Você está na página 1de 16

fls.

99

Para conferir o original, acesse o site https://www2.tjal.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0734902-69.2021.8.02.0001 e código 5593D6B.
Juízo de Direito - 16ª Vara Cível da Capital / Fazenda Estadual
Av. Presidente Roosevelt, 206, Fórum Desembargador Jairon Maia Fernandes,
Barro Duro - CEP 57045-900, Fone: 3218-3506, Maceió-AL - E-mail:
vcivel16@tj.al.gov.br

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARIA ESTER FONTAN CAVALCANTI MANSO, liberado nos autos em 17/12/2021 às 14:40 .
Autos nº: 0734902-69.2021.8.02.0001
Ação: Ação Civil Pública
Autor: Defensoria Pública do Estado de Alagoas
Réu: Estado de Alagoas

DECISÃO

A Defensoria Pública do Estado de Alagoas, através da Defensoria Pública dos Direitos


Difusos, Coletivos e Humanos, apresentou o presente pedido de Tutela Cautelar
Antecedente de Ação Civil Pública com pedido de liminar em face do Estado de
Alagoas.
Narra a inicial que no dia 07 de maio de 2021 o Estado de Alagoas publicou
edital de concurso público para preenchimento de 150 vagas de Soldado (praças) do
Corpo de Bombeiros Militar de Alagoas com etapas que consistiam em prova objetiva,
teste físico, avaliação médica, avaliação psicológica, comprovação documental e
investigação de vida social e exame toxicológico.
Sustenta que o certame transcorreu normalmente até a penúltima fase sem
qualquer suspensão quando, em 29 de outubro de 2021, a Secretaria de Planejamento e
Gestão Pública (SEPLAG) cancelou/anulou todas as etapas realizadas em face de
investigação pela Polícia Civil de tentativa de fraude. Indica que, mesmo com as
investigações ainda em curso no sentido de delimitar a extensão da fraude, o réu
cancelou o certame e já anunciou nas redes sociais que as novas provas ocorrerão em
meados de janeiro de 2022.
Afirma que a SEPLAG fundamenta sua decisão anulatória/cancelamento das
etapas do certame em inquérito policial, entretanto, a comissão de Delegados informou
à Defensoria Pública que a operação policial investiga apenas os candidatos aprovados
fls. 100

Para conferir o original, acesse o site https://www2.tjal.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0734902-69.2021.8.02.0001 e código 5593D6B.
Juízo de Direito - 16ª Vara Cível da Capital / Fazenda Estadual
Av. Presidente Roosevelt, 206, Fórum Desembargador Jairon Maia Fernandes,
Barro Duro - CEP 57045-900, Fone: 3218-3506, Maceió-AL - E-mail:
vcivel16@tj.al.gov.br

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARIA ESTER FONTAN CAVALCANTI MANSO, liberado nos autos em 17/12/2021 às 14:40 .
para o cargo de Soldado, analisando os dados apreendidos para detalhar a extensão da
fraude. Na conclusão parcial das investigações, 16 (dezesseis) pessoas foram indiciadas
pelos crimes de constituição de organização criminosa c/c fraude em concurso público.
Defende que a SEPLAG foi precipitada ao cancelar o concurso, utilizando-se de
dados inexistentes/falsos para fundamentar, genericamente, a anulação do certame,
prejudicando todos os candidatos. Por isso, é prudente que o certame seja apenas
suspenso enquanto as investigações não forem concluídas.
Pede a concessão de liminar para que seja proibida a realização de novas provas
(repetição de etapas) até a conclusão da investigação em curso na Polícia Civil.
Às fls. 88, aditou a inicial requerendo a determinação para que os delegados que
conduzem a investigação (DEIC) forneçam os inquéritos policiais nº 8889/2021 e nº
8458/2021, bem como que informem mensalmente o andamento do inquérito ou,
alternativamente, que seja providenciado o compartilhamento das informações
constantes nos autos judiciais nº 0720518-04.2021.8.02.0001, mantendo-os em sigilo.
Em decisão às fls. 89/92, determinei que os inquéritos policiais nº 8889/2021 e
nº 8458/2021 fossem enviados para este juízo.
Os inquéritos foram apresentados e postos na condição de sigiloso nestes autos.
É o relatório.
Decido.
Trata-se de procedimento de tutela antecipada antecedente proposto pela
Defensoria Pública do Estado de Alagoas com o objetivo de suspender, de maneira
cautelar, decisão administrativa que culminou em cancelamento das etapas realizadas no
concurso público para provimento em cargos de Soldado (praças) do Corpo de
Bombeiros Militar de Alagoas regido pelo Edital nº 01/2021.
Dispõe o art. 303 e 305 do CPC sobre a possibilidade de concessão de tutela
cautelar antecedente para assegurar direito em face de perigo de dano ou risco ao
resultado útil do processo, o que remete, também, ao enquadramento dos requisitos
fls. 101

Para conferir o original, acesse o site https://www2.tjal.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0734902-69.2021.8.02.0001 e código 5593D6B.
Juízo de Direito - 16ª Vara Cível da Capital / Fazenda Estadual
Av. Presidente Roosevelt, 206, Fórum Desembargador Jairon Maia Fernandes,
Barro Duro - CEP 57045-900, Fone: 3218-3506, Maceió-AL - E-mail:
vcivel16@tj.al.gov.br

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARIA ESTER FONTAN CAVALCANTI MANSO, liberado nos autos em 17/12/2021 às 14:40 .
previstos no art. 300 do CPC.
Analiso a probabilidade do direito.
O argumento de ilegalidade trazido pela Defensoria Pública está pautado em
vício no ato administrativo que anulou o concurso, utilizando como fundamento o
Inquérito Policial nº 8458/2021, ainda não concluído. Alega que o réu fez uso de
argumento genérico de constatação de ação criminosa de um grupo de candidatos,
motivação insuficiente e precipitada para se concluir pelo cancelamento do certame.
Nesta demanda, a Defensoria Pública impugna o Edital nº 6 – CBMAL, de 29 de
outubro de 2021 (fls. 63), na parte que afeta os candidatos ao Curso de Formação de
Praças do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Alagoas (CBMAL), e que assim
dispõe:

EDITAL Nº 6 – CBMAL, DE 29 DE OUTUBRO DE 2021

O SECRETÁRIO DE ESTADO DO PLANEJAMENTO,


GESTÃO E PATRIMÔNIO DE ALAGOAS, tendo em vista o
andamento da investigação que está sendo realizada no Inquérito
Policial nº 8458/2021 – GRE/DEIC, bem como a constatação de ação
criminosa de um grupo de candidatos, torna público o cancelamento
das provas objetivas, da prova discursiva e do teste de aptidão física,
referentes ao concurso público para a admissão ao Curso de
Formação de Oficiais e ao Curso de Formação de Praças do Corpo de
Bombeiros Militar do Estado de Alagoas (CBMAL).
Torna público, ainda, que essas fases serão reaplicadas e que o
novo cronograma do concurso será divulgado oportunamente.

FABRÍCIO MARQUES SANTOS


Secretário de Estado do Planejamento, Gestão e Patrimônio

O princípio constitucional da inafastabilidade da tutela jurisdicional reflete o


fundamento constitucional do controle dos atos administrativos pelo judiciário, do qual
fls. 102

Para conferir o original, acesse o site https://www2.tjal.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0734902-69.2021.8.02.0001 e código 5593D6B.
Juízo de Direito - 16ª Vara Cível da Capital / Fazenda Estadual
Av. Presidente Roosevelt, 206, Fórum Desembargador Jairon Maia Fernandes,
Barro Duro - CEP 57045-900, Fone: 3218-3506, Maceió-AL - E-mail:
vcivel16@tj.al.gov.br

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARIA ESTER FONTAN CAVALCANTI MANSO, liberado nos autos em 17/12/2021 às 14:40 .
não se pode subtrair o acesso quando houver lesão ou ameaça a direito,1 incluindo-se
aquelas promovidas pelo poder público em face do sistema de unidade de jurisdição
adotado no Brasil.

O dispositivo, assim, assegura proteção judiciária como garantia dos


direitos reconhecidos pelo ordenamento e como garantia contra a
ameaça de lesão de direitos. A proteção judiciária representa um dos
pilares do Estado de Direito, sendo corolário dos princípios da
legalidade que norteia a atuação dos poderes públicos(...). Vinculam-
se ao devido processo legal, no âmbito da atuação do Judiciário, os
princípios do juiz natural, do contraditório, da ampla defesa, por
exemplo”.2

Diante da impositividade da motivação dos atos administrativos decorrente do


princípio da publicidade (art. 37, CF); da previsão de motivação das decisões
administrativas dos tribunais (art. 93, X, CF) e, na ordem infraconstitucional, da
exigência do art. 2º, VII, da Lei Federal nº 9.789/99 e leis estaduais,3 para que sejam
indicados os pressupostos de fato e de direito que determinarem a decisão, viabilizado

1 Art. 5º, XXXV, Constituição Federal.


2 MEDAUER, Odete. Controle da Administração Pública. 3 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.
p. 214.
3 Em Alagoas, a Lei nº 6.161/2000.
fls. 103

Para conferir o original, acesse o site https://www2.tjal.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0734902-69.2021.8.02.0001 e código 5593D6B.
Juízo de Direito - 16ª Vara Cível da Capital / Fazenda Estadual
Av. Presidente Roosevelt, 206, Fórum Desembargador Jairon Maia Fernandes,
Barro Duro - CEP 57045-900, Fone: 3218-3506, Maceió-AL - E-mail:
vcivel16@tj.al.gov.br

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARIA ESTER FONTAN CAVALCANTI MANSO, liberado nos autos em 17/12/2021 às 14:40 .
resta o controle judicial4 até mesmo para reconhecimento de quando ele não é possível
para garantir a reserva de administração.
Os atos administrativos vinculados são aqueles em que a lei utiliza de uma
linguagem determinada ao especificar os requisitos do ato de forma preestabelecida.

Nessa categoria de atos, as imposições legais absorvem, quase que


por completo, a liberdade do administrador, uma vez que sua ação
fica adstrita aos pressupostos estabelecidos pela norma legal para a
validade da atividade administrativa.5

A disciplina normativa procura abarcar todos os elementos do ato, de modo a


que o aplicador apenas utilize de juízo de subsunção do fato à previsão abstrata legal,
buscando eliminar ao máximo o grau de liberdade ou subjetividade do intérprete.

4 “Assim, como ao Judiciário compete fulminar todo comportamento ilegítimo da Administração que
apareça como frontal violação da ordem jurídica, compete-lhe, igualmente, fulminar qualquer
comportamento administrativo que, a pretexto de exercer apreciação ou decisão discricionária,
ultrapassar as fronteiras dela, isto é, desbordar dos limites de liberdade que lhe assistiam, violando,
por tal modo, os ditames normativos que assinalam os confins da liberdade discricionária”.
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 17 ed. São Paulo:
Malheiros, 2004. p. 861. “De fato, o exercício da discricionariedade administrativa pode resultar
viciado por abusividade (arbitrariedade por excesso) ou por inoperância (arbitrariedade por omissão).
Em ambos os casos é violado o princípio da proporcionalidade, que determina ao Estado Democrático
não agir com demasia, tampouco de maneira insuficiente, na consecução dos objetivos
constitucionais”. FREITAS, Juarez. Discricionariedade Administrativa e o Direito Fundamental à
Boa Administração Pública. 2 ed. São Paulo: Malheiros, 2009. p. 64.
5 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 43. Ed. São Paulo: Malheiros, 2018. p.
196..
fls. 104

Para conferir o original, acesse o site https://www2.tjal.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0734902-69.2021.8.02.0001 e código 5593D6B.
Juízo de Direito - 16ª Vara Cível da Capital / Fazenda Estadual
Av. Presidente Roosevelt, 206, Fórum Desembargador Jairon Maia Fernandes,
Barro Duro - CEP 57045-900, Fone: 3218-3506, Maceió-AL - E-mail:
vcivel16@tj.al.gov.br

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARIA ESTER FONTAN CAVALCANTI MANSO, liberado nos autos em 17/12/2021 às 14:40 .
Um exemplo característico de ato administrativo vinculado é aquele que impõe
sanções administrativas.6
No campo do Direito Administrativo Sancionador, a vinculação da atividade do
administrador, a exemplo do Processo Administrativo Disciplinar, está interligada com
o conteúdo do ato a ser expedido, já a obrigatoriedade condiz com a prática do ato. Esta
imperatividade impõe que o agente promova a edição do ato, quando dele tenha
conhecimento7. A vinculação ao conteúdo do ato traz à tona a modalidade especial de
redução da liberdade do administrador na área circunscrita ao Direito Sancionador, com
a conformação que encerra o princípio da legalidade nesse ramo delicado do direito.
Tratando-se de ato administrativo que limita ou restringe direitos, o princípio da
legalidade, para além de uma função de bloqueio, de proteção dos direitos dos cidadãos
pela redução da liberdade do administrador, desponta para uma função positiva de
delimitação da área de atuação, fixando precisamente a conduta do administrador, no
que procura, dentre outros fins, eliminar a subjetividade e discricionariedade na
expedição do ato, na conformidade do princípio da tipificação. Tanto o fundamento da
conduta quanto o critério de decisão no caso concreto estão contidos na lei. O juízo
que o administrador faz, na concretude, é apenas de subsunção da situação de fato à
previsão da lei, independentemente de valoração pessoal.8
Ocorre que a substituição do conceito central de legalidade administrativa pelo
6 Lei Estadual nº 5.247/91:
Art. 129. São penalidades disciplinares:
I – advertência;
II – suspensão;
III – demissão;
IV – cassação de aposentadoria ou disponibilidade;
V – destituição de função comissionada.
7Lei Estadual nº 5.247/91:
Art. 145. A autoridade que tiver ciência de irregularidade no serviço público é obrigada a promover a sua
apuração imediata, mediante sindicância ou processo administrativo disciplinar, assegurada ao
acusado ampla defesa.
8 Xavier, Alberto. Os princípios da legalidade e da tipicidade da tributação. São Paulo: Revista dos
Tribunais. 1978. p. 38.
fls. 105

Para conferir o original, acesse o site https://www2.tjal.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0734902-69.2021.8.02.0001 e código 5593D6B.
Juízo de Direito - 16ª Vara Cível da Capital / Fazenda Estadual
Av. Presidente Roosevelt, 206, Fórum Desembargador Jairon Maia Fernandes,
Barro Duro - CEP 57045-900, Fone: 3218-3506, Maceió-AL - E-mail:
vcivel16@tj.al.gov.br

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARIA ESTER FONTAN CAVALCANTI MANSO, liberado nos autos em 17/12/2021 às 14:40 .
princípio da juridicidade da Administração Pública, de vinculação aos princípios
constitucionais, em especial os de natureza administrativa como posto na Constituição
Federal no art. 37, faz com que o aplicador não apenas se refira as regras fixadas na lei
para edição do ato administrativo, mas, também, aos princípios constitucionais. Isso
muda essencialmente a configuração tradicional do ato administrativo vinculado que
tinha uma formatação mais precisa e delimitada previamente pela lei e, o administrador,
ao aplica-la, apenas fazia o juízo de subsunção de forma simples. Este exercício puro e
simples de subsunção por vezes torna-se insuficiente ou violador de princípios
constitucionais. Portanto, a atuação do administrador deve considerar os princípios
constitucionais de natureza mais aberta e indeterminada.

A configuração da Administração Pública como destinatária de


incumbências constitucionais em matéria de defesa da juridicidade e
de concretização do bem-estar, envolvendo uma vinculação directa ao
imperativo constitucional de eficiência, permite encontrar na própria
Constituição um critério teleológico de actuação administrativa: os
órgãos administrativos, encontrando-se subordinados à Constituição e
vinculados à melhor prossecução do interesse público, devem
optimizar as suas decisões à concretização prioritária e prevalecente
dos interesses definidos pelo texto constitucional como tarefas
fundamentais do Estado, servindo a Constituição de referencial
normativo imediato de actuação administrativa e critério aferidor da
respectiva validade(...). Mesmo existindo lei, as normas
constitucionais em causa surgem como critério orientador imediato
da interpretação, integração e aplicação de todos os actos
infraconstitucionais por parte da Administração Pública(...).9

No plano legislativo, a lei geral do processo também consolidou uma atuação


ampla para o administrador ao indicar a utilização dos princípios da proporcionalidade,

9 OTERO, Paulo. Legalidade e Administração Pública: O Sentido da Vinculação Administrativa à


Juridicidade. Coimbra: Almedina, 2011. p. 740/741.
fls. 106

Para conferir o original, acesse o site https://www2.tjal.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0734902-69.2021.8.02.0001 e código 5593D6B.
Juízo de Direito - 16ª Vara Cível da Capital / Fazenda Estadual
Av. Presidente Roosevelt, 206, Fórum Desembargador Jairon Maia Fernandes,
Barro Duro - CEP 57045-900, Fone: 3218-3506, Maceió-AL - E-mail:
vcivel16@tj.al.gov.br

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARIA ESTER FONTAN CAVALCANTI MANSO, liberado nos autos em 17/12/2021 às 14:40 .
da razoabilidade e da atuação conforme a lei e o direito, dentre outros.10 Não obstante o
poder conferido no art. 2º, da Lei nº 9.784/99, o administrador ainda faz pouco uso de
seus comandos que atendem às exigências de doutrinas mais atualizadas. De regra,
continua a manter a interpretação da legalidade estrita sem contraponto com as normas
Constitucionais. Constitui uma prática dos agentes administrativos não assumirem a
responsabilidade de uma interpretação mais ampla na produção de atos administrativos,
deixando esse espaço para o judiciário, quando provocado.
O ato administrativo que aplica sanção, alçado como um exemplo de ato
vinculado e obrigatório, também sofre a influência do princípio da juridicidade. Como
ato administrativo, a sanção deve se conformar com os princípios constitucionalizados
da administração pública; com as regras e princípios constitucionais da legalidade,
desdobrando-se no devido processo legal, na proporcionalidade, em especial naqueles
casos cujos efeitos são potencialmente irreversíveis. A relação de compatibilidade que
se observa não é apenas de legalidade com o contraponto do ato administrativo com a
lei, na acepção de norma infraconstitucional; é mais que isso: importa na averiguação de
consonância com as normas constitucionais. Não é mais o juízo de identificação do
direito com a lei, de uma legalidade estrita, mas do reconhecimento do direito pautado
na lei e nos princípios constitucionais, "ocorre a substituição da idéia de legalidade
administrativa pelo princípio da juridicidade da Administração Pública".11

10 Em relação ao judiciário, Larenz anota que o Tribunal Constitucional Federal Alemão


discutiu o alcance da expressão “justiça vinculada à lei e ao direito”, para concluir que o direito
não se identifica com as leis escritas, podendo, em algumas circunstâncias, existir um mais de
direito, é dizer, que tenha as suas “fontes na ordem jurídica conforme a Constituição, como um
todo de sentido e que pode operar como correctivo da lei escrita; achá-lo e realizá-lo em
resoluções é tarefa da jurisprudência”. LARENS, Karl. Metodologia da Ciência do Direito.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997. p. 522/523.
11 Germana de Oliveira Moraes. Controle Jurisdicional da Administração Pública. São Paulo: Dialética.
1999. p. 24.
fls. 107

Para conferir o original, acesse o site https://www2.tjal.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0734902-69.2021.8.02.0001 e código 5593D6B.
Juízo de Direito - 16ª Vara Cível da Capital / Fazenda Estadual
Av. Presidente Roosevelt, 206, Fórum Desembargador Jairon Maia Fernandes,
Barro Duro - CEP 57045-900, Fone: 3218-3506, Maceió-AL - E-mail:
vcivel16@tj.al.gov.br

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARIA ESTER FONTAN CAVALCANTI MANSO, liberado nos autos em 17/12/2021 às 14:40 .
É claro que não é em todos os casos em que imprescindível ao administrador
recorrer à Constituição, notadamente naqueles que não tenham uma disciplina
específica na Constituição. No mais, boa parte dos atos administrativos terá que partir
de uma aferição constitucional para a lei ou ato normativo, o que vai implicar numa
interpretação da lei conforme a Constituição. Daí que aquele ato vinculado que teria
uma mera subsunção do fato à previsão legal passa a exigir uma decisão com um nível
de interpretação ampliada, o que não mais afasta um espaço de criatividade do
intérprete administrador e aquele intento de redução da subjetividade.

Ocorre que, mesmo nos atos vinculados, existe um campo de


liberdade residual. Está claro e indisputável que há atividades
administrativas fortemente vinculadas, como sucede, expressamente,
com a cobrança de tributos (CTN, art. 3º), mas a vinculação, no
mundo concreto, está condicionada não só a legalidade, que afugenta
os juízos de conveniência, senão que à totalidade daquelas alavancas
de Arquimedes do Direito, que são os princípios constitucionais,
entendidos na sua dimensão superior. Assim, haverá de sempre ser
tomado em consideração o princípio da legalidade, porém de modo
jamais excludente ou inflacionado a ponto de depreciar ou
desvincular a autoridade administrativa dos demais princípios. A
reserva legal não pode ser a negação da fundamentalidade dos
princípios....( ) . Ter-se-á, pois, de controlar o ato administrativo
como estando, em maior ou menor intensidade, vinculado não apenas
à legalidade, senão que à totalidade dos princípios regentes das
relações jurídico-administrativas, mormente os de vulto
constitucional.12

12
FREITAS, Juarez. O controle dos atos administrativos e os princípios fundamentais. 3 ed. São Paulo:
Malheiros, 2004. p. 212/213.
OTERO, Paulo. Legalidade e Administração Pública: O Sentido da Vinculação Administrativa à
Juridicidade. Coimbra: Almedina, 2011. p. 740/741
fls. 108

Para conferir o original, acesse o site https://www2.tjal.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0734902-69.2021.8.02.0001 e código 5593D6B.
Juízo de Direito - 16ª Vara Cível da Capital / Fazenda Estadual
Av. Presidente Roosevelt, 206, Fórum Desembargador Jairon Maia Fernandes,
Barro Duro - CEP 57045-900, Fone: 3218-3506, Maceió-AL - E-mail:
vcivel16@tj.al.gov.br

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARIA ESTER FONTAN CAVALCANTI MANSO, liberado nos autos em 17/12/2021 às 14:40 .
A consequência dessa compreensão é que o processo de decisão
administrativa,13 mesmo no ato vinculado, se torna mais complexo, a exigir uma maior
fundamentação que transpassa o modelo de subsunção.
No âmbito punitivo, a Constituição tutela os valores mais caros à sociedade
dentro de um sistema de garantias constritivas ao arbítrio Estatal. Essa sistemática se
traduz em uma gama de princípios caracterizados por serem vetores hermenêuticos para
a interpretação do ordenamento jurídico punitivo.

É preciso assentar que a verdadeira unidade do Direito sancionador


repousa nas cláusulas constitucionais comuns ao Direito Penal e ao

13 “A Administração Pública, no desempenho regular de suas atribuições, pratica atos,


formaliza contratos e conduz procedimentos administrativos, impulsionada pela escolha entre
agir e não agir, que sopesa os custos e os benefícios, diretos e indiretos, de cada opção, no
intuito de materializar determinada entre alternativas de fazer ou não fazer, que antecede atos,
contratos ou procedimentos administrativos, levada a termo por agentes públicos”. FREITAS,
Juarez; MOREIRA, Rafael Martins Costa. Decisões administrativas: conceito e controle
judicial da motivação suficiente. Interesse Público – IP, Belo Horizonte, ano 17, n. 91, p.
15-26, maio/jun. 2015.
fls. 109

Para conferir o original, acesse o site https://www2.tjal.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0734902-69.2021.8.02.0001 e código 5593D6B.
Juízo de Direito - 16ª Vara Cível da Capital / Fazenda Estadual
Av. Presidente Roosevelt, 206, Fórum Desembargador Jairon Maia Fernandes,
Barro Duro - CEP 57045-900, Fone: 3218-3506, Maceió-AL - E-mail:
vcivel16@tj.al.gov.br

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARIA ESTER FONTAN CAVALCANTI MANSO, liberado nos autos em 17/12/2021 às 14:40 .
Direito Administrativo, pois ainda que tais cláusulas não veiculem
conteúdos idênticos, “também veiculam conteúdos mínimos
obrigatórios, onde repousa a ideia de unidade mínima a vincular
garantias constitucionais básicas aos acusados em geral. 14

Tratando-se de concurso público estadual, a Lei nº 7.858/2016 dispõe sobre as


normas gerais para a sua realização. Ao administrador e à instituição organizadora cabe
garantir a lisura e a regularidade do certame (art. 3º §1º) e o candidato que cometer
infração durante a realização das provas deverá ser eliminado (art. 33, parágrafo único).
Via de regra, delimitada a irregularidade, deverá ser eliminado o candidato que a
praticou. A exceção é trazida pelo art. 82 da citada lei ao dispor que o concurso deverá
ser anulado quando constatada “inconstitucionalidade, quebra de sigilo e favorecimento
pessoal (...)”.
Em que pese o edital nº 06 tenha cancelado as etapas até então realizadas para o
cargo de Soldado do Corpo de Bombeiros, a nomenclatura não se demonstra a mais
adequada para os efeitos jurídicos consequentes. Em verdade, a administração anulou
as provas realizadas por todos os candidatos e deixou em aberto novo cronograma a
ser fixado para reaplicação das provas.
O ato está fundamentado no Inquérito Policial nº 8458/2021 – GRE/DEIC e na
constatação de ação criminosa de um grupo de candidatos. A motivação utiliza como
fundamento um procedimento sigiloso e o argumento aberto e indeterminado de
constatação de ação criminosa de um grupo de candidatos.
Como dito, formalmente o ato administrativo editado carece de fundamentação
adequada para as consequências que impõe. Ao utilizar como fundamentação um
inquérito sigiloso e argumento impreciso de ação criminosa de um grupo de
candidatos, não dispõe de elementos suficientes para atender ao requisito essencial de
14 Guardia, G. E. R. S. (2014). Princípios processuais no direito administrativo sancionador: um
estudo à luz das garantias constitucionais. Revista Da Faculdade De Direito, Universidade De São
Paulo, 109, 773-793.
fls. 110

Para conferir o original, acesse o site https://www2.tjal.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0734902-69.2021.8.02.0001 e código 5593D6B.
Juízo de Direito - 16ª Vara Cível da Capital / Fazenda Estadual
Av. Presidente Roosevelt, 206, Fórum Desembargador Jairon Maia Fernandes,
Barro Duro - CEP 57045-900, Fone: 3218-3506, Maceió-AL - E-mail:
vcivel16@tj.al.gov.br

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARIA ESTER FONTAN CAVALCANTI MANSO, liberado nos autos em 17/12/2021 às 14:40 .
motivação exigido pelo art. 50, I, II e III, da Lei nº 6.161/200015, por se enquadrar no
conceito normativo de ato restritivo de direitos ou interesses e que aplica sanções em
concurso público. Demais, a ausência da motivação precisa dificulta o seu controle pelo
judiciário e inviabiliza o direito de defesa.
Nessa linha de pensamento expõe Raquel Melo Urbano de Carvalho :

Ter ciência da motivação que levou um agente a determinada ação ou


omissão consiste em necessidade inerente ao ser humano. Outrossim,
conhecer os fundamentos da conduta pública corrobora no
convencimento à sua observância.
(...)
A ausência de motivação, além de impedir até mesmo o controle do
comportamento administrativo, compromete princípios
constitucionais como contraditório e a ampla defesa. Com efeito, sem
investigar as razões de fato e de direito que embasaram a conduta
administrativa mostra-se impossível aferir, p. ex., a ocorrência, ou
não, de desvio de poder ou qualquer outro comportamento arbitrário.
Somente em face da motivação é possível analisar a razoabilidade do
motivo invocado perante a norma incidente na espécie, a moralidade
de cada opção estatal e a boa-fé objetiva administrativa.

E por esta dificuldade de acesso foi deferido o pedido da Defensoria Pública


para encaminhamento dos inquéritos como premissa para analisar o pedido de tutela
antecedente. Assim, passo a analisar os motivos que ensejaram a anulação das etapas do
certame.
Inicialmente a invalidade do ato administrativo que anulou o concurso já se
demonstra pela ausência manifesta de fundamentação ou de uma fundamentação
meramente genérica que não satisfaz os requisitos da lei, restando ilegal na forma do

15 Lei nº 6.161/2000:
Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos
jurídicos, quando:
I – neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
II – imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
III – decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública;
fls. 111

Para conferir o original, acesse o site https://www2.tjal.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0734902-69.2021.8.02.0001 e código 5593D6B.
Juízo de Direito - 16ª Vara Cível da Capital / Fazenda Estadual
Av. Presidente Roosevelt, 206, Fórum Desembargador Jairon Maia Fernandes,
Barro Duro - CEP 57045-900, Fone: 3218-3506, Maceió-AL - E-mail:
vcivel16@tj.al.gov.br

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARIA ESTER FONTAN CAVALCANTI MANSO, liberado nos autos em 17/12/2021 às 14:40 .
art. 2º, alínea D, da lei nº 4.717/65 que conceitua esse formato de ilegalidade ao
prescrever que “a inexistência dos motivos se verifica quando a matéria de fato ou de
direito, em que se fundamenta o ato, é materialmente inexistente ou juridicamente
inadequada ao resultado obtido”.
Apesar disso, e para uma análise mais acurada da probabilidade do direito,
mantendo-se o sigilo das informações contidas no inquérito, é bastante analisar a
coerência entre o ato administrativo de anulação das etapas do certame e as
investigações da Polícia Civil.
As investigações indicam a prática de fraude em diversos concursos públicos,
inclusive neste concurso para Soldado do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de
Alagoas. A fraude consistiu em fornecer ao candidato, no momento da aplicação da
prova, o gabarito das questões através mensagens de texto e ponto eletrônico. O
trabalho investigativo é denso e minucioso. Com a quebra do sigilo autorizada
judicialmente na seara criminal, a Polícia Civil identificou os candidatos que enviaram e
receberam mensagens de texto no momento de aplicação da prova além da degravação
de ligações e outras informações que parecem mais relevantes para o âmbito criminal.
No que importa para a presente ação, merece especial atenção a delimitação da
fraude. O modus operandi consistia em fornecer as respostas para o candidato por ponto
eletrônico instalado em seu ouvido. As investigações da Polícia Civil, ainda que não
concluídas de forma definitiva, indicam precisamente os nomes dos candidatos
envolvidos na fraude. Somam-se às investigações a sindicância realizada internamente
pela CEBRASPE, trabalho este considerado pelos Delegados como “um importante
estudo acerca do padrão de respostas de indivíduos suspeitos” com “conclusões
relevantes para a investigação” que indicam candidatos que apresentaram padrões de
respostas que fogem do padrão e suspeita de uso de meios fraudulentos. (fls. 26 do
relatório parcial da Polícia Civil datado de 30/10/2021).
fls. 112

Para conferir o original, acesse o site https://www2.tjal.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0734902-69.2021.8.02.0001 e código 5593D6B.
Juízo de Direito - 16ª Vara Cível da Capital / Fazenda Estadual
Av. Presidente Roosevelt, 206, Fórum Desembargador Jairon Maia Fernandes,
Barro Duro - CEP 57045-900, Fone: 3218-3506, Maceió-AL - E-mail:
vcivel16@tj.al.gov.br

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARIA ESTER FONTAN CAVALCANTI MANSO, liberado nos autos em 17/12/2021 às 14:40 .
Em sindicância realizada pelo CEBRASPE, consta nota técnica com detalhado
estudo estatístico para detectar irregularidades na prova para Soldado Bombeiro Militar.
Foi realizada a análise do comportamento dos candidatos através das suas respostas na
prova objetiva de Soldado Bombeiro (momento da fraude). Baseado em técnica
identificada como Teoria Clássica dos Testes (TCT) e Teoria da Resposta ao Item
(TRI), o CEBRASPE identificou um padrão de respostas não esperadas em algumas
questões respondidas pelos candidatos com alto desempenho, identificando 11
candidatos convocados para o TAF cujas inscrições são as de nº 100282341,
100200631, 100283451, 100248731, 100285141, 100126901, 100155511, 100136021,
100316481, 100256891 e 100303461 (fls. 06 do Ofício CEBRASPE nº 003242/2021,
correspondente às fls. 1.904 do documento enviado pelo DEIC nestes autos).
Em Ofício nº 003336/2021, o CEBRASPE encaminha ao Delegado o relatório
final da sindicância, afirmando ter constatado “indícios de utilização de mecanismo
ilícito (ponto eletrônico), por parte de um grupo de candidatos, na realização das
provas objetivas (...)”. Ao final, a Diretora-Geral do CEBRASPE informou aguardar os
resultados da investigação para, uma vez confirmados os achados da sindicância, aplicar
o item 15.27 do Edital, que assim dispõe:

15.27 Se, a qualquer tempo, for constatado, por meio eletrônico,


estatístico, visual, grafológico ou por investigação policial, que o
candidato se utilizou de processo ilícito, suas provas serão anuladas e
ele será automaticamente eliminado do concurso público.

De posse do relatório da comissão de sindicância do CEBRASPE, a autoridade


competente para impor a penalidade, o Secretário do Estado, em contrariedade ao
apurado pela comissão, decidiu pela anulação das provas de todos os candidatos.
Ocorre que a atuação da autoridade recebe limitação pela utilização por analogia
do art. 178, da Lei nº 5.247/91, de modo que somente pode promover entendimento
fls. 113

Para conferir o original, acesse o site https://www2.tjal.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0734902-69.2021.8.02.0001 e código 5593D6B.
Juízo de Direito - 16ª Vara Cível da Capital / Fazenda Estadual
Av. Presidente Roosevelt, 206, Fórum Desembargador Jairon Maia Fernandes,
Barro Duro - CEP 57045-900, Fone: 3218-3506, Maceió-AL - E-mail:
vcivel16@tj.al.gov.br

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARIA ESTER FONTAN CAVALCANTI MANSO, liberado nos autos em 17/12/2021 às 14:40 .
diferente do editado pela comissão sindicante quando a conclusão for contrária às
provas dos autos. É o que prescreve o art. 178 da Lei nº 5.247/91, in verbis:

Art. 178. O julgamento louvar-se-á no relatório da comissão, salvo


quando contrário às provas dos autos.
Parágrafo único.- Quando o relatório da comissão contrariar as
provas dos autos, a autoridade julgadora poderá, motivadamente,
agravar a penalidade proposta, abrandá-la ou isentar o servidor de
responsabilidade.

Assim, para que a penalidade de anulação fosse aplicada para todos os


candidatos, a autoridade teria que fundamentar a sua decisão e especificamente
demonstrar a existência de provas suficientes que macule a seleção de todos os
candidatos. A questão não se põe no sentido de que a autoridade pode dar interpretação
divergente, mas que só pode assim proceder quando houver apreciação de prova em
contrariedade ao que se recepcionou.
Para fins de correção do ato até o momento inválido, a autoridade pode utilizar-
se dos dados da sindicância e do inquérito para aplicar a sanção de eliminação dos
candidatos envolvidos em fraude no concurso, o que não se justifica é a aplicação de
sanção contra os candidatos que não cometerem qualquer irregularidade. Utilizando de
um princípio de ordem penal, aqui adaptado à seara administrativa, a pena não pode
passar da pessoa do infrator (art. 5º, XLV, da Constituição Federal).

A ausência de fundamentação para excepcionar as conclusões da comissão,


indubitavelmente, macula o ato com o vício de nulidade, pela possibilidade de violação
ao dever de proporcionalidade da medida, bem como infringência à boa fé dos demais
concursandos que não teriam participado de qualquer ato fraudulento.
O fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação mostra-se patente
fls. 114

Para conferir o original, acesse o site https://www2.tjal.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0734902-69.2021.8.02.0001 e código 5593D6B.
Juízo de Direito - 16ª Vara Cível da Capital / Fazenda Estadual
Av. Presidente Roosevelt, 206, Fórum Desembargador Jairon Maia Fernandes,
Barro Duro - CEP 57045-900, Fone: 3218-3506, Maceió-AL - E-mail:
vcivel16@tj.al.gov.br

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARIA ESTER FONTAN CAVALCANTI MANSO, liberado nos autos em 17/12/2021 às 14:40 .
diante da iminência da realização de nova prova objetiva que submeta todos os
candidatos novamente à seleção.
Pelas razões expostas, defiro o pedido de tutela antecipada antecedente para
suspender o Edital nº 06 que determinou o cancelamento das etapas do concurso público
para provimento dos cargos de Soldado (praças) do Corpo de Bombeiros Militar de
Alagoas, para determinar que a administração se abstenha de realizar nova seleção até a
conclusão da investigação em curso na Polícia Civil, em relação ao referido concurso.
Intime-se o Réu, através do Secretário da SEPLAG, para imediato cumprimento.
Intime-se a Defensoria Pública para aditar a petição inicial, conforme art. 303,
§1º, inciso I do CPC.
Cite-se o Estado de Alagoas, através da PGE/AL, para, querendo, contestar a
presente demanda.
Apresentada contestação, intime-se o Autor, através da Defensoria Pública, para
apresentar réplica, no prazo de 15 dias.
Em seguida, dê-se vista ao Ministério Público pelo prazo legal.
Cumpridas as determinações, venham os autos conclusos para sentença.
Intimem-se. Cumpra-se.

Maceió , 17 de dezembro de 2021.

Maria Ester Fontan Cavalcanti Manso


Juíza de Direito

Você também pode gostar