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Para conferir o original, acesse o site https://www2.tjal.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0734902-69.2021.8.02.0001 e código 5593D6B.
Juízo de Direito - 16ª Vara Cível da Capital / Fazenda Estadual
Av. Presidente Roosevelt, 206, Fórum Desembargador Jairon Maia Fernandes,
Barro Duro - CEP 57045-900, Fone: 3218-3506, Maceió-AL - E-mail:
vcivel16@tj.al.gov.br
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARIA ESTER FONTAN CAVALCANTI MANSO, liberado nos autos em 17/12/2021 às 14:40 .
Autos nº: 0734902-69.2021.8.02.0001
Ação: Ação Civil Pública
Autor: Defensoria Pública do Estado de Alagoas
Réu: Estado de Alagoas
DECISÃO
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para o cargo de Soldado, analisando os dados apreendidos para detalhar a extensão da
fraude. Na conclusão parcial das investigações, 16 (dezesseis) pessoas foram indiciadas
pelos crimes de constituição de organização criminosa c/c fraude em concurso público.
Defende que a SEPLAG foi precipitada ao cancelar o concurso, utilizando-se de
dados inexistentes/falsos para fundamentar, genericamente, a anulação do certame,
prejudicando todos os candidatos. Por isso, é prudente que o certame seja apenas
suspenso enquanto as investigações não forem concluídas.
Pede a concessão de liminar para que seja proibida a realização de novas provas
(repetição de etapas) até a conclusão da investigação em curso na Polícia Civil.
Às fls. 88, aditou a inicial requerendo a determinação para que os delegados que
conduzem a investigação (DEIC) forneçam os inquéritos policiais nº 8889/2021 e nº
8458/2021, bem como que informem mensalmente o andamento do inquérito ou,
alternativamente, que seja providenciado o compartilhamento das informações
constantes nos autos judiciais nº 0720518-04.2021.8.02.0001, mantendo-os em sigilo.
Em decisão às fls. 89/92, determinei que os inquéritos policiais nº 8889/2021 e
nº 8458/2021 fossem enviados para este juízo.
Os inquéritos foram apresentados e postos na condição de sigiloso nestes autos.
É o relatório.
Decido.
Trata-se de procedimento de tutela antecipada antecedente proposto pela
Defensoria Pública do Estado de Alagoas com o objetivo de suspender, de maneira
cautelar, decisão administrativa que culminou em cancelamento das etapas realizadas no
concurso público para provimento em cargos de Soldado (praças) do Corpo de
Bombeiros Militar de Alagoas regido pelo Edital nº 01/2021.
Dispõe o art. 303 e 305 do CPC sobre a possibilidade de concessão de tutela
cautelar antecedente para assegurar direito em face de perigo de dano ou risco ao
resultado útil do processo, o que remete, também, ao enquadramento dos requisitos
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previstos no art. 300 do CPC.
Analiso a probabilidade do direito.
O argumento de ilegalidade trazido pela Defensoria Pública está pautado em
vício no ato administrativo que anulou o concurso, utilizando como fundamento o
Inquérito Policial nº 8458/2021, ainda não concluído. Alega que o réu fez uso de
argumento genérico de constatação de ação criminosa de um grupo de candidatos,
motivação insuficiente e precipitada para se concluir pelo cancelamento do certame.
Nesta demanda, a Defensoria Pública impugna o Edital nº 6 – CBMAL, de 29 de
outubro de 2021 (fls. 63), na parte que afeta os candidatos ao Curso de Formação de
Praças do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Alagoas (CBMAL), e que assim
dispõe:
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não se pode subtrair o acesso quando houver lesão ou ameaça a direito,1 incluindo-se
aquelas promovidas pelo poder público em face do sistema de unidade de jurisdição
adotado no Brasil.
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resta o controle judicial4 até mesmo para reconhecimento de quando ele não é possível
para garantir a reserva de administração.
Os atos administrativos vinculados são aqueles em que a lei utiliza de uma
linguagem determinada ao especificar os requisitos do ato de forma preestabelecida.
4 “Assim, como ao Judiciário compete fulminar todo comportamento ilegítimo da Administração que
apareça como frontal violação da ordem jurídica, compete-lhe, igualmente, fulminar qualquer
comportamento administrativo que, a pretexto de exercer apreciação ou decisão discricionária,
ultrapassar as fronteiras dela, isto é, desbordar dos limites de liberdade que lhe assistiam, violando,
por tal modo, os ditames normativos que assinalam os confins da liberdade discricionária”.
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 17 ed. São Paulo:
Malheiros, 2004. p. 861. “De fato, o exercício da discricionariedade administrativa pode resultar
viciado por abusividade (arbitrariedade por excesso) ou por inoperância (arbitrariedade por omissão).
Em ambos os casos é violado o princípio da proporcionalidade, que determina ao Estado Democrático
não agir com demasia, tampouco de maneira insuficiente, na consecução dos objetivos
constitucionais”. FREITAS, Juarez. Discricionariedade Administrativa e o Direito Fundamental à
Boa Administração Pública. 2 ed. São Paulo: Malheiros, 2009. p. 64.
5 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 43. Ed. São Paulo: Malheiros, 2018. p.
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Um exemplo característico de ato administrativo vinculado é aquele que impõe
sanções administrativas.6
No campo do Direito Administrativo Sancionador, a vinculação da atividade do
administrador, a exemplo do Processo Administrativo Disciplinar, está interligada com
o conteúdo do ato a ser expedido, já a obrigatoriedade condiz com a prática do ato. Esta
imperatividade impõe que o agente promova a edição do ato, quando dele tenha
conhecimento7. A vinculação ao conteúdo do ato traz à tona a modalidade especial de
redução da liberdade do administrador na área circunscrita ao Direito Sancionador, com
a conformação que encerra o princípio da legalidade nesse ramo delicado do direito.
Tratando-se de ato administrativo que limita ou restringe direitos, o princípio da
legalidade, para além de uma função de bloqueio, de proteção dos direitos dos cidadãos
pela redução da liberdade do administrador, desponta para uma função positiva de
delimitação da área de atuação, fixando precisamente a conduta do administrador, no
que procura, dentre outros fins, eliminar a subjetividade e discricionariedade na
expedição do ato, na conformidade do princípio da tipificação. Tanto o fundamento da
conduta quanto o critério de decisão no caso concreto estão contidos na lei. O juízo
que o administrador faz, na concretude, é apenas de subsunção da situação de fato à
previsão da lei, independentemente de valoração pessoal.8
Ocorre que a substituição do conceito central de legalidade administrativa pelo
6 Lei Estadual nº 5.247/91:
Art. 129. São penalidades disciplinares:
I – advertência;
II – suspensão;
III – demissão;
IV – cassação de aposentadoria ou disponibilidade;
V – destituição de função comissionada.
7Lei Estadual nº 5.247/91:
Art. 145. A autoridade que tiver ciência de irregularidade no serviço público é obrigada a promover a sua
apuração imediata, mediante sindicância ou processo administrativo disciplinar, assegurada ao
acusado ampla defesa.
8 Xavier, Alberto. Os princípios da legalidade e da tipicidade da tributação. São Paulo: Revista dos
Tribunais. 1978. p. 38.
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princípio da juridicidade da Administração Pública, de vinculação aos princípios
constitucionais, em especial os de natureza administrativa como posto na Constituição
Federal no art. 37, faz com que o aplicador não apenas se refira as regras fixadas na lei
para edição do ato administrativo, mas, também, aos princípios constitucionais. Isso
muda essencialmente a configuração tradicional do ato administrativo vinculado que
tinha uma formatação mais precisa e delimitada previamente pela lei e, o administrador,
ao aplica-la, apenas fazia o juízo de subsunção de forma simples. Este exercício puro e
simples de subsunção por vezes torna-se insuficiente ou violador de princípios
constitucionais. Portanto, a atuação do administrador deve considerar os princípios
constitucionais de natureza mais aberta e indeterminada.
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da razoabilidade e da atuação conforme a lei e o direito, dentre outros.10 Não obstante o
poder conferido no art. 2º, da Lei nº 9.784/99, o administrador ainda faz pouco uso de
seus comandos que atendem às exigências de doutrinas mais atualizadas. De regra,
continua a manter a interpretação da legalidade estrita sem contraponto com as normas
Constitucionais. Constitui uma prática dos agentes administrativos não assumirem a
responsabilidade de uma interpretação mais ampla na produção de atos administrativos,
deixando esse espaço para o judiciário, quando provocado.
O ato administrativo que aplica sanção, alçado como um exemplo de ato
vinculado e obrigatório, também sofre a influência do princípio da juridicidade. Como
ato administrativo, a sanção deve se conformar com os princípios constitucionalizados
da administração pública; com as regras e princípios constitucionais da legalidade,
desdobrando-se no devido processo legal, na proporcionalidade, em especial naqueles
casos cujos efeitos são potencialmente irreversíveis. A relação de compatibilidade que
se observa não é apenas de legalidade com o contraponto do ato administrativo com a
lei, na acepção de norma infraconstitucional; é mais que isso: importa na averiguação de
consonância com as normas constitucionais. Não é mais o juízo de identificação do
direito com a lei, de uma legalidade estrita, mas do reconhecimento do direito pautado
na lei e nos princípios constitucionais, "ocorre a substituição da idéia de legalidade
administrativa pelo princípio da juridicidade da Administração Pública".11
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É claro que não é em todos os casos em que imprescindível ao administrador
recorrer à Constituição, notadamente naqueles que não tenham uma disciplina
específica na Constituição. No mais, boa parte dos atos administrativos terá que partir
de uma aferição constitucional para a lei ou ato normativo, o que vai implicar numa
interpretação da lei conforme a Constituição. Daí que aquele ato vinculado que teria
uma mera subsunção do fato à previsão legal passa a exigir uma decisão com um nível
de interpretação ampliada, o que não mais afasta um espaço de criatividade do
intérprete administrador e aquele intento de redução da subjetividade.
12
FREITAS, Juarez. O controle dos atos administrativos e os princípios fundamentais. 3 ed. São Paulo:
Malheiros, 2004. p. 212/213.
OTERO, Paulo. Legalidade e Administração Pública: O Sentido da Vinculação Administrativa à
Juridicidade. Coimbra: Almedina, 2011. p. 740/741
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A consequência dessa compreensão é que o processo de decisão
administrativa,13 mesmo no ato vinculado, se torna mais complexo, a exigir uma maior
fundamentação que transpassa o modelo de subsunção.
No âmbito punitivo, a Constituição tutela os valores mais caros à sociedade
dentro de um sistema de garantias constritivas ao arbítrio Estatal. Essa sistemática se
traduz em uma gama de princípios caracterizados por serem vetores hermenêuticos para
a interpretação do ordenamento jurídico punitivo.
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Direito Administrativo, pois ainda que tais cláusulas não veiculem
conteúdos idênticos, “também veiculam conteúdos mínimos
obrigatórios, onde repousa a ideia de unidade mínima a vincular
garantias constitucionais básicas aos acusados em geral. 14
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motivação exigido pelo art. 50, I, II e III, da Lei nº 6.161/200015, por se enquadrar no
conceito normativo de ato restritivo de direitos ou interesses e que aplica sanções em
concurso público. Demais, a ausência da motivação precisa dificulta o seu controle pelo
judiciário e inviabiliza o direito de defesa.
Nessa linha de pensamento expõe Raquel Melo Urbano de Carvalho :
15 Lei nº 6.161/2000:
Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos
jurídicos, quando:
I – neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
II – imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
III – decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública;
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art. 2º, alínea D, da lei nº 4.717/65 que conceitua esse formato de ilegalidade ao
prescrever que “a inexistência dos motivos se verifica quando a matéria de fato ou de
direito, em que se fundamenta o ato, é materialmente inexistente ou juridicamente
inadequada ao resultado obtido”.
Apesar disso, e para uma análise mais acurada da probabilidade do direito,
mantendo-se o sigilo das informações contidas no inquérito, é bastante analisar a
coerência entre o ato administrativo de anulação das etapas do certame e as
investigações da Polícia Civil.
As investigações indicam a prática de fraude em diversos concursos públicos,
inclusive neste concurso para Soldado do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de
Alagoas. A fraude consistiu em fornecer ao candidato, no momento da aplicação da
prova, o gabarito das questões através mensagens de texto e ponto eletrônico. O
trabalho investigativo é denso e minucioso. Com a quebra do sigilo autorizada
judicialmente na seara criminal, a Polícia Civil identificou os candidatos que enviaram e
receberam mensagens de texto no momento de aplicação da prova além da degravação
de ligações e outras informações que parecem mais relevantes para o âmbito criminal.
No que importa para a presente ação, merece especial atenção a delimitação da
fraude. O modus operandi consistia em fornecer as respostas para o candidato por ponto
eletrônico instalado em seu ouvido. As investigações da Polícia Civil, ainda que não
concluídas de forma definitiva, indicam precisamente os nomes dos candidatos
envolvidos na fraude. Somam-se às investigações a sindicância realizada internamente
pela CEBRASPE, trabalho este considerado pelos Delegados como “um importante
estudo acerca do padrão de respostas de indivíduos suspeitos” com “conclusões
relevantes para a investigação” que indicam candidatos que apresentaram padrões de
respostas que fogem do padrão e suspeita de uso de meios fraudulentos. (fls. 26 do
relatório parcial da Polícia Civil datado de 30/10/2021).
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Em sindicância realizada pelo CEBRASPE, consta nota técnica com detalhado
estudo estatístico para detectar irregularidades na prova para Soldado Bombeiro Militar.
Foi realizada a análise do comportamento dos candidatos através das suas respostas na
prova objetiva de Soldado Bombeiro (momento da fraude). Baseado em técnica
identificada como Teoria Clássica dos Testes (TCT) e Teoria da Resposta ao Item
(TRI), o CEBRASPE identificou um padrão de respostas não esperadas em algumas
questões respondidas pelos candidatos com alto desempenho, identificando 11
candidatos convocados para o TAF cujas inscrições são as de nº 100282341,
100200631, 100283451, 100248731, 100285141, 100126901, 100155511, 100136021,
100316481, 100256891 e 100303461 (fls. 06 do Ofício CEBRASPE nº 003242/2021,
correspondente às fls. 1.904 do documento enviado pelo DEIC nestes autos).
Em Ofício nº 003336/2021, o CEBRASPE encaminha ao Delegado o relatório
final da sindicância, afirmando ter constatado “indícios de utilização de mecanismo
ilícito (ponto eletrônico), por parte de um grupo de candidatos, na realização das
provas objetivas (...)”. Ao final, a Diretora-Geral do CEBRASPE informou aguardar os
resultados da investigação para, uma vez confirmados os achados da sindicância, aplicar
o item 15.27 do Edital, que assim dispõe:
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diferente do editado pela comissão sindicante quando a conclusão for contrária às
provas dos autos. É o que prescreve o art. 178 da Lei nº 5.247/91, in verbis:
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diante da iminência da realização de nova prova objetiva que submeta todos os
candidatos novamente à seleção.
Pelas razões expostas, defiro o pedido de tutela antecipada antecedente para
suspender o Edital nº 06 que determinou o cancelamento das etapas do concurso público
para provimento dos cargos de Soldado (praças) do Corpo de Bombeiros Militar de
Alagoas, para determinar que a administração se abstenha de realizar nova seleção até a
conclusão da investigação em curso na Polícia Civil, em relação ao referido concurso.
Intime-se o Réu, através do Secretário da SEPLAG, para imediato cumprimento.
Intime-se a Defensoria Pública para aditar a petição inicial, conforme art. 303,
§1º, inciso I do CPC.
Cite-se o Estado de Alagoas, através da PGE/AL, para, querendo, contestar a
presente demanda.
Apresentada contestação, intime-se o Autor, através da Defensoria Pública, para
apresentar réplica, no prazo de 15 dias.
Em seguida, dê-se vista ao Ministério Público pelo prazo legal.
Cumpridas as determinações, venham os autos conclusos para sentença.
Intimem-se. Cumpra-se.