERREIRA, brasileiro, comerciante, casado, filho de Maria Rodrigues Ferreira, portador do RG n.º
MG-16.711.735, inscrito no CPF sob o n.º 086.638.766-88, residente e domiciliado na Rua Osório Castro Alves, n.º 77,
Apto 501, Centro, Município de Padre Paraíso/MG, CEP 39.818-000, ajuizou a presente AÇÃO DE MANUTENÇÃO DE
POSSE COM PEDIDO LIMINAR C/C OBRIGAÇÃO DE FAZER E INDENIZAÇÃO DE DANOS MATERIAIS Em face do
MUNICÍPIO DE PADRE PARAÍSO, pessoa jurídica de direito público, inscrita no CNPJ sob o n.º 18.404.764/0001-08,
com sede na Rua Prefeito Orlando Tavares, n.º 10, Centro, Padre Paraíso/MG, CEP 39.818-000
O autor, desde 04 de junho de 2017, adquiriu o direito de uso de uma loja localizada no térreo
do coreto da Praça Águas Marinhas para desenvolvimento de atividade comercial, junto ao
Município de Padre Paraíso, após participação do Edital de Concorrência n.º 001/2017,
conforme Termo em anexo, no qual constam todos os deveres e obrigações do mesmo em
relação ao bem público cedido. Dentre essas obrigações, o autor possuía o dever de arcar
com o aluguel mensal que àquela época era equivalente a R$ 231,00 (duzentos e trinta e um
reais). Considerando o vencimento do prazo inicialmente estabelecido, fora editado o 1º Termo
Aditivo que segue em anexo, por meio do qual estabeleceu-se o prazo de 04 (quatro) anos de
validade, com início em 05 de junho de 2021, ratificando-se todas as condições e demais
cláusulas do termo principal, inclusive quanto ao aluguel devido mensalmente que, atualmente
corresponde ao montante de R$ 1.004,20 (mil e quatro reais e vinte centavos), sendo que o
prazo para desocupação supostamente ocorreria em 05 de junho de 2025. Destaca-se que,
desde o primeiro dia em que o autor passou a possuir o imóvel todas as despesas com
reformas foram realizadas por sua própria conta em elevados montantes que foram
provenientes do seu trabalho. Incialmente, quando se tratava do popular “coreto”, o autor,
chegou a contratar, inclusive, profissional para realização do projeto de interiores, fazendo
altos investimentos, como troca de pisos, pinturas, instalação de balcões, divisórias,
iluminação, janelas, pias, cooktop, portas, instalação elétrica, luminárias, dentre outros, tudo
perfeitamente comprovado com as fotos em anexo.
JUNTADA DE PETIÇÃO DE PETIÇÃO - PLANTÃO PJE 10089826673 - Petição - Plantão PJe (Antecipação de Tutela Fato
Superveniente) , alegando:
É o relatório. DECIDO.
As tutelas de urgência, porque são medidas voltadas a eliminar ou minorar os males do tempo do processo, têm por
fundamento uma situação de perigo. Quanto à tutela de urgência, dispõe o Novo Código de Processo Civil que:
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a
probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
§1º Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir caução real
ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer, podendo a
caução ser dispensada se a parte economicamente hipossuficiente não puder oferecê-la.
§2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação prévia.
§3º A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver perigo de
irreversibilidade dos efeitos da decisão.
Art. 301. A tutela de urgência de natureza cautelar pode ser efetivada mediante arresto,
sequestro, arrolamento de bens, registro de protesto contra alienação de bem e qualquer
outra medida idônea para asseguração do direito.
Art. 302. Independentemente da reparação por dano processual, a parte responde pelo
prejuízo que a efetivação da tutela de urgência causar à parte adversa, se:
A antecipação dos efeitos de tutela jurisdicional é espécie de tutela de urgência, necessária à efetividade do processo,
de feição excepcional e natureza satisfativa, não apenas conservativa, como é a cautelar, embora provisória e resultante
de sumária cognição, que, nos termos do art. 300 do NCPC, pressupõe elementos que evidenciem a probabilidade do
direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo, além da ausência de perigo de irreversibilidade do
provimento antecipado. Nesse sentido, o NCPC positivou dois requisitos que podem dar fundamento à concessão da
tutela de urgência, quais sejam, o perito de dano e o risco ao resultado útil do processo. Ambas as expressões, em
verdade, representam igual fenômeno, qual seja os males que o tempo pode trazer para o processo ou para direito nele
postulado.
Além das situações de urgência que representam verdadeiro fundamento do pleito urgente, o NCPC também estabelece
como requisito positivo para a concessão da tutela de urgência a probabilidade do direito, ou seja, a análise em sede de
possibilidade de que o autor possui o direito que alega e que está sujeito à situação de perigo. Para que a tutela de
urgência seja concedida, ainda que não se exija certeza jurídica sobre o direito do autor, há que se ter ao menos
aparência desse direito, e, por isso, o juiz faz a apreciação da existência da pretensão do autor em um juízo de cognição
sumária, e não exauriente.
A tutela provisória de urgência pode ser de natureza antecipada ou cautelar. Para sua
concessão, imprescindível a verificação de dois requisitos: (i) a probabilidade do direito e (ii)
perigo na demora da prestação da tutela jurisdicional (periculum in mora). Probabilidade do
direito. Deve estar evidenciada por prova suficiente para levar o juiz a acreditar que a parte é
titular do direito material disputado. Trata-se de um juízo provisório. Basta que, no momento
da análise do pedido, todos os elementos convirjam no sentido de aparentar a probabilidade
das alegações. Em outras palavras, para a concessão da tutela de urgência não se exige que
da prova surja a certeza das alegações, contentando-se a lei com demonstração de ser
provável a existência do direito alegado pela parte que pleiteou a medida. Perigo de dano ou
o risco ao resultado útil do processo. Pode ser definido como o fundado receio de que o
direito afirmado pela parte, cuja existência é apenas provável, sofra dano irreparável ou de
difícil reparação ou se submeta a determinado risco capaz de tornar inútil o resultado final do
processo. (...) Saliente-se que não basta a mera alegação, sendo indispensável que o autor
aponte fato concreto e objetivo que leve o juiz a concluir pelo perigo de lesão. O fato de um
devedor estar dilapidando seu patrimônio também pode caracterizar esse requisito e ensejar a
concessão de uma tutela de urgência que será efetivada mediante o arresto de bens.
Garantias. Para a concessão da tutela de urgência, pode o juiz determinar que o requerente
preste caução real ou fidejussória. A primeira é aquela prestada sob a forma de garantia real
(art. 1.419 do Código Civil), como o penhor e a hipoteca. Através dela um bem é colocado à
disposição do juízo para, se for o caso, garantir o pagamento de perdas e danos decorrentes
da execução da medida. Já a caução fidejussória é aquela prestada por um terceiro, que se
torna responsável por, pessoalmente, garantir o juízo. A exigência de caução é ato
discricionário do juiz, razão pela qual é possível a dispensa da garantia na hipótese de o
requerente demonstrar ser economicamente hipossuficiente (§ 1 o, parte final). Concessão
em caráter liminar. O § 2o possibilita ao juiz conceder liminarmente a tutela de urgência, ou
após justificação prévia, quando verificar que a parte contrária, sendo cientificada da medida,
pode torná-la ineficaz. Perigo de irreversibilidade. O § 3 o estabelece o pressuposto
negativo da tutela, qual seja o perigo de irreversibilidade do provimento. Sendo lastreada em
cognição sumária, a tutela provisória deve ser passível de revogação posterior. No entanto,
existem situações nas quais, não obstante a irreversibilidade do provimento a ser concedido,
a urgência é tão grave que a espera pela cognição exauriente é capaz de inviabilizar a própria
utilidade da medida. É um caso de irreversibilidade para ambas as partes, na qual deve o
julgador tendenciar a proteger aquele que, não possuindo o bem da vida naquele momento,
sofrerá maior impacto (é o exemplo da cirurgia). Nesses casos, a jurisprudência entende
plausível a mitigação deste requisito negativo, sob a égide do princípio da
Analisando os autos constato que o termo de permissão de uso, de caráter oneroso, frise-se, datado de 05/06/2021,
previu um prazo mínimo de 04 anos de permissão, não tendo o mesmo ainda findado, bem como o autor foi notificado
da rescisão unilateral sem, contudo, haver notícias de instalação de processo administrativo.
É certo, portanto, que a permissão de uso de bem público pode ser rescindida unilateralmente, isso é, sem a
necessidade do contraditório, uma vez que possui natureza discricionária e precária.
No entanto, se a Administração Pública fixa prazo certo para a utilização do bem público mediante permissão de uso, o
Superior Tribunal de Justiça já entendeu que a permissão se torna qualificada e, dessa forma, a precariedade do ato é
consideravelmente reduzida, eis que a determinação de prazo para o particular utilizar o bem gera expectativa de uso
por parte do permissionário. Veja-se:
1. Cuida-se de recurso ordinário interposto contra acórdão que denegou o pleito mandamental
de anulação do termo unilateral de rescisão de permissão de uso de imóvel público por
associação; alega a recorrente que deveria ter havido a observância do devido processo legal
e da ampla defesa no caso.
3."Ao outorgar permissão qualificada ou condicionada de uso, a Administração tem que ter em
vista que a fixação de prazo reduz a precariedade do ato, constituindo, em conseqüência, uma
autolimitação ao seu poder de revogá-lo"(Maria Sylvia Zanella Di Pietro, Direito Administrativo,
21 ed. São Paulo, Atlas, 2008, p. 657).
4." Na hipótese de rescisão por interesse público (art. 78, XII, da Lei n. 8.666/93), deve haver
oportunidade de manifestação ao contratado, motivação e caracterização do interesse público,
bem como a apuração de perdas e danos - se for do interesse do contratado ". Precedente:
RMS 27.759/SP, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 24.9.2010.
1. A permissão de uso de bem público, via de regra, é ato unilateral, discricionário e precário.
Contudo, ao ser instituída mediante prazo determinado, a permissão passa a ser qualificada,
de modo a conferir ao permissionário garantias próprias de um negócio jurídico contratual.
2. O art. 78, inciso I, da Lei 8.666/93, autoriza a rescisão unilateral do contrato pelo
descumprimento das cláusulas contratuais, a qual, no entanto, é condicionada ao prévio
processo administrativo, com a finalidade de assegurar o contraditório e a ampla defesa.
- Em razão do disposto no artigo 5º, inciso LV, da Constituição Federal, e nos artigos 78,
parágrafo único, e 79, inciso I, da lei 8.666/93, a rescisão unilateral de negócio jurídico deve
se dar por meio de ato administrativo escrito, motivado e publicado, com a prévia instauração
do devido processo legal administrativo; o que não ocorreu no presente caso. (TJMG -
Apelação Cível 1.0433.10.013186-4/001, Relator(a): Des.(a) Moreira Diniz , 4ª CÂMARA
CÍVEL, julgamento em 10/02/2022, publicação da súmula em 11/02/2022).
Ante o exposto, DEFIRO A TUTELA DE URGÊNCIA para manter o autor na posse do imóvel.
INTIME-SE a requerida para que tenha ciência dos termos da presente ação e do inteiro teor desta decisão.
CITE-SE o requerido para comparecer à audiência de conciliação, a ser designada pela Secretaria.
Intime-se o autor da audiência designada na pessoa de seu advogado (art. 334, §3º, do NCPC).
Diligências necessárias.
Intimem-se.
Cumpra-se.
Medina,
Juiz de Direito
Rua Francisco Figueiredo, nº 250, Centro, MEDINA - MG - CEP: 39620-000 Telefone (33) 3753-1275 e-mail:
mda1secretaria@tjmg.jus.br