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PRM-ARARAQUARA-MANIFESTAÇÃO-4112/2021

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL


PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO DE ARARAQUARA-SP

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ___


VARA FEDERAL DA 20ª SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
EM ARARAQUARA/SP.

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CIDADANIA. Ministério dos Transportes.
Interpretação equivocada e limitada dos
preceitos contidos no decreto 3.298/1999.
Pessoa com deficiência. Discriminação aos
portadores de esquizofrenia, síndrome de
imunodeficiência adquirida, visão

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monocular e outras doenças.

Ref.: Inquérito Civil n.º 1.34.017.000032/2020-44


Urgência PASSE-LIVRE VISÃO MONOCULAR

URGENTE: PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA (PASSE-LIVRE VISÃO


MONOCULAR)

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo Procurador da República


subscritor, nos termos do inciso III do art. 129 da Constituição Federal, bem como na alínea
“d” do inciso VII do artigo 6º da Lei Complementar n. 75/1993 (Lei Orgânica do Ministério
Público da União) e nos artigos 3º e 5º, inciso I, da Lei n. 7.347/1985, com base nos
elementos de colhidos no inquérito civil em epígrafe, propõe

AÇÃO CIVIL PÚBLICA


COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA DE URGÊNCIA

PROCURADORIA DA Av. Rodrigo Fernando Grillo, Ed. Victoria Business, 11º


REPÚBLICA NO Andar, Jardim Dos Manacas - Cep 14801534 - Araraquara-
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em face da UNIÃO (Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil) com


representação nesta seção judiciária pela Procuradoria-Regional da União da 3ª Região,
situada na Avenida Paulista, nº 1.374, 7º andar, Bela Vista – São Paulo / SP.

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pelas razões fáticas e jurídicas que passa a expor.

1. OBJETO DA AÇÃO

A presente Ação Civil Pública pretende obter provimento jurisdicional no

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sentido de compelir A União, por meio do Ministério dos Transportes, Portos e Aviação
Civil, a não recusar a concessão do benefício de passe livre às pessoas portadoras de visão
monocular, comprovadamente carentes, no sistema de transporte coletivo interestadual,
conforme as Leis: (i) Lei 13.146/15 (que institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência)), (ii) Lei n.º 8.899/94 (que concede passe
livre às pessoas portadoras de deficiência no sistema de transporte coletivo interestadual), (iii)
Lei n.º 14.126/21 (que classifica a visão monocular como deficiência sensorial, do tipo
visual), (iv) Decreto n.º 10.654/21 (que dispõe sobre a avaliação biopsicossocial da visão
monocular para fins de reconhecimento da condição de pessoa com deficiência), bem como
de acordo com a atual jurisprudência acerca do tema, portanto, com inclusão de pessoas
com visão monocular.

Em razão da urgência da demanda, é requerida tutela antecipada em caráter


incidental para obter o provimento da forma mais rápida possível e evitar o perecimento do
direito que se visa tutelar e, consequentemente, sobrestar os danos que têm sido causados às
pessoas objeto do direito postulado.

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2. LEGITIMIDADE ATIVA E COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL

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O objeto do presente pleito trata indubitavelmente de direitos difusos e
coletivos, sendo evidente a competência da Justiça Federal para processar e julgar a demanda,
nos termos do art. 109, I, da Constituição da República e, consequentemente, tem
legitimidade ativa o Ministério Público Federal, conforme inteligência do art. 129, III, art.
128, I e § 5º c/c art. 5º, III, alínea "e", da Lei Complementar nº 75/93.

3. LEGITIMIDADE PASSIVA

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A demanda tem em vista o controle judicial da posição manifestada pelo
Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil , por meio dos órgãos e autarquias
infralegais, na avaliação da solicitação e estabelecimento de critérios para a concessão do
passe livre para pessoas portadoras da visão monocular.
Tendo em conta esse cenário, presente se encontra a pertinência subjetiva da
pessoa jurídica de direito público arrolada no polo passivo desta ação, UNIÃO, com a
situação jurídica de direito material ora posta a exame.

4. DOS FATOS

O Ministério Público Federal, representado pela Procuradoria da República do


Município de Araraquara/SP, instaurou, por meio da Portaria nº 08/2020, o Inquérito Civil n.º
1.34.017.000032/2020-44 (cópia integral dos autos em anexo) para apurar notícia de eventual
interpretação equivocada e limitada, por parte da União, representada pelo Ministério dos
Transportes, do Decreto nº 3.298/99, que estaria a causar possível discriminação aos
portadores de visão monocular, por não serem considerados como pessoas com deficiência,

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para fins de concessão do passe livre no sistema de transporte coletivo interestadual,


instituído pela Lei n.º 8.899/94.
O referido Inquérito Civil que lastreia a presente Ação Civil Pública teve início

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com a representação de Rodrigo Azevedo Santos (fls. 03/04), recebida por meio da Sala de
Atendimento ao Cidadão, noticiando ser portador de visão monocular, e que, entrou em
contato com o Ministério da Infraestrutura no dia 26/04/2019, para fins de obter o passe-livre
interestadual, bem como para participar de concursos públicos. A visão monocular foi
devidamente comprovada por atestados médicos (ora anexo ao Inquérito Civil n.º
1.34.017.000032/2020-44).
O representante afirma, que embora tenha comprovado sua deficiência visual

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pelo formulário médico adequado, foi-lhe ainda exigido no dia 30/04/2019 exames de
acuidade no olho de melhor visão, conforme previsto pelo art. 4º, III, do Decreto n.º 3.298, de
20.12.99. Entende que tal exigência é excessiva para a concessão do benefício em questão,
uma vez que comprovou a incapacidade total de visão em um dos olhos.
Vale destacar que a representação que deu origem ao IC n.º
1.34.017.000032/2020-44, foi instruída com os documentos que também instruíram o pedido
de passe livre, dentre eles atestados médicos comprovando a visão monocular, bem como
com a carta de exigência que indica a necessidade de demonstrar determinado grau de
acuidade no melhor olho, para obtenção do benefício.
Sendo assim, foi informado de que não se enquadra no perfil de deficiente, ao
deixar de preencher requisitos legais do Decreto 3.298, de 20.12.99, para o ingresso no
Programa Passe-Livre.
Diante disso, foi oficiado (fl. 26) ao Ministério da Infraestrutura, a fim de
esclarecer os critérios exigidos para que a pessoa portadora de visão monocular possa
ser beneficiária do Programa Passe Livre Interestadual para pessoas carentes com deficiência,
uma vez que a visão monocular não está especificamente descrita no art. 4º, III, do Decreto
3.298/99. Em resposta (fls. 44/45), informou que o benefício havia sido negado pois o
requerente não demonstrou a sua situação de deficiência com os documentos apresentados,

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apenas preenchendo o requisito da condição de hipossuficiência.


Segundo o Ministério da Infraestrutura, apesar do art. 4º, inciso III não
mencionar o termo "visão monocular", o dispositivo considera deficiência visual, a baixa

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visão que significa acuidade visual máxima de 0,3 no melhor olho. No caso em tela, o
interessado apresenta acuidade visual de 20/20=1, em seu melhor olho, sendo este o esquerdo.
Desta forma, o benefício foi indeferido sob a justificativa de que o requerente
não conseguiu demonstrar o primeiro requisito do benefício, qual seja, sua situação de
deficiência, conforme interpretação do dispositivo do Decreto mencionado.
Portanto, ficou claro que o Ministério da Infraestrutura, se utiliza
unicamente dos parâmetros contidos no Decreto nº 3.298/1999 ao considerar pessoa com

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deficiência, ou seja, somente aquelas que se enquadram nos incisos e alíneas do art. 4º do
referido normativo, o que, de fato, restringe o direito garantido pela Lei nº 8.899/94.
Diante dos fatos apontados, e da postura adotada pelo Ministério da
Infraestrutura apta a restringir direito fundamental das pessoas com deficiência, aquela deve
ser corrigida pela via jurisdicional eleita.

5. DO DIREITO
a) Da interpretação equivocada e limitada da legislação que regulamenta o
Passe Livre Interestadual

A concessão do direito ao usufruto do passe livre, no sistema de transporte


coletivo interestadual, é acompanhado e organizado pelo Ministério da Infraestrutura que
garante a pessoas com deficiência e comprovadamente carentes o acesso gratuito ao
transporte coletivo interestadual (ou seja, o rodoviário, o ferroviário, o aéreo ou o aquaviário,
serviços públicos de concessão da União – art. 21, inc. XII, alíneas “c”, “d”, “e” e “f”, da
Constituição Federal).
Aliás, vale lembrar que o direito ao transporte é, por determinação

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constitucional, considerado um direito social (art. 6º, da Constituição Federal).


O direito ao usufruto do passe livre, no sistema de transporte coletivo
interestadual, foi instituído por meio da Lei n.º 8.899/94 nos seguintes termos:

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“Art. 1º É concedido passe livre às pessoas portadoras de deficiência,
comprovadamente carentes, no sistema de transporte coletivo interestadual.
Art. 2º O Poder Executivo regulamentará esta lei no prazo de noventa dias a
contar de sua publicação.
Art. 3º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 4º Revogam-se as disposições em contrário.”

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A Lei n.º 8.899/94, por sua vez, foi regulamentada pelo Decreto nº 3.691/2000,
que em seu art. 1º estabelece o dever de observância de uma série de outras Leis e Decretos
preexistentes na concessão do Passe Livre Interestadual:

“Art. 1º As empresas permissionárias e autorizatárias de transporte


interestadual de passageiros reservarão dois assentos de cada veículo,
destinado a serviço convencional, para ocupação das pessoas beneficiadas
pelo art. 1º da Lei no 8.899, de 29 de junho de 1994, observado o que
dispõem as Leis nºs 7.853, de 24 de outubro de 1989, 8.742, de 7 de
dezembro de 1993, 10.048, de 8 de novembro de 2000, e os Decretos nºs
1.744, de 8 de dezembro de 1995, e 3.298, de 20 de dezembro de 1999.
Art. 2º O Ministro de Estado dos Transportes disciplinará, no prazo de até
trinta dias, o disposto neste Decreto.
Art. 3º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.”
(grifos nossos)

Portanto, dentre as normas que devem ser observadas, para concessão do


benefício do passe livre no sistema de transporte coletivo interestadual, conforme o art. 1º, do

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Decreto nº 3.691/2000, destacam-se o Decreto n.º 3.298/1999, que é aplicado pelo Ministério
da Infraestrutura para a concessão do benefício, além da Lei n.º 8.742/93 (lei orgânica da
assistência social) e do Decreto nº 1.744/95, atualmente não mais vigente, pois foi revogado

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e substituído pelo Decreto n.º 6.214/2007 (regulamenta o benefício da prestação
continuada).
O Decreto n.º 3.298/1999, que traz o critério utilizado pelo Ministério dos
Transportes para a concessão do benefício do Passe Livre Interestadual, conforme informado
na Nota Informativa nº2/2020/SPL/SPOA/SE (fls. 44/45 dos autos do inquérito civil), conta
com um critério mais restrito, considerando pessoa com deficiência apenas aquelas que se
enquadram nos parâmetros constantes de seus incisos:

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Art. 4º É considerada pessoa portadora de deficiência a que se enquadra nas
seguintes categorias:
I - deficiência física - alteração completa ou parcial de um ou mais
segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função
física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia,
monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia,
hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral,
nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as
deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o
desempenho de funções; (Redação dada pelo Decreto nº 5.296, de 2004)
II - deficiência auditiva - perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um
decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas freqüências de 500HZ,
1.000HZ, 2.000Hz e 3.000Hz; (Redação dada pelo Decreto nº 5.296, de
2004)
III - deficiência visual - cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou
menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa
visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho,
com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da
medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60o;
ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores;
(Redação dada pelo Decreto nº 5.296, de 2004) (grifos nossos)

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IV - deficiência mental – funcionamento intelectual significativamente


inferior à média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações
associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como:

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a) comunicação;
b) cuidado pessoal;
c) habilidades sociais;
d) utilização dos recursos da comunidade; (Redação dada pelo Decreto nº
5.296, de 2004)
e) saúde e segurança;
f) habilidades acadêmicas;
g) lazer; e

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h) trabalho;
V - deficiência múltipla – associação de duas ou mais deficiências.
(grifos nossos)

Portanto, é fato que, ao se utilizar unicamente dos critérios constantes do art.


4º do Decreto nº 3.298/1999, não estariam abrangidos no conceito de pessoa com deficiência
para fins de concessão do passe livre no sistema de transporte coletivo interestadual, aquelas
pessoas acometidas por doenças, mesmo que incapacitantes - e no caso em tela, os portadores
de visão monocular.
Ocorre que, como dispõe o Decreto 3.691/2000 (que, conforme seu preâmbulo:
Regulamenta a Lei nº 8.899, de 29 de junho de 1994, que dispõe sobre o transporte de
pessoas portadoras de deficiência no sistema de transporte coletivo interestadual), também
deve ser observada na concessão do passe livre no sistema de transporte coletivo
interestadual, às pessoas com deficiência, a Lei 8.742/93 e o Decreto nº 6.214/2007 (já que
este revogou e substituiu o Decreto nº 1.774/95), que são bem mais abrangentes ao disporem
sobre quem pode ser considerado pessoa com deficiência.
A Lei 8.742/93 dispõe sobre o conceito de pessoa com deficiência no
parágrafo 2º de seu art. 20:
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“Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-


mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e

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cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a própria
manutenção nem de tê-la provida por sua família.
(...)
§ 2º Para efeito de concessão do benefício de prestação continuada,
considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de
longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual,
em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua
participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições
com as demais pessoas.” (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)

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(grifos nossos)

O Decreto nº 6.214/2007, por sua vez, utilizando-se da mesma redação, dispõe


em seu art. 4º, inciso II, de seu Anexo:

“Art. 4º Para os fins do reconhecimento do direito ao benefício, considera-


se: (...)
II - pessoa com deficiência: aquela que tem impedimentos de longo
prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em
interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação
plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais
pessoas;” (Redação dada pelo Decreto nº 7.617, de 2011)
(grifos nossos)

Ademais, o próprio Decreto nº 1.774/95, revogado pelo Decreto nº 6.214/2007,


também estipulava, no seu art. 1º, inciso II, que considerava pessoa portadora de deficiência:
"aquela incapacitada para a vida independente e para o trabalho em razão de anomalias
ou lesões irreversíveis de natureza hereditária, congênitas ou adquiridas, que impeçam o

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desempenho das atividades da vida diária e do trabalho."


Por fim, a Lei nº 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), em
consonância com as disposições da Convenção sobre os Direitos das Pessoas

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com Deficiência, também consagra um conceito mais abrangente de pessoa com deficiência
comparado ao utilizado pelo Ministério da Infraestrutura. Vejamos:

"Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento


de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual,
em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação
plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais
pessoas."

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Diante de todas as disposições normativas mencionadas, é inexorável concluir
que foi adotado por nosso ordenamento jurídico um critério mais amplo de deficiência,
abrangendo não só a deficiência delineada pelos critérios do Decreto nº 3.298/1999, conforme
já reconhece o Ministério dos Transportes, mas também ampliando o rol de beneficiários,
para incluir também aquelas pessoas com impedimentos de longo prazo de natureza
física, mental, intelectual ou sensorial, que em interação com diversas barreiras, podem
obstruir a participação plena e efetiva dessas pessoas na sociedade em igualdade de
condições com as demais, rol este em que podem ser incluídos os portadores de visão
monocular.
Todavia, a União, através do Ministério da Infraestrutura, firmou posição,
conforme documentado (Nota Informativa nº2/2020/SPL/SPOA/SE do inquérito civil, cuja
cópia segue em anexo), de que não reconhece essa ampliação de beneficiários (público-
alvo) para fins de concessão do passe livre às pessoas portadoras de deficiência,
comprovadamente carentes, no sistema de transporte coletivo interestadual.

b) Da recente atualização legislativa acerca do tema objeto desta demanda


e posições jurisprudênciais
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Em março do corrente ano foi publicada a Lei n.º 14.126 que classifica a visão

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monocular como deficiência sensorial, do tipo visual, bem como também foi publicado
o Decreto n.º 10.654 que dispõe sobre a avaliação biopsicossocial da visão monocular para
fins de reconhecimento da condição de pessoa com deficiência:

Lei n.º 14.126


Art. 1º Fica a visão monocular classificada como deficiência sensorial, do
tipo visual, para todos os efeitos legais. (Vide)

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Parágrafo único. O previsto no § 2º do art. 2º da Lei nº 13.146, de 6 de julho
de 2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), aplica-se à visão monocular,
conforme o disposto no caput deste artigo.

Decreto n.º 10.654


Art. 1º Este Decreto dispõe sobre a avaliação biopsicossocial da visão
monocular para fins de reconhecimento da condição de pessoa com
deficiência.
Art. 2º A visão monocular, classificada como deficiência sensorial, do tipo
visual, pelo art. 1º da Lei nº 14.126, de 22 de março de 2021, será avaliada
na forma prevista nos § 1º e § 2º do art. 2º da Lei nº 13.146, de 6 de julho de
2015, para fins de reconhecimento da condição de pessoa com deficiência.

Com as atualizações acima, a visão monocular passa a ser classificada como


deficiência sensorial, do tipo visual, para todos os efeitos legais e deve ser avaliada de forma
biopsicossocial, por meio de equipe multiprofissional e interdisciplinar e considerará os
impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo, bem como os fatores socioambientais,
psicológicos e pessoais que acarretam limitações no desempenho de atividades e restrições de
participação, tudo com o objetivo de atestar a condição de pessoa com deficiência ( § 1º e § 2º
do art. 2º da Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015):

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Lei nº 13.146
Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de

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longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em
interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e
efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.
§ 1º A avaliação da deficiência, quando necessária, será biopsicossocial,
realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar e considerará:
I - os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo;
II - os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais;
III - a limitação no desempenho de atividades; e

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IV - a restrição de participação.
§ 2º O Poder Executivo criará instrumentos para avaliação da deficiência.

Sobre o tema, o STJ sumulou em seu enunciado n. 377 que "o portador de
visão monocular tem direito de concorrer, em concurso público, às vagas reservadas aos
deficientes".
Por sua vez, o enunciado sumular n. 45 da AGU dispõe que "os benefícios
inerentes à Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência devem
ser estendidos ao portador de visão monocular, que possui direito de concorrer, em concurso
público, à vaga reservada aos deficientes".
Dessa forma, com as recentes atualizações a visão monocular passa a ser
classificada como deficiência sensorial, do tipo visual passa a caracterizar
inequivocamente deficiência física na forma do art. 1º, IV, § 2º, da Lei n.º 8.989/1995. a
ensejar concessão da isenção do IPI na aquisição de veículo.
Nesse passo, por obviedade, a visão monocular caracteriza condição de pessoa
com deficiência, para fins de concessão de passe livre no sistema de transporte público
interestadual, prevista na Lei n.º 8.999/1994.

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Esse também é o Entendimento jurisprudencial acerca do tema. Vejamos:

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CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE RITO
ORDINÁRIO. TRANSPORTE PÚBLICO INTERESTADUAL. PASSE
LIVRE. PESSOA COM DEFICIÊNCIA. LEI 8.899/94. VISÃO
MONOCULAR. COMPROVAÇÃO. RECONHECIMENTO DO DIREITO.
SENTENÇA MANTIDA.
1. Considerando-se que a Lei nº 8.899/94 assegurou a concessão de
passe livre no sistema de transporte público interestadual aos
portadores de deficiência, afigura-se razoável aplicar-se a inteligência
jurisprudencial no sentido de que a visão monocular caracteriza
deficiência visual com vistas na obtenção do referido benefício, medida

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esta que se encontra em sintonia com um dos objetivos fundamentais
inseridos na Constituição Federal da República Federativa do Brasil, no
sentido de se construir uma sociedade livre, justa e solidária (CF, art. 3º, I)
(AC 0061100- 87.2011.4.01.3400/ DF, Rel. Desembargador Federal Souza
Prudente, Quinta Turma, eDJF1 p. 755 de 08/05/2014).
2. Na hipótese, ficou comprovada a condição de pessoa com deficiência do
autor, que possui visão monocular, o que impõe a concessão de passe livre
no sistema de transporte público interestadual, prevista na Lei 8.999/94.
3. Apelação e remessa necessária a que se nega provimento.
4. Honorários advocatícios majorados de 10% (dez por cento) para 12%
(doze por cento) sobre o valor da causa (R$ 1.000,00 mil reais), nos termos
do art. 85, § 11, do CPC.
(TRF-1 - AC: 10263405120184013400, Relator: DESEMBARGADORA
FEDERAL DANIELE MARANHÃO COSTA, Data de Julgamento:
24/02/2021, QUINTA TURMA, Data de Publicação: PJe 05/03/2021 PAG
PJe 05/03/2021 PAG).
(grifos nossos)

6. DA CONCESSÃO DA TUTELA PROVISÓRIA

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A possibilidade de antecipação dos efeitos da tutela na esfera coletiva tem


previsão no art. 12, da Lei n° 7.347/85 e no art. 84, do Código de Defesa do Consumidor,
dispositivos que, aliados às disposições do Código de Processo Civil, configuram o

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microssistema a tutela coletiva.
O requisito da urgência, no caso em tela, consubstancia diante da violação
cotidiana de direitos a pessoas com deficiência, comprovadamente carentes, em razão da
limitação ilegal imposta, impedindo-os de exercer plenamente seu direito à mobilidade e ao
transporte, essenciais ao pleno exercício da cidadania e, considerado um direito social (art. 6º,
Constituição Federal).
Assim, os beneficiários, público-alvo indiscutivelmente vulnerável sócio e

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economicamente, cujos direitos aqui se tutela, estão sendo impedidos de exercer direito
cristalino e legítimo previsto no ordenamento jurídico vigente em razão de postura
absolutamente violadora de direitos fundamentais, de gestores da burocracia estatal.
Vêm-se estas pessoas hipossuficientes economicamente sendo obrigadas a
adquirir passagens transporte coletivo interestadual, de alto custo para poder realizar
deslocamentos, muitas vezes para ver suas famílias ou até mesmo realizar tratamentos de
saúde.
A probabilidade do direito, a seu turno, encontra-se exaustivamente
fundamentada na robustez das teses jurídicas ventiladas nesta exordial, que são
manifestamente plausíveis para fundamentar futuro pronunciamento judicial exauriente de
acolhimento dos pedidos deste autor.
Está-se à frente de circunstância autorizadora de tutela provisória, seja sob o
caráter de urgência, seja sob o caráter de evidência. E, o que aqui narrado e comprovado à
exaustão, conclama a especial observância dos arts. 1º e 8º do Código de Processo Civil, a
indicar que na perspectiva do interesse social e do devido processo legal, entendido como
processo justo, a antecipação da tutela jurisdicional, em caráter provisório, é medida que se
impõe:

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Código de Processo Civil


Art. 1º O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme
os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da

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República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código.
[…]
Art. 8º Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e
às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da
pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a
legalidade, a publicidade e a eficiência.

E processo justo, nas palavras precisas e ponderadas de Daniel Mitidiero é

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aquele:

“… capaz de prestar tutela jurisdicional adequada e efetiva, em as partes


participam em pé de igualdade e paridade de armas, em contraditório, com
ampla defesa, com direito à prova, perante juiz natural, em que todos os seus
pronunciamentos são previsíveis, confiáveis e motivados, em procedimento
público, com duração razoável e, em sendo o caso, com direito à assistência
jurídica integral e formação de coisa julgada ...”[1]

Isto porque na feliz síntese, também do professor Daniel Mitidiero [2], é preciso
observar que o processo necessita de um tempo fisiológico que não há como suprimir, e que o
aperfeiçoamento da prestação jurisdicional deve ter como escopo a eliminação do tempo
patológico do processo.
Assim, sob a orientação de tais ponderações pode-se concluir que o vigente
Código de Processo Civil adotou e reforçou as técnicas de cognição sumária, em livro
próprio, que disciplina as tutelas provisórias (arts. 294 a 311, novo CPC), classificadas em
tutelas de urgência (cautelar e antecipada) e de evidência, ambas concedidas mediante um
juízo de probabilidade do direito e, no caso das primeiras também reclamando a comprovação
do perigo de dano ou risco ao resultado. Isso tudo para que o processo seja justo e efetivo.

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a) Da abrangência nacional da decisão

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Como a função da ação civil pública é a tutela de interesses coletivos latu
sensu, temos que a decisão emanada na presente ação não pode ter qualquer
limitação territorial, sob pena de restar desconfigurada sua principal função. A esse respeito,
nos valemos da crítica tecida por Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart:

“Em que pese o fato de o direito nacional estar munido de suficientes

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instrumentos para a tutela das novas situações de direito substancial, o
despreparo para o trato com esses novos e poderosos mecanismos vem,
nitidamente, minando o sistema e transformando-o em ente teratológico que
flutua no limbo. As demonstrações dessa crise são evidentes, e são
mostradas diariamente por meio dos veículos de comunicação, quando se vê
o tratamento dispensado às ações coletivas no direito brasileiro. Para
impedir o prosseguimento desta visão míope da figura, bem como para
permitir a adequada aplicação do instituto, é necessário não se afastar do
norte fundamental: o direito transindividual não pode ser confundido com o
direito individual, e mesmo este último, diante das peculiaridades da
sociedade de massa, merece tratamento diferenciado.”

Considerando que os atos normativos combatidos têm abrangência nacional, os


interessados em obter o provimento jurisdicional pleiteado nesta ação estão pulverizados por
todo o país, fato que autoriza a extensão da eventual eficácia de uma decisão.
Ademais, a restrição dos efeitos da sentença nos limites da competência
territorial deste Juízo sequer atenderia à finalidade do próprio objeto da ação, que é o
transporte interestadual.
Trata-se, portanto, de direito difuso, cuja eventual sentença não tem limitação
territorial, ao contrário do que pode sugerir o art. 16 da Lei 7.347/85. Acerca do tema, Ada
Pellegrini Grinover entende que o que determina o âmbito de abrangência da coisa julgada é
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o pedido, e não a competência, ou seja, sendo o pedido amplo (erga omnes), o juiz
competente o será para julgar a respeito de todo o objeto do processo.
A esse respeito, vale citar a seguinte decisão do e. Superior Tribunal de Justiça:

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“Processo civil e direito do consumidor. Ação civil pública. Correção
monetária dos expurgos inflacionários nas cadernetas de poupança. Ação
proposta por entidade com abrangência nacional, discutindo direitos
individuais homogêneos. Eficácia da sentença. Ausência de limitação.
Distinção entre os conceitos de eficácia da sentença e de coisa julgada.
Recurso especial provido. - A Lei da Ação Civil Pública, originariamente,
foi criada para regular a defesa em juízo de direitos difusos e coletivos. A

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figura dos direitos individuais homogêneos surgiu a partir do Código de
Defesa do Consumidor, como uma terceira categoria equiparada aos
primeiros, porém ontologicamente diversa. - A distinção, defendida
inicialmente por Liebman, entre os conceitos de eficácia e de autoridade da
sentença, torna inócua a limitação territorial dos efeitos da coisa julgada
estabelecida pelo art. 16 da LAP. A coisa julgada é meramente a
imutabilidade dos efeitos da sentença. Mesmo limitada aquela, os efeitos da
sentença produzem-se erga omnes, para além dos limites da competência
territorial do órgão julgador. - O procedimento regulado pela Ação Civil
Pública pode ser utilizado para a defesa dos direitos do consumidor em
juízo, porém somente no que não contrariar as regras do CDC, que contem,
em seu art. 103, uma disciplina exaustiva para regular a produção de efeitos
pela sentença que decide uma relação de consumo. Assim, não é possível a
aplicação do art. 16 da LAP para essas hipóteses. Recurso especial
conhecido e provido.” (REsp 411.529/SP)

Logo, a amplitude da tutela ora pleiteada deve abranger todo território


nacional.

7. DO DANO MORAL (EXTRAPATRIMONIAL) COLETIVO

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Aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar


a ordem jurídica, comete ato ilícito e fica obrigado a repará-lo, na forma dos arts. 186 e 927
do Código Civil.

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Como explanado, a presente ação, que visa a promoção do direito das pessoas
com deficiência, garantido constitucionalmente e infraconstitucionalmente, através de
política pública que visa garantir a mobilidade, o transporte, através da concessão de passe
livre no sistema interestadual de transportes coletivos.
Ocorre que tal direito vem sendo sonegado, por interpretação absolutamente
equivocada de gestores públicos, consistente em inegável abuso de poder, restringindo
severamente e contrário ao ordenamento jurídico a definição de pessoa com deficiência, para

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tais fins.
E, essa atitude, é inegável, causa danos extrapatrimoniais coletivos
(considerado o público vulnerável atingido), com violação ao princípio da dignidade da
pessoa humana, o que impõe ao Ministério Público, enquanto órgão de promoção de direitos
humanos e fundamentais, a busca de reparação desses danos extrapatrimoniais coletivos, no
plano judicial contra esse tratamento conferido aos estrangeiros refugiados pelas agentes do
mercado financeiros.
Como tem afirmado o Ministro Marco Aurélio, do Supremo Tribunal Federal,
o judiciário é a última trincheira da cidadania e, acrescentamos, ainda mais quando são
solapados direitos fundamentais de público vulnerável, gravados de forma expressa, enfática
e explícita no ordenamento jurídico.
Essa extrema restrição ao exercício do direito social ao transporte (art. 6º,
Constituição Federal) deste público vulnerável causa danos de caráter extrapatrimonial.
Sobre o cabimento do dano moral coletivo em tais circunstâncias, Maria Sylvia
Zanella Di Pietro, ao discorrer sobre os pressupostos da ação civil pública, ensina que:

Constitui pressuposto da ação civil pública o dano ou a ameaça de dano a


interesse difuso ou coletivo, abrangidos por essa expressão o dano ao

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patrimônio público e social, entendida a expressão no seu sentido mais


amplo, de modo a abranger o dano material e o dano moral. (Direito
Administrativo, 26a edição, São Paulo: Atlas, 2013, p.880)

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Restou demonstrado que a União, através dos gestores públicos do Ministério
dos Transportes, viola direitos fundamentais das pessoas com deficiência,
comprovadamente carentes, que pretendem se utilizar do direito de obter o passe livre no
sistema de transporte interestadual de passageiros. No ponto destaque-se que:

Código Civil

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Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo.
[…]
Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:
[…]
III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos,
no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;

No caso, o prejuízo e as lesões causadas tal público vulnerável é inafastável,


não há como refutá-los. Também não há como contestar que está configurada grave situação
geradora de danos morais coletivos, extrapatrimoniais, e portanto passível de indenização.
Sobre o tema, oportunas as colocações da Exma. Ministra Eliana Calmon,
relatora no julgamento do Resp 1.057.274, no C. Superior Tribunal de Justiça:

Não aceito a conclusão da 1ª Turma, por entender não ser essencial à


caracterização do dano extrapatrimonial coletivo prova de que houve dor,
sentimento, lesão psíquica, afetando "a parte sensitiva do ser humano, como
a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas" (Clayton
Reis, Os Novos Rumos da Indenização do Dano Moral, Rio de Janeiro:

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Forense, 2002, p. 236), "tudo aquilo que molesta a alma humana, ferindolhe
gravemente os valores fundamentais inerentes à sua personalidade ou
reconhecidos pela sociedade em que está integrado" (Yussef Said Cahali,
Dano Moral, 2ª ed., São Paulo: RT, 1998, p. 20, apud Clayton Reis, op. cit.,

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p. 237), pois como preconiza Leonardo Roscoe Bessa: (...) a indefinição
doutrinária e jurisprudencial concernente à matéria decorre da absoluta
impropriedade da denominação dano moral coletivo , a qual traz consigo -
indevidamente - discussões relativas à própria concepção do dano moral no
seu aspecto individual. (apud Dano Moral Coletivo, p. 124) Na doutrina, já
há vários pronunciamentos pela pertinência e necessidade de reparação do
dano moral coletivo. José Antônio Remédio, José Fernando Seifarth e
José Júlio Lozano Júnior informam a evolução doutrinária: Diversos são os
doutrinadores que sufragam a essência da existência e reparabilidade do

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dano moral coletivo: Limongi França sustenta que é possível afirmar a
existência de dano moral "à coletividade, como sucederia na hipótese de se
destruir algum elemento do seu patrimônio histórico ou cultural, sem que se
deva excluir, de outra parte, o referente ao seu patrimônio ecológico".
Carlos Augusto de Assis também corrobora a posição de que é possível a
existência de dano moral em relação à tutela de interesses difusos, indicando
hipótese em que se poderia cogitar de pessoa jurídica pleiteando indenização
por dano moral, como no caso de ser atingida toda uma categoria
profissional, coletivamente falando, sem que fosse possível individualizar os
lesados, caso em que se ria conferida legitimidade ativa para a entidade
representativa de classe pleitear indenização por dano moral. A sustentar e
esclarecer seu posicionamento, aponta Carlos Augusto de Assis, a título de
exemplo: "Imagine-se o caso de a classe dos advogados sofrer vigorosa
campanha difamatória. Independente dos danos patrimoniais que podem se
verificar (e que também seriam de difícil individualização) é quase certo que
os advogados, de uma maneira geral, experimentariam penosa sensação de
desgosto, por ver a profissão a que se dedicam desprestigiada. Seria de
admitir que a entidade de classe (no caso, a Ordem dos Advogados do
Brasil) pedisse indenização pelo dano moral sofrido pelos advogados
considerados como um todo, a fim de evitar que este fique sem qualquer
reparação em face da indeterminação das pessoas lesadas. Carlos Alterto
Bittar Filho leciona: "quando se fala em dano moral coletivo, está-se
fazendo menção ao fato de que o patrimônio valorativo de uma certa
comunidade (maior ou menor), idealmente considerado, foi agredido de
maneira absolutamente injustificável do ponto de vista jurídico". Assim,

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tanto o dano moral coletivo indivisível (gerado por ofensa aos interesses
difusos e coletivos de uma comunidade) como o divisível (gerado por
ofensa aos interesses individuais homogêneos) ensejam reparação.
Doutrinariamente, citam-se como exemplos de dano moral coletivo aqueles

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lesivos a interesses difusos ou coletivos: "dano ambiental (que consiste na
lesão ao equilíbrio ecológico, à qualidade de vida e à saúde da coletividade),
a violação da honra de determinada comunidade (a negra, a judaica etc.)
através de publicidade abusiva e o desrespeito à bandeira do País (o qual
corporifica a bandeira nacional). (in Dano moral. Doutrina, jurisprudência e
legislação . São Paulo: Saraiva, 2000, pp. 34-5).

E não poderia ser diferente porque as relações jurídicas caminham para uma
massificação e a lesão aos interesses de massa não podem ficar sem

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reparação, sob pena de criar-se litigiosidade contida que levará ao fracasso
do Direito como forma de prevenir e reparar os conflitos sociais. A
reparação civil segue em seu processo de evolução iniciado com a negação
do direito à reparação do dano moral puro para a previsão de reparação de
dano a interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos, ao lado do já
consagrado direito à reparação pelo dano moral sofrido pelo indivíduo e
pela pessoa jurídica (cf. Súmula 227/STJ). Com efeito, os direitos de
personalidade manifestam-se como uma categoria histórica, por serem
mutáveis no tempo e no espaço. O direito de personalidade é uma categoria
que foi idealizada para satisfazer exigências da tutela da pessoa, que são
determinadas pelas contínuas mutações das relações sociais, o que implica a
sua conceituação como categoria apta a receber novas instâncias sociais. (cf.
LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental. do individual ao coletivo
extrapatrimonial. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000, p. 287).
Como constata Xisto Tiago de Medeiros Neto: Dessa maneira, o
alargamento da proteção jurídica à esfera moral ou extrapatrimonial dos
indivíduos e também aos interesses de dimensão coletiva veio a significar
destacado e necessário passo no processo de valorização e tutela dos direitos
fundamentais. Tal evolução, sem dúvida, apresentou-se como resposta às
modernas e imperativas demandas da cidadania. Ora, desde o último século
que a compreensão da dignidade humana tem sido referida a novas e
relevantíssimas projeções, concebendo-se o indivíduo em sua integralidade
e plenitude, de modo a ensejar um sensível incremento no que tange às
perspectivas de sua proteção jurídica no plano individual, e, também, na

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órbita coletiva. É inegável, pois, o reconhecimento e a expansão de novas


esferas de proteção à pessoa humana, diante das realidades e interesses
emergentes na sociedade, que são acompanhadas de novas violações de
direitos. (Dano moral coletivo. 2ª ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 121). g.n.

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Seguem também conclusões do Tribunal Regional Federal da 3ª Região sobre
a responsabilização da União por danos de natureza coletiva:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DIREITOS SOCIAIS. DANO MORAL


COLETIVO. DIREITO SUBJETIVO DOS PORTADORES
DE DEFICIÊNCIA AO PASSE LIVRE NO TRANSPORTE

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RODOVIÁRIO INTERESTADUAL. LEI 8.899/94. DIREITO QUE
DEPENDIA DE REGULAMENTAÇÃO PARA A DEFINIÇÃO DO SEU
CONTEÚDO. INEXISTÊNCIA DO DIREITO SUBJETIVO ANTES DA
REGULAMENTAÇÃO PELO PODER EXECUTIVO FEDERAL. PERDA
PARCIAL DO OBJETO DA AÇÃO COM A SUPERVENIÊNCIA DA
REGULAMENTAÇÃO. PERSISTÊNCIA DO INTERESSE NO
JULGAMENTO DO PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS COLETIVOS. PEDIDO ADMISSÍVEL EM TESE.
PRECEDENTE DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. AUSÊNCIA
DE RESPONSABILIDADE DAS EMPRESAS PERMISSIONÁRIAS DO
TRANSPORTE RODOVIÁRIO POR DANOS MORAIS COLETIVOS.
DANOS IMPUTÁVEIS À OMISSÃO DA UNIÃO FEDERAL. DEMORA
EXCESSIVA EM REGULAMENTAR A LEI 8.899/94. CONDENAÇÃO
DA UNIÃO AO PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO. [...]. É insofismável
que o Poder Executivo federal extrapolou de forma gritante o comando
legislativo para regulamentar em 90 dias o direito previsto no art. 1º da Lei
8.899/94, só vindo a fazê-lo cerca de seis anos depois da entrada em vigor
deste diploma normativo. 14. Inexorável, destarte, a responsabilidade da
União pela reparação destes danos de natureza coletiva, com fundamento no
§ 6º do art. 37 da Constituição Federal. 15. O arbitramento do valor deve
obedecer a critérios distintos daqueles propostos na petição inicial e na
apelação, para ser arbitrado em valor determinado, o que, em se tratando de
processo de natureza coletiva, está compreendido nos poderes do juiz que
Ada Pellegrini Grinover cita como "defining function". 16. Parcial

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provimento à apelação para anular parcialmente a sentença e, nos termos do


§ 3º do art. 515 do CPC, condenar a União Federal ao pagamento de
indenização no valor de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais), a ser
destinada ao fundo previsto no art. 13 da Lei 7.347/85. Sem condenação em

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honorários advocatícios. (TRF-3. AP Cível nº 1418769, Ação Civil Pública
nº 00045059119994036000. Terceira Turma, Juiz Convocado Valdeci dos
Santos. Disponibilizado em 11.05.2012)

8. DOS PEDIDOS

Considerando o panorama aqui traçado, o Ministério Público Federal requer:

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IV.1) em sede de tutela provisória de urgência e/ou de evidência:
a) a imposição de obrigação não de fazer à União, através do Ministério dos
Transportes, Portos e Aviação Civil, para que não recuse a concessão do
benefício de passe livre às pessoas portadoras de deficiência,
comprovadamente carentes, no sistema de transporte coletivo interestadual
(Lei nº 8.899/94), que se enquadrem na definição do art. 4º, inciso II, do
Anexo do Decreto nº 6.214, de 26 de setembro de 2007, do seguinte teor:
“pessoa com deficiência: aquela que tem impedimentos de longo prazo de
natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com
diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na
sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas”, portanto,
com inclusão de pessoas com visão monocular;

b) a imposição da obrigação de fazer à União, através do Ministério dos


Transportes, Portos e Aviação Civil, para que reconheça, como pessoas
portadoras de deficiência, para fins de concessão do benefício de passe livre,
no sistema de transporte coletivo interestadual (Lei nº 8.899/94), aquelas
que tenham impedimentos de longo prazo de natureza física, mental,
intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras,
podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade
de condições com as demais pessoas, conforme art. 4º, inciso II, do Anexo

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do Decreto nº 6.214, de 26 de setembro de 2007;

c) alternativamente, que as obrigações das alíneas anteriores sejam

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observadas, tendo como parâmetro, para fins de concessão do benefício de
passe livre, no sistema de transporte coletivo interestadual (Lei nº 8.899/94),
a definição prevista no art. 1º, inciso II, do Decreto nº 1.774, de 08 de
dezembro de 1995 (conquanto atualmente revogado) que considerava pessoa
portadora de deficiência: aquela incapacitada para a vida independente e
para o trabalho em razão de anomalias ou lesões irreversíveis de natureza
hereditária, congênitas ou adquiridas, que impeçam o desempenho das
atividades da vida diária e do trabalho;

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d) a notificação das agências reguladoras do setor (Agência Nacional
de Transportes Terrestres, Agência Nacional de Aviação Civil, Agência
Nacional de Transportes Aquaviários), acerca da tutela jurisdicional que vier
a ser deferida, para que, no âmbito de suas atribuições funcionais e
institucionais, fiscalizem o cumprimento, informando ao Juízo, na forma do
art. 378, do Código de Processo Civil, eventual descumprimento da decisão
judicial;

IV.2) a citação da ré para o comparecimento à audiência de conciliação, nos


termos do art. 334 do Código de Processo Civil

IV.3) a condenação da requerida em danos morais coletivos, em valor não


inferior a R$ 1.000,000,00 (um milhão de reais).

IV.4) Ao final, a confirmação em sentença da procedência dos pedidos


formulados no item III.1, tornando-os definitivos.

Dá-se à causa o valor de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) para fins


processuais.

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Araraquara/SP, 3 de setembro de 2021.

Assinado Digitalmente

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ÍGOR MIRANDA DA SILVA
Procurador da República

Notas

1. ^ MITIDIERO, Daniel Francisco. Direito fundamental ao processo justo. Revista Magister de Direito Civil e
Processual Civil, vol. 45 (2011): 22-34, especialmente p. 26-27.

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2. ^ JORNADAS BRASILEIRAS DE DIREITO PROCESSUAL, promovida pelo Instituto Brasileiro de Direito
Processual (IBDP), na cidade de Campos do Jordão/SP. Palestra proferida em 29 ago. 2014, no Painel 2 -
Tutela de urgência evidencia e estabilização. Disponível em Acesso em 18 out. 2015.

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