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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

Procuradoria da República no Estado do Maranhão


12º Ofício Cível

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA 8ª VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO


ESTADO DO MARANHÃO

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Ref.: Inquérito Civil nº 1.19.000.001979/2021-49

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por intermédio do Procurador


da República signatário, com fulcro no art. 129, III, da Constituição Federal, no art. 5º, I,

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da Lei n.º 7.347/85 e no art. 6º, VII, “a” e “b” da Lei Complementar n.º 75/93, vem propor
AÇÃO CIVIL PÚBLICA, com pedido de liminar em face da

VITA ENERGIAS RENOVÁVEIS EIRELI (‘VIENERGY’), pessoa jurídica de


direito privado, CNPJ/MF sob o n° 22.149.166/0001-07, com sede na
Avenida Doutor Chucri Zaidan, n° 296, 23° andar, Vila Cordeiro, São
Paulo/SP, CEP 04.583-110 ou Rua Prof. Atílio Innocenti, 165 2º andar,
Itaim Bibi São Paulo/SP CEP 04552-000

ESTADO DO MARANHÃO, pessoa jurídica de direito público interno,


CNPJ 06.354.468/0001-60, a ser citado e intimado pelo seu órgão de
representação judicial (Procuradoria-Geral do Estado do Maranhão) com
endereço à Av. Presidente Juscelino Kubitschek, Lt. 25, Qd. 22 Quintas do
Calhau CEP.: 65072-280 São Luís (MA)

pelos fundamentos de fato e de direito a seguir expostos.

DO OBJETO DA AÇÃO

A ação civil pública destina-se à impugnação das licenças


ambientais concedidas para o complexo de geração de energia eólica do primeiro
requerido, no município de Tutóia/MA, no interior de Unidade de Conservação Federal

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(APA DELTA DO PARNAÍBA), concedida irregularmente pelo segundo requerido, através


da Secretaria Estadual de Meio Ambiente.

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Foram identificadas irregularidades:

1) quanto à localização do empreendimento, incorreta face ao


zoneamento da Unidade de Conservação, conforme o seu Plano de
Manejo – violação direta ao Art. 28 da Lei 9.985/2000 - SNUC;
2) o uso do licenciamento ambiental simplificado, quando o caso exigiria o
licenciamento completo e apresentação de Estudo de Impacto
Ambiental - EIA/RIMA – violação da resolução CONAMA 462/2014 e

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outros atos.
3) houve a ausência de autorização do ICMBio, para implantação do
empreendimento no interior de UC Federal – violação do Art. 36, §3º, da
Lei 9.985/2000 – SNUC.

A despeito das irregularidades identificadas, todas com relevante


capacidade de interferir no ecossistema e nos usos da Unidade de Conservação Federal,
as licenças foram concedidas, pelo que devem ter os seus efeitos cessados e a nulidade
reconhecida, evitando-se a instalação até a regularização.

DOS FATOS

O MPF recebeu representação1 oriunda do Instituto Chico Mendes de


Conservação da Biodiversidade, pela chefia da Área de Proteção Ambiental do Delta do
Parnaíba2, a noticiar a pretensão de empreendimento eólico na região de praias do

1Comunicação inicial: Ofício SEI nº 220/2021-APA Delta do Parnaíba/ICMBio, 13 de outubro de 2021 -


Documento 1.1
2 Cuida-se de área especialmente protegida criada pelo Decreto de 28 de agosto de 1996, com 309.591
hectares, nos Municípios de Luís Corrêa, Morro da Mariana e Parnaíba, no Piauí; Araioses e Tutóia, no
Maranhão; Chaval e Barroquinha, no Ceará, e nas águas jurisdicionais adjacentes.

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Município de Tutóia/MA, no interior da Unidade de Conservação Federal, com a instalação


de diversas torres de geração de energia, na faixa paralela à costa, especialmente na

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região conhecida como Arpoador.
Diante disso, foram solicitadas informações aos envolvidos e atendidos
eles em reuniões na Procuradoria da República no Maranhão, concluindo-se, com base
em Laudo (Laudo Técnico nº 129/2023-ANPMA/CNP) que analisou minudentemente o
licenciamento ambiental realizado pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente, que a
empresa responsável pelas atividades tencionadas (ainda não implantadas) procedeu à
localização do empreendimento sem atentar para a zoneamento da Unidade de

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Conservação, bem assim sem Estudo de Impacto Ambiental, substituído por relatórios
ambientais simplificados, a despeito do grande porte das instalações, ante o potencial de
produção de energia considerado.
O ICMBio sequer aprovou o empreendimento, embora situado no interior
da Unidade de Conservação. A Secretaria Estadual de Meio Ambiente licenciou a
atividade a despeito da autorização e da localização indevida no zoneamento da área
protegida3.
Em sendo assim, verifica-se que há vícios que, se não impedem a
implantação da usina de geração de energia eólica (acaso sanados), estão a exigir
diversas modificações da parte do empreendedor e do Estado do Maranhão, a fim de que
se possa conciliar a proteção do ambiente em Unidade de Conservação Federal e a
geração de energia elétrica, a prejudicar a validade dos atos administrativos já expedidos.

3 Cópia integral do procedimento 17080038477/2017 referente à licença prévia, bem como cópia incompleta
do procedimento 20060033643/2020, referente à Licença de Instalação

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Do empreendimento e suas principais características quanto ao porte

De acordo com as informações constantes no requerimento de licença


ambiental, a composição do empreendimento (Complexo Eólico Tutóia) compreende a
implantação de 40 aerogeradores, com a capacidade de produzir 240 MW de energia,
na localidade de Arpoador, na zona rural de Tutóia/MA, com entrada nas coordenadas
2° 45' 29,55''S/f42°18'24,30''O, mediante a seguinte distribuição espacial:

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De acordo com a apresentação do empreendimento constante no sítio
eletrônico da empresa, consta o Complexo Eólico Vienergy, com a seguinte descrição 4:

Complexo Eólico Vienergy Maranhão - 450 MW

Conhecida como a região com o melhor aproveitamento do recurso eólico do


território brasileiro, o Complexo Eólico Vienergy está localizado na região norte do
Estado do Maranhão, com uma potência instalada superando os 450 MW.
Com uma extensa campanha de monitoramento da região de 3 anos, todo o
desenvolvimento foi realizado pela integração de diversas equipes de especialistas
em recursos eólicos, engenharia, geografia, meio ambiente e desenvolvimento
social.
Garantindo o sucesso de toda a operação, a Vienergy vem firmando parcerias
com os mais respeitáveis fornecedores de equipamentos de geração, sistemas
elétricos, controle operacional, além de serviços especializados em infraestrutura e
manutenção para pleno atendimento às características do empreendimento.
4 Disponível em <http://www.vienergy.com.br/>, acesso em 30 de março de 2023

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Desta forma, a Vienergy acumulou uma sólida base de dados e parcerias de


sucesso, que comprovam a eficiência do empreendimento, sua viabilidade e
grandes retornos, tanto financeiros quanto para o desenvolvimento sustentável no
local.

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Esse empreendimento será realizado por meio de três Centrais Eólicas, a
EOL Tutóia I, II e III, na praia de Arpoador 5, que obteve Licença Prévia para realizar
estudos voltados à geração de energia elétrica, o qual descrevia a produção de
123,375MW, em área de 1.676,13hectares, com o uso de 47 aerogeradores, além de
licença prévia para a linha de transmissão associada, com 138 kV e sistemas associados
(Subestações SE Tutoia e Subestação SE Vienergy).

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Porém, verifica-se que, embora iniciadas no ano de 2011 as tratativas
com a SEMA para a implantação do empreendimento, tendo a primeira Licença Prévia
expedidas em 2011, o ato caducou na sequência, por não ter sido solicitada a
renovação pertinente naquele momento, mas somente tempos depois, acompanhada de
uma reformulação do projeto. Nesse período de validade inicial da licença prévia, não foi
solicitada a concessão da Licença de Instalação, nem realizada qualquer atividade no
local.
Ocorre que, nesse meio tempo, ao mesmo passo que ocorreu a
caducidade da licença ambiental (licença prévia), sobreveio a resolução CONAMA
462/2014, a qual estabeleceu os procedimentos necessários ao licenciamento
ambiental de Usinas Eólicas:
Art. 1 Esta Resolução estabelece critérios e procedimentos para o
licenciamento ambiental de empreendimentos de geração de energia elétrica
a partir de fonte eólica em superfície terrestre.
[...]
Art. 3 Caberá ao órgão licenciador o enquadramento quanto ao impacto
ambiental dos empreendimentos de geração de energia eólica, considerando
o porte, a localização e o baixo potencial poluidor da atividade.
5 O local foi ocupado em virtude do “Contrato de Arrendamento de Propriedades Rurais” entre a Associação
Comunitária dos Moradores e Pescadores de Arpoador e Vita Energia Renováveis LTDa, relativamente à
Área da Gleba Aropoador, Tutóia, matrícula 1.880 no L. 2-A-13, registro geral fls. 107 e verso, da Serventia
Estrajudicial do1o Ofício – Título e Domínio Comunitário 14304-SEDES/ITERMA, pelo prazo de 30 anos,
firmado pela VITA Energia e Adiel da Silva Lima (como presidente da Associação)

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§ 1 A existência de zoneamento ambiental e outros estudos que caracterizem a


região, bacia hidrográfica ou bioma deverão ser considerados no processo de
enquadramento do empreendimento.
§ 2 O licenciamento ambiental de empreendimentos eólicos considerados de baixo

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impacto ambiental será realizado mediante procedimento simplificado, observado
o Anexo II, dispensada a exigência do EIA/RIMA.
§ 3 Não será considerado de baixo impacto, exigindo a apresentação de Estudo
de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA), além de
audiências públicas, nos termos da legislação vigente, os empreendimentos
eólicos que estejam localizados:

I - em formações dunares, planícies fluviais e de deflação, mangues e demais


áreas úmidas;
III - na Zona Costeira e implicar alterações significativas das suas características
naturais, conforme dispõe a Lei nº 7.661, de 16 de maio de 1988;
IV - em zonas de amortecimento de unidades de conservação de proteção

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integral, adotando-se o limite de 3 km (três quilômetros) a partir do limite da
unidade de conservação, cuja zona de amortecimento não esteja ainda
estabelecida;
§ 4 Caberá ao órgão licenciador estabelecer os critérios de porte aplicáveis para
fins de enquadramento dos empreendimentos nos termos do caput deste artigo.

A localização do empreendimento dar-se-ia na localidade conhecida como


Arpoador, a qual foi aprovada por meio de licença prévia, concedida pela Secretaria
Estadual de Meio Ambiente, no ano de 2011, com validade até 2012. Então, o
documento teve a sua validade expirada, sem postulação de renovação, até o ano de
2014, quando passou por sucessivas reformulações no projeto, a modificar a localização
dos aerogeradores e sua quantidade, quando então foram expedidos novos documentos:

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Porém, problemas foram verificados e não foram considerados


adequadamente, na concepção do empreendimento, sua localização e inserção em

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Unidade de Conservação Federal, conforme se observa no licenciamento ambiental
(autos anexados, remetidos ao MPF pela SEMA) e analisados no parecer técnico Laudo
Técnico nº 129/2023-ANPMA/CNP.

Primeiro problema: Localização do Empreendimento em área não admitida para


essa finalidade, no Plano de Manejo, da Unidade de Conservação Federal

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A localização do empreendimento, no caso, é completamente irregular e
não passível de regularização, pois ele é previsto em lugar desconforme ao
zoneamento da UC instituído em Plano de Manejo, definido como Zona de Uso
Comunitário - ZUCO, na qual não admitida essa atividade.
Esse tipo de empreendimento seria possível, de acordo com o ICMBio,
apenas na Zona de Produção - ZPRO, local distinto do pretendido, onde expressamente
admitida a produção de energia eólica.
A licença ambiental concedida pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente
do Maranhão, a qual aprovou a localização do empreendimento, no povoado de Arpoador,
na região de praia de Tutóia/MA, no interior da APA Delta do Parnaíba, deveria considerar
especialmente Plano de Manejo, que estabelece o zoneamento do espaço, o qual foi
aprovado no ano de 2020, antes da concessão da Licença de Instalação e da
obtenção da autorização pelo ICMBio.
O plano de manejo é de observância legalmente vinculante, inclusive
quanto ao zoneamento nele instituído (Art. 28 da Lei nº 9.985/2000):

Art. 28. São proibidas, nas unidades de conservação, quaisquer alterações,


atividades ou modalidades de utilização em desacordo com os seus objetivos,
o seu Plano de Manejo e seus regulamentos.

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Conforme o Plano de Manejo, a respeito da definição e dos usos


possíveis nesse tipo de loca6:

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Zona de Uso Comunitário (ZUCO) Zona que contém ambientes naturais, podendo
apresentar alterações antrópicas, onde os recursos naturais já são utilizados pelas
comunidades ou que tenha potencial para o manejo destes, incluindo usos
florestais, pesqueiros e de fauna, quando possível.

Trata-se de atividade não prevista para essa região, mas sim para a
chamada zona de produção – ZPRO:

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Zona que compreende áreas com ocupação humana de baixa densidade, com
presença de moradias, visitação com alto grau de intervenção, atividades de

6Normas: 42. As atividades permitidas são: proteção, pesquisa, monitoramento ambiental, recuperação
ambiental, ocupação humana não concentrada e roças associadas, visitação de médio grau de intervenção
(a qual deve ser desenvolvida em compatibilidade com o uso de recursos naturais pelos moradores da UC)
e uso direto moderado dos recursos naturais, incluindo o manejo de fauna e flora nativa (previsto em
legislação vigente). São permitidas as infraestruturas necessárias para os usos previstos nesta zona. 43. A
extração de madeira do mangue pode ser autorizada excepcionalmente pela UC, somente para
comunidades de pescadores tradicionais e agricultores familiares nas hipóteses de utilidade pública, de
interesse social ou de baixo impacto ambiental, considerando suas necessidades familiares e comprovação
do uso para subsistência, sendo necessário consignar na autorização a real necessidade de subsistência do
solicitante, a inviabilidade de extração ou aquisição de outras essências madeireiras bem como orientações
que visem diminuir e desincentivar o uso de madeira do mangue. 44. São permitidas, a pesca de
subsistência, a pesca artesanal de pequeno porte e a pesca amadora, além da cata de crustáceos e
bivalves, fazendo-se o ordenamento específico, quando necessário. 45. É permitida a instalação de
infraestruturas necessárias ao desenvolvimento das atividades previstas nesta zona. 46. As estradas e vias
de acesso para escoamento da produção não poderão causar dano direto às zonas de Conservação e de
Uso Restrito. 47. As diferentes atividades de uso sustentável que requeiram regulação específica (retirada
de madeira para estaca e manejo de fauna) deverão ser normatizadas em planos específicos, em
conformidade com a legislação vigente e com as práticas já estabelecidas. 48. Somente serão permitidas
atividades de aquicultura utilizando espécies nativas e autorizadas pela UC. 49. É proibida a criação de
fauna exótica, assim definida na legislação, criações existentes nesta zona deverão se adequar no prazo de
dois anos. 50. A visitação em áreas públicas é permitida, quando for de médio grau de intervenção, devendo
avaliar as características locais e sociais, mediante ordenamento participativo e autorização da gestão da
UC. 51. A atividade de pesca de arrasto de camarão somente poderá ser permitida mediante ordenamento
pesqueiro específico que comprove baixo impacto sobre a fauna acompanhante e respeite a ocorrência de
peixe-boi-marinho (Trichechus manatus). 52. É proibida a pesca de arrasto de camarão nas bocas de barra.
53. É permitida a extração de areia, barro, cascalho e similares para confecção de artesanato, manutenção
e construção de infraestruturas para atividades permitidas e somente no interior desta zona, desde que não
causem impactos negativos na paisagem, nos recursos hídricos, nos processos ecológicos ou nas espécies
nativas e suas populações, apenas quando não houver alternativa de retirada em áreas externas a esta
zona

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produção e suas infraestruturas, com o incentivo de adoção de boas práticas de


conservação do solo e recursos hídricos e o uso sustentável dos recursos naturais
7
:

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Desse modo, verifica-se que o local pretendido é inadequado e foi
expressamente reprovado pelo ICMBio. Essa conclusão foi apresentada de forma didática
no Parecer Técnico do MPF:

a atividade em questão não poderia se desenvolver no local onde está prevista,


levando em conta o Plano de Manejo da APA do Delta do Parnaíba e teria que
demonstrar que obedece critérios de conservação e segurança e que não causa
alterações drásticas na biota local, de acordo com o estabelecido pelo decreto de

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criação da APA do Rio Preguiça

Por sua vez, vê-se que o empreendedor não tenciona qualquer alteração
e a SEMA não considerou essa informação (sobre o zoneamento) na renovação da
licença prévia e na concessão de licença de instalação 8.

A SEMA dispensou indevidamente a apresentação de Estudo de Impacto Ambiental


- EIA
O empreendimento teve a apresentação de Estudo de Impacto Ambiental
– EIA/RIMA dispensada e substituída por um relatório simplificado (RAS – Relatório
Ambiental Simpliciado) quando iniciado o licenciamento, nos anos de 2010/2011.
Na época, a SEMA considerou que, por se tratar de produção de energia
eólica, haveria baixo impacto ambiental. Assim, com base nessa atuação simplificada,
obteve-se a licença prévia, ato administrativo que aprovou a concepção e localização do
empreendimento, com suas características ambientais.
Essa aprovação já fora equivocada, à medida que não considerou o
zoneamento da Unidade de Conservação Federal (APA Delta do Parnaíba), situando a
7 PORTARIA Nº 827, DE 5 DE AGOSTO DE 2020 – ICMBIO – Aprova o Plano de Manejo da APA DELTA
DO PARNAÍBA, disponível em <https://www.gov.br/icmbio/pt-br/acesso-a-informacao/legislacao/portarias/
portarias-2020/portaria_833_6dez2020.pdf>, acesso em 19 de maio de 2023.
8 A Licença de Instalação 1037910/2022 foi concedida em 22/02/2022, com validade até 22/02/2024

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usina em local inadequado. Mas, ao lado disso, a SEMA não considerou adequadamente
as condições de implantação, a capacidade de gerar energia e o local, partindo de uma

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premissa genérica (equivocada) de que a geração de energia, por meio eólico, de forma
pura e simples, dispensaria a realização de estudos mais complexos.
Essa dispensa é indevida por que as geradores serão implantados no
interior de Unidade de Conservação Federal, com impacto direto em região de dunas,
planícies de deflação e lagoas interdunares, com vegetação de restigas, além de ter
grande potencial de energia elétrica, a gerar mais de 120 MW.

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(Aspecto da região, com dunas, vegetação de restinga e lagoas interdunares – constante no
ofício SEI nº 220/2021-APA Delta do Parnaíba/ICMBio, 13 de outubro de 2021)

De fato, é ao órgão ambiental que compete a avaliação discricionária


técnica sobre o porte e as características do empreendimento, mas atento aos aspectos
objetivos que resultam das características das usinas e das suas consequências para o
ambiente e para as pessoas ao redor, de forma que não se pode afirmar que haja uma
intervenção humana incapaz de ocasionar impactos. Pelo contrário, toda atividade
humana causa impactos, que devem ser avaliados, mensurados e ponderados quanto às

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vantagens, desvantagens e resultados, inclusiveem uma perspectiva de mitigação ou


compensação.

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Com efeito, o empreendimento tem diversas características objetivas que,
desde a delimitação ofertada pela resolução CONAMA 01/1986, já permitiriam
compreender não se tratar de instalações para a geração de energia de pequeno porte,
conforme o texto normativo:

Resolução CONAMA 01/1986


Artigo 2º - Dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e respectivo
relatório de impacto ambiental - RIMA, a serem submetidos à aprovação do órgão

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estadual competente, e do IBAMA e em caráter supletivo, o licenciamento de
atividades modificadoras do meio ambiente, tais como:

Xl - Usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia


primária, acima de 10MW;

Ainda que se considerasse a discricionariedade técnica do órgão


ambiental, desde o início o porte energético do empreendimento deixava claro que não se
tratava de baixo impacto, bem assim a sua localização na zona costeira (entre dunas,
restingas e planícies de deflação e lagoas interdunares) além de diretamente inseridos em
Unidade de Conservação Federal. Mesmo face a essas características, o procedimento
foi simplificado, para admitir um Relatório Ambiental Simplificado – RAS.
Mas, de forma a afastar qualquer dúvida sobre o enquadramento do
empreendimento, foram editados dois atos normativos: um, estadual, consistente na
Portaria SEMA 74/20139; outro, de caráter nacional, a resolução CONAMA 462/2014 10,

9. Conforme a Portaria 74/2013, editada pelo Secretário Estadual de Meio Ambiente do Maranhão, com a
finalidade de orientar o licenciamento de produção de energia eólica e solar, os empreendimentos com
capacidade de geração acima de 50 MW seriam considerados de grande porte, a originar a
necessidade de EIA/RIMA (Art. 2º – Tabela descritiva do porte dos empreendimentos)
10. A resolução CONAMA indicada não submeteu a necessidade de apresentação de EIA/RIMA, no
licenciamento ambiental, a uma caracterização baseada na quantidade objetiva de energia gerada, mas sim
descreveu as características do empreendimento quanto a sua localização e impactos, conforme será
explicado mais adiante, a indicar expressamente que a afetação de ecossistemas costeiros de dunas,
planícies de deflação e mesmo a afetação de zonas de amortecimento de Unidades de Conservação
tornaria objetivamente exigível o estudo mais completo, vedada a substituição por modalidade simplificada.

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os quais, para além de estabelecerem parâmetros objetivos quanto à caracterização do


porte dos empreendimentos, deixaram consignada a indispensabilidade do EIA/RIMA,

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para casos desse jaez (considerando a capacidade de geração de energia superior a 100
MW das Usinas de Tutóia e sua localização).
Dentre as hipóteses da resolução CONAMA 462/2014, para as quais não
se considera o empreendimento de baixo impacto, encontram-se os casos de localização
na zona costeira, quando sobrepostos a região de dunas, restingas e planícies de
deflação, as quais caracterizam o espaço, conforme manifestação técnica da
Superintendência de Patrimônio da União no Maranhão – SPU/MA.

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Mas, ainda assim, a SEMA dispensou a superveniente exigência de
EIA/RIMA, a despeito de as licenças prévias originais terem caducado e o procedimento
de licenciamento sido arquivado; o pedido de continuidade foi renovado apenas em 2014,
com a reformulação do projeto, quando já lançados os novos parâmetros.
Mesmo em face da necessidade de segurança jurídica aos
empreendimentos já licenciados e da faculdade de se conceder continuidade aos
procedimentos já iniciados sob a regras antigas, instituída pelo art. 18 da resolução
CONAMA 462/2014, a dispensa de EIA não poderia ser aplicada, considerando as
circunstâncias do caso concreto.
Em primeiro lugar, não se pode admitir a continuidade, porque a licença
prévia simplesmente caducou, sem renovação tempestiva 11. O procedimento original foi
arquivado por mais de dois anos, até que em 2014 sobreveio o pleito de renovação, a
resultar em licença expedida em 2016. Conforme o histórico elaborado pelo próprio
empreendedor:
11Ainda quanto a concessão da Licença Prévia, observa-se que houve manifesto desatendimento ao
disposto no art. 18, I, da Resolução CONAMA nº 237/97, tendo em vista que foi admitido prazo de validade
superior aos cinco anos ali previsto, pois a primeira LP foi concedida em 19/10/2011 e a última teve
validade até 27/06/2020. Logo, considerando que houve manifesta exploração do prazo da LP, não poderia
ela ser objeto de renovação, devendo o procedimento ser reiniciado para garantir o atendimento ao prazo
regulamentar. Observa-se que não se trata de mera formalidade, mas de medida destinada a proteger o
meio ambiente local, de modo a evitar que a licença tenha vigência indefinida, pois sua concessão depende
da análise das condições ambientais em uma determinada época.

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(Resposta da empresa à SEMA, quando o Estado exigiu o
EIA; a partir dessa resposta, no licenciamento ambiental, o
órgão público dispensou o estudo ambiental necessário -
processo 20060033643/2020 – E-processos 82514/2020 –
pg. 405/412)

Não é possível conferir sobrevida a um ato administrativo que, realizado


no ano de 2011, caducou sem produzir efeitos em virtude do arquivamento e falta de
pedido tempestivo de renovação, além de todas as supervenientes modificações do
projeto, quando já vigente o novo regramento.
Ou seja, para garantir uma correta avaliação das condições ambientais de
determinada localidade, foram definidos prazos máximos de validade da licença prévia, de
modo a evitar que sejam acobertadas situações não previstas ou até não existentes em

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momento anterior. Justamente por isso, não se pode simplesmente prorrogar


indefinidamente uma licença que teve a sua validade temporalmente limitada, sendo

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consequência lógica da determinação normativa (e do prazo de validade do ato) a
necessidade de considerar a nova realidade (superada com o decurso do prazo de cinco
anos). É importante consignar que a própria SEMA reconhece a ilegalidade:

Portanto, a vigência da licença ambiental do presente processo, de acordo com a


Resolução CONAMA nº 237/1997)art. 18, inciso I e parágrafo 1º) considerando
que a primeira LP expedida para a presente atividade é de 19 de setembro de
2011, entende-se que a mesma não poderia ser prorrogada, pois o prazo
transcende o estabelecido pela legislação. (Parecer constante em Anexo,

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Documento 1.10, Página 35 – fls. 2915).

Sequer é possível falar em “ato jurídico perfeito” na hipótese, pois este se


caracteriza como ato já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou e,
no presente caso, há expressa previsão de prazo para sua validade, não sendo possível
admitir que ele continue a produzir efeitos após o decurso desse tempo .
Em segundo lugar, e mais importante, o empreendimento nunca
poderia ter sido caracterizado como de pequeno porte, pois ele distoa de qualquer
dos parâmetros que foram considerados, nas regulamentações subsequentes, para a
definição de baixo impacto, pela quantidade de aerogeradores, pela localização na faixa
de dunas e restingas, pelo potencial de produção de energia elétrica elevada. Foi uma
avaliação incorreta desde o início.
Isso foi reconhecida pela SEMA, em pareceres jurídicos:

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(Pedido de manifestação do setor técnico da SEMA à Assessoria Jurídica
do órgão – processo 20060033643/2020 – E-processos 82514/2020 – pg.
392 – numeração do processo original)

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(Parecer Jurídico da SEMA no processo 20060033643/2020 – E-processos


82514/2020 – pg. 400 – numeração do processo original)

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Porém, o órgão ambiental concedeu a Licença de Instalação 12,


desconsiderando os pareceres jurídicos emitidos.

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Verifica-se, portanto, que um empreendimento com elevado potencial de
geração de energia, inserido em ambientes sensíveis, em localização contrária ao
zonemento da Unidade de Conservação Federal, teve a realização de Estudo de Impacto
Ambiental dispensada, mesmo após advertências da assessoria jurídica da SEMA.

Da falta de autorização do órgão gestor da Unidade de Conservação Federal para


implantação da Usina Eólica, no interior da APA do Delta do Parnaíba.

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Ocasionamento de prejuízos concretos, diante da implantação em local contrário ao
zoneamento do plano de manejo.

De acordo com a exigência da Lei 9.985/2000, que instituiu o Sistema


Nacional de Unidade de Conservação, a implantação de empreendimento no interior de
Unidade de Conservação Federal depende de autorização expressa do órgão ou
instituição gestor do espaço, no caso o ICMBio.

Art. 36. Nos casos de licenciamento ambiental de empreendimentos de


significativo impacto ambiental, assim considerado pelo órgão ambiental
competente, com fundamento em estudo de impacto ambiental e respectivo
relatório - EIA/RIMA, o empreendedor é obrigado a apoiar a implantação e
manutenção de unidade de conservação do Grupo de Proteção Integral, de acordo
com o disposto neste artigo e no regulamento desta Lei.

§ 3o Quando o empreendimento afetar unidade de conservação específica ou


sua zona de amortecimento, o licenciamento a que se refere o caput deste
artigo só poderá ser concedido mediante autorização do órgão responsável
por sua administração, e a unidade afetada, mesmo que não pertencente ao
Grupo de Proteção Integral, deverá ser uma das beneficiárias da compensação
definida neste artigo.

12A Licença de Instalação 1037910/2022 foi concedida em 22/02/2022, com validade até 22/02/2024

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Conforme mapa apresentado pelo ICMBio, a localidade Arpoador está


integralmente na APA Delta do Parnaíba, mais especificamente em sua Zona de Uso

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Comunitário, no qual não permitido esse uso. A SEMA porém desconsiderou a
competência da autarquia federal, ao aprovar o empreendimento a sua revelia e, pior
ainda, em contrariedade com o plano de manejo e as zonas que instituiu.
Deve-se observar que o Plano de Manejo foi aprovado no ano de 2020,
na pendência da renovação de licença prévia e antes da concessão da licença de
instalação, sem que se possa falar em direito adquirido do empreendedor à implantação
contrariamente às regras de uso da Unidade de Conservação Federal (local proibido),

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ante a previsão do Art. 19 da Resolução CONAMA 237/1997 13 e da Súmula 613 do
STJ14 (vedação do fato consumado em matéria ambiental e do direito adquirido à
degradação).
No ano de 2011, a SEMA chegou a expedir o ofício
1055/2011-GS/SEMA, destinado à então Chefe da APA Delta do Parnaíba. Porém, tal
expediente fazia referência a quatro processos de licenciamento ambiental, então de
responsabilidade da BIOENERGY, sem especificações. Além de desacompanhado de
informações técnicas, o expediente limitava-se a dar ciência, quando a Lei 9.985/2000
exige a obtenção de autorização – ato positivo do órgão federal, o que não existiu na
espécie (Art. 36, §3º), para o prosseguimento do licenciamento em nível estadual.
Essa situação indica que não houve qualquer espécie de anuência do
ICMBio, a despeito de que ele será implantado no interior de Unidade de Conservação
Federal e em contrariedade às suas regras de uso/zoneamento. Cuida-se de verdadeira
invasão (ou, pelo menos, desconsideração) da competência do órgão federal gestor da

13 Art. 19. O órgão ambiental competente, mediante decisão motivada, poderá modificar os condicionantes
e as medidas de controle e adequação, suspender ou cancelar uma licença expedida, quando ocorrer: I -
violação ou inadequação de quaisquer condicionantes ou normas legais;
14 SÚMULA N. 613 do STJ. Não se admite a aplicação da teoria do fato consumado em tema de
Direito Ambiental.

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Unidade de Conservação, para realizar o ordenamento das atividades no espaço


protegido.

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É contra esse estado de coisas que o MPF se insurge agora,
considerando o conjunto de informações apresentadas pela SEMA, ICMBio pelo corpo
técnico do MPF e pelo empreendedor, que indicam graves irregularidades nos processos
de licenciamento ora analisados, devendo ser declarada sua nulidade, tendo a empresa
requerida de apresentar solicitação do projeto em acordo com os ditames legais e
regulamentares, caso pretenda a continuidade do empreendimento.

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DAS CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS DOS FATOS NARRADOS

O conjunto de circunstâncias fáticas, acima destacadas, ressalta a


completa irregularidade do empreendimento e das licenças concedidas pelo Poder
Público, não se podendo conceber que elas gozem da presunção de legitimidade própria
dos atos administrativos, pois expedidas contrariamente à dicção legal.
Nesse sentido, há necessidade de se obter tutela judicial hábil a evitar a
implantação de empreendimento gerador de energia irregularmente, garantindo-se a
proteção da Unidade de Conservação federal e a realização das medidas preventivas que
seriam esperadas do licenciamento ambiental.
Os fundamentos para a demanda partem diretamente do texto
constitucional, à medida que foram vulneradas as regras que são densidade aos
mandamentos do Art. 225 da CF/1988, quanto à definição e manutenção de áreas
especialmente protegidas e à obrigatoriedade de prévio estudo ambiental, na forma
da lei, para mensurar e evitar os impactos ao ecossistemas afetados. Em síntese, a
violação desses mandamentos ocasiona vulneração ao dever fundamental de o Poder
Público e os particulares zelarem pela preservação ambiental e conciliar a atividade
econômica com a qualidade dos ecossistemas.
As seguintes regras foram objetivamente violadas:

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1) Regime jurídico da Unidade de Conservação Federal, em

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decorrência:
a) da falta de anuência do órgão gestor da Área de Proteção
Ambiental – APA Delta do Parnaíba: Lei 9.985/2000 – Art. 36, §3º15
b) localização do empreendimento em zona proibida no Plano de
Manejo da APA: Lei 9.985/2000 – Art. 2816
2) Ausência de apresentação prévia de EIA/RIMA para subsidiar a
deliberação pela concessão ou não das licenças, especialmente ante as

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características/porte da geração de energia: Art. 225, §4º,da CF/198817 e
Resolução CONAMA 462/2014
3) Impossibilidade de convalidação das licenças concedidas
anteriomente pelo decurso do tempo – não há direito adquirido à situação
lesiva à qualidade ambiental, nem à regime jurídico anterior à concessão
das licenças – Súmula 613 do STJ;

Da necessidade de autorização do órgão responsável pela Unidade de Conservação

No caso concreto, a realização de empreendimento de grande porte para


produção de energia não poderia dispensar a existência de autorização da autarquia
responsável pela Unidade de Conservação, sob pena de ele não ter as suas
características e impactos específicos no espaço territorial protegido analisado
pelo órgão que detém competência para essa finalidade, importando ainda em
15Art. 36 […] § 3o Quando o empreendimento afetar unidade de conservação específica ou sua zona
de amortecimento, o licenciamento a que se refere o caput deste artigo só poderá ser concedido mediante
autorização do órgão responsável por sua administração, e a unidade afetada, mesmo que não
pertencente ao Grupo de Proteção Integral, deverá ser uma das beneficiárias da compensação definida
neste artigo.
16 Art. 28. São proibidas, nas unidades de conservação, quaisquer alterações, atividades ou modalidades
de utilização em desacordo com os seus objetivos, o seu Plano de Manejo e seus regulamentos
17

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concessão de licença estadual em local cuja proteção ambiental é incumbido à União,


mantida (através do ICMBio) alheia à realização do ato administrativo que repercutirá

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diretamente no interesse jurídico que é protegido.
A Lei nº 9985/00 em seu art. 36, §3º aduz que "Quando o
empreendimento afetar unidade de conservação específica [...], o licenciamento a que se
refere o caput deste artigo só poderá ser concedido mediante autorização do órgão
responsável por sua administração [...].
No caso, a única referência à participação do ICMBio deu-se no ano de
2011, mediante mero ofício para ciência remetido pela SEMA, sem que houvesse a

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disponibilização de EIA/RIMA na ocasião. Mas, em se tratando de empreendimento de
grande porte, a Lei pede autorização expressa e não mera cientificação para
manifestação facultativa.
Era necessária a expedição de Autorização para o Licenciamento
Ambiental – ALA, inexistente no caso concreto, conforme as definições do CONAMA e do
ICMBio:

RESOLUÇÃO N° 428, DE 17 DE DEZEMBRO DE 2010 – CONAMA

Art. 1º O licenciamento de empreendimentos de significativo impacto ambiental


que possam afetar Unidade de Conservação (UC) específica ou sua Zona de
Amortecimento (ZA), assim considerados pelo órgão ambiental licenciador, com
fundamento em Estudo de Impacto Ambiental e respectivo Relatório de Impacto
Ambiental (EIA/RIMA), só poderá ser concedido após autorização do órgão
responsável pela administração da UC ou, no caso das Reservas Particulares
de Patrimônio Natural (RPPN), pelo órgão responsável pela sua criação.
Art. 2° A autorização de que trata esta Resolução deverá ser solicitada pelo órgão
ambiental licenciador, antes da emissão da primeira licença prevista, ao órgão
responsável pela administração da UC que se manifestará conclusivamente após
avaliação dos estudos ambientais exigidos dentro do procedimento de
licenciamento ambiental, no prazo de até 60 dias, a partir do recebimento da
solicitação.
Art. 3º O órgão responsável pela administração da UC decidirá, de forma
motivada:
I – pela emissão da autorização;
II – pela exigência de estudos complementares, desde que previstos no termo de
referência;

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III – pela incompatibilidade da alternativa apresentada para o empreendimento


com a UC;
IV – pelo indeferimento da solicitação.
§ 1º A autorização integra o processo de licenciamento ambiental e especificará,

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caso necessário, as condições técnicas que deverão ser consideradas nas
licenças.

Instrução Normativa 07/2014 – ICMBio:

Art. 2º Para efeito desta Instrução Normativa são adotadas as seguintes


definições:
III - Autorização para o Licenciamento Ambiental (ALA): ato administrativo pelo
qual o Instituto Chico Mendes autoriza o órgão ambiental competente a proceder
ao licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades que afetem as
unidades de conservação federais ou suas zonas de amortecimento

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Conforme já mencionado no tópico anterior, não há registro de participação do
ICMBio em nenhum dos procedimentos de licenciamento apresentados, muito embora o local do
empreendimento esteja situado no interior de unidade de conservação federal. O empreendimento
não é de pequeno porte. O ICMBio sustenta ser ele incompatível com o zoneamento da UC. A
mera cientificação da autarquia, no caso de empreendimento que exige EIA/RIMA, por ser de
relevante impacto, não supre a exigência normativa.
O TRF1 tem decisão a exigir autorização do ICMBio, para o licenciamento
ambiental em UC, quando forem relevantes os impactos ambientais, pelo porte da intervenção e
das características da atividade, a qual deverá integrar as condições para a implantação das
obras:

ADMINISTRATIVO E AMBIENTAL. MANDADO DE SEGURANÇA. CONSTRUÇÃO


DE SISTEMA DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO NAS IMEDIAÇÕES DE UNIDADE
DE CONSERVAÇÃO FEDERAL. AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO DO ÓRGÃO
AMBIENTAL FEDERAL. DESCUMPRIMENTO DE CONDICIONANTES
AMBIENTAIS. IBAMA. COMPETÊNCIA PARA LICENCIAMENTO AMBIENTAL.
TUTELA PROCESSUAL-CAUTELAR DO MEIO AMBIENTE (CF, ART. 225,
CAPUT). AUTUAÇÃO E EMBARGO DA OBRA. LEGALIDADE. SENTENÇA
MANTIDA.
1. Em se tratando de exploração de atividade potencialmente poluidora do meio
ambiente, a competência do ente municipal e/ou estadual, para o licenciamento
ambiental, não exclui a competência supletiva do IBAMA, que se impõe, em casos
assim, em face da tutela cautelar constitucionalmente prevista no art. 225, § 1º, V
e respectivo § 3º, da Constituição Federal, na linha autoaplicável de imposição ao
poder público (incluído o Poder Judiciário) e à coletividade o dever de defender e

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preservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado, como bem de uso comum


do povo e essencial à qualidade de vida, para as presentes e gerações futuras
(CF, art. 225, caput), tudo em harmonia com o princípio da precaução, já
consagrado em nosso ordenamento jurídico (AG 0018353-06.2012.4.01.0000/MA,

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Quinta Turma, Rel. Desembargador Federal Souza Prudente, 29/08/2013 e-DJF1
P. 384).
2. Para que a impetrante pudesse realizar a construção do Sistema de
Esgotamento Sanitário do Município de Mucugê/BA, nas imediações da Unidade
de Conservação denominada Parque Nacional da Chapada Diamantina, seria
necessária a obtenção de prévia licença do órgão ambiental federal responsável
pela gestão daquela unidade, qual seja, o IBAMA, até a edição da Lei
11.516/2007, e, após, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
- ICMBio (Lei 9.985/2000, arts. 1º, 6º, inciso III e 36, § 3º), sendo insuficiente,
portanto, a licença emitida pelo órgão ambiental estadual.
3. O próprio órgão ambiental estadual, Centro de Recursos Ambientais - CRA, ao
conceder Licença Simplificada à impetrante para a construção do referido sistema

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de esgotamento sanitário, estabeleceu, por meio da Portaria/CRA nº 5510/2007,
que a respectiva licença somente teria validade se a interessada cumprisse uma
série de condicionantes, dentre elas, a de atender às exigências do IBAMA.
4. O Superintendente do IBAMA, em suas informações, negou que a autarquia
tenha dado anuência ao licenciamento, afirmando, apenas, que iria analisar o
cumprimento das condicionantes e a realização de estudos ambientais solicitados
pela autarquia, a fim de autorizar ou não a construção do empreendimento.
5. Não houve, portanto, autorização definitiva para a construção da obra, tendo em
vista que dependia, à época, da efetiva anuência do IBAMA, após o cumprimento
integral das condições estabelecidas pelo órgão ambiental federal, o que não
logrou comprovar a impetrante.
6. Apelação a que se nega provimento
AMS 0012338-54.2008.4.01.3300, DESEMBARGADOR FEDERAL NÉVITON
GUEDES, TRF1 - QUINTA TURMA, e-DJF1 24/08/2015 PAG 471

Logo, verifica-se que regra pertinente ao regime da Unidade de Conservação,


visando compatibilizar o licenciamento do estabelecimento, com o zoneamente e características
da natureza no local, para um empreendimento de grande porte, não foi observada.

Contrariedade do empreendimento ao Plano de Manejo da Unidade de Conservação

Uma vez definido o plano de manejo, pelo gestor da Unidade de


Conservação, a Lei impõe que ele efetivamente condicione e limite as atividades no
interior da área protegida, sobretudo porque as Unidades de Uso Sustentável destinam-
se a compatibilizar a atividade humana direta com a preservação dos ecossistemas e

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processos ecológicos essenciais, pelo espaço territorial reguardado, tendo-se esse


instrumento como a via adequada para obter os parâmetros regulatórios no caso

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concreto.
Lei 9.985/2000:

Art. 2º. Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

XVII - plano de manejo: documento técnico mediante o qual, com fundamento nos
objetivos gerais de uma unidade de conservação, se estabelece o seu
zoneamento e as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos
recursos naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à
gestão da unidade;

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De fato, a Lei 9.985/2000 assim instituiu a obrigatoriedade do plano de
manejo, inclusive o seu zoneamento (como aqui é controvertido), como instrumento
condicionador de atividade particulares, no interior da UC:

Art. 15. A Área de Proteção Ambiental é uma área em geral extensa, com um
certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos
ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar
das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade
biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade
do uso dos recursos naturais.
§ 2o Respeitados os limites constitucionais, podem ser estabelecidas
normas e restrições para a utilização de uma propriedade privada localizada
em uma Área de Proteção Ambiental.

Art. 27. As unidades de conservação devem dispor de um Plano de Manejo.


§ 1o O Plano de Manejo deve abranger a área da unidade de conservação, sua
zona de amortecimento e os corredores ecológicos, incluindo medidas com o fim
de promover sua integração à vida econômica e social das comunidades vizinhas.
Art. 28. São proibidas, nas unidades de conservação, quaisquer alterações,
atividades ou modalidades de utilização em desacordo com os seus objetivos, o
seu Plano de Manejo e seus regulamentos.

No caso, a atividade está em local incorreto no Plano de Manejo. Afeta


áreas destinadas à finalidade diversa. Não pode ser convalidada. Deve ter a sua
localização modificada. A esse respeito, Paulo Afonso Leme Machado explica, sobre a

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vinculatividade do Plano de Manejo, que ele […] “na prática, será a lei interna das
unidades de conservação”.

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Desse modo, é inviável a pretensão do empreendedor de realizar a
implantação da obra desconsiderando o zoneamento do Plano de Manejo, subtraindo-se
praticamente ao regime protetivo da Unidade de Conservação.

Da ausência indevida da exigência de Estudo de Impacto Ambiental

A Constituição Federal de 1988 exigiu a elaboração de Estudos de

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Impacto Ambiental como instrumento prévio de controle dos empreendimentos que
tenham significativo impacto aos ecossistemas, bem assim possam alterar a qualidade de
vida, devendo ser apresentado “para instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente” (art.225, §1º, IV).
Há de se observar que existe certa margem para a apreciação do que
seria significativo impacto ao ecossistema, a demandar a análise pelo órgão ambiental,
com o enquadramento respectivo. Porém, essa discricionariedade não se constitui em
obstáculo para a sindicabilidade do ato que dispensa o EIA ou o substitui por estudos
simplificados, uma vez que há parâmetros objetivos para a compreensão dos
empreendimentos e do seu porte, o qual não pode ser desconsiderado pela autoridade
administrativa.
Esses parâmetros são variados quanto à análise da dimensão dos
impactos ambientais, a envolver as áreas que serão afetadas, a extensão territorial do
empreendimento, o impacto a um grande contingente humano. Mas, um dos parâmetros,
aplicável à situação em concreto, diz respeito à Resolução CONAMA nº 462/2014, que
explica a definição, o conteúdo e o sentido da exigência do Estudo de Impacto Ambiental,
modalidade de avaliação dos impactos ambientais mais complexa e dispendiosa,

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reservada aos casos que exijam maior detalhamento das informações a serem
consideradas. A resolução CONAMA prevê:

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Artigo 3º - Caberá ao órgão licenciador o enquadramento quanto ao impacto
ambiental dos empreendimentos de geração de energia eólica, considerando o
porte, a localização e o baixo potencial poluidor da atividade.
(...)
§ 2 O licenciamento ambiental de empreendimentos eólicos considerados de baixo
impacto ambiental será realizado mediante procedimento simplificado, observado
o Anexo II, dispensada a exigência do EIA/RIMA.
§ 3 Não será considerado de baixo impacto, exigindo a apresentação de Estudo
de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA), além de
audiências públicas, nos termos da legislação vigente, os empreendimentos
eólicos que estejam localizados:

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I - em formações dunares, planícies fluviais e de deflação, mangues e demais
áreas úmidas;
(...)
IV - em zonas de amortecimento de unidades de conservação de proteção
integral, adotando-se o limite de 3 km (três quilômetros) a partir do limite da
unidade de conservação, cuja zona de amortecimento não esteja ainda
estabelecida;

No caso concreto, os empreendimentos de geração de energia eólica tem


essa característica, pois estão situados na Zona Costeira, na região posterior à praia, em
formações dunares ou planícies de deflação, sendo-lhes exigível a apresentação de
EIA/RIMA.
Além disso, também é possível utilizar o raciocínio de “quem pode o mais,
pode o menos”, pois se o ditame legal exige a elaboração de EIA/RIMA quando o
empreendimento está localizado em zona de amortecimento de Unidade de
Conservação, com mais razão ainda deve ser feita mesma exigência para obras situadas
no interior de duas UC’s, pois não é admissível que a zona de amortecimento receba
proteção maior que a própria unidade que ela visa minimizar eventuais impactos.
Ademais disso, a resolução do CONAMA supracitada apenas exemplifica
quais seriam os empreendimentos considerados de grande porte. Ela não constitui a
exigência, mas apenas indicam a indispensabilidade. Quer dizer: mesmo que ela não

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existisse, os aspectos ambientais de sensibilidade da região fariam o EIA exigível. Ora, no


caso concreto, o parque eólico passará pelo interior de duas unidades de conservação, o

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que por si só é suficiente para que não sejam exigidos apenas estudos simplificados.
A SEMA reconhece tal situação, mas ainda assim justifica a utilização do
RAS com base em uma interpretação equivocada do art. 18 da Resolução CONAMA nº
462/2014:
Art. 18. Aos empreendimentos eólicos que se encontrem em processo de
licenciamento ambiental na data da publicação desta Resolução, e que se
enquadrem nos seus pressupostos, poderá ser aplicado o procedimento
simplificado de licenciamento ambiental, desde que requerido pelo empreendedor.

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Ocorre que a SEMA não prestou a devida atenção ao trecho aqui
destacado, pois a Resolução é expressa em permitir o procedimento simplificado apenas
nos casos enquadrados em seus pressupostos, ou seja, a contrario sensu é clara a
conclusão de que não é possível prosseguir deste molde quando estiverem presentes
algumas das situações previstas no art. 3º, § 3º da mesma resolução.
Ressalta-se: a opção de adoção do procedimento simplificado somente é
possível naqueles casos em que foi iniciado o licenciamento de acordo com o
procedimento padrão e durante seu curso sobreveio a incidência da Resolução CONAMA
indicando ser a atividade de baixo impacto, o que não ocorreu no presente caso, pois é
expressamente consignada a impossibilidade dessa caracterização.
Logo, é irrecusável a exigência de apresentação de EIA e a sua omissão
vicia os atos administrativos resultantes, consistentes nas licenças eventualmente
expedidas.
Da necessidade de os Estudos Ambientais serem prévios à licença

Além do que foi exposto quanto à exigência do EIA/RIMA, não basta que
ele seja apresentado. Ele tem de ser analisado previamente à concessão das licenças

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ambientais, sob pena de sua consideração como peça meramente protocolar. Diga-se: o
Estudo é de prévio impacto ambiental, mas não posterior ao empreendimento.

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A exigência de ser o empreendimento prévio decorre do texto
constitucional, que diretamente enuncia a sua antecipação em relação não apenas à
implantação, mas aos atos da administração que aprovam a sua concepção e instalação.

Art. 225.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de
impacto ambiental, a que se dará publicidade;

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A razão de ser prévio o Estudo de Impacto Ambiental decorre da sua
própria função no procedimento de licenciamento ambiental, uma vez que é ele que
permitirá a compreensão e o exame do ambiente e dos impactos do empreendimento,
servindo, pois, como elemento que auxiliará na motivação da concessão da licença
ambiental ou sua negativa, ao lado dos pareceres técnicos do órgão ambiental. Logo,
diferida a apresentação do Estudo Ambiental, esvazia-se a sua finalidade e, mesmo, a
sua utilidade para o licenciamento ambiental. A respeito da finalidade do EIA, explica
Paulo Afonso Leme Machado:

O EIA, conforme estatui o art. 225, §1º, IV da CF, é o instrumento único da análise
da degradação potencial e significativa do meio ambiente, decorrente do exercício
de atividades ou da instalação de obras. Não se pode contornar o caminho que a
Constituição Federal traçou, com grande senso de estratégia ambiental. Não é um
formalismo escravizador, pelo contrário, é o uso da forma como garantia do
exercício da liberdade de viver num ambiente sadio e de harmonia entre os seres.
(MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 18ª ed. São Paulo:
Malheiros, 2010. p. 286)

Quanto ao contexto da expedição da licença, o E. STJ assim explicou a


finalidade do licenciamento, por meio de voto do Min. Herman Benjamin, ao deixar claro

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que a atividade administrativa, além de conceder a possibilidade de exercer uma atividade


econômica, também impõe restrições, condições e requisitos:

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O Brasil é o País da licença-faz-de-conta, em que um importante ato administrativo
dessa natureza, essencialmente preventivo e de salvaguarda dos interesses da
coletividade, é tratado pelos sujeitos econômicos como se fosse um mero pedaço
de papel, a ser fixado na parede do estabelecimento comercial e desconsiderado
ao nível do assoalho, isto é, no plano de seu cumprimento. Não deveria - nem
deve - ser assim. A licença, qualquer que seja sua natureza (urbanística,
ambiental,sanitária, etc), emoldura, na ótica das necessidades da coletividade, as
condições mínimas de exercício da atividade econômica, bem como as
contrapartidas exigidas do particular para tanto. Existe para ser cumprida e
fielmente respeitada, pois do contrário é um nada jurídico. Cumprida e respeitada
fielmente não só pelo particular, mas igualmente pelo Poder Judiciário, que não

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pode se arvorar o papel de órgão licenciador, distribuindo, ao sabor das
preferências e conveniências de cada juiz, licenças e autorizações em hipóteses
em que o Administrador recusou-se a fazê-lo ou impôs condições para fazê-lo.Isso
implica dizer que a interpretação judicial (e administrativa também) dos termos da
licença deve ser feita de modo a assegurar os interesses maiores visados pela lei.
No Estado Social brasileiro, em que a atividade econômica deve observar um rol
de princípios estabelecidos na Constituição e submete-se aos “ditames da justiça
social” (CF, art. 170), descabe, em caso de dúvida ou omissão, interpretar ou
integrar a licença automaticamente em favor do interesse individual-comercial do
agente econômico, desvalorizando-se ou desprezando-se os objetivos públicos do
microssistema normativo aplicável à hipótese.A licença é para o licenciado e não
do licenciado. Em vez de dono da licença, o sujeito-licenciado é seu vassalo, o
que faz com que seus termos, exigências mínimas na forma de piso, só possam
ser alterados com o prévio e expresso consentimento da Administração, sob pena
de abuso de licença. (REsp 941.110/ES, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
SEGUNDA TURMA, julgado em 09/09/2008, DJe 13/11/2009)

É dizer: o EIA é um instrumento para o planejamento da ação ambiental,


como meio preventivo. Se a sua apresentação se dá após a licença prévia ou de
instalação, perde-se o elemento de planejamento e prevenção, passando-se a tratar do
caso como um fato consumado.
Mais que violação de sua finalidade, vulnera-se um requisito de validade
do ato administrativo, a ensejar a sua invalidade: a falta de estudo prévio reputado como
indispensável. Nesse sentido, a consequência é a nulidade das licenças expedidas, sem o
EIA/RIMA, conforme já deliberou o E. STJ:

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PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL


PÚBLICA.RESPONSABILIDADE POR DANO CAUSADO AO MEIO AMBIENTE.
ZONA COSTEIRA.LEI 7.661/1988. CONSTRUÇÃO DE HOTEL EM ÁREA DE
PROMONTÓRIO. NULIDADE DE AUTORIZAÇÃO OU LICENÇA URBANÍSTICO-

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AMBIENTAL. OBRA POTENCIALMENTE CAUSADORA DE SIGNIFICATIVA
DEGRADAÇÃO DO MEIO AMBIENTE. ESTUDO PRÉVIO DE IMPACTO
AMBIENTAL - EPIA E RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL - RIMA.
COMPETÊNCIA PARA O LICENCIAMENTO URBANÍSTICO-
AMBIENTAL.PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR (ART. 4°, VII, PRIMEIRA
PARTE, DA LEI 6.938/1981). RESPONSABILIDADE OBJETIVA (ART. 14, § 1°, DA
LEI 6.938/1981). PRINCÍPIO DA MELHORIA DA QUALIDADE AMBIENTAL (ART.
2°, CAPUT, DA LEI 6.938/1981).
[…]
5. Se o Tribunal de origem baseou-se em informações de fato e na prova técnica
dos autos (fotografias e laudo pericial) para decidir a) pela caracterização da obra
ou atividade em questão como potencialmente causadora de significativa

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degradação do meio ambiente - de modo a exigir o Estudo Prévio de Impacto
Ambiental (Epia) e o Relatório de Impacto Ambiental (Rima) - e b) pela natureza
non aedificandi da área em que se encontra o hotel (fazendo-o também com fulcro
em norma municipal, art. 9°, item 7, da Lei 426/1984, que a classifica como "Zona
de Preservação Permanente", e em legislação estadual, Lei 5.793/1980 e Decreto
14.250/1981), interditado está ao Superior Tribunal de Justiça rever tais
conclusões, por óbice das Súmulas 7/STJ e 280/STF. 6. É inválida, ex tunc, por
nulidade absoluta decorrente de vício congênito, a autorização ou licença
urbanístico-ambiental que ignore ou descumpra as exigências estabelecidas por
lei e atos normativos federais, estaduais e municipais, não produzindo os efeitos
que lhe são ordinariamente próprios (quod nullum est, nullum producit effectum),
nem admitindo confirmação ou convalidação. 7. A Lei 7.661/1988, que instituiu o
Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, previu, entre as medidas de
conservação e proteção dos bens de que cuida, a elaboração de Estudo Prévio de
Impacto Ambiental - Epia acompanhado de seu respectivo Relatório de Impacto
Ambiental – Rima. 8. Mister não confundir prescrições técnicas e condicionantes
que integram a licença urbanístico-ambiental (= o posterius) com o próprio
Epia/Rima (= o prius), porquanto este deve, necessariamente, anteceder aquela,
sendo proibido, diante da imprescindibilidade de motivação jurídico-científica de
sua dispensa, afastá-lo de forma implícita, tácita ou simplista, vedação que se
justifica tanto para assegurar a plena informação dos interessados, inclusive da
comunidade, como para facilitar o controle administrativo e judicial da decisão em
si mesma. (REsp 769.753/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA
TURMA, julgado em 08/09/2009, DJe 10/06/2011)

Nesse sentido, o fato de haver posterior apresentação de EIA não


convalida a licença anteriormente expedida, pois a entrega a posteriori do estudo
ambiental não conduziu à revisão minuciosa do licenciamento pelo órgão concedente,

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servindo antes como mero elemento legitimador de uma deliberação anterior, já tomada, e
para o qual não influiu.

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Impossibilidade de convalidação das licenças concedidas anteriomente pelo
decurso do tempo – não há direito adquirido à situação lesiva à qualidade
ambiental, nem à regime jurídico anterior à concessão das licenças

No caso concreto, não se pode concordar com a alegação realizada pela


empresa, segundo a qual ela teria direito a um regime de licenciamento ambiental

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simplificado, pelo fato de ter obtido a primeira licença prévia para o estabelecimento no
ano de 2010, quando não havia ainda a resolução CONAMA específica para a produção
de energia eólica.
Em primeiro lugar, não foi a resolução CONAMA que criou a exigência de
apresentação de Estudo de Impacto Ambiental para os empreendimentos causadores de
significativa degradação ambiental, mas sim a Constituição Federal, saltando aos olhos
as dimensões do empreendimento (com mais de quarenta torres de produção de energia)
e o fato de que, desde a concepção, ele estava em um ambiente da zona costeira, no
interior de Unidade de Conservação Federal. Logo, as características quanto ao porte da
Usina Geradora de Energia são preexistentes, havendo desde sempre a afetação ao
espaço protegido e sensível.
Em segundo lugar, não se pode admitir ultratividade da licença prévia,
porquanto ela teve a sua validade máxima superada, sem que as demais licenças
fossem obtidas, nem o empreendimento sido iniciado. Com efeito, embora tenha obtido
uma licença prévia em 2010, a continuidade do desenvolvimento das atividades para
implantação do empreendimento, perante os órgãos ambientais, foram descontinuadas,
de forma que a validade do documento expirou. Tudo foi paralisado. Quando ele foi

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submetido a novo licenciamento, já estava em vigor a nova legislação, bem assim houve
a remodelação da usina, a qual recebeu uma nova concepção.

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Em realidade, as tratativas para a implantação do empreendimento
cessaram. A licença prévia foi arquivada. Posteriormente, com o aparecimento de novo
responsável, mais de cinco anos após a expedição do documento, é que as dicussões
foram retomadas.
Quer dizer: o ato administrativo teve a sua validade expirada, sem que
produzisse efeitos concretos, no tempo durante o qual teria a sua eficácia. Superada essa
validade, alterado o empreendedor e elaborada uma nova concepção para o projeto, o

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caso seria de obtenção de novo licenciamento, sem que se possa admitir a produção de
efeitos ad eternum de um ato, nem que a sua conceção originasse direitos a um regime
jurídico já revogado.
A empresa responsável pelo empreendimento somente obteve licença de
instalação mais de dez anos após a licença prévia, quando a validade máxima admitida a
esta pela legislação é de cinco anos. Essa limitação temporal é necessária, porque o
passar do tempo conduz à alteração de cenários, ambientes, tecnologias e parâmetros
normativos. Quer dizer: a aprovação da concepção e localização do empreendimento,
efeitos próprios do ato administrativo objurgada, é dado rebus sic stantibus, considerando
o prazo de validade legalmente estabelecido.
Dito isso, é de incidir ao caso a súmula 613 do STJ – ninguém tem direito
ao aproveitamento dos recursos ambientais, de forma danosa ou contrária ao regime
jurídico protetivo, pelo decurso de tempo originador de situação de fato consolidada. Esse
entendimento é plenamente aplicável aqui, não se admitindo a expansão de efeitos
eternos a uma licença, quando superada a sua validade e advindo novo regramento
jurídico, seja decorrente da Resolução CONAMA ou do Plano de Manejo da Unidade de
Conservação.

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A convalidação seria ademais impossível, pois houve violação de cláusula


constitucional que integra o conceito de interesse público contido na exigência, relativa ao

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caráter prévio da apresentação do EIA, bem assim há terceiro (ICMBio) que reclama do
licenciamento ambiental, o que configura óbice à convalidação, na forma no art. 55 da Lei
nº 9.784/1999 (Art. 55. Em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão ao
interesse público nem prejuízo a terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanáveis
poderão ser convalidados pela própria Administração).
Ante todo o exposto, é possível concluir pela nulidade de todos os
procedimentos realizados no presente caso, tendo em vista os graves vícios aqui

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analisados que ensejam a invalidade de todas as licenças expedidas.

DA NECESSIDADE DE ANTECIPAÇÃO DA TUTELA

No caso, dos autos, é necessária a concessão da antecipação da tutela,


pois a finalidade da demanda é essencialmente preventiva (= evitar que a Usina Eólica
seja implantada em local indevido, na região inadequada no interior da Unidade de
Conservação Federal, divergente com o zoneamento, sem autorização do ICMBio e sem
que antes tenha se elaborado e discutido publicamente o EIA/RIMA).
Por sua vez, as obras não foram ainda iniciadas.
Em sendo assim, é plenamente factível a correção das irregularidades
destacadas, estando a ação a ser proposta em tempo hábil a permitir a regularização do
empreendimento (se assim quiser o empreendedor).
Mas, para evitar os danos à Unidade de Conservação (decorrentes da
implantação inadequado do estabelecimento) é essencial evitar que as obras se iniciem,
pois se assim ocorrer, será mais difícil e custosa a correção da irregularidade, em
realidade inviabilizando-se a tutela específica pela força do tempo e da ação empresarial.

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Por sua vez, há fundadas razões que autorizam o deferimento do pedido,


conforme exposto no Laudo Técnico ora anexado pelo MPF, onde se verificam amiúde

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as irregularidades acima especificadas no licenciamento ambiental – a SEMA e o
empreendedor tencionam franquear a implantação de relevantes serviços (mais de
quarenta torres eólicas) no interior de uma área protegida administrada pela União, sem
qualquer obediência ao zoneamento definido no Plano de Manejo, autorização do
responsável (ICMBio) e sem que os efeitos dessas obras tenham sido discutidos e
apresentados por meio de EIA/RIMA.
Ademais, de nada vale a apresentação tardia de EIA/RIMA, se as licenças

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ambientais já tiverem sido deferidas e o empreendimento implantado, pois ele se tornará
peça inútil, sobretudo porque a Usina está prevista em região inadequada, considerando o
zoneamento da Unidade de Conservação Federal.
As informações contidas no Laudo Técnico referido são corroboradas pelo
exame dos autos do licenciamento ambiental, fornecidos pela SEMA, nos quais se
observa que a discussão sobre o porte do empreendimento, que exigiria EIA e
autorização do ICMBio, não passou desapercebida nos pareceres jurídicos da Secretaria.
Mas, a despeito dos pareceres jurídicos, o gestor preferiu adotar
conduta diversa e resultou diretamente na expedição de licença de instalação.
Houve advertência da necessidade de se respeitar a Resolução
CONAMA 462/2014, que trata dos licenciamentos de usina eólicas. Ela foi editada quando
já expirada a primeira licença prévia do empreendimento. Foi lançada antes de o
empreendimento assumir a configuração que tem hoje, considerando as modificações
realizadas pelo empreendedor. Logo, não se pode dizer que o empreendedor tenha direito
a um regime de licenciamento simplificado, quando o seu empreendimento eólico jamais
foi de pequeno porte, seja pela situação em área de dunas, planícies de deflação,
restingas, com muitas torres, e no interior de Unidade de Conservação Federal. Pede-se
cautela e estudo, a fim de conciliar o espaço protegido com a atividade pretendida.

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12º Ofício Cível

Ao lado dos autos do licenciamento e do Parecer Técnico que o analisou,


há as manifestações do ICMBio nos autos, externando as ponderações realizadas, as

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quais pedem sobretudo a adequação das obras ao regime jurídico da Unidade de
Conservação. Verifica-se que a autarquia federal reclama sobretudo da localização
inadequada do empreendimento em zona proibida para essa atividade, conforme Plano
de Manejo, e da falta de diálogo com a SEMA para a definição de condicionantes, o que
poderá ser suprido se evitada a implantação irregular no local indevido.
Por tudo, verifica-se que a presente demanda é promovida no tempo
adequado para impedir o início da instalação das torres de geração de energia em local

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inadequado, com feição essencialmente preventiva, a fim de obstar a implantação danosa
ao campo de dunas, restingas e lagoas interdunares na APA do Delta do Parnaíba.
Assim, entende-se haver risco de dano de difícil e incerta reparação a
evitar (se admitida a implantação irregular) e fundadas razões jurídicas (decorrentes
das manifestações técnicas e dos órgãos públicos destacados) que afastam a
presunção de legitimidade das licenças concedidas, tudo a corroborar premência da
atuação tempestiva da tutela judicial, para que ela surta os efeitos esperados – a
evitação dos danos e correção das irregulares.

DOS PEDIDOS

ISSO POSTO, requer o Ministério Público Federal o julgamento pela


procedência dos seguintes pedidos:

1) LIMINARMENTE, após facultar-se a oitiva prévia do Estado do


Maranhão, a suspensão das licenças ambientais (prévia e de instalação)
concedidas ao empreendimento destacado, bem assim do procedimento

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de licenciamento em curso na Secretaria Estadual de Meio Ambiente


(acima identificado);

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2) LIMINARMENTE, após facultar-se a oitiva prévia do Estado do
Maranhão, a interdição da implantação de obras ou realização de
serviços, na localidade Arpoador, até a correção dos vícios indicados,
vedada a instalação em área inadequada (proibida) no Plano de Manejo
da Unidade de Conservação Federal;

3) AO FINAL, a confirmação dos termos da tutela inicial, bem assim:

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3.a) a declaração de nulidade dos procedimentos (ab initio) e licenças
expedidas pela SEMA, acima especificados ou suas renovações, em
virtude da ausência de prévia apresentação do EIA/RIMA, bem como da
ausência de autorização do ICMBio (falta de ALA – Autorização de
Licenciamento Ambiental), além da definição locacional vedada no plano
de manejo da Unidade de Conservação;
3.b) a imposição de obrigação de fazer aos requeridos para que, caso
pretendam dar seguimento ao empreendimento, procedam a novo
licenciamento ambiental do empreendimento, com a correção das
irregularidades destacadas e observância das circunstâncias indicadas
pelo órgão gestor da Unidade de Conservação atinginda; e
3.c) a condenação do requerido Vienergy (VITA ENERGIAS) à reparação
dos danos ao ambiente que sobrevenham em virtude da implantação
irregular do empreendimento ( = verificados os vícios especificados), na
hipótese de insucesso da tutela preventiva acima postulada, na forma
do Art. 499 do CPC18.
18 Art. 499. A obrigação somente será convertida em perdas e danos se o autor o requerer ou se
impossível a tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente. Art. 500. A
indenização por perdas e danos dar-se-á sem prejuízo da multa fixada periodicamente para compelir o réu

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Outrossim, realce-se que, nos termos do art. 11 da Lei nº 7.347/85, o


descumprimento das obrigações requeridas deverá importar na cominação do

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demandado ao pagamento de multa diária (astreintes), em valor a ser fixado pela
autoridade judiciária no comando sentencial.

DO REQUERIMENTO DE CITAÇÃO

Por fim, requer-se a V. Exa. se digne a determinar:

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a) a citação dos requeridos, já qualificados, para, querendo, contestar a
presente ação, sob pena de revelia;

b) a intimação do ICMBio, através de sua Procuradoria Especializada,


para manifestar o seu interesse de intervenção no feito, em virtude de o
empreendimento situar-se no interior de Unidade de Conservação
Federal.

Acompanha a inicial documentos pertinentes ao caso, originárias do


procedimento em epígrafe, que deu causa à presente ação, que representam provas
suficientes das alegações aqui apresentadas, inclusive com laudos técnicos hábeis a
demonstrar a situação ora apontada como ilegal.
Protesta-se pela produção de todas as provas juridicamente admissíveis,
cuja necessidade será devidamente avaliada em momento oportuno, em especial
eventual realização de perícia ou inspeção judicial, oitiva de testemunhas (técnicos da
SEMA e ICMBio com conhecimento sobre o caso), bem como a juntada de novos
documentos, em especial, informações técnicas que sejam úteis para a instrução do feito,
relatando o estado atual do local.

ao cumprimento específico da obrigação.

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Por fim, sobre a audiência de conciliação, o MPF manifesta-se pela sua


inviabilidade em virtude do enunciado 16 da 4ª CCR/MPF 19, o qual veda a admissão de

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qualquer proposta de acordo tendente a autorizar a implantação de obras
irregulares em áreas protegidas. Logo, o membro oficiante não poderá realizar qualquer
ajuste que não se refira à admissão dos pedidos destacados, com a correção das
irregularidades aduzidas.
Dá-se à causa o valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais).
São Luís/MA, data da assinatura eletrônica.

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ALEXANDRE SILVA SOARES
Procurador da República

19 Enunciado 16 da 4ª CCR/MPF: Não devem ser firmados Termos de Ajustamento de Conduta que violem
dispositivo legal, a exemplo dos que visam a regularizar intervenções em Área de Preservação
Permanente.

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