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Poder Judiciário

Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul


2ª Vara Cível da Comarca de Vacaria
Rua Vila Lobos, 31 - Bairro: Carazinho - CEP: 95201159 - Fone: (54) 302-29849 - Balcão Virtual (54)99136708 - Email:
frvacaria2vciv@tjrs.jus.br

AÇÃO CIVIL PÚBLICA CÍVEL Nº 5002351-42.2024.8.21.0038/RS


Tipo de Ação: Dano ambiental
AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
RÉU: MARIZA DE FATIMA BUENO BERTONI
Local: Vacaria Data: 15/03/2024

MANDADO DE CITAÇÃO E INTIMAÇÃO DE TUTELA DE


URGÊNCIA

Mandado Nº: 10056489479

Vossa Senhoria fica citado(a) para se defender no processo acima referido, cuja petição inicial
segue em anexo, assim como o despacho judicial, permanecendo ciente de que terá quinze (15)
dias para apresentar contestação, contados da juntada deste mandado aos autos. Não havendo
contestação, serão presumidos verdadeiros os fatos alegados pela parte autora. Fica a parte ré
intimada do deferimento da tutela de urgência pelo Juízo, para atendimento.

Destinatário: MARIZA DE FATIMA BUENO BERTONI (312.475.200-72)


Endereço: Rua Sete de Setembro, 282, Centro - Vacaria/RS 95200163 (Residencial) Obs.:
Fone (54) 9-9645-5907
Contatos: 51-3026-4488

.
O acesso aos autos pode ser realizado no site https://www.tjrs.jus.br acessando o menu "Processos e Serviços", logo após, "Consultas Processuais" e
após, "Acompanhamento Processual", informando o Nº Processo 5002351-42.2024.8.21.0038 e a Chave do processo 363109364424.

Documento assinado eletronicamente por CRISTIANO PASQUETTI, Diretor de Secretaria, em 15/3/2024, às 13:19:19,
conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006. A autenticidade do documento pode ser conferida no site
https://eproc1g.tjrs.jus.br/eproc/externo_controlador.php?acao=consulta_autenticidade_documentos, informando o código
verificador 10056489479v2 e o código CRC ee36dd10.

É um dever de todos, sem exceção, proteger crianças e adolescentes contra a violência infantil (Recomendação n° 111/2021
do Conselho Nacional de Justiça).
5002351-42.2024.8.21.0038 10056489479 .V2

Oficial de Justiça: HENRIQUE ACOSTA PEREIRA NUNES


Cargo: 5/Central de Mandados da Comarca de Vacaria

Processo 5002351-42.2024.8.21.0038 Mandado 10056489479


ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
MINISTÉRIO PÚBLICO
PROMOTORIA DE JUSTIÇA ESPECIALIZADA DE VACARIA
Procedimento nº 00924.001.580/2022 — Inquérito Civil

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA VARA


CÍVEL DA COMARCA DE VACARIA, RS:

O MINISTÉRIO PÚBLICO, por seu agente signatário, no uso das atribuições

legais, conferidas pelo art. 127, “caput”, art. 129, inc. III, art. 225, todos da Constituição
Federal de 1988, art. 25, inc. IV, da Lei n° 8.625/93, combinado com os arts. 1°, incisos I

e IV, 3°, 4°, 5°, 11 e 12 da Lei n° 7.347/85, e com base nas informações do Inquérito

Civil nº. 1.580/2022, vem, perante V. Exa., ajuizar a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

COM PEDIDO DE MEDIDA LIMINAR, contra

MARIZA DE FÁTIMA BUENO BERTONI, brasileira, produtora rural, CPF n.

312.475.200-72, RG n. 2008967677, com endereço na Rua 7 de setembro, n. 282, centro

de Vacaria, RS, telefone n. (54) 9-9645-5907, pelos seguintes fatos e fundamentos de


direito:

I – DOS FATOS:

A Patrulha Ambiental de Vacaria constatou no dia 13-9-2022 a prática de danos

ambientais em atividade econômica da ré e lavrou o Auto de Constatação – BM MOB

n° 7447/2022/981010 das fls. 8 a 15 sob o fundamento de que foi promovido

supressão de vegetação nativa fora e dentro de Área de Preservação Permanente

para conversão de campo nativo em lavoura, danificando a área de 124 hectares,

atingindo espécies componentes do Bioma Mata Atlântica, sem Alvarás e/ou Licenças

autorizando o manejo de vegetação no local.

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Esses fatos ocorreram nas Coordenadas Geográficas S 28°28’44,4" W 51°02’

59,1".

O expediente foi instruído com Auto de Constatação (fls. 8 a 15), contendo

imagens de satélite e aéreas (fls. 10 a 13).

Aguardadas providências pelo Ibama e decorrendo prazo considerado razoável

sem desenlace, na fl. 70 deu-se seguimento ao expediente, apresentando proposta de

Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta ao empreendedor (fl. 72).

A ora ré se manifestou nas fls. 79 a 117, não firmando o acordo e


encaminhando defesa acompanhada de laudo técnico, dizendo, em síntese, que o local

em que ocorreu a intervenção irregular trata-se de área consolidada, afastando a

supressão recente de campo nativo.

Como a questão levantada requeria análise técnica para elucidação, foi solicitada

ao GAT/MP/RS análise do material confeccionado pela PATRAM e da defesa


apresentada pela investigada.

Assim, o órgão técnico do Ministério Público emitiu parecer nas fls. 131 e

seguintes, mencionando:

“[...] 2.2. Caracterização da área degradada

A figura 1 apresenta imagem de satélite recente com demarcação do imóvel

rural objeto do auto de constatação emitido pelo Policiamento Ambiental. As

informações apresentadas no referido auto e pelo Ibama não delimitaram o(s) polígono

(s) onde foi constatada conversão de campo nativo (124 ha), limitando a possibilidade

de avaliação do caso em análise por esta unidade. Foi demarcada na figura a

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localização aproximada dos três pontos avaliados, no laudo técnico apresentado pela

demandada, com base na plataforma MapBiomas.

Figura 1 ­ Imagem de satélite de 26/11/2023 do programa Google Earth Pro

mostrando o imóvel rural (polígono vermelho) e os pontos (1 a 3) avaliados, com base

na plataforma MapBiomas, no laudo técnico apresentado pela demandada.

Conforme discutido na Nota Técnica Conjunta Caoma/Gat –­ Conversão de


Campos Nativos no Bioma Mata Atlântica (em anexo ­ item 4.2.2.1), a atividade de

criação de gado apresenta impacto reduzido, principalmente quando comparada com

atividades que resultem na alteração completa do ambiente, como a agricultura e a

silvicultura. A criação de gado sobre campos nativos, associada ao uso de técnicas


adequadas de manejo, tem sido proposta como uma das formas para o

desenvolvimento sustentável da região, agregando produção econômica e conservação

dos campos. Assim, avalia-se que o uso das propriedades para o pastoreio não

descaracteriza as áreas de campo como remanescentes de vegetação nativa e não

permite que sejam consideradas áreas de uso consolidado para fins de

cadastramento no CAR.

O próprio laudo técnico apresentado pela demandada identifica, a partir de

avaliação realizada com base na plataforma MapBiomas, na análise histórica entre os

anos de 1985 e 2022, as classes de uso do solo "formação campestre" e "pastagem",

indicando o uso da área para criação de gado.

Utilizando-se as imagens de satélite disponíveis no programa Google Earth Pro


(figuras 2 a 7) é possível avaliar as condições gerais de uso do solo do imóvel desde o

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ano de 1985 (baixa resolução). Nesse ano (figura 2), observa-se apenas uma área a

noroeste da propriedade com tipologia que indica possível sistematização para uso

agrícola, em contraste com demais áreas características de campo.

Figura 2: ­ Imagem de satélite de baixa resolução de 1985 do satélite Landsat

mostrando o imóvel rural (polígono vermelho) e os pontos avaliados no laudo técnico.

Observa-se a tipologia característica de áreas campestres/pastagens (verde claro) na

maior parte do imóvel, em contraste com áreas com tonalidade marrom na porção

noroeste do imóvel e no entorno (setas).

No ano de 2007 (imagem em alta resolução de 14 de dezembro ­- figura 3)

observa-se característica sistematização para cultivo da mesma área a noroeste da

propriedade. Tal situação se repete no ano de 2013 (figura 4), sendo observada ainda

a conversão de uma área de cerca de 8 ha em região central da propriedade.

Entre os anos de 2017 e 2021 (figura 5 a 7) observa-se conversão de

extensas áreas para cultivo agrícola, objeto da ação realizada pelo Ibama e
Policiamento Ambiental.

[...] Com base nos elementos apresentados e na avaliação realizada, não é

possível confirmar que a área objeto do auto de constatação constituísse "área

consolidada", ratificando-se a constatação realizada pelo Ibama e pelo

Policiamento Ambiental de ocorrência de conversão de campo nativo no imóvel

rural.

2.3. Conversão de campos nativos

Os campos nativos do Rio Grande do Sul, tanto no bioma Pampa como no

bioma Mata Atlântica, vêm sendo submetidos a degradação ambiental pela conversão

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de áreas para cultivo agrícola. A evolução das ciências agronômicas, da técnica agrícola,

da ampliação do crédito e da valorização dos produtos obtidos, além de aspectos


conjunturais e climáticos favoráveis, têm pressionado as áreas de pastagens nativas,

que têm sido negligenciadas, em que pesem amplas informações acadêmicas acerca do

manejo, uso, melhoramento e intensificação desta base forrageira.

[...] A conversão dos campos nativos para o cultivo agrícola altera totalmente a

cobertura vegetal, muitas vezes de forma irreversível, diminuindo a

disponibilidade de habitats para a fauna e flora nativas adaptadas aos ambientes


dos campos nativos e colocando em risco a preservação de espécies ameaçadas de

extinção ou protegidas.

A Nota Técnica conjunta CAOMA/GAT - Conversão de campos nativos no bioma


Mata Atlântica (em anexo) realiza análise das ocorrências de conversão de campos

nativos no referido bioma, abordando aspectos técnicos e jurídicos associados à

temática.

2.4. Medidas de recuperação

Para reparação integral das áreas submetidas às intervenções, sugere-se

elaboração e execução de projeto de recuperação de área degradada,

contemplando recomposição das formações vegetais nativas, com adoção de técnicas

que priorizem a regeneração da vegetação nativa no local. O projeto deve ser

elaborado e executado por profissional habilitado, com emissão de respectiva Anotação

de Responsabilidade Técnica (ART), sendo aprovado previamente junto ao órgão

ambiental competente.

2.5. Estimativa financeira associada à degradação

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O método do Custo de Oportunidade aplicado à presente análise não valora

diretamente o recurso ambiental, mas o custo de sua conservação a partir da vedação


de realização da atividade econômica sobre a área avaliada. Neste caso, associa-se o

custo de arrendamento da área convertida para produção de soja (10 sacas de soja/ha

/ano). Considerando-se o preço da soja de R$ 113,91/saca, obtém-se, para a área

degradada de 124 hectares o valor de referência de R$ 141.248,40.

Porto Alegre, 14 de fevereiro de 2024.

FÁBIO VIANNA MOHR

Biólogo ­ CRBio 9.572-03

ART nº 3-14038/04” (grifos acrescidos)

Desse modo, o parecer dimensionou os danos ambientais e, na sequência,

apontou as medidas de reparação, compensação e indenização aplicáveis no caso em


comento.

O órgão técnico, como acima visto, também estimou o valor in pecunia no item

2.5 da fl. 138, para indenização dos danos ambientais intangíveis, tudo levando em

conta a complexidade do bem jurídico meio ambiente, por razões ontológicas e sua

característica transgeracional.

Nesse ponto, é de se destacar no presente caso a conduta dolosa do réu,

conforme as observações das fotografias e imagens de satélite juntadas nas fls. 10

a 13, que mostram a supressão da vegetação e o objetivo de plantio agrícola,

especialmente soja, no local, o que aparece com clareza nas imagens.

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Embora seja dispensável a cogitação de elemento subjetivo em razão da

responsabilidade civil objetiva em direito ambiental, nitidamente a demandada efetuou

supressão de vegetação nativa com dolo direto, tornando evidente a ação humana

depredatória.

Desse modo, a conduta dolosa – dolo direto – do réu merece destaque para fins

de proporcionalidade na fixação das condenações, especialmente in pecunia. O

elemento subjetivo, assim, serve para compor o conceito de reprovabilidade da

conduta do réu (por analogia ao artigo 59 do Código Penal) para fins de

arbitramento da indenização, atentando para a proporcionalidade e individualização da


sanção (cunho punitivo e pedagógico), de acordo com o que se apresentará mais

adiante.

Levando em conta que em direito ambiental incide a teoria do risco integral

[1], é suficiente para a responsabilização do demandado que se demonstre a existência

de dano em circunstâncias ligadas à mera existência de empreendimento sob sua

administração. Assim, tal nexo[2], no caso em exame, estabelece-se entre os fatos

supressão de vegetação nativa e os resultados danosos apurados, conforme

documentação referida, na seguinte equação: nexo = dano + supressão de vegetação

nativa na propriedade sob a guarda do réu por atividade de sua responsabilidade.

Evidencia-se, então, a violação dos artigos 6º e seguintes do Código Florestal

Estadual, o que impôs ao Ministério Público, diante de todo o narrado, a necessidade

de ajuizar a presente ação, como forma de salvaguardar o meio ambiente de

devastações pelas condutas indevidas.

Diante disso, caracterizada ausente a vontade do ora réu em compor

extrajudicialmente o litígio, promove-se o ajuizamento da presente ação.

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II – DO DIREITO:

II.1 – ASPECTO CONSTITUCIONAL E DECORRENTES DISPOSIÇÕES LEGAIS:

A Constituição Federal, no seu artigo 225, caput, dispõe que "todos têm

direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e


essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações."

Indubitavelmente, o meio ambiente, por não ser de ninguém especificamente, mas


pertencer a todos (inclusive e, em especial, às gerações futuras) constitui interesse

difuso - e, como tal, indisponível - sendo que qualquer lesão a ele repercute sobre toda

a coletividade.

No âmbito estadual, a Constituição do Estado do Rio Grande do Sul prevê, no

artigo 250, que “o meio ambiente é bem de uso comum do povo e a manutenção de

seu equilíbrio é essencial à sadia qualidade de vida”. No seu parágrafo 2º, preceitua

que o causador de poluição ou dano ambiental será responsabilizado e deverá assumir

ou ressarcir ao Estado, se for o caso, todos os custos financeiros, imediatos ou futuros,

decorrentes do saneamento do dano.

No artigo 251, a Constituição Estadual garante a todos o direito ao meio

ambiente ecologicamente equilibrado, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o

dever de defendê-lo, preservá-lo e restaurá-lo.

O Código Estadual do Meio Ambiente, instituído pela Lei Estadual nº 11.520

/2000, reafirma o caráter difuso e natureza de direito fundamental do meio ambiente

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equilibrado e saudável, ao dizer que “todos têm direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade


de vida, impondo-se ao Estado, aos municípios, à coletividade e aos cidadãos o dever

de defendê-lo, preservá-lo e conservá-lo para as gerações presentes e futuras,

garantindo-se a proteção dos ecossistemas e o uso racional dos recursos ambientais” (

artigo 1º).

O artigo 111 do Código Estadual do Meio Ambiente regulamenta a

responsabilidade do agente degradador:

Art. 111 - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas nesta Lei, o infrator,

independente da existência de culpa, e obrigado reparar os danos causados ao meio

ambiente por sua atividade.

§ 1º - Sem prejuízo das sanções cíveis, penais e administrativas, e da

responsabilidade em relação a terceiros, fica obrigado o agente causador do dano

ambiental a avaliá-lo, recuperá-lo, corrigi-lo e monitorá-lo, nos prazos e

condições fixados pela autoridade competente.

§ 2º - Se o responsável pela recuperação do meio ambiente degradado, não o

fizer no tempo aprazado pela autoridade competente, deverá o Poder Público fazê-lo

com recursos fornecidos pelo responsável ou a suas próprias expensas, sem

prejuízo da cobrança administrativa ou judicial de todos os custos e despesas

incorridos na recuperação.

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Desse importantíssimo dispositivo legal, extrai-se a base normativa positiva da

responsabilidade objetiva cível por danos ambientais, no caput; a obrigação de

resultado quanto à recuperação do meio ambiente, no parágrafo primeiro, e o

custeio integral pelo degradador, no parágrafo segundo.

No caso em tela, verifica-se a ocorrência de danos ambientais puros, já que a


qualidade ambiental do solo, do subsolo, das águas superficiais e subterrâneas, da
atmosfera, da paisagem da flora e da fauna local foi duramente atingida com as ações

do réu, expondo espécies nativas ameaçadas de extinção a risco pela degradação de

elementos de alta relevância para a composição do habitat.

II.2 – TEORIA DO RISCO INTEGRAL:

No que diz com o meio ambiente, em atenção à previsão de responsabilização

integral dos causadores da lesão, insculpida no parágrafo 3º do artigo 225 da

Constituição Federal, conforme princípio de direito ambiental da restitutio in

integrum, apresenta-se como seu instrumento a responsabilidade objetiva segundo

teoria do risco integral, de acordo com a qual não se admite escusas do nexo causal

como o fato de terceiro ou caso fortuito, conforme doutrina mais balizada, a exemplo
de SÉRGIO CAVALIERI FILHO, in Programa de Responsabilidade Civil, Ed. Malheiros

/2004:

“Neste ponto a Constituição recepcionou o já citado art. 14, § 1º, da Lei nº. 6.938

/1981, que estabeleceu responsabilidade objetiva para os causadores de dano ao meio

ambiente, nos seguintes termos: ‘Sem obstar a aplicação das penalidades previstas

neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente de existência de culpa, a

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indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por

sua atividade’. Extrai-se do Texto Constitucional e do sentido teológico da Lei de

política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº. 6.938/1981), que essa

responsabilidade é fundada no risco integral, conforme sustentado por Nélson

Nery Jr. (Justitia 126/74). Se fosse possível invocar o caso fortuito ou a força

maior como causas excludentes da responsabilidade civil por dano ecológico,

ficaria fora da icidência da lei a maior parte dos casos de poluição”. (pág. 153 –

grifos acrescidos)

Sobre a teoria do risco integral, segue definição do doutrinador aludido:

“A teoria do risco integral é uma modalidade extremada da doutrina do risco

destinada a justificar o dever de indenizar até nos casos de inexistência do nexo

causal. Mesmo na responsabilidade objetiva, conforme já enfatizado, embora

dispensável o elemento culpa, a relação de cuasalidade é indispensável. Pela teoria do

risco integral, todavia, o dever de indenizar se faz presente tão-só em face do

dano, ainda nos casos de culpa exclusiva da vítima, fato de terceiro, caso fortuito

ou de força maior. Dado o seu extremo, o nosso Direito só adotou essa teoria em

casos excepcionais, conforme teremos oportunidade de ver”. (págs. 147 e 148 – grifos

acrescidos)

Frente a essas ponderações, é equivocado cogitar-se da incidência de outras

teorias consagradoras da responsabilidade objetiva, uma vez que, como demonstrado,

somente a teoria do risco integral confere instrumento para a satisfação do direito

violado nos termos em que pretende a Carta Magna e legislação infraconstitucional,

especialmente para darem efetividade aos princípios da outorga de um meio

ambiente equilibrado às gerações futuras e da restitutio in integrum.

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II.3 – PROTEÇÃO ESPECIAL ÀS ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE:

A intervenção em foco atingiu Áreas de Preservação Permanente de banhados e

nascentes em “grande quantidade”, como apontado pela Patram em seu relatório e

demonstrado na imagem Foto 02 da fl. 11.

As APP’s não podem ser utilizadas sem a cabível autorização legal, ou em

desacordo com a autorização expedida, pois são de importância ambiental superior, o

que significa que o impacto ambiental é mais grave, segundo BARELLA, 2001:

“As áreas de preservação permanente (APPs) não podem ser utilizadas para

nenhum tipo de empreendimento, mesmo que não apresentem vegetação arbórea

desenvolvida, necessitando que seja permitida sua regeneração natural. Essas áreas não
podem ser utilizadas para a implantação de empreendimentos que não sejam de

interesse público e através da realização de EIA/RIMA. Essas áreas são importantes

pelos seguintes motivos: contribuem para regular o clima, abastecer os

mananciais hídricos, preservar a paisagem, a estabilidade geológica, a

biodiversidade, o fluxo gênico da fauna e flora, proteger o solo e proporcionar

qualidade de vida às populações hemanas.” (grifos acrescidos)

Considerando a necessidade de dirimir os conceitos atinentes aos termos

ambientais, o artigo 14 da Lei Estadual nº 11.520/2000 (Código Estadual do Meio

Ambiente) define:

“.... (IX) - Áreas de preservação permanente: áreas de expressiva significação

ecológica amparadas por legislação ambiental vigente, considerando-se totalmente

privadas a qualquer regime de exploração direta ou indireta dos Recursos Naturais,

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sendo sua supressão apenas admitida com prévia autorização do órgão ambiental

competente quando for necessária à execução de obras, planos, atividades, ou projetos


de utilidade pública ou interesse social, após a realização de Estudo Prévio de Impacto

Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA).”

Como visto, a definição de áreas de preservação permanente é dada pelo inciso

IX do artigo 14 do Código Estadual do Meio Ambiente.

O Código Florestal Federal, Lei nº 12.651/2012, dispõe no artigo 1º-A:

“Esta Lei estabelece normas gerais sobre a proteção da vegetação, áreas de

Preservação Permanente e as áreas de Reserva Legal; ...” (grifos acrescidos)

Depois, no artigo 3º, prescreve:

“Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por:

II - Área de Preservação Permanente - APP: área protegida, coberta ou não por

vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a

paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna

e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas;” (grifos


acrescidos)

Assim, os declives acentuados, as matas e demais vegetações ciliares e banhados

configuram Área de Preservação Permanente pelo conceito do inciso II do artigo 3º

do Código Florestal Federal, uma vez que servem para a preservação dos recursos

hídricos, da paisagem, da estabilidade geológica e da biodiversidade, além das

demais funções descritas no aludido dispositivo legal.

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No artigo 4º, o Código Florestal Federal define especificamente como Áreas de

Preservação Permanente:

“Art. 4º Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou

urbanas, para os efeitos desta Lei:

I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e

intermitente, excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em


largura mínima de:

a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de

largura;

[...] IV - as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes,

qualquer que seja sua situação topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta)

metros;

V - as encostas ou partes destas com declividade superior a 45º, equivalente a

100% (cem por cento) na linha de maior declive;” (grifos acrescidos)

Édis Milaré[3] ensina que as chamadas áreas de preservação permanente


consistem em uma faixa de preservação de vegetação estabelecida em razão da

topografia ou do relevo, geralmente ao longo dos cursos d’água, nascentes,

reservatórios e em topos e encostas de morros, destinadas à manutenção da qualidade

do solo, das águas e também para funcionar como “corredores de fauna”.

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Por sua vez, as chamadas “áreas de conservação” são áreas delimitadas, segundo

legislação pertinente, que restringem determinados regimes de utilização segundo os

atributos e capacidade suporte do ambiente (Lei Estadual 11.520/2000, artigo 14,

inciso VII).

III – DA PROTEÇÃO DA FLORA:

III.1 – CONCEITUAÇÃO:

Considerando a necessidade de dirimir os conceitos atinentes aos termos

ambientais, o artigo 14 da Lei Estadual nº 11.520/2000 (Código Estadual do Meio


Ambiente) define:

(XXI) – Espécie nativa: espécie própria de uma região onde ocorre

naturalmente; o mesmo que autóctone.

(XXV) – Floresta: associação de espécies vegetais arbóreas nos diversos estágios

sucessionais, onde coexistem outras espécies da flora e da fauna, que variam em função

das condições climáticas e ecológicas.

(XXIX) – Mata Atlântica: formações florestais e ecossistemas associados

inseridos no domínio Mata Atlântica: Floresta Ombrófila Densa ou Mista, Floresta

Estacional Semidecidual, Floresta Decidual, restingas e campos de altitudes.

III.2 – FLORESTAS E DEMAIS FORMAS DE VEGETAÇÃO:

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A proteção das florestas e demais formas de vegetação é efetivada pela Lei

Federal nº 12.651/2012 (Código Florestal Federal), cujo artigo 2º prescreve que “As

florestas existentes no território nacional e as demais formas de vegetação nativa,

reconhecidas de utilidade às terras que revestem, são bens de interesse comum a

todos os habitantes do País, exercendo-se os direitos de propriedade com as limitações


que a legislação em geral e especialmente esta Lei estabelecem”.

Prossegue em seus parágrafos 1º e 2º:

“§ 1o Na utilização e exploração da vegetação, as ações ou omissões contrárias

às disposições desta Lei são consideradas uso irregular da propriedade, aplicando-se


o procedimento sumário previsto no inciso II do art. 275 da Lei no 5.869, de 11 de

janeiro de 1973 - Código de Processo Civil, sem prejuízo da responsabilidade civil, nos

termos do § 1o do art. 14 da Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981, e das sanções


administrativas, civis e penais.

§ 2o As obrigações previstas nesta Lei têm natureza real e são transmitidas ao

sucessor, de qualquer natureza, no caso de transferência de domínio ou posse do


imóvel rural.” (grifos acrescidos)

No âmbito estadual, o Código Florestal do Estado do Rio Grande do Sul (Lei nº

9.519/92), confirma a natureza jurídica das florestas e demais formas de vegetação

natural existentes no território estadual como sendo bens de interesse comum a todos

os habitantes do Estado. O seu artigo 6º estabelece que “as florestas e demais formas

de vegetação natural de seu interior são consideradas bens de interesse comum, sendo

proibido o corte e a destruição parcial ou total dessas formações sem autorização

prévia do órgão florestal competente”.

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Ainda, o artigo 23, do mesmo diploma, preceitua que é proibida a supressão

parcial ou total das matas ciliares e da vegetação de preservação permanente definida


em lei e reserva florestal do artigo 9º, desta Lei, salvo quando necessário à execução de

obras, planos ou projetos de utilidade pública ou interesse social, mediante a

elaboração prévia de EIA-RIMA e licenciamento do órgão competente e Lei própria.

Na mesma linha, o artigo 154 da Lei nº 11.520/2000 (Código Estadual do Meio

Ambiente) preceitua que:

Artigo 154 – A vegetação nativa, assim como as espécies da flora que ocorrem
naturalmente no território estadual, elementos necessários do meio ambiente e dos

ecossistemas, são considerados bens de interesse comum a todos e ficam sob a

proteção do Estado, sendo seu uso, manejo e proteção regulados por esta Lei e demais
documentos legais pertinentes.

De seu turno, a Lei Estadual nº 7.989/85 declara protegidas as florestas

remanescentes do Estado do Rio Grande do Sul. Dispõe, em seu artigo 1º:

As florestas, capões e matas constituídas por árvores nativas e toda a vegetação

natural do seu interior, existentes em todo o território estadual, são consideradas bens
de interesse comum, e declaradas por esta Lei como de preservação permanente, nos

termos das alíneas a, f e h do art. 3º, da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965

(Código Florestal), sendo proibido o corte e a destruição parcial ou total por qualquer

modo, destas formações vegetais.

III.3 – A DEGRADAÇÃO PROPORCIONADA AO MEIO AMBIENTE:

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A documentação fornecida pela PATRAM, incluindo fotografias, demonstra

que foi realizada extração de árvores nativas.

Com a supressão da vegetação, houve prejuízo às nascentes, destruição de


habitats, provocando a migração (fuga) de alguns animais para outras áreas, a

diminuição de alimentos disponíveis e a destruição de ninhos (avifauna) e tocas

(mastofauna/herpetofauna). Também causou importantes impactos no solo,

proporcionando o descapamento da camada superficial, a movimentação de horizontes

superficiais e a destruição da parte biodinâmica do solo, trazendo, em consequência,


prejuízos aos recursos hídricos locais, porquanto a qualidade desses recursos está

relacionada com o processo de florestamento/reflorestamento (infiltração e filtragem

das águas para o lençol freático que abastecerá os recursos hídricos locais). Os aspectos
paisagísticos também sofreram impactos negativos em sua beleza cênica, tendo

resultado uma paisagem desfigurada, terra exposta e entulhos de árvores nativas.

O parecer técnico do Inquérito Civil anexo constatou os danos ambientais


resultantes das atividades do réu, conforme já transcrito.

Assim, pelos elementos de prova carreados aos autos do inquérito civil restou

sobejamente comprovado o dano ambiental, com suas características complexas e


múltiplas.

III.4 – CONVERSÃO DE CAMPO NATIVO PARA USO ALTERNATIVO DA ÁREA:

A conversão de campo nativo para uso alternativo da área para cultivo de


espécies exóticas, normalmente na região, soja e milho no verá e trigo no inverno,

configuram ação de degradação ambiental, uma vez que incide in casu a Lei Federal nº

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11.428/2006, pois regula a utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma Mata

Atlântica, em área com vegetação caracterizada como Estepe, próximo ao limite da


ocorrência da Floresta Ombrófila Mista (Mata com araucária) conforme mapa elaborado

pelo IBGE, como disposto no seu artigo 2º.

Tal lei determina que é vedada a supressão de vegetação, mesmo que

secundária em estágio inicial de regeneração, sem o devido licenciamento ambiental

pelo órgão competente.

O artigo 5º estabelece que a vegetação primária ou a vegetação secundária em


qualquer estágio de regeneração do Bioma Mata Atlântica não perderão esta

classificação nos casos de incêndio, desmatamento ou qualquer outro tipo de

intervenção não autorizada ou não licenciada.

As atividades realizadas sem o devido o licenciamento ambiental e em

desacordo com a legislação não observam a necessidade de preservação de espécies

da flora ameaçadas de extinção ou protegidas por legislação específica, como é o caso


da Araucaria angustifolia, espécie arbórea de grande expressão observada nos

fragmentos e capões de floresta atingidos, tampouco as questões relativas à estrutura

das comunidades florestais e também são prejudiciais no sentido de que não preveem
os impactos ambientais causados sobre a fauna (redução de abrigo e alimentação) e

sobre o solo como erosão e contaminação dos mananciais subterrâneos com

agrotóxicos e fertilizantes utilizados na lavoura.

Segundo a Nota Explicativa do Mapa da Área de Aplicação da Lei nº 11.428

/2006, os campos de altitude referidos no seu artigo 2º correspondem à vegetação

com estrutura herbácea ou herbácea/arbustiva, caracterizada por comunidades

florísticas próprias, que ocorre sob clima tropical, subtropical ou temperado,

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geralmente nas serras de altitudes elevadas ou planaltos, região onde se situa o imóvel

investigado.

A vegetação campestre da região dos Campos de Cima da Serra pode ser

enquadrada como campos de altitude, formação de elevada importância biológica

devido ao alto grau de endemismos, incluindo espécies raras e ameaçadas de extinção.

A Resolução CONAMA nº 423/2010 dispõe sobre os parâmetros básicos para a

identificação e análise da vegetação primária e dos estágios sucessionais da vegetação

secundária nos campos de altitude associados ou abrangidos pela Mata Atlântica.

Nesta norma são definidas como estando em estágio médio de regeneração as

áreas que sofreram ação antrópica com pouco ou nenhum comprometimento da parte

subterrânea da vegetação, ou que estejam em processo de regeneração após ação


antrópica mediante supressão da parte aérea e subterrânea da vegetação.

Como antes transcrito, o Gabinete de Assessoramento Técnico do Ministério


Público abordou a questão dos impactos da intervenção em tela em relação à

conversão dos campos nativos para o cultivo agrícola.

A partir então das constatações da Patram e análise do Gabinete de

Assessoramento Técnico do Ministério Público, constata-se que houve conversão de

campo nativo para uso alternativo de 124 hectares sem o correspondente

licenciamento do órgão ambiental estadual, de modo a configurar extremamente

danosa ao meio ambiente a grande e fortemente impactante intervenção realizada pela

ré, violando a Lei Federal nº 11.428/2006 e a Lei Federal nº 12.651/2012, devendo

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ser determinado que adote as medidas de reparação e compensação possíveis, bem

como indenize in pecunia a comunidade pelas demais parcelas dos danos, consoante
princípio da restitutio in integrum, como adiante se verá.

IV – A RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA PELOS DANOS CAUSADOS AO


MEIO AMBIENTE:

A Lei Federal nº 6.938/81, que cuida da Política Nacional do Meio Ambiente,

considera “poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,


responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação

ambiental” (artigo 3º, IV), e responsabiliza o poluidor, independentemente da

existência de culpa, a indenizar todos os danos causados ao meio ambiente (artigo 14,

parágrafo 1º), impondo, até mesmo ao usuário econômico dos recursos ambientais,

uma contribuição para a exploração desses recursos (artigo 4º, inciso VII).

Com efeito, essa Lei foi o primeiro passo para a proteção do meio ambiente
como interesse difuso. Além de conceituar meio ambiente, degradação ambiental,

poluição e poluidor, legitima o Ministério Público para ajuizar ação de responsabilidade


civil e criminal, e impõe ao poluidor o dever de indenizar ou reparar os danos causados

ao meio ambiente, independentemente da existência de culpa, trazendo, assim, ao

ordenamento jurídico brasileiro o instituto da responsabilidade civil objetiva, baseada

na Teoria do Risco Integral, que inadmite qualquer excludente (caso fortuito, força

maior, culpa exclusiva da vítima, dolo de terceiro), bastando, para gerar o dever de

indenizar, comprovar o dano, a atividade e o nexo de causalidade entre ambos.

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Esse instituto decorre do princípio do poluidor-pagador, segundo o qual quem,

de alguma forma, se utiliza dos recursos naturais ou contribui para a degradação


ambiental, deve ressarcir os danos ecológicos causados.

A Constituição Federal de 1988 consagrou explicitamente esse princípio,

obrigando o explorador dos recursos naturais a recuperar o meio ambiente, bem como

sujeitando-o à obrigação de reparar eventuais danos que venha a causar (artigo 225, §§
2º e 3º).

Estão, portanto, presentes os requisitos para exigir do requerido a recuperação

dos danos ambientais perpetrados, porquanto: a) é manifesta a violação de diversas

normas protetoras das florestas e demais formas de vegetação; b) o dano ambiental


restou comprovado pelos Autos de Infração, fotografias, etc.; e c) há provas do nexo de

causalidade entre as atividades perpetradas pelo requerido e os danos causados ao

meio ambiente.

V – O DEVER DE INDENIZAR E RECUPERAR OS DANOS – CUMULAÇÃO DE

OBRIGAÇÃO COMINATÓRIA E INDENIZATÓRIA:

Tendo o parecer da Divisão de Assessoramento Técnico do Ministério Público,

documento juntado ao inquérito civil, constatado o dano ambiental com suas

características múltiplas e complexas, resultante das atividades do requerido,

evidenciando a adequação de indenização pecuniária pelo dano ambiental, é possível

juridicamente a cumulação dos pedidos de condenação em obrigação de fazer com o

de indenização pecuniária, conforme previsto no inciso VII do artigo 4º da Lei nº.

6.938/81, que prescreve:

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Artigo 4º - A política nacional do meio ambiente visará:

VII – à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou

indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos


ambientais com fins econômicos. (grifamos)

Nesse sentido, é a jurisprudência:

“Apelação Cível. Reexame necessário. Ação civil pública. Dano ambiental. Sítio

arqueológico. Retirada de areia. Demonstrados nos autos os danos causados em


decorrência do proceder da demandada e da falta de fiscalização do Município,

impunha-se a procedência da ação. A perícia atesta danos irreversíveis, de modo que é

que cabível a restauração do que for possível mais a indenização dos danos". Apelação
improvida. Sentença confirmada em reexame". (AP. 70000687921, Capão da Canoa, 1ª

Câmara Especial Cível, Rel. Des. Adão Sérgio do Nascimento Cassiano, j. 20.06.01).

"Agravo de Instrumento. Ação Civil Pública. Cumulação de Pedidos. Obrigação

de fazer ou não fazer e indenização. Possibilidade. Recurso desprovido. O artigo 3º da

Lei n.º 7.347/85, antes de determinar que o pedido seja alternativo, prevê a
possibilidade de ambos. Ou seja, permite a cumulatividade do pedido de fazer ou não

fazer com o de indenização, sendo possível conhecer-se a Ação Civil Pública que a isto

intenta. Pela relevância do bem que se pretende defender – o meio ambiente – urge

que se permita a incidência dos dois tipos de tutela previstos na lei: repressiva e

preventiva" (Agravo de Instrumento n.º 124.187-6 de Curitiba, julgado em 21.10.02, Rel.

Des. Celso Rotolo de Macedo).

Os critérios para se estabelecer o quantum da indenização são informados,

inicialmente, pelo princípio da restitutio in integrum, que, a partir do princípio de direito

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ambiental do poluidor-pagador no sentido de internalização dos custos de prevenção,

precaução, atenuação e reparação do resultado nocivo da atividade econômica,


expressa que a coletividade deve ser restituída de tudo o que foi abalado pelo

empreendimento degradante, assim visto o prejuízo em todas as suas dimensões. É o

direito da coletividade à plena recomposição do patrimônio ecológico, de domínio

comum. Nada pode ficar de fora da restituição; se alguma parcela não é passível de

recomposição in specie nem pela via da denominada compensação ambiental[4], deve


sê-lo pela indenização in pecunia.

Nesse rumo, lição de ÁLVARO LUIZ VALERY MIRRA:

“Contudo, como ensina Édis Milaré, na responsabilidade fundada no risco criado


“aquele que lucra com uma atividade deve responder pelo risco ou pelas desvantagens

dela resultantes. Assume o agente, destarte, todos os riscos de sua atividade, pondo-se

fim, em tese, à prática inadmissível da socialização do prejuízo e privatização do lucro”.


Dessa forma, se os lucros visados e obtidos pelo empreendedor não são limitados, por

que razão a reparação dos danos por ele causados ao meio ambiente o seria, com

transferência definitiva de parte dos prejuízos ou dos custos da recomposição da


qualidade ambiental degradada à sociedade?”

O conjunto de princípios de direito ambiental, em coexistência e

complementação, o que é normal ocorrer com os princípios[5], determinam como linha


prioritária de obrigação (1º) a precaução e a prevenção, (2º) a reparação in specie (3º) a

compensação ambiental – reparação alternativa com efeito ecológico equivalente – e,

como última forma, (4º) a indenização in pecunia.

No entanto, esta indenização é cabível simultaneamente a outras formas de

reparação quando a peculiaridade da situação o determinar, como, por exemplo, se um

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Processo 5002351-42.2024.8.21.0038 Mandado 10056489479


ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
MINISTÉRIO PÚBLICO
PROMOTORIA DE JUSTIÇA ESPECIALIZADA DE VACARIA
Procedimento nº 00924.001.580/2022 — Inquérito Civil

aspecto do dano for possível a recuperação in specie e em outro não. Ou pela

coexistência de dano moral ambiental coletivo e dano material ambiental. Ainda, pela
restauração in specie de um dano atual, inclusive como meio de coibir propagação

futura, e indenização in pecunia de outro de característica pretérita.

Existem diversos elementos que devem ser ponderados para a estipulação do

valor da indenização.

Devem ser consideradas as vantagens potenciais que o degradador auferiu, ou

poderia ou pretendia auferir, com a atividade predatória.

Em tal linha, a fórmula de cálculo é baseada na metodologia VERD[6], que


considera dois grupos variáveis:

1) variáveis economicamente quantificáveis;

2) variáveis intangíveis economicamente.

As variáveis economicamente quantificáveis (madeira, produtos de mineração,

custo da execução de serviços, etc.) são utilizadas para constituir o valor base que o
empreendedor deixou de despender ou o resultado econômico que obteve ou poderia

obter com o produto, em detrimento do meio ambiente.

Assim, o valor total do dano ambiental é determinado pela multiplicação do


valor das variáveis economicamente quantificáveis pelo conjunto das variáveis

intangíveis afetadas, representadas por elementos do ambiente:

1. o solo (pelo aumento da suscetibilidade à erosão hídrica e eólica);

2. a flora (pela supressão da vegetação típica do banhado);

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3. a fauna (pela redução de abrigo e alimentação);

4. a água (pela drenagem do banhado);

5. o ar (pela emissão de gases e partículas na atmosfera).

Nesse rumo, o parecer técnico formulado pelo Gabinete de Assessoramento

Técnico do Ministério Público, referiu no item 2.5 da fl. 138 do Inquérito Civil anexo, a
metodologia adotada para a estimativa o quantum a ser indenizado, estimando o valor

de R$ 141.248,40 para a supressão da vegetação e conversão do campo nativo.

Importante destacar o que, em ciência ambiental, constitui o denominado

passivo ambiental, que está sempre presente no resultado da ação ambiental

degradante consistente nos serviços ecossistêmicos que deixam de ser mantidos

pela destruição de vegetação campestre e arbórea, bem como Área de Preservação

Permanente, por certo período de tempo.

Nesse sentido, é de se ter em conta os demais elementos utilizados para o

arbitramento da indenização por danos a bens intangíveis, como o dano moral do


direito comum, pois o dano ambiental – concebido mais recentemente – é ramo
evolutivo da doutrina civil, pelo que se aplicam os elementos desenvolvidos no direito

tradicional, quando compatíveis. De maneira que o aspecto punitivo e o pedagógico

da indenização, consoante pacíficos entendimentos doutrinário e jurisprudencial no

que refere ao dano moral comum individual (como nos casos mercantis de inscrição

indevida em cadastros de restrição de crédito), deve ser considerado de maneira a

coibir a reiteração da conduta reprovável.

Como elementar secundária informativa, é de se ponderar o dolo direto da

conduta com seus ingredientes da ação nociva planejada no trato do meio

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ambiente, demonstrada pela dimensão da área danificada, fatores que denotam

personalidade rebelde aos novos parâmetros culturais acerca do meio ambiente e da


concepção coletivista do direito de propriedade, com os limites ditados pela ordem

constitucional de 1988.

Nada mais certo, portanto, em se tratando de valores éticos, como os tutelados

pelo artigo 225 da Constituição Federal, que a mensuração da importância da

indenização seja por arbitramento do magistrado, mediante aplicação teleológica e

sistemática das normas incidentes, tendo como parâmetro inicial o laudo apresentado
pelo órgão técnico do Ministério Público.

Cabem juros de mora, de acordo com as disposições dos artigos 406 e 407 do

Código Civil, os quais, por decorrerem de atos ilícitos, contam-se desde a data do

evento danoso, nos termos Súmula nº. 54 do Superior Tribunal de Justiça. A


correção monetária, minus que se evita, incide desde a data da estimativa do dano.

VI – CONCESSÃO DE MEDIDA LIMINAR:

Com fulcro no artigo 84, caput, do Código de Defesa do Consumidor, impõe-

se o deferimento contra a ré de antecipação da tutela específica da obrigação de não

fazer, no sentido de não praticar supressão de vegetação nativa florestal, arbórea

ou campestre, nem conversão de campo nativo em área agrícola ou de silvicultura

ou qualquer intervenção em Área de Preservação Permanente ou não, em imóvel

de sua propriedade ou sob seus cuidados, assim como em quaisquer outros

imóveis, sem expressa autorização de órgão ambiental competente, a exemplo da

SEMA, FEPAM ou Departamento Municipal do Meio Ambiente.

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O deferimento de antecipação da tutela initio litis encontra amparo, ainda, no

artigo 300 do Novo Código de Processo Civil, como tutela de urgência em caráter

antecedente, porquanto há elementos que evidenciem a probabilidade do direito,


conforme narrativa acima e documentos que instruem a inicial, cuja repetição é

desnecessária, bem como há perigo de dano ao bem jurídico tutelado,


consubstanciado no risco de reiteração das condutas pelo réu.

Reafirma-se que o requerido demonstrou contrariedade à nova ordem legal,

índole do réu que se revela levando em conta a negativa de composição

extrajudicial do litígio no presente episódio, como antes demonstrado, o que permite

dizer que há tendência a repetir a conduta depredatória, uma vez que vê os recursos
ambientais como fonte de lucro e renda, indiscriminadamente. Assim, nada impedirá

que volte a danificar o meio ambiente, destruindo o ecossistema, de maneira que o

perigo na demora é evidente.

No caso do corte de árvores adultas que, em especial, fornecem abrigo e

alimentação à fauna silvestre, haverá mais gravidade nos danos irreparáveis ou de difícil
reparação.

Também o artigo 12, da Lei 7.347/85, que disciplina a Ação Civil Pública,

dispõe que o juiz pode conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, em

decisão sujeita a agravo.

O fumus boni iuris, no caso, está na plausibilidade do direito substancial

invocado pelo autor, pretendente da segurança. A fumaça do bom direito já foi

amplamente demonstrada, pois os pedidos encontram respaldo legal e são

fundamentados na doutrina.

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O periculum in mora encontra-se configurado no “dano potencial, um risco

que corre o processo de fundo de não ser útil ao interesse demonstrado pela

parte...”[7], e, tratando-se de questão ambiental, reside na real irreparabilidade do

patrimônio ecológico que venha a ser degradado. O perigo na demora reside no fato

de que, se não impedida, incontinenti, a repetição dos atos de enorme gravidade


ambiental na área impactada, aumentará ainda mais a degradação já proporcionada ao

meio ambiente e tornará mais difícil a sua recuperação.

Gize-se que em matéria ambiental, a prevenção, sem dúvida alguma, é mais


importante do que a reparação, que raramente é completa, e são sempre discutíveis as

condições de restabelecer a área degradada ao seu status quo ante.

Assim, demonstrado o perigo na demora da prestação jurisdicional e a fumaça do

bom direito, a ensejarem a concessão de liminar, nos termos do parágrafo 3º, do artigo

84, do Código de Defesa do Consumidor (aplicável à ação civil pública por força do art.
117, da Lei 8.078/90) e do art. 12, da Lei 7.347/85. Ademais, invocado aqui o poder

geral de cautela, inerente ao Poder Judiciário por definição e conceito, a acenar pela

concessão da liminar pleiteada, por preenchidos os pressupostos legais.

No respeitante à limitação ao direito de propriedade, a jurisprudência tem

expressado:

“AÇÃO CIVIL PÚBLICA - LIMINAR - PROTEÇÃO AMBIENTAL - LIMITAÇÃO

ADMINISTRATIVA. Configura limitação administrativa à propriedade, objetivando a

proteção ambiental, a definição, como área de preservação permanente, das florestas e


demais formas de vegetação natural situadas ao longo dos rios ou de qualquer curso

d'água. Essa limitação não importa em violação do direito de propriedade,

tampouco em afronta a qualquer direito adquirido. Por isso é mantida a

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concessão de liminar em ação civil pública, posto que ancorada em elementos

informativos que evidenciam a presença do fumus boni iuris e do periculum in

mora.” (AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 40025-9 DE ALTÔNIA. AGRAVANTE: JOSÉ


RICCIOLI ASSUNÇÃO AGRAVANTE: MINISTÉRIO PÚBLICO RELATOR: DES. PACHECO

ROCHA – grifo acrescido)

Por fim, vale dizer que a limitação de parcela do direito de propriedade que a
medida impõe é razoável frente aos interesses difusos tutelados, mormente pela

irreparabilidade absoluta do meio ambiente.

VI.1 – PODER GERAL DE CUATELA NA INSCRIÇÃO DE NOTÍCIA DA


EXISTÊNCIA DA AÇÃO:

Com fundamentos nos mesmos argumentos acima postos concernentes ao

fumus boni iuris e ao periculum in mora, cuja repetição se evita, o autor busca também

pela via do uso do poder geral de cautela, a providência de cuidado de inscrição de

notícia da existência da presente ação junto aos registros dos bens imóveis da ré

MARIZA DE FÁTIMA BUENO BERTONI, brasileira, produtora rural, CPF n. 312.475.200-

72, RG n. 2008967677, com endereço na Rua 7 de setembro, n. 282, centro de Vacaria,

RS, objeto dos assentos R-7-M-5.054, R-4-M-42.309, M-48.380, M-48.382, M-

48.377 e M-48.381 do Cartório de Registro de Imóveis de Vacaria, consoante

documentos das fls. 190 a 280.

A medida buscada não significa proibição de disposição dos bens, pois apenas

almeja dar ciência a eventuais terceiros que venham a ter interesse em tal bem que

existe em curso a presente Ação Civil Pública.

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Ademais, o parágrafo 2º do artigo 2º da Lei Federal nº 12.651/2012 (Código

Florestal Federal) estabelece o caráter propter rem da obrigação de Direito Ambiental:

“§ 2o As obrigações previstas nesta Lei têm natureza real e são transmitidas ao

sucessor, de qualquer natureza, no caso de transferência de domínio ou posse do

imóvel rural.” (grifos acrescidos)

Portanto, nessa ordem jurídica, nada mais acertado que a existência da ação de

responsabilização por danos ambientais conste como informação na matrícula do


álbum imobiliário, para conhecimento geral.

Desse modo, não se há de cogitar dos requisitos do arresto, sequestro ou

penhora para ser deferida a medida ora requerida, para o que bastam os fundamentos

do poder geral de cautela.

VII – INVERSÃO OU REDIMENSIONAMENTO DO ÔNUS DA PROVA:

Também com fulcro em disposições do Código de Defesa do Consumidor,

especificamente no artigo 6º, inciso VIII, consoante microssistema processual das

class action no Brasil, a que alude o artigo 21 da Lei da Ação Civil Pública, impõe-se a
determinação de inversão do ônus da prova na presente demanda, tendo em vista seu

escopo de proteção do meio ambiente.

Entretanto, sem óbice da incidência da legislação especial que regula as class

action, conforme acima posto, o Novo Código de Processo Civil estabelece no

parágrafo 1º do artigo 373 que:

“Art. 373. O ônus da prova incumbe:

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I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;

II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do


direito do autor.

§ 1º - Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa


relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo
nos termos do caput ou à maior facilidade de obtenção da prova do fato
contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde que o

faça por decisão fundamentada, caso em que deverá dar à parte a oportunidade

de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído.

§ 2º - A decisão prevista no § 1º deste artigo não pode gerar situação em que a

desincumbência do encargo pela parte seja impossível ou excessivamente difícil.”

(grifos acrescidos)

O novo código de processo civil não revogou a legislação complementar, a qual

possui caráter de lei especial, seguindo o brocardo lex generalis non derogat legi

specialis.

Até por que o parágrafo 1º inicia ressaltando expressamente “nos casos

previstos em lei”.

Não bastassem os dois elementos acima, o novo texto processual, ao contrário

de revogar a legislação esparsa acerca da “inversão do ônus da prova”, prestigiou o

instituto correlato ao trazer o tema para seu interior, conferindo-lhe, assim, mais valor

que o antigo sistema processual.

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Nessa ótica, às hipóteses legais anteriormente previstas para o

redimensionamento do ônus probatório na relação processual específica agregam-se


as situações novas previstas no parágrafo 1º do artigo 373 do Código de Processo Civil

/2015. Em vez de haver supressão de hipóteses, há acréscimo.

Desse modo, o artigo 6º, inciso VIII, do Código de Defesa do Consumidor,

exige, para a inversão do ônus da prova, a (i) verossimilhança das alegações ou (ii) da

hipossuficiência.

O conjunto probatório que instrui a inicial dá amplo respaldo aos fatos narrados

e aos pedidos veiculados por meio desta demanda, sendo induvidosamente

verossímeis as alegações e plausível a tutela jurídica postulada, razão pela qual é

cabível a inversão do ônus da prova com base no primeiro requisito do inciso VIII do

artigo 6º do Código de Defesa do Consumidor.

Ademais, em matéria ambiental, não se pode esquecer a grandiosidade

axiológica do direito difuso sob tutela, o bem jurídico que a norma pretende proteger,
o valor a que referia BETTIOL.

Tal enormidade valorativa decorre da conformação do artigo 225 da

Constituição Federal, cujos pontos de destaque não custa serem repetidos: bem de

uso comum do povo; essencialidade à sadia qualidade de vida; imposição do

dever de defesa ao Poder Público e à coletividade; preservação destinada às

presentes e futuras gerações.

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Tamanha é a dimensão desse direito que se pode atrever a afirmar que é o

único que contém positivado (e na Constituição Federal) a destinação

transgeracional, incluindo, assim, indivíduos que sequer hoje detêm expectativa


de um dia serem sujeitos de direito!

Nem a vida, a saúde ou a liberdade se projetam além da vida das pessoas,

ponderando-se que a titularidade de direitos inicia com o nascimento (para outros com
a concepção) e finda com o óbito.

Mas aqui o ordenamento vai muitíssimo além, projetando o dever de proteção a


pessoas que estarão na efetiva fruição somente daqui a décadas futuras.

E a titularidade é “comum do povo”, de modo a mostrar a dimensão ilimitada

quanto aos sujeitos do direito ambiental.

Portanto, quando o Ministério Público age processualmente em causas

ambientais o faz em substituição a essa gama infinita de indivíduos.

Assim, há de se levar em consideração a responsabilidade jurídica de igual

enormidade que o empreendedor possui pelo só fato de desenvolver atividade que

potencial ou efetivamente ocasione interferências nocivas no meio ambiente.

Decorre disso uma limitação ao direito de propriedade, segundo a qual o

usuário do bem imóvel, não sendo titular do meio ambiente nele inserido ou a ele

relacionado, não pode usufruir da terra de modo a causar desgaste ambiental

desequilibrador.

Deste modo, o empreendedor não é titular dos recursos ambientais do

imóvel e, na responsabilidade de zelo por esse patrimônio alheio, deve demonstrar

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que o utiliza em conformidade com os regramentos públicos, decorrendo daí o

ônus processual de comprovar o uso adequado da terra, quando houver

questionamento de prejudicialidade ambiental por sua gestão, como em demandas

similares à ora em foco.

Então, é um dever decorrente da gestão de patrimônio alheio a comprovação do


uso regular do bem, o que se traduz, processualmente, em ônus da prova pelo
empreendedor diante de imputação verossímil de dano ambiental, na forma de abuso

no direito de empreender.

Nesse rumo, tem-se a opinião do Ministro Herman Benjamin, que refere:

“... firmando-se a tese – inclusive no plano constitucional – de que há um dever

genérico e abstrato de não-degradação do meio ambiente, inverte-se, no campo

dessas atividades, o regime de ilicitude, já que, nas novas bases jurídicas, esta se

presume até prova em contrário.” (grifos acrescidos)

O Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul Justiça acolheu a teoria da

aplicabilidade da inversão do ônus da prova em ação civil pública ambiental, de acordo


com o que elucidam os julgados abaixo:

“MEIO AMBIENTE E CONSUMIDOR. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CAPTAÇÃO DE ÁGUA

DE POÇO ARTESIANO. AUSÊNCIA DE LICENÇA OU OUTORGA DO PODER PÚBLICO.

TAMPONAMENTO. CABIMENTO. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. INDENIZAÇÃO

POR DANOS AMBIENTAIS E AO MERCADO DE CONSUMO. INOCORRÊNCIA DE DANO.

Afigurando-se incontroversa a ausência de licença ou outorga do Poder Público para

captação da água, como exige o artigo 12, II, Lei nº 9.433/97, cabível o tamponamento
do poço artesiano, mantido o prazo para tanto fixado na sentença, já que nada foi

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carreado aos autos para evidenciar a efetiva impossibilidade do seu atendimento. Em

se tratando de debate em torno de danos ao meio ambiente e ao consumidor,

viável a inversão do ônus da prova, forte no artigo 6.º, VIII, CDC e no princípio da

precaução. Despropositado raciocínio quanto ao cabimento de indenização por danos

difusos e morais ambientais, uma vez afastada, até em tese, a possibilidade de


contaminação do lençol freático, tratando-se de modestíssimo poço de uso familiar por

casal de idosos, a cujo respeito insuspeita prova técnica aponta a potabilidade da

água.” (Apelação Cível Nº 70049052335, Vigésima Primeira Câmara Cível, Tribunal de


Justiça do RS, Relator: Armínio José Abreu Lima da Rosa, Julgado em 26/09/2012 –

grifos acrescidos)

Recentemente, em julgamento monocrático do Agravo de Instrumento nº

70068904036, realizado no dia 1º de abril de 2016, pelo Des. Leonel Pires

Ohlweiler, foi decidido:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. AÇÃO

CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. CABIMENTO.

Custeio da perícia. ônus da fazenda pública a qual o Ministério público está vinculado.

recurso parcialmente provido.

- Aplicação das Disposições do CPC/73 -

A discussão do presente agravo de instrumento, restrita à redistribuição do ônus

da prova, não se sujeita às disposições do Código de Processo Civil que entrou em

vigor no dia 18.03.2016. É que no caso, tanto as provas requeridas pelo autor como o

próprio pleito de inversão foram formulados antes da vigência do novo CPC, de modo
que tem aplicação o previsto no artigo 1.047 das suas disposições finais e transitórias.

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- Inversão do Ônus da Prova -

A inversão do ônus da prova, embora prevista no art. 6º, inc. VIII, do

Código de Defesa do Consumidor, possui comando normativo estritamente

processual, o que a torna aplicável em todos os domínios da Ação Civil Pública, e

não apenas nas relações de consumo.

Precedentes do STJ, desta Corte e da 3ª Câmara Cível.

- Pagamento da Perícia -

O pagamento da perícia deve ser imputado à Fazenda Pública a qual o

Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul, autor da ação, está vinculado.

Entendimento da jurisprudência do STJ e da Câmara.

AGRAVO DE INSTRUMENTO parcialmente PROVIDO, NA FORMA DO ART. 557, §


1º-a, do CPC.” (grifos acrescidos)

Nesse panorama, a partir da plena aplicabilidade do artigo 6º, inc. VIII, do


Código de Defesa do Consumidor ao caso em tela, o qual deve ser combinado com o

art. 21 da Lei 7.347/1985 e conjugado aos princípios da precaução, poluidor-

pagador e da indisponibilidade do direito protegido, tem-se justificada a inversão

do ônus e dos custos e honorários da prova, transferindo-se para o empreendedor da

atividade potencialmente perigosa o ônus de demonstrar que não houve violação ao

regramento da atividade (licenciamentos ambientais), enfim, em cumprimento do dever

de mostrar que agiu com o devido zelo do bem jurídico-ambiental público e coletivo
tutelado.

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA ESPECIALIZADA DE VACARIA
Procedimento nº 00924.001.580/2022 — Inquérito Civil

O parecer do Gabinete de Assessoramento Técnico do Ministério Público

juntado no expediente em anexo adotou critérios técnicos para apontar como se


operam os danos ao meio ambiente em situações, como antes narrado. Tal documento

foi elaborado por agente público com habilitação profissional superior em geologia,

ato praticado exercício da atividade administrativa de investigação, amparado pelas

presunções de legalidade e veracidade, agindo em atenção aos princípios do

interesse público e da impessoalidade.

Tal documento, juntamente com os que compõem o ato de verificação realizado

pela PATRAM, apresenta-se agora para ser submetido ao contraditório judicial, que

dependerá de manifestação do réu devidamente amparada por opinião com igual

aptidão técnica.

Todavia, mostra-se oportuna a determinação de inversão do ônus da prova ou

redimensionamento dele antes mesmo do início do debate judicial, a fim de que o

réu já esteja ciente dela e não haja surpresa nem desequilíbrio no embate de

argumentos e provas, em atenção ao disposto no parágrafo 2º do artigo 373 do

Novo Código de Processo Civil.

VIII – DO PEDIDO:

Ante o exposto, o Ministério Público requer:

(a) com fulcro nos artigos 21 da Lei 7.347/90 e 6º, VIII, do Código de Defesa do

Consumidor, a determinação de inversão ou redimensionamento do ônus da prova;

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(b) com fulcro nos artigos 12 da Lei 7.347/90, 273 do Código de Processo Civil, e

84, “caput”, do Código de Defesa do Consumidor, a concessão liminar, inaudita altera


parte, para:

(b.1) a providência de cuidado de inscrição de notícia da existência da

presente ação junto aos registros dos bens imóveis da ré MARIZA DE FÁTIMA

BUENO BERTONI, brasileira, produtora rural, CPF n. 312.475.200-72, RG n. 2008967677,

com endereço na Rua 7 de setembro, n. 282, centro de Vacaria, RS, objeto dos assentos

R-7-M-5.054, R-4-M-42.309, M-48.380, M-48.382, M-48.377 e M-48.381 do

Cartório de Registro de Imóveis de Vacaria, consoante documentos das fls. 190 a 280;

(b.2) tutela específica da obrigação, impondo ao réu que não pratique de

supressão de vegetação nativa florestal, arbórea ou campestre, nem conversão de

campo nativo em área agrícola ou de silvicultura ou qualquer intervenção em

Área de Preservação Permanente ou não, em imóvel de sua propriedade ou sob

seus cuidados, assim como em quaisquer outros imóveis, sem expressa

autorização de órgão ambiental competente, a exemplo da SEMA, FEPAM ou

Departamento Municipal do Meio Ambiente;

(b.2.1) seja cominada, em razão da gravidade da conduta danosa, para o caso

de descumprimento, com incidência desde a constatação, multa de R$ 500,00

(quinhentos reais) por metro cúbico de madeira industrializável (toras), R$ 200,00

(duzentos reais) por metro cúbico de madeira não industrializável (lenha), e no

caso de, por qualquer razão, não ser possível estimar o volume de madeira

resultante da supressão ou em caso de conversão de campo nativo para uso

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alternativo da área R$ 40.000,00 (vinte mil reais) por hectare (ou parcela) de

vegetação nativa atingida por supressão ou Área de Preservação Permanente


atingida por intervenção indevida;

(b.3) os valores acima deverão ser atualizados pelo índice IGP-M desde a data

da fixação e acrescido de juros de 1% ao mês, estes a contar da constatação da

infração, tudo até à data do efetivo adimplemento, sem prejuízo de responsabilização

criminal com base no artigo 330 do Código Penal;

(c) caso esse MM. Juízo entenda, para a finalidade de deferimento dos pedidos
liminares formulados, da necessidade de justificação preliminar, requer o Ministério

Público a designação de audiência específica, pelo que, desde logo, arrola as

testemunhas:

1. Ten. Tarso José Reginini, 1º/2ªCia/3ºBABM-Caxias do Sul;

2. Sd. Mendes, 1º/1º/2ªCia/3ºBABM-Caxias do Sul;

3. Sd. Cleiton Mello, 1º/1º/2ªCia/3ºBABM-Caxias do Sul;

4. Daniela Gelain, Fiscal do IBAMA;

5. Dorival Silva, Fiscal do IBAMA;

6. Marcelo Machado Madeira, Fiscal do IBAMA;

7. Rafael Silveira, Fiscal do IBAMA;

(d) seja determinada a citação da ré para contestar a presente ação, querendo,

sob pena de revelia;

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(e) deferida a produção de todas as provas em direito admitidas, em especial as

de inspeção judicial, testemunhal e pericial, bem como as contidas no Inquérito Civil em


anexo.

(f) ao final, seja tornada definitiva a medida liminar concedida, bem como

condenada o réu a reparar os danos causados ao meio ambiente, determinando-lhe, de


acordo com o sugerido no parecer do Gabinete de Assessoramento Técnico do

Ministério Público:

f.1) apresentar ao órgão ambiental competente (SEMA/DEFAP/DEBIO ou

Departamento Municipal do Meio Ambiente) no prazo de 30 dias, para análise e

aprovação, projeto de reparação ambiental da área degradada (PRAD), prevendo as

medidas de:

f.1.1) recuperação das áreas degradadas pela supressão de vegetação arbórea


e campestre, assim como das Áreas de Preservação Permanente, a ser implementado

no próprio local degradado;

f.1.2) o projeto deverá ser elaborado por assistente técnico devidamente

habilitado (engenheiro florestal, agrônomo ou biólogo), com emissão de ART,


conforme parecer do Gabinete de Assessoramento Técnico do Ministério Público,

atendendo as diretrizes do Termo de Referência para apresentação do Projeto de

Recuperação da Área Degradada disponível no endereço eletrônico da Secretaria

Estadual do Ambiente e Desenvolvimento sustentável;

f.2) as mudas de árvores nativas, caso previsto plantio, deverão ser marcadas

com estacas e isoladas para proteção contra pisoteio em eventual uso da área para

pecuária;

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f.2.1) a obrigação é de fim, não só de meio, de maneira que o réu deverá ser

ordenado a zelar para que envide esforços para ser promovida a recuperação da área
degradada;

f.3) caso o projeto referido acima não seja aprovado, o requerido deverá

atender as exigências do órgão ambiental no prazo estipulado por este, ou em 1 (um)

mês, se nada for estipulado, sendo tal providência, de verificação da aprovação do

projeto, de inteira responsabilidade do requerido;

f.4) após o início da execução do projeto mencionado acima, o respectivo local

deverá ser vistoriado pela PATRAM, ou outro órgão ambiental, mediante requisição
judicial, sendo o réu informado do resultado da vistoria;

f.5) na hipótese de descumprimento de qualquer dos prazos, seja de exigências

do DEFAP ou de execução do projeto, requer seja cominada multa diária de R$ 300,00

(cem reais), atualizados pelo índice IGP-M, desde a data da sentença, e acrescidos de

juros de 1% a.m., estes a contar do termo final do prazo para adimplemento;

(g) no caso da impossibilidade da implementação das providências in sepecie ou

diante de outros fatores, como mora excessiva de parte dos réus, seja a obrigação de

fazer convertida em perdas e danos, revertendo o valor para o Fundo de que trata o

artigo 13, da lei n° 7.347/85, no valor de R$ 40,00 por muda que deveria fazer vingar,
se houver previsão no projeto a ser aprovado, acrescidos de correção monetária e juros

na forma abaixo posta;

(h) condenar o réu a indenização pelos danos pretéritos causados em

importância a ser arbitrada por esse MM. Juízo, no valor de R$ 141.248,40 (cento e

quarenta e um mil, duzentos e quarenta e oito reais e quarenta centavos),

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devendo ser levado ainda em conta o dolo direto do réu, sendo o valor atualizado pelo

índice IGPM, a partir da data do cálculo, 14-02-2024, e acrescido de juros de 1% ao

mês, este a contar da data da constatação do evento danoso (13-9-2022, fls. 8 a 15)
até à data do efetivo adimplemento, devendo tal valor ser recolhido ao Fundo

Municipal do Meio Ambiente – FEMA, nos termos do artigo 13, da lei n° 7.347/85;

Para efeitos fiscais, dá-se à causa o valor de R$ 141.248,40 (cento e quarenta e

um mil, duzentos e quarenta e oito reais e quarenta centavos).

Vacaria, 11 de março de 2024.

Luis Augusto Gonçalves Costa,


Promotor de Justiça.

[1] Sérgio Cavalieri Filho, Malheiros/2004, p. 153.

[2] Embora se afirme que não há cogitar-se nexo causal na teoria do risco
integral, em análise mais cuidadosa do instituto, nota-se que o que ocorre é um

alargamento do nexo, que não precisa ser demonstrado diretamente entre dano e

conduta danosa específica. A ligação entre dano e atividade do agente imputado,

entretanto, não deixa de ser um nexo a ser demonstrado. Há facilitação no

estabelecimento desse nexo e o “alargamento” vai a circunstâncias como a de ser mero

proprietário do bem, sendo este o caso típico do direito ambiental. Mas não se pode

negar que o fato que liga o dano à situação de proprietário é uma espécie de “nexo
causal” na acepção jurídica.

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[3] Édis Milaré; Direito do Ambiente, Ed. RT, 2ª ed., 2001, pp. 166/167.

[4] Dra. Annelise Monteiro Steigleder, in Responsabilidade Civil Ambiental,

Livraria do Advogado/2004, p.248.

[5] Cláudio Bonatto e Paulo V. Dal Pai Moraes, in Questões Controvertidas no


Código de Defesa do Consumidor, Livraria do Advogado/2001, pp. 25 e 26.

[6] Cardoso, Artur Renato Albeche. A degradação ambiental e sues valores

econômicos associados. Sérgio Fabris editor. Porto Alegre, 2003, p. 96.

[7] Humberto Theodoro Júnior; Processo Cautelar, Leud, 14ª ed. 1993, p.73.

Nome: Luis Augusto Gonçalves Costa


Promotor de Justiça — 3440478
Lotação: Promotoria de Justiça Especializada de Vacaria
Data: 11/03/2024 13h53min

Documento eletrônico assinado por login e senha (Provimento nº 21/2023-PGJ).

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